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1.Gbras de Fernando Pessca # Obra postica ¢ Obras em prosa. Rio de javeiro, Nova Aguilar, © O.eu profundo € as outros cus. Rio de Jeneiro, Nova Aguilar. * Os melhores poemas de Fernando Pessoa. Selegao de Tereza Rita Lopes. Sie Paulo, Global. * Ollivro do desassossego. Lisboa. Atica ® Paginas intimas e de auto-interpretacdo. Lisboa, Atica. + Paginas de estética e de teoria e critica literdria, Lisboa, Atica. 2. Obras sobre Fernando Pessoa +» Caderno n® 1, PUC — Rio de Janeiro. * COELHO, Jacinto Prado. Diversidade ¢ unidade em Fernando Pessoa. Lisboa, Editorial Verbo © Coléquio/Letras ~ Homenagem a Fernanso Pessoa. Lisboa, Fund. Calouste Gulbeakian. n° $8, Nov. 1985. © Estucios sobre Paule. 1 * LIND, Georg Rudolf. Teoria poética de Fernando Pessoa. Porto, Inova. * LOURENCO. Eduardo. Pessoa Revisitado. Porto, Inova, 1973. . Leyla Perrone. Fernando Pessoa aguém do eu, além do out ntes, .ssod no Brasil, Revista Comunidades de Lingus Portuguesa. Sto Matin So Panto, espetho ¢ a esfinge. Sio Pauio, Cireulo do Livro. * NUNES, Benedito. “Fer In: O dorso do tigre, $80 Paulo, Perspectiva, 1969. * PADRAO, Maria da Gloria. A metdfora em Fernando Pessoa. Porto, Inova. * PAZ, Otdvio. “O desconhecido de si mesmo: Fernando Pessoa. Signos em rotagao, Séo Paulo, Perspectiva, 1972. * QUESADO, José Clécio Basilio. O constelado Fernando Pessoa. Rio de Jane * SEABRA, José Augusto. Fernando Pessoa ou 0 poetodrama. Sao Paulo, Perspeci jago. POEMAS COMPLETOS DE ALBERTO CAEIRO Introdugao* NESTES POEMAS aparentemenie io simplices, 0 critica, se se dispbe s uma andi hora a hora se encontra deftonte de elementos cada vez mais inesperados, catla vez mais complex ‘Tomando por axiomitico aquilo que, desde iogo, o impression, a naturalidade e a espontaneidade poemas de Caeiro, pasma de verificar que eles sfio, ao mesmo tempo. rigorosamente unificados por u:n samento filoséfico que nao s6 os coordena e concatena, mas que ainda mais, prevé objegdes. antevé criticas, explica defeitos por uma integragdo deles na substincia espiritual da obra, Assim, dando-se Caeiro por um poeta objetivo, como é, nés encontramo-lo, em quatro das suas cangSes, exprimindo impressdes inteiramente subjetivas, Mas nfo temos a satisfagdo cruel de poder supor-nos a indicar-the que errou, No poema que imediatamente precede essas cangSes, ele explica que elas foram escritas durante uma doenga, € que, portanto, tém por forga que ser diferentes dos seus poemas normais, por isso que a doenga no é saiide, E assim, 0 critica néo chegue a conduzir aos labios a taga da suc satisfagdo cruel. Se quiser tera alegria. um poouco menos eonereta, de apontar outros pecadios conte 2 teoria intima da obra toda, vé-se confronizdo por poemus como ..° € 0 ..", onde a sua objepdo jh es feita, ¢ a sua questéio respondida. 108 S8 quem pacientemente, e com o espirito pronto, ler esta obra pode avaliar 0 que esta previsao, esta coeréncia intelectual (mais ainda do que sentimental, ou emotiva) tem de desconcertante. Tudo isso, porém, & verdadeiramente 0 espirito pagio. Aquela ordem e disciplina que 0 paganismo tinha, e o cristismo nos fez perder, aquela inteligéncia raciocinada das coisas, que era seu apanagio e no & nosso, esti ali. Porque, se fala na forma aqui esté na esséncia. FE ndo é forma exterior do paganismo — repito — que Caeiro veio reconstruir; € a esséncia que chamou do Averno, como Orfeu a Euridice. pela magia harménica (melédica) da sua emogao. Quais so. para meu critério, os defeitos desta obra? Dois s6, ¢ eles pouco empanam o seu fulgor irmao dos deuses. Falta nos poemas de Caeiro, aquilo que devia completé-los: a disciplina exterior, pela qual a forga tomasse a coeréncia e a ordem que *Apontamento solto de Ricardo Reis (frag.), publicado pela primeira vez em 23.03.1960, RJ. ul O MEU OLHAR € nitido como um girassol, Teno o costume de andar pelas estradas Olhando para a direita e para a esquerda, E de vez em quando olhando para tr E o que vejo a cada momento E aquilo que nunca antes eu tinha visto, E eu sei dar por isso muito bem... Sei ter o pasmo essencial ‘Que tem uma erianga se, ao nascer, Reparasse que nascera deveras... Sinto-me nascido a cada momento Para a eterna novidade do Mundo. Ix Sov UM guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos ‘05 meus pensamentos so todos sensagdes. Penso com os olhos e com os cuvidos E com as maos ¢ os pés E com o nariz ea boca. Pensar uma flor é vé-la e cheiri-la E comer um fruto é saber-Lhe 0 sentido, Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozé-lo tanto, E me deito ao comprido na erva, E echo os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz. Creio no mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas no penso nele Porque pensar é néio compreender O mundo nfo se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olhamos para ele e estarmos de acordo, Eu nfio tenho filosofia: tenho sentidos. Se falo na Natureza nao ¢ porque saiba 0 que ela & Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe © que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar Amar é a eterna inocéneia, Ea tinica inocéncia nao pensar. Bs “OLA, guardador de rebanhos, Aia beira da estrada, Que te diz 0 vento que passa’? “Que é vento, e que passa. E que ja passou antes, E que passara depois. Eatioquete diz?” “Muita cousa mais do que isso Fala-me de muitas outras cousas De memérias e de saudades E de cousas que nunca foram.” “Nunca ouviste passar 0 vento. vento s6 fala do vento. que Ihe ouviste foi mentira, Eamentira esta em ti.”

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