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Estas vexat6rias disposigoes 6 foram revogadas pelo tratado de 1842, que considerou tal comércio como wma modalidade de pitataria e previu a constituigo de comissdes arbitrais anglo-portt- {uesas para o julgamento e punigao de eventuais delitos Este convénio antinha-se em plena vigéneia no inverno de 1857, quando Portugal, ‘lertado pelo cénsul biitinico em Mogambique, apresou a bareaga hegicita fiancesa Charles et Georges As provas produzidas em jul gamento foram esmagadoras Mas no obstaram a que 0 governo francés, cioso da imagem de um Segundo Império no auge do seu 2 Todos estes casos se iniciarsim de um modo fundamentaimente idéntio: ‘Inglaterra mobilizava para as repideslitigadas um ov varios vasos de gusts, este brava com os gentios pactos de proteccao e asisténcis, impunha a sua bandeira © legava depois que © goveino portugues nfo campria com as suas obvigagdes de Tepreseio do wéeo esciavo.O Atnbriz, ocupado miitarmente por Portugal em 1688 driginou uma espintiosa contiontagio diplomsitia, de que acabsimos pot sait venee= flores A questio da ilha de Bolama, cei voluntariamente a Postusal em 1830 por potentados locals, agravou-se sobremancira em 1860 quando © governo briténica Pretendew ineaxporat a ilha na sua coldnia da Seria Leoa A Inglaterra, renitente vne into, aentaria por accitar que se recocresse & arbitragem do Presidente dos fetados Unidos da Amétiea, Ulises Grant, que reconheceu 0s direitos portugueses Gm 1870. "A bala de Lowrengo Marques era-nos disputada desde 0s meados da fecal de 25. As pretensGes tvitinicas avolumaram-se por volta de 1860, obeds- tendo xo intuilo de fazer crescer a colOnia do Natal a cusia do nosso ter © plano forjaza-se para isolar a Republica b0er do Transvaal Também ext pene ‘déncia se sesolveria por via arbitral, em 1875, ano em que 0 Presidente francés Mac. Mahon fayoreccu Portugal com a sua decisdo. Cit, Macqués do Tavradio, Porta! em Aiea depots de 1851 (Lisboa, 1936), pp. 3566 456 BIBLOS esplendor, exercesse sobre 0 nosso pals intoleriiveis coacgdes, acabando or nos sujeitar ao pagamento de uma pesada indemnizacio, A Gri -Bretanha, sempre tho pronta a invocar e fazer cumprir os principios anti-esclavagistas de que se declarava paladina, manteve durante 0 contencioso, que se arrastou por mais de um ano, uma atitude de alhea- mento quase (otal Solicitada por Portugal, interveio apenas na fase final da discussio diplomatica ¢ limitou-se a sugerit ao governo de Napoledo Til que aceitasse uma arbitragem > Reduzido a uma representatividade internacional em correspon déncia com as suas fracas Forgas, 0 nosso pais, tutelado pela Inglaterra na mutvalidade das suas relagdes, viu-se por ela abandonado em pen- déncia com terceitos mais poderosos. Apesar disto, convém sepetic que 0 cerceamento dos nossos objectivos coloniais, sobretudo dos que acalentimos mo ultimo quarto do século, nilo ficou a dever se apenas AS acgdes ou omissGes da nossa mais antiga aliada A intimativa do ultimaro tulvez nfo surgisse ou talver se exprimisse mais cordatamente sc outra fosse a correlagao das forgas que se foram instalando na Africa: meridional, ’ Desligar o ultimato da consideragio destes antecedentes, torna-se, desta manelia, imposstvel Nb meados’ do séeulo x1x, «-Buropa.desenvolvida surpieende-nos com 0 parsdoxo da sua feigio liberal: o processo de equipamento industrial encontea-se em pleno ctescimento, a produtividade, gragas 30 apuramento das tecnotogies,aleanga nivels nunca atingidos e, con tudo, esta aparente prosperidade passa & margem de incontéveis mui dées famélicas ¢ forgadamente ociosas.” Os excedentes produtivos nfo saciam os deserdados, de botsos vazis para os adquiti, surgindo, como natural coroltio de toda esta stuagto, um clima de conestagio politica e de mal-estar social. A margem da ottodoxia do sistema liberal crescent, um pouco por toda a parte, oF expedientes protecionisas, tornados necessitios pela emulagio do coméreio internacional. Assim, a pressio demogréfca, « insiabiidade politico-social ¢ a, compoicio do. coméreio e indistria internacionais, em confluéncia. simultines, estimulan os governos europeus& definigao de uma polities alternativa 5 Eneontramos os problemas do abolicionismo portugués tratados no traba- Iho policopiado, apresentado & Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra por Maria do Resitio Petiodo da Costa Pimentel O Abolicionismo Portugués (Proble- Indtica e Condizionalsme) (Coimbra, 1979) MEMORIA SOBRE CAUSAS DO ULTIMATO INGLES 1990 487 de emigragdo.,’ Os vastos espagos ultiamatinos da Afriea, das Amé- ricas e da Nova-Zelindia, fracamente povondos, carentes de uma colonizagio fixa © abundantes em matérias-primas, surgitio aos olhos dos europeus como terras de promisso. A. opuléncia dos recursos naturais africanos, nomeadamente, vai sendo trazida ao conhecimento da Europa pelos testemunhos pontuais ow pelos relatérios minuciosos de uns tantos negociantes, aventurciros, missionérios, soldados, explo- radofes ou cientistas, contribuindo para que insensivelmente se radique: 1a opinido pablica internacional a ideia de que @ Afriea nfo € apenas case longinguo pesadelo