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PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL

Evandro André

Frederick Kirsten

Glayton Robert Ferreira Fontoura

Lindacir Ruchinski

Rosa Mafra

RESUMO

O presente trabalho visa tratar dos princípios norteadores do Direito


Ambiental. Inicia-se trazendo o conceito deste novo ramo do Direito,
segundo as palavras dos doutrinadores e segue adiante na apresentação dos
princípios gerais que fundamentam o Direito Ambiental, tido hoje como um
direito fundamental difuso. Logo em seguida são apresentados aspectos da
intersecção dos princípios adotados por nossa Carta Magna com relação à
política global do meio ambiente proposta pela Organização das Nações
Unidas – ONU – e encerra-se com a apresentação dos princípios citados em
nossa Lei Maior.
PALAVRAS-CHAVE:

Direito Ambiental. Princípios Gerais.

1 CONCEITO

O Direito Ambiental classifica-se como um dos mais recentes ramos


do Direito, resultantes da evolução sofrida pela sociedade. Tal evolução,
não obstante todo o progresso tecnológico e toda a comodidade que traz ao
homem, impõem-nos também um preço a ser cobrado pela indisciplina com
que foram utilizados os meios e recursos naturais no decorrer do tempo,
forçando-nos a regular a relação homem-natureza a partir de patamares
legais com a formulação de normas e a imposição de pesadas sanções
contra as suas eventuais violações. Nesse sentido, escreve Ricardo Barbosa
Alfonsin que:

Visando regular a relação do homem e seus meios de produção com a


natureza, como forma de permitir o equilíbrio dessa relação, dando
sustentabilidade ao desenvolvimento e minimizando os efeitos
degradantes sobre o meio ambiente. Pode-se dizer que é um direito
indutor de um novo paradigma de relação entre o homem e o meio
ambiente.

Assim, segundo Sérgio Ferraz (apud Toshio Mukai, 2004), o Direito


Ambiental classifica-se como um “conjunto de técnicas, regras e
instrumentos jurídicos organicamente estruturados, para assegurar um
comportamento que não atente contra a sanidade mínima do meio
ambiente”. Mukai (2004) cita também Carlos Gomes de Carvalho para
quem o Direito Ambiental é um “conjunto de princípios e regras destinados
à proteção do meio ambiente, compreendendo medidas administrativas e
judiciais, com a reparação econômica e financeira dos danos causados ao
ambiente e aos ecossistemas, de uma maneira geral” e conclui ressaltando
que “O direito ambiental (no estágio atual de sua evolução no Brasil) é um
conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do
Direito, reunidos por sua função instrumental para a disciplina do
comportamento humano em relação ao seu meio ambiente”.
Por fim, para que se fixe a exata noção do conceito de Direito
Ambiental, citamos o Professor Michel Prieur (apud BIAGIO JUNIOR,
2000), da Universidade de Limoges, França, que escreve:

o Direito Ambiental é constituído por um conjunto de regras jurídicas


relativas à proteção da natureza e à luta contra as poluições. Ele se
define, portanto, em primeiro lugar pelo seu objeto. Mas é um direito
tendo uma finalidade, um objetivo: nosso ambiente está ameaçado, o
Direito deve poder vir em seu socorro, imaginando sistemas de
prevenção ou de reparação adaptados a uma melhor defesa contra as
agressões da sociedade moderna. Então, o direito do ambiente mais
do que a descrição do direito existente é um direito portador de uma
mensagem, um direito do futuro e da antecipação, graças ao qual o
homem e a natureza encontrarão um relacionamento harmonioso e
equilibrado.

Biagio Junior (2000) cita ainda o Professor Tycho Brahe Fernandes

Neto que conceitua Direito Ambiental como “o conjunto de normas e

princípios editados objetivando a manutenção de um perfeito equilíbrio nas

relações do homem com o meio ambiente”.

2 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

Em primeiro lugar, é importante ressaltarmos a imprescindibilidade


dos princípios para a tutela ambiental. De acordo com os ensinamentos de
Álvaro Mirra (1996, p.51):
Os princípios prestam importante auxílio no conhecimento do
sistema jurídico, no sentido de uma melhor identificação da coerência
e unidade que fazem de um corpo normativo qualquer, um verdadeiro
sistema lógico e racional. E essa circunstância é ainda mais
importante nas hipóteses daqueles sistemas jurídicos que – como o
sistema jurídico ambiental – tem suas normas dispersas em inúmeros
textos de lei, que são elaborados ao longo dos anos, sem critério
preciso, sem método definido.

Os princípios têm caráter fundamental no sistema de fontes, pois são


normas que têm papel essencial no ordenamento, devido à sua posição
hierárquica, ou porque determinam a própria estrutura do sistema jurídico.
Exercem função precípua na falta de leis, conforme reza o artigo 4º da
LICC: "quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito".
No campo do Direito Ambiental os princípios exercem as mesmas
funções de interpretação das normas legais, de integração e harmonização
do sistema jurídico e de aplicação ao caso concreto.
Os princípios do Direito Ambiental desempenharam um papel
fundamental no reconhecimento desse Direito enquanto ramo autônomo da
Ciência Jurídica. Nesse sentido, Antônio Herman de Vasconcellos e
Benjamin (apud Mirra, 1996, p. 52) apontam as quatro principais funções
dos princípios do Direito Ambiental para facilitar a sua compreensão e
aplicação:

a) são os princípios que permitem compreender a autonomia do


Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito;

b) são os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação


da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que
compõem o sistema legislativo ambiental;

c) é dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem


compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista
na sociedade;

d) e, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e


inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as
normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição
indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área.

Dá-se aos princípios no Direito Ambiental uma importante relevância


em relação aos demais ramos da ciência Jurídica, posto haver uma grande
gama de leis e até hoje não existir um código ambiental, estando,
conseqüentemente, todas as normas dispersas, o que dificulta em muito o
trabalho do operador do direito.
Durante muito tempo, aplicava-se apenas o Código Florestal na
proteção do meio ambiente, atualmente essa lei é apenas um dos inúmeros
elementos e de uma série de normas objetivando a proteção específica de
um bioma ou de uma espécie de flora. Com isso, como existe uma
competência legislativa concorrente entre os diversos entes federativos, é
possível encontrar além das convenções e tratados internacionais, uma série
de leis e decretos federais, estaduais, distritais e municipais regulando essa
matéria que muitas vezes são mal elaboradas, com redação de difícil
compreensão gerando conflitos normativos que devem ser resolvidos por
meio da aplicação dos princípios do Direito Ambiental.
Acentua-se, ainda, que tais princípios sirvam também para aqueles
casos em que não existe legislação específica auxiliando na interpretação
jurídica.
A evolução da sociedade e o aparecimento de novas tecnologias
fazem com que a cada dia surjam novas situações capazes de interferir na
qualidade do meio ambiente e por isso não podem deixar de ser reguladas
pelo Direito Ambiental.
A maior parte dos princípios trazidos pela Declaração Universal
sobre o Meio Ambiente foi consagrada explícita ou implicitamente pela
Constituição Federal de 1988 e pela legislação ambiental de uma forma
geral. Assim, todo o emaranhado de normas, princípios, instituições, que
emanam não só do Estado, como também dos princípios gerais do Direito,
do costume, de organizações, movimentos sociais, dentre outras,
instrumentalizam o Meio Ambiente como ramo autônomo do Direito.
Serão destacados, a seguir, alguns princípios que compõem o Direito
Ambiental.

