You are on page 1of 13

Avaliação da Presença e Importância dos

Morcegos no Vale do Tua. Possíveis Efeitos da


Construção de uma Barragem na sua População
Bela Irina Castro ª

ª Mestrado em Engª do Ambiente, 24625 – Diagnóstico Ambiental, Universidade de Trás-os-Montes Alto Douro, Vila Real

Resumo: Com o aumento da dependência energética, o homem tem vindo a procurar diferentes métodos
de produção de energia alternativa (energias renováveis) ao petróleo com a intenção de diminuir a
dependência actual deste. O homem aumenta, deste modo, a pressão que exerce sobre os recursos
naturais. Esse aumento tem por vezes enormes perdas de biodiversidade, sendo que, o homem vê-se
obrigado a encontrar metodologias que lhe permitam prever o impacte dos seus projectos antes da sua
implementação. Neste trabalho pretende-se apresentar um método de avaliação da importância ecológica
dos morcegos no vale do rio Tua, para o qual se encontra em estudo a possibilidade de implementação de
uma barragem. Com base nas característica ecológicas dos morcegos, pretende-se elaborar um plano que
depois de aplicado no terreno, nos permita contabilizar as perdas e elaborar medidas compensatórias.

Palavras – Chave: Morcegos, Energias Renováveis, Barragens, Diagnóstico Ambiental.

Introdução

A problemática das alterações climáticas inspirou a criação de uma Estratégia Nacional para a Energia
aprovada em Outubro de 2005, com os objectivos principais de criar mais concorrência e promover a
sustentabilidade ambiental (Resolução do Concelho de Ministros nº50/2007) visando assim a redução da
dependência externa através do aumento da produção endógena (Direcção Geral de Geologia e Energia,
2006) e da promoção da concorrência nos mercados energéticos (Resolução do Conselho de Ministros
nº50/2007).
Tendo em conta estes objectivos o governo reviu metas anteriormente estabelecidas, passando assim a
produção de electricidade com base em energias renováveis de 39% para 45% do consumo até 2010
(Ministro da Economia e Inovação, 2008).
Após os grandes investimentos em energia eólica, o Governo Português aposta agora na energia hídrica,
como a grande prioridade, com a criação do Programa Nacional de Barragem com Elevado Potencial
Hidroeléctrico.
Portugal é um dos países da União Europeia com maior potencial hídrico por explorar e maior
dependência energética do exterior, mas também dos que menos cresceu em capacidade hídrica nos
últimos 30 anos (Ministro da Economia e Inovação, 2008). Devido a este défice no crescimento o
Governo aposta, no PNBEPH pretendendo que até 2020 se supere os 7.000 MW de potencia hídrica
instalada, permitindo a Portugal utilizar 70% do seu potencial contra os pouco mais de 40% actuais
(Ministro da Economia e Inovação, 2008 ).
Com a concessão de 10 novas barragens, o Governo poderá encaixar em 2008 uma receita aproximada de
283 milhões de euros, o equivalente a 0,2 por cento da riqueza produzida (Público/Lusa, 2008), entre elas
a barragem de Foz Tua, que já rendeu ao estado 53 milhões de euros (Público/Lusa, 2008).
Este aproveitamento ficará implantado nos concelhos de Alijó e Carrazeda de Ansiães, distritos de Vila
Real e Bragança, respectivamente. No desenho A8.1, em anexo deste trabalho, apresenta-se a localização
e implantação do aproveitamento (PNBEPH - Anexo 1, 2007).
Por se tratar de um projecto susceptível de produzir efeitos significativos no ambiente, a construção do
aproveitamento hidroeléctrico de Foz Tua está sujeito previamente à autorização ou licenciamento a uma
Avaliação de Impacte Ambiental (Número Nacional de AIA: 1916) (Agência Portuguesa do Ambiente,
2008) onde, no procedimento do AIA, é elaborado um Estudo de Impacto Ambiental. No caso da
barragem de Foz Tua, projecto adjudicado à EDP, o EIA vai definir a cota de construção da infra-
estrutura (Notícias Sapo/Lusa, 2008).

