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CONSTRUÇÃO

Brasil se afina à OIT


País ratificou ILO-OSH 2001 e Convenção 167 mas falta agora a implementação
Jófilo Moreira Lima Júnior e Luís Alves Dias

SCHEILA WAGNER
A Organização Internacional do Traba-
lho (OIT) publicou em 2001 as “Diretri-
zes sobre os Sistemas de Gestão da Segu-
rança e Saúde no Trabalho” (ILO-OSH
2001). As instruções são baseadas em
consenso internacional tripartite e refle-
tem os valores consignados nas conven-
ções, recomendações e códigos de práti-
ca da OIT. Tais diretrizes foram adotadas
pelo Brasil em outubro de 2005, durante
o V CMATIC (Congresso Nacional sobre
Condições e Meio Ambiente do Trabalho
na Indústria da Construção), realizado em
Recife/PE, conforme declaração assinada
pelo ministro do Trabalho e Emprego e
pelo diretor do Programa SafeWork da
OIT/Genebra. A versão brasileira dessas
diretrizes foi publicada e distribuída nes-
se mesmo ano pela Fundacentro. Por ou-
tro lado, em maio de 2006, foi ratificada
também a Convenção 167 da OIT sobre
Segurança e Saúde na Construção, após
Decreto Legislativo n.º 61 do Senado Fe-
deral, de 18 de abril de 2006. Estes dois
atos representam para o Brasil um passo
importante para a repercussão dos obje-
tivos de melhoria das condições laborais impulsionar justiça social e melhoria das cer uma função harmonizadora entre os
dos trabalhadores em geral (e da indús- condições de vida dos trabalhadores do diversos países referentes às questões da
tria da construção em particular) e de mundo inteiro. A entidade tem como ob- Segurança e Saúde no Trabalho. A ratifi-
redução do número de acidentes e doen- jetivo fundamental promover oportunida- cação de uma convenção representa, as-
ças profissionais. Neste artigo, são apre- des para que mulheres e homens obte- sim, o compromisso do país perante as
sentadas as principais características dos nham trabalho decente e produtivo em disposições nela contidas, transmitindo
dois documentos. São discutidas, tam- condições de liberdade, eqüidade, Segu- internamente, mas também para o exte-
bém, as possíveis ações para sua imple- rança e dignidade. rior, uma mensagem de que a Segurança
mentação na indústria da construção no Na condução deste objetivo, a OIT, pos- e Saúde no Trabalho é um valor.
Brasil. suindo uma estrutura tripartite (governos, Competirá, pois, a cada país avaliar a
empregadores e trabalhadores), formula necessidade de adaptar ou não a legisla-
A OIT convenções e recomendações que esta- ção existente para atender a essas dispo-
A Organização Internacional do Traba- belecem disposições mínimas relaciona- sições. Caso se verifique não ser necessá-
lho foi criada em 1919 e, desde então, sen- das com o trabalho, bem como outras nor- rio adaptar qualquer legislação, a ratifi-
do o Brasil um dos estados-membros fun- mas de boa prática visando a melhoria das cação de uma convenção significa que se
dadores, tem uma longa história em rela- condições laborais dos trabalhadores. assume que todas as disposições estão já
ção à proteção dos trabalhadores da cons- Entre estas últimas, incluem-se os Códi- contidas na legislação existente e que as
trução contra os riscos provenientes da gos de Práticas dirigidos a setores espe- mesmas serão mantidas.
atividade. Extensa é também a trajetória cíficos, como é o caso da construção, e as O presente artigo refere-se sumaria-
da OIT frente ao princípio da representa- Diretrizes para a Implementação de Sis- mente aos principais aspectos que carac-
ção tripartite como uma necessidade para temas de Gestão da Segurança e Saúde terizam as Diretrizes da OIT sobre os SG-
no Trabalho (SG-SST). SST (ILO-OSH 2001) e os antecedentes
Jófilo Moreira Lima Júnior - Engº Civil e Segurança do da adoção destas no Brasil. Aborda, tam-
Trabalho, Tecnologista da Fundacentro
(jofilo.lima@fundacentro.gov.br) CONVENÇÕES bém, os princípios orientadores da Con-
Luís Alves Dias - Engº Civil, Professor do IST, Portugal As convenções da OIT pretendem exer- venção 167 sobre Segurança e Saúde na
(luis.dias@civil.ist.utl.pt)

