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Acredito que todo parecerista pode se ver em duas posições: como “guardião” da
área científica ou como “colaborador” dessa comunidade. O “guardião” é aquele que se
vê no papel de rejeitar os papers que acredita que não se conformam com o ideal. Em
contraste, o “colaborador” pensa como pode ajudar o paper a crescer.
Essas duas posições não são excludentes, mas o exagero para qualquer um dos
lados pode ser problemático. O “guardião” exagerado vai tender a ver sempre o “copo
meio-vazio” e “jogar fora a água de banho e o bebê juntos”. O “colaborador” exagerado
vira o “paizão” e deixa entrar artigos que deveriam ser rejeitados.
No preparo da avaliação, devemos ter cuidado com duas decisões importantes:
rejeitar ou não o artigo e no texto que preparamos para o parecer. Acho que vale a pena
lembrar que o congresso é apenas uma fase inicial de circulação de idéias, ainda longe
da publicação definitiva. Assim, acredito que é mais interessante aceitar um paper que
apresente um alto potencial de contribuição para área, ainda que apresente alguns
problemas, do que um paper bem finalizado e acabado, mas que apenas “chove no
molhado”. Por exemplo, nem sempre a parte metodológica é clara (o que não significa
que é intrinsecamente falha); portanto sabemos que há um potencial lá, e que talvez não
valha a pena “matar” o artigo.
Às vezes estamos convencidos que o paper deve ser rejeitado, mas um parecer
escrito de forma destrutiva, de forma mal-humorada pode ser extremamente frustrante
para o autor. A seguir, aponto alguns problemas que percebi nos pareceres da EnAnpad
2009 e algumas sugestões para os avaliadores.
Rejeições Polêmicas
• Existe um grupo de pareceres que levantam polêmica e podem ser de difícil
justificativa. Por exemplo:
o Preconceito em relação ao objeto de pesquisa. Se um autor escolhe
um grupo mafioso, essa escolha não pode ser rejeitada porque o
contexto é “ilegal”. Um dos trabalhos mais influentes sobre confiança
nas organizações é justamente sobre a confiança entre mafiosos
(Gambetta)
o Dogmatismo na forma de construção de conhecimento. Alguns de
nós acredita que apenas um trabalho empírico agrega conhecimento.
Outros de nós simplesmente não simpatiza com uma metodologia
“quali” e por via das dúvidas rejeita o paper. E assim por diante.
Nesses casos seria preferível devolver o paper e permitir a
realocação, dando ao autor o benefício de um parecerista com maior
empatia.
o Insistência que o autor cite trabalhos publicados na EnAnpad. Acho
importante que se peça aos autores boas revisões de literatura.
Entretanto, se isso inclui trabalhos da EnAnpad, estamos pedindo que
os autores citem trabalhos que não passaram pelo mesmo crivo
rigoroso da publicação definitiva.
o Insistência que o autor cite esse ou aquele trabalho. Muitas vezes
realmente temos em mente trabalhos clássicos que podem ser citados
e eventualmente serão citados na medida em que o trabalho chegue
mais próximo de sua publicação definitiva. Mas será que em sua
primeira versão o trabalho mereça ser rejeitado porque não citou esse
ou aquele?
Aceitações Dóceis
•Talvez tão problemático quanto a rejeição polêmica seja a aceitação dócil. Por
exemplo: “ótimo trabalho” ou “sem comentários” não agrega muito valor. Será
que nada mais pode ser dito?
Recomendações Finais
•Obviamente muitos de nós não têm tempo para produzir pareceres longos. Mas
existe uma clara tendência na melhora dos pareceres acompanhada da diminuição
de pareceres por avaliador. Muitos avaliadores estabelecem o número total de
papers que pode ler por congresso e nós da organização tentamos ao máximo
respeitar esses limites.
•Assim, fica a mensagem: avalie apenas o número de papers que sabe que será
capaz de ler e produzir um parecer construtivo