2.1 PRINCÍPIO DO DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL

O princípio do direito humano fundamental informa que o meio


ambiente é um direito subjetivo fundamental do ser humano, essencial à
sua sadia qualidade de vida. Paulo Affonso Leme Machado (1994) relata à
questão da analogia dos direitos ambientais como direitos humanos e suas
conseqüências ressaltando a afirmação de Maguelonne Déjant-Pons que
afirma que: “o direito ao meio ambiente é um dos maiores direitos
humanos do século XXI, na medida em que a humanidade se vê ameaçada
no mais fundamental de seus direitos – o da própria existência”.
O direito ao meio ambiente protegido é um direito difuso, já que
pertence a todos, e é um direito humano fundamental consagrado nos
Princípios 1 e 2 da Declaração de Estolcomo em 1972 e reafirmado na
Declaração do Rio de Janeiro em 1992.
O primeiro e o segundo principios da Declaração do Meio Ambiente,
adotados na Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo buscou
assegurar que:

O ser humano tem direito fundamental à liberdade, à igualdade e a


uma vida com condições adequadas de sobrevivência, num meio
ambiente que permita usufruir de uma vida digna, ou seja, com
qualidade de vida, com a finalidade também, de preservar e melhorar
o meio ambiente, para as gerações atuais e futuras.
A proteção ambiental referenciada em Estocolmo faz com que todos
os povos comecem a pensar de maneira diferente, ou seja, de que junto com
o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, deve ser consagrado o
direito fundamental da vida humana na terra visando, com isto, a melhora
do meio ambiente em benefício do homem atual e seus descendentes.
Reforça-se, assim, a preocupação com a vida futura.
O que se almeja é que o crescimento econômico respeite sempre a
natureza, de forma a não ocasionar sacrifícios e prejuízos ao meio
ambiente. Assim, o desafio que se impõe a todos, é que se devem encontrar
meios de desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente, visando, com
isto, não violar também os direitos fundamentais da vida. Ademais, a
previsão expressa no art. 5º, LXXIII, que se refere aos direitos e garantias
fundamentais, faz concluir que a ação constitucional visando à defesa do
meio ambiente, ratifica que este é um direito fundamental do ser humano:

Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência. (grifo nosso)

A Conferência de Estocolmo influenciou a elaboração da matéria


destinada ao meio ambiente na Constituição Federal de 1988. O princípio
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito humano
fundamental ganhou status constitucional no Brasil ao ser contemplado no
caput do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, onde se lê:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações. (grifo nosso)
Do artigo 225 da Constituição Republicana Federativa de 1988 e dos
Tratados Internacionais, extraem-se os princípios fundamentais do direito
ambiental como diretrizes básicas para a manutenção do equilíbrio
ecológico em todo o planeta. Nesse sentido, Fiorillo (2007) ensina que:

Aludidos princípios constituem pedras basilares dos sistemas


político-jurídicos dos Estados civilizados, sendo adotados
internacionalmente como fruto da necessidade de uma ecologia
equilibrada e indicativa do caminho adequado para a proteção
ambiental, em conformidade com a realidade social e os valores
culturais de cada Estado.

Na Convenção do Rio de Janeiro, no ano de 1992, foi realizada a


Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento – ECO / 92, que reafirmou os princípios da Declaração
de Estocolmo e introduziu outros sobre o desenvolvimento sustentável, ou
seja, de que o ser humano tem direito à uma vida saudável e em harmonia
com a natureza, devendo ainda, estar no centro do desenvolvimento. Com
essa nova mentalidade e diante da constante e impunível agressão ao meio
ambiente e aos recursos naturais pelo homem, operou-se uma resposta
eficaz dos governantes, com a edição de leis rígidas.
No Brasil, são promulgadas as Leis da Política Nacional do Meio
Ambiente (N° 6.931/81) e de crimes Ambientais (N°. 9.605/98), as quais
refletem a tendência mundial da proteção ambiental.
A Organização das Nações Unidas lançou, em março de 1991, na
cidade de Genebra, o Programa das Nações Unidas para O Meio Ambiente
– PNUMA – que ratificou a enorme seriedade dos problemas ambientais e
sua relação com a qualidade de vida, sendo importante constituir-se o meio
ambiente à categoria de direito fundamental. Nesse sentido, o conjunto de
leis e acordos internacionais sobre o meio ambiente e direitos humanos
surgidos na década de cinqüenta do século passado, tem sido surpreendente
envolvendo o mundo todo nessa questão fundamental.

2.2 PRINCIPIO DO ACESSO EQÜITATIVO AOS RECURSOS


NATURAIS

O princípio ao acesso eqüitativo aos recursos naturais integra os bens


ao meio ambiente como água, ar e solo, aos quais devem satisfazer as
necessidades comuns de todos os habitantes da Terra. O meio ambiente é
um bem de uso comum do povo, isto é, todos podem utilizar. O acesso aos
bens ambientais podem ser pelo consumo do bem (utilização dos recursos
hídricos, a caça e pesca), o acesso causando poluição (lançamento de
poluentes no ar, ou água, ou solo) e acesso para a contemplação da
paisagem.
José Joaquim Gomes Canotilho (1996) destaca a idéia de:

Um Estado de Justiça Ambiental, um regime estatal caracterizado


pela vedação da distribuição não eqüitativa dos benefícios e
malefícios da extração e do aproveitamento dos recursos naturais.
Dentro desse panorama ganha importância o princípio do acesso
eqüitativo aos recursos naturais, segundo o qual os bens ambientais
devem ser distribuídos de forma equânime entre os habitantes do
planeta.

O princípio vem afirmar que não basta um modelo de


desenvolvimento ser passível de reprodução indefinidamente
(desenvolvimento sustentável), impondo-se, também, que os frutos do
desenvolvimento sejam equilibradamente distribuídos.
Paulo Affonso Leme Machado emprega a terminologia desse
principio como “a equidade deve orientar a fruição ou o uso da água, do ar
e do solo. A equidade dará oportunidades iguais diante de casos iguais ou
semelhantes”, ao precisar o conteúdo do princípio põe em evidência a
necessidade de fruição eqüitativa dos recursos naturais, observando-se que
o acesso com equidade aos recursos naturais deve ser utilizado sem o seu
esgotamento, pensando nos usuários das gerações futuras.
O acesso dos recursos naturais tem sido discutido em encontros
internacionais sobre o meio ambiente como a Convenção para a Proteção e
Utilização dos Cursos de Água Transfronteiriços e dos Lagos
Internacionais, de Helsinque, 1992 que preconiza que os recursos hídricos
são geridos de modo a responder às necessidades da geração atual sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias
necessidades.
O Princípio 5 da Declaração Universal sobre o Meio Ambiente
dispõe que “Os recursos não renováveis do globo devem ser explorados de
tal modo que não haja risco de serem exauridos e que as vantagens
extraídas de sua utilização sejam partilhadas a toda a humanidade”.
Já os Princípios 1 e 3 da Declaração do Rio de Janeiro de 1992 sobre
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento dispõem que:

Principio 1: Os seres humanos constituem o centro das preocupações


relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma
vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza.

Principio 3: O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo


a permitir que sejam atendidas eqüitativamente as necessidades de
gerações presentes e futuras.