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CONSTRUÇÃO
Construção, instrumento, aliás, que terá no Trabalho (SG-SST). Em outubro de
um elevado impacto na implementação 2005, durante o V CMATIC realizado em
dos referidos SG-SST na indústria da Recife, foi assinada a declaração de ado-
construção no Brasil. Há, ainda, referên- ção pelo Brasil dessas Diretrizes pelo Mi-
cias sobre os antecedentes da ratificação nistro do Trabalho e Emprego e pelo Di-
pelo Brasil dessa Convenção 167, relacio- retor do Programa SafeWork da OIT. O
nada aqui com a Norma Regulamentadora Brasil foi, assim, o segundo país da Amé-
sobre Condições e Meio Ambiente de Tra- rica Latina a adotar essas diretrizes da
balho na Indústria da Construção (NR- OIT. Seguiu o exemplo de outros países
18). do mundo, incluindo os da União Euro-
péia, que também já adotaram e que já se
ILO-OSH 2001 encontram em processo de implementa-
No período de agosto de 2003 a abril ção prática pelas empresas.
de 2005, a Fundacentro e a OIT realiza- Com a versão brasileira dessas diretri-
ram Jornadas Internacionais de Seguran- zes publicada pela Fundacentro, o que
ça e Saúde na Indústria da Construção nas importa é dar seguimento prático a tal
várias regiões do País, apresentando atra- adoção. Para isso, é necessário desenvol-
vés de conferencistas das duas institui- ver um quadro nacional para os Sistemas
ções a experiência brasileira, as tendên- de Gestão da Segurança e Saúde no Tra-
cias internacionais recentes e reunião com balho que inclua, conforme previsto nas
o Comitê Permanente Regional (CPR) lo- diretrizes da OIT:
cal. A primeira jornada realizada na Re- z A formulação de uma política nacio-

gião Nordeste aconteceu em São Luis/MA nal para o estabelecimento e promoção


nos dias 11 e 12 de agosto de 2003 com a de SG-SST nas organizações (empresas
promoção do Governo do Maranhão, CPR/ em geral)
MA e Instituto de Capacitação e Ensino z A elaboração das diretrizes nacionais
Profissionalizante (ICEP). Os temas abor- para a implementação de SG-SST basea-
dados durante este evento foram: Globa- das nas Diretrizes da OIT (ILO-OSH
lização no Contexto da Segurança e Saú- 2001), tendo em conta a legislação nacio-
de no Trabalho; Ações e Programas da nal e as práticas de cada país
Fundacentro no Plano Plurianual do Go- z A elaboração, sempre que necessário

verno Federal; Segurança e Saúde na e apropriado, de diretrizes específicas


União Européia; Concepção e Gerencia- baseadas nas diretrizes nacionais para ter
mento do PCMAT (Programa de Condi- em conta as particularidades de grupos
ções e Meio Ambiente de Trabalho na In- específicos de organizações (como é o ca-
dústria da Construção); Sistemas de Ges- so da construção)
tão da Segurança e Saúde no Trabalho da
Construção - o enfoque da OIT; Evolução 167
do Sistema Tripartite no Brasil e Sistemas A Convenção 167 sobre “Segurança e
Integrados de Gestão na Construção. Este Saúde na Construção” foi aprovada na
evento teve a participação de aproxima- Conferência Geral da Organização Inter-
damente 300 participantes e uma ampla nacional do Trabalho (OIT) na sua 75ª
cobertura da imprensa local através de sessão, realizada em junho de 1998. O
rádio, televisão e jornal. documento revisou a Convenção 62, de
Outras jornadas foram organizadas com 1937, sobre “Disposições de Segurança
o apoio dos Comitês Permanentes Regio- (Edificação)”, que se mantém em vigor
nais, seguindo uma metodologia de tra- para os estados-membros que a ratifica-
balho semelhante a da região Nordeste e ram.
cobrindo as regiões Sudeste (em Belo Até setembro de 2006, a Convenção 167
Horizonte/MG nos dias 22, 23 e 24 de foi ratificada por 20 países e a Convenção
março de 2004); Norte (em Manaus/AM 62 (que se mantém em vigor para os paí-
nos dias 25 e 26 de março de 2004); Sul ses que ainda não ratificaram a 167) por
(em Porto Alegre/RS nos dias 30 e 31 de 30 países, dos quais nove já ratificaram
março de 2005); e Centro-Oeste (em também a Convenção 167. Em nível mun-
Goiânia/GO no dia 05 de abril de 2005). dial, as duas Convenções foram ratificadas
Durante essas jornadas procurou-se por 41 nações.
destacar a importância da adoção pelo Entre os 20 países que ratificaram a
Brasil das diretrizes da OIT sobre os Sis- Convenção 167, encontram-se cinco que
temas de Gestão da Segurança e Saúde integram a União Européia (Alemanha,

