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MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA (1848) Seguido de Gotha Comentarios @ margem do Programa do Partido Operdrio Alemdo por Karl Marx (1875) ~Eclecdio L&PIM Pocket - Leituras afins: 10 DIAS QUE ABALARAM O MUNDO — JoHN REED (VOL. 295) ANARQUISTAS — VOL. 1 — A idéia — George Woodcock (vol. 273) ANARQUISTAS — VOL. 2 - O movimento — George Woodcock (vol. 274) | A ALMA DO HOMEM SOB O SOCIALISMo — Oscar Wilde (vol. 312) } A LIBERDADE DE IMpreNSA — Karl Marx (vol. 176) \ Marx - Vipa & opra — José Arthur Giannotti (vol. 245) A PROPRIEDADE £ UM ROUBO — P-J. Proudhon (vol. 84) TEXTOS ANARQUISTAS — Bakunin (vol. 157) Deo. MOBERNA £ SOCIALISM UT oA ce Aw Py “hey Loge forte trp, who conepes” bel ds bund A CONPRUCHD DS Miviha yoy? wands dae den fii. ToyG am fa LMS Eat £8 ber ELEMENTS 5) LANL ~ ob la « Antti ly or peuftcadt Ae iwc el, ey {Cte —- fo born Tiin gue Tp hy, Ailiea oop et foe cs” nw A Orlin ¢ he an player tree 7 rast re Comumes 6 nye mo testbed 1 a fi ctil We while} (mpecceael) 5 vost 2 Age Corn Lohner s fan h. ves : bene la tse « ower des Lol mH MyvrToioa ofan t he Fatt fa, joi EFMBAVG , A} Z ~ Banna v Pages Q Toole. a WHENTIR «6 haven Karl Marx & Friedrich Engels fe DR LUTE Be PRALET © FT r aA Ba CRS U EAR KO & Momeni Bane@as » Qtaar Melis Cagater ne 6. gowdcien rf af ae &. hi UT Ka A DETTM CES Pay goace t Cary ives TONTTRUPEs t Das Sina TO DO PARTIDO COMUNISTA (1848) ayevne 8 a pope ap PACES Revoby he sihttge.n wa . iv PARBIA ¢ i : ido de dere vale ae Segu do PROER, "UR RAND? "sedi CRaricaliragds o¢ ‘s fede yoy ha Setrvaer pa ROPE a “Clewk a “Ranieauie 2 DS CONE RON TOS INTEC iceect fies J Comentarios d margem do Programa do Partido Operario Aleméio por Karl Marx (1875) Tradugao de Sueli Tomazini Barros Cassal 2 Ceo) cod wl Weare uns, Jot CsTer con digoe se [G CARE Rees De Guede pel REGIMES “JoGatiryes™ 9¢ ESTE Cuacage, %4 Pacrerg vary} Re Ao TE veg VENGuRDA cf Cons Ta veae DE uma elon TON PERSE oo Cerra aadnea, € CRESCE &§ MECETO KOE DE VM A Ven vuamon (BIT, a pbipeca) @ let, & PRON ICES « vars Seid, @ ON Sioe Cancak (Corornda Ee “peece 114) A Md wNNVISTA www.lpm.com.br po Pos A 6S Freee P Penee Pees € HAMAR &PM POCKET Vet PRO gRAMA . 1 B Ge San BSE eurerics, UMA Eene 5 Oo PRadRE MA evry ea? , ler op Sane NCKPE ADs Ge tag DE TRavices PN TRY ENCES é : An FRapers Lo pe Colecdo L&PM Pocket, vol. 227 Primeira edigao na Colegao L&IPM POCKET: maio de 2001 Traducao: Suely Tomazini Barros Cassat Capa: Ivan Pinheiro Machado Hustragdo da capa: Chapiro ~ Marx e Engels na redagiio da Nouvelle Gazette rhénane (Museu Marx e Engels — Moscou). Revisdo: Renato Deitos e J6 Saldanha ISBN: 85.254, 1124-8 M392m = Marx, Karl, 1818-1883 Manifesto do partido comunista / Karl Marx / c/ Friedrich Engels; tradugao de Sueli Tomazzini Barros Cassal. -- Porto Alegre: L&PM, 2001. 132 p. ; 17 cm -- (Colegio L&PM Pocket) 1. Marxismo. 2. Socialismo Marxismo. 3. Engels, Friedrich, 1820-1895. I. Titulo. IL Série. CDD 316.26 32.000.141.82 Catalogagio elaborada por Izabel A. Merlo, CRB 10/329. © L&PM Editores, 2001 Todas os direitos desta edi¢3o reservados 4 L&PM Editores Porto ALecRE: Rua Comendador Coruja 314, loja 9 - 90220-4180 Floresta - RS / Fone: (0xx51} 3225.5777 informagées ¢ pedidos: info@Ipm.com.br www.lpm.com.br lmpresso no Brasil Primavera de 2004 EM BUSCA DOS AMANHAS QUE ENCANTAM Marx e Engels escreveram o Manifesto do Partido Comunista em 1848. Nele, retratam 0 assombroso desenvolvimento da burguesia e sua luta com o proletariado emergente, que germi- nou em seu préprio bojo. Essa Juta previa um final feliz: a derrocada da burguesia € a entronizacao do proletariado. Quem nao ouviu falar da “ditadura do proletariado”, etapa neces- sria para se atingir a sociedade sem classes? “Entre a sociedade capitalista e a socieda- de comunista, hé o periodo de transformagéo revolucionéria da primeira na segunda. A esse periodo corresponde também um periodo de transi¢&o politica em que o Estado nao podera ser senio a ditadura revoluciondria do pro- letariado.” (Critica ao Programa de Gotha.) Marshall Berman, em Tudo que é sélido desmancha no ar, destaca que, além da luta de classes, 0 Manifesto Comunista faz 0 elogio da burguesia! No texto do Manifesto, nota-se que se estd no limiar de um novo mundo. O capital, aliado a incipiente revolugio tecno- cratica, comega sua caminhada vitoriosa, fre- nética, insaciavel, levando de roldao homens e fronteiras. “O revolucionamento permanente da pro- dugao, o abalo continuo de todas as categorias sociais, a inseguranca e a agitacéo sempiter- nas distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Todas as relagGes imutdveis e es- clerosadas, com seu cortejo de representacdes e de concepgées vetustas e veneraveis se dis- solvem; as recém-constituidas corrompem-se antes de tomarem consisténcia. Tudo 0 que era estavel ¢ sdlido desmancha no ar; tudo o que era sagrado é profanado, e os homens so obri- gados a encarar com olhos desiludidos seu lu- gar no mundo e suas relagGes reciprocas.” (Ma- nifesto do Partido Comunista.) Marshall Berman nao hesita também em classificar o Manifesto Comunista “como a pri- meira grande obra de arte modemista”. Com efeito, outros manifestos seguiram-se ao Mani- festo Comunista, exaltando as multidées, o tra- balho, a modernidade e 0 maquinario, como o Manifesto Futurista, de Marinetti, em 1909. Esses manifestos repercutiram também em nos- so meio. Oswald de Andrade, em 1928, escre- veu 0 Manifesto Antropdfago, que é a pregacao de uma utopia: a sociedade tecnocratizada, o 6cio, o matriarcado e a idade de ouro, como bem destacou Haroldo de Campos. 6 Hoje, depois do colapso que sofreram os sistemas totalitaristas explicativos do século XX, pode-se ler o Manifesto Comunista nessa diregao. A famosa passagem, que transcreve- mos a seguir, sobre a perda da aura, do halo, que incide, a partir do desenvolvimento da burguesia, sobre as mais diversas profissGes, tem ecos na “perda da auréola”, que Baudelaire destina ao poeta, doravante destinado a lidar com 0 lado esptirio da sociedade. Também ecoa na concepgao de Walter Benjamin, que impu- tou Aera da reprodutibilidade técnica a respon- sabilidade pela “perda da aura” dos objetos na sociedade massificada. Mesmo se Benjamin foi influenciado pela mistica judaica no que toca especialmente a esse ponto, é interessafite no- tar a circulagio dos conceitos de Marx e de Engels nesses diferentes autores, que marca- ram a literatura do século XX. “A burguesia despojou de sua aura todas as atividades até ent&o consideradas com res- peito e temor religioso. Transformou 0 médi- co, 0 jurista, o padre, o poeta, o homem de cién- cia, em assalariados por ela remunerados. A burguesia rasgou 0 véu de emogao e de sentimentalidade das relagdes familiares e re- duziu-as a mera relagaéo monetaria. A burguesia desvelou que as demonstra- goes de brutalidade da Idade Média, tao ad- 7 miradas pela Reacdo, tinham seu exato con- trapeso na indoléncia mais abjeta. Foi quem primeiro demonstrou quao capaz é a atividade dos homens. Realizou maravilhas superiores as piramides egipcias, aos aquedutos romanos e as catedrais géticas. Levou a cabo expedi- ges maiores que as grandes invasdes e as Cru- zadas.” (Manifesto do Partido Comunista.) Muito embora Marx e Engels se insurjam, no Manifesto, contra os socialistas uté6picos, zombando dos falanstérios fourieristas e da Icdria de Cabet, ambos delineavam esse mun- do do amanha, onde os proletarios e nao mais a burguesia e o capital seriam os protagonistas e onde se suprimiria a propriedade individual da terra, t6pico presente em todas as utopias, desde a Reptiblica de Platio. A revelia de Marx e En gels, a marcha da Hist6ria mostrou, portanto, que também eles trilhavam o caminho das utopias. O capital migrante e avassalador e a revolugo tecnocré- tica destronaram nao sé o proletariado, mas inclusive a prdpria idéia de trabalho, hoje um bem em vias de rarefacao. No limiar do terceiro milénio, o sonho coletivista naufragou, deixando uma brecha para uma nova era do mais deslavado indivi- dualismo. Mas vale lembrar, juntamente com 0 Manifesto Comunista, dos sonhos remanes- centes de toda uma tradi¢ao politica ocidental que acreditou nos amanhas que cantam. Al- guns versos, canc4o da Internacional, hino da Comuna, calcado nos versos do poeta Eugéne Pottier, resumem os sonhos de Marx e Engels. Com efeito, a velha cangao, em que campone- ses e operarios se confraternizam, para usufruir da terra inteira, depois de terem escorracado reis, ociosos, generais e até Deus, hoje integra 0 lote melancélico das utopias perdidas: “Em pé, deserdados da Terra! Em pé, forcados da fome! A Razdo ribomba em sua cratera, E airrupgdo do fim! Do passado, fagamos tabula rasa, Multiddo escrava, em pé, em pé! O mundo vai mudar de base, Néo somos nada, sejamos tudo! E a tuta final, Unamo-nos e amanha A Internacional Sera o género humano!” Sueli T. Barros Cassal Abril de 200] KARL MARX & FRIEDRICH ENGELS Manifesto do Partido Comunista 1848 PREFACIO A EDICAO ALEMA DE 1872 A Liga dos Comunistas, Associagao In- ternacional dos Trabalhadores, que, nas cir- cunstancias da época, nao podia deixar de ser secreta, encarregou os abaixo-assinados, no Congresso de Londres, em novembro de 1847, de redigir para publicagdo um programa te6ri- co € pratico detalhado do Partido. Assim sur- giu o Manifesto seguinte, cujo manuscrito foi enviado para impresséo em Londres algumas semanas antes da Revolucio de Fevereiro. Publicado inicialmente em alemio, foi impresso pelo menos em doze edigées diferen- tes na Alemanha, na Inglaterra e na América. Em inglés, foi primeiro publicado em Londres, em 1850, no Red Republican, em tradugio de Helen Macfarlane, e nos Estados Unidos, em 1871, em pelo menos trés tradugées diferen- tes. Em francés, apareceu inicialmente em Pa- ris pouco antes da insurreigfo de junho de 1848 e, recentemente, em Le Socialiste, de Nova York. Uma nova tradug&o est4 em preparaciio. Apareceu em polonés, em Londres, pouco de- pois da primeira edigdo alemi e, em russo, em 12 Genebra, nos anos sessenta. Foi igualmente tra- duzido para o dinamarqués pouco depois de seu aparecimento. Apesar das condigées terem se alterado consideravelmente nos Ultimos vinte e cinco anos, os principios gerais desenvolvidos neste Manifesto conservam, grosso modo, ainda hoje toda a sua razao de ser. Haveria que fazer aqui e ali algumas emendas. A aplicagao pratica desses principios — o Manifesto deixa claro — dependerd sempre e em toda a parte das cir- cunstancias histéricas dadas. Por isso, nao atri- buimos nenhuma importancia particular as me- - didas revoluciondrias propostas no final da — ~ Segio II. II, Essa passagem s seria hoje, em muitos aspectos, diferentemente formulada. Levando- se em conta o imenso progresso realizado pela grande industria nos Ultimos vinte e cinco anos e, com ele, o progresso da organiza¢ao parti- daria da classe operaria, levando-se em conta a experiéncia pratica da Revolucdo de Feve- reiro em primeiro lugar, e mais ainda da Comu- - na de Paris — na qual, pela primeira vez, o pro- letariado deteve em mos durante dois meses 0 poder politico —, este programa esté hoje ul- trapassado sob certos aspectos. A_Comuna, sobretudo, provou que “a classe operaria na nao_ limitar-se a apoderar-se da maquina do focd-la.em moyimento para_ 13 atingir seus prdprios objetivos”. (Ver A guerra civil na Franca. Mensagem do Conselho Ge- ral da Associacdo Internacional dos Trabalha- dores [...], onde isto foi desenvolvido mais de- talhadamente.) Além disso, é Sbvio que a cri- tica da literatura socialista (Sedo II) apresen- ta lacunas para nossa poca, pois sé sc estende até 1847. O mesmo vale para as observacées sobre a posigao dos comunistas em relac3o a diferentes partidos de oposig&o (Secao IV). Se em suas diretrizes, tais observagdes permane- cem ainda hoje validas, esto ultrapassadas no que tange 4 sua implementacio porque a situa- ¢ao politica se modificou completamente e a evolugdo histérica varreu da terra a maior par- te dos partidos ali mencionados. Todavia, o Manifesto 6 um documento histérico que j4 no nos arrogamos o direito de modificar. Talvez uma edigdo ulterior apa- rega, acompanhada de uma introducio que co- brird o perfodo de 1847 até hoje. A edigfio atual nos pegou de surpresa, no nos dando tempo para isso. Karl Marx e Friedrich Engels Londres, 24 de junho de 1872 14 PREFACIO A EDICAO ALEMA DE 1890 [...] O Manifesto fez seu proprio caminho. No momento de sua publicagiio, foi saudado com entusiasmo pela vanguarda, ent&éo pouco nu- merosa, do socialismo cientifico (como pro- vam as tradugdes citadas no primeiro prefa- cio). Logo depois, foi relegado ao segundo pla- no pela reagio iniciada com a derrota dos ope- r4rios parisienses em junho de 1848, Finalmen- te, foi proscrito, “de acordo com a lei”, pela condenagio dos Comunistas de Colénia, em novembro de 1852. Desaparecendo da cena pt- blica o movimento operario que datava da Re- volucao de Fevereiro, o Manifesto passou tam- bém para segundo plano. Quando a classe operaria européia acre- ditou estar suficientemente fortalecida para empreender nova arremetida contra a forga das classes dominantes, nasceu a Associacao In- ternacional dos Trabalhadores. Esta tinha por objetivo fundir num unico e expressivo corpo militante o conjunto da classe operéria da Eu- ropa e da América suscetivel de entrar na luta. Nao podia, portanto, partir dos principios es- 15 tabelecidos no Manifesto, Ela devia ter um pro- grama que nao fechasse a porta as trade-unions inglesas, aos proudhonianos franceses, belgas, italianos e espanhdis e aos lassalleanos ale- maes. Esse programa — as consideragGes intro- dutorias aos Estatutos da Internacional — foi esbogado por Marx com uma perspicacia re- conhecida até mesmo por Bakunin e pelos anar- quistas. Para a vitéria final das proposicédes enunciadas no Manifesto, Marx confiava pura e simplesmente no desenvolvimento intelec- tual da classe operaria, tal qual este tinha ne- cessariamente que resultar da unidade de ago e da discusséo. Os acontecimentos e as vicis- situdes da luta contra o capital, as derrotas mais do que os éxitos nao podiam deixar de mostrar claramente aos combatentes a insuficiéncia das panacéias pregadas até entdo e de tornd-los aptos a compreenderem a fundo as verdadci- ras condigdes da emancipacao dos trabalhado- res. Marx tinha razao. A classe operdria de 1874, por ocasio da dissolugdo da Internacio- nal, era totalmente diferente da de 1864, quan- do de sua fundag4o. O proudhonismo nos pat- ses latinos, o lassallismo especifico na Alema- nha agonizavam, e as mais conservadoras trade-unions inglesas aproximavam-se pro- gressivamente do ponto em que, em 1887, o 16 presidente do seu Congresso podia declarar em nome delas, em Swansea: “O socialismo do continente perdeu para nds seu aspecto aterro- tizador”. Mas o socialismo continental, desde 1887, j4 era quase s6 a teoria proclamada no Manifesto. E assim a hist6ria do Manifesto re- flete, até certo ponto, a histéria do movimento operaério moderno desde 1848. Hoje, ele é, sem nenhuma divida, 0 produto mais amplamente difundido, mais internacional, do conjunto da literatura socialista, o programa comum de mi- Ihdes e millhdes de operarios de todos os pai- ses, da Sibéria 4 Califérnia. No entanto, por ocasifo de sua publica- ¢4o, nao poderfamos té-lo chamado de mani- festo socialista. Por socialista, em 1847, en- tendia-se dois tipos de pessoas. De uma parte, os adeptos dos diversos sistemas utdpicos, es- pecialmente os “‘owenistas”, na Inglaterra, e os “fourieristas”’, na Franga, os quais j4 estavam reduzidos na época a meras seitas agonizan- tes. De outra parte, os charlatdes sociais de to- dos os horizontes que, com suas diversas pa- nacéias e toda a sorte de remendos, queriam eliminar os males sociais sem causar nenhum prejuizo ao capital e ao lucro. Em ambos os casos: pessoas que estavam fora do movimen- to operdrio e procuravam, sobretudo, 0 apoio 17 das classes “‘cultas”. Em compensagao, a parte dos operarios que, convencida da insuficién- cia de simples mudangas politicas, exigia uma reorganizagao global da sociedade, essa parte chamava-se entéo comunista. Era apenas um comunismo toscamente elaborado, somente instintivo, por vezes um pouco primdrio; mas foi suficientemente forte para dar origem a dois sistemas de comunismo ut6pico: na Franga, o Cabet; na Alemanha, ocialismo significa- j-eomnunisnie, Gh memmento-operario. O socialismo, pelo me- ‘os Ho Continente, podia figurar nos saldes; com o comunismo dava-se o inverso. E como, ja nesse momento, estavamos muito apegados a idéia de que “a emancipacdo dos trabalhado- res deve ser obra da prépria classe operdria”, nao podiamos ter nenhuma diivida sobre qual dos nomes era preciso escolher. Desde entiio, jamais nos passou pela cabega repudié-lo. “Proletdrios de todos os paises, uni-vos!” Poucas foram as vozes que responderam, quan- do langamos essas palavras ao mundo ha qua- renta e dois anos atras, as vésperas da primeira revolugdo parisiense, na qual o proletariado entrou em cena com suas préprias reivindica- ¢Ges. Mas, em 28 de setembro de 1864, prole- 18 tarios da maior parte dos paises da Europa Oci- dental uniram-se para formar a Associagao In- ternacional dos Trabalhadores, de gloriosa me- moria. E bem verdade que a Internacional s6 viveu nove anos. Que a aliancga eterna entre os proletarios de todos os paises por ela criada esta ainda viva e com uma vida mais pujante do que nunca, nao ha melhor testemunho do que precisamente o presente. Pois hoje, no mo- mento em que estou escrevendo estas linhas, o proletariado da Europa e da América passa em revista suas forgas combatentes mobilizadas pela primeira vez, mobilizadas em um unico exército, sob uma unica bandeira, para um unico objetivo imediato: a regulamentacao da jornada de trabalho de oito horas, fixada legal- mente e proclamada, desde 1866, pelo Con- gresso da Internacional, em Genebra, e de novo, em 1889, pelo Congresso Operario de Paris. O espetadculo do dia de hoje abrira os olhos aos capitalistas ¢ aos proprietarios de terra de todos os paises para o fato de que hoje os proletarios de todos os pases estao efetivamente unidos. Pena que Marx nao esteja mais a meu lado, para ver isso com seus préprios olhos! F. Engels Londres, 1° de maio de 1890 19 Um espectro ronda a Europa - 0 espectro do comunismo. Todas as poténcias da velha Europa aliaram-se para uma Santa Cagada a esse espec- tro: o papa eo czar, Metternich e Guizot, radicais franceses e policiais alemdes. Que partido de oposigéo nde foi tachado de comunista pelos adversdrios no poder? Que par- tido de oposic¢ao rebateu, tanto aos homens mais radicais da oposicéo quanto a seus adversdrios reaciondrios, com a acusacdo injuriosa? Duas conclusées se impdem: O comunismo jd é reconhecido como uma forca por todas as forgas da Europa. Estd mais do que na hora de os comunistas exporem abertamente ao mundo inteiro suas con- cep¢ées, seus objetivos e suas tendéncias e de con- traporem & lenda do espectro do comunismo um manifesto do partido. Com esse objetivo, comunistas das mais di- versas nacionalidades reuniram-se em Londres para definir as grandes linhas do manifesto que segue, o qual sera publicado em inglés, francés, alemdo, italiano, flamengo e dinamarqués. 