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O LAZER E OS EQUIPAMENTOS IMPLANTADOS NA AMBIÊNCIA DE TRILHA.

ESTUDO DE CASO: TRILHA MOZART CATÃO – PARQUE NACIONAL DA


SERRA DOS ÓRGÃOS – RJ.
Autora: Noêmia de Oliveira Figueiredo
UFRJ – FAU / Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – DPUR / Departamento de
Urbanismo e Meio Ambiente
e-mail:noemiafigueiredo@yahoo.com.br
tel: (21) 2553-4171
Eixo Temático: A trilha
Sub-eixo: Ecologia da paisagem: percepção e conservação ambiental.

Introdução
As Unidades de Conservação abertas à visitação exigem ambiências específicas para
desenvolver as atividades de lazer e de turismo. Essas ambiências são constituídas dos
elementos naturais do lugar e dos implantados pelo homem. Os elementos naturais são a
atração do lugar, enquanto que os implantados pelo homem têm a função principal de atender
às necessidades dos visitantes, dos turistas e da gestão, sem agredir e prejudicar o patrimônio
natural e cultural existente em uma área protegida. As trilhas, as sinalizações e os assentos são
alguns dos equipamentos implantados pelo homem e foram escolhidos para serem analisados
no Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
O objetivo desta pesquisa foi analisar esses equipamentos na ambiência da Trilha Mozart
Catão no Parque Nacional da Serra dos Órgãos para diagnosticar se eles estão cumprindo com
suas funções. Os equipamentos agregam inúmeras funções que precisam ser compatibilizadas.
Por isso, um estudo direcionado a eles é útil para a sustentabilidade das atrações nas áreas de
preservação do patrimônio natural.
Reconhecemos que a função de todos os equipamentos que são implantados dentro de uma
Unidade de Conservação é, principalmente, a de preservação da área, mas para que este
objetivo seja alcançado é necessário que esses equipamentos também possuam funções
indiretas, que são apontadas como (BRASIL. Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo,
1994, p. 7):
− apoiar e orientar os visitantes e os turistas;
− limitar e reduzir os impactos gerados pelas atividades desenvolvidas;
− criar uma imagem da marca do empreendimento;

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− permitir ao visitante e ao turista usufruir e, ao mesmo tempo, aprender e compreender o
significado dos atrativos ecológicos à sua disposição;
− atender às necessidades do visitante e do turista e da gestão.

A circulação e o transporte por meio de trilhas em Unidades de Conservação


A trilha é o um caminho ou percurso bem definido dentro de uma área protegida, cuja principal
função sempre foi a de facilitar o deslocamento de pessoas. O surgimento da atividade de
caminhada agregou mais uma função às trilhas, que passaram a ser um dos meios de contato
do visitante e do turista com a natureza (MITRAUD, 2003).
Atualmente as áreas protegidas possuem um conjunto de trilhas, às quais são atribuídas as
funções de divertimento do lazer. Estas servem tanto para a monitoração da gestão, quanto
para os acessos dos usuários até as atrações. Além disso, as trilhas muitas vezes são a própria
atração devido à caminhada ser considerada uma atividade física saudável para qualquer faixa
etária e estarem inseridas em uma ambiência de natureza, na qual a função de terapia do lazer
está presente.
Foram desenvolvidas por Mitraud (2003) algumas diretrizes para um planejamento eficaz de
trilhas, que estão divididos em três itens.
I. A classificação das trilhas
A classificação de trilhas serve para orientar o usuário às exigências necessárias para um
percurso nos países onde a atividade de caminhada é apreciada (STRUMINSKI, 2001).
A classificação se divide em função, forma e grau de dificuldade.
• Quanto à função
Determinadas trilhas podem ser exclusivas da administração e têm o objetivo principal de
monitorar a área e transportar materiais. Eventualmente podem ser utilizadas pelos
visitantes e turistas.
As trilhas voltadas para os visitantes e turistas se dividem em duas tipologias:
− as trilhas interpretativas são curtas e o objetivo da implantação desses tipo de trilha é de
educar, recrear e fazer com que os visitantes e turistas sejam despertados para a
importância da conservação da natureza. A ferramenta para isso é a interpretação,
que será aprofundada na categoria de Informação, Interpretação e Comunicação Visual
(Fig. 1 -2) (PAGANI et al., 1996).