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Dinamarca, Finlândia, Itália e Suécia) e gerais que a Convenção 167 coloca os
dois países que ratificaram essa Conven- maiores desafios aos Estados que a ratifi-
ção há menos de um ano (Brasil e Argé- cam, os quais deverão legislar sobre a sua
lia) os quais ainda deverão realizar a pro- forma de implementação. Entre essas dis-
ceder a adaptação da legislação nacional posições, considera-se que as duas prin-
às novas disposições. Quanto ao restante cipais são:
dos que ratificaram essa Convenção (onde a) Designação de um “construtor prin-
se incluem a China, México, Uruguai, cipal” ou uma “pessoa” (física ou jurídica,
etc.), acredita-se que terão já introduzido isto é, pessoa individual ou coletiva) res-
na legislação as adaptações pertinentes ponsável pela coordenação e cumprimen-
para atender às disposições dessa Con- to das medidas prescritas em toda a le-
venção. gislação aplicável de Segurança e Saúde
O Brasil é um dos mais recentes países no Trabalho
a ratificar a referida Convenção com efei- b) Envolvimento dos responsáveis pela
tos a partir do registro na OIT em 19 de concepção e planejamento dos projetos
maio de 2006, decisão relevante, impor- de construção (principalmente projetis-
tando agora dar prosseguimento a tal ra- tas não apenas do produto final pretendi-
tificação, isto é, verificar se é ou não ne- do, mas também os das estruturas tem-
cessário introduzir adaptações à legisla- porárias e dos projetos para produção)
ção para cumprimento da mesma. que deverão levar em conta as questões
Considera-se que a ratificação da Con- relacionadas com a Segurança e Saúde no
venção 167 pelo Brasil era necessária e Trabalho.
importante. Poderão, portanto, ter con- Relativamente à primeira dessas dispo-
tribuído de alguma forma as referências sições, a indicação desse construtor prin-
feitas durante as jornadas conjuntas rea- cipal (não confundir com construtor ge-
lizadas pela OIT e Fundacentro nas cinco ral que, caso exista, poderá ser também o
regiões do País no período de 2003 a 2005, construtor principal) ou dessa pessoa (fí-
onde a questão da ratificação dessa Con- sica ou jurídica), deve ser obrigatória sem-
venção constituiu um dos marcos que não pre que no canteiro de obra intervenha
se deixou de relevar. mais que um empregador (note-se que um
Importa registrar que a Convenção 62, subempreiteiro é um empregador). A le-
referente à edificação, apenas abordava gislação para a implementação desta nova
a necessidade de legislar sobre algumas figura poderá ser simples para as obras
disposições relativas à Segurança, desig- onde exista um construtor geral. Nos de-
nadamente, de andaimes, plataformas de mais casos, obras com vários construto-
trabalho, escadas, equipamentos de ele- res intervindo simultânea ou sucessiva-
vação e outros, incluindo disposições ge- mente, ou obras em que se pretenda de-
rais sobre o sistema de inspeção e a infor- signar uma pessoa que não um dos cons-
mação estatística sobre acidentes de tra- trutores, a legislação poderá exigir maio-
balho. res cuidados, levando-se em conta a ne-
A atual Convenção 167 é, sem dúvida, cessidade de definir qual dos construto-
mais abrangente que a 62, seja quanto às res será o construtor principal, no con-
disposições gerais, como no que diz res- teúdo da Convenção, e/ou a qualificação
peito às medidas de prevenção e prote- da citada pessoa, caso seja esta a opção.
ção a serem implementadas nos cantei- Quanto à segunda das referidas dispo-
ros de obras. Entre estas medidas, inclu- sições, para estender as competências dos
em-se, além das referidas na anterior Con- projetistas à Segurança e Saúde no Tra-
venção, outras relativas à Segurança no balho, a legislação deverá ser articulada
próprio local de trabalho, no uso de explo- com a legislação já existente no âmbito
sivos, na utilização de equipamentos di- da construção onde se definem as respon-
versos, trabalho em ambiente com ar com- sabilidades dos projetistas.
primido, etc. Associada a esta Convenção, Trata-se de uma questão que o meio
foi também publicada pela OIT a Reco- técnico da construção deverá discutir
mendação 175 com o mesmo título da para dar resposta a questões como: “o que
Convenção, que ajuda a compreender e os projetistas devem fazer para atender
interpretar as disposições nela contidas. às questões relacionadas à Segurança e
Saúde no Trabalho durante a fase de pro-
DESAFIOS jeto?”; “Como se reflete esse aumento de
Porém, é sobretudo nas disposições competências nos honorários pela elabo-

