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Coprocultura
Carlos Henrique Pessôa
de Menezes e Silva
Doutor em Microbiologia
Microbiologista do Centro
Tecnológico de Análises
(CETAN), Vila Velha-ES
Parte 1 - Salmonella e Shigella Consultor em Microbiologia do
Laboratório Landsteiner, Vitória-ES
: carloshenrique@cetan.com.br
A
convite da Revista Newslab, preparamos uma série denominada “Protocolos de Microbiologia Clínica”,
abordando os principais temas de interesse àqueles que militam na área, objetivando a educação conti-
nuada, o aprimoramento científico e a aplicabilidade imediata das diretrizes sugeridas para que os seto-
res de Microbiologia Clínica dos laboratórios brasileiros possam realizar seus exames com acurácia e qualidade.
Proporcionaremos, ainda, uma visão crítica, com sugestões construtivas, para a melhoria da qualidade neste setor,
tanto para aqueles que já possuem um setor ativo, mas que desejam incrementá-lo com informações precisas e
coesas, quanto para os laboratórios de pequeno porte, os quais terão a oportunidade de implementar rotinas de
fácil execução com toda informação científica necessária. Inicialmente, abordaremos o tema Coprocultura, dividi-
do em duas partes para melhor interpretação. Bimestralmente, a Revista Newslab trará novos protocolos, a saber:
Urocultura, Microbiologia dos Líquidos Corporais Estéreis, Microbiologia das Secreções, Microbiologia do Sistema
Genital Humano e Micologia Clínica.
todos transmitidos pela via fecal-oral. Quadro 3. Subgrupos, sorotipos e subtipos de Shigella
Pelo fato da grande diversidade de Subgrupo Sorotipos e Subtipos
microrganismos que podem estar envol- Grupo A: Shigella dysenteriae 15 sorotipos (o tipo 1 produz a shiga toxina)
vidos, é virtualmente impossível para Grupo B: Shigella flexneri Oito sorotipos e nove subtipos
qualquer laboratório clínico realizar um Grupo C: Shigella boydii 19 sorotipos
completo exame de fezes diarréicas. Por-
Grupo D: Shigella sonnei Um sorotipo
tanto, os patógenos mais freqüentes são
investigados, dependendo da localização
geográfica e da estação do ano (13). fermentar tardiamente a lactose (2%) e como Shigella devem ser confirmados
a sacarose (1%) e a maioria das cepas por testes sorológicos (13).
Shigella desta espécie descarboxila a ornitina,
O homem é o reservatório natural e as característica não observada em outras Salmonella
infecções ocorrem via fecal-oral através espécies de Shigella. Salmonelas patogênicas ingeridas
da ingestão de 20 a 200 células viáveis Há quatro subgrupos principais e 43 com água ou alimentos contaminados
em alimentos e água contaminados. Na sorotipos reconhecidos de Shigella (Qua- sobrevivem à passagem pela barreira áci-
shigelose, corre uma invasão e destruição dro 3). A classificação do CDC combina da do estômago e invadem as células da
da camada epitelial da mucosa com in- S. dysenteriae (grupo A), S. flexneri (grupo mucosa dos intestinos delgado e grosso
tensa reação inflamatória, gerando leucó- B) e S. boydii (grupo C) como “Shigella e liberam toxinas. A invasão das células
citos, muco e sangue nas fezes. Deve-se sorogrupos A, B e C” por conta de suas si- epiteliais intestinais estimula a liberação
suspeitar de espécies de Shigella quando milaridades bioquímicas. A presença de de citocinas que induzem uma resposta
observamos colônias lactose-negativas, ornitina-descarboxilase e a atividade de inflamatória aguda. A reação inflamatória
bioquimicamente inertes em muitas beta-galactosidase fazem com que as ce- na mucosa intestinal induz diarréia e
provas bioquímicas de identificação. Elas pas de S. sonnei sejam bioquimicamente pode levar à ulceração e destruição da
tipicamente não produzem gás a partir distintas de outras espécies de Shigella. A mucosa intestinal. Da mucosa, a bactéria
de carboidratos, com exceção de alguns incapacidade de fermentar o manitol dis- pode disseminar-se para órgãos internos
biogrupos de S. flexneri que são aerogê- tingue a S. dysenteriae. Todos os isolados causando doença sistêmica. As salmonelas
nicos. Raras cepas de S. sonnei podem clínicos identificados bioquimicamente possuem antígenos somáticos (O) que são
Figura 2. Ágar Hektoen: Aspecto colonial de Figura 3. Ágar SS: Aspecto colonial de Figura 4. Ágar XLD: Aspecto colonial de
Shigella sonnei. Shigella sonnei. Shigella sonnei.
Figura 5. Ágar Hektoen: Aspecto colonial de Figura 6. Ágar SS: Aspecto colonial de Figura 7. Ágar Rambach: Aspecto colonial
Salmonella spp. (ausência de fermentação dos Salmonella spp. (lactose-negativa e produção de Salmonella não-tifóide (fermentação do
carboidratos do meio e produção de H2S). de H2S). propilenoglicol).
Tabela 3. Total de amostras positivas para Salmonella e Shigella usando caldos de pré-enriquecimento seletivo
Bactéria Semeadura direta Caldo GN* Caldo Selenito* Caldo Tetrationato*
Salmonella 157 250 257 164
Shigella 53 77 66 27
Total 210 327 323 191
* pré-enriquecimento com posterior semeadura em placa
Tabela 5. Distribuição dos resultados falsos-positivos (H2S+ não Salmonella) nos meios em placa
Bactéria XLD SS Hektoen
Citrobacter freundii 27 (6,7%) 82 (9,5%) 361 (36,5%)
Proteus vulgaris/mirabilis 122 (30,1%) 359 (41,6%) 244 (24,7%)
Total 149 (36,8%) 441 (51,1%) 605 (61,2%)