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Fig. 1: Trilha interpretativa na Reserva Biológica de Poço Fig. 2: Atividade interpretativa em trilha. Parque
das Antas – Casimiro de Abreu – RJ. Fonte: foto da autora - Nacional Saechsische Schweiz – Alemanha. Fonte:
maio 2003. disponível em: <http://www.saechsische-
landesstiftung.de Acesso em: 30 abr. 2004.
- as trilhas selvagens possuem uma maior
valorização da experiência dos usuários em
espaços selvagens, nas quais a distância a ser
percorrida é normalmente a de viagens de
travessia (Fig. 3).
Fig. 3: Trilha selvagem no Parque Nacional Grand Canyon –
EUA. Fonte: disponível em: <http://www.nps.gov/grca/
backcountry/trails/bright_angel_trail.htm>. Acesso em: 30
abr. 2004.

• Quanto à forma
As trilhas podem possuir traçados diferentes para permitir uma maior dinâmica aos
visitantes e turistas.

Fig. 4: Trilha circular. Fonte: croqui da autora. Fig. 5: Trilha em oito. Fonte: croqui da autora.

Fig. 6: Trilha linear. Fonte: croqui da autora. Fig. 7: Trilha em atalho. Fonte: croqui da autora.

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• Quanto ao grau de dificuldade
Esta é uma classificação subjetiva, pois leva em conta o condicionamento físico da pessoa e a
bagagem que ela vai carregar, depois são considerados os acidentes geográficos, os desníveis
de altitude e a topografia do terreno.
As trilhas podem ser guiadas ou auto-guiadas. A primeira conta com a presença de um guia e a
segunda possui equipamentos de interpretação.
A distinção das trilhas em guiadas e em auto-guiadas acarretam dois tipos diferentes de
classificação de graus de dificuldade. No entanto, deve haver uma indicação do grau de
dificuldade no início de ambas as tipologias das trilhas, sendo necessário ter um desenho
esquemático com o comprimento, o tempo estimado e um perfil das variações de altitudes, para
que o usuário obtenha todas as informações pertinentes ao percurso.
− Trilhas guiadas
Para essas trilhas são analisados dois fatores: o nível técnico e a intensidade de esforço físico,
que foram definidos em 1985 pela Mountain Travel nos Estados Unidos.
− Trilhas Auto-guiadas
O grau de dificuldade das trilhas auto-guiadas é baseado na experiência e vivência do
indivíduo que irá fazer a caminhada no comprimento da trilha, na topografia, na
necessidade, ou não, de montar acampamento para prosseguir o caminho e se possui ou
não sinalizações, mapas e roteiros.
A mesma preocupação que se tem com o visitante é preciso ter com a implantação e o uso das
trilhas. Por isso, iremos ver no próximo item quais elementos ambientais sofrem com a abertura
e o uso das trilhas.
II. Impactos ambientais causados pela implantação e uso de trilhas
Os problemas gerados pelos usuários, como lixo, incêndio, vandalismo e coleta de materiais,
podem ser minimizados com orientações anteriores ao percurso, sobre o mau comportamento
e as conseqüências geradas ao meio ambiente. Mas mesmo assim estão presentes os
impactos ambientais que podem ser físicos, visuais, sonoros e de cheiros. Estes são
percebidos na superfície da trilha e, até mesmo, a um metro a partir de cada lado.
Os elementos que mais são afetados são o solo, a vegetação e a fauna.
− O solo pode sofrer dois tipos de alteração, a erosão e, principalmente, a compactação,
que são causadas pelo pisoteio dos usuários e ocasionam a exposição das raízes das
árvores. Assim, com a superfície sem vegetação, a água passa pela superfície lisa, que
é a trilha, e provoca o deslocamento de partículas que leva ao aumento da erosão.

