A Mensagem
do Evangelho
PARA O 4■
‘
seculo CRISTIANISMO NÃO-DENOMINACIONAL —
XXI COMO ISSO É POSSÍVEL?
Pouco antes de Jesus deixar a terra para ser
exaltado à destra do Pai como Príncipe e Salva-
dor, Ele disse aos Seus discípulos: “Permanecei,
pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos
de poder” (Lucas 24:49b). Mesmo antes de Sua
morte, Jesus prometeu-lhes o Espírito Santo, que
os guiaria “a toda a verdade” (João 16:13). Nova-
mente, Ele “determinou-lhes que não se ausentas-
sem de Jerusalém, mas que esperassem a pro-
messa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes.
Porque João, na verdade, batizou com água, mas
vós sereis batizados com o Espírito Santo, não
muito depois destes dias” (Atos 1:4, 5).
Logo depois de dar-lhes esta determinação,
Jesus foi tirado do meio deles, “e uma nuvem o
encobriu dos seus olhos” (Atos 1:9b). “Então,
voltaram para Jerusalém” (Atos 1:12a). Lemos
em Atos 2:
...estavam todos reunidos no mesmo lugar; de
repente, veio do céu um som, como de um
vento impetuoso, e encheu toda a casa onde
estavam assentados. E apareceram, distribuí-
das entre eles, línguas, como de fogo, e pousou
uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios
do Espírito Santo e passaram a falar em outras
línguas, segundo o Espírito lhes concedia que
falassem (vv. 1–4; leia também Atos 1:9–12).
Este é um recorde do cumprimento da pro-
messa do Salvador de que os apóstolos seriam
revestidos de poder do alto. Essa verdade não
seria negada por nenhum estudioso inteligente
da Bíblia. Nosso Senhor não queria que esses
discípulos saíssem para salvar o mundo sem
estarem cheios do Espírito Santo e sem que este
lhes concedesse que falassem. Podemos concluir
justamente que a obra que eles realizaram depois
de serem revestidos de poder foi a obra do
Espírito Santo. Ninguém deveria duvidar que
Ele fez exatamente o que estava destinado a
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fazer; a saber, guiá-los a toda a verdade. Certa-
mente a obra que realizaram como professores,
conseqüentemente, era a obra do Espírito Santo.
Segui-los com certeza é seguir o Espírito Santo.
Ninguém pode alegar que é guiado pelo
Espírito Santo em sua vida religiosa, se age
contrário à obra feita por esses apóstolos que
estavam cheios de poder do alto. Em outras
palavras, um religioso é guiado pelo Espírito
Santo até onde sua vida e prática religiosas estão
em harmonia com a vida e prática dos que foram
revestidos do poder do Espírito. Aquele que
segue fielmente os que foram guiados pelo
Espírito divino está livre do denominacionalismo;
não pertence a nenhuma denominação, mas é
simplesmente cristão, discípulo do Senhor. Todos
que assim seguem o Guia que dirigiu esses
professores são membros da mesma igreja à qual
eles pertenciam, a igreja de Deus. Os membros
da igreja de Deus hoje tornam-se membros da
mesma maneira que as pessoas que foram guiadas
por esse poder. Isto é, não se tornam membros de
uma igreja, mas Deus os acrescenta aos salvos
assim que “são salvos”. Por isso, a Sua igreja é
constituída pelos salvos. Certamente, ninguém
questionaria o fato de que todo o que segue
fielmente o Espírito Santo será salvo ou que Deus
será tão generoso para com eles como foi para
com os que seguiram o Espírito em Jerusalém. Se
esses conceitos forem aceitos como verdadeiros,
então entenderemos que cada indivíduo é salvo
e acrescentado à igreja pelo Senhor.
A integridade e bondade de coração do leitor
há de evitar um mal-entendido deste ensino. É
verdade que uma pessoa pode ser guiada à
salvação pelo Espírito Santo e ser acrescentada à
igreja de Deus, entrando, porém, depois numa
denominação, “tornando-se membro” ou afilian-
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do-se a ela. Quem faz isto torna-se um cristão
denominacional, que pertence a duas igrejas,
pois foi acrescentado à igreja de nosso Senhor
quando foi salvo, mas depois tornou-se membro
de uma instituição humana chamada igreja. É
exatamente isto o que às vezes pessoas de
corações nobres fazem. Todavia, cada passo
necessário para ser tornar um denominacional
ultrapassa o ensino do Espírito Santo e é contrário
até às Suas exigências mais severas.