miasmatico € indspito, habitat de gentios exdticos, mas sobretudo um continente prenhe de potencislidades e de infiitas e inexploradas riquezas 4. ste resultado consolidou-se, pelo que concerne & Gri-Bretanha, com as narrativas das ‘deambulagdes afrieanas do missionirio inglés David Livingstone que, entre 1840 ¢ 1873, aproximadamente, procedeu ‘to reconhecimento do rio Zambeze, do lago Niassa ¢ da regio do Tanganica, conseguindo mesmo chegar is nascentes do Congo Tanto fk imprensa britfnica como a demais informacio eserita internacional seguiram com vivo interesse as suas expedighes. Elas contribuiram pata suscitar, & escala internacional, um movimento de curiosidade ue se tornod imparivel no ultimo quattel do século. © movimento exprimir-se-d, na: prétiea, por uma verdadeira wcorrida & Africa» por parte de poténcias ocidentais que se tinham abstido, até ao momento, de actividades colonizadoras de grande envergadura 6 ‘A Franga, sob 0 olhar benévolo de Bismarck 6, colocers em 1881 fa Tunisia sob’o tegime do protectorado e prosseguitd sem desfaleci- rmentos, até 1898, 0 seu esforco colonial, chamando A sua érbita de influéncia o Senegal, 2 Costa do Marfim, 0 Daomé, a Mauritinia ¢ Madagiscat e disputando a Tnglaterra, 2 Bélgica e a Portugal o dominio do centro equatorial afticano Pelo que tespeita a esta whima zona de influéncia, as suas pretensées foram sustentadas pelo conde Savor- + Che, Robert Schnetb, Le XIX* Sizcle— Lrapogie de aepanion euro. péome (1815-1914) (Paris, 1961), pp 12324 e Frangois Dreyfus, Le temps der ‘Révolurons — 1787-1870 (Patis, 1968), pp. 215-16 Para uma analise mais detahada deste movimento internacional de «or ‘a Alvcas leia-se obra de Bourbon e Meneses, O «Uttimaiuns» de 1890 (Aniecedentes do conflito anglo-portucuss) (Lisboa, sd, cap. t © Bismarck preferia ter gala francés ccupado em exgaravatas 0 areal africano a yo afar as unbas na propria cast, sonbando com uma. proxima des forra, nos teimos do eélebre dichote que foi atribuido ao chancelet alemio Idem ‘idem pp 16-17 45a hIBLos nan de Brazza, jovem italiano naturalizado francés que implantox 0 pavithio tricolor no posto colonial que serviu de génese A futura cidade de Biazzaville A expansio colonial belga em Africa itd ser superiormente ovien- tada pelo monarca Leopoldo IT ¢ comportar’, 0 menos no infcio, um mébil aparentemente cientfico © humanitarista Com efito, foram estes 0s valores proclamados pelo rei da Belgica para conseguir reunic em Bruxelas, em 1876, um Congresso Geogrfco Internacional destinado a debater os momentosos problemas do esclavagismo, do abolicionismo. ¢ da pesquisa ¢ desenvolvimento econémico-colonial.” Para @ realiza- so deste programa, logo ali se decidiu fundar uma Assoeiago Inerno- ional pora a Exploragdo e a Chiltzagaa da Africa Central, de que Por tugal se viv exclufdo por nio se ter feito. representar no. Congress0 O eritério da cooperagio multilateral, que parecera animar Leopoldo HI 10S inicios da sua actividad, j@ nfo se vislumbra na constituigio da Comissdo de Estudos do dito Congo, exiada poco depois Com efeito, cos membros desta Comissdo eram exclusivamente belgas; € As pteocupe: Bes vagamente emancipadoras da Associagio correspondiam agora projectos bem definidos de exploracio comercial Leopoklo IK cons gui chamar para a sua causa um ambicioso repdrter americano, Stan iey, do jotnal New York Herald, j8 expetiente nas andangas africanas, pois seguita os ttithos de Livingstone, nos inicios da década de 70 0 ingresso de Stanley na Comissto de Estudos do Aleo Congo remonta 1878 No ano seguinte, o jornalista demandou a Afvica, vindo a fundar, em 1881, na margem csquerda do Zaise fronteira a Brazzaville, a estagio de Leopoldville ? ‘A Alemanha despestou para’ aventura colonial mais tardiamente:) 2. ‘Ao facto nio é alhein a relutincia de Bismarck, mais atento & preser- vagio do equilibrio das forgas continentais do que & contingéncia das facanhas africanas. A iniciativa pertenceu, neste dominio, a ligas ¢ astocingées coloninis financiadas por capitais privados, fieando reser vado para um momento posterior o empenhamento do poder politico central, 6 en Abril de 1883 Lideritz Iangart as bases teritoriais do futuro Sudoeste Africano Alenia, constituindo-se no ano seguinte os protectorados do Togo e dos Camardes. Também a coldnia da Attica Otiental Alema se foriard a partiv da ilba de Zanzibar, resltando da a0¢io de uma Soviedade para @ Colonizucdo Alena 7 Sobie a progiessio da estratégia colonial belga, vide Marcelo Cactano, Portugal ¢ a internacionalizacao dos problemas ofiicanos (Lisboa 196), pp. 72-76 MEMORIA SOBRE CAUSAS DO ULTIMAIO INGLES 1850 459 [Ao contritio do serddio aparccimento germanico na ribalta eoto- nial, a presenga britdnica na parte mais meridional da Attica datav dos finais do século xvi, Com efeito, @ Inglaterra estabeleceru-se pela primeira ‘vez nia eol6nica do Cabo em 1795.7 Como a regido Enido se encontrasse ocupada pelos boers, descendentes dos antigos Colonos flamengos que haviam rompido com a Companhia Holandest das fadias Orientais, ind assistit-se, a partis de entdo, a um permanente litigio entre Gra-Bretanha ¢ 0s filhos dos primitives colonos A pen- ia