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− A vegetação é alterada devido à abertura da trilha ocasionar o aumento da
luminosidade no percurso, onde as plantas mais tolerantes a luz se instalam no lugar
das outras. As plantas mais resistentes aos impactos humanos se instalam ao redor da
trilha, enquanto que as mais sensíveis são eliminadas. O pisoteio dos usuários destrói
as plantas, ocasionam a erosão e a compactação do solo dificultando a sustentação
das raízes que, além disso, ficam expostas a pragas. Os usuários, sem perceber trazem
em seus pés gramíneas e plantas daninhas que também interferem na vegetação local.
− A fauna sofre com a implantação de trilhas, entretanto, não se sabe ao certo o quanto.
Apenas estima-se que há um aumento das espécies tolerantes à presença humana e
uma diminuição das mais sensíveis. Caso seja percebida uma grave interferência na
fauna, a trilha precisa ter seu traçado alterado ou até mesmo fechado,
permanentemente ou apenas em períodos de procriação e de alta de freqüência.
É preciso um planejamento para a implantação de trilhas, para que elas causem menos danos
ao seu entorno.
III. Planejamento de trilhas
Para abrir uma trilha é preciso analisar os fatores climáticos de acordo com as estações do ano,
fazer levantamento das características históricas e culturais da região, utilizar mapas e
fotografias antigas e recentes, analisar as características naturais, como, drenagem, solo,
vegetação, habitat e topografia. Ainda precisa ser feita uma estimativa de uso futuro através da
decisão do tipo de público alvo preferencial, para que se possa definir a capacidade de carga e
verificar a viabilidade da trilha. A concepção e o traçado também dependem do acesso, da
necessidade de estacionamento e do tipo de uso, ou seja, caminhadas, passeios a cavalo,
bicicleta, grupos escolares. Um traçado eficaz é o zigue-zague, com curvas espaçadas que
evita que as pessoas cortem caminho.
As trilhas devem ter a largura para permitir a passagem de uma pessoa de cada vez, pois
assim reduz o pisoteio e, conseqüentemente, o impacto ambiental. É recomendado que
as trilhas sejam regulares, possuam uma continuidade, evitando mudanças bruscas de
direção e sinalização. As pedras, árvores caídas e poças de lama, que se tornam
obstáculos naturais em uma trilha devem ser corrigidos ou adaptados, evitando que os
usuários façam desvios irregulares.
Deve haver vários tipos de trilhas em uma Unidade de Conservação, para que se possa ter
variedade de público-alvo e não sobrecarregue um determinado local.
Além das trilhas tradicionais, que são caminhos abertos no solo, existem as trilhas suspensas e
as pavimentadas.

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As trilhas suspensas são caminhos erguidos na altura das copas das árvores (Fig. 8 e 9). Esta
tipologia mais recente geralmente é implantada em áreas de difícil acesso e, por sua
peculiaridade, atraem todos os tipos de visitantes, pois oferece uma outra perspectiva da
natureza e com segurança.

Fig. 8: Trilha suspensa em madeira com guarda-corpo Fig. 9: Trilha suspensa em madeira com guarda-corpo
também em madeira. Parque Nacional Abraham Lincoln – em tubo metálico. Parque Nacional de Acádia – EUA.
EUA. Fonte: disponível em: <http://www.nps.gov/ Fonte: disponível em:
abli/galleryj.htm>. Acesso em: 30 abr. 2004. <http://www.nps.gov/acad/home.htm>. Acesso em: 30
abr. 2004.
As trilhas pavimentadas (Fig. 10) recebem um calçamento, que pode ser feito com
diversos materiais, pedra, madeira e, até mesmo, concreto. O ideal é que o material
cause um baixo impacto visual e seja eficaz para reduzir os impactos ambientais
causados com a abertura da mesma e pelos visitantes. Esse tipo de trilha já está sendo
bem aceito e é muito utilizado pelos países que possuem um bom desenvolvimento no
ecoturismo. No Brasil encontramos poucas trilhas pavimentadas, mesmo havendo
constantes problemas de erosão e compactação do solo.

