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A Missão é URGENTE

“João, a situação aqui em Kinshasa continua na mesma, ou pior. Não te esqueças do nosso
sofrimento. Ao menos vós, missionários, não nos vireis as costas.” Foi este o “grito” do Égide
Tabasenge, um amigo que deixei em Kinshasa. Licenciado em Geografia, trabalha num
minimercado, e ganha mais ou menos 100 € por mês, o que é muito bom se comparado com
os salários da função publica, que dificilmente ultrapassam os 20 €. Mas não é nada, se
pensarmos na família que tem e que gostaria de construir. É jovem e continua a sonhar que
um dia haverá paz, oportunidades de trabalho e o pão nosso de cada dia. Porém, esse dia tarda
a chegar.
São milhões de pessoas que vivem nesta situação de precariedade, onde os direitos mais
essenciais são negados a crianças, jovens e adultos. O sonho de Deus continua uma utopia
para estes povos, para tantos homens e mulheres, irmãos e irmãs nossos. Que fazer?
Continuar a caminhar, a lançar a semente pois a missão é urgente.

Renovar o compromisso
O mês de Outubro é todo dedicado ás missões. Mas há o dia mundial das missões, o
penúltimo domingo do mês. O Papa João Paulo II, como habitualmente, recorda-nos, mais
uma vez, na sua mensagem para esse dia que “o compromisso missionário da Igreja constitui,
também neste início do terceiro milénio, uma urgência”. È urgente responder ao grito do
Égide, ao grito do povo de Deus que são todos os povos, especialmente os mais oprimidos.
Aonde se encontra esse povo? Aonde se encontra a missão hoje?
Eis as questões que, não poucas vezes, nos levam à demissão. A missão está em todo lado, em
Lisboa, em São Paulo, em Hong Kong… à porta da minha, da tua casa. Porquê partir, se aqui
há tanta gente que precisa? É verdade, mais importante que as distâncias físicas, que as
fronteiras a transpor, trata-se de uma atitude interior, de uma disponibilidade a partir ao
encontro do outro, de um sentir como humanidade e com humanidade. A humanidade que
Jesus incarnou para a levar à sua plenitude. Ele lançou as bases do sonho, deu a cara, a vida,
toda a sua vida para que a vontade de Seu pai fosse uma realidade. Mas, nem todos sabem
isso, e pior, muito poucos fazem esta experiência de vida em plenitude que Cristo nos propõe.
E aí, estou de acordo com o Égide “ao menos vós, missionários não nos vireis as costas”.
Existe uma parte da humanidade esquecida ou raramente recordada, num “eterno” exílio, à
espera... Lá, vivem milhões de pessoas que clamam por justiça e paz… É, preferencialmente,
para ser enviado a partilhar a vida destes povos, que o missionário existe. Não somos, por
isso heróis, mas faz parte do nosso ser, partir. Partir de Cristo e com Cristo ao encontro de
irmãos e irmãs que pedem apenas o direito à existência.
A missão é pois urgente e actual como, no-lo diz o Papa: “Os desafios sociais e religiosos que
a humanidade enfrenta nos nossos tempos estimulam os fiéis a renovarem-se no fervor
missionário. Sim! É necessário relançar com coragem a missão “ad gentes” , partindo do
anúncio de Cristo, Redentor de toda criatura humana.”. SIM, é de “sins” e sins radicais que a
missão precisa.
A Radicalidade é o caminho da missão
“Esta sede de almas a salvar sempre os Santos a sentiram fortemente; basta pensar, por
exemplo, em Santa Teresa de Lisieux, padroeira das missões, e em D. Daniel Comboni,
grande apóstolo da África, que tive a alegria de recentemente elevar à glória dos altares.”
(Mensagem, 1)
O papa propõe-nos, neste ano, como modelos de “SIM” à missão, estes dois santos cujo
sonho foi: Salvar almas. Almas em vez de “humanidade”, para incidir sobre o que de mais
profundo e divino cada ser humano tem. É o desejo de vida em plenitude para todos,
independentemente da cor, da raça, da língua e da cultura. Estes dois santos realizaram este
sonho com o mesmo ardor e paixão mas por caminhos bem distintos.
Santa Teresa de Lisieux viveu apenas 24 anos, entre 1873 e 1897. Aos 15 anos entra no
Carmelo de Lisieux para aí rezar pela salvação da humanidade. As missões eram para ela uma
atracção, como mostram as suas palavras: “ó Jesus… quereria percorrer a terra… uma missão
só não me bastaria. Quereria, ao mesmo tempo, anunciar o Evangelho nas cinco partes do
mundo, e até nas ilhas mais longínquas…”. Mas, no interior do Carmelo encontra o caminho
para realizar esta missão: “ No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor… Assim serei
tudo… assim o meu sonho será realizado”. Sem nunca ter ido ás missões tornou-se a
padroeira das missões. Tinha no coração o mundo.
São Daniel Comboni fez do mundo o seu Carmelo. Para ele parecia não haver fronteiras.
Chegou a sonhar com a missão na Ásia, mas foi a África que o fascinou: “o mais feliz dos
meus dias será aquele em que eu puder dar a vida pelos africanos”. Não poupou esforços e
consumiu os seus 50 anos (1831-1881) a percorrer os caminhos do mundo para colocar a
pessoa africana no coração da Igreja e do mundo de então.
A radicalidade é a nota comum destes dois Santos do século XIX. Para que outros tenham
vida, deram toda a sua vida. Na acção e na contemplação nasceu e cresceu neles o amor à
missão. Missão à qual todos somos chamados por Jesus. A experiência diz-nos que é junto a
Ele que nasce essa Paz que queremos transmitir, esse Reino que pretendemos anunciar, essa
Vida que queremos ver no rosto de cada irmão que encontramos no caminho. Queremos, pois,
voltar a Ele, voltar à Eucaristia com o Papa nos convida, e aí escutar de novo a Sua Palavra,
partilhar o mesmo pão e o mesmo vinho e acolher com alegria aquelas palavras de Jesus que
nos Envia “Ide em Paz e que o Senhor vos acompanhe”. Diz o Papa “Quem, de facto,
encontra Cristo na Eucaristia, não pode deixar de proclamar com a vida o amor
misericordioso do Redentor.” (Mensagem 2). Não podemos ficar indiferentes à gentes que
nos esperam como pão vivo, pão partido. Assim começa a missão, aceitando ser pão para o
irmão. Égide, povos todos que esperais uma palavra de Esperança, um olhar atento, um Deus
que escuta, que caminha convosco e por vós… podeis contar connosco!

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