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 1


No entanto o inicio da construção da barragem do Tua foi adiado para meados de 2010, um ano depois da
data prevista inicialmente, visto haver uma necessidade de estudos complementares que irão introduzir
elementos no EIA, nomeadamente na área da ecologia, surgindo assim como adiamento ao processo.
Neste caso de estudo em particular a necessidade de elaboração de estudos complementares provêm de
indícios da presença de morcegos durante a realização do EIA no Vale do Tua.
Apesar de na cultura ocidental o morcego estar frequentemente associado a uma simbologia de morte e
doença, estes pequenos mamíferos capazes de voar, apresentam uma importância ecológica desconhecida
para a maioria das populações. Os morcegos são por excelência, polinizadores de flores nocturnas,
apresentando assim uma inestimável importância para a manutenção ambiental e regeneração natural de
florestas. Por outro lado, os morcegos insectívoros são de extrema importância no controle de pragas
agrícolas, pois chegam a consumir mais de metade do seu peso em insectos, o que no nosso pais se pode
traduzir num consumo diário de dezenas de toneladas de insectos, resultando num consumo anual de
milhares de toneladas de insectos (Bicho, 1994).
O Guano, nome dado as fezes do morcegos quando estás se acumulam, pode ser usado como um
excelente fertilizante devido aos seus altos níveis de nitrogénio. Um solo deficiente em M.O pode tornar-
se mais produtivo com a adição de Guano (Wikipédia, 2008).
Em Portugal continental encontram-se 24 das cerca de 30 espécies de morcegos existentes na Europa,
distribuindo-se pelas famílias Vespertilionidae, Rhinolophidae, Miniopteridae e Molossidae, e que
constituem 40% da fauna de mamíferos terrestres existente no país (Rebelo & Rainho, 2003), os
morcegos constituem assim um grupo muito vulnerável (Bicho, 1994).
Certas características biológicas dos morcegos, como o facto de só terem uma cria por ano, uma
maturação sexual tardia e uma grande longevidade, tornam-nos muito vulneráveis e susceptíveis a
ameaças de vários tipos.
A destruição dos abrigos e a perturbação de morcegos cavernícolas nos seus abrigos têm sido apontadas
como dos principais factores de ameaça responsáveis pelo declínio de algumas populações de morcegos.
A destruição de biótipos de alimentação e a utilização exagerada de pesticidas nestes, principalmente
durante as épocas de criação constituem igualmente importantes factores de ameaça a ter em conta. A
conjugação destes factores conduz a que 9 espécies sejam consideradas "Em Perigo" pelo Livro
Vermelho dos Vertebrados Terrestres de Portugal. As espécies deste grupo estão também protegidas por
lei (Convenção de Berna, Convenção de Bona, Directiva Habitats e Acordo para a Conservação dos
Morcegos na Europa), o que demonstra a responsabilidade que nos cabe na preservação deste grupo a
nível nacional e internacional. Também os seus abrigos e áreas de dependência (e.g. áreas de
alimentação) estão protegidos ao abrigo da Directiva Habitats (Rebelo & Rainho, 2003).
Por estes motivos é necessária uma identificação e avaliação dos abrigos na área.
O estudo deverá ter os seguintes objectivos:
• Obtenção de uma lista de espécies de morcegos existentes na área de influencia da barragem;
• Localização dos abrigos utilizados pelos morcegos na área e nas suas imediações;
• Determinação dos biótipos de alimentação preferenciais dos morcegos presentes na área;
• Determinação de medidas de mitigação que promovam a conservação dos morcegos na área,
(Lourenço, 2000).

Área
O rio Tua é um afluente da margem direita do rio Douro que resulta da junção de outros dois rio, o Tuela
e o Rabaçal. A bacia do Tua apresenta uma total de 3822.0 km 2 (PNBEPH - Memoria, 2007). No que
concerne à presença de espécies com estatuto de conservação nacional elevado, foi confirmada a
presença de Bordalo (Squalius alburnoides) e Verdemã do Norte (Cobitis calderoni), sendo ainda
potencial a presença de Panjorca (Chondrostoma arcasií). Entre as espécies insuficientemente cobertas
pela Rede Natura 2000 foi apenas confirmada a presença da planta Holcus setiglumis duriensis, um
endemismo ibérico, e provável a ocorrência do Lobo (Canis lupus signatus) (PNBEPH - Anexo 1, 2007).