Fig. 10: Trecho pavimentado na Trilha Inca - Peru. Fonte: Fotos da autora.
O projeto da trilha deve utilizar as intervenções simples e de fácil manutenção, que sirvam para
minimizar os problemas mais comuns nos caminhos. Normalmente a necessidade de obras em

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trilhas é ocasionada por drenagem, sobreposição de corpos d’água e contenção de erosão.
Mas também existem as intervenções dispostas em algumas categorias voltadas para dar
suporte ao visitante e ao turista, como por exemplo, a instalação de guarda-corpos, as placas
de sinalização e interpretativas, as pontes, os mirantes, entre outros. Serão exemplificadas
algumas das soluções técnicas:
• Drenagem
Já foi visto que a trilha altera a circulação da água no solo, por isso são necessárias obras de
drenagem que reorganizem o percurso da água. Nos pontos mais problemáticos, pode-se
construir canais, que cruzam perpendicularmente ou diagonalmente a trilha, e valas ou barreiras
oblíquas à superfície da trilha, para facilitar o escoamento da água (Fig. 11-12).

Fig. 11: Canais, valas e barreiras. Disponível em: Fig. 12: Canal de escoamento de água perpendicular
<http://www.wwf.org.br/publicacoes/ à trilha. Fonte: disponível
manual_ecoturismo.htm>. em:<http://www.odla.nu/arkiv/rec/91-87896-55-
Acesso em: 15 jun. 2004 9.shtml>.
Acesso em: 30 abr. 2004.

• Sobreposição dos corpos d’água


É necessária a instalação de pontes nos locais da trilha que são cortados por rios ou riachos.
Quando são apenas áreas alagadas, pode-se usar blocos de pedra ou fatias de troncos
dispostos seqüencialmente. Outra opção são tablados ou estrados que permitem uma travessia
segura (Fig. 13-14).

Fig. 13: Pedras, troncos, tablados ou estrados para Fig. 14: Parque Nacional de
ultrapassagem de alagados. Disponível em: Vorpommersche Boddenlandschaft -
<http://www.wwf.org.br/publicacoes/ Alemanha. Tablado para ultrapassagem de
anual_ecoturismo.htm>. Acesso em: 15 jun. 2004. área alagada. Fonte: disponível em:
<http://www.nationalpark-
vorpommersche-boddenlandschaft.de/>.
Acesso em: 30 abr. 2004.

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• Contenção de erosão
Os degraus e as paredes são as duas soluções para conter a erosão, sendo que os degraus é
a solução mais difícil de executar e deve ser evitada. Mas caso não haja alternativa, deve-se
evitar trechos longos de degraus em linhas retas e em terrenos ao lado de quedas abruptas.
Eles podem ser feitos com pedras, troncos e pranchas de madeira (Fig. 15-16).
As construções de paredes de contenção em declives previnem a erosão deslizante da trilha e
a deposição de material carreado da encosta. Elas também podem ser executadas com pedras,
troncos ou pranchas de madeira (Fig. 17-18).

Fig. 15: Tipo de degraus utilizados em trilhas. Fig. 16: Parque Nacional de Acádia - EUA. Trilha feita com
Disponível em: degraus em pedra. Fonte: disponível em:
<http://www.wwf.org.br/publicacoes/ <http://www.nps.gov/acad/feeprojects.htm>.
manual_ecoturismo.htm>. Acesso em: 15 jun. Acesso em: 15 jun. 2004.
2004.

Fig. 17: Paredes de contenção. Disponível em: Fig. 18: Parque Nacional da Serra
<http://www.wwf.org.br/publicacoes/manual_ecoturismo.htm>. dos Órgãos – Brasil. Contenção de
Acesso em: 15 jun. 2004. erosão “abaixo” da trilha com o uso
de tronco de madeira. Fonte: foto
da autora - novembro 2004.