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TRAVAIL&SÉCURITÉ
CONSTRUÇÃO
1992, teve como base a re- 1993 a 2001, sendo esse decréscimo de
ferida Convenção 167. Essa cerca de 25% se considerarmos nesse in-
Diretiva contempla a Segu- dicador o número de acidentes de traba-
rança e Saúde para a fase de lho com mais de três dias perdidos.
exploração/utilização das Refira-se, porém, que a implementação
obras, tendo em conta que prática das disposições dessa Diretiva em
muitas das medidas a im- cada um dos países da União Européia foi
plementar devem ser pre- efetuada tendo em conta a realidade de
vistas desde a fase de con- cada um dos países, havendo, assim, di-
cepção dessas obras. Para ferenças na forma e conteúdo como cada
mais informações sobre o país a implementou, como aliás se procu-
conteúdo desta Diretiva e a- rou apresentar na publicação da OIT/Bra-
daptações legislativas in- sil. Importa também referir que entre os
troduzidas em diferentes países da União Européia existem diferen-
países da União Européia, é ças, por vezes significativas, quanto aos
possível consultar o Docu- indicadores de sinistralidade laboral no
mento de Trabalho n.º 200, setor da construção. A forma como cada
publicado pela OIT/Brasil país transpôs essa Diretiva para a legisla-
em 2005 e distribuído du- ção nacional poderá explicar parte des-
rante o V CMATIC. sas diferenças.
Diretiva contribuiu para redução de acidentes na União Européia Do mesmo modo, considera-se que a
ração dos projetos?”; “Quais as suas reais REDUÇÃO CONCRET
CONCRETA A adaptação da legislação nacional às dis-
responsabilidades em caso de ocorrência Assim, conhecendo-se de alguma for- posições da Convenção 167 deverá ser
de um acidente de trabalho?”. Estas são ma os progressos ocorridos nos países da devidamente ponderada, acreditando-se
algumas das questões que se poderão co- União Européia em matéria de redução que as experiências já realizadas noutros
locar e que a legislação não poderá deixar de sinistralidade laboral, pode-se dizer países poderão beneficiar outros, quer
de ter em conta. que o saldo é muito positivo. A título de implementando as medidas legislativas
Existem, porém, algumas experiências exemplo, após a publicação dessa Dire- que se revelaram positivas, quer evitan-
sobre estas matérias em outros países, tiva, o número de acidentes de trabalho do a implementação de medidas que ma-
principalmente nos da União Européia fatais no setor da construção por 100 mil nifestamente não se terão revelado posi-
(UE). Acredita-se que a implementação trabalhadores decresceu cerca de 35% de tivas.
adequada dessas disposições na legisla-
ção é da maior importância, explicando,
pelo menos em parte, o decréscimo no
número de acidentes de trabalho nos can-
Melhorias esperadas
teiros de obras de muitas das nações da Adoção de orientações da OIT podem trazer melhoras efetivas ao setor
UE.
Então, para se alcançar a redução de A ratificação de tratados e convenções da Câmara (PDC) em outubro do mesmo
acidentes é necessário legislação adequa- obedece às normas jurídicas internas pró- ano.
da, que não exija a implementação de prias dos Estados Nacionais membros da Esse PDC foi distribuído às Comissões
medidas de difícil aplicação prática – o que OIT, sendo que no caso do Brasil a norma de Trabalho, de Administração e Serviço
pode resultar em um efeito inverso ao aplicável está no art. 49 da Constituição Público e à Constituição e Justiça e de
pretendido, contribuindo para o seu des- Federal: Redação e, depois, submetido ao Plená-
crédito ou mesmo para o não cumprimen- Art.49: É da competência exclusiva do rio. Após as discussões e os pareceres fa-
to de outra legislação de Segurança e Saú- Congresso Nacional: I – resolver definiti- voráveis aprovados por unanimidade pe-
de que se tenha revelado eficaz no passa- vamente sobre tratados, acordos ou atos las comissões, o PDC só teve sua tramita-
do. Importa, pois, evitar tais situações. internacionais que acarretem encargos ou ção na Câmara dos Deputados concluída
compromissos gravosos ao patrimônio em 8 de dezembro de 2005. Foi enviado
DIRETIV
DIRETIVA A CANTEIROS nacional ao Senado, sob o nº 821/2003, em 15 de
Assim, no caso dos países da União Eu- O processo de ratificação da Conven- dezembro de 2005.
ropéia antes do alargamento (quer os que ção 167 pelo Brasil começou pelo próprio No Senado, o PDC foi convertido no
ratificaram a Convenção 167, quer os que Executivo que em julho de 2003, por meio Projeto de Decreto do Senado (PDS) nº
ainda não a ratificaram), dir-se-ia que to- da mensagem nº 307/03, submeteu à con- 29 de 2006. Em 18 de abril de 2006, o
dos poderão já cumprir as disposições sideração do Congresso Nacional os tex- Presidente do Senado Federal, através do
dessa Convenção por força de uma Dire- tos dessa Convenção e a Recomendação Decreto Legislativo nº 61, aprovou então
tiva Européia designada por “Diretiva nº 175 que lhe está associada, seguindo os textos da Convenção nº 167 e da Reco-
Canteiros”, a qual foi já transposta para o depois para a Câmara de Deputados. A mendação nº 175 da Organização Inter-
direito interno desses países. De fato, essa Comissão de Relações Exteriores apre- nacional do Trabalho sobre a Segurança
Diretiva, adotada pela União Européia em sentou o Projeto de Decreto Legislativo e Saúde na Construção.