O denominacionalismo é contrário a todos os
exemplos históricos de cristãos individuais e de
igrejas no Novo Testamento. Em todo o Novo
Testamento nem um cristão sequer foi alguma
vez guiado pelos apóstolos ou profetas inspirados
a tornar-se membro de uma denominação. Quem
se torna mais do que um cristão — mais do que
um discípulo do Senhor e um membro de Sua
santa igreja — carrega sobre si a responsabilidade
de estar contrário às instruções e exemplos dos
homens santos, guiados pelo próprio Espírito de
Deus.
Se alguém está disposto a aceitar tal responsa-
bilidade mesmo com as advertências divinas
contra isso, o problema é seu; mas cabe a mim
mostrar-lhe tal responsabilidade. É tão fácil ser
somente cristão hoje quanto era na época do
Novo Testamento; a única razão para as pessoas
não serem somente cristãs é por não estarem
dispostas a isso ou por falta de conhecimento das
verdades a respeito de Cristo.
Logo depois que o Espírito Santo desceu
sobre os discípulos, uma grande congregação
reuniu-se. Pedro — ou melhor, o Espírito Santo,
usando Pedro como um instrumento — aprovei-
tou a oportunidade e começou a pregar. Jesus
mandara Seus discípulos irem a Jerusalém e ali
“permanecerem” ou “esperarem”, até que lhes
sobreviesse o poder. Então, eles deveriam pregar
o evangelho a toda criatura. Eles foram até
Jerusalém, esperaram e o Espírito Santo desceu e
entrou neles; desse modo, estavam preparados
para pregar.
Pedro era um cristão ou discípulo não-
denominacional. Como um professor e pregador
não-denominacional, ele não representava ne-
nhuma denominação; era simplesmente membro
da igreja à qual o Senhor acrescenta os salvos.
Com certeza, então, seu trabalho era um trabalho
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não-denominacional e não poderia dar origem a
nenhuma denominação. Seu público ouvinte
compunha-se de judeus oriundos de todas as
partes para adorar a Deus, o próprio Pai do
Senhor. Embora fossem judeus devotos, muito
religiosos e com uma vida consagrada, não criam
que Jesus era o Filho de Deus. Foi com essa
descrença no coração que eles se reuniram; por
isso o intuito da pregação de Pedro foi mostrar-
lhes que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus.
Cinqüenta dias antes desse dia de Pentecostes,
esses mesmos judeus haviam manchado as
próprias mãos com o sangue do Filho de Deus,
acreditando que estavam entregando à morte
um impostor. Pedro tinha um público refinado
— não eram pessoas de mentalidade mundana,
nem ateus, mas homens como os filhos hebreus
e como Daniel, prontos para morrer a serviço de
Deus. Eram pessoas dedicadas à oração, zelosas
e piedosas — de fato, um público diferenciado
para tal ocasião.
Primeiro, Pedro eliminou alguns preconceitos
e visões destorcidas a respeito das manifestações
sobrenaturais de poder em Jerusalém, naquela
manhã. Ele fez isto citando a Bíblia, o Antigo
Testamento. Depois, deu início ao sermão pro-
priamente dito:
Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus,
o Nazareno, varão aprovado por Deus diante
de vós com milagres, prodígios e sinais, os
quais o próprio Deus realizou por intermédio
dele entre vós, como vós mesmos sabeis; sendo
este entregue pelo determinado desígnio e
presciência de Deus, vós o matastes, crucifi-
cando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém,
Deus ressuscitou (Atos 2:22–24a).
Neste breve discurso, o Espírito Santo, por
meio de Pedro, pregou a vida de Jesus. Ele falou
dos seus prodígios, milagres e sinais e da
aprovação de Deus para com Seu Filho. Declarou
que aqueles ouvintes, usando homens iníquos,
crucificaram e mataram o Filho de Deus, e que
Deus O ressuscitou dentre os mortos. A proposi-
ção a ser provada era a ressurreição de Jesus
dentre os mortos. O Espírito apresentou as
provas, citando Davi, o doce compositor de Is-
rael, o qual era considerado um escritor e mestre
divino. Com base na citação, era certo que Davi
estava falando da ressurreição de alguém: ou
falava de si mesmo, ou estava colocando as
palavras na boca de outrem. O Espírito chamou
a atenção de todos para os seguintes fatos: Davi
morreu, foi sepultado e seu túmulo permanecia
entre eles até aquele dia. Portanto, como ele não
poderia estar se referindo a si mesmo, a quem
teria se referido? O Espírito disse que Davi,
sendo um profeta e sabendo que Deus prometera
colocar um descendente de Davi no seu trono,
estava falando da ressurreição do Cristo:
A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós
somos testemunhas. Exaltado, pois, à destra de
Deus, tendo recebido do Pai a promessa do
Espírito Santo, derramou isto que vedes e
ouvis... Esteja absolutamente certa, pois, toda a
casa de Israel de que a este Jesus, que vós
crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo (Atos
2:32–36).
