Professional Documents
Culture Documents
A UM POETA
Surge et ambula!
I
1. Tendo em conta os destinatários da mensagem poética, divide o poema em partes lógicas, justificando a tua
opção.
2. Como epígrafe para o soneto, o sujeito poético escolheu as palavras bíblicas “surge et ambula”, proferidas
por Cristo a um paralítico que curou e fez andar.
2.2. Indica a principal função de linguagem que o poeta utiliza para incitar à revolta? (comprova com dados
do texto.)
3. Influenciado por Proudhon, a revolução pregada não é a sangrenta, mas utópica: são anunciados as ideias de
Justiça, Amor e Liberdade.
3.2. Mostra, tendo em conta o que conheces da poesia de Antero, o que se pretende com este vocabulário?
3.3. O «eu» lírico aponta alguma razão concreta para se fazer a revolução? E abstracta? (corrobora a tua
resposta com dados do texto).
4. Muda o segundo terceto do poema para o discurso indirecto, começando assim: O «eu» lírico pediu ao
soldado do futuro que….. (continua)
II
Cesário Verde, atento ao mundo que o rodeia e tirando poesia de realidades comezinhas ou até antilíricas,
aprecia aspectos da sociedade do seu tempo.
Justifica esta afirmação, com referência breve às leituras que fez deste autor.
A professora,
Paula Cruz
Proposta de correcção:
1-Podemos dividir este poema em duas partes lógicas. A primeira quadra corresponde ao primeiro momento em que,
através duma apóstrofe, o sujeito poético se dirige a um tu, caracterizado como um espírito sereno que dorme à sombra
dos cedros seculares, longe da luta e do fragor terreno, tal como o faz um levita (sacerdote) à sombra dos altares.
Perante a passividade deste tu, na segunda parte do soneto, o sujeito poético passa a exortá-lo duma forma veemente,
utilizando, para tal, uma gradação crescente, visível no uso dos verbos no imperativo: acorda, escuta, ergue-te, faze
(espada de combate). Deste modo, poderemos tripartir esta segunda parte, seguindo a lógica da gradação crescente:
I. Acorda, porque é chegado o momento ("o sol..."); acorda, porque um mundo novo apenas está à
espera de um sinal para despertar da letargia em que se encontra (2ª quadra);
II. Escuta! Quem? O quê? As canções de guerra que são vozes de rebate. Mas vozes de quem? Das
multidões, dos irmãos que se erguem em armas, que se rebelam (1º terceto);Ergue-te, pois, poeta,
se queres ser um soldado do futuro ao lado das multidões, ao lado de teus irmãos;
III. Ergue-te, sonhador (poeta), e transforma a tua poesia em arma de combate (2º terceto);
2.1- A escolha desta epígrafe não é aleatória. Como Cristo curou e fez andar o paralítico, também o sujeito lírico exorta os
poetas à escrita de uma poesia revolucionária, comprometida, rejeitando, assim, o velho e anquilosado conceito da poesia
como "arte pela arte".
2.2- A função de linguagem usada para incitar à revolução é a função apelativa (ex.: “Acorda!”, “Escuta!”, “Ergue-te”.
3.1- No soneto encontramos algum vocabulário ligado a um campo lexical bélico: “guerra”; “luta”; “soldado” e “espada de
combate.”
3.2- Com este vocabulário, Antero pretende incitar os poetas à mudança e à revolução pela poesia.
3.3- As motivações do sujeito lírico podem ser consideradas abstractas na medida em que Antero deseja, pela poesia,
transformar a sociedade. Antero considera que os poetas são soldados capazes da revolução. Antero é movido pelo desejo
profundo de construir um novo mundo.
4- O “eu” lírico pediu ao soldado do futuro que se erguesse e que, sonhador, fizesse dos raios de luz do sonho puro, a sua
espada de combate.
II.
(alguns tópicos)
Cesário Verde é um poeta do olhar: pinta com palavras o que vê, fugindo às convenções do que até aí era
considerado poético. Abre à poesia as portas da vida e assim traz o inestético, o vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana.
Cesário Verde observa de forma atenta e minuciosa a realidade social e conclui que o povo é o elemento mais
resistente, ainda que alvo de diferenciação social. Por este facto, o poeta identifica-se com o povo trabalhador e coloca-se do
lado dos desfavorecidos, vítimas de opressão social da cidade, e denuncia as circunstâncias sociais que considera
extremamente injustas. Um dos exemplos mais marcantes é o da pobre engomadeira que mortifica para pagar a conta da
botica.
Cesário Verde transportou a linguagem humilde e prosaica para o clima da poesia autêntica. Demonstrou que a
poesia anda derramada pelos seres e pelas coisas habitualmente consideradas prosaicas. Desceu deliberadamente ao concreto,
ao imediato e, com um fino talento de reportagem artística, surpreendeu belezas inéditas que, em Portugal, ninguém antes
vira.
Portanto, isto leva-nos a concluir que a sensação de liberdade que a deambulação, em princípio, permitiria, esbarra
assim com os limites de uma cidade estreita, que o deprime e sufoca (e de onde todos fogem), conduzindo-o a refugiar-se no
campo, local puro e são. Mundo campestre que passará, deste modo, e por consequência, a ser motivo de composições
poéticas.