You are on page 1of 4

Água, um recurso estratégico Por: Décio Luiz Gazzoni* Água é vida

Não há vida sem água, o seu corpo é composto por dois terços de água. Os
alimentos que você ingere foram produzidos com água e contém água; os processos
industriais usam água. Água é saneamento, é limpeza, é higiene, é a substância que
permeia com maior intensidade e freqüência as atividades humanas. No uso
cotidiano um cidadão médio necessita de 200 a 300 litros de água, para atender a
todas as suas necessidades. Mas, o uso direto pelo ser humano representa uma das
demandas de água doce, e não é a maior: existe a demanda industrial, ou, para ser
mais abrangente, a demanda das atividades econômicas da urbe, e a demanda do
setor agropecuário. Na área industrial água é base para produção de energia em
pequena escala, vapor, refrigeração, lavagem, etc. E também é necessária para
produção de energia em larga escala, como as hidroelétricas que, embora não
consumam a água, impõem uma série de exigências técnicas e limitações ao seu
uso. Por exemplo, o volume d’água necessário para operar uma hidroelétrica limita o
volume que pode ser utilizado nos perímetros irrigados.Água é dinheiroNão sei
quantos vão lembrar desse episódio, porém durante a primeira crise do petróleo, lá
nos anos 70 de repente um brasileiro propôs: nós não temos petróleo, estamos
pagando o olho da cara para importá-lo dos árabes; eles não têm água, estão
pegando os bilhões de dólares do petróleo para construir super-estruturas caras e
ineficientes de tratamento de água salgada. Então, porque não aproveitar o
petroleiro que volta vazio e vender água para a OPEP? Essa discussão ficou um
tempo na imprensa e acabou desaparecendo pela dificuldade de operacionalização,
porque esgotou-se em si mesma e porque nos acostumamos com o preço. Mas, o
problema está aí e continua: alguns países têm petróleo, ou tem dinheiro, ou tem
comida, ou tem alguma coisa de valor econômico, e outros têm água. E água tem
valor presente, e terá valor cada vez mais intenso no futuro. Água é mal
distribuídaA distribuição geográfica da água é um dos pontos cruciais e um
problema estrutural sério. Ela está onde está e não está onde não está, no entanto é
necessária nos dois locais. em Israel, na Palestina e na Jordânia, a temperatura é de
45 graus C no inverno, o fato é que a História não vai mudar e seres humanos
continuarão habitando locais inóspitos, sem água. E a necessidade de água será
eterna. Para atender a demanda, as alternativas visíveis são: fazer chover onde não
chove; ir buscar água no sub-solo, se existir; tornar potável a água do mar e
transportá-la onde for necessária; ou buscar água doce onde existir. Como as
previsões da ONU são de que, embora declinantes, as taxas de crescimento
populacional serão positivas nos primeiros 50 anos do século XXI (população entre 9
e 10 bilhões), a demanda por água crescerá em taxas superiores à demanda de
alimentos. Porque, produzir alimentos, requererá ainda mais água. Mesmo na Pátria
Amada, morremos afogados na Amazônia e de sede no Nordeste. Projetos para
resolver o problema, como a transposição do São Francisco, são polêmicos e custam
bilhões de dólares.Água é bençãoo Brasil tem muita água doce. Certo que a maior
parte está concentrada o Criador depositou lá na Bacia Amazônica. Porém, com
milhões de dificuldades, que é para ser a reserva para o século XXIII, às vésperas da
grande revoada da Humanidade para outro Planeta. Mas, o que Ele nos deu de água
no restante do país é uma fábula. Vou ficar apenas num exemplo que estudei
recentemente: pelas cataratas do Iguaçu passam, a cada segundo, cerca de 11
milhões de litros de água. O suficiente para atender as necessidades diárias de
Londres ou Paris a cada 150 seg; Tóquio em 175 seg; Nova Iorque em 200 seg; da
cidade do México em 225 seg; São Paulo em 360 seg. Parece espetacular? Então vou
lhe responder como aquele meu professor de Zoologia: espere quando estudarmos o
burrichó! Porque, pelas máquinas e pelo vertedouro de Itaipu, sobre o Rio Paraná,
passa 5 vezes mais que isso. A cada 100 dias jorra água suficiente para atender a
necessidade de toda a população mundial!Água é mal usadaConcluímos que água
não falta, até pelo contrário, sobra. Nossos problemas estão na sua distribuição
geográfica desuniforme e no mau uso que dela é feito. Nos interessa de perto os
maus tratos que aplicamos à água enquanto insumo produtivo para a agricultura.