ficou parcialmente regulacizada em 1815, quando a Holanda decidiv ceder onetosamente & nova poténcia administrante os diveitos que anteriormente defendera pelas armas Subsistivam, porém, noté tias dificuldades de relacionagio e entendimento com os hoes, Estes feabario por abandonar a colénia em 1836, orientando o seu éxodo ha ditecgao das terras altas do interior ¢ indo constituir, a nordeste do Cabo, o Fstado Livte de Orange e a Republica do Transvaal Os novos ‘estados boers representavam uum obsticulo consideravel para @ pro- sressio inglesa em disecgao ao norte € no deixaram de concitar surda mbigbes, sobretudo depois das descobertas das jazides diamantiferas dde Kimberley, em 1867, ¢ das minas de our do Transvaal, em 1885 ‘A bacia do Limpopo, parecendo deyentranhar-se em riquezas inima~ tindveis, excitou a eupidez de muitos, conferindo uma acrescida com- plexidade A vegularizacilo dos interesses © expectativas que ai se jogs- vam § Retenhamos, por agora, este ponto decisivo: ¢ sul dé Mogambique era, desde 08 inicios da: déeada de 70, uma zona potencialmente lit giosa, quer pelo alto valor econémico que se the atribuie, quer. pela- pretensa indefinigio dos direitos de tutela € de administracdo a serem sobre ela exercidos. 0 tipo de colonizagio praticado por Portugal até ao sltimo quattel do séoulo x1x obedeceu ao normative convencionado pela ordem juri dico-consuctudiniria do tempo. Com: cleito, @ consenso europeu testabeleceu-se sobre a conviegio de que « invacagio © comprovagao dos direitos hist6ricos de descoberta cram titulos juridieos nevessirios © suficientes para a legitimacio dos direitos territoriais de. soberania. AAs actividades de comércio faziam-se, na maior parte dos casos, com hase em feitorias € entrepostos comereiais costeitos. Quando muito, § Chr, Bourbon e Meneses, op. cit. pb 2631 460 BIDLOS a ‘penetragio para o interior realizava-se segundo 0s itineririos dos cursos fluviais ¢ conforme as suas condigtes de navegabilidade... Nao ‘existiam outras exigéncias de apropriago colonial para além da implan- fagdo nus orlas:costeiras de cruzes de madeira, padres ow inscrigdes ‘em peda que testemunhassem a passagem de frotas ou expedi¢des por esas paragens. “Por isso, descurava-se a ocupapio sistemética do interior, embora se presumisse que as deas préximas dos pontos assina- Indos se inscreveriam na éxbita de influéncia da nagio descobridora De resto, vigorando inde a doutrina do pacto colonial, que reservava exclusive da navegacio e comércio nos portos colonials para as metrés: poles de origem, toraava-se inevitivel, pelo menos em teoria, que a ‘oeupagdo das correspondentes Zonas de influeneia $6 por elas pudes- sem ser realizadas ® Era por demais evidente que esta douttinagio apenas se sustenta via enquanto a gencralidade dos mais poderosos paises europeus perma: necesse & margem do envolvimento colonial Allis, 0 Congresso de Viena de 1814-15 havia j& introduzido resttigdes & plena extensio daquele principio, quando se promuncion pela live navega¢io dos sgrandes ris internacionais A douttina ali definida aplicava-se inte- gralmente aos sios Limpopo, Zaite © Zambeze, cujos cursos nfo se encontravam totalmente compreendidos em zonas que Portugal pudesse legitimamente seclamar por inteiro Além disto, © nosso pals der- rogara, pela sua pr6ptia iniciativa, a dowtrina do pacto au sistema cofo- nial, quando abrirs, em 1808, os portos brasiletos & competi¢zo do comércio estiangeiro © quando gencializara a disposigio, em 1811, 8 todos os seus dominios ultramarinos ° Por todas estas razBes, a cringio de condigdes de fixagio colonial no interior e a opeo definitiva pelo regime de ocupacao efectiva apa- reciam aos olhos dos \dos como imperativos nacionais, Disso se apercebeu S da Bandeita, que legislow sobre a matéria em 10 de Dezembro de 1836 e que, enquanto ministio setembrista, desenvolven um licido esforgo legislativo tendente a definit 0 quadro legal do nosso sistema de ocupagio !!. A sua acco, porém, nio foi posteriormente © Cir. Marques Guedes, «Os sitimos tempos du monsauia: 1890 a 1910 in Andria de Portugal dtigidn por Damiao Petes, VII (Barcelo, 1935), pp. 413 594 1 Deveremos salientar que as presses exercidas pela Taglatera sobre a Cotte portuguesa, entio refugiada no Brasil para se furan & violEncia das tropas apolednieas, foram determinantes pata que se verificassem tals derrowagées HCl A Alvato Déria, Mosinemos politicos do Porto uo séunlo XIX (Pout, 1963), pp 478-83 2 MEMORIA SOBRE CAUSAS DO ULTIMAIO INGLES 1899 461 seoundada, E seria justamente @ falta de um estruturado sistema administrativo € militet que possibilitaria a frequente investida das poténcias cobigosas, especialmente da Inglaterra, sobre espagos geogrd- ficos & que nos julgivamos com istespondiveis direitos historicos E certo que a ‘elaciio da Sociedade de Geografla de Lisboa, em fing de 1875, pareceu obedecer ao descjo de dar resposta a estas novas preocupagies. A instituigao, sob a chefia de Luciano Cordeiro, patto:” ‘cinow as expedigoes de Serpa Pinto, Hermenogildo Capelo e Roberto Jvens, levadas a cabo entre 1877 ¢ 1878, “Serpa Pinto, aleangando @ Natal 4 partir de Benguela, demonstrow que a ligacio