A Convenção para a Proteção e Utilização dos Cursos de Água


Transfronteiriços e dos Lagos Internacionais, de Helsinque de 1992, em
suas disposições gerais dispõe que: “os recursos hídricos são gerados de
modo a responder às necessidades da geração atual sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”
(art. 5º, 5, c).
A Convenção sobre os Usos dos Cursos de Água Internacionais para
Fins Distintos da Navegação diz em seu art. 5, inciso 1 que:
Os Estados do curso de água utilizam, em seus territórios respectivos,
o curso de água internacional de modo eqüitativo e razoável. Em
particular, um curso de água internacional será utilizado e valorizado
pelos Estados do curso de água com o objetivo de chegar-se à
utilização e às vantagens ótimas e duráveis – levando-se em conta os
interesses dos Estados do curso de água respectivos – compatíveis
com as exigências de uma proteção adequada do curso de água.

A Convenção da Diversidade Biológica, que foi ratificada por meio


do Decreto Nº 2.519/98, estabelece no seu artigo 15, inciso 7 que:

Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislativas,


administrativas ou políticas, conforme o caso e em conformidade
com os arts. 16 e 19 e, quando necessário, mediante o mecanismo
financeiro estabelecido pelos arts. 20 e 21, para compartilhar de
forma justa e eqüitativa os resultados da pesquisa e do
desenvolvimento de recursos genéticos e os benefícios derivados de
sua utilização comercial e de outra natureza com a Parte Contratante
provedora desses recursos. Essa partilha deve dar-se de comum
acordo.

Encontra-se esse imperativo do acesso eqüitativo aos recursos


naturais também na legislação ordinária. É o caso da Lei Nº 9.433/97 que
determina que o objetivo da Política Nacional dos Recursos Hídricos no
inciso I do art. 2º é o de “assegurar à atual e às futuras gerações a
necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos” e no artigo 11 estabelece que: “O regime de outorga de
direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o
controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício
dos direitos de acesso à água”.
A Lei Nº 10.275/01, conhecida como o Estatuto da Cidade, é mais
explícita nesse sentido ao dispor no inciso IX do art. 2º que a “justa
distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização”
é uma diretriz da política urbana, tendo em vista a ordenação do pleno
desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana.
A mais importante referência ao princípio do acesso eqüitativo aos
recursos naturais no ordenamento jurídico brasileiro é a classificação do
meio ambiente pelo caput do art. 225 do texto constitucional como “bem de
uso comum do povo”, equidade essa que é considerada também no que diz
respeito às gerações futuras.
Ademais, da mesma maneira que os direitos civis e sociais, trata-se
de um direito fundamental cuja fundamentação se encontra no princípio da
dignidade da pessoa humana, que está previsto no inciso III do art. 1° da
Constituição Federal.
Essa apropriação privada dos recursos ambientais coletivos, e
conseqüente imposição dos riscos ambientais a uma parcela não
privilegiada da população, consistem em uma afronta direta ao direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado da mesma
maneira que à isonomia apregoada pelo texto constitucional em relação a
todos os cidadãos:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e


liberdades fundamentais;

O art. 170 da Constituição Federal dispõe que a ordem econômica


tem por fim assegurar a todos os cidadãos a existência digna conforme os
ditames da justiça social, consagrando como princípios da atividade
econômica nos incisos VI e VII a “defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos
produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação” e a
“redução das desigualdades regionais e sociais”.
Os mencionados dispositivos constitucionais serviram para consagrar
definitivamente no ordenamento jurídico nacional o conceito de
desenvolvimento sustentável e forma eqüitativa, uma maneira de resolver o
crescimento econômico, o bem-estar social e a proteção do meio ambiente,
com ênfase tanto nas gerações presentes quanto nas futuras.

2.3 PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR E POLUIDOR-PAGADOR

Com a instituição dos princípios do usuário-pagador e poluidor-


pagador, recomendação inicialmente feita pela Organização de Cooperação
e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) em 1972, estabeleceu-se que ao
poluidor devem ser imputados os custos necessários ao combate à poluição,
custos esses determinados pelo Poder Público para manter o meio ambiente
em estado aceitável, bem como promovendo a sua melhoria. Henri Smets
(apud Machado, 2002, p.47) assinala que:

Em matéria de proteção do meio ambiente, o princípio usuário-


pagador significa que o utilizador do recurso deve suportar o
conjunto dos custos destinados a tornar possível a utilização do
recurso e os custos advindos de sua própria utilização. Este princípio
tem por objetivo fazer com que estes custos não sejam suportados
nem pelos Poderes Públicos, nem por terceiros, mas pelo utilizador.
De outro lado, o princípio não justifica a imposição de taxas que
tenham por efeito aumentar o preço do recurso ao ponto de
ultrapassar seu custo real, após levarem-se em conta as externalidades
e a raridade.

Desta forma, a cobrança pelo uso e/ou pela poluição dos recursos
naturais constitui instrumento de gestão a ser implantado para induzir o seu
usuário e/ou poluidor a uma racionalização no uso desse recurso, mantendo
um equilíbrio entre as disponibilidades e demandas bem como a proteção
ao meio ambiente.
O princípio do poluidor-pagador obriga quem poluiu a pagar pela
poluição causada ou que pode vir a ser causada e está assim descrito no §
3º do artigo 225 da Constituição Federal: “as condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, à sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados”. O objetivo desse princípio é
forçar a iniciativa privada a internalizar os custos ambientais gerados pela
produção e pelo consumo na forma de degradação e de diminuição dos
recursos ambientais e estabelece, ainda, que quem utilizar o recurso
ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na
imposição de taxas abusivas de maneira que nem o Poder Público nem
terceiros sofram com tais custos.
A exploração dos recursos naturais, sempre foi feita de maneira
irracional e desordenada, não havia a preocupação que um dia a ‘fonte
poderia secar’. Os países desenvolvidos, no decorrer dos tempos,
cometeram verdadeiros crimes contra a natureza, na busca de riquezas.
A globalização tem aberto as fronteiras para o mundo. A sociedade
cresce, avança e se desenvolve necessitando explorar cada vez mais todos
os espaços fomentando a economia e a demanda de emprego mas a ordem
natural dos fatos, nos mostra que para cada ação corresponde uma
reação/conseqüência, ou seja, impondo à sociedade um alto preço a pagar
em decorrência desse fenômeno. Uma das graves conseqüências que estão
se evidenciando é o aumento da taxa de desemprego, situação, até bem
pouco tempo, quase "exclusiva" dos países subdesenvolvidos e que hoje faz
parte do cenário mundial.
Porém, se de um lado aumenta o número de desempregados, por
outro lado a produção cresce na mesma velocidade. Entretanto, no decorrer
do processo produtivo, são deixados para trás lixos, poluição, resíduos etc
que refletem direta e negativamente no meio ambiente. Corroborando com
o tema da poluição Machado (2002) afirma: “ao causar uma degradação
ambiental o indivíduo invade a propriedade de todos os que respeitam o
meio ambiente e afronta o direito alheio”.
Toda atividade produtiva ou de exploração dos recursos, gera
impactos ambientais. Tais prejuízos geram custos sociais ou danos não
compensáveis e denominam-se externalidades. O valor social dos
benefícios decorrente da atividade proporcionada é inferior aos custos. É
este uso não pago do ambiente que gera desequilíbrio resultando a
necessidade de se atribuir valores monetários.
Reforçando a responsabilidade do poluidor, António Carvalho
Martins (1990) ensina que:

Estando em causa, numa apreciação correcta e previdente em relação


ao futuro, investimentos de facto justificados, com um interesse
económico e consequentemente de bem-estar superior aos custos
ambientais, a teoria revela que a entidade poluidora deve compensar
todos os que ficam prejudicados. Assim se obriga a que haja a
segurança de que os benefícios sejam de facto superiores aos
prejuízos, havendo ainda um ganho líquido para o investidor. Num
mundo capitalista, em que as decisões económicas dependem dos
custos e da rentabilidade prevista das empresas, parece lógico que os
custos da prevenção e da eliminação da poluição fossem tomados em
conta pelo empresário.