Mas não há como passar ao largo de outras formas de poluição e esgotamento.
Segundo a Embrapa, metade dos municípios brasileiros são abastecidos por água
retirada de poços. Ou seja, teoricamente água protegida da agressão do Homem.
Apenas teoricamente, porque nem lá embaixo a água está protegida. Os franceses
estão apavorados com a descoberta de diversos poluentes, oriundos de atividades
agrícolas, em águas subterrâneas. Uma das descobertas é a alta concentração de
nitritos, indutores de tumores malignos, em concentrações que inviabilizam o uso da
água. De onde vieram os nitritos? Ou do uso super-intensivo de adubos nitrogenados
altamente solúveis, ou da lixiviação de dejetos da suinocultura. O que está
provocando conflitos na monolítica estrutura de cumplicidade no seio da Comunidade
Européia, para manutenção dos subsídios agrícolas, porque os subsídios constituem
uma peça angular na manutenção do status quo tecnológico, e dos efeitos colaterais
dele derivados.Água, uso e consumoUsar água significa que parcela ponderável
dela volta ao ambiente original; consumí-la significa que ela se torna indisponível,
demora para retornar ao seu ciclo natural, via de regra distante do ponto de
consumo. A agricultura é responsável por dois terços do uso e por quase 90% do
consumo de água. Em contrapartida, a indústria usa um quarto e consome menos de
5% da água (embora muitas vezes volte poluída ao ambiente). O uso e o consumo
de água guardam uma relação logarítmica com a população e a renda per capita
mundial. A necessidade de mais alimentos significa um aumento no consumo de
água, para as diferentes atividades agrícolas. Nesse cenário, cresce a importância da
conscientização sobre dois fatores: desperdício e poluição. O desperdício é
representado por uso e/ou consumo excessivo e desregrado da água. Já a poluição é
causada pelo desmatamento ciliar, pela falta de proteção nas nascentes, pelo mau
manejo de solo, pelo distanciamento dos paradigmas da agricultura sustentável, pelo
uso inadequado de agrotóxicos e fertilizantes, pela falta de investimento no
tratamento de efluentes, etc. Conservar o recurso água significa eliminar ou reduzir
desperdícios e poluiçãoÁgua e LeiTodo país que se preze tem uma Lei de Águas,
que regula o uso e o consumo. Nos países conscientes, ela pune severamente a
poluição e o desperdício, e o objetivo sempre é o bem estar social e a preservação
de um recurso finito. No Brasil, a Lei 9433 (8/1/97) define a água como um bem de
domínio público, um recurso limitado e que possui um valor econômico e social.
Trata da concessão da água para uso econômico, cobra pelo uso da água, e prevê
pagamento no caso de uso de cursos de água para o lançamento de efluentes (sem
abrir mão da preservação, de conformidade com o CONAMA). O que a sociedade
espera é o estrito cumprimento da lei pelos agentes econômicos e pelo poder
público, reduzindo o desperdício, eliminando a poluição, preservando um bem
escasso e garantindo um recurso estratégico para o país, a herança social dos nossos
filhos.*O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e Diretor
Técnico da FAEA-PR. Homepage: http://www.sercomtel.com.br/ice/agro O bom uso
da água segundo especialistasÉ preciso adotar novos métodos para a irrigação, que
consome 70% dos recursos hídricos. Apesar de ser o setor que mais consome água, a
agricultura de irrigação tende a crescer de 15 a 20% nos próximos 30 anos, atendendo à
demanda por mais alimentos de uma população projetada em 8 bilhões de pessoas, além
de responder à demanda econômica por produtos agrícolas de maior valor agregado. Um
adulto precisa de 4 litros d'água por dia para beber, mas para produzir seu alimento diário
são necessários de 2 a 5 mil litros. Na média mundial, cerca de 70% dos recursos hídricos
hoje disponíveis são destinados à irrigação, ante 20% para a indústria e menos de 10%
para abastecimento da população (higiene e consumo direto). Nos países desenvolvidos,
o percentual de uso da água para irrigação é ainda maior, chegando perto dos 80%. Mas,
mesmo lá, apenas 1% das áreas irrigadas adotam o método de gotejamento, um dos mais