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A pesquisa no Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Sede de Teresópolis
A metodologia aplicada nesta pesquisa teve início com um levantamento de projetos, plantas,
mapas e referências bibliográficas sobre a ambiência da Sede de Teresópolis do PARNASO,
mas a análise dos dados foi concentrada no potencial para visitação da micro-ambiência de
lazer Trilha Mozart Catão.
Foram realizados trabalhos de campo, com levantamento fotográfico, observações no local,
croquis e pesquisa com o gestor e com 5% dos visitantes de um mês. A partir disso, foram
feitas descrições para uma compreensão da ambiência de acordo com os conceitos de Lynch,
aplicação do conceito de lazer de Dumazedier e análise dos questionários feitos com os
visitantes para diagnosticar se os equipamentos são eficazes na proteção do patrimônio natural,
se estão apoiando e orientando os visitantes, e se estão dando sustentabilidade econômica e
ecológica para a área protegida.

O conceito de lazer
Baseado na função dos equipamentos de “atender às necessidades do visitante e do turista” é
necessário entender o que as pessoas buscam na visita a uma Unidade de Conservação. Na
maior parte das vezes elas buscam o lazer, devido ao cotidiano da sociedade ser marcado por
obrigações e compromissos. Segundo Dumazedier (1994, p. 49-50), lazer é:
“Uma condição para se usar o tempo de viver. É a aspiração ao direito de “viver por viver”, em
interdependência com as normas legítimas do “dever-ser” que a produção das coisas e a
sociedade dos homens impõem. Lazer é um modo de expressão mais completo de si, pelo corpo,
sentidos, sentimentos, imaginação, espírito: é o tempo no qual explodimos”.
As pessoas precisam de tempo para poder desenvolver o seu lazer, ou seja, para produzir
alguma coisa para elas próprias. Esse tempo é definido como “’tempo social ipsativo’ que
tem como função permitir todas as formas possíveis da expressão individual ou coletiva
de si, para si; independente da participação institucional que o funcionamento utilitário da
sociedade impõe” (DUMAZEDIER,1994, p. 48).
Naturalmente, o lazer produz determinados resultados como descanso, divertimento,
relacionamentos sociais, desenvolvimento da personalidade, entre outros, que são classificados
como as “funções do lazer” e que podem ser divididas em (DUMAZEDIER apud MARTINS,
2003, p. 53-55):
1 - As Funções Psicossociais
1.1 Função de descanso - esta é a principal função do lazer, poder-se-ia dizer a mais
necessária, uma vez que ela permite a recuperação do cansaço mental e físico.
1.2 Função de diversão – completa a função de descanso, dando-lhe um conteúdo mais dinâmico.

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1.3 Função de desenvolvimento - depois de uma jornada de trabalho, o indivíduo ainda guarda
energia suficiente para lançar-se numa atividade intelectual, artística ou física.
2 - As Funções Sociais
2.1 Função de socialização – horas excessivas de trabalho e as cidades grandes levam ao
distanciamento entre as pessoas. O lazer permite uma reaproximação social.
2.2 Função simbólica – o lazer pode ser um símbolo que determina a classe social de um
indivíduo e também sua personalidade.
2.3 Função terapêutica – está relacionada com as funções de descanso e divertimento. A
primeira função age fisicamente sobre o indivíduo e a segunda psicologicamente. Ambas fazem
com que as pessoas preservem um bom estado de saúde.

