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02 A MENINA QUE CALOU O MUNDO DURANTE SEIS MINUTOS E 32 SEGUNDOS

Excertos da intervenção de Severn Susuki, em representação da ECO (Environmental Children’s Organization) durante a cimeira da Terra da ONU. Rio de Janeiro (Brasil), Junho de 1992

Viajei cinco mil milhas para vos dizer adul- Hoje tenho medo de apanhar sol por causa Vocês ensinam-nos a sermos comportados no

“ tos que têm de mudar a vossa maneira de


agir. Estou a lutar pelo meu futuro, pois
perder o meu futuro não é como perder uma
“ dos buracos na camada de ozono, tenho
medo de respirar o ar porque não sei que
químicos contém. Se não sabem como reparar is-
“ mundo, a não lutarmos uns com os outros...
Então porque razão fazem exactamente o con-
trário do que nos ensinam? O que vocês fazem faz-
eleição ou uns pontos na bolsa de valores”. so, por favor parem de destruir”. me chorar à noite Desafio-vos: por favor, façam com
que as vossas acções reflictam as vossas palavras”.

Arquitectura e ambiente
amigos para sempre
No início dos
anos 90, o mun-
Nuno Martins
do despertou anos 60 e da grande crise petrolífera de rigos do aquecimento global e das alte-
Arquitecto e docente 1974, a Organização para as Nações Uni- rações climáticas. Na origem destes fe-
no Mestrado Integrado para os perigos das (ONU) nomeou, no início dos 80, uma nómenos estaria um aumento jamais ex-
de Arquitectura na Escola comissão de peritos para debater a degra- perienciado das concentrações de gases
Superior Artística do Porto
do aquecimento dação do meio ambiente e os problemas de efeito de estufa (GEE’s) na atmosfera,
sociais inerentes ao desenvolvimento. Em em particular do dióxido de carbono
“Tu não tens de prever o futuro, mas sim de o permitir”
global e das alte- 1987, as conclusões são publicadas sob o (CO2), um resíduo tóxico da queima de
Antoine de Saint-Exupéry rações climáti- título NOSSO FUTURO COMUM, um combustíveis fósseis - como o carvão, o
omeçamos por definir a construção sustentável. Em documento que aponta para a incompa- petróleo, e o gás natural. Também as

C 1994, a prestigiada rede de investigação sobre a cons-


trução Conseil International du Bâtiment (CIB),
actual International Council for Research and Innova-
cas.
Na origem des-
tibilidade entre a preservação da biodiver-
sidade, o equilíbrio dos ecossistemas e os
padrões de produção e de consumo vigen-
acções de deflorestação e os gigantes-
cos incêndios, ocorridos um pouco por
todo o mundo nessa década, teriam con-
tion in Building and Construction, definia os objecti- tes. Igualmente se criticam os desequilí- tribuído para agravar o problema.
vos da Construção Sustentável como “criação e operação tes fenómenos brios sociais e ambientais gerados pelo
de um ambiente construído saudável com base na efi- modelo de crescimento económico adop- Tem tudo a ver com o carbono
ciência de recursos e no projecto ecológico”.
estaria um au- tado pelos países industrializados.
Os sete princípios para a construção sustentável e respecti- Naquele que ficou conhecido como relatório O carbono é um elemento químico (C) dos
vas palavras-chave (segundo o CIB) são:
mento jamais Bruntland, por ser a primeira-ministra mais abundantes no planeta e está pre-
1. Reduzir o consumo de recursos (reduzir) experienciado da Noruega, Gro Harelm Bruntland a sentes em todos seres vivos. O CO2 é
2. Reutilizar os recursos (reutilizar) presidir à Comissão Mundial sobre o dos compostos essenciais para a rea-
2. Usar recursos recicláveis (reciclar) das concentra- Meio Ambiente e Desenvolvimento, pro- lização da fotossíntese - processo pelo
4. Proteger a natureza (natureza) põe-se, pela primeira vez em 1987, de- qual as plantas transformam a energia
5. Eliminar os materiais tóxicos (tóxicos) ções de gases de senvolvimento sustentável como “aque- solar em energia química. Esta ener-
5. Aplicar o análise de custo do ciclo de vida (economia) le que atende às necessidades do presen- gia química, por sua vez é distribuída
6. Focar na qualidade (qualidade) efeito de estufa te, sem comprometer a possibilidade de para todos os seres vivos por meio da
as gerações futuras atenderem às suas teia alimentar. Ao longo deste proces-
Em seguida, e para uma melhor contextualização do te-
(GEE’s) na at- necessidades”. so, as plantas assimilam o CO2 e liber-
ma, antes de o desenvolver, façamos um breve re- Apesar dos alertas e recomendações de vária tam Oxigénio para a atmosfera, num
corrido pelos caminhos principais do debate sobre a
mosfera, em ordem deixados por esta comissão, o gas- processo auto-sustentável que é a base
sustentabilidade e como ele se foi articulando com a particular do to desmedido dos combustíveis fósseis, da vida na Terra. O CO2 é um gás
prática da construção de edifícios. a depleção dos recursos naturais e a po- que aparece em pequena quantidade
dióxido de car- luição atmosférica prosseguiam a um rit- no ar que respiramos - 0,03% -, contu-
A tomada de consciência mo galopante e pareciam constituir pro- do desempenha um papel essencial na
bono (CO2). blemas menores. Até que, no início dos manutenção da temperatura média
No longo rescaldo dos movimento ecologistas do final dos anos 90, o mundo despertou para os pe- mundial em torno duns confortáveis