de Angola « ‘Mocambique ado cra uma utopia, Contudo, 0s objectivos dos expe: diciondrios pareceram ser meramente/exploratérios, jd que das suas deambulagdes no resultaram actos de ocupagio. ‘O interesse “britanico. pelo. sul de Mogambique explica-se tanto pelas razdes econémicas a que j4 aludimos, como por razies de geo: “estratégia politica. -© dominio da regido equivalia, efectivamente, a0 jsolamento irremedivel dos estados doers, retirando-thes a sua. tniea possibilidade de acesso ao mar.” Compreende-se, portanto, que & Toglaterra tenba reagido muito desfavoravelmente quando, Portugal firmou com as repiblicas boers convénios de mitua cooperagao ten- entes A construct de vias férreas que converteriam o porto de Lous ‘tengo Marques na salda maritima natural do Estado Livre de Orange © da Repiblica do Transvaal, “0 nosso pats, procurando atenuar intensidade das reclamag6es britanieas, acabaria por aceder & assinatura do tratade de Lourengo Marques, de 30 de Maio de 1879." Tratava-se de uma espécie de pacto leonino, que favorecia a Inglaterra, com. um. {quadro de benesses © garantias nunca alcangadas anteriormente, por via da nepociagio ou da arbitragem '2, Submetendo a nossa possesséo da Africa Oriental a um verdadeiro regime de condominio, o convénio foi reeebido pela opiniéo publica na ponta das espadas, Te6filo Broga qualificou-o como «a pigina mais afiontosa da nossa bist6rla no século xix 13 O proprio Times o interpretava, em termos bem pouco “Tebfilo Braga, Solasdes posiivas de politica portugnest,t Port, 1912), pp 246251 Idem, «Os Fundamentos do tratando, 4 Vanguard, n° 46, Ano 3, 20 de Margo de 1881, p. 1, col. 1 462 aLOS lisonjeiros para nés, como «uma cedéncia de Portugal & Inglaterra» 4 Negociado pelo regenerador Andrade Corvo e submetido & ratificagio parlamentar pelo progiessista Ansclmo Braamcamp, que, de resto, conseguiu suavizar algumas eléusulas do articulado #5, 0 tratade pro: dozili um efeito demolidor e minou © crédito: da prdpria monarg A corrente republicana, jé com representagao na cdmara electiva, constitaiu-se em camped da honra nacional ultrsjada e langou sobre 05 partidos rotativos 0 labéu da infamia, No ano seguinte encabegaria as comemoragées do tricentendrio camoneano, conferindo-thes 0 sign ficado de um piiblico desagiavo © Gontenciose” coloniat tuso-britanico continuo em estado de laténcia, © nom a ticita neutralizagto do tratado de 1879, votado a0 fesquecimento por ambas as partes, contribuiu para que as relagées entre os dois paises se desanuviassem. ° E certo que a atitude britanica passoul a revelar-se mais maledvel a partir do inicio da década de 80 Mas a justificagio pasa 0 facto nflo deve procurar-se numa presumivel 1eponderagio dos direitos de Portugal, jf que o mobil mais tundo desta inflexdo tem que ver com uma alteragio significativa no equilibrio das forgas em presenga e com um maior sentido de agressividade por parte das restantes poténcias que cobigavam a presa colonial. Com efeito, a Bélgica mostrava agora sem rebugo os seus desfgnios marcadamente politicos —e jé nto meramente cientiicos ow filanteSpicos —, conver tendo, em 1883, a Associacdo Internacional Afiicana © a Comissdo de Estudos do Alto Congo numa Associaydo Invernacional do Congo, para 2 qual Stanley e Leopoldo 11 teclamavam personalidade juridica inter- nacional. Esta Associasdo itia visivelmente devotar-se & constituigio de um estado auténomo na bacia do Congo, em cuja gestfo 0 monatea belga nfo poderia deixar de ter uma posigio de proeminéncia "6, Mas 4 Bélgica nfo era a tinea potGncia a afrontar os desejos. hegemonistas dos britanicos. A Franca instalara-se ao nocte do Zaite e a Alemanha M4 den, biden, 1, p 257 "5 Nos teimios da’ nevociagio inical, 9 tratedo ao previa um terme, pelo ‘aus se poderia presumit que seria de duragie iimitada Por outta lado, estabelecia beneticios paviais tavordveis & Inglaterra ¢ sclativos a toda a regio mogambicana Beaameamp conseguiv que as partes acordassem na sun revisio de doze em doze anos « limitou a Lowengo Marques © privilégio pautal. Cfi. Lopes d'Oliveia, Histdrla ta Replica em Portugal A propaganda na monarguie consitacional (Lisboa, 1987), pp 40-45 15 Cli Basilio Teles, Do «Uttimatunp qo 21 ce Taneho (Esbocu de Hisdrta Politica), Poste, 1905), pp 103-109 spate MEMORIA SOBRE CAUSAS DO ULTIMATO INGLES 1890 463 pensava consolidar a sui presenga 20 sul de Angols (Sudoeste Afticano Alemiio) e a0 norte de Mogambique (Aftica Oriental Alema). Por outro lado, a ecupacio britanica do Egipto, em 1882, for contestads pelo conjunt das poiéncias com apetit colonial e colocata a Inglaterrs fm estado de aberta hostilidade com a Franga, embora tivesse propor= cionado 0s ocupantes as condigdes bisicas para a definigdo. de um projecto grandioso: 0 da constituiggo de um eixo de influéncia do Cabo ‘a0 Cairo, mediante & construgio de uma vie férrea que permitisse 0 contacto entre a Africa austral e a Africa setentrional, dominadas pele Gré-Brotanha. ’ Desta gigantesca ambiglo se feria intérprete Cecil Rhodes, ambigua figura de comerciante, aventuteiro e politico, entique- cido com 0 trifico de diamantes de Kimberley € futuro inspirador © executante dos