21 Maniresto Do Partmo ComMUuNIsTA I BURGUESES E PROLETARIOS' dias* é a historia da futa de classes, Homem livre e escravo, patricio e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma, opressores € oprimidos sempre estiveram em constante oposigiio; empenhados numa luta a una sem tré ora aberta, luta que a 1 Por burguesia entendemos a classe dos capitalistas modernos, pro- prietarios dos meios de produgao social e empregadores do traba- Iho assalariado. Por proletariado, a classe dos operdrios assalaria- dos modernos que, nao possuindo meios prdprios de produgio, re- duzem-se a vender a forca de trabalho para poderem viver. (Nota de Engels & edigdo inglesa de 1888.) A histéria de toda sociedade até_nossos. € 2 Na verdade, trata-se aqui da Histéria transmitida por escrito. Em 1847, a pré-hist6ria da sociedade e a organizagao social que prece- deu toda a histéria escrita era quase desconhecida. Desde entéo, Haxthausen descobriu a propriedade comum da terra na Russia. Maurer demonstrou qual era o fundamento social de onde histori- camente se oriundam todos os ramos germinicos e, progressiva- mente, descobriu-se que comunas rurais, com propriedade coletiva da terra, foram a forma primitiva da sociedade, da india a Irlanda. Finalmente, a organizac4o interna dessa primitiva sociedade co- munista foi deslindada em sua forma tfpica, quando Morgan, coroan- do tudo, descobriu a natureza verdadeira da gens ¢ de sua relagao com a tribo. Com a decomposigao dessas comunidades primitivas, comega a divisdo da sociedade em classes particulares e, finalmen- te, antag6nicas. (Nota de Engels 3 edigao inglesa de 1888 e A alema de 1890.) 23 cada etapa conduziu a uma transformagao re- voluciondria de toda a sociedade ou ao aniqui- “Jamento das duas classes.em confronto._ Nos primérdios da Hist6ria encontramos, quase em toda a parte, uma organizac4o com- pleta da sociedade em diferentes grupos, uma série hierarquica de situacdes sociais. Na Roma antiga, temos patricios, cavaleiros, plebeus e escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres de corporacao, oficiais e ser- vos; além disso, quase todas essas classes com- portam subdivisées hierarquicas. A sociedade burguesa moderna, oriunda do esfacelamento da sociedade feudal, nao su- primiu a oposicdo de classes, Limitou-se a substituir as antigas classes por novas classes, Por novas condigées de opress4o, por novas formas de luta. O que distingue nossa época ~ a época da burguesia — é ter simplificado a oposigiio de classes. Cada vez mais, a sociedade inteira di- vide-se em dois grandes blocos inimigos, em duas grandes classes que se enfrentam direta- mente: a burguesia e 0 proletariado. Os servos da Idade Média deram ori gem aos cidadaos das primeiras comunas; advindos desses cidadiios, nasceram os primeiros ele- mentos da burguesia. SoC, € 4, OGF 4 TivVekamM lore PE ala rsex 24 A descoberta da América, a circunavega- cao da Africa ofereceram & burguesia ascen- dente um novo terreno. O mercado indiano e chinés, a colonizagado da América, o intercam- bio com as coldnias e, em geral, a intensifica- ¢&o dos meios de troca e das mercadorias de- ram ao comércio, 4 navegac&o e 4 industria um impulso até ent&éo desconhecido, favorecendo na sociedade feudal em desintegrag4o a expan- sdo répida do elemento revolucionario. O modo de funcionamento feudal e corpo- rativo da industria j4 n&o satisfazia o cresci- mento das demandas consecutivas 4 abertura de novos mercados. A manufatura substituiu- o. Os mestres de corporagiio foram desaloja- dos pela classe média industrial; a divisio do trabalho em corporagées diversas desapareceu em beneficio da divisao do trabalho dentro de cada oficina. Mas os mercados nao paravam de cres- cere as demandas, de aumentar. Logo a manu- fatura revelou-se insuficiente. Entéo, 0 vapor e0 maquinismo revolucionaram a produgao in- dustrial. A manufatura deu lugar a grande in- diistria moderna; a classe média industrial, aos miliondrios da industria, chefes de verdadeiros exércitos industriais, os burgueses modernos. A grande industria criou o mercado mun- 25 dial, preparado pela descoberta da América. O mercado mundial expandiu prodigiosamente o comércio, a navegacdo e as comunicagées. Por sua vez, esse desenvolvimento repercutiu so- bre a extensao da indtistria, e 4 medida que industria, comércio, navegac&o e ferrovia se desenvolviam, a burguesia crescia, multiplica- va Seus Capitais e relegava para o segundo pla- no as classes tributdrias da Idade Média. Portanto, vernos que a burguesia moder- na é produto de um longo processo de desen- volvimento, de uma série de profundas trans- formagdes no modo de producao e nos meios de comunicagao. uma das etapas do desenvolvimen- to da burguesia acompanhou-se de um progres- ‘SO “80 politico correspondente. Ela foi inicialmente um grupo oprimido sob o jugo dos senhores feudais, organizando a propria defesa e sua administrac¢do na comuna’, aqui reptblica ur- bana independente, ali terceiro estado tributa- *“Comuna” é o nome dado na Franga as cidades nascentes, mesmo antes de terem conquistado de seus senhores feudais e mestres a administragao local auténoma e os diceitos politicos, como terceiro estado. De mancira geral, tomamos aqui a Inglaterra como pais re- presentativo do desenvolvimento econémico da burguesia; a Fran- ¢a, do desenvolvimento politico. (Nota de Engels & edigao inglesa de 1888.) Assim os habitantes das cidades da Itdlia e da Franga chamavam suas “comunidades urbanas”, depois de terem adquiri- do ou conquistado de seus senhores feudais os primeiros direitos a autonomia administrativa. (Nota de Engels a edigdo alema de 1890.) do pelo rei. Posteriormente, na época da ma- nufatura, tornou-se um contrapeso a nobreza na monarquia decentralizada ou absoluta, fun- damento essencia!l das grandes monarquias. Com a criagiio da grande industria e do merca- do mundial, a burguesia conquistou finalmen- te a dominacao politica exclusiva no moderno Estado parlamentar. Um governo moderno é tdo-somente um comité que administra os ne- gécios comuns de toda a classe burguesa. A burguesia desempenhou na Histéria um papel revolucionario decisivo. Onde quer que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relages feudais, patriarcais, idilicas. Estilhagou, sem piedade, os variegados lagos feudais que subordinavam ohomem a seus superiores naturais, e nao dei- xou subsistir entre os homens outro lago se- nao o interesse nue cru, senao o frio “dinheiro vivo”. Submergiu nas 4guas glaciais do célcu- lo egoista os frémitos sagrados da piedade exal- tada, do entusiasmo cavalheiresco, do senti- mentalismo pequeno-burgués. Reduziu a dig- nidade pessoal a simples valor de troca e, em lugar das inumerdveis liberdades estatufdas e arduamente conquistadas, erigiu a liberdade tinica e implacdvel do comércio. Em resumo, substituiu a exploragao disfargada Sob ilusdes wes 27 religiosas e politicas pela exploragio aberta, cinica, direta e brutal. A burguesia despojou de sua aura todas as atividades até ent&éo consideradas com res- peito € temor religioso. Transformou o médi- co, o jurista, o padre, o poeta, o homem de cién- cia, em assalariados por ela remunerados. A burguesia rasgou o véu de emocio e de sentimentalidade das relacdes familiares e re- duziu-as a mera relacéo monetéria. A burguesia desvelou que as demonstra- Ges de brutalidade da Idade Média, tio admi- radas pela Reagao, tinham seu exato contrape- so na indoléncia mais abjeta. Foi quem primei-_ ro demonstrou _quao capaz € a atividade dos homens. Realizou maravilhas superiores As pi- tamides egipcias, aos aquedutos romanos e As catedrais géticas. Levou a cabo expedicdes miaiores que as grandes invas6es e as Cruzadas. A burguesia nao pode existir sem revolu- | cionar permanentemente os _instrumentos de_. [peng ~ | produg4o; portanto, as relagdes de producao; e |assim, 0 conjunto das relagdes sociais. Ao con- trario, a manutengao inalterada do antigo modo ide roducao foi_a condigio precipua dé exis-. téncia de todas as as classes. industriais do passa~— | (oe do. O revolucionamento permanente da pro- | \dusto, o abalo continuo de todas as categorias 32S Ss. [€reel eGo Constante pat 28 RES pasos: ‘ uem a Epo f etodas as, ener precedentes. Todas ‘as relacdes imutaveis €, _ pecans esclerosadas, com seu cortejo de representa-, x ! des @ de < concep as € veneraveis: udidos seu lugar no mundo e suas elacoes ocas.~ i Pressionada pela necessidade de merca- dos sempre mais extensos para seus produtos, a burguesia conquista a terra inteira. Tem que imiscuir-se em toda a parte, instalar-se em toda a parte, criar relagdes em toda a parte. Pela exploracéo do mercado mundial, a burguesia tornou cosmopolita a producgao e o consumo de todos os paises. Para grande pe- sar dos reaciondrios, retirou da inddstria sua base nacional. As antigas industrias nacionais foram aniquiladas e ainda continuam a ser nos dias de hoje. SAo suplantadas por novas indis- trias cuja introdugdo se torna uma questéo de vida ou de morte para todas as nagGes civiliza- das: essas indistrias nao empregam mais maté- rias-primas locais, mas matérias-primas pro- 29 Myvynod aL LiTERaTY KA venientes das mais longinquas regides, e seus produtos acabados niio siio mais consumidos somente in loco, mas em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo. As antigas necessi- dades, antes satisfeitas pelos produtos Tcais, dao lugar a 1 novas necegsidades que exigem, para sua satisfagao, produtos dos paises e dos climas mais remotos. A auto-suficiéncia ¢ o isolamento regional € nacional de outrora de- ram lugar a um intercimbio generalizado, a uma interdependéncia geral entre as nac6es. Isso vale tanto para_as progusdes 1 materiais intelecti rodutos inte- agio iornam- se um bem co- mum. O espirito nacional tacanho e limitado Orta-Se cada dia mais invidvel, e da soma das literaturas - Racionais e-regionais cria-se uma __ pido desenvolvimento de todos os instrumentos de producdo, pelas comunicagdes infinitamente facilitadas, a burguesia impele_ tod. as mais barbaras, para a torrente da civilizac4o, Os pregos baixos de suas mercadorias sao a artilharia pesada que derriba todas as muralhas da China, que obri- ga os barbaros xendfobos mais renitentes a capitularem. Obriga todas as nagées, sob pena de arruinarem-se, a adotarem o modo de pro- REVO EY EL ES TA Azz: 30 ‘ n dug&o burguesa; obriga-as a introduzirem em seu seio a chamada civilizacao, isto €é, compe- le-as a tornarern-se burguesas. Em suma, Plas- ma um mundo a a sua PrOpria imagers” © des em relacio a dos campos e, portanto, ar- rancou uma parte expressiva da a populacao « do a0 dO 8 émbrutecimento da vida rural. Etal como su- — 1orutecume bordinou campo e cidade, tomou dependentes os paises barbaros ou semibarbaros dos paises civilizados; os povos agricolas dos povos bur- gueses; o Oriente do Ocidente. A burguesia Aglomerou a 1 populacio, centralizou os meios de produgao e concentrou_a propriedade em poucas mos. A conseqiiéncia inevitavel disso foi a centralizagéq politica. Provincias inde- pendentes, apenas federadas, com interesses, leis, governos, sistemas alfandegarios diferen- tes, foram reunidas cm uma s6 nacéo, em um s6 governo, em um sé cédigo de lei, em umn s6 interesse nacional de classe, em uma s6 fron- teira alfandegaria. Em apenas um século de sua dominag4o de classe, a burguesia criou forgas de produ- CEC0 Brmere si ps PROGRESS « 31 FoReca yr PReduTi va FT ai ra ere CoNSENTAAS wPvea Cae Croan s. efAg A ag OF we ff Caeser % one Beg ch Efe ME rer FoR CAT FASDET AVA ¢4o mais imponentes ¢ mais colossais que to- das as geracdes precedentes reunidas. O do- minio das forgas naturais, 0 maquinismo, as aplicagdes da quimica a industria e 4 agricul- / tura, a navegagdo a vapor, as ferrovias, o telé- srafo, o desbravamento de continientes intei- TOs, a canalizagao de rios, o aparecimento si- ~ “bito de popula: —emque século z anterior s se i||. poderia prever quc tais forcas f ‘produ es chilavam no seio do t y trabalho social? Portanto, vimos que os meios de produ- gdo e de troca que serviram de base 4 forma- cao da burguesia foram gerados na sociedade feudal. Em certo estigio do desenvolvimento desses meios de producio e de troca, as condi- g6es em que a sociedade feudal produzia e intercambiava, a organizagao feudal da agri- _cultura e da manufatura, em suma, as condi-_ ges da propriedade feudal deixaram de corres- onder as forcas produtivas j4 desenvolvidas. Entravavam a produgao em vez de a incremen- tarem. Transformaram-se em meros grilhées. Era preciso arrebentd-los, e assim sucedeu. Foram substituidas pela livre concorréncia, com a organizacio social e politica pertinente, com a supremacia econémicae politica da clas- se burguesa. “UIRADA . 32 (ZEEE MAS Diante de nossos olhos, desenrola-se um movimento analogo. As relagdes burguesas de produgio e de troca, as relagdes burguesas de propriedade, a sociedade burguesa moderna que gerou, como por encanto, meios de produ- cao e de troca tao poderosos assemelha-se ao feiticeiro que j4 nao consegue dominar as po- téncias di moniacas que evocara, Ha dezenas_ ‘3 de ANOS, a historia d da indiistria e do comércio € 1 da revolt, ast priedade, que sao = pesonraas da da burguesia e de sua dominagdo. Basta citar as crises comerciais que, em sua periddica recorréncia, colocam em peri go, de forma sem- Pre mais ameagadora, a2 “te dos produtos: forgas produtivas ja criadas. Nas: crises veclodé contra-serso a todas as épocas anteriores: a epidemia da superprodugio. A sociedade_vé- Gay momentanea: dir-se-ia que a fome ou uma” guerra geral de aniquilamento tolheram-lhe todos os meios de subsisténcia: a industria e o Fuh ReveketiaNsRia waver Po PREERID AVANCE 0, Pon euerie 0 ECA METMA WT CONTECH E ComTROLOR ) (foeBCasfa S6MAITS Pb) vw peetain BLES LOFT 33 rae g abun 4 Corner & Rope y Ne comércio > parecem Biase E por us? at j4 nao servem para promover a civili- zacao burguesa e as relacdes de propriedade burguesas; ao contrario, tornaram-se podero- sas demais para essas relagdes, e sao por elas entravadas. E, assim que superam esse obstd- culo, precipitam toda a sociedade burguesa na desordem, colocam em perigo a existéncia da sociedade burguesa. As relagdes burguesas tor-. naram-se estreitas demais pare contereii a ri queza.que_produziram. ‘omo a burguesia supera as crises? De uma parte, pelo aniquita-—._ nto forcado.de um enorme: ntingerite de" ‘erage pro jitivas, de outra, pela tongtiista de n pela explorag#o mais acir- rada dos antigos. Por intermédio de qué? Pre- parando crises mais extensas e mais violentas e reduzindo os meios para preveni-las. As armas que a burguesia usou para aba- ter o feudalismo voltam-se agora contra ela TRetpey mesma. O desenvolvimento da. burguesia, isto €, do capital, corresponde, na mesma prop proporgao, ao desenvolvimento do proletariado, da classe ~—des-operarios modernos-que- ‘so-sobrevivers-a_ medida que encontram trabalho, e s6 encon- tram trabalho a medida que seu trabalho au- menta o capital. Esses operarios, compelidos a venderem-se a retalho, sao uma mercadoria como qualquer outro artigo do comércio e, portanto, estéo igualmente sujeitos a todas as vicissitudes da concorréncia, a todas as flutua- ¢des do mercado. Com a extensdo do maquinismo e da di- visdo do trabalho, o trabalho perdeu todo cara. Fetes ter de autonomia ¢ ___operario. Este torna-se um simples acessdrio da maquina. S6 Ihe exigem o gesto mais sim- ples, mais mondtono, mais facil de aprender. Portanto, os custos que o operario gera limi- tam-se aproximadamente apenas aos meios de subsisténcia de que necessita para manter-se e reproduzir-se. Ora, o prego de uma mercacto-— ria —e, portanto, também do trabalho — é igual a seus custos de produgao. Por conseguinte, a medida que 0 trabalho se torna mais repugnan- te, o saldrio decresce. Mais ainda, 4 medida que o maquinismo e a divisa U- mentam, cresce também a thassa do trabalho, 35 (i kdhaseta eed FA eja pelo aumento do trabalho exigido em de- terminado lapso de tempo, seja pela acelera- g4o do movimento das méquinas, etc. A inddstria moderna transformou a peque- na oficina do mestre artes4o patriarcal na gran- de fabrica do capitalista industrial. Contingen- tes de operarios, apinhados na fabrica, sao or- ganizados de forma militar. Sio colocados como soldados rasos da inddstria, sob o con- trole de uma hierarquia completa de suboficiais € de oficiais. Nao séo apenas os servos da classe burguesa, do Estado burgués; sao, a cada dia, a cada hora, avassalados pela maquina, pelo fiscal, pelo préprio burgués industrial. Esse despotismo é tanto mais mesquinho, mais odio- 80, Mais cXasperante, quanto mais abertamen- te proclama que seu fim Ultimo é 0 lucro, Quanto menos habilidade e forga fisica 0 trabalho manual requer, mais a inddstria mo- derna desenvolve-se, mais o trabalho dos ho- mens € desalojado pelo das mulheres e das criangas. Diferengas de sexo e de e idade jd nao tém valor social para a classe operdria. Rés-_ tam apenas instrument tos de trabalho, cijo cus- to varia em fungao da idade e do sexo. Depois de ser suficientemente explorado para que se lhe paguem o saldrio em dinheiro liquido, 0 operario torna-se presa de outros 36 membros da burguesia — 0 proprietario, 0 co- merciante, o penhorista, etc. As pequenas classes médias antigas — pequenos industriais, comerciantes, os que vi- vem de rendas, artesdos e camponeses — pre- cipitam-se no proletariado, quer porque seu pequeno capital j4 néo basta para empreendi- mentos da grande industria, sucumbindo a concorréncia dos capitalistas maiores, quer porque sua habilidade desvalorizou-se em conseqiiéncia de novos modos de produg4o. Assim, o proletariado é recrutado em todas as classes da populacio. O proletariado passa por diversas etapas _ de desenvolvimento, Sua luta contra a burgue- sia comeca com 0 nascimento. Inicialmente operarios entram em luta iso- ladamente; em seguida, operarios de uma mes- ma fabrica; depois, operarios de um setor in- dustrial, em um mesmo local, contra um mes- mo burgués, que os explora diretamente.Diri- _gem seus ataques nao somente contra as rela- —GGes burguesas de producao; dirigem-nos tam- bém contra os proprios instrumentos de pro- dugio; destroem as mercadorias estrangéiras concorrentes, quebram maéquinas, incendeiam fabricas, procuram reconquistar a posicdo de- . saparecida do arteséo medieval. [ PRG - “TRANS. CESEN YY TE? fa de PRokE Obes 37 Fin} Vidas TeTaAliQsat& de DETUT? A, Nesse est4gio, os operdrios formam uma massa dispersa em todo o pais, dividida