Director: António Abrantes Coordenadora de Produção: Carla Fonseca


Director Adjunto: Soares Rebelo Coordenação de textos: José Armando Torres
Director Comercial: Luís Filipe Figueiredo
Endereços e Telefones: Rua 25 de Abril, n. 7 - Apartado 44 - 3040-935 Taveiro • e-mail: beirastexto@asbeiras.pt - 239980280
Impressão: Mirandela, Artes Gráficas, S. A. Rua Rodrigues Faria, 103 - 1300-501 Lisboa Tiragem: 12.500 exemplares
Passados mais
04 de 10 anos da
15 graus, valor que tem permitido o florescer da nos-
assinatura do O protocolo de Quioto bal irá ocasionar alterações climáticas que
sa civilização e da vida da maior parte das espécies. ameaçam a nossa própria sobrevivência
As plantas, sobretudo as árvores, constituem o único
chamado pro- Enquanto a discussão sobre a sustentabili- como espécie e a do planeta tal como o
sumidouro do CO2 existente na Terra. Quando em tocolo de dade subia de tom, a situação ambiental conhecemos. Afirmam que para evitá-lo
excesso, o CO2 funciona como um rastilho, provo- degradava-se, o que levou a que, em 1997, devemos reduzir em 50 por cento as
cando um aumento da temperatura que por sua vez Quioto, prati- durante mais uma conferência realiza- emissões de CO2 até 2050. E não temos
leva a uma maior retenção na atmosfera de vapor de da no Japão e no âmbito da Conferência desculpas para adiar por mais tempo uma
água, o mais poderoso dos gases com efeito de estu- camente ne- Quadro das Nações Unidas para as Alte- economia livre de carbono, pois, além de
fa. A influência antropogénica (causada pelos huma- rações Climáticas (criada na ECO’92) as bons motivos, dispomos também, tudo
nos) no ciclo biológico do carbono poderá conduzir nhum dos paí- nações se comprometessem com uma o indica, da tecnologia necessária para o
nas próximas décadas a um aumento da temperatu- redução gradual das suas emissões de fazer. Porém, a mudança de paradigma
ra média que se estima em três a seis graus. Obser-
ses cumpriu GGE. Porém, hoje, passados mais de 10 energético passa também por cada um
ve-se o esquema do funcionamento deste ciclo anos da assinatura do chamado protoco- de nós e pela adaptação do nosso estilo
as metas nele lo de Quioto, praticamente nenhum dos de vida. Vejamos como e em que medi-
estabelecidas países cumpriu as metas nele estabele- da as nossas cidades e as nossa casas es-
cidas (seis por cento para a UE, em re- tão a contribuir para este estado de coi-
(seis por cento lação às emissões de 1990). Registe-se sas. Veremos também como está ao nos-
que o segundo maior causador de emis- so alcance fazer com que deixem de fa-
para a UE, em sões, os EUA, recusou-se a assinar o pro- zer parte do problema para passarem a
tocolo (tal como a Austrália) e que neste fazer parte da solução. O aquecimento
relação às não se fixaram metas de redução para os global aparenta ser já uma realidade: no-
países em vias de desenvolvimento co- ve dos dez anos mais quentes de sempre
emissões de mo a Índia e a China. Em relação a este aconteceram no últimos dez anos. Em
último, convém esclarecer que se trata 2050, cerca de 75 por cento das pessoas
1990). do número um em emissões e que man- que estão neste momento no planeta ain-
A manter-se o tém como principal fonte energética o da estarão vivas. Logo, se não quisermos
carvão mineral, combustível cuja quei- sentir na nossa pele, e na dos nossos des-
ritmo actual ma representa a principal fonte de emis- cendentes directos, os efeitos devasta-
sões de CO2 no globo. dores do aquecimento global e das alte-
de consumo, rações climáticas associadas - o degelo das
Portugal, Quioto e as energias renováveis regiões gélidas continentais, a desertifi-
as reservas de cação, a destruição da biodiversidade, o
Importa dizer que o nosso país integra o gru- incremento das catástrofes naturais, pe-
■ Representação esquemática do ciclo do carbono na natureza. Note
petróleo e o po dos que não se tem comportado na- ríodos de grande seca, etc - devemos agir
da bem nesta matéria: em 2005 havia au- imediatamente e de forma determinada.
que na interacção com a acção humana (queima de óleo e carvão) só
há fornecimento, não há absorção de CO2.
gás natural mentado as suas emissões de CO2 em 36 A simples troca de um carro muito con-
Fonte: http: //users .rcn .com/ jkimball. ma. Ultranet /BiologyPages/ C/ acabariam em por cento e as de COV (compostos orgâ- sumidor, como um tracção às quatro ro-
CarbonCycle. html nicos voláteis) em mais de 50 por cento! das, por um híbrido, que combina siste-
cerca de 50 Apesar de ser o país com mais dias de Sol ma de motor eléctrico e funcionamento
A cimeira da Terra no Rio na Europa, Portugal apresentava nessa a gasolina, por exemplo, já disponíveis no
anos. época dos piores rácios de painéis sola- mercado a preços competitivos se aten-
Estas preocupações por uma actuação forte e em conjunto res/habitante em toda a UE. Nos últimos dermos ao seu baixíssimo consumo, po-
viriam a dominar, em 1992, a Conferência sobre o anos, este cenário tem evoluído positiva- de representar uma redução de 70 por
Ambiente e o Desenvolvimento, promovida também mente, graças ao forte investimento feito cento nas emissões pessoais de CO2 ao
pela ONU e que teve lugar no Rio de Janeiro. Como em energias renováveis (ou seja de ori- nível dos transportes. A opção por ener-
resultado, os 170 países presentes assentaram as bases gem não fóssil, não emissoras de GEE) gias renováveis, traduz-se numa redução
para uma alteração deste rumo, assinando acordos em e devido à recente imposição legal de ins- de 50 a 90 por cento de emissões relati-
áreas como a preservação da bio-diversidade biológica talação de colectores solares térmicos nas vas às necessidades energéticas. Como
e dos bosques e as alterações climáticas. Na então mui- habitações. Estas novas orientações da po- diz o slogan, o futuro está nas nossas
to elucidativamente denominada Cimeira da Terra, ou lítica energética colocaram Portugal na li- mãos.
ECO’92, concluiu-se ser a escala municipal a mais nha da frente no sector das renováveis, so-
adequada para abordar o grande problema ambiental, bretudo a eólica e a solar fotovoltaica . Con- A Pegada Ecológica - o que cada um
encorajando-se o envolvimento das populações locais tudo, não se deverá livrar de, até 2012, pode fazer para reduzir a sua
num desenvolvimento compatível com o ambiente. Da- ter de adquirir créditos de carbono (aos
qui emanaram também as propostas da Agenda Lo- países menos poluidores), uma das alter- A noção que talvez melhor exprima os im-
cal XXI e o famoso slogan “pensar global, agir local”. nativas ao não cumprimento das metas pactes ambientais que causamos será a
de Quioto - fala-se em valores que ultra- de Pegada Ecológica, introduzida em 1992
Pela sua pertinência e absoluta actualidade recomenda-se o passam os 100 milhões de euros. por William Rees, um ecologista e pro-
vídeo da intervenção de uma jovem canadense na Ci- fessor canadense da Universidade de Co-
meira da Terra, em 1992 http://youtube.com/watch?v=5- O fim anunciado dos recursos fósseis lúmbia Britânica. A Pegada Ecológica tra-
g8cmWZOX8 duz a área de terreno produtivo (terra e
Aos efeitos nocivos das emissões há que jun- mar) que um cidadão ou uma determi-
tar outro dado não negligenciável acerca nada população necessita para produzir
dos combustíveis fósseis: o seu esgota- os recursos materiais e energéticos que
mento. A manter-se o ritmo actual de precisa gastar e para assimilar os respec-
consumo, as reservas de petróleo e o gás tivos resíduos produzidos. Sumariamen-
natural acabariam em cerca de 50 anos. te, através de um simples questionário, é
Apenas o carvão apresenta um horizon- possível calcular um valor (em hectares)
te de duração de 200 anos, mas, como já que expressa a quantidade de “Planeta”
se recordou, a sua queima é a mais no- que determinada pessoa necessita para
civa de todas e por isso não constitui uma manter o seu estilo de vida e saber quan-
alternativa. tas “Terras” seriam necessárias para sus-
tentar uma população humana em que
Alterações climáticas e o futuro do planeta todas as pessoas tivessem um modo de
Fonte: http:// geographicae .wordpress .com /2007 /05 /08 /o- vida similar a esse. O objectivo é tomar
efeito -de- estufa- ii/ Analistas asseguram que o aquecimento glo- consciência do impacto ambiental no pla-
Construir de
forma susten- 05
neta e estimular cada um individualmente a tentar redu- tável implica (que acumulam emissões de CO2 e gas- de engenharia civil da Universidade do
zir esse impacto. Para calcular a sua Pegada Ecológica, tos energéticos) também a recente crise Minho (que oferece mestrado em Cons-
basta aceder à Internet ao sítio da Earthday Network (http:
projectar a petrolífera e o aumento do preço dos trução e Reabilitação Sustentável) e do Ins-
// www. Earthday .net ), seleccionando Portugal para rea- partir da análi- combustíveis sugere-nos a utilização tituto Superior Técnico de Lisboa (onde
lizar o cálculo. de materiais, técnicas construtivas e mão está sediada a equipa do sistema de cer-