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 2


1 2

Fig 1: 1-Chondrostoma arcasií, 2- Squalius alburnoides, 3- Cobitis calderoni

A área de albufeira está situada na unidade paisagística do Douro Vinhateiro, marcada pela forte
influência humana associada aos socalcos, à vinha e a produção de vinho. É uma paisagem única e
singular que, pelo seu valor, foi incluída na lista de Património da Humanidade da UNESCO. No total do
coberto vegetal da área de albufeira, 18,6% são agricultura com espaços naturais, 11,7% vinhas, 20,5%
olivais e 13,6% florestas mistas.
Quadro 1 – Ocupação do Solo na Área de Albufeira

Área
Ocupação do Solo na Área de Albufeira
(ha) (%)
Agricultura com espaços naturais 214,03 18,6
Culturas anuais associadas às culturas permanentes 54,32 4,8
Espaços de actividades industriais, comerciais e de 0,32 0,03
equipamentos gerais
Espaços Florestais degradados, cortes e novas plantações 136,68 11,9
Florestas de folhosas 56,55 4,9
Florestas de resinosas 9,3 0,8
Florestas mistas 156,79 13,6
Linhas de água 22,04 1,9
Matos 52,66 4,6
Olivais 235,5 20,5
Pastagens naturais 25,44 2,2
Sistemas agro-florestais 48,1 4,2
Vinhas 135,11 11,7
Áreas ardidas 4,07 0,4
Total 1151,4 100
Fonte: PNBEPH - Anexo 1, 2007

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 3


Fig 2: Vale do rio Tua

Fig 3: Rio Tua

Apesar de o empreendimento não apresentar sobreposição com qualquer área classificada (PNBEPH -
Anexo 1, 2007) é importante realçar a presença da linha ferroviária do Tua, que liga a estação do Tua à
estação de Bragança, numa distância total de 133,8 km. A história da linha remota a 1878, quando foram
apresentados dois projectos distintos para a construção de uma via-férrea no Vale do Tua, um pela
margem direita e outro pela margem esquerda, sendo este último o que viria a ganhar a corrida pelas
mãos do engenheiro António Pinheiro. Durante a sua construção em apenas 10 km, a partir da estação do
Tua, foram necessários criar cinco túneis (Presas, Tralhariz, Fragas Más I e II e Falcoeira) (Wikipédia,
2008). Estes serão objectos de estudo por se apresentarem como atractivos abrigos para morcegos
arborícolas e possivelmente para morcegos cavernícolas, tanto para alimentação como durante a época de
criação ou de hibernação, embora se admita que qualquer espécie de morcego ocorrente em território
nacional não está estritamente dependentes de linhas de água (PNBEPH - Memoria, 2007).

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 4


Fig 4: Rio Tua e Túneis de Presas, Tralhariz, Fragas Más I e II e Falcoeira, de jusante para montante respectivamente.

Metodologia
1 - Prospecção de abrigos
A inventariação de abrigos na área de influencia da barragem deverá ser efectuada através da pesquisa de
locais que, pelas suas característica, pudessem ser potenciais abrigos de morcegos (Pereira, 2000). Sendo
que neste caso, os túneis da linha ferroviária apresentam-se como bons locais de abrigo por serem
escuros e pouco perturbados. Contudo, é de realçar que recorrendo a esta metodologia, a probabilidade de
se encontra abrigos de espécies cavernícolas é bastante superior à de encontrar espécies arborícolas, visto
estás abrigarem-se no interior de troncos de árvores o que torna extremamente difícil localizar o seu
abrigo (Pereira, 2000).
É de salientar que as observações realizadas no interior dos abrigos podem apresentar algumas limitações
(Rodrigues et al., 2003):

