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  • A Eclesificação Dos Cultos Afro-Brasileiros

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    Cleonardo Mauricio Junior
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    Artigo de Roberto Motta sobre a criação do corpo de doutrinas, teologia, código ritual e sacerdócio no xangô pernambucano.

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    A Eclesificação Dos Cultos Afro-brasileiros

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    A edlesificacgo dos:cultos afro-brasileiros ROBERTO MOTTA undacdo Josquim Nabuco, Rect Universiéade Federal de Pemarrbuco Pode-se dizer dos cultos atro-brasilsiros —" principaimente do Candomblé-Xang6 -! {que se encontram em processo de eclesificarao. Passamn, na terminologia do Joachim Wach (1944), do estgio de sociedade mais ou menos'secreta, da imandade ou da ecclesiola in ecclesia (as {quais, apesar de certas caractersticas especticas, reconhecem a abrangénca & 2 superioridade da igrejarmae),? 8 condigao de igrea de pleno dielto, com eu pr6prio corpo de doutrina ou teolocia, Ccédigo ritual, sacerdécio ou corpo ‘ministerial etc. A seguinte citaco de Wach, salvo pelas referéncias a0 ctistianismo @ ao istamismo, pareceria baseada na observagio direta do Candombié atual e de mais de un desses encontros em que se tom procurado fixar a auténtica tradiczo dos orixés: “O grupo, quando se une e se organiza para agir como uma corporacéo estavel, precisa jusiicar sua oxisténcia e sua ‘vontade @ capacidade de sobreviver. Tal ‘necessidade leva 20 surgimento da apologética e das polémicas. Na igreja, Crist primitva, as idéias judaicas © gregas ccontribuiram para a formagao de uma teciogia sisterdtica: todos esses trés elementos ~ cristdo, judaico e grego ~ foram combinados no desenvolvimento da “ teologia maometana. Daf se segue, coma Continuacao do processo de reflexao e de \discussé0, a sistematizagao ¢ 2 elaboracao da doutina, a adocio de um “credo’ ou regra de #8, a estandardizacao das formas de cutto.(..) A tadig&o oral é ccolocada por escrito, a tradigao eserita & ccolecionada e sistematizada, a doutrina 6 redetinida e as opinides que nao ficarem de acordo com o ensinamento oficial passam a ser classificadas como heresia” (Wach, 1944:142-3), Notemos ~¢ este conceito no remonta necessariamente a Bourdieu (1974) — que 2 teologia ou as teologias eventualmente vitoriosas® prendem-se a uma tradig2o ou ‘a algumas tradi¢6es em concorrénela com ‘outras tradigbes. Ora, quem diz radiego {diz meméria, e quem iz meméria diz ‘comunidade. Logo, a concorréncia entre diversas tradigées pelo controle da ortodoxia (ou “autenticidade"), a dispute pelo poder de defini o que 6 de 16 e 0 que Ccorresponde & correta prética ritual, representam concorréncia entre diversos ‘grupos consttuldos por gente de carne e ‘0880, com seus muitos interessos de cardter econdmico, pltico, ou simplesmente lutando por essa forma suti cde poder ~ talvez @ mais eutl e mais preciosa ~, que 6 0 poder de manipular a ‘simbolos e representacées. E esta & justamonte a tese central deste trabalho. Nao hé meméria que no consista na supra-estrutura de interesses concretos de pessoas ou de grupos. Por conseguinte, quando uma meméria reivindica primazia sobre outras mernérias, tal reivindicagdo traz no bojo um projeto de ‘dominagao de um grupo sobre outros ‘grupos. Para antecipar um exemplo, a partir do momento em que a Igreja de Roma (ou a lgreja de Pedro) reivindica (ct Mateus, 16:13-20) a primazia de meméria, que equivale & reivindicacdo de “pureza”, “autenticidade” ou, como se diz na linguagom eclesiéstica, de “ortodoxia", seguerse, de modo quase imedialo, a reivindicagao de jurisdicdo sobre as outras igrejas, bem como (com maior lenido) a dda superioridade de seu sacerdéco sobre 05 outros sacerdécios, com 0 ‘conseaiente poder de confirmar, destiuir e substtuir ‘A atitude de alguns membros, sobretudo de alguns teblogos-antropdiogos, assados e presentes, de terreit0s, baianos como o Axé Opd Afonjé, 0 Engenho Velho, o Gantois, reivingicando pureza e autenticidade,* é andloga &s ‘eivindicagdes de Roma. Daf também se ‘Segue a pretensio ao poder universal de efinir 0 certo e 0 errato em matéria de

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