Desse modo, enfatiza-se mais uma vez que a reparação não pode
minimizar a prevenção do dano. É importante ressaltar que a conduta mais
acertada seria prevenir o dano, mas se não for possível, pelo menos que
seja garantida a reparação, não esquecendo, porém que em determinadas
situações o dano chega a atingir proporções tais, que até mesmo aferir o
quantum torna-se difícil.
Esse princípio do pagador-poluidor foi inicialmente concebido pela
Comunidade Européia, in verbis:
As pessoas naturais ou jurídicas, sejam regidas pelo direito público
ou privado, devem pagar os custos das medidas que sejam
necessárias para eliminar a contaminação ou para reduzi-las ao limite
fixado pelos padrões ou medidas equivalentes que assegurem a
qualidade de vida, inclusive os fixados pelo Poder competente.

O núcleo desse princípio tem o intuito de evitar o dano ambiental e


não permitir que alguém polua o meio ambiente mediante o pagamento de
certa quantia em espécie, sendo certo que o meio ambiente é de valor
inestimável para a sociedade e para as futuras gerações.
Esse princípio possui caráter preventivo, indenizatório, reparatório e
busca fazer com que os recursos naturais sejam utilizados de modo mais
racional, de forma sustentável.
Sustentando que não se pode poluir mediante paga, Ednilson
Fernandes Rodrigues (2005) tece suas considerações afirmando que:

Não se permite que ocorra pagamento para poder despejar esgoto


sem tratamento num rio, e nem para que se possa praticar qualquer
outra infração as leis ambientais. Acrescenta-se que só é permitida a
cobrança, desde que haja respaldo legal, pois do contrário poderia se
incorrer na permissão de permitir que alguém adquirisse o direito de
poluir. Tem-se que caso alguém polua, este irá ter que pagar os danos,
mas não poderá pagar para poder poluir.

No Brasil, a Lei N° 6.938, de 31.08.1981, rege que a Política


Nacional do Meio Ambiente visará “a imposição, ao usuário, da
contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos” e
“a imposição ao poluidor e ao predador” da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados (art. 4, VII, sendo complementado pelo art. 14,
§1º). Destarte, Guilherme Cano (apud Machado, 2002) afirma que:

Quem causa a deterioração paga os custos exigidos para prevenir ou


corrigir. É óbvio que quem assim é onerado redistribuirá esses custos
entre os compradores de seus produtos (se é uma indústria, onerando-
a nos preços), ou os usuários de seus serviços (por exemplo, uma
Municipalidade, em relação a seus serviços de rede de esgotos,
aumentando suas tarifas). A equidade dessa alternativa reside em que
não pagam aqueles que não contribuíram para a deterioração ou não
se beneficiaram dessa deterioração.

Alguns autores não concordam com esta transferência de encargos,


repassando ao consumidor final o custo referente ao risco de causar dano
ao meio ambiente. Machado (2002) cita também Ludwig Kramer dizendo
que:

A coletividade não deve suportar o custo das medidas necessárias


para assegurar o respeito da regulamentação ambiental em vigor ou
para evitar os atentados contra o meio ambiente. Acrescenta que esse
custo deve ser um ônus do fabricante ou do utilizador do produto
poluente, que poderá repassá-lo aos utilizadores posteriores.

A adoção deste princípio no território brasileiro proporcionou a


inserção da teoria do risco-proveito, que acarretou enormes mudanças na
teoria da responsabilidade civil, proporcionando a responsabilização. Este
instituto do Direito Civil obriga o poluidor a indenizar e/ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros prejudicados pela atividade
poluidora, existindo ou não culpa do poluidor, de acordo com o inciso VII,
do art. 4, da Lei N° 6938/81.
Dessa forma, a responsabilidade objetiva atinge as grandes
corporações e os Estados que são os maiores poluidores do meio ambiente
atualmente e que dificilmente tem suas respectivas culpas comprovadas.

2.4 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

O Princípio da Precaução é reflexo do Princípio 15 da Declaração do


Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 13 de junho
de 1992, estabelecendo que: “Com o fim de proteger o meio ambiente, o
princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de
acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou
irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada
como razão para adiamento de medidas economicamente viáveis para
prevenir a degradação ambiental”.

2.4.1 O princípio da precaução no ordenamento jurídico brasileiro

A Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro


das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, inseriram respectivamente
em seu preâmbulo e no Princípio 3, o princípio da precaução, diplomas
estes que foram assinados, ratificados e promulgados e que fazem hoje
parte do ordenamento jurídico brasileiro.
A Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de
Janeiro em 05.06.92, ratificada pelo Congresso Nacional pelo Decreto
Legislativo nº 2, de 03.02.94, entrou em vigor no Brasil em 25.09.94,
contendo em seus considerandos, no Preâmbulo, o seguinte:

As Partes Contratantes, (...) Observando também que quando


exista ameaça de sensível redução ou perda de diversidade
biológica, a falta de plena certeza científica não deve ser
usada como razão para postergar medidas para evitar ou
minimizar essa ameaça. Observando igualmente que a exigência
fundamental para a conservação da diversidade biológica é a
conservação in situ dos ecossistemas e dos habitats naturais e a
manutenção de populações viáveis de espécies no seu meio
natural.

Por outro lado, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a


Mudança do Clima, assinada em Nova York em 09.05.92 e ratificada pelo
Congresso Nacional pelo Decreto Legislativo Nº 1, de 03.02.94, entrou em
vigor para o Brasil em 25.09.94, dispondo em seu Princípio 3 que:
As partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou
minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos
negativos. Quando surgirem ameaças de danos sérios ou
irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser usada
como razão para postergar essas medidas, levando em conta que
as políticas e medidas adotadas para enfrentar a mudança do
clima devem ser eficazes em função dos custos, de modo a
assegurar benefícios mundiais ao menor custo possível.

Com relação à tipologia acima mencionada Machado (2002) faz uma


comparação do significado desses princípios nas duas convenções,
concluindo que “Na Convenção da Diversidade Biológica, basta haver
ameaça de sensível redução de diversidade biológica ou ameaça sensível de
perda de diversidade biológica. Não se exigiu que a ameaça fosse de dano
sério ou irreversível, como na Convenção de Mudança do Clima”.
As duas Convenções apontam, da mesma forma, as finalidades do
emprego do princípio da precaução: evitar ou minimizar os danos ao meio
ambiente. Do mesmo modo, as duas Convenções são aplicáveis quando
houver incerteza científica diante da ameaça de redução ou de perda da
diversidade biológica ou ameaça de danos causadores de mudança do
clima.
Em matéria constitucional, foi o princípio da precaução recepcionado
pela Carta Magna no art. 225, § 1º, inciso V que assim dispõe:

Art. 225. (...)