propdsitas vitorianos de constitulgio de um colossal impétio transalticano. $6 que este eixo provavel dar expansio coos nialista britiniea se viria a revelar radicalmente conflituante com 0, projecto lusitano (ligigio Angola-Mogambique), com 0 plano belga (criagdo do Esiado Independeate do Congo), com 0 desiderato germ’, nico (ligagio Sudoeste Africano Alemiio — Aftica Oriental Alem) ¢ com a expectagdo francesa (eixo de expansio Dakar-Dibuti). Acres. centemos a tudo isto a inexistEncia de fronteiras definidas © a quase completa auséneia dle preceitos legislativos universalmente aceites sobrc tais matéiias e estaremos em condigdes de entender o encorajamento dado pelos intetessados a préticas que, embora pouco cutis, se tevelavam eficazes pata a conquista de espagos de manobra Desta mancita, a inttiga sobte potentados e régulos Tocais, 0 aliciamento de ‘comunidades ¢ populagoes autéctones ¢ a promessa de vantagens auser- tes passatam a ser as ainiag predilectas de missionirios-polticos © de aventursiros a soldo, stinando o discmso pelo diapasto da. poténeia que serviam e pretextando liberdades de missionagio e de coméscio para que Thes fossem proporcionaclas garantias de impunidade Campenndo deste modo a indefinigio, no espanta que os nossos reitos na bacie do Zaire continuassem a ser contiovertides. Portugal apereebeu-se da complexidade da situaigo € do. potencial dos seus temiveis concorrentes, Reconhecendo-se ineapaz do defender sozinha 4 integralidade do nosso patriménio afrieano, a diplomacia portuguesa fentou aleangar, ao menos, 0 consenso inglés, AS negocingdes que conduziram & assinatura do chamado tratado do. Zaire, firmado em Londres 26 de Fevereiro de 1884, foram iniciadss por Anténio de Serpa e concluiéas por Barbosa de Bocage. Emborn 0 convénio danuisse em abrit ao coméicio © A navegagio 0 curso portugués dos tos Zaire © Zambere, gasaatisse propaganda seligiosa e reconhecesse 464 BIBLOS todos os tratados feitos pela Inglaterra com os chefes indigenas, a ver dade € que ele ndo deixava também de nos proporcionar assinaléveis vantagens, reservando-nos direitos ao norte do Ambriz e clatificando 68 limites fronteirigos da soberanin portuguesa na regiio congolesa !7 Mas logo contra ele se fez ouvir um coro de discordéncias: Leopoldo II da Belgica prorrompeu em protestos, os quais foram secundados de imediato pela Franca e Alemanka. A prépria opiniio publica inglesa objectou com a mingua dos nossos recursos para a vulluosa obta de colonizagio sobre os textitérios constantes do diplon Paitiria de Basbosa de Bocage a ideia da realizagio de uma eon- feréncia colonisl onde pudessem conftontar-se as reivindicagSes das partes interessadas © onde finalmente se gizassem com objectividade 0s crtérios Iegais por que se deveiam pautar os actos de apropriagio tercitorial Bismarck mostrov-se altamente interessado na cone zagio da proposta portuguesa. Mas no deixou de reeonhecet imedia- famente & soberania da Associago Internacional do Congo sobre 03 lenritérios por ela teivindicados, abrindo desde logo 0 caminho para que idéntica atitude Fosse assumida pelos restantes negociadores. Que poderia Portugal esperar dessa Conferéncia, eujos trabalhos 8 iniciaram em Berlim, a 15 de Novembro de 1884? A inien deliberagdo que poderia satisfazer-nos seria @ da manu tengo dos direitos histéricos de descoberta. Nada nos autorizava a supor que 0 areépago internacional decidisse nesse sentido, considerada aque fosse w auséncia de ttadigdo colonial das pot8ncias representadas ©. corrente natural das contestagdes pretéritas elativamente a esse meio de legitimagio. Quando muito, poder-seda acalentar uma xéstea de esperanga quanto a inviabilizagio do projecto belge. Mas pata que este abortasse, seria necessiria a concertagio de uma esteatégia de oposigto entre Portugal, Inglaietia e Franga Esta coaliaao chegou, de resto, a esbogar-se momentancamente. Mas a diplomacia teuténica © 08 delegados americanos empenharam-se afincadamente em demons- tat que a concessio de personalidade juridica ao terrtério da Assoclagdo equivalesia & sua neutralizagio, servindo, portanto, a causa da pacifica- siio curopeia. Alegaram também que esse reconhecimento nem sequer Iria fetit 0 interesses mercantis das partes oponentes, ji que Leopotdo TT 58 comprometia a no embargar ali o cométcio e a navegagho interna 17 Para um methor conhecimento do clima cireunstancial conereto em que decovreram as negocingbes, vide Te6filo Braga, op. cle, 1, pp. 267-79, Sobre ax rmindcits do convencionado, vide Marquis do Lavradio, op. sit, pp. 82.86 MEMORIA SOBRE CAUSAS DO ULTIMATO INGLES 1890 465 cionais Esta argumentagiio acabou por receber 0 apoio da represen. ‘tagfio inglesa, que abandoaon 0 bloco oponente para ir seforgar 0 grupo dos paises afectos @ causa do monarca bela Apés a submissio da Fianga, vetificada nos principios de Fevereiro de 1885, nfo restava a Portugal outro caminho que nfo fosse 0 do acatamento. O Estado Line do Congo, de que Leopoldo 1 foi declarado proprietirio pessoal, passava a ser uma ade !8 (AN obrigatoriedade da “ecupagao efeetiva, tal como fora definida pelo artigo 35.° da acta do Congresso de Berlim, respeitava apenas aos Actos de posse consumados nas costas do continente africano.’ Mas poderia 0 artigo ter aplicagio retroactiva? Isto é, poderiam questio- nar-se as passadas apropriagdes colonials, ilegitimando-as por se terem processado nos termos de uma metodologia consuetudinaria que agora era posta em causa? Paortiigal acvitava que’ novo’ prinelpio passasse a nortear actos futuros de apropriaglo, Mas salientava igualmente que deveriam ser mantidas inc6lumes as sittiagdes territoriais derivadas de um dircito de’ descoberta, sobretuido as que nunca tinham suscitado oposigies de fundo! AS poténcias administrantes deveriam poder, tranquilamente, com crédito de tempo, transformar as suas situagdes, conformando-as as exigencias doravante vigentes. Por outro Indo, os noss0s delegados persundiram-se de que’ a ocupagio apenas contemplaya os. litoraisy vyigorando para o interior a tradicional doutrina da area de influéncia 12. (© futuro viria revelar que a corsecglo inatacivel desta interpretacio nao resistiria & formulaglo wextensiva» que, ao sabor das convenién fe da pressio dos acontecimentos, acabou pot Ihe ser dada ‘A cfectividade da ocupagsio, mesmo que apenas reduzida as linhas, da costa, supunha @ transferéncia de considerdveis contingentes demo- agrificos € a mobilizagiio de vastissimos meios financeiros.. Nao sur- preende, portanto, que a doutrina adoptada tenha suscitado a preo- cupagiio de alguns’ politicos ¢ pensadores portugueses. Subfinharam eles a contradigio entre o gigantismo da tarefa e 2 exiguidade dos recursos disponiveis, estando estes, para além do mais, excessivamente. comprometidos com as obrigagdes. pecunidrias decorrentes de uma "© Clr Luts Vieira de Casteo, D- Carlos f, (Lisboa, 1941), pp. 37-49 1 Ch Margués do Lavradio, op cit, pp 162-64 w 466 BIBLos Solossal divida externa... Rerreita de Almeida, que vitia a ser ministro a Marinha Colénias na ditadura tegeneiadora do gabinete Hintze Ribeiro ~ folio Franco (1894-95), erg ure vei defensor da necessidade modetat © nosso envolvimento colonion Em 1888 apresentaria as Camatas um projecto de lei da sua autoria, no qual propugnava «a cen. twalizaco ¢ redugio do nosso dominio coloniat»; e em 1890 defender Tt ds colénias de Mocambique, Guns Ajuda, Cabinda, Macau; & Timor, por entender que umas e1am onereces © outras inaproveitaveis Bara és. Eta idéntica a opinigo de Oliveins Mattins Para o autor dio «Portugal Contemporéneo>, urgia tegulatizar com celeridade a nossa Pendéncia com a Inglaterra sobre as fionterne Mogambicanas, cedendo depois as companhias majestiticas a exploragiio dos seus recursos ¢ fazendo de Angola o verdadeiro emblema de Nossa Vocasio colonial 20 No entanto, « cotrente de opinino interpretada por Ferteina de Almeida © Oliveita Martins nto er Suliegads pelos detentores do fale Comegava a sonst, a estes, a ideia de ng estabelecer na Afiica do Sul um vasto impétio colonial que, avn Solutio de continuidade, Senne Angola a Mogainbique A expedigie de Serpa Pinto em 1877, Semonstrara jd: que exam exequiveis on Projectos de alcangar a contra. nessa | amt de Angola e que, portento, nto eran visionitios os anclos H POrD. Fran 9 Gas Zonas nevidlpicas sertancjas. sitvadne a continuidade do cixo, Angole-Mogambique.; Nestas iniciatives avultava 0 empenho da Sociedade de Geografia e a indomivel Mecisio de homens tio experi- Caritdes na exploracdo geogtifiea © na trate eo 9s indigenas como Capelo, Ivens, Serpa Pinto, Auguste Cardoso, Hentique de Carvalho, Amténio Maria Cardoso, Vitor Cordon ¢ Print de Andiada io podemos afirmar sem vacilagdes gue estes cometimentos trou. Brapenge: 2 beio s teservacia intenglo de eprepars s ‘monarquia dos Brsgancas para jogar, eontia 0 ascondenta do partido sepublicano, Basatl¥@ fattada do novo impétio aticanon, conforme a opinigo de Basilio Teles 24. Mas podemos certamente dizet que eles traduziam 9 ‘FPsej0 oficial de comsolidar no terreno. gore nos termos precisos Dy Mawel Vilaverde Cabra, Povtegal wo eborada de SKetlo HX, (Lis. Stree eee A vide também FA Olivia Mai Sociale ne monan quia Olveta Marts « a «Vita Nava, (Lisbon 1 Pp 289.62 % ‘Bastlio Teles, op cir p. 36 MEMORIA SOBRE CAUSAS DO ULTIMATO INGLES 180 467 da nova legalidade internacional — o projecto expansionista que alguns governantes jé abertamente admitiam na sua epistolografia ‘Com eftito, ainda’ mal se'tinkam sumido’ os ecos dus disposigdes, de Berlin ¢ jf 0 entao ministro dos Negéecios Estrangeiros, José Vicente Barbosa de Bocage, escrevia a0 sen colega da pasta da Marinha © Ultramar, Pinheiro Chagas, solicitando que the fossem prestadas todas, ag informagdes susceptiveis de contribuir para a sonhada ligagao de ‘Angola com Mogambique. * Nessa carta, datada de 15 de Maio de 1885, afirmava-se explicitamente: «Unit Angola e Mogambique, cortar de tum Jado ao outto 0 continente africano, foi sontio. dos nossos maiores; nobre aspiragdo @ que algumas portentosas viagens deram alimenton: Aconéluir 0 raciocinio viiha, cont estas palaveas, @ consideragao da foportunidade:'« . 