PEGADA ECOLÓGICA
se do ciclo de de obra local. Não surpreende, portanto, tificação LiderA), a par da escola de arqui-
que a par de sistemas tecnológicos con- tectura da Faculdade de Arquitectura de
vida dos edifí- temporâneos se venha assistindo a um Lisboa (oferece Estudos Avançados em
crescente interesse por recuperar siste- Arquitectura Bio-Climática), é patente a
cios e, nessa mas tradicionais, como por exemplo, a aproximação científica ao tema da cons-
construção em terra e em madeira. trução sustentável. Na área da formação
lógica, aten- profissional, referência para a oferta for-
As razões imperativas para mativa proporcionada pela Ordem dos
dendo à cha- o projecto verde - o preço ambiental Arquitectos Portugueses, nomeadamen-
mada energia te pela secção Norte, com o recém-con-
Pode assim dizer-se que a arquitectura ou cluído ciclo de formação 3R, e a oferta per-
incorporada construção sustentável tem como objec- manente da ARQCOOP, uma cooperati-
tivo uma redução geral dos custos de edi- va de arquitectos que ministra cursos so-
dos materiais - ficação - em particular no que refere bre Arquitectura Ecológica e Eco-Urbanis-
aos custos ambientais, onde se contabi- mo em Lisboa e Coimbra.
resultante da lizam os referidos impactos ambientais
adversos, dando origem a um novo con- As instituições públicas
Fonte: http: // www. Ecodebate .com .br/ 2008 /11 /05 /a- pe- soma da ener- ceito, o de preço ambiental. Trata-se de e as organizações ambientais
gada-ecologica-brasileira-entrevista-especial com lucas-goncalves- fazer edifícios mais confortáveis, mais
pereira
gia relativa à saudáveis e mais amigos do ambiente. A esta aposta, devem somar-se os esforços de
Complementarmente, recomenda-se o visionamento do ví- extracção das No quadro do desenvolvimento susten- divulgação e de oferta de formação de en-
deo “A História das Coisas”, no qual a bióloga america- tável, torna-se imperativo reforçar a cons- tidades de origem governamentais, como
na Annie Leonard explica a economia dos materiais e matérias-pri- ciência ambiental de cada cidadão mas a ADENE (Associação para a Energia) e
revela quem está custeando as nossas compras baratas também aclarar a responsabilidade so- não governamentais, como a QUERCUS.
(http: //www .youtube .com /watch?v =3c88 _Z0FF4k&fea- mas, seu pos- cial do arquitecto, dos engenheiros e dos É também visível um grande esforço edi-
ture=related). Pode também visitar o site http: //www construtores e fornecedores no proces- torial que tem permitido a importação de
.storyofstuff .com /anniesbio.html terior proces- so de produção de edifícios. obras fundamentais da literatura interna-
cional sobre a construção sustentável, bem
As cidades e os edifícios como fontes de poluição samento, ma- O desafio da sustentabilidade como a publicação de investigação produ-
a formação especializada e o mercado zida em Portugal, a partir das universida-
Oitenta por cento da população europeia vive em cidades e
nuseamento, des e de institutos públicos como LNEC
passa 90 por cento do tempo no interior de edifícios, sen- transforma- Inevitavelmente, algumas interrogações se ou o INETI.
do estes responsáveis por mais de um 1/3 das emissões levantam. Quanto custa construir com
de gases de efeitos de estufa libertados para a atmosfe- ção, transporte tecnologias sustentáveis, novas ou anti- O sector das energias, as empresas,
ra (os outros dois terços são enviados pelas industrias gas? Qual o preço adicional em relação os técnicos e a construção
e pelos transportes, sobretudo o automóvel privado). Ao e aplicação. à construção convencional a que nos
longo do ciclo de vida de um edifício, o consumo ener- fomos habituando nas últimas décadas? Existem hoje em Portugal um número alar-
gético que lhe está associado pode dividir-se, actualmen- Existem projectistas e empresas prepa- gado e crescente de técnicos habilita-
te, em 85 por cento para o seu funcionamento e 15 por rados para dar resposta às exigências dos a produzir um diagnóstico de neces-
cento para a sua construção. Esta discrepância, para o de uma arquitectura amiga do ambien- sidades para edifícios a reabilitar, bem
futuro, tende a diminuir ou inverter-se, à medida que os te? Está facilitado o acesso aos mate- como apresentar estratégias de interven-
edifícios vejam aumentada a sua autonomia energéti- riais ditos ecológicos, que permitam me- ção e recomendações de projecto ao ní-
ca, o que tem vindo a conseguir-se graças à introdução lhoramento simples e eficazes? vel da arquitectura e das soluções cons-
de sistemas solares (térmicos e fotovoltaicos) e de outras trutivas, tanto para edifícios existentes
energias renováveis (eólica, biomassa, geotérmica), bem As universidades como a criar de raiz. Os critérios a apli-
como através de sistemas de reutilização e reciclagem car serão os consumos de energia, a aná-
de águas (pluviais e domésticas). Particularmente nos últimos cinco/oito anos, lise do ciclo de vida dos materiais, o uso
algumas escolas de engenharia e de ar- da água e a gestão dos resíduos.
Os novos critérios: análise do ciclo quitectura vêm apostando na investiga- No mercado da construção, multiplicam-se