(1) Irregularidade na utilização dos abrigos em anos diferentes - apesar da maioria das espécies ter
tendência para utilizar os mesmos abrigos de hibernação e criação de ano para ano, há
numerosas excepções. A ausência de indivíduos num abrigo que está geralmente ocupado pode
ser causada por uma alteração circunstancial na ocupação do abrigo e não por um declínio da
população.
(2) Movimentos entre abrigos dentro das épocas de criação e hibernação - num programa de
monitorização tem de se assumir que o número de morcegos dentro de cada uma destas épocas
permanece aproximadamente constante. No entanto, há evidência de que, especialmente durante
o período de hibernação e sobretudo em anos pouco frios, podem ocorrer movimentos entre
abrigos. A mudança de abrigos pode também ter origem na perturbação do abrigo em dias
anteriores à visita.
(3) Alterações na localização das colónias dentro do sistema de grutas - em abrigos de grandes
dimensões, os morcegos podem ocupar locais diferentes em anos consecutivos. Este facto pode
conduzir a uma subestimativa do número de morcegos presentes, sobretudo em situações em que
algumas zonas do abrigo sejam de difícil acesso.
(4) Pequena precisão de algumas contagens – as contagens directas podem por vezes ser pouco
precisas (particularmente quando os animais estão muito dispersos, muito altos ou muito
activos).

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 5


É necessária ter em conta que estudos durante o Inverno (época de hibernação) implica uma incompleta
classificação dos abrigos e determinação do biótipo de alimentação. No entanto os abrigos que
apresentem claros indícios de importância para os morcegos noutras épocas do ano serão, obviamente,
revisitados (Pereira, 2000).
Durante a prospecção do túnel no inverno deverá trabalhar-se com o mais cuidado e silêncio possível
visto que um distúrbio neste período poderá ser fatal para toda a colónia, pois uma perturbação dos
indivíduos leva ao consumo da energia acumulada durante o seu período de actividade, energia essa
necessária para a sua subsistência durante a hibernação (Bicho, 1994).
Por tal motivo, sempre que detectados morcegos, mesmo em época de cria, deve ser feito o registo
fotográfico o mais rapidamente possível. O registo fotográfico permite a identificação e contagem dos
indivíduos em colónia, no caso de colónias muito grandes deve proceder-se a estimativa do efectivo
sobrepondo uma grelha de acetato e determinando o numero médio de indivíduos presentes numa
quadricula da grelha (Rodrigues et al., 2003).

Fig 5: Túnel de Tralhariz

Fig 6: Prospecção de Fissuras nos Túneis

2 - Capturas
Complementando a pesquisa de abrigos, deverão ser colocadas redes Japonesas para captura de morcegos
em curso de água e durante o seu período de alimentação. As redes colocadas deverão estar
transversalmente, seccionado o leito do rio, de modo a que os morcego aos se deslocarem ao longo deste
não as detectem e fiquem presos. Os cursos de água escolhidos devem obedecer a uma serie de
característica tais como: águas calmas, formando um espelho de água; largura cerca de 10-15 cm, de
modo a que a rede atinja as duas margens, sem vegetação muito densa sobre o leito; pouco profundos,
facilitando a movimentação no rio de modo a permitir que os indivíduos sejam retirados das redes
rapidamente, diminuindo a perturbação a que estão sujeitos (Bicho, 1994). De cada animal capturado
deverá ser registado o seu peso (em g), o comprimento dos antebraços e do seu corpo (em mm) e

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 6


determinado o seu sexo, para uma correcta identificação da espécie. É também importante registar a hora
e local de captura para definição de micro-habitats. Nos morcegos capturados poderão ainda ser
colocados colares coloridos , no antebraço, com a finalidade de amostrar a abundância e uso do espaço
(Pathek et al., 2007).