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de


técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e ao meio ambiente;

Dentro desse raciocínio, o Princípio 15 da Declaração do Rio de


1992 também possui sua imperatividade jurídica e foi expresso nas
palavras de Álvaro Luiz Valery Mirra (1996) com o seguinte fundamento:
Nesses termos, parece incontestável que, embora não
mandatórios, os princípios emanados da Declaração do Rio de 1992
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e, entre eles,
obviamente, o princípio da precaução, são, na expressão de
Antonio Augusto Cançado Trindade, juridicamente relevantes e
não podem ser ignorados pelos paises na ordem internacional, nem
pelos legisladores, pelos administradores públicos e pelos tribunais
na ordem interna.

Como se vê, o princípio da precaução, estabelecido no item 15 da


Declaração do Rio de Janeiro de 1992, é, efetivamente, um dos princípios
gerais do Direito Ambiental Brasileiro, integrante, assim, do nosso
ordenamento jurídico vigente. Por via de conseqüência, é norma de
observância obrigatória entre nós, inclusive na aplicação judicial do direito
e da legislação protetiva do meio ambiente.
Observa-se também que, pela sua redação, o Princípio 15 da
Declaração do Rio indica um alcance mais restritivo ao conteúdo
precaucional exigindo que a ameaça seja um dano sério ou irreversível
como no modelo da Convenção de Mudança do Clima.
Em decorrência do exposto, conclui-se que o Estado, através de sua
administração, tem o dever, portanto, de acordo com os artigos dispostos na
Convenção sobre Diversidade Biológica, Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre a Mudança do Clima, Princípio 15 da Declaração do Rio de
1992, art. 225 da Constituição Federal, art. 54, § 3º da Lei 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998 e juntamente no cumprimento de seus princípios
elencados no art. 37 da Constituição Federal, cumprir seu poder de polícia,
embasado no princípio da precaução, gerindo os riscos e tornando-se
ineficaz quando “não procurando prever danos para o ser humano e o meio
ambiente, omite-se no exigir e no praticar medidas de precaução,
ocasionando prejuízos, pelos quais será co-responsável”.
Casos de dúvida ou incerteza, tipo de risco ou de ameaça, bem como
o custo das medidas de prevenção, deverão antecipadamente estar sob
análise, pois, caso ocorra o dano em potencial, o processo poderá ser
irreversível e a recuperação do bem atingido tornar-se-á praticamente
impossível. A implementação imediata das medidas de prevenção, portanto,
contribui para que haja uma precaução do dano ambiental.

2.4.2 Fatores que desencadeiam o recurso ao princípio da precaução

O recurso ao princípio da precaução pressupõe: a) a identificação de


efeitos potencialmente nocivos decorrentes de um fenômeno, de um
produto ou de um processo e b) uma avaliação científica dos riscos que,
devido à insuficiência dos dados, ao seu caráter inconclusivo ou ainda à sua
imprecisão, não permitem determinar com suficiente certeza o risco em
questão.
A avaliação dos riscos consiste na análise de quatro componentes, a
saber: a identificação do perigo, a caracterização do perigo, a avaliação da
exposição e a caracterização do risco. Nesse estágio, a Comunicação da
Comissão relativa ao princípio da precaução recomenda que, antes da
tomada de alguma decisão, a opção de atuar só se concretize após a
satisfação destas quatro etapas.

2.5 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

Conforme já exposto, prevenção, do verbo prevenir, em sua


conotação genérica, significa o ato ou efeito de antecipar-se, chegar antes,
com um intuito conhecido. No Direito Ambiental a prevenção é a
prioridade que deve ser dada a medidas que evitem o dano ambiental; é o
agir antecipadamente em face de um problema conhecido de maneira a
reduzi-lo ou eliminá-lo não alterando a qualidade ambiental.
Na lição de José Rubens Morato Leite e Patrych de Araújo Ayala
(2002):

A prevenção se justifica pelo perigo potencial de que a atividade


sabidamente perigosa possa produzir efetivamente os efeitos
indesejados e, em conseqüência, um dano ambiental, logo,
prevenindo de um perigo concreto, cuja ocorrência é possível e
verossímil, sendo, por essa razão, potencial. Constata-se, nessa
operação, que sua aplicação procura evidenciar que é provável que a
atividade perigosa demonstre-se de fato perigosa, ou seja,
concretamente perigosa, evidenciando que é possível que venha a
produzir os efeitos nocivos ao ambiente.

Machado (2002) dividiu em cinco itens a aplicação do princípio da


precaução justificando-se na seguinte frase: “sem informação organizada e
sem pesquisa não há prevenção”, a saber: a) Identificação e inventário das
espécies animais e vegetais de um território, quanto a conservação da
natureza e identificação das fontes contaminantes das águas e do mar,
quanto ao controle da poluição; b) Identificação e inventário dos
ecossistemas, com a elaboração de um mapa ecológico; c) Planejamentos
ambiental e econômico integrados; d) Ordenamento territorial ambiental
para a valorização das áreas de acordo com a sua aptidão; e) Estudo de
Impacto Ambiental.

2.5.1 O princípio da prevenção no ordenamento jurídico brasileiro

O princípio da prevenção também entrou no Ordenamento Jurídico


Brasileiro pela Convenção sobre Diversidade Biológica que em seus
considerandos do Preâmbulo expressa: “As Partes Contratantes,(...);
Observando que é vital prever, prevenir e combater na origem as causas da
sensível redução ou perda da diversidade biológica;(...);”.
A Declaração do Rio de Janeiro à Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 também em seu
Princípio 8 assim invoca o princípio da prevenção, no sentido de
previdência, como “uma chance para a sobrevivência”: A fim de conseguir-
se um desenvolvimento sustentado e uma qualidade de vida mais elevada
para todos os povos, os Estados devem reduzir e eliminar os modos de
produção e de consumo não viáveis e promover políticas demográficas
apropriadas.
Em nível nacional, recepcionada pela Constituição Federal de 1988,
a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei Nº. 6.938/81, em seu art.
2º, incisos IV e IX, contempla também o dever de se evitar danos ao meio
ambiente, consolidando mais uma vez a essência desse princípio, ou seja:

Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a


preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção
da dignidade da vida humana, atendido os seguintes princípios: (...);

IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas


representativas; (...);

IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação;(...).

Medidas precaucionais e preventivas devem ser aplicadas nos


estudos de impacto ambiental, pois pretende se conhecer se o problema
existe e, em existindo, qual a sua extensão e as providências possíveis para
tentar evitá-lo ou mitigá-lo.
A Matriz Referencial de Impacto Ambiental construída a partir de um
diagnóstico ambiental da Área de Influência e da Área diretamente afetada,
pode apresentar aspectos subjetivos quanto à escolha da relação dos
componentes que constituem os meios físico, biótico e sócio-econômico
como também uma discricionariedade quando se avalia se determinados
impactos são positivos, negativos, nulos ou ausentes. Um impacto omisso
no diagrama de significância de impactos ambientais e, portanto, não
analisado quanto à sua significância, pode ser potencialmente causador de
significativa degradação ambiental.