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CONSTRUÇÃO

ARQUIVO SECONCI/RIO
A ratificação pelo Brasil da Convenção z Criação de CPN/CPRs

167 constitui um passo importante para A NR-18 responderá assim, se não a


reforçar a discussão no meio técnico na- todos, pelo menos à maioria das medidas
cional sobre a Segurança e Saúde na in- de prevenção e de proteção referidas na
dústria da construção. Importa agora ve- parte III da Convenção 167, superando
rificar as adaptações que são necessárias mesmo em muitos casos essas medidas,
introduzir na legislação nacional para seja em termos de uma maior abrangên-
atender integralmente às disposições des- cia, seja em matéria do detalhe de muitas
sa Convenção 167. Caso venha a ser re- das medidas preconizadas, colocando o
conhecida a necessidade de introdução de desafio a quem tem de implementar e ve-
adaptações, importa saber a forma como rificar o cumprimento dessas medidas no
tal deverá ser feita, tendo em conta a rea- dia a dia.
lidade do setor da construção no Brasil. Relativamente às disposições gerais da
Considera-se importante envolver em Convenção 167, importa conjugar a NR-
tal discussão o meio técnico nacional do 18 com outra legislação existente aplicá-
setor da construção e os profissionais da vel a todos os setores de atividade (legis-
Segurança e Saúde no Trabalho, incluin- lação federal, estadual, municipal ou mes-
do o CPN (Comitê Permanente Nacional mo nos contratos coletivos de trabalho),
sobre Condições e Meio Ambiente do Tra- e que possa responder, seja total ou par-
balho na Indústria da Construção) e, na- cialmente, seja direta ou indiretamen-
NR-18: documento traz preconizações avançadas
turalmente, os CPRs (Comitês Permanen- te, às citadas disposições.
tes Regionais sobre Condições e Meio publicado no Diário Oficial da União de Porém e relativamente à primeira da-
Ambiente do Trabalho na Indústria da 18 de novembro de 1994, para que todo e quelas duas disposições (designação de
Construção), em ambos os casos integran- qualquer interessado se pronunciasse, um construtor principal, na acepção da
do representantes das três bancadas (go- inclusive fazendo propostas de modifica- Convenção 167), a legislação existente
verno, empresários e trabalhadores), be- ção, supressão ou acréscimos até 20 de poderá contemplar já essa situação, ex-
neficiando-se assim da sua experiência dezembro de 1995. Nesse período foram plícita ou implicitamente, pelo menos no
enriquecida nestas matérias. Esses Comi- encaminhadas aproximadamente três mil modelo de gestão da construção onde
tês Tripartites (CPN e CPRs) estarão, sem propostas de alteração oriundas de mais exista um construtor geral, porventura o
dúvida, em posição privilegiada para se de 300 instituições, empresas e profissio- modelo mais freqüente no Brasil, como o
pronunciarem sobre as adaptações neces- nais autônomos. é também em muitos outros países, de-
sárias face ao conhecimento detalhado O novo texto foi posto em discussão em signadamente em obras privadas de edi-