Fig 7: Colares para antebraço dos morcegos

3 – Determinação do Biótipo de Alimentação


Para a determinação o biótipo de alimentação devem ser estabelecidas estações de amostragem na linha.
Cada estação deve englobar os biótopo mais representativos da área, que devem ser amostrados
periodicamente durante as primeiras 3 horas após o ocaso do sol. A amostragem deve consistir na
realização de percursos nos quais as espécies serão localizadas com o auxilio de um detector de ultra-
sons. O facto dos morcegos emitirem pulsos de forma continua, para se orientarem e capturarem presas
durante a noite, permite a sua detecção com relativa facilidade, através desta metodologia (Loureço,
2000). A utilização do detector baseia-se na capacidade de ecolocação. Os morcegos emitem ondas de
alta frequências através das vibrações das cordas vocais criando impulsos sonoros que são emitidos
através da boca ou estruturas nasal. Quando as ondas interceptam um objecto, criam ecos que são
detectados pelas orelhas dos morcegos. Considerando que, na maior parte dos casos as frequências
principal dos pulsos é característica da espécie, é possível a sua identificação. Nos transectos deveram ser
contados bat-passes e feedind buzzes, a contagem do numero de bat-passes permite calcular o índice de
actividade (Pereira, 2000). Este método passivo é vantajoso pois não causa qualquer stress ou lesão aos
animais detectados (Pereira, 2000).

4 - Variáveis ambientais
De acordo com os seus hábitos alimentares e preferências de abrigos, os morcegos podem ser
encontrados em diferentes micro-habitats, que são as divisões de habitat que possuem condições de
temperatura, humidade, vegetação, alimento entre outras característica óptimas (Pathek et al., 2007).
Por exemplo, a temperatura é um factor importante para o morcego, podendo ser limitante em algumas
espécies (Lourenço & Palmeirim, 2003) ao adquirimos estas informações, poderemos traçar numa
relação entre as necessidade ecológicas da espécie e as condições dos abrigos.
Estas variáveis devem ser medidas dentro dos túneis, preferencialmente nos 5 primeiros e últimos metros
do túnel e no seu centro.

Fig 8: Medição das variáveis ambientais nos primeiros 5 metros do túnel em prospecção.

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 7


5 - Variáveis físicas
A infraestrutura que serve de abrigo aos morcegos deve também ser alvo de uma análise. No caso dos
túneis, devem ser registadas as suas dimensões, podendo estás estar relacionadas com as preferências dos
morcegos, por exemplo, na saída de campo efectuada no dia 7 de Novembro de 2008 pelo Laboratório de
Ecologia Aplicada da Universidade de Trás – os – Montes e Alto Douro ao Vale do rio Tua, foi possível
determinar que existia uma maior procura por parte dos morcegos nos túneis mais compridos. Este dado
pode estar relacionado com intensidade de luz incidente no interior do túnel, pelo que se deverá também
registar a mesma.

6- Indícios
A identificação das suas fezes (Guano) é também extremamente importante. A sua identificação no local
é um indicio de que o local é frequentado por morcegos. As fezes devem ser colectadas e levadas para
laboratório para análise. Analisadas as fezes é possível determinar a alimentação do morcego e assim o
seu biótipo de alimentação (Pathek et al., 2007).

Limitações da metodologia
Quando usado o método de captura, por vezes a taxa de captura de morcegos nas redes é reduzida, devido
ao complexo sistema de ecolocação deste animal que lhes, permite muitas vezes, detectar e evitar a rede
(Pereira, 2000). Ao mesmo tempo as técnicas de capturas são inviabilizadas na época de hibernação. No
que toca ao uso de detectores, existem espécies que não são facilmente localizadas com o detector de
ultra sons, como é o caso das espécies que emitem a frequências altas ou a baixas. Por outro lado, outra
dificuldade reside no facto de algumas espécies emitirem ultra-sons muitos semelhantes tornando difícil a
sua distinção (Lourenço, 2000). A própria estrutura do túnel, poderá originar ecos inviabilizando está
técnica.

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 8


Relação com outros projectos e resultados previstos.