2.6 PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO

Segundo a Declaração do Rio de Janeiro de 1992, notadamente em


seu princípio 13,

os Estados deverão desenvolver legislação nacional relativa à


responsabilidade e à indenização das vítimas da poluição e outros
danos ambientais. Os Estados deverão cooperar da mesma forma, de
maneira rápida e mais decidida, na elaboração das novas normas
internacionais sobre responsabilidade e indenização por efeitos
adversos advindos dos danos ambientais causados por atividades
realizadas dentro de sua jurisdição ou sob seu controle, em zonas
situadas fora de sua jurisdição.

Apesar de não fazer menção direta no que tange a reparação das


áreas de biomassa degradadas, a Declaração do Rio de Janeiro serviu de
ferramenta na ampliação do Direito Ambiental internacional.
Parte desta evolução diz respeito à criação de meios mais efetivos de
responsabilização de entes privados e públicos, causadores de danos
ambientais. Estes meios, frutos do princípio da reparação, tem por
prerrogativa a obrigação de reparação do dano causado ao meio ambiente, e
não apenas aos particulares e aos bens privados.
Um dos casos mais famosos ocorridos e motivadores na mudança de
direção do Direito Ambiental foi o naufrágio do navio Amoco-Cadiz em
1976, nas costas da França. Responsável pelo derramamento de quase
230.000 toneladas de petróleo, a empresa norte-americana foi condenada
por um tribunal daquele país ao pagamento das despesas administrativas e
de recuperação do litoral e de portos, sem que contudo os danos severos ao
biomassa fossem levados em conta.
A legislação interna brasileira, principalmente com a Lei Federal N°
6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) e posteriormente
recepcionada pela CF/88, veio a declarar a responsabilidade objetiva
ambiental, considerando imprescindível a obrigação de reparação aos danos
ambientais.
O Princípio da reparação encontra-se explícito em inúmeros
dispositivos legais, tomando, por exemplo, o art. 225, § 3º, da CF/88, que
expressa:

as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente,


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

O próprio art. 4º, VII, da Lei 6.938/85, obriga o agente poluidor a


efetivar a recuperação e/ou indenização dos danos causados ao meio
ambiente.
Apesar do oposicionismo ferrenho de vários Estados influentes no
cenário econômico, os princípios ambientais são cada vez mais influentes
na elaboração das legislações.

2.7 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O termo desenvolvimento sustentável foi utilizado inicialmente na


Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada em 1972 em Estocolmo,
na Suécia. Internamente, exemplificando, a Lei Federal 6.938/81, a
Constituição Federal de 1988 e as inúmeras conferências afetas ao Direito
Ambiental como a ECO 92 e a RIO + 10, recepcionaram a referida
expressão.
Segundo Bruno Campos Silva (2004, p. 65):
desenvolver e conservar: este é o resumo do princípio do
desenvolvimento sustentável, que tem por conteúdo a manutenção
das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas
atividades, garantido igualmente uma relação satisfatória entre os
homens e destes com seu ambiente, para que as futuras gerações
tenham a oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos a
nossa disposição.

Segundo o Centro Nacional para Desenvolvimento Sustentado das


populações Tradicionais do IBAMA, desenvolvimento sustentável significa
o processo de transformação e no qual a exploração dos recursos, a direção
dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a
mudança institucional se harmonizam, reforçando o potencial presente e
futuro do meio ambiente, suporte das atividades econômicas das
populações, a fim de melhor atender a suas necessidades e aspirações,
respeitando a livre determinação sobre a evolução de seus perfis culturais.
Este princípio tem por objetivo central a manutenção do meio
ambiente saudável sem, no entanto, obstar o desenvolvimento econômico,
assegurando às futuras gerações uma relação harmoniosa entre ambas, sem,
portanto, sobrepor uma em relação a outro.
O surgimento deste princípio deve-se principalmente ao fato de que o
meio ambiente não é fonte inesgotável de recursos naturais, sendo que, se
utilizada de forma irracional, logo irá se extinguir. Conseqüentemente, o
Direito Ambiental, mais especificadamente o princípio do desenvolvimento
sustentável, surge como mediador entre os interesses da economia e a
capacidade do meio ambiente em suprir os recursos necessários à demanda.
O legislador Constituinte de 1988, atento as mudanças ocorridas no
cenário político e econômico interno e externo, principalmente no que
tange a coexistência pacífica entre a preservação ambiental e o
desenvolvimento econômico, tomaram o cuidado de promulgar uma
Constituição voltada ao bem estar social, e não apenas ao puro liberalismo
que visava apenas ao progresso sobrepondo-se ao meio ambiente.
Podemos exemplificar dois artigos preconizados na Constituição
Federal de 1988, que fazem menção ao desenvolvimento sustentável:

art. 170 especifica que a ordem econômica, fundada na valorização


do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios: ... VI – defesa do meio ambiente

e art. 225: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado... para as presentes e futuras gerações

A CF/88 não pretende impedir o aproveitamento da natureza, muito


menos o desenvolvimento da sociedade ou da economia. O que se pretende
é a utilização racional e equilibrada dos recursos naturais, e não a pura
degradação destes em detrimento da evolução.
O Plano Diretor vem a ser importante ferramenta para o
desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma figura jurídica obrigatória
para alguns municípios e facultativa a outros, devendo ser aprovado por lei
e tem, dentre uma de suas funções a definição da função social a ser
atingida propriedade urbana.

2.8 PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

Parte constante do princípio 10 da Declaração do Rio:

No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a


informações relativas ao meio ambiente de que disponham as
autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e
atividades perigosas em suas comunidades.

A Convenção sobre o Acesso à Informação, a Participação do


Público no Processo Decisório e o Acesso à Justiça em Matéria de Meio
Ambiente prevê, no art. 2º, item 3:
A expressão “Informações sobre meio ambiente” Designa toda
informação disponível sob forma escrita, visual, oral ou eletrônica ou
sob qualquer outra forma material, sobre: a) o estado do meio
ambiente, tais como o ar e a atmosfera, as águas, o solo, as terras, a
paisagem e os sítios naturais, a diversidade biológica e seus
componentes, compreendidos os OGMS, e a interação desses
elementos; b) fatores tais como as substâncias, a energia, o ruído e as
radiações e atividades ou medidas, compreendidas as medidas
administrativas, acordos relativos ao meio ambiente, políticas, leis,
planos e programas que tenham ou possam ter, incidência sobre os
elementos do meio ambiente concernente a alínea a,
supramencionada, e a análise custo/benefício e outras análises e
hipóteses econômicas utilizadas no processo decisório em matéria de
meio ambiente: c)o estado de saúde do homem, sua segurança e suas
condições de vida, assim como o estado dos sítios culturais e das
construções na medida onde são, ou possam ser, alterados pelo estado
dos elementos do meio ambiente ou, através desses elementos, pelos
fatores, atividades e medidas visadas na alínea b, supramencionada.

A informação ambiental, ou seja, todos aqueles dados envolvendo


planos, decisões e atividades que influenciem no manejo de políticas
ambientais internas ou externas, ou mesmo em fatos afetos a determinadas
localidades devem ser repassados a comunidades em geral, e não apenas
entre os Estados ou organizações.
Apesar da resistência por parte de governos e empresas em revelar
informações acerca de eventos ambientais significativamente danosos ao
bioma e a população em geral, a sofisticação e ampliação dos meios de
comunicação, inserindo-se a internet; jornais e televisivos, bem como os
avanços legislativos internos e os tratados internacionais, dificultaram estas
práticas criminosas.
Segundo Machado (2002):

A informação ambiental de ser transmitida de forma a possibilitar


tempo suficiente aos informados para analisarem a matéria e poderem
agir diante da Administração Pública e do Poder Judiciário. A
informação ambiental deve ser prevista nas convenções
internacionais de forma a atingir não somente as pessoas do país onde
se produza o dano ao ambiente, como também as pessoas de países
vizinhos que possam sofrer as conseqüências do dano ambiental.