O conceito de ambiência
O lazer acontece em determinadas ambiências que requerem elementos específicos para
surpreender o visitante e o turista, pois as pessoas procuram em seu tempo livre sair do
cotidiano e romper com as barreiras sociais. Entretanto, elas também procuram um
mínimo de segurança e conforto, por isso a ambiência de lazer e turismo exige elementos
antagônicos que se integrem entre si. De um lado são os elementos que façam o usuário
esquecer de casa, e de outro que o façam se sentir em casa. Além disso, eles também
precisam estar contextualizados com a ambiência onde estão, ou seja, estar inseridos no
lugar, na paisagem, na cultura local, possuir valores simbólicos e significativos para as
pessoas que moram no local.
Para isso, é necessário compreender a ambiência onde o equipamento será implantado. O
autor Lynch (1985) afirma que para se compreender a totalidade de qualquer lugar, é preciso
considerá-lo como um todo, formado por diversas partes: ambiental, sócio-cultural, econômica,
entre outras. As formas dos lugares compreendem a sua disposição espacial, ou seja, o uso
dos lugares, o fluxo de pessoas, os bens, as informações, e as características físicas que
modificam o espaço de algum modo expressivo a respeito dessas ações como são os
fechamentos, as superfícies, os canais, os ambientes e os objetos, e inclui também as trocas
que se dão nessas distribuições espaciais, assim como a percepção e o controle delas.
Como diz Norberg-Schulz (1980) o acúmulo desses elementos constrói a ambiência, a qual, em
outras palavras, é a totalidade do lugar (LYNCH, 1985) e deve ser percebida através dos sinais
que são projetados com o objetivo de traduzir a ambiência para o usuário.

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A seguir está o diagnostico da pesquisa e as diretrizes a serem aplicadas para que o
equipamento seja implantado corretamente e utilizado pelos visitantes com toda sua
potencialidade.
Diagnóstico da micro-ambiência com potencial para visitação a Trilha Mozart Catão
• Características Físicas (para fotos ver croqui p. 15)
A Trilha Mozart Catão tem início na via Principal em torno de 1.600 metros da entrada do
parque (Fig. 19). Ela sobe suavemente a extensão de 1 quilômetro até a altitude de
1.100 metros, chegando no mirante Alexandre Oliveira, de onde avista-se a cidade de
Teresópolis.
É uma trilha de forma linear e auto-guiada, com grau de dificuldade classificada como
caminhada leve, possuindo características para ser interpretativa.
Para ajudar os visitantes na subida e para conter a erosão no piso nos primeiros metros
de trilha, há patamares inclinados suavemente contidos por troncos de madeira, que são
fixados na terra com vergalhões (Fig. 20). Em alguns trechos existem troncos de madeira,
com maior diâmetro que os primeiros, que são fixados paralelos à trilha com a função de
conter o declive para prevenir a erosão e o depósito de material carreado da encosta.
Mais adiante encontramos duas pequenas pontes de concreto (Fig. 21), ambas com uma
proteção baixa também em concreto.
O percurso continua por patamares inclinados suavemente contidos por troncos de
madeira (Fig. 20).
Próximo ao final da trilha há uma contenção em pedra (Fig. 22) que diminui o alagamento
da trilha causado pela água que desce da encosta, mas mesmo com este equipamento o
local continua alagado.
Na observamos que há um processo erosivo e mais a frente podemos ver alguns trechos
da trilha com pedras irregulares assentadas no piso, contribuindo para solucionar o
problema (Fig. 23).
No fim do seu trajeto o visitante chega ao Mirante Alexandre Oliveira, que é um equipamento de
atração. Ao chegar no mirante, há uma mesa com bancos, sendo todos de concreto (Fig. 24).
Ele possui dois níveis, um na altura do final da trilha e o outro um pouco mais baixo. O nível
inferior é muito estreito e não forma uma ambiência, há uma escada com vestígios de que
existiu um corrimão. O mirante possui estrutura e pavimentação toda em concreto armado e é
cercado com guarda-corpo de tubo metálico pintado em verde escuro, e está danificado em um
trecho.