de vida e energia incorporada ção científica e numa formação especiali- as empresas que apresentam soluções
zada ao nível do projecto, atendendo, de produtos “ecológicos” ou “verdes”, pro-
Construir de forma sustentável implica projectar a partir da em primeira instância, ao desenho verde dutos que devem ter certificação de qua-
análise do ciclo de vida dos edifícios e, nessa lógica, aten- da arquitectura - que dá relevância aos fac- lidade. Através da Internet conseguimos
dendo à chamada energia incorporada dos materiais - tores ambientais, sociais e ecológicos - e facilmente localizar estas empresas, bem
resultante da soma da energia relativa à extracção das ao desenho solar passivo, o qual privilegia como aquelas que oferecem soluções de
matérias-primas, seu posterior processamento, manu- a eficiência bio-climática dos edifícios. energias alternativas e controle inteligen-
seamento, transformação, transporte e aplicação. Aproveitando a reformulação curricular sus- te para aquecimento/arrefecimento e
A escolha de materiais e processos construtivos com baixa citada pela adaptação ao modelo de Bolo- bom funcionamento das nossas casas.
energia incorporada (o tijolo cerâmico, por exemplo, é nha, algumas escolas de engenharia e ar- Igualmente encontramos empresas que ins-
fabricado em fornos a altas temperaturas, obrigando a quitectura vem revelando uma especial talam sistemas de aproveitamento de
gastos energéticos e produzindo elevado número de atenção com respeito ao tema ambiental, águas pluviais e residuais, bem como ou-
emissões) e com longa durabilidade (o que permitirá propondo novas disciplinas. Destaca-se o tras que aplicam sistemas de isolamen-
amortizar durante mais anos os custos associados) e mestrado integrado de Arquitectura da to e insonorização e caixilharias mais eco-
ponderando ainda a quantidade de água incorporada no Escola Superior Artística do Porto (ESAP), eficientes, ou seja, constituídas por ma-
seu processamento e fabrico (alguns materiais como o com uma aposta do 1.º ao 5.º ano, incluin- teriais e soluções que aumentam o
betão, o aço e o alumínio consomem grandes quantida- do unidades curriculares como: Sistemas conforto térmico, acústico e visual, miti-
des) deve estar, portanto, no centro das preocupações Ambientais e Sustentabilidade, Economia gando os impactos ambientais.
com os impactes ambientais adversos e com o esgota- de Recursos, Conforto Ambiental I e II, Também na Internet existem diversos por-
mento dos recursos (fósseis e água). Princípios e Práticas para uma Arquitec- tais ligados a associações de defesa do
Por outro lado, somando-se aos efeitos negativos do trans- tura Sustentável e Eco-Urbansimo e De- ambiente, que nos informam e encami-
porte dos materiais provenientes de longas distâncias senho de Espaços Exteriores. Nas escolas nham para soluções sustentáveis ino-
Em Portugal,
06 vadoras e de fácil acesso.
tem-se cons-
truir sustentável é indiscutivelmente mais uma maior reutilização de muitos dos
truído sem económico. objectos do quotidiano. Por fim a recicla-
O panorama nacional qualidade. Ca- gem, transformando os materiais inú-
da arquitectura sustentável Custos económicos e períodos teis em novos produtos ou matérias-pri-
sas com 10, de retorno dos investimentos mas, de forma a diminuir a quantidade
De Norte a Sul do país, tanto à escala urbana, como da rea- de resíduos, poupar energia e recursos
bilitação ou construção de edifícios, registamos experiên- 15, 20, 25 Tudo começa por uma boa localização e uma naturais valiosos.
cias tidas como boas práticas. Loteamentos como a in- boa orientação solar. A seguir passa-se ao Na construção, podemos optar por materiais
ternacionalmente premiada Urbanização Ponte da Pe- anos, que desenho da forma arquitectónica e ao tra- não compósitos (que mesclam vários ma-
dra, em Leça da Palmeira, do arquitecto Carlos Coelho, tamento do invólucro e desenho/distri- teriais num só) e sistemas “mais limpos”,
um bairro social (!) que adoptou medidas de gestão da constituem buição das aberturas (portas e janelas e “mais secos”, de produção estandardiza-
energia, da água e dos resíduos; edifício de habitação co- clarabóias). Boas opções neste campo po- da- -modulada, que se acoplem por mé-
lectiva, como o projectado pela arquitecta Lívia Tirone
parte significa- dem significar ganhos solares, protecção todo mecânicos que facilitem a sua futu-
no Parque das Nações, em Lisboa; casas em madeira pro- tiva do nosso ao sol e aos ventos, melhor ventilação e ra desmontagem e separação por tipo.
veniente de florestas sustentáveis, projectadas pelo ar- iluminação naturais, sem acréscimo de Este tipo de materiais deverão produzir
quitecto Jorge Lira no Norte; construções em terra da parque habita- custos. Trata-se de aproveitar a nosso menos lixo e apresentar um grande po-
Marca de Terra, no Algarve; construções em estruturas favor o que de melhor tem o nosso cli- tencial de reutilização ou reciclagem no
leves de aço (sistema baseado em estruturas aparafusa- cional, apre- ma: o Sol, o relevo com pendentes soa- final de vida.