Isso foi o suficiente para infundir convicção
nos corações desses ouvintes retos e devotos.
Dessa vez, quase puderam ver o sangue nas suas
mãos e sentiram no coração a culpa por terem
assassinado o próprio Filho de Deus. “Ouvindo
eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e
perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos:
Que faremos, irmãos?” (Atos 2:37).
Será que eles estavam convencidos? Quem
duvidaria que sim? Será que esses suplicantes
criam que Jesus, a quem crucificaram cinqüenta
dias atrás, era o Cristo, o Filho de Deus? Será que
duvidavam que Deus O aprovara por meio dos
sinais e prodígios? Fariam agora o que o Espírito
mandara que fizessem? Isto é, “estar absoluta-
mente certos” de que Deus fez Jesus Senhor e
Cristo? Se eles realmente estavam certos desse
fato concernente ao evangelho, e se sabiam disso
como o Espírito em Pedro os instruíra — “absolu-
tamente”, com total confiança, sem dúvida —
então, o que lhes faltava para terem fé? O que
deviam saber sem dúvida, com total confiança, é
que Jesus era o Filho de Deus, que Seus milagres
eram a aprovação de Deus da Sua Pessoa, que
Ele fora crucificado, ressuscitado dos mortos e
exaltado à destra de Deus como “Senhor e Cristo”.
Depois que uma pessoa está absolutamente certa
disso, com total confiança, o que ela precisa fazer
mais para crer? É necessário dizer a uma pessoa
que ela precisa crer, depois de ter ela aceitado tão
confiadamente esses grandiosos fatos a ponto de
seu coração se compungir e ela perguntar o que
deve fazer? Em que mais ela precisaria crer e
como deveria crer nisto?
A essas pessoas que creram — absolutamente
certas das grandes verdades a respeito de Jesus
e cientes do seu erro — o Espírito Santo disse:
Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo para remissão dos
vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito
Santo. Pois para vós outros é a promessa, para
vossos filhos e para todos os que ainda estão
longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso
Deus, chamar (Atos 2:38, 39).
A seguir, o registro divino nos diz: “Então, os
que lhe aceitaram a palavra foram batizados,
havendo um acréscimo naquele dia de quase três
mil pessoas... Enquanto isso, acrescentava-lhes o
Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (Atos
2:41–47b).
Convém lembrar que estamos revendo aqui
uma “reunião da igreja” livre de denomina-
cionalismo. Estamos observando uma igreja em
atividade, salvando o mundo. O ensino veio do
Espírito Santo enviado por nosso Senhor, e o
homem através de quem Ele estava falando era
um membro dessa igreja não-denominacional,
um cristão simplesmente. Todo esse ensino era
não-denominacional, puro e simples. Nessa
reunião de igreja não-denominacional, o profes-
sor não-denominacional desafiou os descrentes
a “estarem absolutamente certos”, sem sombra
de dúvida, de que Jesus era “Senhor e Cristo”.
Todos que tiveram essa certeza e estavam pro-
fundamente convencidos receberam uma or-
dem: “Arrependei-vos”. Assim, nessa reunião
não-denominacional, pessoas não-salvas foram
instruídas a aceitar sem dúvida os grandiosos
fatos concernentes ao evangelho, depois se
arrepender e finalmente receberem o batismo
“em nome de Jesus Cristo para remissão dos...
pecados”.
Seguindo uma lógica irrefutável, conclui-se,
então, que aquele que hoje prega Jesus da maneira
como Pedro fez está realizando um ensino não-
denominacional. Para isso, é preciso pregar Jesus
como o aprovado Filho de Deus, o Senhor e
Cristo ressurreto e coroado. É preciso convencer
os não-salvos a crerem, ou “estarem absoluta-
mente certos”. A seguir, é preciso exortar todos
que estão cientes dessas verdades a se arrepen-
derem e serem batizados no nome de Jesus Cristo
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para remissão dos seus pecados.
Da mesma forma, todo aquele cujo coração é
compungido por estar “absolutamente” certo de
que Jesus é Senhor e Cristo, todo aquele que se
arrepende e é batizado no nome de Jesus Cristo
para o perdão dos seus pecados é salvo, tornando-
se um discípulo do Senhor, um cristão simples-
mente, acrescentado à igreja do nosso Senhor.
Hoje, a obra eclesiástica que repete a obra do
Espírito, a qual foi registrada para o nosso
aprendizado, é tão aprovada por Deus e tão
guiada pelo Espírito quanto foi nessa reunião
não-denominacional. Do contrário, a Bíblia de
nada valeria para nós. ■

Autor: J. N. Armstrong
Série: Cristianismo Não-Denominacional
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