A liberação das informações ambientais que possam principalmente


surtir efeitos negativos ao ambiente e à população devem ser efetivamente
fiscalizadas tanto pelos entes públicos como pelos privados.

2.9 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE

Ao se falar do principio da responsabilidade, há de se ressaltar que


aquele que causar danos ao meio ambiente deve responder por suas ações
não sendo nada mais justo, já que assim é apresentada a teoria da
responsabilidade no direito brasileiro e, ao se tratar do direito ambiental e
seus princípios, a previsão legal nas Leis N° 9.605/98, que trata dos crimes
ambientais, e 6.938/81, artigo 14º, que trata da responsabilidade civil
objetiva do degradador fala que; “todo aquele que praticar um crime
ambiental, estará sujeito a responder, podendo sofrer não apenas na esfera
administrativa, como na penal e civil”.
O artigo 225 da Constituição Federal, em seu parágrafo 3º, prevê a
tríplice responsabilidade ao agente causador, tanto pessoa física quanto
jurídica. Observa-se que é consagrada a cumulatividade das sanções
justamente por proteger objetos distintos, ou seja, estão sujeitas a regimes
jurídicos diferentes.
A primeira parte do inciso VII do artigo 4º da Lei N°. 6938/81 prevê
o principio da responsabilidade, quando fala da indenização ou recuperação
dos danos causados, igualmente, o inciso IX do artigo 9º dessa Lei também
prevê com as devidas penalidades compensatórias.
2.9.1 Das sanções administrativas

Nos dias atuais é comum, pela quantidade de atos praticados contra o


meio ambiente, as infrações que tem como resultado sanções
administrativas onde é exercido o poder de policia, previsto na Constituição
federal de 1988, pela lesividade dos referidos atos praticados contra meio
ambiente. Sendo irrelevante como conduta o dolo ou culpa, pois se trata da
teoria adaptada à ordem econômica do capitalismo e regras definidas pelos
artigos 170 e seguintes da Constituição de 1988.
E ainda, segundo Fiorillo (2007, p.57):

Embora a Lei n. 9.605/98 tenha procurado estabelecer um capítulo


especifico (Capítulo VI) para regrar de maneira geral infrações
administrativas ambientais, inclusive com a previsão de sanções
ambientais (processo administrativo), encontramos várias normas em
nosso ordenamento jurídico reservadas a estabelecer a denominada
responsabilidade administrativas em face dos bens ambientais
observados no plano do patrimônio genético, meio ambiente cultural,
meio ambiente artificial, meio ambiente do trabalho e meio ambiente
natural (...), trazendo definição de infração administrativa ambiental
ou com finalidade puramente “didática” (“ Art. 70. Considera-se
infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole
regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do
meio ambiente”), a Lei n. 9.605/98 aplica-se a qualquer poluidor, a
saber, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que por
ação ou omissão viole a tutela jurídica dos bens ambientais (uso,
gozo, promoção, proteção e mesmo recuperação dos aluídos bens).

Referido poluidor, visando defender-se em decorrência do processo


administrativo instaurado (art. 70, parágrafos 1º, 2º, 3º, 4º), tem
assegurado o contraditório bem como a ampla defesa (art, 5º, LV e
LVI), observando os prazos fixados no art, 73 e 75 da norma antes
referida. Os valores arrecadados em multas (....), são revertidos ao
Fundo Nacional do Meio Ambiente.
2.10 PRINCIPIO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

O principio da gestão democrática do meio ambiente assegura ao


cidadão o direito à informação e a participação na elaboração das políticas
públicas ambientais, de modo que a ele devam ser assegurados os
mecanismos, judiciais, legislativos e administrativos que efetivam esses
princípios.
O referido principio, diz respeito para além da esfera ambiental, a
tudo que é de interesse público. O importante é que nessa esfera do direito
ambiental, trata-se de direito difuso, o qual não pertence a nenhuma pessoa
ou grupo individualmente considerado. Nesse sentido, trazendo esta parte
do direito à gestão democrática, visa contar com auxilio da sociedade civil,
por se tratar de meio ambiente, sendo de difícil controle, já previsto em lei,
no inciso I do artigo 2º da Lei 6.936/81 como bem público, sendo
amparado por lei devido ao uso coletivo.
O desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras, depende do
planejamento urbano que cada município adota, onde deve ser construído
através das necessidades de cada grupo, pela sociedade civil, não
colocando em risco o meio ambiente, visando, assim, o bem comum e o
interesse público, apresentado pelo Estatuto da Cidade (Lei N°.
10.257/2001), como a mais importante legislação brasileira em matéria de
tutela do meio ambiente artificial.
Pronuncia-se, aliás, a respeito Fiorillo (2007, p.29):

Artigo 225 da Constituição Federal de 1988, todos tem direito ao


meio ambiente ecologicamente equilibrado..., impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”.

Ademais aqueles pelos quais são sofredores futuros ou presentes dos


impactos causador pela falta de cuidados com o meio ambiente, têm o
direito de se defender. É por isso que o inciso I do artigo 2 da Lei 6.938/81
classifica o meio ambiente como patrimônio público, a ser assegurado e
protegido, tendo em vista o uso coletivo, já os incisos V, VI e VII do artigo
5º do decreto 99. 247/90, que determina a participação da sociedade civil
por meio das entidades de classe de órgãos não governamentais e de
movimentos sociais no CONAMA.
O artigo 20 da resolução 237/97 do CONAMA, exige que para os
entes federativos poder exercer a competência licenciatória é necessário
que tenham implementado os Conselhos de meio ambiente com caráter
deliberativo e obrigatória a participação da sociedade civil.
O artigo 2º da Resolução n. 9/87 do CONAMA e o artigo 3º da
Resolução 237/97 do CONAMA, prevêem a realização de audiência
pública nos processos administrativos de licenciamento ambiental em que
for necessário o estudo do relatório do impacto ambiental, caso alguma
entidade civil, Ministério Público ou pelo menos cinqüenta cidadãos
requeiram.
O Estatuto da cidade traz de forma clara a preocupação quanto ao
bem estar dos habitantes ao conglomerado urbano, sem descuidar dos
futuros ocupantes. Contudo, para tanto é necessária a conscientização da
população.

2.11 PRINCIPIO DO LIMITE

Igualmente voltado à administração pública, justamente pelo dever


de fixar parâmetros, mínimos a serem seguidos, em casos de emissão de
gazes, partículas, sons/ruídos, lixo e resíduos hospitalar.
Visando sempre o bem comum, pois, a respeito desse principio,
entende-se que deve ser estabelecido um limite a ser tolerado na emissão de
partículas, poluentes presentes na água , deve encontrar-se em limite
tolerável, para que estejam dentro dos padrões fixados em lei,
O inciso V do parágrafo 1º do artigo 225 da Constituição Federal
determina que para assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, incumbe ao Poder Público controlar a produção,
comercialização e emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
Voltado à administração pública, cujo dever é fixar parâmetros
mínimos a serem observados em casos como emissão de partículas, ruídos,
sons, destinação final de resíduos sólidos, hospitalares e líquidos, dentre
outros, visando sempre promover o desenvolvimento sustentável, dá-se um
acompanhamento, com a verificação do potencial de geração de poluentes
líquidos de resíduos e de emissões atmosféricas, assim como riscos de
explosões, e outros possíveis riscos de acontecimentos, como incêndio
poluição das águas e das marés, contaminação do ar, risco de inundações,
contaminação com produtos químicos e tantos outros.
Por derradeiro, observa-se que o judiciário deixa de proteger e apoiar
o meio ambiente, resguardando-o. A falta de observância a esses princípios
presentes no direito ambiental, atuando sob positivismo exagerado, deixa
de resguardar sob a observância de que os princípios exercem importante
função nesse meio.