eficientes na relação alimento por litro de água usada, uma vez que reduz a possibilidade
de evaporação, como explica Sandra Postel, diretora do projeto Global Water Policy, de
Massachusetts. `Se a agricultura conseguir aumentar a produtividade da água, a pressão
sobre os preciosos recursos hídricos pode ser reduzida e a água seria liberada para outros
setores`, afirma Kenji Yoshinaga, diretor da Organização para Agricultura e Alimentação
(FAO). Pelos cálculos de Yoshinaga, a simples melhora de 1% na eficiência do uso da
água de irrigação, nos países em desenvolvimento de clima árido, significaria economia
de 200 mil litros de água, por agricultor, por hectare/ano. O suficiente para matar a sede
de 150 pessoas no período. Ele diz, ainda, que as áreas irrigadas nos países em
desenvolvimento devem aumentar dos atuais 202 para 242 milhões de hectares. Nos
desenvolvidos, o total irrigado fica em torno de 50 milhões de hectares, mas o potencial
de expansão é menor, porque a agricultura já é intensificada. Por isso, a escolha da
tecnologia adequada e de métodos de irrigação que evitam o desperdício é fundamental
para atender à demanda por alimentos com o mínimo de impacto ambiental. Em muitos
perímetros irrigados, a baixa qualidade das águas de superfície levou os agricultores a
optar pelas subterrâneas. Porém, o uso descontrolado está levando ao rebaixamento dos
aqüíferos, em alguns casos no impressionante ritmo de 1 a 3 metros por ano. Para evitar
problemas, a FAO sugere a adoção de tecnologias mais eficientes do que a tradicional
inundação de campos ou o uso de aspersores e pivô central (os dois métodos mais
utilizados no Brasil). (Liana John)
Fonte: Jornal Hoje (Rede Globo de Televisão) Data: 20/03/2003 Perdas no Brasil atinge
46% da água coletada Para os especialistas, além de evitar a poluição que ameaça as
reservas, é preciso investir no reuso da água e acabar com o desperdício, que só no Brasil
atinge 46% da água coletada. São Paulo está cercada por rios e represas. Mas a ocupação
desordenada e a poluição vão minando as reservas. O Brasil não utiliza nem metade da
água potável disponível no país. Mas a grande vilã ainda não é a poluição. Ela perde, de
longe, para o desperdício. Quase 30% da água já tratada vai para o ralo dentro do próprio
sistema de abastecimento: tubulações antigas, vazamentos e falta de manutenção. Outro
tanto se perde na cultura do desperdício. Da mangueira de jardim ao vaso sanitário. `É
comum se utilizar em uma descarga 20 litros, quando se poderia utilizar uma caixa
acoplada com seis ou quatro litros apenas` - disse o engenheiro ambiental Ivanildo
Hespanhol. Uma saída seria reaproveitar as sobras. Em uma casa em Sorocaba, interior
de São Paulo, toda água já utilizada passa por um tratamento e vai para uma caixa d’água
separada. `Essa caixa d’água serve todos os vasos sanitários e as torneiras de limpeza da
casa` - explicou o dono da casa André Rubini Sobanski. O sistema permitiu a economia
de oito mil litros por mês, quarenta por cento do consumo da casa. Uma solução que
poderia existir em larga escala. No sistema de reuso, o esgoto passa por um tratamento
semelhante ao da água potável. O líquido final pode ser utilizado em serviço de limpeza e
na indústria e custa três vezes menos. Em uma fábrica de São Paulo é com água
reaproveitada que são tingidas toneladas de fios e linhas de costura. A economia na conta
foi de 70%. `Ë claro que o custo dela é muito inferior. Então, estamos trabalhando nesse
sentido, preservando o meio ambiente e também reduzindo os custos da empresa` - falou
o gerente da empresa Mário Alves Rodrigues. Por enquanto, a água reutilizada só é
fornecida para empresas e prefeituras do Estado de São Paulo. Para que o uso fosse geral
seria necessária uma rede própria de abastecimento. Um futuro inevitável. `A parcimônia
no uso da água e o reuso são palavras chaves hoje. Nós temos que imediatamente
começar a aplicar` - falou Hespanhol. Catástrofe no mar de Aral O mar de Aral, entre o
Cazaquistão e o Uzbequistão, está morrendo.

You might also like