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Luíz Vaz de Camões

Vida

Não são muitas as informações sobre a vida de Camões, pois enquanto ele
viveu nenhum de seus contemporâneos fez qualquer referência à sua pessoa.
Somente depois da morte de Camões é que houve breves referências à sua
vida, feitas por escritores que o conheceram. No entanto, seus dados
biográficos puderam ser estabelecidos tanto a partir de alguns poucos
documentos relativos a ele e à sua família, como a partir das muitas alusões à
sua própria vida que se encontram ao longo de toda sua obra.

Infância e Juventude.

O local de nascimento de Camões não foi determinado com certeza absoluta.


Provavelmente nasceu em Lisboa. A data de seu nascimento também é
incerta. Pode-se apenas dizer que nasceu em torno de 1524. Sua família,
apesar de pertencer à nobreza, tinha poucos recursos. Seu pai se chamava
Simão Vaz de Camões e sua mãe, Ana de Sá ou de Macedo. Camões deve ter
estudado no colégio do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, do qual era prior
seu tio Dom Bento de Camões, que também era chanceler da Universidade de
Coimbra. Dom Bento provavelmente patrocinou e orientou a formação de seu
sobrinho. Não há provas de que Camões tenha cursado a universidade, mas os
conhecimentos que adquiriu durante esse período de formação, e que ficam
evidentes em toda a sua obra, são igualados por raríssimos poetas europeus de
sua época. Certamente leu, entre outros, Homero, Horácio, Virgílio, Ovídio e
Petrarca. Por volta de 1542, Camões possivelmente mudou-se para Lisboa.
Em 1547, viajou para Ceuta, na África. Participou de vários combates e, num
deles, perdeu o olho direito. Não se sabe se essa estada em Ceuta foi um
degredo motivado por seu carácter turbulento e por amores proibidos, ou se
constituiu apenas uma iniciação na carreira das armas, visando também a
receber favores reais. Em 1549 ou 1550, regressou a Lisboa.
Maturidade.

Em Lisboa, Camões frequentou tanto os ambientes da nobreza quanto os


meios da baixa boémia. No dia 16 de junho de 1552, envolveu-se numa briga
de rua e feriu a espada Gonçalo Borges, que trabalhava nas cavalariças do rei.
Foi então preso nos calabouços do Tronco. Algum tempo depois, foi perdoado
por Dom João III, rei de Portugal, numa carta datada de 3 de Março de 1553.
O motivo do perdão foi o fato de Gonçalo Borges não ter-se ferido
gravemente, tendo ele mesmo perdoado a Camões. Dias depois, o poeta partiu
para a Índia, a fim de servir o rei em missões militares. Essa viagem não foi
uma imposição do rei, condicionando o perdão, mas algo que Camões se
dispôs a fazer, visando assim a obter o perdão mais facilmente e, sobretudo, a
afastar-se da vida que levava em Lisboa, pois esta não lhe agradava, como ele
mesmo revelou em uma carta que enviou da Índia. Entre 1553 e 1555,
participou da expedição ao Malabar e talvez da armada enviada ao estreito de
Malaca, a fim de combater os piratas que lá actuavam. A seguir foi nomeado
provedor dos bens de defuntos e ausentes da China, tendo assim partido em
1556 para Macau. Data desse período a lenda da gruta de Macau, onde
Camões se refugiaria para escrever. Teria nessa época escrito uma parte de Os
Lusíadas. Em torno de 1560, foi obrigado a voltar a Goa, por motivos não
muito claros. O navio em que viajava naufragou no golfo de Tonquim, na foz
do rio Mekong, tendo Camões se salvado a nado com o manuscrito de Os
Lusíadas, então já em fase avançada de composição. Segundo o que talvez não
passe de lenda, nesse naufrágio morreu sua companheira Dinamene. Ficou
preso em Goa até 1567, quando partiu de volta para Portugal. No entanto, por
razões também obscuras, o capitão do navio em que viajava deixou o poeta
nas costas de Moçambique, onde o historiador português Diogo do Couto o
encontrou vivendo pobremente, às custas de amigos. O historiador ajudou-o a
embarcar para Lisboa, onde chegou em fins de 1569 ou começos de 1570, isto
é, aproximadamente 17 anos depois de ter partido para a Índia. Camões trazia
os originais de Os Lusíadas, mas já não tinha os originais de seu Parnaso,
colectânea de composições líricas furtada em Moçambique e que não foi
recuperada. Em 1571, obteve licença da Inquisição para publicar Os Lusíadas,
o que ocorreu em 1572. Em 28 de junho do mesmo ano, a Coroa, através de
alvará de Dom Sebastião, concedeu ao poeta a pequena tença anual de 15 mil-
réis. Camões morreu em um hospital, totalmente na miséria, em 10 de junho
de 1580.
Obra