A proposta de construção a uma cota de 195 metros apresentada pela EDP, tem gerado alguma polémica.
Após algumas reuniões a cota de 170 metros parece ser a mais consensual entre os autarcas dos
concelhos envolvidos (Murça, Alijó, Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães) por representar o
alagamento de menor área agrícola (vinha e olival), bem como alguns acessos rodoviários, no entanto por
analogia com o Relatório Final de Acções de Conservação de Morcegos na área de Regolfo de Alqueva +
Pedrogão, realizado pelo ICN em Dezembro de 2003, independentemente da cota, as diferentes fases de
implementação do projecto do Foz Tua irão originar diferentes impactos negativos sobre os morcegos.
Quer ao nível dos abrigos, independentemente das suas característica, quer na diminuição da diversidade
de habitats pela destruição da área florestal e habitats ribeirinhos à conversão de toda área num sistema
lêntico. Os túneis da linha férrea do Tua, atractivos abrigos ficarão submersos, independentemente da
cota que seja definida para construção. É necessário ter também em conta que a destruição das galerias
ripícolas, bem como de outras estruturas arbóreas, em bordaduras de caminhos e em parcelas agrícolas,
poderão resultar na alteração da composição e abundância da comunidade de insectos. A submersão
destruirá as Termas de Caldas do Carlão, bem como, uma área bastante produtiva de olival e vinha, sendo
irreversíveis as perdas para o ecossistemas da região (PNBEPH - Anexo 1, 2007). Se a albufeira for
construída a uma cota de 190, a área inundada será de 7,6 km 2 e a capacidade de albufeira será de 216hm
com produção de 310 Gwh/ano num caudal de equipamento de 220 m 3/8. A redução de cota para 170
reduzirá para 20km, dos 35 km para uma cota de 190, a área de linha férrea inundada mas a potência a
instalar e a energia produzida pelo aproveitamento serão inferiores (PNBEPH - Memoria, 2007).
Em termos de riscos incidentes avaliou-se para Foz Tua, um risco elevado de poluição acidental, que
pode colocar em perigo o uso da água da albufeira, tal como se prevê ainda a possibilidade de
eutrofização na albufeira, uma vez que a respectiva bacia hidrográfica tem uma ocupação bastante
expressiva em área agrícola (54,7%) (PNBEPH - Anexo 1, 2007).

Fig 9: Cota de construção em discussão e Cota do Túnel das Presas.

Segundo fontes do LEA (Laboratório de Ecologia Aplicada) as espécies de morcegos que utilizam estes
túneis são respectivamente, Myotis nattereri, Nyctalus leisleri e Miniopterus schreibersii.
Os Myotis nattereri (Kuhl, 1817) e Nyctalus leisleri (Kuhl, 1817), morcego-de-franja e morcego-
arborícola-pequeno respectivamente, pertencem a família Vespertilionidae. São ambos residente, sendo
que a informação sobre o morcego-arborícola-pequeno é insuficiente para determinar o seu grau de
ameaça. No entanto o morcego-de-franja encontra-se classificado no Livro Vermelho dos Vertebrados de
Portugal como espécie vulnerável. A mesma categoria de ameaça é atribuída pelo Livro ao Miniopterus
schreibersii (Kuhl, 1817), morcego-de-peluche, da família Miniopteridae.
Ambas as populações destes dois morcegos vulneráveis serão influenciadas negativamente pela
construção da barragem.
Visto o morcego-de-franja caçar nas margens de zonas florestadas próximas de áreas com vegetação
herbácea a destruição por submersão irá ter um impacte negativo sobre a sua população (Arlettaz 1996,

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 9


Swift 1997 cit in. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, 2006). O mesmo acontece com o
morcego-de-peluche exclusivamente cavernícolas e que raramente utiliza outros abrigos (Palmeirim et
al., 1999 cit in. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, 2006).

Fig 10 : Myotis nattereri, Nyctalus leisleri e Miniopterus schreibersii respectivamente.

Medidas de conservação

Recomenda-se protecção legal dos túneis e de toda a linha ferroviária e o encerramento das suas entradas
nas épocas críticas do ano. É ainda necessária uma gestão do habitat nas áreas envolventes, com uma
correcta gestão das zonas florestais de folhosas através da conservação de árvores antigas e dos seus
principais abrigos.
Devido a falta de informação sobre o morcego-de-peluche e à presença deste na área é extremamente
importante acções de investigação para melhorar o conhecimento da distribuição, do efectivo e das
tendências populacionais, tal como a continuação do programas de monitorização das populações para as
outras duas espécies encontradas.
Existe ainda a possibilidade de instalação de caixas de abrigos em áreas de bom habitat que não
disponham de árvores com cavidades para as espécies arborícolas.