das em aço galvanizado e panos verticais e horizontais lheiras, sobretudo a Sul, a presença ame- Um projecto de uma casa ou de um bairro
constituídos por painéis de fibras de madeira, lã de ro- sentam patolo- nizadora das massas de água dos rios e pode ainda contemplar, com custos ra-
cha e gesso cartonado) da Gastedi em Aveiro. dos mares, e os ventos moderados. A zoáveis, a separação de lixos orgânico e
gias, níveis de adopção de medidas que reforçam o iso- o seu reaproveitamento para composta-
O sistema LSF - baixa energia incorporada, reduzidas emis- lamento, a opção por materiais ecologi- gem, bem como, se houver área suficien-
sões e produção de lixo elevado potencial de recicla-
degradação e camente menos impactantes e a intro- te, incluir um sistema natural de depu-
gem de desconforto dução de sistemas de energia solar tér- ração de águas residuais.
mica e de medidas optimizadoras dos
que obrigam a consumos energéticos e de água, podem
representar, feitas as contas finais, um
elevados gas- acréscimo de 5, 10, 15 por cento, no má-
ximo. Ou seja, estamos numa ordem de
tos mensais valores que se podem gerir no projecto.
Se for necessário, poupa-se em outras
com energia, áreas menos importantes para o confor-
to. O projecto sustentável, pela sua natu-
com água e reza, tende a ser mais económico, pois
com frequen- tem na sua génese racionalizar, maximi-
zar ganhos passivos e minimizar perdas.
tes obras de Seja como for, com excepção dos micro-
geradores (fotovoltaicos, geotérmicos e
manutenção. eólicos), tratam-se de investimentos que
apresentam um período de retorno de
três a cinco anos (os outros, seis a 12
anos). Ou seja, gastamos o mesmo, ou
um pouco mais, que recuperamos ra- ■ A educação ambiental deve começar em casa e a
pidamente ganhando dinheiro a partir simples separação doméstica do lixo possui um in-
daí, e, não menos importante, estamos discutível valor pedagógico para as nossas crianças.
a contribuir para salvar o planeta! Existem no mercado caixotes de lixo próprios. Faça
da ida ao ecoponto um hábito e um motivo de or-
Custo aproximado de um sistema solar tér- gulho para toda a família.
mico para uma habitação com quatro
membros: 2.500 a 3.000 euros. Período As directivas europeias
de retorno: 3-5 anos e a legislação nacional
Custo aproximado de um sistema solar fo-
tovoltaico para uma habitação com Os patamares de qualidade dos nosso edifí-
quatro membros: 18 a 21.000 euros. cios têm recebido um forte impulso a
Período de retorno: 6-8 anos partir do quadro normativo que incide
O mau hábito de construir mal Custo aproximado de um sistema de ener- sobre o licenciamento de obras. A partir
gia geotérmica para uma habitação com da transposição de directivas comunitá-
As experiências atrás focadas reforçam a convicção de que a quatro membros: 24.000 a 30.000 euros. rias, actualizaram-se os regulamentos de
construção com preocupações ambientais não tem de Período de retorno: 10-12 anos sistemas de climatização e de comporta-
ser mais cara, nem mais barata, do que a que não reve- Custo aproximado de um sistema de micro- mento térmico e da qualidade do ar - os
la estas preocupações. Em Portugal, tem-se construído geração eólica para uma habitação com novos RCCE e RSECE -, impondo-se pa-
sem qualidade. Casas com 10, 15, 20, 25 anos, que cons- quatro membros: 14 a 16.000. Período râmetros mais adequados e exigentes pa-
tituem parte significativa do nosso parque habitacional, de retorno: 4-5 anos ra o dimensionamento das instalações
apresentam patologias, níveis de degradação e de des- Fonte: empresas da especialidade de climatização, para os isolamentos tér-
conforto que obrigam a elevados gastos mensais com micos, para a ventilação e iluminação na-
energia, com água e com frequentes obras de manuten- A política dos 3R’s - como praticá-la turais. Com o novo pacote legislativo de
ção. Sem surpresa, são casas extremamente poluidoras, em casa e no dia a dia 2006, chegou também a obrigatorieda-
devido à queima de gás e lenha. São também geradoras de de certificação energética e da quali-
de enormes quantidades de resíduos não reutilizáveis e Reduzir, Reutilizar e Reciclar os resíduos são dade do ar interior. Em termos de comu-
não recicláveis na sua construção e no seu fim de vida. as palavras de ordem e por esta sequên- nicação para o público, esta certificação
Apresentam substâncias tóxicas diversas, como formal- cia de importância. O primeiro passo é, assemelha-se à que já se fazia voluntaria-
deído, que aparece nas madeiras coladas ou compos- portanto, reduzir os resíduos produzi- mente para muitos dos nossos electro-
tos orgânicos voláteis (COV) libertados pelas tintas, dos. A produção de produtos com uma domésticos. A partir de 2009, poderemos
vernizes e diluentes. Ora bem, um edifício sustentável maior longevidade e durabilidade é con- valorizar e comparar as casas e aparta-
tem de ser capaz de contornar todos estes problemas, dição importante para a redução. Outra mentos pela sua categoria energética (de
ao menor custo possível. A médio e longo prazo, cons- meta importante é a de contribuir para A a H).
Uma constru-