pela concorréncia. A reuniao expressiva dos operé- rios ainda no é 0 resultado de sua propria unido, mas da uniao da burguesia que, para atingir seus préprios objetivos politicos, deve mobilizar todo_ 0 proletariado e, no momento, ainda consegue fazé-lo. Portanto, hesse_estégio os proletérios nao. combatem seus inimigos, mas os ini imigos “de seus inimi gos —remanescentes da monarquia__ absoluta, f proprietarios rurais, burgueses nao in- dustriais, pequeno-burgueses. Assim, todo 0 movimento histérico concentra-se nas maos da burguesia. Cada vitoria alcangada nessas con- digdes é uma vitéria da burguesia. Mas, com a expansao da industria, o pro- letariado nao somente cresce; concentra-se em contingentes cada vez maiores; sua forga cres- ce; Com 0 Séfitimento « que dela adquire. Os in- teresses, as condi¢ées de vida no seio do pro- letariado homogeneizam-se cada vez_mais, 4 medida que o maquinismo oblitera as diferen- gas do trabalho e quase em toda a parte reduz os salarios a um nivel igualmente baixo. A concorréncia crescente dos burgueses entre si € as crises comerciais que dai resultam tornam 0 saldrio dos operarios sempre mais instavel. O aperfeigoamento incessante e sempre mais 38 CONTCIE NER DO PReLETARI ADS rapido do mmaguinisme torna sua nae cada Salario. cea ate 4 TunOar assOclacOee tt “Tadouras para se premunirem em caso de su- blevagSes eventuais. Aqui e ali, a luta trans- forma-se em motins. De vez em quando, os operarios triunfam, mas sua vitéria é passageira. O resultado ver- dadeiro de suas lutas nao € 0 sucesso imedia- _gade S lulas Nae € 0 sucesso lmee to, mas ae) sa extenso sempre maior da uniao dos _ Sperrios. Esta é favorecida pelo « étésciimento __ Operarios dos meios de comunicagio, criados pela gran- de inddstria, que colocam em contato opera- rios de diferentes localidades. Basta apenas esse contato para centralizar as iniimeras lutas locais — que tém em toda a parte o mesmo ca- réter — em uma luta nacional, em uma luta de classes. Mas toda luta de classes € uma lut politica. E a uniao, que exigiu séculos dos bur- _gueses da ‘Tdade_ Média, com séuS_caminhos vicinais, Os pr “em poucos: anos com as ferrovi: Essa organiza MK Vee fA 39 Ln ole 8 J J 2 se VW Bu an xo ¢ a ow 26 9 wat Ss] S ir wal Ag es Na PRol€TARIA Ce On Sigua, cada: instante pela concorréncia entre os pr6- rios operarios. Mas renasce sempre mais for- t¢, sempre mais solida, sempre mais poderosa. proveita-se das divisGesi as da burgue- sfa para forgd-la a reconhecer, sob forma de ween iculares dos“opera- ras na Inglaterra. Em geral, os conflitos da velha sociedade favorecem, de varias maneiras, o desenvolvi- mento do proletariado. A burguesia vive enga- jada numa luta permanente: no inicio, contra a aristocracia; depois, contra setores da propria burguesia, cujos interesses entram em conflito com o progresso da indlstria; e permanente- mente, contra a burguesia de todos os paises estrangciros. Em todas essas lutas, vé-se cons- trangida a apelar para o proletariado, a pedir sua adesio e, desse modo, a impeli-lo para o movimento politico. Portanto, ela propria for- nece ao proletariado os elementos de sua pré- pria formacdo, ou seja, armas contra si mesma. Além disso, como vimos, em virtude do progresso da industria, setores inteiros da classe dirigente proletarizam-se ou, pelo menos, sen- tem-se ameacados em suas condigdes de vida. Estes também fornecem ao proletariado nume- rosos elementos de formacio. 40 Enfim, nos momentos em que a luta de / solugio no interior da classe dirigente, no terior de toda a velha sociedade, assume um cardter tio-violento, tio dspero, que uma peque- parte chatter passara para aburguesia, parte” da da burguesia passa agora. para o ._proletariado, _especialmente uma ‘parte dos idedlogos bur ‘burgue- " De todas as classes que hoje enfrentam a burguesia, so, d Neceneran do e tendem a desaparecer como de- senvolvimento da grande indistria, ao passo que o proletariado é o seu produto caracteristico. As classes médias — 0 pequeno industrial, 0 pequeno comerciante, o artesio, o campo- nés —, todos combatem a burguesia para preser- var do desaparecimento sua existéncia como classes médias. Portanto, nfo sao revolucio- narias mas conservadoras. Mais ainda, so rea- cionarias, pois procuram girar a contrapelo a roda da Hist6ria. Quando sao revolucionarias, 0 sao a luz da perspectiva iminente de sua pas- Larvves mednasr: REaConatral 41 Wein Swieda /M ST sagem para o proletariado. Defendem nao mais seus interesses presentes, mas seus interesses futuros; abandonam seu préprio ponto de vis- ta para it o do proletariado. OXJumpemproletariado”, essa putref: assiva is baixas da velha $0> tedade, é aqui ¢ ali arrebatado no movimento __, ne jucio proletaria, mas toda a sua situa- 6.6 predispGe a vender-se para maquinagoes _ reaciondrias. AS condigées. de vida da velha sociedade jase encontram degeneradas nas condigées de vida do proletariado. O proletario nao possui nada; suas relagdes com a mulher e os filhos nado tém nada mais em comum com as rela- ¢ées familiares burguesas. O trabalho indus- trial moderno, a submissdo moderna ao capi- tal — que é a mesma na Inglaterra e na Franga, na América e na Alemanha — despojaram-no de todo caréter nacional. As leis, a moral, a religiaio sao, para ele, meros preconceitos bur- bur- “Bueses, ‘por “ntermédio dos quais se camuflam” ‘outros tantos interesses burgueses. Todas as classes que precedentemente con- quistaram a supremacia esforgaram-se para con- solidar suas condigées de vida, submetendo toda a sociedade a seu préprio modo de apropriagao. Os proletérios nao podem assenhorear-se das 42 forgas sociais de produg&o a nao ser abolindo seu proprio modo de apropriac4o passado c, conseqtientemente, todo modo de apropriagao do passado. Por sua vez, os proletarios nada tém de seu a assegurar; tém, sim, que destruir t todas” __a8 garantias privadas, todas as segurangas pri — vadas que existiram até noss0s dias. ~ Todos os movimentos anteriores foram tGo-somente movimentos de minorias, ou no interesse de minorias. O movimento proleté- tio € o movimento independente da imensa maioria no interesse da imensa maioria. O pro- letariado, a camada mais baixa da sociedade atual, nao pode erguer-se, recuperat-se, sem estilhagar toda a superestrutura de estratos que constituem a sociedade oficial. Pela forma e nao pelo contetido, a luta do proletariado contra a burguesia é, eni primeiro~ “do de cada pais deve acertar as contas com sua propria burguesia. Descrevendo as fases mais gerais do de- senvolvimento do proletariado, seguimos a guerra civil mais ou menos latente no bojo da Le _Sbciedade atual, atéa hora em que e ela irrompe~ $e! “emuma a revolucao aberta, e o proletariado lan- , ce as bases de sua dominagao pela derrubada violenta da burguesia. 43 Até aqui todas as sociedades repousaram, como vimos, no antagonismo entre classes opressoras € oprimidas. Mas, para se oprimir uma classe, € necessdrio assegurar-lhe ¢ condi-- "EOES para que possa, no minimo, prolongar s existéncia servil. Sob o regime da servidao, 0 See da comuna, tal como, sob o jugo do absolutismo feudal, o pequeno- burgués chegou a burgués, Por sua vez, 0 ope- rario moderno, em vez de elevar-se com oe __ Sresso da industria, decai cada vez mai, bain” xo Was condigées de sua propria classe. O ope- fréfio transforma-se em indigente, e 4 miséria cresce mais rapido do que a populacao e a ri- queza. Evidencia-se assim, claramente, que a _ -burguesia é incapaz de permanecer por mais tempo como classe dominante da sociedade e de impor-lhe, como lei e como regra, as condi- t ges de vida de sua classe. E incapaz de domi- j ar, poi sé incapaz. de gsseeurar a scu.escravo a propria existéncia.no Ami i porquanto é compe! Wagdo em-que tem -que-alimenté-lo em vez de '] mais existir sob seu dominio, isto é, a existén- cia da burguesia nao é mais compativel com a sociedade. A condigdo essencial da existéncia e da 44 supremacia da classe burguesa é a acumula- gao da riqueza nas mos privadas, a forma¢4o € 0 incremento do capital. A condi¢ao de exis-_/ téncia do capital é o trabalho assalariado. Este repousa exclusivamente na concorrencia entre _queda e_a vitoria do prole: 0s operarios. O progresso da industria, de que SSO Ca INnCustita, Ce que a burguesia é 0 agente passivo ¢ involuntario, Soe “substitul ° ‘isolamento dos dos operarios resultante _da a grande nd a Barus vé ruir sob seus pés a base sobre a qual produz uz € apro- mente inelutaveis. . . , - ae a ! wb Arges ey “ ! Se 45 II < PROLETARIOS E COMUNISTAS Qual € a relagéo dos comunistas com os prolefarios em geral? _ _ ~-~-Qs comunistas no séo um partido a par- te entre os outros partidos operdrios. Seus interesses n&o sao distintos dos in- teresses do conjunto do proletariado. Nao estabelecem princfpi Os comunistas diferenciam-se dos outros partidos proletarios apenas em dois pontos: de uma parte, nas diversas lutas nacionais dos proletarios, fazem prevalecer os interesses co- muns do conjunto do proletariado, independen- tes da nacionalidade; de outra parte, nos di- versos estégios de desenvolvimento da luta entre proletariado e burguesia, representam sempre o interesse do movimento geral. Portanto, na pratica, os comunistas sao a fragéo mais decidida, mais mobilizadora dos partidos operdrios de todos os paises. Na teo- ria, tém, sobre o resto do proletariado, a vanta- gem de ter uma visdo clara das condigdes, da 46 roletario. ~O objetivo imediato dos comunistas € 0 mesmo de todos os demais partidos proleta- ros: formagao do proletariado em classe, der- rubada da dominacao burguesa, Conquista d do” “poder politico pelo Proletariado. ? “ou ou por aquele le reformador do mundo, Jad Sido apenas 4 Expressao geral a5 relacdes ere t a Ee efetivas de uma luta de classes que existe, de © propriedade existentes até hoje nao é, de for- ma alguma, o carater distintivo exclusivo do comunismo. Todas as relagdes de propriedade foram submetidas 4 continua mudanga da Histéria, a sua continua transformagao. A Revolugao Francesa, por exemplo, abo- fy O que distingue o comunismo nio é a | {_Supressio da propriedade em geral, mas a su- i | \press&o da propriedade burguesa. } \ xpressao da propris -burgues y X -Ora,.a moderna propriedade burguesa & - i — _ a fhoPRiGd ade 4] Ultima e mais consumada expressio da produ- ¢ao e da apropriacdo dos produtos baseadas em antagonismos de classe, na exploragao de uns por outros. Nesse sentido, os comunistas podem re- sumir suas teorias nesta tinica expressio: y= Nos, comunistas, tems Stdo criticados, sob a alegagio de que queremos suprimir a propriedade pessoal adquirida pelo trabalho individual; a propriedade que constituiria o fun- damento de toda a liberdade, de toda a ativida- de e de toda a independéncia pessoal. A propriedade, fruto do trabalho, do es- forgo, do mérito pessoal! Sera que se esta fa- lando da propriedade do pequeno-burgués, do pequeno camponés, forma de propriedade que precedeu’a propriedade burguesa? Nao preci- samos suprimi-la; 0 desenvolvimento da indus~ tria suprimiu-ae continua suprimindo-a diaria- a diaria- mente.” : ~~ Ou ent&o esta-se falando da moderna pro- _ Priedade privada burguesa? tte mat ora o traba- 10 a58alavtadOe que 30 POE aUTRETTar Se ge. A gee a DA 48 PRoPRL ESR DE BURGIES & rar trabalho assalariado suplementar, para explord-lo de novo. A propriedade, na sua for- ma atual, gravita em torno da oposigio entre capital e trabalho assalariado. Examinemos os dois termos dessa oposi¢io. Ser capitalista significa ocupar na produ- ~ Assim, quando o “Capital é transformado em uma propriedade coletiva, pertencendo a, todos os membros da sociedad a Ge 0 trabal oaseatafado. O prego médio do trabalho assalariado é 0 saldrio minimo, isto €, a soma dos meios de subsisténcia necessdrios para manter vivo o operario enquanto tal. O que o operdrio assa- lariado obtém por sua ati vidade ¢ 0 estritamente necessério para garantir-Ihe a sobrevivéncia. LAP\TAL JAE UMA Fo@en Secale — mas Oe clarrey Rete TE pe supama 49 SEU CARKTER DE charseE \{ necessdrios a reprodugao da v } a ey, \ se a > jSeravel dessa apropriacao, em que o operario. | S6 Nive para aumentar o-capital e s6 vive ‘en-” ) quanto.o exigem os interesses | da, classe ‘domi- nante. \ ~ Na sociedade burguesa, o trabalho vivo é japenas um meio para multiplicar o trabalho sociedade co comunista, 0 traba- anes = inte _berdade! Comyazai0. Trata-se efetivamente da i i! supressao da petsonalidade, da independéncia i _e da liberdade burguesas. / No bojo das atuais relagdes de produgao SoC. BUREVE ra “ 50 Sod. Comvnlt STA e-se a liberda-_ de de coméreé fora iberdade de compra e de “Venda. Mas se 0 comércio cessa, ent&o cessa tam- bém o comércio livre. O palavreado sobre a liberdade de comércio, como todos os outros palavrérios de nossa burguesia sobre a liber- dade, s6 tém sentido em face do comércio en- travado, em face do burgués subjugado da Ida- de Média, mas nao diante da supressdo comu- nista do comércio, das relagdes de producdo burguesas e da propria burguesia. O s_Criticain “ROS POL gu - rermos suprimir uma oropriedade que pressu- pode, como condi¢do necessaria, que a imensa maioria da sociedade seja desprovida de toda propriedade. Em uma na palavra, criticai-nos por querer- mos Suprimir vossa propriedade. edade. Efetivamen> “TE Fisso que queremos. A partir do momento em que o trabalho” nao pode mais seriransformado em capital, em dinheiro, , em renda func fundiria, em resumo, em A F2C. BuRGresd Ja ABIL wil PRsfart/{/ CL Sf of seus { 51 MEMBRe J Qe ye 8 C Rte Le HA Cem te um poder social suscetivel de ser monopoliza- do, isto é, a partir do momento em que a proprie- dade pessoal nao pode mais converter-se em pro- priedade burguesa, a partir desse instante, de- clarais que a individualidade esta abolida. Portanto, confessais que, por individuo, nao entendeis nada mais do que o burgués, 0 proprietario burgués. Efetivamente, semelhante individuo deve ser suprimido. -O.comunismo nao retira de ninguém o poder de assenhorear-se dos produtos sociais; | Spenas relita o poder-de’ sé subjugar, por tal | apropriacao, o trabalho alheio.. Tem-se objetado que, com a supressao da propriedade privada, cessaria toda a atividade e se instalaria um 6cio generalizado. Nesse caso, j4 hd muito tempo a socieda- de burguesa teria perecido em virtude do écio; pois os que nela trabalham nao ganham e os que ganham nao trabalham. Toda essa objecgio reduz-se a tautologia: nao haverd mais trabalho assalariado quando nao mais existir capital. Todas as criticas feitas ao modo comu- rodugio dos produ- tos materiais for: didas 3 a apropria Ao € +O pre 3th CGT 52 Cv Le RA yf. Sa _Propria, produgao, a supressdo da cultura de “classe corresponde, para ele, a Supressio da__ ~cuitura ém geral.~ ee A Accultura cuja perda o burgués deplora é é, _paraa imensa | maioria de dos homens, a sua trans- Mas nao nos recrimineis medindo a supres- séo da propriedade privada por vossas idéias burguesas de liberdade, de cultura, de direito, etc. Vossas idéias sao o produto de relagdes burguesas de produgio e de propriedade, da mesma forma que vosso direito é apenas a von- tade de vossa classe erigida em lei, vontade cujo contetido é determinado pelas condigées materiais de vida de vossa classe. Aconcep¢aio interesseira, pela qual trans- formais em leis eternas da natureza e da raz4o vossas relacées de producio e de propriedade, a partir de relagées histéricas, ultrapassadas no curso da produg&o, a compartilhais com todas as classes dominantes j4 desaparecidas. Aqui- lo que concebeis para a propriedade antiga, aquilo que concebeis para a propriedade feu- dal, nao deveis mais conceber para a proprie- dade burguesa. Su a familia! Até os mais radi- cais Indignam-se com essa perigosa proposta dos comunistas. SUPPRESS Eo FAmILia th 53 No que repousa a familia atual, a familia __burguesa? No capital, no lucro privado. A fa- milia, em sua plenitude, existe apenas para a “Bure oT mas nira sey. complemento Ta a forcada de familia, imposta aos pro- ote burgues désmorona eviden- ternente com o desmoronamento de seu com- plemento, e ambas desaparecem com o desa- parecimento do capital. Recriminai-nos por querermos suprimir a exploracao das criancas pelos pais? Efetiva- mente, denunciamos esse crime. Mas dizeis que suprimimos as relacdes mais intimas as substituindo a 2 educagto familiar etc, ? cu de scedadeg inventam a acto da \ te 7 ° sociedade sobre a educac4o; apenas modifi- ( 1e.0.carater, subtraindo a a educagao da ucacao, sobre a inti tre pais-e filhos | torna-se tanto mai te quanto mais a graridé industria dilacera cada eee Educates Socse’ 54 ‘ _vez. mais.os laos familiares dos proletdrios e transforma as criangas em simples objetos de comércio e em instrumentos de trabalho. “Mas vés, comunistas, quereis introduzir acomunidade das mulheres”, grita em unisso- no toda a burguesia. O burgués vé em sua mulher um mero instrumento de produgio. Ouve dizer que os instrumentos de produgio serao explorados co- jetivamente e, naturalmente, s6 pode concluir que a sina das mulheres é serem colocadas em comum. N&o imagina que Se trata precisamente de _ suprimir, para as mulheres, o estatuto de me- ros instrumentos de produgio. ~——"AWas, NAS hd nada mais ridiculo do que essa indignacao profundamente moral de nos- sos burgueses contra a comunidade das mu- Iheres oficialmente instaurada pelo comunis- mo. Os comunistas nao precisam introduzir a comunidade de mulheres; esta quase sempre existiu. Nossos burgueses, nao contentes com 0 fato de que mulheres e filhas de proletarios estejam A sua disposi¢ao, para nao falar da pros- tituigdo oficial, tem o maior prazer em seduzir as mulheres legitimas uns dos outros. Na realidade, 0 casamento burgués é a (ono N[oe sf 94s MULHERES 55 CRIT Ce Aa CoMUN is Me comunidade das mulheres casadas. No maxi- mo, poder-se-ia recriminar os comunistas por quererem substituir uma comunidade de mu- Iheres hipdcrita e dissimulada por uma comu- nidade oficial e franca. Alias, € 6bvio que, com a supressao das atuais relagdes de producio, desaparece também a comunidade de mulhe- res dela resultante, isto é, a prostituicio oficial e ndo-oficial. L renee minados por quererer a, ana- ‘cionalidade, __Os operarios nio tem patria Nao se e Ihes _pode tirar 0 que nao tém. A medida que 0 pro- letariado deve primeiramente conquistar, em seu beneficio, o poder politico, erigir-se em classe nacional e constituir-se a si mesmo como nagao, ele continua sendo nacional, mas nun- ca no sentido burgués do termo. As fronteiras nacionais € os antagonismos | entre os povos tendem cada vez mais a is a desapa- Tecer,com 0 desenvolvimento da burguesia, com 0 livre comércio, com 9 merc i a com a a uniformizago da produgao industria Te com ndicdes de vida correspondentes. pareceréo ainda mais depressa. A unidade de agao do proletariado, pelo menos nos paises NACAS so NACA civilizados, é uma das primeiras condigGes de sua emancipagao. A