Referências

AGÊNCIA PORTUGUESA DO AMBIENTE, 2008. Avaliação de Impacte Ambiental. Consultada a 19 de


Novembro de 2008. Acesso: http://www.iambiente.pt/IPAMB_DPP/

BICHO, M. 1994. Inventariação de Morcegos em Áreas Protegidas: Parque Natural do Alvão, Parque
Natural de Montesinho. Instituto da Conservação da Natureza. Consultada a 20 de Novembro de 2008.
Acesso: http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/O+ICNB/Estudos+e+Projectos/Morcegos2.htm?
res=1280x800

DIRECÇÃO GERAL DE GEOLOGIA E ENERGIA, 2006. Estratégia Nacional para a Energia – As


Energias Renováveis e a Eficiência Energética, Maio de 2006. Consultada a 17 de Novembro de 2008.
Acesso: http://www.renae.com.pt/_fich/22/060630DGGE.pdf

LIVRO VERMELHO DOS VERTEBRADOS DE PORTUGAL, 2006. Myotis nattereri Pp 451-452,


Nyctalus leisleri Pp 461-462 e Miniopterus schreibersii Pp 475-476. 2ªed. Instituto da Conservação da
Natureza. Assírio & Alvim. Lisboa

LOURENÇO, S. 2000. Inventariação de Morcegos e determinação dos seus biótipos de alimentação em


Áreas protegidas. Instituto da Conservação da Natureza. Consultada a 20 de Novembro de 2008.
Acesso: http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/O+ICNB/Estudos+e+Projectos/Morcegos2.htm?
res=1280x800

LOURENÇO, S. I. & PALMEIRIM, J. M. 2003. Influence of temperature in roost selection by


Pipistrellus pygmaeus (Chiroptera): relevance for the design of bat boxes. Biological Conservation:
Elsevier 119: 237-243

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 10


MINISTRO DA ECONOMIA E INOVAÇÃO, 2008. Concorrência e eficiência energética - uma
Estratégia Nacional para a Energia,. Consultada a 16 de Novembro de 2008.
Acesso:
http://www.portugal.gov.pt/portal/pt/governos/governos_constitucionais/gc17/ministerios/mei/comunicac
ao/programas_e_dossiers/20050929_mei_prog_estrategia_energia.htm

NOTÍCIAS SAPO/LUSA, 2008. Barragem Foz Tua: Estudo de Impacto Ambiental já deu entrada no
Instituto da Água, 23 de Maio de 2008. Portal das Energias Renováveis.. Consultada a 16 de Novembro
de 2008.
Acesso: http://www.energiasrenovaveis.com/DetalheNoticias.asp?
ID_conteudo=65&ID_area=5&ID_sub_area=13

PATHEK, D. B., SILVEIRA, D. D., BERTAGNOLLI, B. & CÁCERES, N.C. 2007. Dispersão de
Sementes por Morcegos do “Morro do Elefante”. Santa Maria, RS, Brasil. Anais do VII Congresso de
Ecologia do Brasil. Sociedade de Ecologia do Brasil. Caxambu, Brasil.

PEREIRA, M. 2000. Inventariação das espécies e dos abrigos de morcegos no PNSC e na PPAFCC/LA:
Determinação dos biótipos de alimentação de algumas espécies de morcegos. Instituto da Conservação
da Natureza. Consultada a 20 de Novembro de 2008.
Acesso: http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/O+ICNB/Estudos+e+Projectos/Morcegos2.htm?
res=1280x800

PNBEPH - ANEXO 1, 2007. Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hídrico –
Relatório Ambiental, Novembro, 2007. Anexo 1 – Aproveitamento Hidroeléctrico do Foz Tua. Consultada
a 20 de Novembro de 2008. Acesso: http://www.inag.pt/index.php?
option=com_content&view=article&id=59:%20Programa%20Nacional%20de%20Barragens%20com
%20Elevado%20Potencial%20Hidroel%C3%A9ctrico&catid=10:utilizacoes-do-dominio-
hidrico&Itemid=45