0 momento parece azado para empreender a reas Tizagio da sonhady obra» 22. Sabemos também, por uma outra carta, remetida polo mesmo Barbosa de Bocage 20 entio Ministro da Marina © Ultramar Anténio Enes ¢ redigida pelo primeito jé depois do ulti- mato, que a sua chamada de atengiio «para as vantagens que deveriam Lesultar de nos ser Hicito ligar uma & outra as duas provinelas portugu sas de Angola e Mogambique por uma larga faixa de territérios reser~ vades & nossa influgncia exclusiva» nilo caita em ouvidos moucos, tendo sido 0s seus esforgos «poderosamente auxiliados» pelo Ministério enttio getido por Pinheiro Chagas”. ‘Analisada de peito, a acgo diplomética portuguesa entre 0 encer- ramento do Congresso de Berlim 2 a intimagao do vitimato aparece-nos preordenada A realizagho dese objectivo fundamental. Mas a sua viabilizagio dependia, muito concretamente, de um conluio de forgas que pudesse intimidar a Inglaterra © provocar o definitive colapso do. projecto de Cecil Rhodes, ja francamente adoptado pela governagiia britinica.’ Sé que a estratégia inglesa prosseguia com igual firmeza de nimo, procurando obstar A progressfio de eventuais pretensdes expansionistas dos seus concorrentes mais directos. Assim, as rept blicas doers, que jf se encontravam isoladas pelas fronteiras do sul 1 Canta de 15 de Maio de 1885 de fost Vicente Barbosa de Bocage Pinkeiro Chagas Esta carta encontrase totalmente transcrila na obra de FM da Costa Lobo, 0 Conelheia José Luciano de Costio € sequato pert consttncioa mons fquico’ (Coimbra, 1940), pp. 141-45 As eltagbes que destacamos ineluem-se mas pp 141-42, 22 Conta de ? de Dezembro de 1890, dle Joxé Vicente Barbora de Bocce « Anténio Enes, totalmente transeita pelo Marquis do Lavradio, op. cit. pp, 262-65 Destacamos dap, 262 as citeges w 4s BIBLoS Cate, Ndeéste atiavés da anexagio do Natal, em 1843, & colénia do Cabo, viram-se praticamente careadas quando a Gi -Bretanha subme- gras om WSRAS6, a regio da BechuanalindiaO estabelecimargs deste Fiori ne Miia a impedit também o crescimento para leste do ter SHO slemBo do Sudoeste Afticano. Pot seu tuino, Rhodes empur- Moganatats S8emtes cada ver mais para o noite e paca o ocidents te Mogambigue, de modo @ conseguir o dominio da Niassalandia e do sine dos Matabeles, © que equivaletia & supcrintendéven, sobre a Zambézia. Ora a Inglaterra ateibata, muito Justamente, uma enorme importincia estratégica & 20na do Zimbeze,, E quie, wind ven ‘contidos, reine ent slemiles, neutralizdos os estados.boors « dominnds a Gas Zanibeziane, estavam finalmente reunidas ax sondigses que tor- 8 Calne Mattei # construed da almejada vin férrea entre o Cabo c © Caito. “A medula da Attica ofereoer sei, som outros embaracos, 3 Nofuetddde britnics, jf que, como se disse, se enconteayany rotegidos Os direitos de citculacso’ no Estado Independente do Congo, inscre- Fahne ec Sif. Por seu turno, na rea da tradicional infuéners do. Faipto, também nesta altura dominado pelos inglesce 2, impétio meridional africano, procurou encetar com « Franca ea Ale. ‘manha uma politica de mituas concessées.. Em fins de 1885, Barbosa de Bocage © 0 ministro plenipotencistio port Amaia He eo nosso proteetorado numa larga faixa de teritrio emis nage ¢ Mosambique, Corvo levou a sua diligncia até a9 ponte ue dena eenstt 208 protocolos das reunises uma carta googedien que delimitava grosio mods a zona de infuéncia que nos ere sea ieese sotto Procedimento foi adoptado em religlo & Alemauhe, aeonty snide, kta negociagses para delimitar as fromteas angoienes atiionals telatvamente 20 vizinho terrtério do Sudomsie Anon de tick ganheva o dtsito de inclir na colina germanien une areas sreleio eomprsendida entie © Cabo Frio e 0 rio Cuneos nae nhecendo-nos, em troca, a soberania sobre as rides, coloridee de 03a, aganstavam de um mapa anexo e que teproduzia aproximadamosts © constante na convengéo tuso-fiancesa fos tas eesfengs s0bte 0 raeco binco de Hxgio do Cabo 80 Cairo, vide Marcelo Cuctano, ap ait. pp telob Y 4 MEMORIA SOBRE CAUSAS DO ULTIMATO INGLES 1890 469 timo gabinete regenerador chefiado por’ Fontes Pereira de Meio, a que pertencia Barbosa de Bocage, caiu: em Fevereiro de 1886, setido substituido pelo primeiro ministério progressista, da responsa- bilidade de José Luciano de Castro. " A pasta dos Negécios Estrangeiros passou a ser sobragada por Henrique de Barros Gomes, que niio encon- trou motives para alterar 0 rumo da politica colonial do seu antecessor, ‘Amigo pessoal de Oliveira Martins e como ele admirador do cesarismo bismarckeano, Barros Gomes apressou-se a levar 4 ratiieagdo.parlas mientar os dois convénios anteriormente negociados; nutrindo talvee 4 esperanga de vir a ser ajudado pela Alemanha no caso, mais do que provavel, de se suscitarem conflitos com a Inglaterra 3 iratados efaim acompanhados do fanioso mapa'cor-de-rosa. no qual 0 Zambeze corria integralmente em dress de influgncia. portuguese. © nosso ministro talvez se no tenha apercebido que a bonomia de Bismarck ndo derivava de uma especial consideragiio para com Portugal ou de um sincero desejo de se fazer substituir & Inglaterra como nosso aliado preferencial. As suas motivagdes eram bem mais pragmaticas: como os seus planos de constituigao de um impétio transa: ficano se tinham gorado com a tomada da Bechuanallindia pelos ingle ses, 0 arguto chancelei ja tentar contrariar