A obra de Camões é composta sobretudo pela poesia épica e pela poesia lírica.
A poesia épica é representada por Os Lusíadas e a poesia lírica por vários
tipos de poemas, que recebem o título geral de Rimas. A esses dois conjuntos,
que constituem o essencial da obra camoniana, acrescentam-se três autos —
Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo — e quatro cartas. Os autos não
atingem maior nível, nem em relação à sua poesia, nem em relação aos outros
autores de peças teatrais da época. As cartas, por sua vez, têm validade como
documentos autobiográficos. Além de Os Lusíadas, somente três pequenos
poemas líricos foram publicados durante a vida de Camões: a ode Aquele
único exemplo, nos Colóquios dos simples e drogas e coisas medicinais da
Índia (1563), de Garcia da Orta; a elegia Depois que Magalhães teve tecida e
o soneto Vós, ninfas da gangética espessura, nas páginas iniciais do livro
História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil (1576),
de Pero de Magalhães Gândavo. Assim, praticamente toda a obra lírica, a obra
dramática e as cartas são de publicação póstuma. Por isso surgiram sérios
problemas quanto à autenticidade de muitos textos, sobretudo da obra lírica.
Houve edições que publicaram vários textos que na verdade não eram de
Camões. Por outro lado, houve edições que, por excesso de cuidados,
deixaram de publicar muitos textos que mais tarde se pôde comprovar serem
de Camões. Actualmente, de acordo com os critérios de crítica textual e graças
ao trabalho de vários estudiosos, entre os quais Wilhelm Stoyck, Agostinho de
Campos, José Maria Rodrigues, Afonso Lopes Vieira, Hernâni Cidade, Costa
Pimpão, Emanuel Pereira Filho e Jorge de Sena, pode-se atribuir a Camões,
com uma margem bem grande de certeza, as seguintes obras: 211 sonetos, 15
canções, três sextinas, 13 odes, 11 elegias, cinco oitavas, nove éclogas, 142
redondilhas, os três autos e as quatro cartas, além de Os Lusíadas. No caso de
Os Lusíadas, houve especificamente problemas derivados da descuidada
revisão de suas primeiras edições. Por isso surgiram várias edições
extremamente incorrectas, o que veio sendo solucionado por diversos
estudiosos que se dedicaram ao estabelecimento do texto autêntico.

Os Lusíadas são um poema épico escrito em oitavas-rimas de versos


decassílabos heróicos. Tem dez cantos, 1.102 estrofes e 8.816 versos. O
motivo básico do poema é a expedição de Vasco da Gama em busca de um
caminho marítimo para as Índias. No entanto, cerca de 1/3 do poema é
dedicado aos grandes feitos dos reis e dos homens importantes do reino de
Portugal. Assim, Os Lusíadas constituem, na verdade, a narrativa épica da
história de Portugal, desde as origens até a época em que Camões viveu. O
termo lusíada é sinónimo de português e provém de Luso, o fundador
mitológico da Lusitânia, isto é, Portugal. O poema se desenvolve em duas
linhas que às vezes se confundem: os fatos históricos e as invenções
mitológicas. Há ainda uma terceira linha representada pelas interferências do
poeta: comentários sobre o papel da poesia na história, sobre a política
europeia e sobre o poder do dinheiro.