PNBEPH - MEMORIA, 2007. Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hídrico –
Relatório Ambiental, Novembro, 2007. Memoria. Consultada a 20 de Novembro de 2008.
Acesso: http://www.inag.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=59:%20Programa
%20Nacional%20de%20Barragens%20com%20Elevado%20Potencial%20Hidroel
%C3%A9ctrico&catid=10:utilizacoes-do-dominio-hidrico&Itemid=45

PUBLICO/LUSA, 2008. Concessão de barragens: Governo pode encaixar este ano receita extra de 283
milhões, Junho de 2008. Portal das Energias Renováveis. Consulta a 16 de Novembro de 2008.
Acesso: http://www.energiasrenovaveis.com/DetalheNoticias.asp?
ID_conteudo=76&ID_area=5&ID_sub_area=13

REBELO, H & RAINHO, A. 2003. Acções de Conservação de Morcegos na Área de Regolfo de Alqueva
+ Pedrogão. Instituto da Conservação da Natureza. Consultada a 21 de Novembro de 2008. Acesso:
http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/O+ICNB/Estudos+e+Projectos/Morcegos2.htm?res=1280x800

RESOLUÇÃO DO CONCELHO DE MINISTROS Nº 50/2007. Medidas para aplicação da Estratégia


Nacional para a Energia. Consultada a 16 de Novembro de 2008.
Acesso:
http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC17/Ministerios/MEI/Comu
nicacao/Outros_Documentos/20070328_MEI_Doc_Medidas_Estrategia_Energia.htm

RODRIGUES, L., REBELO, H. & PALMEIRIM, J. M. 2003. Avaliação da tendência populacional de


algumas espécies de morcegos cavernícolas. Instituto da Conservação da Natureza. Consultada a 21 de
Novembro de 2008. Acesso:
http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/O+ICNB/Estudos+e+Projectos/Morcegos2.htm?res=1280x800

WIKIPÉDIA, 2008. Guano. Consultada a 20 de Novembro de 2008. Acesso: http://pt.wikipedia.org/wiki/


Guano

WIKIPÉDIA, 2008. Linha do Tua. Consultada a 20 de Novembro de 2008.

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 11


Acesso: http://pt.wikipedia.org/wiki/Linha_do_Tua

Fontes das Figuras

Fig 1: Chondrostoma arcasií - Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade. Portal ICNB.


Acesso: http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/CB478D55-FC7C-4EE2-AEFC-
84B423307566/3102/LVVP_Peixes_Chondrostomaarcasii.pdf

Squalius alburnoides - Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade. Portal ICNB. Acesso:


http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/CB478D55-FC7C-4EE2-AEFC-
84B423307566/3112/LVVP_Peixes_ComplexodeSqualiusalburnoides.pdf

Cobitis calderoni - Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade. Portal ICNB. Acesso:


http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/CB478D55-FC7C-4EE2-AEFC-
84B423307566/3111/LVVP_Peixes_Cobitiscalderoni.pdf

Fig 2, 3, 5, 6 e 8: Irina Castro, Saída de Campo do LEA ao Vale do Rio Tua.

Fig 4 e 9: Google Earth

Fig 7: ESBÉRDAD, C. & DAEMON, C. Um Novo Método para Marcação de Morcegos. Consultada a
23 de Novembro de 2008.
Acesso:
http://www.geocities.com/RainForest/Wetlands/4178/um_novo_metodo_para_marcacao_de_.htm

Fig 10: Myotis nattereri – A. Raínho. ICN.


Acesso: http://darwin.icn.pt/sipnat/wgetent?userid=sipnat&type=ecran3&codigo=98.006.006.001.011

Nyctalus leisleri - NaturePhoto.


Acesso: http://www.naturephoto-cz.eu/nyctalus-leisleri-picture-3029.html

Miniopterus schreibersii – The Henipavirus Ecology Collaborative Research Group


Acesso: http://www.henipavirus.org/virus_and_host_info/bats/images/miniopterus_schreibersii_2.jpg

Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 12


Bela Irina Passos Natário de Castro nº 24625 13

You might also like