Sistemas internacionais
ção sustentá- 07
e nacionais de certificação ambiental
vel ou biocli-
mática respon-
A par deste sistema obrigatório, têm vindo a ser introduzi-
dos em Portugal sistemas de certificação ambiental de de de forma
edifícios, que têm em conta um leque de parâmetros
muito mais vasto que a da certificação energética, esten- muito particu-
dendo-se, desde logo, aos impactos ambientais. Adapta-
do de sistema internacionais o sistema português Li- lar às condi-
dera, assenta no conceito de reposicionar o ambiente na
construção, na perspectiva da sustentabilidade.
ções do terre-
Recorrendo à consultoria de técnicos habilitados e adoptan- no, ao movi-
do a certificação portuguesa do LiderA ou outras estran- Pautas para uma te a sua massa (coberturas, floreiras,
geiras, mais consolidadas, como o americano LEED ou mento aparen- arquitectura sustentável: paredes). Favorecer a construção com
o inglês BREEAM, ou o internacional SBTool, os pro- paredes auto-portantes em edifícios
jectistas, consultores, promotores e construtores passam te do sol, às 1. Adoptar normativas urbanísticas com de pouca altura
a ter ao seu dispor uma ferramenta de trabalho que per- o objectivo de alcançar uma constru- 7. Favorecer a recuperação, reutilização e
mite assegurar ao consumidor final um nível de quali- correntes de ção sustentável (forma dos edifícios, reciclagem de materiais de constru-
dade construtiva assente no superior desempenho distância de sombreamento, orienta- ção utilizados
ambiental. ar, fazendo re- ção dos edifícios, dispositivos de ges- 8. Favorecer a pré-fabricação e a industria-
tão de resíduos, etc) lização dos diversos componentes
flectir estes as- 2. Aumentar o isolamento dos edifícios, do edifício
pectos na or- permitindo ao mesmo tempo, a sua 9. Reduzir ao máximo os resíduos gera-
“transpirabilidade”. Estabelecer venti- dos na construção do edifício
ganização e lação cruzada em todos os edifícios e
a possibilidade dos utentes poderem Integração das fontes
distribuição abrir qualquer janela de forma manual de energia alternativa
3. Orientação Sul dos edifícios, de modo
espacial, na a que a maioria dos compartimentos 1. Favorecer a utilização de colectores
com necessidades energéticas estejam solares térmicos para aquecimento das
abertura e orientados a Sul, ao passo que as divi- águas sanitárias
sões de serviço podem ficar orientadas 2. Estimular a utilização de biomassa, so-
orientação dos a Norte bretudo de resíduos, paletes de serra-
vãos. Dispen- 4. Dispor de uma orientação aproxima- dura e outros bio-combustíveis
da dos envidraçados em torno dos 60 3.Integrar os colectores de forma adequa-
sando a insta- por cento para Sul, 20 por cento para da, com o objectivo de reduzir a eficá-
Oeste, dez por cento para Norte e cia dos mesmos
lação de siste- dez por cento para Este 4. Favorecer a integração e complemen-
5. Dispor de protecções solares para Este taridade de diferentes energias: solar-
mas mecâni- e para Oeste, de modo que só entre luz eléctrica
indirecta, e para Sul, de modo a que 6. Favorecer a utilização de energia solar
cos de climati- no Verão não entrem raios solares por meio de um correcto desenho bio-
O sistema de certificação ambiental LiderA dispõe de três no interior dos edifícios, enquanto que climático do edifício, sem necessida-
níveis (estratégico, projecto e gestão do ciclo de vida), ten-
zação, procura no Inverno sim possam fazê-lo de de utilização de colectores solares
do em vista permitir o acompanhamento nas diferen- tirar partido 6. Aumentar a inércia térmica dos edifí- mecânicos
tes fases de desenvolvimento do ciclo de vida do em- cios, aumentando consideravelmen-
preendimento. Ou seja, é possível certificar o projecto dos elementos
em cada uma das suas fases, bem como, separadamen-
Bibliografia
te, a construção da urbanização, de cada edifício e, in- arquitectóni- O clima está nas nossas mãos -
dividualmente, de cada fracção. Os domínios avaliados História do aquecimento global, Tim
são local e integração, recursos, cargas ambientais, cos de sempre, Flannery, Estrela Polar, Lisboa 2006