que têm da Norma Regulamentadora 18. reunião tripartite e paritária, realizada em ficação mas também em muitas obras pú-
A NR-18 é um instrumento considera- Brasília/DF, no período de 15 a 19 de maio blicas. Tratando-se de outros modelos de
do da maior importância para a melhoria de 1995. O texto aprovado na referida reu- gestão da construção (por exemplo, obras
das condições de trabalho e para a redu- nião, fruto de consenso entre as partes realizadas por fases com a intervenção
ção da sinistralidade laboral no setor da (trabalhadores, empregadores e Gover- simultânea ou sucessiva de diversos cons-
construção no Brasil. Trata-se de um do- no), foi submetido à consultoria jurídica trutores, obras realizadas em regime de
cumento cujo objetivo está expresso no do Ministério do Trabalho e, posterior- concessão, entre outras), poderá ser ne-
seu campo de aplicação “…implementa- mente, publicado pela SSST, em julho de cessária uma clarificação legislativa que
ção de medidas de controle e sistemas 1995, como a nova NR-18. responda objetivamente a essa disposição
preventivos de Segurança nos processos, Dentre os principais itens da nova Nor- da Convenção 167, tal como aconteceu
nas condições e no meio ambiente de tra- ma Regulamentadora 18, atualmente em noutros países, principalmente nos da
balho na indústria da construção”. vigor, destacam-se: União Européia.
A NR-18 tem sofrido modificações ao z Obrigatoriedade de elaboração e cum- No que respeita à segunda das disposi-
longo do tempo para atender à evolução primento pelas empresas do PCMAT (Pro- ções da Convenção 167 (envolvimento
dos processos de construção, métodos e grama de Condições e Meio Ambiente de dos responsáveis pela concepção e pla-
relações de trabalho. Assim, a primeira Trabalho na Indústria da Construção). Sua nejamento dos projetos de construção que
modificação feita na NR-18 ocorreu em implementação permite um efetivo geren- deverão ter em conta a Segurança e Saú-
1983 com vista a uma maior abrangência ciamento do ambiente de trabalho, do de no trabalho), tal disposição não estará
e conteúdo mais técnico e atualizado. Em processo produtivo e de orientação aos contemplada na legislação existente no
função dessa evolução, a Secretaria de trabalhadores, reduzindo o acentuado Brasil, tal como acontece ainda em mui-
Segurança e Saúde no Trabalho (SSST) número de acidentes de trabalho e doen- tos outros países, com exceção dos da
deu início, em 10 de junho de 1994, ao ças ocupacionais União Européia onde tal já foi considera-
processo de revisão da NR-18 por meio z Estruturação de áreas de vivência em do por força da Diretiva Canteiros.
de um Grupo Técnico de Trabalho cons- canteiros de obras, definindo parâmetros
tituído por técnicos da Fundacentro, mínimos sobre instalações sanitárias, ves- DO P APEL P
PAPEL ARA O DIA A DIA
PARA
SSST e DRT. tiários, alojamentos, locais para refeições As Diretrizes da OIT sobre os Sistemas
Foi produzido um texto básico, então e cozinha, lavanderia e áreas de lazer de Gestão da Segurança e Saúde no Tra-