medida que se suprime a exploracao de um individuo por outro, suprime-s e igual- “mente a exploraciio de uma nagao por outra. Desaparecendo 0 antagonismo de classes no interior de uma nagio, desaparece igualmen- te a hostilidade entre as nagoes. _As acusagées | levantadas contra ocomu- talhado._ Sera necessd4rio um exame mais profun- do para compreender que, ao mudarem as re- lagdes de vida dos homens, suas relag6es so- ciais, sua existéncia social, mudam também suas representacdes, suas opinides e suas idéi- as, em suma, sua consciéncia? _O que demonstra a historia das idéias senao _que_a produgio espiritual s [se modifica con @ “aelcgat ESES EY soe - Quando se se fala de déias que revolucio- nam uma sociedade inteira, exprime-se com isso apenas o fato de que, no 4mago da antiga sociedade, se engendraram os elementos de uma nova sociedade e que a dissolugao das idéias RELIC A» PeopocAs Es hi Rr TURE? 37 we sh Sec Xuan FLU PV EHFINO CRTC seMo: Clemsear Q of ComeerenrTsras Far (eer) OBLEWET Ab COMuRIS my antigas acompanha a dissolugio das antigas relagdes sociais. Quando o mundo antigo iniciou seu de- clinio, as religides antigas foram suplantadas pela religiao crista. . Quando as idéias cristés sucumbiram, no século 3 Vill, as i idéias das “Liizes, a sociedade feudal travava seu combate mortal contra a burguesia entaéo revolucionaria. am CeTED RAL AS idéias de liberdade de consciéncia e de religiéo exprimiam apenas, no dominio do saber, o reino da livre concorréncia. Dir-se-a: “Idéias religiosas, morais, filo- s6ficas, politicas, juridicas, etc. modificaram- se no curso do desenvolvimento historico. A Ty O if f éStte-bojodessa Ma. Iém disso, ha verdades A@ todos os regimes mes s sociais. s, Mas ( 9 coast as verdades c ctemas. al bole 3 de toda a sociedad’: até hoje Bira ¢ em torno de oposig6es de classe, que assumiram diversas formas nas diferentes épocas. Mas, qualquer que tenha sido a forma as- “VEAdaoes ETEARNAS N38 [ ) L Capvarime ABsdE |) sumida, a explorag3o de uma parte da socie- dade por outra é um fato comum a todos os séculos passados. Portanto, nao € de se admirar que a cons- completamente com o desaparecimento total do antagonismo de classe. A revolugao comunista é a ruptura mais radical com as relac6es tradicionais de proprie- dade. Nao admira que, no curso de seu desen- volvimento, rompa radicalmente com as idéias tradicionais. Mas deixemos aqui as objegdes da bur- guesia ao comunismo. Vimos anteriormente que {gemeia). so da revolugio operaria sera a 0 do proletariado & classe dominante e a luta pela democracia. O proletariado utilizar4 seu poder politico para arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumen- tos de produgdo nas maos do Estado, isto €, do proletariado organizado como classe dominan- te, e para aumentar, o mais rapidamente possf- vel, o contingente das for¢as de produg4o. Cer tar a“ [ Fermer DE ConSCENCIA Comunt 4 tooar ar secre /yr beé clerse RELIG, MoRal, Fidesseva, PuliTiCa, PLREITO | KISE RY! @ *ysrica® Come VERDIRS ETERNE? 59 ° Naturalmente isso sé pode acontecer, de & iq inicio, mediante intervengdes despcticas no 2 w dircito de propriedade ¢ nas relagdes de pro- ‘ - & ©, _ dugio burguesas, isto é, através de medidas que_ Zz parecem economicamente insuficientes e insus- ae 5 by onan Se nto. ¢ sao indispensaveis ws para revolucionar todo o modo de produciio. Certamente essas medidas diferirao nos diferentes pafses. Entretanto, no que toca aos paises mais desenvolvidos, de um modo geral podem-se aplicar as medidas seguintes: 1. Expropriagao da propriedade fun- diéria e utilizagao da renda resultante para as despesas do Estado; 2. Imposto acentuadamente progressivo; pies A 1872 i 3. Supressao do direito de heranca; 4. Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes; G 5. CentralizagGo do crédito nas maos do Estado, por meio de um banco nacional com capital estatal e monopélio exclusivo; Mar pals tiore 43 6. CentralizacGo de todos os meios de transporte nas maos do Estado; PROGRAMA DE REWIND: CACOE 5 REAPARECEM Vpialeti2adaS* ne PRad: TRAMSICIa, Em ciMa de PRitica DA REV RUSIA Fates DA TEMALAR Eon emico. PUITiO Ne MV. OFERARIC Mince - Midge it ¢ 7. Multiplicacgdo das indtstrias nacio- fee S nais, dos instrumentos de producdo, desbra-" : _vamento e melhora das terras,. de.acerdacom »%6tas ~ fopican um plano coletivo; fecal re 0 8. Obrigatoriedade do trabalho parato: dos, organizacgao de exércitos industriais, em ¢sc- 7 especial para a agricultura; meves 9. Combinacaio do trabalho agricola e do _trabalho industrial, medidas para a elimina- ¢Go gradual da oposigao entre cidade e cam- po; 10. Educagao publica e gratuita para to- das as criangas. Supressao do trabalho infan- ¢do da educagao com a produgao material, etc. : Uma vez que desaparecerem as diferen- gas de classe no curso do desenvolvimento, € toda a produco concentrar-se nas maos de in- dividuos associ: los, o poder publico ‘perderd . seu carate poli ico) Em sentido proprio, 0 po- ) PO- der publica é0 poder organizado de de uma clas- _Se para a opressa6 de outra _Sé 0 proletariado, | “em sua luta contra a burguesia deve necessaria- \ } { ( { { | i i mente unificar-se em uma classe tinica, se, em decorréncia de uma revolucao, ele se converte em classe dominante; e como classe dominan- wy NOCe* Chaps rte BE Politica. INTERBSTE ; Ce_erive g gROENA A INTERESTS 6l } Pkiva nd) Carivadisins BFtancakar CanaTER / [PEdlegics DEITA ConcEtEs® DE —PetitiGas — te, suprimir pela violéncia as antigas relacdes de producdo, suprimira automaticamente, jun- tamente com essas relagdes de produgio, as condigées de existéncia da oposicao de classe €, por esse viés, as classes em geral e, com isso, sua propria dominagiio de classe. No lugar da antiga sociedade burguesa com suas classes e@ > oposigées di de classé surg 62 iil LITERATURA SOCIALISTA E COMUNISTA 1. O SOCIALISMO REACIONARIO bs opamp evidin, & a) O socialismo feudal Eis, gu: eon re te ] Por sua posi¢ao historia a as afistocracias _ francesa e inglesa estavam fadadas a escrever libelos contra a sociedade burguesa moderna. Na revolucSo francesa de julho de 1830, no movimento reformador inglés sucumbiram, uma vez mais, 4 arrivista odiada. Jd no po- diam travar uma luta a politica séria, Restava- { hes apenas a luta literaria. Mas, também no plano literatio, a velha a fraseologia do tempo da Restauragio se tornara impossivel. Para an- gariar simpatia, a aristocracia dev devia fingir que |! a seus prdéprios | interesses, e for- was no in interesse da classe operdria explorada. Portanto, arrogou: ou-se 0 direito de zombar, em, cangdes, de seu novo amo € murmurar- {he ao ouvido profecias carregadas de ameacas. Assim nasceu o socialismo feudal, meta- de lamento, metade panfleto, metade eco do passado, metade ameaga do futuro, por vezes 63 acertando a burguesia no alvo, mediante uma condenagao amarga, espiritualmente mordaz, mas sempre ridicula, por sua total incapacidade de compreender a marcha da Histéria moderna. Empunharam, a guisa de bandeira, a trou- xa de mendigo do proletario, para conclamar o povo a sua volta. Mas todas as vezes que este dispunha-se a segui-las, divisava-Ihes nas cos- tas os velhos brasdes feudais e entio se dis- persava com gargalhadas insolentes. Uma parte dos Legitimistas franceses e a --\ Jovem Inglaterra_brilhar: © espeldculo. Quando os senhores feudais demonstram que seu modo de exploragio era diferente do modo de exploragao burguesa, esquecem-se simplesmente que exploravam em condigdes e circunstincias completamente diferentes e j4 caducas. Quando provam que, sob sua domi- na¢ao, o proletariado moderno nao existia, es- quecem-se simplesmente que a burguesia mo- derna é justamente um rebento necessério de sua ordem social. Alias, dissimulam tio mal 0 cardter rea- ciondrio desua: lé"sua critica, que sua acusagiio prin=” cipal contra a burguesia, repousa precisamente no fato que, sob 0 regime desta, desenvolveu- . ‘sé uma classe que vai | estilhagar todaa antiga “ordém social. ~ — AN 64 | Criticam a burguesia mais por ter engen- drado um proletariado revolucionario, do que por ter simplesmente dado origem ao proleta- riado. Eis por que, em sua pratica politica, parti- cipam de todas as medidas repressivas contra a classe operaria e, na vida corrente, conten- tam-se, apesar de toda a fraseologia pomposa, em recolher os pomos de ouro de arvore da industria e em cambiar fidelidade, amor e honra pelo comércio de 14, beterraba e dlcool.* Da mesma forma que os padres s sempre — ee cristéo um verniz socialista. fenbémo ocris ismo nao se elevou contra a propriedade pris; “vada, contra o casamento, contra o Estado? Nao | pare gou a1 em _seu lugar a caridade, a ‘mendiciday/ .a mortificagao da carne, . * Isso aplica-se principalmente ‘Alemanha, onde a aristocracia ru- ral e a fidalguia provincial tém grande parte de suas propriedades cultivadas por conta prépria, mediante um administrador, e sdo, além disso, grandes produtores de agiicar de beterraba e destiladores de aguardente de batata. A aristocracia inglesa, mais abastada, nao decaiu tanto; mas também sabe como se pode compensar o declinio da renda, emprestando o nome a promotores de sociedades aciondrias mais ou menos suspeitas. (Nota de Engels 4 digo inglesa de 1888.) Fourarisme CLERICAL (1) 65 Zos dadas com os sen lores Ng _Seltaa Mu ae 5S SDAA’ E off, t oe ANTIGK Caste mondstica ¢ a Igreja? O socialismo cristio é a a dgua benta com que o padre consagra ristocrat b. O socialismo pequeno-burgués — ~\57t A aristocracia nao é a unica classe derru- bada pela burguesia, nao é a Gnica classe cujas condigées de vida na sociedade burguesa mo- derna se deterioraram e decairam. Os cidadaos extramuros da Idade Média e os pequenos cam- poneses foram os precursores da burguesia mo- derna_Nos paises onde. comércio e a indts- tria so menos desenvolvidos, essa classe conti- nua AaeeSlAr a ao lado da burguesia ascendénté. Nos paises onde a civilizagae- odema Se Nos pases onde Gow Carnes NE SEN € socitd a ie sulimiainaie veleead mas’ seus “membros § § S10 , Sontinnamenie relegados ao. proletariadg em “Fonoda.da concom réncia, Estes pressentem que se aproxima 0 momento em que, com o desen- volvimento da grande industria, desaparecerao totalmente como parte auténoma da sociedade moderna e serio substitufdos no comércio, na manufatura, na agricultura, por contramestres e subalternos. PER BYR GVEA ADVINEA do 66 CAPIT. : “Pave comPleMeNTAR DA SoC: BuRGOESA™ Em paises como o Franca, onde a classe camponesa constitui mais da metade da popu- Jaco, era natural que os escritores que apoias- sem o proletariado contra a burguesia criticas- sem 0 regime burgués baseados em critérios da pequena burguesia e do pequeno campe- sinato e tomassem o partido dos operarios de um ponto de | vista_pequeno-burgués. Assim “formou-se 0 socialismo pequeno- -burgués. Sis- mondi € o chefe dessa literatura, nao somente na Fran¢a, mas também na Inglaterra. di . Desmascarou os artificios economistas. Demonstrou, de maneira cabal, os efeitos destrutivos do maquinismo e da di- visdo do trabalho, a concentragao dos capitais e da propriedade fundidria, a superprodugao, as crises, o declinio inevitavel dos pequeno- burgueses e dos pequenos camponeses, a mi- séria do proletariado, a anarquia na produgao, ipocritas dos * a desproporgio gritante na distribuigo das ri-" quezas, as guerras de exterminio industrial _entre as nagGes, a dissolugao dos costumes anti- gos, das relagdes familiares anti gas, das nacio- nalidades antigas. Entretanto, em seu contetido positivo, esse socialismo quer seja restaurar os antigos mei- 67 faR ri “wv ceoti vA oC So dalla antigas Tei STeiacdes de propriedade « ea antiga So- ciédade, seja enclausura Coa ot eee] orporativo nas fabr rien Sa tendéncia dissipou-s¢ -se numa ressaca covarde. c) O socialismo alemdo ou “verdadeiro” A literatura socialista e comunista fran- cesa, gerada sob a opressdo de uma burgue- sia dominante, expresso literdria da luta con- tra essa dominac&o, foi introduzida na Ale- manha precisamente no momento em que a burguesia deflagrava sua luta contra o abso- lutismo feudal. Fildsofos, semifilésofos e belos espiritos alem4es apropriaram-se avidamente dessa li- teratura, esquecendo-se de que a emigracao desses escritos nao se acompanhou da emigra- cao das condig6es de vida francesas para a Alemanha. A luz das condigées alemis, a lite- 68 puramente were. cosap g oe ec e a manifestacao da vontade da burguesia re- voluciondria francesa significava, a seus olhos, apenas as leis glial como deve ser, da vontade verdadeiramente humana. O trabalho dos literatos alemdes consis- tiu exclusivamente em colocar as novas idéias no diapas4o de sua velha consciéncia filosofi- ca, ou antes em apropriar-se das idéias france- sas partindo de seu préprio ponto de vista filo- s6fico. Essa apropriag&o ocorreu da mesma for- ma que, em geral, se apropria de uma lingua estrangeira: pela tradugao. Sabe-se que os monges recobriram os manuscritos em que se consignavam as obras classicas da antiguidade pag’ com hagiografias insipidas de santos catdlicos. Os literatos ale- mies procederam de forma inversa com a lite- ratura francesa profana. Escreveram seus ab- 69 surdos filoséficos sob o original francés. Por exemplo, sob a critica francesa as relacdes monetérias, escreveram: “alienacdo da nature- za humana” e, sob a critica francesa ao Estado burgués, escreveram “supressao da dominagao do Universal abstrato”, etc. A substituicdo dos argumentos francese por essa fraseologia filos6fica, batizaram eles “Elo asa smo_verdadei- ci€ncia alema do soci y”, “justifica- “Gao filosé tilosofica do socialismo”, etc. NR A Near Assim, a literatura socialista e comunista francesa foi formalmente amputada, E como, nas maos do Alemio 0”, “j anto char- latanismo, perden a aos poucos sua pedante j ipo; céncia, 70 A uta da burguesia ale, principalmen- te da burguesia prussiana, contra os senhores feudais e contra a monarquia absoluta — em uma palavra, o movimento liberal — tornou-se mais séria. Oferecia-se ao “verdadeiro” socialismo a to desejada ocasiao de brandir, perante o mo- yimento politico, as reivindicagGes socialistas; de langar os andtemas tradicionais contra 0 li- beralismo, contra o Estado representativo, con- tra a concorréncia burguesa, a liberdade bur- guesa de imprensa, o direito burgués, a jiber- dade e a igualdade burguesas, e de pregar as massas populares que nada tinham a ganhar, mas sim tudo a perder nesse movimento bur- gués. O socialismo alemao esquecia, muito a propésito, que a critica | francesa - do qual era Oeco. deslavado — pressupontia a sociedade pare “tuigao (0 politica, pressupostos estes que se tra- _tava ainda de conquistar na Alemanha. © Esse socialismo servia aos governos ab- solutos alem4es, com seu cortejo de padres, de mestres-escolas, de fidalgotes e de burocratas, como espantatho ideal contra a burguesia cujas aspiragdes eram ameacadoras. Era a guloseima que complementava o 71 amargor das chicotadas ¢ das balas de fuzil com que esses mesmos governos respondiam As insurreigdes dos operdrios alemies. Se o “verdadciro” socialismo tornou-se, assim, uma arma nas mdos dos governos con- tra a burguesia alema, representava também, diretamente, um interesse reaciondrio, o inte- resse dos pequeno-burgueses alemaes. Na Ale- manha, a pequena burguesia, tributaria do sé- “culo XVI, e que desde entao nao ¢ 88a. de emer emer- gir Sob diversas formas, constitui a _verdadeir “Base social da ordem 1 estabelecida, “Manté-la significa manter a ordem esta- belecida na Alemanha. A supremacia indus- trial e politica da burguesia engendra na pe- quena burguesia o temor do declinio inexord- vel, de um lado pela concentrago do capital, de outro, pela ascensdo de um proletariado re- voluciondrio. Aos pequeno-burgueses, 0 “ver- dadeiro” socialismo pareceu matar dois coe- thos com uma cajadada sé. Propagou-se como uma epidemia. A roupa, teia de aranha tecida de especu- lagdes, bordada com as belas flores da retéri- ca, impregnada de orvalho sentimental, carre- gada de amor, essa roupagem, de uma exube- rancia toda espiritual, com que os socialistas alemdes vestiram todas suas “verdades eternas” 72 ahaa fez aumentar 0 escoa- mento de sua mercadoria para esse publico. Por sua vez, 0 socialismo alemao reco- nhecia cada vez mais sua vocagao: § grandilo _giiente representante dessa pequena a Durguesia. Ele proclamou como ‘modelo a nace ale- ma e © pequeno-burgués alemao. Atribuiu a todas as infamias deste um sentido oculto, su- © perior, socialista, que significava 0 seu opos- to, Foi conseqiiente até o fim tamente A tendéncia “brutalmente « ” do comunismo e ao assinalar que paitava com ‘mparcratidate acitia de todas as lutas de clas- se. Com rarissimas excegdes, tudo o que cir- cula na Alemanha como escritos pretensamente socialistas e comunistas pertence ao 4mbito dessa literatura suja e debilitante.’ 2. O SOCIALISMO CONSERVADOR OU BURGUES - comTe? [Ma RA Fald dE PRevDHoN } ‘Uma parte da burguesia deseja remediar as anomalias sociais, a fim de garantir ama- a sociedade burguesa_____ Pertencem a essa fragio: economistas, fi- 5 A tempestade revoluciondria de 1848 varreu toda essa tendéncia s6rdida ¢ tirou de seus representantes a vontade de continuar a brin- car de socialismo. O representante principal e 0 tipo classico dessa tendéncia 6 Karl Griin. (Nota de Engels 4 edicdo alema de 1890.) 