ambiente interior, durabilidade e acessibilidade e gestão


ambiental e inovação. para alcançar A Green Vitruvius, Princípios e Práti-
cas de Projecto para Uma Arquitec-
A equipa de investigadores do professor Manuel Duarte Pi- tura Sustentável, Energetic Research

nheiro, do Instituto Superior Técnico, que criou o mo-


um maior ren- Group, OAP, Lisboa, 2001

delo português a partir de modelos internacionais, gere dimento ener- Novos Edifícios - Um Impacte Am-
a atribuição da classificação, de A++, classificação má- biental Adverso, Pedro Bento, Par-
que Expo 98, Lisboa 2003
xima, até G. Em Portugal, diversos edifícios têm já esta gético. Assim,
certificação, nomeadamente, a Torre Verde do Parque Tecnologias Construtivas para a
das Nações e a Urbanização Cooperativa Ponte da Pedra o conforto é Sustentabilidade, Ricardo Mateus e
Luís Bragança, Edições Ecopy, Porto
em Leça do Balio. 2006
conseguido de
Sustainable Construction: Green
Para concluir, uma ou duas ideias. A primeira, é de que uma
construção sustentável ou bioclimática responde de for- forma natural. Building Design and Delivery, Char-
les Kilbert, John Willey&Sons, Inc,
ma muito particular às condições do terreno, ao movi- New Jersey, 2008

mento aparente do sol, às correntes de ar, fazendo reflec- Arquitectura y Clima, Vitor Olgyay,
tir estes aspectos na organização e distribuição espacial, Gustavo Gili, Barcelona, 1979
na abertura e orientação dos vãos. Dispensando a insta-
Reabilitação de edifícios antigos -
lação de sistemas mecânicos de climatização, procura patologias e tecnologias de inter-
tirar partido dos elementos arquitectónicos de sempre, venção, João Appleton, Edições
para alcançar um maior rendimento energético. Assim, Orion, Amadora, 2003

o conforto é conseguido de forma natural. O aspecto fi- Eco-House, A Casa Ambientalmente


nal da construção continua variável, função da criativi- Sustentável, Sue Roaf, Manuel Fuen-
dade, da imaginação do arquitecto e do orçamento dis- tes and Stephanie, Bookman, S.Pau-
lo, 2006
ponível. Portanto, construir de modo sustentável é com-
patível com as linhas de pensamento e de trabalho que Construção Sustentável, Lívia Tirone
e Ken Nunes, Tirone Nunes,SA, Lis-
respeitam e valorizam uma boa arquitectura.
09/0342

boa, 2007
EM SEGUIDA APRESENTAM-SE DOIS EXEMPLOS DE PRÁTICAS DE CONSTRUÇÃO E PROJECTO
08 SUSTENTÁVEL, UMA DE REABILITAÇÃO, OUTRA AO NÍVEL DO PROJECTO DE RAIZ. AMBAS SE
SITUAM EM POVOAÇÕES DA PERIFERIA DA CIDADE DE COIMBRA.