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balho (ILO-OSH 2001), disponível atual- recurso de maior valor das empresas. adotadas pela OIT em junho de 2006),
mente em 22 diferentes idiomas, é o do- O desafio está lançado e acredita-se que terá repercussão internacional, podendo
cumento internacional de referência para esta é a via e a oportunidade para refor- vir a constituir um exemplo a ser seguido
governos e companhias que pretendem çar o que muitos vêm reclamando no sen- por outros países.
melhorar as condições de trabalho em ní- tido de ter a Segurança e Saúde no Traba-
vel nacional ou em nível de empresa. Tais lho como um valor importante a ser con-
REFERÊNCIAS
diretrizes prevêem a possibilidade de vi- siderado. Lima, Jófilo M; López-Valcárcel, Alberto; Dias, Luís Alves (2005):
Segurança e Saúde no Trabalho da Construção: Experiência
rem a ser adaptadas para grupos de em- A experiência brasileira a partir da ra- Brasileira e Panorama Internacional. Publicação n.º 200 da OIT
presas, seja para atender à sua dimensão tificação da Convenção 167 e da imple- – Brasil. Brasília,”. Brasil, Outubro de 2005.
Jornal Oficial das Comunidades Européias (1992): Diretiva 92/
(micro, pequenas, médias e grandes em- mentação das Diretrizes da OIT na Indús- 57/CEE de 24 de Junho de 1992: Prescrições mínimas de se-
gurança e de saúde a aplicar nos canteiros temporários ou
presas), seja para ter em conta as tria da Construção, impulsionada pela móveis. União Européia.
OIT-FUNDACENTRO (2005): Diretrizes sobre Sistemas de Ges-
especificidades da atividade que desem- nova Convenção nº 187 e Recomendação tão da Segurança e Saúde no Trabalho. Fundacentro, São Pau-
penham, como é o caso da indústria da nº 197 sobre o quadro promocional para lo, Brasil.
OIT (1988): Convenção 167 e Recomendação 175 sobre Se-
construção. Em particular, os trabalhado- a Segurança e Saúde no Trabalho (ambas gurança e Saúde na Construção. OIT, Genebra.
res da construção estão expostos a riscos
muito específicos tendo em conta a natu-
reza das atividades em que estão envolvi-
dos, considerando-se, pois, que se justifi-
ca plenamente a elaboração de diretrizes
específicas para este setor de atividade.
Por outro lado, a Convenção 167 sobre
Segurança e Saúde na Construção é ou-
tro documento de fundamental importân-
cia para a melhoria das condições de tra-
balho na construção, para o que importa
proceder a uma análise do seu conteúdo
tendo em vista transpor para a legislação
nacional das medidas que se revelarem
necessárias dando cumprimento ao ato de
ratificação oficial dessa Convenção.
Tratam-se de dois importantes docu-
mentos para o setor da construção que
justificam uma abordagem conjugada,
beneficiando-se das sinergias que serão
criadas para discutir as medidas legislati-
vas eventualmente necessárias para a
implementação integral da Convenção
167 e, simultaneamente, para a elabora-
ção das diretrizes específicas para aplica-
ção de forma voluntária ao setor da cons-
trução.
Neste artigo, procurou-se apenas con-
tribuir de alguma forma para fomentar tal
discussão, que deverá envolver os princi-
pais intervenientes no processo de cons-
trução, nomeadamente governo, empre-
sários e sindicatos de trabalhadores, mas
também associações profissionais relaci-
onadas com a construção (projetistas,
engenheiros e profissionais de Seguran-
ça e Saúde no Trabalho, etc.), incluindo
universidades e institutos técnicos de re-
ferência, entre outros.
Os benefícios que se poderão colher de
uma participação ampla nessa discussão
são, sem dúvida, incomensuráveis para
todos os intervenientes no processo de
construção, principalmente para os traba-
lhadores da construção que constituem o

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