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• Controle
Na entrada da Trilha Mozart Catão há uma pequena porteira de madeira (Fig. 19) que
marca a transição da via Principal para dentro da mata. Este elemento intimida o visitante
e controla o vandalismo, pois faz com que a pessoa perceba que está entrando em uma
área onde é necessário um comportamento mais contido.
Ao longo da trilha, percebemos um cuidado em sua implantação, pois existem duas
pontes de concreto com guarda-corpo sobre os corpos d`água, degraus feitos em tronco
de madeira e pavimentação de certos trechos com pedras. Esses elementos facilitam a
caminhada e transmitem um sentimento de conforto e segurança para o visitante, fazendo
com que ele use a ambiência sem causar depredação.
Ao chegar no final da trilha, onde está o mirante, o visitante já não possui esta mesma
sensação, pois alguns dos equipamentos instalados estão depredados, provavelmente, por
não terem sido executados com material adequado para uma ambiência inserida na mata.
• Informação
O início da Trilha Mozart Catão é marcado por uma Placa Direcional de Identificação
Local (Fig. 25) e por uma Placa Interpretativa de Patrimônio Natural. Estas placas são
padronizadas de acordo com as outras instaladas no parque.
Durante o percurso da trilha não há qualquer tipo de Placa Direcional de Trilhas ou Placa
Interpretativa em Trilhas. Mas no mirante, há uma placa de metal fixada em um pilar de
concreto (Fig. 24), instalada em 1999, que homenageia os montanhistas brasileiros Mozart
Catão e Alexandre Oliveira, e uma Placa Interpretativa de Patrimônio Natural.
• Uso / Função do lazer
É uma micro-ambiência de lazer voltada para atividades esportivas, pois é usada
para fazer caminhada pelos visitantes que buscam um maior contato com a
natureza. Ela reúne visitantes que pertencem a uma mesma “tribo” e por isso está
relacionada com a função simbólica do lazer. Também está relacionada com a
função do lazer de diversão, pois trata-se de uma ambiência inserida na mata, que
atende às expectativas dos visitantes extensivos que gostam de um certo conforto e
facilidade de acesso, proporcionando um descanso mental por meio de uma
atividade dinâmica. A função terapêutica do lazer também está presente, pois
preserva um bom estado de saúde ao indivíduo.
• Fluxo das pessoas
Mesmo havendo um grande fluxo de carros na via Principal para chega a
atração do Platô da Barragem, são raras as pessoas que param seus veículos ao

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longo desta via e fazem a Trilha Mozart Catão. O fluxo de pessoas neste local fica
por conta dos poucos pedestres que fazem a via Principal a pé e se interessam em
fazer uma trilha.
Dos 150 visitantes que responderam o questionário, 64 disseram que vão ao
PARNASO para fazer trilha e apenas 14 fizeram a Mozart Catão, o que confirma o
baixo fluxo de pessoas nesta micro-ambiência.
As análises dos visitantes para os equipamentos
Os visitantes que freqüentam o parque uma vez por mês não fazem a trilha
Mozart Catão, por isso não puderam analisá-la.
− Trilha
A maioria dos visitantes que estavam passeando no parque pela primeira vez
e que o freqüentam esporadicamente analisou a trilha como ótima, no entanto eles
identificaram os pontos negativos no percurso.
Concluímos que eles se sentem seguros e estão satisfeitos com os diversos
tipos de pavimentação existentes.
− Sinalização
Os dois tipos de freqüentadores que visitam o parque e fazem esta trilha acham
que a sinalização é razoável. Quando perguntamos o que precisa melhorar a maioria
deles sugeriu que no início do percurso deve haver uma Placa Direcional de Mapa de
Trilhas (PDI.9) informando a distância a ser percorrida e o grau de dificuldade. Eles
acreditam que muitas pessoas deixam de fazer a trilha por não estarem
acostumadas e terem medo de que seja muito extensa e cansativa.
Por meio da sugestão dada pelos visitantes, concluímos que eles são
pessoas acostumadas a fazer trilhas e já viram este tipo de sinalização em outros
parques. Por isso, foram críticos e avaliaram-na como razoável.
− Assentos
A maioria dos dois tipos de freqüentadores que fazem a trilha identificou que
não há assentos na Trilha Mozart Catão.
Ao perguntarmos se gostariam que fossem instalados assentos no percurso
da trilha, a maioria disse que não é necessário devido ao percurso ser curto e no
final existir o mirante que possui assentos. Concluímos que os visitantes ficam
satisfeitos em chegar no mirante e poder descansar apreciando a vista.