a légica buitanica com 0 recurso 4 caitada portuguesa, Sc outro efeito nko pudesse obter, alcangaria, pelo menos, 0 da tempordria contengio da hegemonia anglo-saxdnica na regiio 25 ‘A Inglaterra tratou de faze sentir 2 Portugal, através de numerosos memorandos:€ notas diplomiticas, que no se dispunha a aceitar as nossas pretensdcs © muito menos anviria a um processo negocial tri- partido, cortespondente & incluso da Alemanha no dirimir da pendén- ia, conforme Barros Gomes chegou a sugerir 2, A argumentacio de fundo do gabinete presidido por Salisbury baseava-se-numa inter~ pretaio extensiva do artigo 35° da acta final da Conferéncia de Beilim, dando por assente que a electividade das ocupages no deveria confinar-se as regides costeitas 7. $6 a implantaciio de missdes, de postes administrativos e de guarnigoes militares nos sext8es do intesior podetia eaucionar « legitimidade das apropriagdes coloniais E enquanto Sigilosamente decorria este cad vex mais azedo ditlogo diplomatico, 2 Che Lule Visita do Castro, op it, pp S1-60 2 Cir. Marquis do Lavradio, op ct, pp. 167-68 2 Falamos com alzuma impropriedade em interpretaglo extensiva por nos parecer que a expressio & sufiientemeate esclarecedora, Em tormos estritaments ‘éenico-imtidicos nfo poderiamos utiliza visto que do que se tratava era de mais uma arbitrariedsde inglesa w a0 uiaLos icios dos agentes de Cecil Rhodes, dos mis- sionirios ingleses e escoceses, dos comerciantes e gatimpeiros, todos devotados @ febril tarefa do aliciamento dos ségulos e potentados A Grl-Bretanha nao deseurou, sobretudo, 0 estreitamento de rela~ Ges com o rei dos Matabeles, Lo Bengula, com quem estabeleccu tratuos de paz ¢ de amizade. O pais dos Matabeles espraiava-se por toda & ftontcira leste de Mogainbique, entre 0 Limpopo e o Zambeze, € 0 seu dominio eta indispensivel para a realizagio do projecto por ftugués, "Nao fiearam 36 por aqui os manejos da Inglaterra contia Portugal A nossa mais antiga aliada tratow também de armar € fauniciar tibos hostis & dominagao portuguesa, como a dos Macololos, induziu 0 rei matabele a avocar direitos sobre op: dos Machonas © sobre uma vasta zona adjacente, contigua ao planalto de Manica, em pleno territério mogambieano, notificando Lisboa que 08 Matabeles © 0s Machonas se encontravam sob a sit protecgio: conecdeu, finalmente, poderes majestiticos & British South Afiica Company, vulgarinente conhecida por Chartered, dando pulso livre a Ceeil Rhodes nas vastissimas zonas de que nasceriam as Rodésias Portugal contestou sobictudo os pretensos ditcitos de protectorado sobre os Machonas ¢ encaminhou para o Alto Chite expedigdes chefia- das pot Serpa Pinto e por Henrique de Paiva Couceiro, destinadas, a forma, a estudar as possibilidades de constiugio de uma via férrea que unisse © Niassa ao Zambeze, Talvez que a intengéio real nifo coin- cidisse com a declatada, niio custando a admitic que Seipa Pinto ¢ Paiva Covecito levassem instrugdes de ocupagio dos territéries reclamados pela Charrered, colocando a Inglaterra perante situagdes inapeliveis Bm Outubro de 1889, Portugal vibrou com a vitéria militar alean- ada por Serpa Pinto © por Joao de Azevedo Coutinho sobre os Maco- lolos. « Sucediam-se as notas britanicas, num crescendo de agressividade ‘evimpaciéncia, reclamando que fossem retiradas da regio as forcas Portuguesas. Barros Gomes, supondo-se suficientemente protegido por Bismarck, acimulava siléncios com tergiversagSes e com manobras dilatétias 8. governo de Salisbury tesolveu-se entiio por medidas 2A politica externa portuguesa, desde © momento em que a Inglaterra pro- ‘estou conta o clausulado das convengGes fetas com a Frangs ¢ & Alemanha, passow 2 revelar as maioeeshesitagbes. Quem @ afiima & 0 chete do ultimo goverao mond ‘atica, Teivera de Sousa, por estas pulavras: «O governo de Lisboa ota declarava ‘alar pronto 2 enfrat em negociagdes com a Inglaterra, ora mandava praticar ou! consentia que se praticassem actos de soberania por meio das armas em terstérios ‘onde 0 goveino inglés nio reconhecia 2 autoridade de Portugal». Apud Luis Viena de Castro, op. ct, p 75 MEMORIA SOBRE CAUSAS DO ULTIMATO INGLES (890 47 dristicas, tendo 0 ministro portugues recebido a 11 de Janeiro de 1890 das mos de Petre, chefe da legaciio inglesa acreditada em Portugal, este lacénico texto: dO qué’o Governo de Sua Majestade deseja ¢ em que insiste € 0 Séginte, Que se enviem ao governador de Mogambique instrucdes clegedficas imediatas, para que todas ¢ quaisquer forgas. militares portuguesas, actualmente no Chire e nos paises dos Mocololos © Macho- hnas, se retirem. O Goyerno de Sua Majestade entende que, sem isto, fag segurangas dadas pelo Governo portugués séo ilusdrias. | Mr. Petre yer-se-4 obrigado, a vista das suas instrugdes, a deixar imediatamente Lisboa com todos os membros da sua legagdo, se uma resposta si fatéria A precedente intimagao nao for por ele recebida esta tarde; 0 navio de Sua Majestade Fnehaniress est em Vigo esperando as suas ordens:? Lepacio Britinica, 11 de Janeiro de 1890». Comegava aqui, verdadgiramente, o colapso da nossa monarquia ‘constitucional Ie ‘© Hiblicteca

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