Quando tem início a acção do poema, os navios portugueses já se encontram


no oceano Índico, isto é, no meio da viagem. Enquanto isso, os deuses se
reúnem no Olimpo para tomar decisões a respeito dos navegadores. Baco é
contrário aos portugueses, mas Júpiter está a favor deles, passando a contar
também com o apoio de Vênus e Marte. Os navios chegam a Moçambique e
Vasco da Gama desce à terra. Baco arma uma cilada, mas não é bem-
sucedido. A viagem prossegue e os navios se aproximam de Mombaça. No
entanto, Vênus faz com que se afastem, pois Baco preparara outra cilada.
Vênus então pede a Júpiter maior protecção para os portugueses. A seguir, os
navegadores chegam a Melinde, onde são muito bem recebidos. Vasco da
Gama passa a contar a história de Portugal para o rei de Melinde.
Primeiramente descreve a Europa e depois dá início a seu relato. Fala do
Luso, fundador da Lusitânia, e de Dom Henrique de Borgonha, para então
narrar uma série de episódios: o de Egas Moniz, a morte de Inês de Castro, a
batalha de Aljubarrota, a tomada de Ceuta, o sonho profético de Dom Manuel,
os preparativos para a viagem, a fala do velho do Restelo e a partida dos
navegadores. Prossegue o relato contando a primeira parte da viagem, cujos
pontos mais importantes são os seguintes: o fogo-de-santelmo, a tempestade, o
gigante Adamastor, a chegada à Melinde. Após esse relato, os navegadores
continuam a viagem, enfrentando nova tempestade provocada por Baco e
Éolo. Vênus, no entanto, envia ninfas para acalmar a tempestade. Finalmente
os portugueses chegam a seu destino, isto é, Calicute, na Índia. De regresso a
Portugal, passam pela ilha dos Amores, que é colocada em seu caminho por
Vênus e onde são recebidos por ninfas, que lhes oferecem um banquete como
recompensa pelos actos heróicos. Nesse episódio, é mostrado a Vasco da
Gama o futuro glorioso de Portugal.

Embora utilizando amplamente elementos mitológicos, Os Lusíadas são


basicamente um poema que celebra a inspiração cristã das descobertas
marítimas. No entanto, está presente na epopeia camoniana a consciência dos
males e sacrifícios que poderiam resultar dessas descobertas. Camões não
deixou de estabelecer uma distinção entre o valor em si dos feitos portugueses
e o valor ético discutível do objectivo de seus empreendimentos. Desse modo,
verifica-se que o poema conjuga claramente o humanismo e o expansionismo
que marcaram o Renascimento português.

O Lusíadas, tanto por sua linguagem como pela fusão de elementos clássicos e
modernos, é o maior monumento literário da língua portuguesa. Já em 1580,
pouco antes da morte de Camões, o poema foi traduzido para o espanhol. No
correr dos séculos, surgiram sucessivas traduções para o italiano, inglês,
francês, alemão, russo, polonês, dinamarquês, sueco, húngaro e romeno, o que
atesta sua repercussão internacional.
Rimas é o título que em todas as edições se tem dado ao conjunto da obra
lírica de Camões — a exemplo da obra do mesmo género de Petrarca. As
Rimas foram publicadas pela primeira vez em 1595 por Fernão Rodrigues
Lopo Soropita. São constituídas por composições de vários tipos, que podem
ser agrupadas de acordo com três correntes poéticas predominantes em
Portugal no séc. XVI: a peninsular (cantigas, pastoris, glosas, vilancetes), a
italiana (sonetos, sextinas, canções, composições em oitava-rima) e a greco-
latina (éclogas e elegias).

Em seus principais poemas líricos, Camões realizou uma profunda meditação


sobre o mundo do "eu", da mulher, do amor, da vida e de Deus. Nesses
poemas fica clara a tensão entre os dois pólos do espírito de Camões: a
tendência a idealizar o amor, isto é, a tratá-lo como coisa mental, e a tendência
a também percebê-lo como algo sensível. De modo geral, a lírica camoniana
desenvolve um percurso que vai do particular e do sensível à intelectualização
e generalização das emoções terrestres. Às Rimas pertence a que é
considerada a mais alta meditação lírica de Camões, a redondilha Sôbolos rios
que vão. Contudo, os poemas mais famosos são os sonetos, entre os quais
podem ser citados os seguintes: Busque Amor novas artes, novo engenho;
Amor é um fogo que arde sem se ver; Transforma-se o amador na cousa
amada; Sete anos de pastor Jacó servia e Alma minha gentil, que te partiste.
Dentro de seu género, as Rimas ocupam, sem dúvida alguma, posição à altura
de Os Lusíadas.

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