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O diagnóstico demonstrou que o principal problema desta micro-ambiência são as
sinalizações, tanto para os freqüentadores esporádicos quanto para os que estavam no
parque pela primeira vez.

Diretrizes traçadas para potencializar a visitação na micro-ambiência da Trilha Mozart Catão


• Diretrizes Principais
A caminhada por dentro da mata, a percepção e a observação da vegetação e da
fauna são as atividades desenvolvidas nesta micro-ambiência, que estão relacionadas
com a função do lazer de diversão. Por ser uma micro-ambiência que reúne pessoas com
o desejo comum de ter um maior contato com a natureza ela também possui a função
simbólica do lazer. Para intensificar estas duas funções do lazer a trilha Mozart Catão
deve receber:
− uma Placa Direcional Mapa de Trilha para incentivar um maior número de
visitantes a fazer a trilha e torná-la a atração da Sede Teresópolis mais
usada.
− intervenções para melhorar a drenagem, como canal lateral de escoamento
que garante a preservação do traçado da trilha, evitando que os visitantes
criem seus próprios caminhos. Esses equipamentos devem ser aplicados
em alguns trechos da trilha, para garantir a qualidade do lazer e a
preservação do patrimônio natural.
Aproveitando que os visitantes que usam esta trilha são extensivos, ou seja,
gostam de facilidades, propomos que seja inserida a função do lazer de desenvolvimento,
por meio de informações que são passadas aos visitantes durante o percurso, fazendo
um trabalho de educação ambiental; para isso é necessário:
− instalar Placas Interpretativas em Trilhas no percurso da trilha. Sugerimos
que a interpretação esteja relacionada com o montanhismo, já que a trilha e
o mirante possuem o nome de dois montanhistas brasileiros.

• Diretrizes Secundárias
Os trechos que possuem escadas feitas com troncos de madeira devem ter
corrimões também de madeira, para servir de apoio e facilitar a subida dos visitantes.
Fazer a manutenção dos equipamentos existentes no mirante. Outra proposta é
tornar o mirante mais integrado à ambiência, que está inserida em uma mata fechada.
Isso pode ser feito por meio de utilização de novos materiais para os assentos, o guarda-
corpo e o piso.

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Croqui esquemático e fotos da Trilha Mozart Catão.
Fonte: Fotos da autora e croqui desenhado a partir do levantamento de campo feito com GPS ambos
realizados pela autora em nov. 2004.

Referências Bibliográficas
1. ____. Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo; EMBRATUR; UNIÃO
EUROPÉIA. Manual de ecoturismo: assistência técnica ao setor do turismo. Brasília, 1994.
2. MITRAUD, Sylvia (Org.). Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas
para um planejamento responsável. Brasília: WWF Brasil, 2003. Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/ publicacoes/manual_ecoturismo.htm>. Acesso em: 15 jun. 2004.
3. STRUMINSKI, Edson. Parque Estadual Pico do Marumbi. Curitiba: Editora UFPR, 2001.
4. PAGANI, Maria Inez et al. As trilhas interpretativas da natureza e o ecoturismo. In: LEMOS,
Amália (Org.). Turismo impactos socioambientais. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 151-163.
5. DUMAZEDIER, Jofre. A revolução cultural do tempo livre. Tradução de Luiz Octávio
de Lima Camargo. São Paulo: Studio Nobel, 1994.
6. LYNCH, Kevin. La buena forma de la ciudad. Tradução de Eduard Mira. Barcelona:
Editorial Gustavo Gili, 1985.
7. NORBERG-SCHULZ, Christian. Genius Loci: towards a phenomenology of
architecture. London: Academy Editions, 1980.

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