73 lantropos, hémanitérios, agentes melhoradores da situacdo das classes trabalhadoras, organiza- dores de obras beneficentes, protetores de ani- mais, fundadores de ligas antialcodlicas, yefor— Os. Citemgs porexemplo, a Filosofia da mi- Os burgtreses= Salistas almejam as con- digdes de vida da sociedade moderna sem as lutas © perigos necessariamente decorrentes. Almejam a sociedade atual, eliminando, po- rém, os elementos de revoluco e de dissolu- _g40. Almejam a burguesia sem o proletariado. Evidentemente, a burguesia concebe o mundo onde reina como o melhor dos mundos. O so- cialismo burgués elabora essa representacao consoladora em sistemas mais ou menos com- pletos. Quando exorta o proletariado a realizar esses sistemas para entrar na nova Jerusalém, ‘no indo cxige somente que este se limite & atual sociedade, renunciando as representacdes |. odiosas que dela faz... I. I | Uma segunda forma, menos sistemati J | e mais pratica, desse er pirar 4 classe operdria desdém por todo movi- mento revolucionério, demonstrando-lhe que aquilo que lhe pode ser Gtil nao é esta ou aque-_ ——_— | lamudanca politica, mas somente uma mudan- { t DEFENVOLVIM ENT Smo?” pe 74 (* DESEnVoL VER 4 BResieS, $0 ANOS emg i> { mEMEVER € 4 ORQ. MadgRNA CAPTUREbES EM | 7 Mew Ridso, SEM CCacaa ope. bape ate AteCUCe Res h i ae we a Discuaes MEG ay [ga das condi¢ées materiais de vida, das condi- gées econdémicas. Mas, por mudanga das con- digdes materiais de vida, esse socialismo nao entende, de forma alguma, a supressdo das re- lagdes burguesas de produgSo — que so é pos- sivel pela via revoluciondria —, mas reformas aii °° se realizam com base nes- Sas Telagoes de producao, portanto, que nada alteram na na relagao entre capital e trabalho as- salariado, m: mas, no melhor dos casos, reduzem para a burguesia o Gnus de sua dominag&o e simplificam-lhe 0 orgamento de Estado. O socialismo burgués sé atinge sua ex- pressio adequada quando se torna uma sim- ples figura retérica. Livre comércio, no interesse da classe tra- balhadora! Tarifas protecionistas, no interesse ~ _da classe trabalhadora! Prisfo celular, no inte- _Tesse da classe tra ¢ trabalhadoral: ‘as Ultimas Se REPARMA TRAGAINISTA, oe Ne unt (AEs De CLATIC +tReoaltadona || palavras d do socialismo burgués, as Gnicas a ba ~O socialismo da burguesia consiste preci- samente na afirmagao que os burgueses sao \ burgueses no interesse da classe trabalhadora. | Sbedi vices Publicar, VACahET 7 REPU ELI CONS ty : ivt jar pica oJ€ 0 P CINEMA Nacional) 2 Tite [tases we SiStEmsrco 4 Ik) ReFeamas y / Tea daly stay M! PRaaehart “ONE CAT Dal DETR ORS, A Paes ca ra CASA fRo acess Seiad tine erence vaF CONCEPCES — 75 es téries EM E10 09 SoGalTns > Buagves Po (arbegeuese) DEVE IMENTISme OC IK | EG Ts pos Mal Te RES \ Ergene® Ov7 ‘ 3. O SOCIALISMO E 0 COMUNISMO CRITICO-UTOPICOS Eo Le corgu > Nao falamos aqui da literatura que, em todas as grandes revolucdes modernas, expri- me as reivindicagées do proletariado (escritos de Babeuf, etc.). As primeiras tentativas do proletariado para me diretamente seu préprio inferesse _vescéncia 1 geral, no periodo de colapso das so- “ciedade feudal, fracassgeagy aLecessariamente em razio da formf® soo i prole sua emancipacio, condigoes que surgem ape- nas como produto da época burguesa. A lite- ratura revolucionaria que acompanhou esses primeiros movimentos do proletariado é, pelo contetido, necessariamente reaciondria, Prega cotis sseiro, Os sistemas socialistas € Comunistas pro- priamente ditos, os sistemas de Saint- -Simon, de Fourier, de Owen, etc. surgem no periodo embrion4rio da luta entre o proletariado e a bur- guesia, como expusemos anteriormente (ver Burgueses e proletarios). 76 Prot Na realidade, os fundadores desses siste- \é OR GANIZALAs Do JR am€nice en ‘ume espon- ade histérica, 1 nenhum movimento polf- “tico que lhe seja proprio. _ Como o desenvolvimento da oposigdo de classe acompanha o desenvolvimento da indtis- tria, constatam as condigdes materiais insa- ‘ JoCiat Faw TAS aso DE SSTEMA claGe, Parga: t Hele, FERTIND DA ARQ: 4 : : PRIETO Padi tices 5 SpA nHe INVERSS —— ces pris. Ah histéria, futura do mundo re- re- Lie FAZER O CAM ModE RNA “TARI abe Enel? Nao resta duvida de que estao convictos de defender, em seus planos, principalmente o interesse da classe trabalhadora enquanto clas- t— semais sofredora. O proletariado nao existe para eles sendo sob 0 aspecto de classe mais sofredora. Mas a forma embrionaria da luta de clas- 77 ‘ » eX . poe . = S- ses, assim como sua prépria situacfo social, 2 3 : : . < ~ levam-nos a considerarem-se muito acima des- o WwW . ‘eg se antagonismo de classe. Querem melhorar a we * . situag&o de todos os membros da sociedade, 2 : : : = = mesmo a dos mais favorecidos. Assim, apelam ie : : é x. constantemente para o conjunto da sociedade ty sem distingdo, e de preferéncia a classe domi- < $4 nante. Com efeito, basta compreender o siste- avy z ~ © ma deles para nele reconhecer o melhor plano wou zxs ossivel ara a melhor sociedade ossivel. S2e : LL _cas e tentam, pela forca do exemplo, desbra- var caminho para um novo evangelho social mediante experiéncias em pequena escala, evi- dentemente fadadas ao fracasso. Essa descrigéo mirabolante da sociedade futura — feitanum momento em que o proleta- riado ainda encontra-se totalmente embriona- rio e, conseqiientemente, tem ainda uma repre- sentag4o fantasiosa de sua propria situacdo — nasce da primeira aspirac¢ao instintiva dos fun- adores desses sistemas a uma transformacdo_ geral da sociedade. Mas esses escritos socialistas e co, tas comportam igualmente glen _Atacam todos os fundamentos da da sociedade ELenen ToL yeoaT V3) &.. 78 Jeonto Y 4 VTE pee ( Carta dE ATENAS 1!) estabelecida. Por isso, produziram um mate- _Tial de extremo valor para al abrir a mente dos “operarios. Suas “proposigdes positivas : sobre a “sociedade futura — por exemplo, a supressio do antag Zonismo cidade/campo, da familia, dc do “lucro privado, do trabalho assalariado, o anin- “cio da harmonia s social, a transformagao do Es- ‘tado em simples. administrador da produgao — . ", todas esas proposigées. exprimem simples- mente o desaparec mene oO ENLI le classe, qué so 4 ieca a dese! “5c, suas ~ imeitas formas imprecisas. indterri- nadas. Essas proposigées tém ainda um senti- kadas. * pos do puramente ut6pico. O alcance do socialismo e do comunis- mo critico-utépicos é inversamente proporcio- nal ao desenvolvimento histérico._A medida que a luta de classes se desenyolve ¢ se confi- — gura, a fi a fantasia de le pairar acima da propria luta, de « de combaté- la, perde todo valor pratico, toda justificagaot te6rica. Portanto, se os autores des- ah ses sistemas foram revolucionarios em muitos aspectos, seus discfpulos constituem sempre seitas reacionérias. Diante da revolugio hist6- rica do proletariado, obstinam-se em manter as velhas concepgdes de seus mestres. Portan- to, procuram embotar de novo a luta de clas- 79 ses e conciliar os antagonismos. Continuam a sonhar com uma tentativa de realizagao de suas utopias sociais — criagao de falanstérios isola- dos, fundacao de “home-colonies”, estabele- cimento de uma pequena Icaria®, edicgo em formato reduzido da nova Jerusalém ~ e, para edificar esses castelos de cartas, foram obriga- dos a fazer apelo a filantropia dos coragGes e dos cofres dos burgueses. Progressivamente, caem na categoria dos socialistas reaciondrios ou conservadores descritos acima, e deles se distinguem apenas por um pedantismo mais sistematico, pela fé supersticiosa e fanatica nos _efeitos miraculosos dé sua ciéncia social. ~~ Porisso, opdem-se obstinadamente a todo movimento politico dos operdrios, movimen- to que s6 poderia decorrer da cega descrenga que estes manifestam em relacio ao novo Evangelho. Os owenistas na Inglaterra e os fourieris- tas na Franga reagem respectivamente contra cartistas e reformistas. *O nome de “falanstério” designa as colénias socialistas, segundo o plano de Charles Fourier; “Icdria” € o nome dado por Cabet 4 sua utopia ¢, mais tarde, 4 sua colénia comunista nos Estados Unidos. (Nota de Engels 4 edigao inglesa de 1888.) “Home-colony” (cold- nia metropolitana) € como Owen chama suas sociedades comunis- tas modelo. “Falanstério” é o nome dos paldcios sociais projetados por Fourier. Icdria € 0 nome do pa{s imagindrio e utépico, cujas instituigGes comunistas Cabet descreveu. (Nota de Engels 4 edicao alema de 1890.) 80 IV PosicA0 DOS COMUNISTAS EM RELACAO AOS DIFERENTES PARTIDOS DE OPOSICAO Deduz-se da Segio II as relagdes dos co- munistas com 0s partidos operarios j4 consti- tuidos e, portanto, sua posigao diante dos car- tistas ingleses e dos reformadores agrarios na América do Norte. Os comunistas lutam para atingir os inte- resses e objetivos imediatos da classe operaria mas, ao mesmo 0, eal a i il ia) o futuro do OVC, Tanga, os Comunistas aliam-se ao partido so- cial-democrata’ contra a burguesia conservado- rae radical, sem renunciar ao direito de assu- mir uma atitude critica em relagao as grandes frases e ilusGes legadas peta tradigao revolucio- naria. 7 Partido entGo representado no Parlamento por Ledru-Rollin; na literatura, por Louis Blanc, e na imprensa quotidiana por La Réforme. O nome social-democrata significava, para esses inven- tores, uma secao do partido democrata ou republicano mais ou menos revestido de socialismo. (Nota de Engels 4 edigio inglesa de 1888.) O partido entéo chamado na Franca de social-democrata era 0 re- presentado por Ledru-Rollin no piano polftico e por Louis Blanc no plano literdrio. Estava, portanto, extremamente longe de asseme- Ihar-se & democracia alemi de hoje. (Nota de Engels 4 edigao ale- ma de 1890.) 81 VAN Grae dA : Fats, Bite “Beech ‘ a 7 pea paca ate ee Na Suiga, apdiam os radicais, sem desco- [. nhecer que esse partido é integrado. DOr gi mhentos contraditOrias, em parte sociais-demo- per Joe! cratas, no-sentido Trancés, em parte burgueses : Fadicais. r No que tange aos poloneses, os comunis- | tas apdiam o partido que vé numa revolugao agraria a condi¢aéo da liberagao nacional, isto é, 0 partido que provocou a insurrei¢ao da Cra- {d 72) 5 agin 2)} yer? cévia em 1846. iS Na Alemanha, desde que a burguesia as- | 3 suma uma atitude revolucionaria, o Partido ae Comunista luta a seu lado contra a monarquia |, in absoluta, a propriedade fundidria feudale a {> * pequena burguesia. BS Mas nao negligencia, em nenhum mo- Sa mento, em despertar nos operarios uma cons- = . ciéncia tio clara quanto possivel do antago- x nismo jurado entre a burguesia e o proletaria- ~ do, a fim de que os operdrios alemes possam transformar em armas contra a burgucsia as condigées sociais e politicas que a burguesia necessariamente introduz com sua supremacia; para que, apds a derrubada das classes reacio- narias na Alemanha, se engajem imediatamente, na luta contra a propria burguesia. \ Para a Alemanha dirigem os comunistas gcvolu CAs Paman est ¢)/? 82 sua ateng4o principal, porque a Alemai i em_vésperas de uma revolucé e porque realizard essa convulséo num momen- to em que as condicdes da civilizagdo euro- péia em geral estéo mais avangadas ¢ 0 prole- tariado bem mais: desenvolvido do lo que ni na In- kiuistas apéiari qualg movimento. orevolu-, cionario contra as ordens sociais e politics ~~ egtabelecidas. a movimentos” destacam como questao fundamental do movimento a questiio da propriedade, qualquer que sejaa forma, mais ou menos desenvolvida, que ela possa ter assumido. Enfim, os comunistas trabalharm, em toda a parte, pela unido e pelo entendimento dos partidos democraticos de todos os paises. Os comunistas recusam-se a dissimular suas concepg6es e seus propésitos. Proclamam abertamente que seus objetivos s6 podem ser atingidos pela derrubada violenta de toda or- dem social passada. Que as classes dominan- 83 tes tremam 4 idéia de uma revolugao comunis- ta. Os proletarios nada tém a perder, exceto seus grilh6es. Tém um mundo a ganhar. Proletarios de todos os paises, uni-vos! Karl Marx 84 KarL Marx CRITICA AO PROGRAMA DE GOTHA COMENTARIOS A MARGEM DO PROGRAMA DO Parripo OperArio ALEMAO 1875 APRESENTACAO O manuscrito que aqui publicamos — a cri- tica ao programa de Gotha e a carta que a acom- panha — foi enviado a Bracke em 1875, pouco antes do Congresso de Unificagéo de Gotha, para ser levado ao conhecimento de Geib, Auer, Bebel e Licbknecht e, depois, devolvido a Marx. Como o Congresso de Halle incluira na ordem do dia do Partido a discussio do pro- grama de Gotha, eu acreditaria estar cometen- do uma falta se subtrafsse por mais tempo 4 publicagao esse importante documento — tal- vez o mais importante — no que toca a essa discusso. Mas 0 manuscrito tem ainda outra signifi- cagaio, de maior alcance. Pela primeira vez, a posicio de Marx diante da orientagdo tomada por Lasalle desde seu ingresso no movimento é exposta com clareza e nitidez, tanto no que tange aos principios econémicos quanto a tati- ca lassalleanos. O rigor implacavel com que o projeto de programa é dissecado, a inflexibilidade com que os resultados obtidos sao expressos e as 87 lacunas, reveladas, tudo isso, quinze anos de- pois, j4ndo pode mais atingir ninguém. Lassal- leanos caracteristicos — ruinas isoladas — s6 existem no estrangeiro, e o programa de Gotha foi abandonado em Halle, inclusive por seus autores, como totalmente insuficiente. Entretanto, suprimi e substitui por colche- tes, nos lugares em que isso n4o alterava o sen- tido, algumas expressdes e julgamentos que tinham 0 cardter de ataques pessoais. O pré- prio Marx agiria assim, se publicasse hoje o manuscrito. A violéncia ocasional do estilo devia-se a duas circunst&ncias: em primeiro lu- gar, Marx e eu est4vamos vinculados ao movi- mento alem&o mais intimamente do que a qual- quer outro. O retrocesso patente que se mani- festava nesse projeto de programa afetava-nos profundamente. Em segundo lugar, estavamos naquele momento, quase dois anos depois do Congresso da Internacional em Haia, no apo- geu da luta contra Bakunin e seus anarquistas, que nos responsabilizavam por tudo o que acontecia no movimento operdrio alemdo. Ent&o, era de se esperar que nos imputas- sem a paternidade secreta desse programa. Essas consideragdes j4 nao tém razdo de ser hoje e, com elas, desaparece a razo de ser das passagens em questao. 88 Além disso, em razao da lei de imprensa, algumas frases foram substituidas por reticén- cias. Quando optei por uma expresso atenua- da, coloquei-a entre colchetes. Caso contrario, a reprodugao € literal. Friedrich Engels Londres, 6 de janeiro de 1891 89 Carta DE Marx A WILHEN BracKE Londres, 5 de maio de 1875 Caro Bracke, Solicito-lhe a gentileza de levar ao conhe- cimento de Geib, Auer, Bebel e Liebknecht, depois de ler, os comentéarios criticos seguin- tes, 4 margem do programa de coalizao. Estou sobrecarregado de trabalho, e estou indo mui- to além do limite que os médicos me recomen- daram. Portanto, n&o foi de forma alguma um “prazer” escrever texto tao longo. Entretanto, foi necessario fazé-lo, a fim de que meus en- caminhamentos posteriores nio fossem mal interpretados pelos amigos do Partido aos quais esta comunicagao se destina. (Depois do congresso de coalizaio, Engels e€ eu publicaremos uma breve declaracao que explicard que estamos muito distantes do pro- grama em questdo, e que nada temos a ver com ele.) Isso € indispensavel, pois se propaga no exterior a opiniao cuidadosamente fomentada pelos inimigos do Partido — opinio totalmen- 90 te falsa — que dirigimos daqui, em segredo, o movimento do Partido de Eisenach. Em um escrito russo publicado ainda mais recentemen- te, Bakunin, por exemplo, me responsabiliza [nao somente] por todos os programas, ctc., desse Partido [mas também por todos os pas- sos dados por Liebknecht desde 0 inicio de sua colaboragao com o Partido Popular]. Excetuando-se isso, é meu dever nfo re- conhecer, nem mesmo por intermédio de um siléncio diplomatico, um programa que minhas convicgdes condenam absolutamente e que desmoraliza o Partido. Todo avango efctivo é mais importante do que uma diizia de programas. Portanto, nao sendo possivel — ¢ as circunst&ncias do mo- mento nao o permitiam — superar o programa de Eisenach, devia-se simplesmente concluir um acordo para uma agdo comum contra o ini- migo. Ao contrario, fabricando programas de princfpio (em vez de esperar pelo momento em que esses programas se engendrassem numa atividade conjunta prolongada), expGe-se pe- rante o mundo inteiro balizas para medir o ni- vel do movimento do Partido. Os chefes dos lassalleanos vieram até nés, compelidos pela situagdo. Se lhes tivéssemos explicado de inicio que no aceitariamos ne- 91 nhuma negociata com relagao aos principios, eles bem que teriam que contentar-se com um programa de acéo ou com um plano de organi- zacgao em vista de uma atuacgaéo comum. Em vez disso, permitimos-lhes que se apresentem munidos de mandatos, e reconhecemos que esses mandatos nos comprometem, por nossa parte, e assim encontramo-nos com bragos e pernas atados a pessoas que precisam de nossa ajuda. Para coroar tudo, eles realizarao um novo congresso antes do congresso de com- Promisso, aO passo que nosso prdprio partido terd seu congresso post festum. (Queriam indubitavelmente escamotear toda critica e impedir toda reflexdo no interior de nosso pré- prio partido.) Sabemos que o simples fato da unidade satisfaz por si s6 aos operarios, mas nos enganamos quando acreditamos que esse resultado imediato nao teria um custo alto de- mais. Alias, o programa nao vale nada, mesmo excetuando-se a canonizagao dos artigos de fé lassalleanos. (Remeter-lhe-ei logo a ultima edigao da tradugao francesa do Capital. Houve longa pausa na impressio devido a proibigao do go- verno francés. O assunto estard encerrado esta semana ou no inicio da semana que vem. Vocé 92 recebeu as seis primeiras remessas? Envie-me também, por favor, o enderego de Bernhard Becker, a quem devo igualmente enviar alguns exemplares.) A livraria do Volkstaat tem suas manias. Por exemplo, até agora néo me enviaram um Gnico exemplar da edigio do Processo dos Comunistas de Colénia. Cordiais saudagées, Karl Marx 93 CoMENTARIOS A MARGEM DO PROGRAMA DO Parrmo Orerdrio ALEMAO 1. O trabalho é a fonte de toda a riquezae de toda a cultura, e como o trabalho itil sé é possivel na sociedade e pela sociedade, o produ- to do trabalho pertence integralmente, por di- reito igual, a todos os membros da sociedade. Primeira parte do pardgrafo: “O traba- lho é a fonte de toda a riqueza e de toda a cul- tura”. O trabalho ndo é a fonte de toda a rique- za. A natureza é igualmente a fonte dos valo- res de uso (e é bem nisso que consiste a rique- Za material!) tanto quanto o trabalho que, em si mesmo, é apenas a manifestagao de uma for- ¢a natural, a forga de trabalho humana. Essa frase encontra-se em todos os manuais, e jus- tifica-se na medida em que se subentende que o trabalho é anterior, com todos os objetos e meios que a ele se relacionam. Mas um pro- grama socialista ndo pode permitir que essa fraseologia burguesa passe em siléncio as con- 94 digdes que, s6 elas, atribuem-lhe sentido. E apenas quando o homem age desde o inicio como proprietario em relacdo 4 natureza, fon- te primeira de todos os meios e objetos do tra- balho, apenas quando a trata como um objeto que lhe pertence, é que seu trabalho se torna a fonte de valores de uso e, portanto, também da riqueza. Os burgueses tém excelentes razdes para atribuir ao trabalho uma sobrenatural for- ¢a de criagdo, pois, precisamente pelo fato de o trabalho depender da natureza, deduz-se que um homem que ndo possui nenhuma outra pro- priedade além de sua forga de trabalho sera ne- cessariamente, em todas as sociedades e civi- lizagOes, o escravo de outros homens que se arvoraram em detentores das condigdes mate- riais do trabalho. E nao pode trabalhar nem viver sem permissao destes Ultimos. Deixemos agora a frase tal como esta, ou antes, tal como claudica. Que conclusdo se de- veria esperar? Evidentemente esta: “JA que o trabalho é a fonte de toda a riqueza, ninguém na sociedade pode apro- priar-se de riqueza que nao seja um produto do trabalho. Se, portanto, alguém nao traba- lha, vive as expensas do trabalho alheio, e sua cultura é também apropriada as custas do tra- balho alheio”. 