A PRIMEIRA CONSISTIU NA RECUPERAÇÃO DE UMA CASA DO SÉCULO XIX, NA POVOAÇÃO DE FORNOS, DESTINANDO-SE A TURISMO EM ESPAÇO RURAL, A SE-
GUNDA DIRIGIU-SE A UMA FAMÍLIA NÃO NUMEROSA, E IMPLANTA-SE NUMA COLINA VOLTADA A POENTE, NOS LIMITES DA ALDEIA DO AMEAL, NUMA ZONA DE
EXCELENTE ENQUAMENTO PAISAGÍSTICO. NA PRIMEIRA INTRODUZIRAM-SE AS COMODIDADES QUE SE IMPÕEM NUMA CASA ABERTA A TURISTAS; NA SEGUN-
DA, PROCUROU-SE HARMONIZAR A RELAÇÃO DA CONSTRUÇÃO COM A NATUREZA, RELEVO E CLIMA LOCAL, AO MESMO TEMPO QUE SE DAVA RESPOSTA A UM
EXIGENTE PROGRAMA FUNCIONAL.

Na casa de turismo, recuperaram- (iluminação natural e ventilação acen- Na casa unifamiliar as soluções apontam para

1 se técnicas tradicionais, como a


construção em madeira e em ter-
ra, incutindo-se um novo conceito ene-
sional)
– Materiais provenientes dum raio de 70
km, evitando-se aumentos de custo e
2 um elevado desempenho energético e ambien-
tal:
– Estruturas leves (tubulares) em aço galvanizado e pare-
gético-ambiental. Vejamos as prin- emissões. Excepção para o zinco puro, des (interiores e exteriores) em placas à base de fibras
cipais soluções adoptadas: cuja durabilidade e pouca manunten- de madeira (exterior) e gesso cartonado (interior), com
– Estrutura de pisos e da cobertura em te- ção , justificam a escolha lã de rocha na caixa de ar, solução de conjunto que re-
lhado em madeira (combinada com – Toda a madeira usada em obra foi pinho presenta baixa energia incoporada, baixo impacto eco-
perfis de aço). português tratado em autoclave e pro- lógico (nível de emissões), redução de resíduos e po-
– Paredes interiores construídas com tabi- veniente de desbastes e florestas geri- tencial de reutlização e reciclagem
ques de fasquiado (taipa de rodízio), das – Betão armado aparente em parede dupla com isolamen-
usando-se como enchimento cal, sai- – Tintas e vernizes isentos de compostos to
bro, argilas, palha (fornecida pelas pró- orgânicos voláteis (consultoria – Isolamento térmico pelo exterior, tipo ‘“capoto”
prias proprietárias que possuem uma Robbiallac). – Exposição Sul das zonas de estar (protegidas por palas)
quinta ao lado) e inertes provenientes – Electrodomésticos da classe A+ e lâmpa- e poucas aberturas a Norte
das demolições, das fluorescentes compactas – Quartos virados a Nascente
– Estuques manuais e rebocos de cal e sai- – Torneiras e chuveiros com redutores – Piscina biológica, a criar um micro-clima
bro, de fluxo e autoclismos de dupla des- – Árvores de folha perene, a proteger dos ventos
– Réplicas de janelas de madeira, com carga. – Jardim de Inverno protegido e ventilado
vidros laminados – Acessiblidade a pessoa com mobilida- – Ripado de madeira as fachada Poente e Sul,
– Nas caixilharias novas, vidros duplos, de condicionada em todo o piso terreo – Pinho português proveniente de florestas sustentáveis,
portadas e ripado exterior (a Sul). – Executada por empreiteiro local – Coberturas ajardinadas
– Calafetagem com vedantes de borracha. – Caixilharia em alumínio, de vidro duplo com corte
– Guarda-vento na zona de entrada. térmico e revestimento baixo emissivo
– Águas quentes por sistema solar térmi- – Ventilação cruzada e ascensional (bandeiras e clarabóias)
co, complementado por caldeira a gás. Custo/m2 final da obra (sem contabilizar – Sistema de aquecimento/arrefecimento terra-ar
– Bomba de calor que produz um ligeiro climatização e o solar térmico): 590 eu- – Solar térmico para aquecimento de águas
aquecimento ou arrefecimento com ros+IVA – Fogão de sala e recuperador de calor
consumos mensais mínimos e difu- Arquitectos: Nuno Martins, Rui Fernan- – Construção modulada (redução de resíduos)
sores lineares integrados nos tectos em des e Licínio Faim (Coimbra), – Electrodoméstico classe A+ e lâmpadas ecomizadoras
forro à portuguesa colaboração de Carmen Morais e Sara – Reutilização das águas da chuva (regas e máquinas)
– Lã de rocha ( isolamento das coberturas) Santos
– Jardim de inverno, protegido por ripado Estabilidade e águas: Hernâni Vidigueira Orçamento por empreiteiro local (sem piscina): 575 eu-
de madeira e dispondo de ventilação Empreiteiro: Leonel Silva (Lendiosa) ros+IVA/m2
natural, www.projecto9.com Arquitctos: Nuno Martins e Pedro Rodrigues
– Clarabóias nos quartos e nos sanitários

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