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Professora: Andréa
Série: 1° A
"Somente a dor é positiva", dizia Schopenhauer. Talvez esta seja a melhor explicação
para o grande mistério envolvendo a crítica: por que os críticos preferem malhar um
filme ao invés de elogiá-lo?
Isto é inevitável. Quando se trata de filmes ruins, além de ser muito mais fácil de falar
sobre eles, há um prazer imanente em atacá-los. "Somente a dor é positiva" e o
desprazer que certo filme nos causa é o solo sobre o qual obtemos algum prazer, ao
apresentarmos suas falhas.
Talvez seja por isto que demorei tanto tempo para criticar "O Fabuloso Destino de
Amélie Poulain". Assisti a ele umas dez ou doze vezes e sempre me encanto com este
filme.
O diretor Jean-Pierre Jeunet atingiu o ápice de carreira neste filme (até que prove o
contrário!); preparou-se para ele em "Delicatessen" e o imitou em "Eterno Amor";
"Alien, A Ressurreição" é um corpo estranho...
É difícil saber se "Amélie" um dia se tornará um clássico do cinema, ainda mais em
nossa época, quando tudo é tão efêmero que já nasce ultrapassado, mas, certamente, é
uma obra-prima de beleza e encantamento.
Mas do que se trata esse filme com nome de menina e sorrisos na tela? O "Fabuloso
Destino de Amélie Poulain" ("Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain" - FRA 2001) fala
das coisas simples da vida. As neuras de uma família. Os sonhos de uma garota que
nunca teve amigos. A busca do amor. Dizem que o quanto mais simples algo é, mais
difícil é de se conseguir, certo? Errado, e Amélie está aqui para provar isso.
Fechada em seu mundo interior, Amélie vê tudo no mais cor de rosa e, impulsionada
por uma descoberta em seu próprio banheiro, decide ajudar o mundo. Durante sua
caminhada, ela aprende a ajudar a si mesma.
O filme tem passagens ótimas logo de cara. Jean-Pierre Jeunet mostra o gosto de cada
personagem da família Poulain. A mãe de Amélie, por exemplo, acha o suprasumo da
diversão encerar o piso com suas pantufas (as donas de casa de plantão enxergarão um
certo exagero aí). Mas no decorrer das cenas, o cineasta mescla humor com ternura. O
resultado é que o espectador fica tocado pela inocência de Amélie e se pergunta: será
que ainda existem pessoas boas? Pessoas capazes de dar a mão a um ceguinho e ajudá-
lo a atravessar a rua?
E mais: pessoas que descrevem um simples trajeto para alguém que não pode ver?
Coisas tão fáceis e ao mesmo tempo tão difíceis de fazer. Amélie anda de metrô e,
acredite, dá de livre e espontânea vontade moedas aos mendigos (ótima a passagem em
que um deles se recusa a aceitar o dinheiro alegando que não trabalha aos domingos!)
No mundo moderno, onde todos estão tão preocupados consigo mesmo, tão
mergulhados no trabalho, nas contas e no seu mundinho individualizado, Amélie
Poulain surge como uma fada madrinha. Poderia ser um conto de fadas, com elfos e
anões, como a superprodução "O Senhor dos Anéis". Mas não é. Amélie não precisa de
varinha mágica para mudar o mundo. Tudo o que ela faz é prestar atenção no próximo e
tocá-lo de alguma maneira. E isso vale, e muito.
A "Academia Européia de Cinema" entregou o prêmio Felix de melhor filme europeu
para "Amélie Poulain". Jean-Pierre Jeunet concorreu com produções de peso como "Os
Outros" e "O Quarto do Filho". Jeunet recebeu ainda o prêmio de melhor diretor e o
prêmio de melhor filme segundo o público.