95 Em vez disso, uma segunda frase junta- se a primeira mediante a conjungao “e como”, para extrair da segunda, e nao da primeira, a conclusao. Segunda parte do pardgrafo: “O traba- Tho util s6 é possivel na sociedade e pela socie- dade”. De acordo com a primeira frase, o traba- tho era a fonte de toda a riqueza e de toda a cultura, portanto, naéo ha sociedade possfvel sem trabalho. E eis que aprendemos, ao con- trario, que nenhum trabalho “util” é possfvel sem a sociedade. Também se poderia dizer que é unicamen- te na sociedade que o trabalho iniitil e até so- cialmente nocivo pode tornar-se um oficio, que é unicamente na sociedade que se pode viver do écio, etc. —-em suma, pode-se recopiar todo o Rousseau. Eo que é um trabalho “Util”? S6 pode ser 0 trabalho que produz o efeito util procurado. Um selvagem — e o homem é um selvagem desde que deixou de ser um macaco — que aba- ter um animal com uma pedra, que coletar fru- tos etc., realiza um trabalho “util”. 96 Em terceiro lugar: a conclusao: “Ecomo o trabalho util sé é possivel na sociedade e pela sociedade, o produto do trabalho pertence in- tegralmente, por direito igual, a todos os mem- bros da sociedade”. Bela conclusdo! Se o trabalho util sé é possivel na sociedade e pela sociedade, o pro- duto do trabalho pertence 4 sociedade — e s6 cabe ao trabalhador individual aquilo que néo for indispensavel 4 manutengao da sociedade, que é a prépria “condi¢&o” do trabalho. De fato, essa proposi¢ao foi, em todos os tempos, defendida pelos campedes da ordem social estabelecida do momento. Em primeiro lugar, vém as pretensdes do governo, e tudo 0 que se acompanha, pois ele é 0 6rgao social que mantém a ordem social; em seguida, vem as pretensdes das diversas espécies de proprie- dade privada que sao, todas elas, a base da so- ciedade, etc. Como se vé, pode-se virar e revi- rar pelo avesso essas frases ocas. Nao ha qualquer ldgica entre a primeirae a segunda parte desse parégrafo, a nao ser ado- tando a verso seguinte: “O trabalho sé é a fonte de riqueza e da cultura se for um trabalho social” ou, o que vem a dar no mesmo, “se realizado na socie- dade e por ela’. 97 Essa frase € incontestavelmente exata, pois se o trabalho isolado (supondo-se realiza- das suas condi¢des materiais) pode criar valo- res de uso, ndo pode criar nem riqueza, nem cultura. Mas nao menos incontestavel € esta ou- tra frase: “A medida que o trabalho se desenvolve na sociedade, e torna-se, por conseguinte, fon- te de riqueza e de cultura, desenvolvem-se pobreza e desamparo no trabalhador; riqueza e cultura no nao-trabalhador.” Essa é a lei de toda a Historia até nossos dias. Em lugar da fraseologia habitual sobre “o trabalho” e “a sociedade”’, devia-se demons- trar aqui com precisdo como, na atual socieda- de capitalista, finalmente foram criadas as con- digGes materiais e outras, que capacitam e im- pelem os trabailhadores a romperem essa mal- dig4o social. Mas, de fato, todo esse paragrafo, tao tos- co em seu estilo quanto em seu contetido, sé existe para inscrever como palavra de ordem bem no alto da bandeira do Partido a formula lassalleana do “produto integral do trabalho”. Retomarei mais tarde as idéias “produto do tra- balho”, “‘direito igual”, etc., pois reaparecem sob uma forma um pouco diferente. 98 2. Na sociedade atual, os meios de tra- balho séo 0 monopélio da classe capitalista; a dependéncia que dai decorre para a classe operéria é a causa da miséria e da servidéo em todas as suas formas. Nessa versio “melhorada”, tal frase — extrafda dos Estatutos da Internacional — é falsa. Na sociedade atual, os meios de trabalho so 0 monopélio dos proprietarios fundiarios (o monopdlio da propriedade fundiaria é in- clusive a base do monopélio do capital) e dos capitalistas. Os Estatutos da Internacional, na passagem considerada, nao citam nem uma nem outra classe de monopolistas. Falam de “monopélios dos meios de trabalho, isto é, das fontes da vida”. O acréscimo da expresso “fontes da vida”, nos Estatutos da Internacio- nal, mostra suficientemente que se inclui a terra entre os meios de trabalho. Essa retificagao foi introduzida porque Lassalle, por raz6es hoje bem conhecidas, ata- cava somente a classe capitalista, e nao os pro- prietarios fundidrios. Na Inglaterra, geralmen- te o capitalista nao é nem mesmo o proprieta- rio do solo em que sua fabrica est4 assentada. 99 3. A emancipacdo do trabatho exige que os meios de trabalho se elevem & propriedade coletiva da sociedade e que o trabalho comum seja regulamentado de forma coletiva, com dis- tribuigdo eqiitativa do produto do trabalho. “Elevar o meios de trabalho 4 proprieda- de coletiva!” Sem dtivida, isso deve querer di- zer sua “transformacaéo em propriedade coleti- va’, seja dito de passagem. O que é 0 “produto do trabalho”? O obje- to produzido pelo trabalho ou seu valor? E, neste Ultimo caso, o valor total do objeto pro- duzido, ou somente a fragao de valor que o tra- balho acrescentou ao valor dos meios de pro- ducao utilizados? “Produto do trabalho” € uma idéia vaga que Lassalle coloca no lugar de conceitos eco- némicos definidos. O que é uma distribuic&o eqiiitativa? Nao afirmam os burgueses que a distri- buigdo atual é eqiiitativa? E nao é ela, com efei- to, a Unica distribuigao “eqilitativa” que se ba- seia no modo de produgao atual? As relagdes econémicas sao regidas por conceitos juridi- Cos, ou nao serao, ao contrario, as relagdes ju- ridicas que nascem das relagdes econdmicas? Os socialistas sectarios nao tém, igualmente, 100 as concepgées mais diversas acerca dessa dis- tribuigdo “eqiiitativa’? Para sabermos 0 que se deve compreen- der pela expressdio pomposa “distribuigdo eqili- tativa”, devemos comparar o primeiro pardgra- fo com este. Este ultimo supde uma sociedade em que “os meios de trabalho siio propriedade coletiva ¢ o trabalho coletivo é regulamentado em comum”, ao passo que, no primeiro pard- grafo, vemos que “o produto do trabalho per- tence integralmente, por direito igual, a todos os membros da sociedade”. “A todos os membros da sociedade’’? Mesmo aos que nao trabalham? A quem cabe o “produto integral do trabalho”? Unicamente aos membros da sociedade que trabalham? A quem cabe o “direito igual” de todos os mem- bros da sociedade? Mas “‘todos os membros da sociedade” ¢ “direito igual” sao apenas express6es grandilo- qiientes. O cerne é: nessa sociedade comunis- ta, cada trabalhador deve receber, segundo Lassalle, seu “produto integral do trabalho”. Se tomarmos inicialmente a expressdo “produto do trabalho” no sentido de objeto pro- duzido pelo trabalho, entao o produto coletivo do trabalho é a “‘totalidade dos objetos produ- zidos pela sociedade”. 101 Disso é preciso deduzir: Primeiramente: uma provisao para a subs- titui¢do dos meios de producao deteriorados; Em segundo lugar: uma parte suplemen- tar para incrementar a producio; Em terceiro lugar: um fundo de reserva ou de seguro contra acidentes, perturbagdes em conseqiiéncia de calamidades naturais, etc. Essas dedugées do “produto integral do trabalho” sao uma necessidade econémica, cujo montante deve ser medido em parte com a ajuda do calculo das probabilidades, em fun- ¢ao dos meios e das forcas em jogo mas, em todos os casos, nao pode ser calculado com base na eqiiidade. Resta a outra parte do produto total, des- tinada a servir ao consumo. Antes de proceder 4 sua distribuicgao en- tre os individuos, hd ainda que deduzir: Primeiramente: os encargos gerais da administracdo, ndo atinentes diretamente a produgdao. Essa parte é imediatamente reduzida ao essencial em comparagdéo com 0 que se passa na sociedade atual, e decresce 4 medida que se desenvolve a sociedade nova. 102 Em segundo lugar: aquilo que se destina a satisfazer as necessidades da coletividade, tais como: escolas, servicos de satide, etc. Essa parte ganha imediatamente impor- tancia em comparacgfo com o que ocorre na sociedade atual, e aumenta 4 medida que se desenvolve a sociedade nova. Em terceiro lugar: um fundo para os que estdo incapacitados de trabalhar, etc., em suma, para o Ambito do que se chama hoje de assisténcia piibiica oficial. E somente agora que chegamos & tnica “distribuigdo” que, sob a influéncia de Lassalle, e de uma maneira limitada, o programa tem em vista, ou seja, a essa parte dos objetos de consumo que é partilhada entre os produtores individuais da coletividade. © “produto integral do trabalho” ja se transformou imperceptivelmente em “produto parcial”, embora o que seja retirado do produ- tor em sua individualidade em qualidade de pessoa privada, a ele retorne, direta ou indire- tamente, em sua qualidade de membro da so- ciedade. Da mesma forma que a expresso gran- diloqiiente “produto integral do trabalho” de- sapareceu, vai agora desaparecer a expressao 103 grandilogiiente “produto do trabalho” em ge- ral. No interior da sociedade coletiva funda- da na propriedade comum dos meios de pro- dug4o, os produtores ndo trocam seus produ- tos; da mesma forma, o trabalho incorporado em seus produtos j4 nao aparece como valor desses produtos, como uma qualidade mate- rial inerente a eles, pois agora, ao contrario do que acontece na sociedade capitalista, j4 ndo é por um desvio, mas sim diretamente, que os tra- balhos individuais se tornam parte integrante do trabalho comum. A expressio “produto do tra- balho”, contestada hoje em raziio de sua ambi- gilidade, perde assim qualquer significacao. Trata-se aqui de uma sociedade comunis- ta, nao tal como se desenvolveu em suas pr6- prias bases, mas, ao contrario, tal como acaba de surgir da sociedade capitalista. Portanto, ela apresenta, em todos os aspectos — econdémico, moral e intelectual -, os estigmas da antiga so- ciedade que a engendrou. O produtor indivi- dual recebe, nessa medida, uma vez feitas as dedugSes, 0 equivalente exato do que da 4 so- ciedade. O que ele lhe deu é sua quota indivi- dual de trabalho. Por exemplo, a jornada so- cial de trabalho compde-se da soma das horas de trabalho individual. O tempo de trabalho 104 individual de cada produtor é a parte da jorna- da de trabalho social que ele forneceu, a parte que nela tomou. Ele recebe da sociedade um bénus, certificando que forneceu determinada quantidade de trabalho (deduzido o trabalho efetuado para os fundos das cooperativas) e, com esse bénus, retira da reserva social uma quantidade de objetos de consumo equivalen- tes ao custo de uma quantidade igual de seu trabalho. A mesma quota de trabalho que ele deu 4 sociedade sob uma forma, esta devolve- lhe sob outra. Reina evidentemente aqui o mesmo prin- cfpio que regulamenta a troca das mercadorias, 4 medida que se trocam valores iguais. O con- tetido e a forma sfio transformados porque, em circunstancias diferentes, ninguém pode dar nada senfo seu trabalho e, por outro lado, nada pode tornar-se propriedade dos individuos, exceto objetos de consumo individuais. Mas, no que se refere a partilha destes ultimos entre os produtores individuais, reina o mesmo prin- cfpio que para a troca de mercadorias equiva- lentes: uma quantidade de trabalho sob uma forma é trocada pela mesma quantidade de tra- balho sob outra. Portanto, 0 direito igual continua aqui — em seu princfpio — a ser o direito burgués, se 105 bem que principio e pratica nao se puxam mais pelos cabelos, ao passo que, para as mercado- Tias, a troca de equivalentes s6 existe em mé- dia e nao em cada caso individual. Apesar desse progresso, 0 direito igual continua preso a uma limitagao burguesa. O direito dos produtores é proporcional ao tra- balho que eles fornecem; a igualdade consiste aqui no emprego do trabalho como unidade de medida comum. Mas alguns individuos sao fi- sica ou intelectualmente superiores a outros, fornecendo, portanto, no mesmo intervalo, mais trabalho. Ou entéo podem trabalhar mais tempo; e o trabalho, para servir de medida, deve ser determinado segundo a duragao ou a inten- sidade, sendo deixa de ser uma unidade de medida. Esse direito igual é um direito desi- gual para um trabalho desigual. Nao reconhe- ce nenhuma distingao de classe porque todo homem é€ um trabalhador como os outros. Mas reconhece tacitamente, como privilégios natu- rais, a desigualdade dos talentos individuais e, por conseguinte, da capacidade de rendimento dos trabalhadores. Portanto, no seu contetdo, é um direito baseado na desigualdade, como todo direito. Por sua natureza, o direito s6 pode consistir no emprego de uma mesma unidade de medida; mas os individuos desi guais (e eles 106 nao seriam individuos distintos se nao fossem desiguais) s6 séo mensurdveis por uma mes- ma unidade de medida, se forem considerados de um mesmo ponto de vista, apreendidos por um aspecto determinado. Por exemplo, no caso presente, enquanto forem considerados como trabalhadores e nada mais, fazendo-se abstra- ¢ao de todo o resto. Além disso: um operario é casado, outro ndo; um tem mais filhos do que outro, etc. Para rendimento igual e, portanto, para participaco igual no fundo social de con- sumo, um recebe efetivamente mais do que outro, um é mais rico do que outro, etc. Para evitar todos esses inconvenientes, o direito nao deveria ser igual, mas desigual. Mas esses inconvenientes sao inevitaveis na primeira fase da sociedade comunista, tal como acaba de surgir da sociedade capitalista depois de um longo e doloroso parto. O direito jamais pode ser mais elevado do que a estrutu- raeconémica da sociedade e o desenvolvimen- to cultural correspondente. Em uma fase superior da sociedade co- munista, quando tiver desaparecido a subordi- nagiio escravizadora dos individuos a divisao do trabalho e, assim, a oposi¢ao entre trabalho intelectual e trabalho manual; quando o traba- lho tiver se tornado, n&’o apenas um meio de 107 vida, mas 0 requisito precipuo da vida; quan- do, com o desenvolvimento diversificado dos individuos, suas forcas produtivas tiverem se incrementado também, e todas as fontes da ri- queza coletiva jorrarem com abundancia — sé entao o horizonte estreito do direito burgués poderd ser totalmente suplantado, e a socieda- de poderd inscrever em sua bandeira: “A cada um, de acordo com suas habilidades; a cada um, de acordo com suas necessidades!” Alonguei-me sobre os t6picos “produto integral do trabalho”, “direito igual”, “distri- buigdo eqititativa’”, a fim de mostrar que crime se comete quando, de um lado, quer-se impor ainda a nosso Partido, como dogmas, concep- ges que tiveram sentido em determinada €po- Ca, mas néo passam hoje de uma fraseologia caduca; e, de outro, quando se deturpa a con- cepgao realista inculcada com grande sacrifi- cio no Partido, mas profundamente arraigada nele, com a ajuda dos embustes de uma ideo- logia juridica ou outra, tao familiares aos de- mocratas e aos socialistas franceses. Abstrag4o feita do que acabo de desen- volver, era, de qualquer forma, um erro grave dar tanta importancia 4 chamada distribuicdo, e nela colocar a énfase. Em todas as épocas, a distribuigao dos 108 objetos de consumo é tdo-somente 0 resultado da distribuig&o das condigées de produgao; mas essa distribuigdo é uma caracteristica do prdé- prio modo de produg4o. Por exemplo, o modo de producio capitalista baseia-se no fato de que as condigdes materiais de produgdo sido atri- bufdas aos nio-trabalhadores, sob a forma de propriedade do capital e de propriedade fun- didria, enquanto a massa sé é proprietdria das condigGes pessoais de produgdo: a forga de tra- balho. Distribuidos desse modo os meios de producio, a atual distribuigio dos objetos de consumo é uma conseqiiéncia natural. Se as condigdes materiais de produgio fossem pro- priedade coletiva dos préprios trabalhadores, isso determinaria uma distribui¢ao dos obje- tos de consumo diferente da atual. O socialismo vulgar (e, posteriormente, por sua vez, uma parte da democracia), na esteira dos economis- tas burgueses, considera e trata a distribuigo como algo independente do modo de produ- ¢4o e confere ao socialismo uma ténica que gravita em torno da distribuigdo. Uma vez que as relacgGes reais foram elucidadas ha muito tempo, por que retroceder? 4. A emancipacdo do trabalho deve ser obra da classe operdria, diante da qual todas 109 as outras classes formam tdo-somente uma massa reacionaria. A primeira frase € colhida no preambulo dos Estatutos da Internacional, mas “melhora- da”. O preambulo diz que “a emancipacdo da classe operaria deve ser obra dos préprios tra- balhadores”; ao passo que aqui é “‘a classe ope- raria” que deve emancipar ~ o qué? “o traba- lho”, Compreenda quem puder. Em compensagao, a antistrofe é uma cita- ¢ao de Lassalle, no melhor estilo: “...diante da qual (da classe operaria) todas as outras clas- ses formam tao-somente uma massa reacio- ndria’’. No Manifesto Comunista, esté escrito: “De todas as classes que hoje enfrentam a bur- guesia, somente o proletariado é uma classe real- mente revoluciondria. As outras classes vao degenerando e tendem a desaparecer com o de- senvolvimento da grande industria, ao passo que 0 proletariado é seu produto caracteristico”. Aqui se concebe a burguesia como uma classe revoluciondria — como agente da gran- de industria — em relag&o aos senhores feudais e as classes médias, empenhados em manter todas as posigdes sociais, que sio o fruto de modos de produgéo caducos. Portanto, essas 110 classes formam com a burguesia uma massa reacionaria. De outra parte, o proletariado é revolucio- nario perante a burguesia porque, tendo ger- minado no solo da grande industria, aspira a despojar a producdo de seu carater capitalista, que a burguesia quer perpetuar. Mas o Mani- festo acrescenta que as “classes médias tornam- se revolucionarias diante da perspectiva imi- nente de sua passagem para 0 proletariado”. Portanto, desse ponto de vista, é mais um contra-senso afirmar que, frente 4 classe ope- raria, as classes médias “formam téo-somente uma massa reaciondria com a burguesia’ e, ain- da por cima, com os senhores feudais. Sera que durante as tiltimas eleigdes, gri- tou-se aos artesAos, aos pequenos industriais, etc., e aos camponeses: diante de nds, vocés formam, em conjunto com os burgueses e os senhores feudais, tao-somente uma massa rea- cionaria? Lassalle sabia de cor o Manifesto Co- munista, da mesma forma que seus fiéis co- nhecem as Santas Escrituras de sua lavra. Se 0 falsificava tao grosseiramente, era apenas para escamotear sua alianga com os adver- s4rios absolutistas e senhores feudais contra a burguesia. lt No paragrafo citado, a senten¢a lassallea- na é forc¢ada, sem nenhuma relagdo com a ci- tagdo adulterada dos Estatutos da Internacio- nal. Entio, trata-se de uma simples impertinén- cia, que néo desagradaria certamente a Bis- marck, uma dessas grosserias baratas em que se destaca o Marat berlinense. 