3 PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS E POLITICA

GLOBAL DO MEIO AMBIENTE

A Constituição Federal de 1988, determina no art. 23, inciso VII, a


competência comum da União, dos Estados, dos municípios e do Distrito
federal para preservar as florestas, a fauna e a flora conferindo também no
art. 24, inciso VI, à União, Estados e Distrito Federal, poderes para legislar,
sobre florestas, caça e pesca, fauna, conservação do meio da natureza,
defesa do solo e recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
poluição além de trazer os princípios constitucionais da defesa do meio
ambiente no seu artigo 225.
No tocante a política global, pode-se dizer que o primeiro grande
marco internacional para conscientização ambiental, deu-se com a primeira
conferência mundial ambiental, ficando conhecida como conferencia de
ESTOCOLMO, realizada no ano de 1972, na Suécia e teve a participação
de vários Estados-membros, das organizações governamentais e não-
governamentais (ONGs). Tal conferência, adveio da necessidade para
providências acerca do desgaste causado após a segunda guerra mundial
que, com o advento da revolução industrial, acabou exigindo das
autoridades e representantes das entidades e Países providências a favor do
meio ambiente, como atitude para garantir a preservação das presentes e
futuras gerações tendo como resultado, a elaboração de um documento,
chamado Declaração de Estocolmo (declaração das nações unidas sobre o
meio ambiente).
O documento contém os 26 princípios precursores da consciência
ambiental internacional e originou um resultado concreto, qual seja, a
formulação do chamado Programa das Nações Unidas Sobre o Meio
Ambiente – PNUMA –para atuar junto a ONU.
Anos mais tarde, a preservação ambiental ganhou uma dimensão
universal, reafirmada com a ECO 92, ocorrida no Rio de Janeiro.
Como a poluição pode atingir mais de um país, além do que a
questão ambiental tornou-se uma questão planetária, assim como a
proteção do meio ambiente, a necessidade de cooperação entre as nações, o
princípio da cooperação internacional, tornou-se uma regra a ser obedecida,
estabelecendo-se assim mais um princípio norteador do Direito Ambiental.
4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

O direito ao meio ambiente sadio, está garantido na Constituição


Federal de 1988, onde já é mencionado num capítulo sobre o assunto, que
integra o título da ordem social, onde se estatui que todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo bem de uso comum do
povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e
a coletividade o dever de defendê-lo, preservá-lo para as futuras e presentes
gerações.
O artigo 225, é que integra na sua complexidade, a disciplina, se
revelando como social, sendo que para concretizá-lo, importa esforços pelo
poder público.

4.1 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO

A Carta Magna toma esse principio como importante na participação


conjunta, ao tratar do meio ambiente, no sentido de grupos e não
individualmente apenas, no tocante à defesa do meio ambiente. O artigo
225 caput, consagrou a presença do Estado e da sociedade civil. Sendo que
assim nos ensina Fiorillo (2007, p. 44):

Àquela ONG, na medida em que esta recebe dotação orçamentária e


há a previsão constitucional do art. 225, caput, que estrutura toda a
sociedade na defesa do meio ambiente, de que todos (pessoas físicas
e jurídicas) obrigam-se a tutelá-lo. Atende-se que não se trat de um
aconselhamento, mas de um dever da coletividade.

No entanto, observa-se que na omissão desta participação o resultado


para a coletividade é negativo, causando prejuízo, a sociedade pela qual,
apesar de haver previsão ao poder publico, não dispensa o poder do povo.
Segundo José Afonso da Silva (2007), “constituição é o conjunto de
normas que organiza os elementos constitutivos do Estado, figurando entre
estes a forma do Estado e governo, os limites do poder e as liberdades
individuais.”. A norma constitucional difere da norma infra-constitucional,
pois esta primeira surge de um fenômeno próprio. Este fenômeno
denomina-se por poder constituinte originário. No Brasil este foi
manifestado na Assembléia Nacional Constituinte da constituição de 1988.
Este caráter peculiar da constituição pauta-se na hierarquia
normativa. Esta hierarquia é o fundamento do ordenamento jurídico
contemporâneo. Desta forma, as leis infra-constitucionais são subordinadas
aos mandamentos constitucionais. Isto é de fundamental relevância para o
Direito Privado.

4.2 PRINCIPIO DA UBIQUIDADE

Refere-se ao que trata de direitos humanos, ou seja, está no centro do


tratamento com fundamental importância. A este respeito se pronuncia
Fiorillo (2007,p. 49) escrevendo que:

Este princípio vem evidenciar que o objeto de proteção do meio


ambiente, está localizado no epicentro dos direitos humanos, deve ser
levado em consideração toda vez que uma política, atuação,
legislação sobre qualquer tema, obra, etc. tiver que ser criada e
desenvolvida, (...) na medida em que possui como ponto cardeal a
tutela constitucional a vida e a qualidade de vida, tudo que se
pretende fazer, criar ou desenvolver, deve antes passar por uma
consulta ambiental, enfim para saber se há ou não possibilidade de
que o meio ambiente venha a ser degradado.

Enfim, visa demonstrar o objeto de proteção do meio ambiente, qual


seja de proteção a vida, em sua qualidade, numa ação global e solidária,
com observância nos direitos humanos, não só em pensamentos mas
também em ações.
5 CONCLUSÃO

A conclusão deste trabalho não poderia ser outra senão no sentido do


reconhecimento do Direito Ambiental como um dos mais importantes na
atualidade. Sem a proteção do meio ambiente, a implementação do
desenvolvimento auto-sustentável e uma política de preservação forte e
severa, em pouco tempo não haverá mais o que se preservar e, com isso,
não haverá mais o que se regular em sociedade simplesmente porque não
haverá vida possível.
Por se tratar de um direito difuso e, portanto, pertencente a todos, é
de suma importância que as políticas e a legislação voltada à defesa do
meio ambiente tenha um foco fortemente direcionado à educação das novas
gerações e outro voltado à repressão dos atos nocivos ao meio ambiente,
ações que, felizmente, parecem vir sendo executadas já há algum tempo e
que parecem começar a surtir efeitos, ainda que sensivelmente, na
sociedade com o surgimento de uma nova cultura do homem com relação
ao seu habitat.
Muito ainda há que ser feito e, para que efetivamente seja, a
participação da sociedade nos debates é de fundamental importância.
Pudemos acompanhar no último período eleitoral que alguns candidatos já
incluíam em suas campanhas o tema do meio ambiente.
Assim, encerramos este estudo com a firme convicção da
importância da matéria, não apenas no meio acadêmico, mas como
disciplina a ser estudada desde os primeiros anos da vida escolar.
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