5. A classe operdria trabaiha para sua emancipacdo primeiramente no ambito do atual Estado nacional, consciente de que o resulta- do necesstrio de seu esforco, comum aos ope- rarios de todos os paises civilizados, serd a fraternidade internacional dos povos. Contrariamente ao Manifesto Comunista ea todo o socialismo anterior, Lassalle conce- bia o movimento operdrio do ponto de vista estritamente nacional. E, mesmo depois da In- ternacional, ainda se seguem suas pegadas nes- sa direcao! E ébvio que, para poder efetivamente lu- tar, a classe operaria deve organizar-se em seu pais como classe, sendo 0 respectivo pais tea- tro imediato de sua luta. E nessa medida que sua luta de classe é nacional, nao em seu con- teido, mas, como diz o Manifesto Comunista, “em sua forma”. Mas o “&mbito do atual Esta- 112 do nacional”, por exemplo, do Império alemao, situa-se, por sua vez, economicamente, “no ambito do mercado mundial” ¢ , politicamente, “no ambito do sistema de Estados”. Qualquer comerciante sabe que o comércio alemao é, ao mesmo tempo, comércio exterior, e a grandeza do Sr. Bismarck consiste precisamente em sua maneira de fazer uma politica internacional. A que 0 Partido Operario Alemao reduz seu internacionalismo? A consciéncia de que o resultado de seu esforgo “sera a fraternidade internacional dos povos”— expressao grandi- loqiiente colhida na Liga Burguesa para a Li- berdade e para a Paz, que quer se fazer passar por equivalente da fraternidade internacional das classes operarias em sua luta comum con- tra as classes dominantes e seus governos. Das fungédes internacionais da classe operaria ale- ma, no se menciona sequer uma palavra! E assim a classe operdria deve-se contrapor du- plamente a sua propria burguesia — que a ela se opde confraternizando com os burgueses de todos os demais pajses — e 4 politica de cons- piracao internacional do senhor Bismarck. De fato, a profissdo de fé internacionalista do programa esta ainda infinitamente acima da do partido livre-cambista. Também este pre- £ +6, tende que o resultado de seu esforgo é “‘a frater- 113 nidade internacional dos povos”. Mas ele faz também algo para internacionalizar 0 comér- cio, e ndo se contenta absolutamente com o fato de ser consciente de que todos os povos praticam 0 comércio no préprio pais. A atividade internacional das classes ope- rarias nao depende, de forma alguma, da exis- téncia da Associagdo Internacional dos Tra- balhadores. Esta foi apenas uma primeira ten- tativa para dotar essa atividade de um 6rgado central; tentativa que, pelo impulso dado, teve um resultado duradouro, mas, em sua primei- ra forma historica, nao podia sobreviver por muito tempo 4 queda da Comuna de Paris. A Norddeutsche de Bismatck tinha total- mente razéo quando anunciava, para satisfa- ¢do de seu mestre, que o Partido Operario Ale- mao, em seu novo programa, abjurara o inter- nacionalismo. II Partindo desses principios, o Partido Operdario AlemGo esforga-se, mediante todos os meios legais, para fundar o Estado livre ea sociedade socialista; para suprimir o sistema assalariado com a \ei de bronze dos saldrios e a 14 exploragdao, sob todas as suas formas; para eli- minar toda a desigualdade social ou politica. Retomarei mais tarde o tépico “Estado livre”. Assim, no futuro, o Partido Operario Ale- mao deverd crer na “lei de bronze dos sala- rios” de Lassalle! Para que essa lei nao se per- ca, comete-se o absurdo de falar de “aboligaio do sistema assalariado” (seria correto falar de sistema do trabalho assalariado), “com sua lei de bronze”. Se suprimir o trabalho assalaria- do, suprimirei naturalmente suas leis, sejam elas de “bronze” ou de esponja. Mas a luta de Lassalle contra o trabalho assalariado gira qua- se exclusivamente em torno dessa pretensa lei. Para demonstrar, por conseguinte, que a seita de Lassalle triunfou, é preciso que o “sistema dos salarios”’ seja abolido “com sua lei de bron- ze’, e no sem ela. Da “lei de bronze dos salarios”, sé per- tence a Lassalle a palavra “bronze”, colhida na frase “grandes e eternas leis de bronze”, de Goethe. A expressiio “de bronze” € uma senha com que se reconhecem 0s crentes ortodoxos. Mas se eu admitir essa lei com o selo de Las- salle e, por conseguinte, no sentido lassallea- no, é preciso também admitir seu fundamento. 115 Qual é ele? Como Lange assinalou pouco de- pois da morte de Lassalle: é a teoria malthu- siana da populagao (pregada pelo préprio Lan- ge). Mas se essa teoria é exata, ndo posso su- primir tal lei, por mais que possa suprimir o trabalho assalariado, porque entao a lei nao rege somente o sistema do trabalho assalariado, mas todo e qualquer sistema social. E precisamen- te fundamentando-se nisso que os economis- tas demonstraram, j4 ha mais de cingiienta anos, que 0 socialismo nao pode acabar com a miséria que se funda na natureza, mas tio-so- mente generalizd-la, reparti-la igualmente por toda a superficie da sociedade! Mas isso nao é 0 principal. Abstraindo- se totalmente a falsa versio que Lassalle da dessa lei, 0 retrocesso verdadeiramente revol- tante consiste no seguinte: Depois da morte de Lassalle, em nosso Partido abriu-se um caminho para a concep- ¢ao cientifica, segundo a qual 0 saldrio do tra- balhe nao é 0 que parece ser, a saber, 0 valor ou 0 prego do trabalho, mas somente uma for- ma disfargada do valor ou do prego da forca de trabalho. Assim, colocou-se de lado toda a concep¢do burguesa do salario, bem como toda a critica dirigida até hoje contra ela. Ficou cla- ro que 0 operdrio assalariado sé tem a autori- 116 zagio de trabalhar para assegurar sua propria subsisténcia, isto é, para viver, conquanto tra- balhe gratuitamente um determinado tempo para o capitalista (e, portanto, também para aqueles que compartilham com este a mais- valia); que todo o sistema da producao capita- lista visa a prolongar esse trabalho gratuito pela extensdo da jornada de trabalho e pelo desen- volvimento da produtividade, isto é, acentuan- do a tens&o da forga de trabalho, etc. Portanto, que o sistema do trabalho assalariado é um sis- tema de escravidao, escraviddo tanto mais dura quanto mais se desenvolvem as forgas produ- tivas sociais do trabalho, qualquer que seja a remuneragio, melhor ou pior, do operario. E agora que essa concepgao ganha terreno em nosso Partido, retrocedemos aos dogmas de Lassalle, ao passo que se deveria saber que Lassalle ignorava 0 que € 0 salario, e que, na esteira dos economistas burgueses, tomava a aparéncia da coisa por sua esséncia. E como se, entre os escravos revoltados que tivessem enfim descoberto o segredo da es- cravidao, um escravo preso a concepg6es anti- quadas inscrevesse no programa da revolta: “A escravidao deve ser abolida porque, no sistema da escravidao, o sustento dos escravos nao pode ultrapassar certo limite, relativamente baixo!” 17 O mero fato de que os representantes de nosso partido tenham podido cometer atentado tao monstruoso contra a concepcao difundida na massa do Partido, mostra por si s6 a levian- dade [criminosa], [a ma-fé] que imprimiram na redagao do programa de compromisso! Em lugar da vaga e pomposa conclusdo desse pardgrafo: “eliminar toda a desigualda- de social e politica”, seria preciso dizer que, com a supressio das diferengas de classes, de- saparece por si mesma toda a desigualdade social e politica que delas emanam. Il O Partido Operdrio Alemdo exige, para preparar o caminho para a solucio da questiio social, o estabelecimento de cooperativas de produgdo, subvencionadas pelo Estado, sob o controle democratico do povo trabalhador. As cooperativas de produgdo devem ser criadas na indistria e na agricultura com uma ampli- tude tal que delas surja a organizac&o socialis- ta do trabalho comum. Depois da “lei de bronze do salario”, de Lassalle, eis a panacéia do profeta! O caminho 118 é dignamente “preparado”! Substituiu-se a luta de classes existente por uma pomposa férmu- la jomnalistica: “A questdo social”, para cuja “solucdo” se “prepara o caminho”! Em vez de decorrer do processo de transformagao revo- lucionaria da sociedade, a “organizag4o socia- lista do trabatho em comum” “resulta” da “aju- da do Estado”, ajuda que o Estado fornece as cooperativas de produ¢gdo que ele préprio, e nao o trabalhador, “cria”. E bem digno da ima- ginagio de Lassalle pensar que se pode cons- truir uma sociedade nova tao facilmente quan- to uma nova ferrovia! Por [um resto de] pudor, coloca-se “a sub- vengao do Estado” ... “sob o controle demo- cratico do povo trabalhador”. Primeiramente, “o povo trabalhador”, na Alemanha, comp6e-se na sua maioria de cam- poneses, e nao de proletdrios. Em seguida, “democratico” quer dizer, em alemiio, “do povo soberano”. Mas o que sign- fica “controle popular e soberano do povo tra- balhador ”’? Eisso, mais precisamente para um povo de trabalhadores que, pelas reivindica- gdes que faz ao Estado, manifesta sua plena consciéncia de que nem est4 no poder, nem se acha maduro para tal! E supérfluo fazer aqui a critica da receita 119 prescrita por Buchez sob Luis Filipe, em opo- si¢do aos socialistas franceses, e que os operd- rios reaciondrios do Atelier retomaram. Assim, 0 mais escandaloso nao é que se tenha inscrito no programa essa cura especificamente mila- grosa, mas que, no fim das contas, se abando- ne o ponto de vista de movimento de classe para retroceder ao de movimento de seita. Dizer que os trabalhadores querem imple- mentar as condicdes da producaio coletiva em escala social e primeiramente em seu proprio pais, em escala nacional, significa somente que eles trabalham para subverter as condigdes atuais de producdo; e isso nada tem a ver com a fundagao de sociedades cooperativas subven- cionadas pelo Estado. Mas no que diz respeito as sociedades cooperativas atuais, estas s6 tém valor enquanto sao criagées independentes, realizadas pelos trabalhadores, e n&o sAo pro- tegidas nem pelos governos nem pelos bur- gueses. IV Chego agora 4 secéo democratica. a) Livre fundamento do Estado Primeiramente, de acordo com a seco II, 120 o Partido Operario Aleméo esforga-se para construir 0 “Estado livre”. Estado livre — 0 que é isso? O objetivo dos trabalhadores que se libe- raram da mentalidade tacanha de individuos subjugados n&o é, de modo algum, tomar “li- vre o Estado. No Império alemio, o “Estado” é quase tao “livre” quanto na Russia. A liber- dade consiste em transformar o Estado, de ér- giio acima da sociedade, em 6rgdo inteiramen- te subordinado a ela. E ainda hoje as formas do Estado continuam mais ou menos livres, se- gundo limitem a “liberdade do Estado”. O Partido Operario Alemao — pelo me- nos se adotar esse programa — mostra que as idéias socialistas nem mesmo o tocam de leve; em lugar de tratar a sociedade vigente (e isso vale para qualquer sociedade futura) como o fundamento do Estado presente (ou futuro para a sociedade futura), considera antes o Estado como uma realidade independente, com seus proprios “fundamentos intelectuais, morais e livres”. Além disso, que abuso calamitoso faz o programa das expressdes “Estado atua!”, “so- ciedade atual”! E que confusao ainda mais de- soladora manifesta a respeito do Estado, ao qual se dirigem suas reivindicagoes! 121 A “sociedade atual” é a sociedade capita- lista que existe em todos os pafses civilizados, mais ou menos livre dos elementos medievais, mais ou menos modificada pelo desenvolvi- mento hist6rico proprio de cada pafs, mais ou menos desenvolvida. Ao contrario, o “Estado atual” muda com as fronteiras de cada pafs. Ele difere no Império prussiano-alemao e na Sui¢a, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Por- tanto, “o Estado atual” é uma ficcdo. No entanto, os diversos Estados dos di- versos paises civilizados, apesar da multipla variedade de suas formas, tém em comum o fato de repousarem nas bases da sociedade burguesa moderna, mais ou menos desenvol- vida do ponto de vista capitalista. E por isso que tém em comum certas caracteristicas es- senciais. Nesse sentido, pode-se falar da “es- séncia do Estado atual”, em oposigiio ao futuro, quando a sociedade burguesa, lugar de seu enraizamento presente, terd deixado de existir. Ent&o, uma questio se coloca: que trans- formagao sofrera a esséncia do Estado em uma sociedade comunista? Em outros termos: que fungGes sociais — andlogas as fungdes atuais do Estado — nela subsistiraio? Essa questiio s6 pode ter uma resposta cientifica, e nao se fara avangar um milimetro o programa, por mais 122 que combinemos de milhares de formas a pa- lavra Povo com a palavra Estado. Entre a sociedade capitalista e a socieda- de comunista, ha o periodo de transformagao revoluciondria da primeira na segunda. A esse perfodo corresponde também um perfodo de transic&o politica em que o Estado nao podera ser outra coisa que a ditadura revoluciondria do proletariado. O presente programa nada tem a ver nem com esta Ultima, nem com a esséncia futura do Estado na sociedade comunista. Suas reivindicagées politicas néo contém nada mais que a velha e consabida litania de- mocratica: sufrdgio universal, legislagao dire- ta, justiga popular, milicia popular, etc. Elas so simplesmente 0 eco do Partido Popular bur- gués, da Liga para a Liberdade e para a Paz. S4o apenas reivindicagées j4 realizadas, quan- do nao est4o exageradas até converterem-se em uma representacaio fantasiosa. Simplesmente, o Estado em que elas existem ndo se situa, de forma nenhuma, dentro das fronteiras do Im- pério alemao, mas na Suiga, nos Estados Uni- dos, etc. Essa espécie de “Estado futuro” € um Estado atual, embora situado fora “do ambi- to” do Império alemao. Mas esqueceu-se de uma coisa. Jé que 0 123 Partido Operario Alemao declara expressamen- te atuar no seio “do Estado nacional atual’, portanto em seu préprio Estado, o Império prussiano-alem&o— de outro modo suas reivin- dicac6es seriam, em maior parte, absurdas, pois S6 se exige o que ainda nao se tem -, 0 Partido nao deveria esquecer 0 essencial, a saber, que todos esses belos pormenores repousam no re- conhecimento da chamada soberania do povo €, portanto, sé tém cabimento em uma Repii- blica democriatica. Ja que nao se ousa — atitude sabia, pois as circunstancias exigem prudéncia — exigir a Re- publica democrética, como faziam os progra- mas dos trabalhadores franceses, sob Luis Fi- lipe e Luis Napoledio, néo se deveria esquivar, por uma artimanha (tao pouco “honesta” quan- to respeitavel), exigindo coisas que s6 tém sen- tido em uma Republica democratica de um Estado que nao € nada mais que um despotis- mo militar de estrutura burocratica e proteco policial, guarnecido de formas parlamentares, com uma mescla de elementos feudais e in- fluéncias burguesas (e, além disso, garantir a esse Estado que se pretende impor-Ihe seme- thante programa “por meios legais”). Até a democracia vulgar, que vé na Re- publica democratica um parafso de mil anos, e 124 que n&o tem a menor idéia de que € precisa- mente sob esta ultima forma estatal da socie- dade burguesa que se travard o combate supre- mo entre as classes, a propria democracia esta a quilémetros acima dessa espécie de demo- cratismo que se move dentro das fronteiras do que € autorizado pela policia e proibido pela ldgica. Que se compreenda por “Estado” a méa- quina governamental, ou o Estado enquanto constitui, em conseqiiéncia da divisao do tra- balho, um organismo préprio, separado da so- ciedade, indicam-nos estas palavras: “O Parti- do Operario Alemao exige como fundamento econémico do Estado um imposto de renda tinico e progressivo, etc.”. Os impostos so a base econémica da méquina governamental e nada mais. No Estado futuro, tal como existe na Suiga, essa reivindicagao esta quase reali- zada. O imposto de renda supée as diversas fontes de renda das diversas classes sociais, por conseguinte, a sociedade capitalista. Por- tanto, néo é surpreendente que os Financial Reformers, de Liverpool — burgueses lidera- dos pelo irmao de Gladstone -, formulem rei- vindicacao idéntica 4 desse programa. 125 b) O Partido Operdrio Alemdo exige como Sfundamento intelectual e moral do Estado: 1, Educagdo geral e idéntica para todos, a cargo do Estado. Escola obrigatéria para todos. InstrugGo gratuita. Educa¢do popular idéntica para todos? O que se entende por essas palavras? Acredi- ta-se que na sociedade atual (e é dela que se trata) a educacdo possa ser idéntica para todas as Classes? Ou ento se exige que também as classes superiores sejam reduzidas a forga a limitar-se ao ensino restrito — a escola prima- ria—, dnico compativel com a situacao econé- mica n&o sé dos operdrios assalariados, mas também dos camponeses? “Escola obrigatéria para todos. Instrugdo gratuita.” A primeira ja existe, inclusive na Ale- manha; a segunda, na Suiga e nos Estados Uni- dos, no que tange as escolas primarias. Se em certos Estados deste ultimo pais, estabeleci- mentos de ensino “superior” sao igualmente gratuitos, isto significa apenas que as receitas gerais dos impostos cobrem os gastos de edu- cacio das classes superiores. Diga-se de pas- sagem que 0 mesmo acontece com a “admi- nistragio gratuita da justiga”, de que fala o ar- 126 tigo 5. A justica penal é gratuita em toda a par- te; ajustica civil gira quase exclusivamente em torno dos litigios de propriedade e concerne, portanto, quase unicamente as classes abasta- das. Deveriam elas sustentar seus processos as expensas do tesouro piblico? O pardgrafo relativo as escolas teria que exigir, no minimo, escolas técnicas (teéricas e praticas) adjuntas a escola primaria. E preciso rejeitar peremptoriamente uma “educagio popular a cargo do Estado”. Uma coisa é determinar, mediante uma lei geral, os recursos das escolas primarias, a qualificagao do pessoal docente, os cutriculos, etc., e fisca- lizar, por intermédio de inspetores publicos, a execugiio dessas prescrig6es legais, como acon- tece nos Estados Unidos. Outra coisa comple- tamente diferente é fazer do Estado 0 educa- dor do povo! E preciso antes banir toda influén- cia sobre a escola, tanto de parte do governo quanto da Igreja. Sobretudo no Império prus- siano-alemio (e que ndo se invoque o subter- fugio falacioso de falar de um “Estado futu- ro”; j4 vimos que cara ele tem). Ao conitrério, o Estado é que necessita receber do povo uma educacao maciga. Alias, apesar de todas essas ressonancias democraticas, todo o programa est4 eivado, do 127 comego ao fim, pelas crengas servis da seita de Lassalle ou, o que é pior, pela crenga no milagre da democracia, ou antes por um com- promisso entre essas duas espécies de supers- tigdes, igualmente afastadas do socialismo. “Liberdade da ciéncia”, diz um paragra- fo da Constituigao prussiana. Por que, entao, evoca-la aqui? “Liberdade de consciéncia!” Se quises- sem, nessa €poca de Kulturkampf, dar ao libe- ralismo suas velhas palavras de ordem, sé se podia fazé-lo sob esta forma: cada um tem o direito de satisfazer suas necessidades religio- sas ¢ fisicas, sem que a policia meta 0 nariz. Mas 0 Partido Operdrio devia, nessa ocasiao, exprimir sua convicgao de que “a liberdade de consciéncia” burguesa limita-se a tolerar to- dos os tipos possiveis de liberdade de conscién- cia religiosa, enquanto cle se esfor¢a por eman- cipar a consciéncia dos fantasmas religiosos. Mas preferiram nao ultrapassar o nivel “bur- gués”. Chego agora ao fim, pois 0 apéndice que Segue © programa n4o constitui uma parte ca- racteristica. Assim, procuratei ser breve. 128 2. Jornada normal de trabalho. Em nenhum pais, o Partido Operario li- mitou-se a uma reivindicagio téo imprecisa, mas sempre fixou a duracao da jornada de tra- balho que, em circunstancias determinadas, considera normal. 3. Limitagdo do trabalho das mulheres e proibicdo do trabatho infantil. A regulamentagio da jornada de trabalho deve incluir a limitagao do trabalho das mu- Iheres — no que se refere a duracdo, pausas, etc., da jornada de trabalho —, caso contrario, equivale 4 exclusio do trabalho das mulheres de offcios que sao particularmente contra-in- dicados para a satide fisica e para a moral do sexo feminino. Se é isso que se queria dizer, devia ter sido dito. “Proibigao do trabalho infantil!” Era ab- solutamente necessario estabelecer o limite de idade. A proibicdo geral do trabalho infantil € incompativel com a existéncia da grande in- diistria, sendo, portanto, apenas um desejo in- génuo e descabido. Sua implementacao, se tal fosse possivel, 129 seria reaciondria, ja que, desde que esteja as- segurada uma estrita regulamentacao —contem- plando as diversas faixas etdrias e outras me- didas regulamentares de protecao infantil —, a combinacao precoce do trabalho produtivo com a instrucdo € um dos meios mais poderosos de transformagao da sociedade atual. 4. Controle pelo Estado do trabalho nas fabricas, nas oficinas e a domicilio. Com relacao ao Estado prussiano-alemao, era preciso exigir que os inspetores s6 pudes- sem ser demitidos pelos tribunais; que qual- quer operario possa denuncié-los aos tribunais por transgressdo a seus deveres; que sejam obrigatoriamente membros do corpo médico. 5. Regulamentacdo do trabalho nas pri- ses. Reivindicagao mesquinha em um progra- ma operario geral. Em todo o caso, era preciso dizer claramente que nao se pretendia realmen- te que os criminosos de direito comum, por medo da concorr€ncia, fossem tratados como animais, nem priva-los do que é precisamente seu Unico meio de emendar-se, o trabalho pro- 130 dutivo. Era o minimo que se poderia esperar de socialistas. 6. Uma lei eficaz de responsabilidade. Era preciso dizer o que se entende por lei “eficaz” de responsabilidade. Observemos, de passagem que, a respei- to da jornada normal de trabalho, negligenciou- se a parte da legislagio das industrias que concerne as medidas regulamentares sobre a higiene e as medidas de seguranga contra os riscos de acidente. A lei de responsabilidade s6 € aplicada quando essas prescrigbes so infringidas. (Em suma, esse apéndice se distingue também por sua redag4o canhestra.) Dixi et salvavi animam meam. 131 te INDICE APRESENTAGAO— Em busca dos amanhis que encantam / 5 Mantresto Do Partipo Comunista (1 848) de Karl Marx e Friedrich Engels/ 11 Prefacio 4 edigao alem& de 1872, por Karl Marx ¢ Friedrich Engels/ 12 Prefacio a edicao alema de 1890, por Friedrich Engels/ 15 Manifesto do Partido Comunista / 23 I— Burgueses ¢ proletarios/ 23 II — Proletérios ¢ comunistas/ 46 IH — Literatura socialista e comunista/ 63 1. O socialismo reacionério/ 63 a. O socialismo feudal/ 63 b. O socialismo pequeno-burgués/ 66 c. O socialismo alemao ou “verdadeiro”/ 68 2. O socialismo conservador ou burgués/ 73 3. O socialismo € 0 comunismo critico-utépicos/ 76 IV ~Posigdo dos comunistas em relagiio aos diferentes partidos de oposigao/ 81 Crinica AO PROGRAMA DE Gorna (1875) de Karl Marx / 85 Apresentagao de Friedrich Engels (1891) / 87 Carta de Marx a Wilhen Bracke (1875) /90 Comentérios 4 margem do Programa do Partido Ope- rério Alemao / 94 132 Colecio L&IPM POCKET 1.Cal 2.P 3.0 livro dos sonetos — org. Sergio Faraco 4.Hamlet — Shakespeare/ trad. Mili6r 4.Isadora, fragmentos autobiogréficos - Isadora Duncan 6.Histérias sicilianas - G. Lampedusa 71.0 relato de Arthur Gordon Pym - Edgar A. Poe 8A mulher mais linda da cidade - Bukowski 9.0 fim de Montezuma — Hernan Cortez {0.A ninfomania — D. T. Bienville 1].As aventuras de Robinson Crusoé - Daniel Defoe 12.Histérias de amor - A. Bioy Casares 13.Armadilha mortal - Roberto Arlt 14.Contos de fantasmas — Danie! Defoe 15.0s pintores cubistas -G. Apollinaire 16.A morte de Ivan Ilitch — L.Tolstoi 17.A desobediéncia civil ~ D. H. Thoreau 18,Liberdade, liberdade - Flavio Ranget ¢ Millér Fernandes 19.Cem sonetos de amor - Pablo Neruda 20.Mulheres —Eduardo Galeano 21, Cartas a Théo - Van Gogh 22.Don Juan-Moliére —Trad. Miltér Femandes 24,Horla—Guy de Maupassant 25.0 caso de Charles Dexter Ward — H. P. Lovecraft 26.Vathek - William Beckford 27. Hai-Kais - Miltér Fernandes 28.Adeus, minha adorada - Raymond Chandler 29.Cartas portuguesas - Mariana Alcoforado 30.A mensageira das violetas — Sonetos — Florbela Espanca 31. Espumas flutuantes — Castro Alves 32.Dom Casmurro - Machado de Assis 34.Alves & Cia. - Eca de Queiroz 35.Uma temporada no inferno- A. Rimbaud 36.4 correspondéncia de Fradique Mendes —Bga de Queiroz 38.Antologla poética —- Olavo Bilac 39,Rei Lear - W, Shakespeare — Trad. de Millér Fernandes 40.Memérias péstumas de Bras Cubas ~ Machado de Assis 41,Que loucura! — Woody Allen 42.0 duelo~ Casanova 44,Gentidades —Darcy Ribeiro 45.Memorias de um Sarg. de Milicias - Manuel A. de Almeida 46.05 escravos - Castro Alves 47.0 desejo pego pelo rabo — Pablo Picasso 48.0s inimigos - Miximo Gorki 49.0 colar de veludo - Alexandre Dumas logo geral da Colegio 50.Livro dos bichos - Varios 51.Quincas Borba ~ Machado de Assis 53.0 exéreito de um homem 9 - Moacyr Scliar 54.Frankenstein- Mary Shelley 55 Dom Segundo Sombra — Ricardo Gitiratdes 56.De vagdes e vagabundos — Jack London $7.0 homem bicentendrio - Isaac Asimov 58.A viuvinha ~ José de Alencar 59 Livro das cortesis - Org. de Sergio Faraco 60.Uitimos poemas - Pablo Neruda 61.A moreninha - Joaquim Manuel de Macedo 62.Cinco minutos - José de Alencar 63.Saber envelhecer ¢ a amizade - Cicero (4Enquanto a noite nao chega — J. Guimaries 65.Tufao - Joseph Conrad 66.Aurétia — Gérard de Nervat 67.1-Juca-Pirama - Goncatves Dias 68.Fibulas de Esopo 69.Teresa Filésofa - Anénime do Séc. XVI 70.Aventuras inéditas de Sherlock Holmes -A.C. Doyle 71 Antologia poética - Mario Quintana 72.Antes e depois - Paul Gauguin 73.A morte de Olivier Bécaille - Emile Zola 74Aracema — José de Atencar 75.laié Garcia - Machado de Assis 76.Utopia - Tomas Morus 77 Sonetos para amar 0 amor — Camdes 78.Carmem — Prosper Mérimée 79.Senhora —José de Alencar 80.Hagar, o horrivel 1 - Dik Browne 81.0 coragdo das trevas ~ Joseph Conrad 82.Um estudo em yermelho — Conan Doyle 83.Todos os sonetos ~ Augusto dos Anjos 84.A propriedade éum roubo-P-J.Proudhon 85.Drécula — Bram Stoker 86.0 marido complacente - Sade 87.De profundis - Oscar Wilde 88.Sem plumas - Woody Allen 89.Os bruzundangas - Lima Barreto 90.0 cao dos Baskervilles - Conan Doyle 91 Paraisos artificiais — Charles Baudelaire 92.Candido, ou o otimismo ~ Voltaire 03, Triste fim de Policarpo Quaresma ~ Lima Barreto 94.Amor de perdigSo - Camilo Castelo Branco 95.Megera domada ~ Shakespeare/Mill6r 96.0 mulato - Aluisio Azevedo 97.0 alienista — Machado de Assis 98.0 livro dos sonhos - Jack Kerouac 99.Noite na taverna- Alvares de Azevedo 100.Aura - Carlos Fuentes 102.Contos gauchescos e lendas do sul - SimGes Lopes Neto 103.0 cortigo - Aluisio Azevedo 104.Marilia de Dirceu ~ T. A. Gonzaga 105.0 Primo Basilio - Eca de Queiroz 106.0 ateneu —Raul Pompéia 107,Um escndalo na Boémia - Conan Doyle 108.Contos - Machado de Assis 109,200 Sonetos —Luis Vaz de Camdes 110.0 principe - Maquiavel 111.A escrava Isaura—Bemardo Guimaraes 112.0 solteirdio nobre - Conan Doyle (14.Shakespeare de A a Z - W. Shakespeare 115.A reliquia - E¢a de Queiroz 117.0 livro do corpo - Varios 118.Lira dos 20 anos — Alvares de Azevedo 119,Esau e Jacé — Machado de Assis 120.A barcarola — Pablo Neruda 121.0s conquistadores - Julio Verne 122.Contos breves— G. Apollinaire 123, Taipi - Herman Melville 124, Livro dos desafores — Org. de S. Faraco 125.A mio ea luva — Machado de Assis 126.Doutor Miragem - Moacyr Scliar 127.0 penitente - Isaac B, Singer 128.Diarios da descoberta da América - Crist6vao Colombo 129. Edipo Rei - Séfocles 130. Rome e Julieta — William Shakespeare 131.Holly wood — Charles Bukowski 132. Billy the Kid - Pat Garrett 133. Cuca fundida - Woody Alien 134.0 jogador - Dostoiévski 135.0 livro da selva - Rudyar¢ Kipling 136.0 vale do terror - Conan Doyle 137.Dangar tango em Porto Alegre - S. Faraco 138.0 gaiicho ~ Carlos Reverbel 139.A volta ao mundo em oitenta dias — J, Vere 140.0 livro dos esnobes —- W. M. Thackeray 141.Amor & morte em Poodle Springs — Raymond Chandler & R. Parker 142.As aventuras de David Balfour — Robert L. Stevenson 143.Alice no pais das maravilhas - Lewis Carroll 144.A ressurreicaéo~ Machado de Assis 145.Inimigos, uma hist6ria de amor - 1. Singer 46.0 Guarani - José de Alencar 147.Cidade e as serras - Eca de Queiroz 148.Eu e outras poesias — Augusto dos Anjos 149.A mulher de trinta anos - Balzac 150.Pomba enamorada — Lygia F. Telles 151.Cantos fluminenses - Machado de Assis 152.Antes de Ad&o — Jack London 153.Intervato amoroso - Affonso Romano de Sant’Anna 154. Memorial de Aires - Machado de Assis 155.Naufrégios e comentarios ~ Alvar Nufies Cabezade Vaca 156.Ubirajara - José de Alencar 157.Textos anarquistas — Bakunin 158.0 pirotéenico Zacarias — Murito Rubio 159.Amor desalvacio—Camilo Castelo Branco 160.0 gaticho - José de Alencar 161.0 Livre das maravilhas — Marco Polo 162.Enocéncia - Visconde de Taunay 163.Helena - Machado de Assis 164.Uma estagdo de amor - Horacio Quiroga 165.Poesia reunida ~ Martha Medeiros 166. Memérias de Sherlock Hobmes- Sir Arthur ‘Conan Doyle 167.A vida de Mozart - Stendhal 168.0 primeiro tergo ~ Neal Cassady 169.0 mandarim — Ega de Queiroz 170,Um espinho de marfim — Marina Colasanti 171 Ailustre Casa de Ramires — Ega de Queiroz 172.Luciola - José de Alencar 173.Antigona - S6focles - trad, Donaldo Schiller 174.Otelo- William Shakespeare 175.Antologia - Gregorio de Matos 176.A liberdade de imprensa - Kar) Marx 177.Casa de pensio — Aluisio Azevedo 178.Sé0 Manuel Bueno, Martir - Miguel de Unamuno 179,Primaveras - Casimiro de Abren 180.0 nevigo - Martins Pena 181.0 sertanejo - José de Alencar 182.Eurico, o presbitero - Alexandre Herculano 183.0 signo dos quatro— Conan Doyle 184.Sete anos no Tibet ~ Heinrich Harrer 185. Vagamundo — Eduardo Galeano 186.De repente acidentes - Carl Solomon 187.As minas de Salomio - Rider Haggar 188.Uivo - Allen Ginsberg 189.A ciclista solitéria ~ Conan Doyle 190.0s seis bustos de Napoledo - Sir Arthur Conan Doyle 191 Cortejodo divino - Nelida Pifon 192.Cassino Royale Ian Fleming 193.Viva e deixe morrer — Ian Fleming 194.0 crimes do amor — Marques de Sade 195,Besame Mucho - Mario Prata '96.Tuareg — Alberto Vazquez-Figueroa 197.0 longo adeus - Raymond Chandler 198.0s diamantes so eternos - lan Fleming 199.Notas de um velho safado - C, Bukowski 200.111 ais ~ Dalton Trevisan 201.0 nariz ~ Nicolai Gogol 202.0 capote - Nicolai Gogol 203.Macbeth — William Shakespeare 204.Hergciito - Donatdo Schiller 205.Vocé deve desistir, Osvaldo — Cyro Martins 206.Memérias de Garibaldi - A. Dumas 207.A arte da guerra ~ Sun Tzu 208.Fragmentos — Caio Fernando Abreu 209.Festa no castelo - Moacyr Scliar 210.0 grande deflorador - Dalton Trevisan 211.Corto Maltese na Etiépia - Hugo Pratt 212.Homem do principio ao fim - Millér Fernandes 213.Aline e seus dois namorados ~ Adio Teurrusgarai 214.A juba do ledo — Sir Arthur Conan Doyle 215,Assassino metido a esperto ~ R. Chandler 216.Confissées de um comedor de épio - Thomas De Quincey 217.0s sofrimentos do jovem Werther - J. ‘Wolfgang Goethe ‘218.Fedra— Racine - Trad, Mill6r Fernandes 219.0 vampiro de Sussex - Conan Doyle 200Sonho de uma noite de vero - Shakespeare 221.Dias e noites de amor e de guerra - Eduardo Galeano 222.0 Profeta - Khali} Gibran 223.Flavia, cabega, tronco e membros — Millr Fernandes 224.Guia da opera - Jeanne Suhamy 225. Macdrio— Alvares de Azevedo 226 Etiqueta na Pratica - Celia Ribeiro 277 Manifesto do partido comunista — Marx & Engels 228.Poemas - Millér Fernandes 229,Um inimigo do povo — Henrik tbsen 230.0 paraiso destrafdo - Frei Bartolomé de Jas Casas 231.0 gato no escure — Josué Guimaraes 232.0 magico de Oz ~L. Frank Baum 233.Armas no Cyrano’s - Raymond Chandler 234. Max eos felinos - Moacyr Scliar 235.Nos céus de Paris - Alcy Cheuiche 236.0s bandoleiros - Schiller 237.A primeira coisa que eu bote} na boca — Deonfsio da Silva 238.As aventuras de Simbad, o mariijo 739.0 retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde 240.4 carteira de meu tio - J. Manud de Macedo 241.A luneta magica ~ J. Manuel de Macedo 242.4 metamorfose - Kafka 243.A flecha de ouro - Joseph Conrad 244.A ilha do lesouro - R, L. Stevenson 245, Marx - Vida & Obra— José A. Giannotti 246.Génesis 247.Unidos para sempre- Ruth Rendell 248.A arte de amar — Ov{dio 249.0 sono eterno - Raymond Chandler 250,.Novas receitas do Anonymus Gourmet ~J.A. Pinheiro Machado 251.4 nova catacumba ~ Conan Doyle 252.0 Dr. Negro — Sir Arthur Conan Doyle 253.05 voluntérlos -Moacyr Sclias 254.4 bela adormecida — Itmios Grimm 255.0 principe sapo - Inmdos Grimm 256.Confissées ¢ Memérias - H. Heine 257.Viva o Alegrete - Sergio Faraco 258.Vou estar esperando - R. Chandler 259,A senhora Beate e seu filo - Schnitzler 260.0 ovo apunhalado—Caio Femando Abreu 261.0 ciclo das 4guas - Moacyr Seliar 262.Millér Definitive - Millér Fernandes 263.0 foguete da morte — lan Fleming 264.Viagem ao centro da terra ~iilio Veme 265.A dama do lago - Raymond Chandler 266.Caninos brancos - Jack London 267.0 médico eo monstro-R. L. Stevenson 268.A tempestade— William Shakespeare 269.Assassinatos na rua Morgue e outras histérias ~ Edgar Allan Poe 270.99 corruiras napicas - Dalton Trevisan 271 Broquéis - Cruze Sousa 272.Més de cies danados— Moacyr Scliar 773.Anarquistas = vol. 1 - A idéia - George Woodcock 274.Anarquistas - vol, 2 - O movimento - George Woodcock 275,Paie filho, filo € pai - Moacyr Seliar 776.As aventuras de Tom Sawyer - Mark Twain 277 Muito barulho por nada W. Shakespeare 278.Elogio 4 Loucura - Erasmo 280.0 chamado da floresta - J. London 281,Uma agulha para o diabo - Ruth Rendell 282: Verdes vales do fim do mundo - A. Bivar 283.Ovelhas negras ~ Caio Fernando Abreu 284.0 fantasma de Canterville ~ 0. Wilde 285.Receitas de Yaya Ribeiro - Celia Ribeiro 286.A galinha degolada — H. Quiroga 287.0 dltimo adeus de Sherlock Holmes = Arthur Conan Doyle 288.A. Gourmet em Histérias de cama & mesa — J, A. Pinheiro Machado 289.Topless - Martha Medeiros 290.Mais receitas do Anonymus Goormet - J. A. Pinheiro Machado 291.Origens do discurso democratico - Donaldo Schiiler 292. Humor politicamente incorreto - Nani 293.0 teatro do hem e do mal - E. Galeano 294.Garibaldi & Manoela ~ J. Guimaraes 295.10 dias que abalaram o mundo - John Reed 296.Numa fria - Charles Bukowski 297.Poesia de Florbela Espanca vol. | 298.Poesia de Florbela Espanca vol. 2 299.Escreva certo - E, Oliveira ¢ M, E. Bomd 300.0 vermelho e o negro — Stendhal 301,Ecce home - Friedrich Nietzsche 302.Comer bem, sem culpa - Dr. Fernando Lucchese, A. Gourmet e Jott 303.0 livre de Cesario Verde — Cesdtio Verde 304.0 reino das cebolas — C. Moscavich 305.100 receitas de macarrio - S, Lancellotti 306.160 receitas de mothos - S. Lancellotti 307,200 receitas light — H. e A. Tonetto 308.100 receitas de sobremesas -— Celia Ribeiro 309.Mais de 190 dicas de churrasco ~ Leon Diziekaniak 310,100 receitas de acompanhamentos ~ Carmem Cabeda 31}.Honra ow vendetta — §. Lancellotti 312.A alma do homem sob 0 socialismo - Oscar Wilde 313. Tudo sobre Yéga — Mestre De Rose 314.05 vardes assinalados - Tabajara Ruas 1315.Edipo em Colono — Sofocles 316.Lisistrata — Aristéfancs/ trad. Millor 317.Sonhos de Bunker Hill - John Fante 318.05 deuses de Raquel - Moacyr Seliar 319.0 colosso de Martissia ~ Henty Miller 320As eruditas~ Molitre/ trad, Millér 321 Radicci | - Totti . 322.0s Sete contra Tebas - Esquilo 323. Brasil Terra a Vista - Eduardo Bueno 324 Radice 2 - lotti 325. Jiilto César — William Shakespeare 326.A carta de Pero Vaz de Caminha 327.Cozinha Classica - Sftvio Lancellotti 328.Madame Bovary — Gustave Flaubert 329.Diciondrio do viajante insélito - M. Scliar 330.0 capitao saiu para o almogo, Bukowski 331.4 carta roubada ~ Edgar Allan Poe 332.6 tarde para saber - Josué Guimaries 333.0 livre de bolso da Astrologia — Maggy Harrissonx ¢ Mellina Li 334.1933 fol um ano ruim — John Fante 335.100 receitas de arroz — Aninha Comas 336.Guia pratico do Portugués correto > = Claudio Moreno 337.Bartleby, o escriturario — H. Melville 338.Enterrem meu coragéo na curva do rio — Dee Brown 339.Um conto de Natal - Charles Dickens 340,Cozimha sem segredos - J. A, Pi- nheire Machado 341A dama das Camélias - A. Dumas Filho 342. Alimentacfio saudayel - H. e A. Tonetto 343,Continhos galantes - Dalton Trevisan 344.4 Divina Comédia ~ Dante Alighieri 345.A Dupla Sertanojo ~ Santiago 346.Cavalos do amanhecer - Mario Arregui 347 Biografia de Vincent van Gogh por sua cunhada — Jo van Gogh-Bonger 348. Radicel 3 - Jotti ‘349.Nada de novo no front - E. M. Remarque 350.A hora dos assassinos — Henry Miller 351-Flush - Memérias de um cio — Virginia Woolf 352.A guerra no Bom Fim ~ M. Scliar 353(1).0 caso Saint-Fiacre ~ Simenon 354(2)Morte na alta sociedade - Simenon 355(3).0 céo amarelo - Simenon 356 (4), Maigret e o homem do banco-Simenon 357.Asuvas eo vente —Pablo Neruda 358.0n the road — Jack Kerouac 359.0 coracéo amarelo — Pablo Neruda 360.Livro das perguntas - Pablo Neruda 361 Noite de Reis - William Shakespeare 362.Manual de Ecologia — vol.1 - J. Latzenberger 363.0 mais longo dos dias - Cornelius Ryan 364.Foi bom pra voce? — Nani 365.Crepusculario ~ Pablo Neruda 366.4 comédia dos erros ~ Shakespeare 367(5).A primeira investigagio de Maigret ~ Simenon 368(6).As férias de Maigret - Simenon 369.Mate-me por favor (vol.1) - L. McNeil 370,Mate-me por favor (vol.2) - L. McNeil 371.Carta ao pai — Kafka 372.0s Vagabundos iluminados - J. Kerouac 373(7).0 enforcado - Simenon 374(8).A fitria de Maigret — Simenon 375. Vargas, uma blografia politica - Hélio Silva 376.Poesia reunida (vol.1) - Affonso Romano de Sant'Anna 377.Poesia reunida (vol.2) - Affonso Romano de Sant'Anna 378.Alice no pais do espelho — Lewis Carroll 399.Residéncia na Terra 1 - Pablo Neruda idéneia na Terra 2 — Pablo Neruda Residéneia ~ Pablo Neruda 382.0 delirio amoroso - Bocage 383.Futebol ao sol ¢ A sombra - E. Gateano 384(9).0 porto das brumas — Simenon 385(10).Maigret e seu morto - Simenon 386.Radicei 4 - Lotti 387.Boas maneiras & sucesso nos negdcios ~ Celia Ribeiro 388.Uma histéria Farroupilha - M. Scliar 389.Na mesa ninguém envelhece — J. A. Pinheiro Machado 390.200 receitas inéditas do Anonymus Gourmet - J. A. Pinheiro Machado Colegio L&PIM POCKET / Sauoe 1 Pilulas para viver melhor - Dr. Fernando Lucchese 2.Pitulas para prolongar a juventude — Dr. Fernando Lucchese 3.Desembarcando o Diabetes — Dr, Fernando Lucchese 4.Desembarcando o Sedentarismo — Dr. Fernando Lucchese e Cléudio Castro

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