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1.

ESTIGMA E IDENTIDADE SOCIAL

De origem grega, o termo estigma referia-se aos sinais corporais que evidenciavam status moral.

Noções preliminares

 Os ambientes sociais estabelecem a categoria de pessoas que têm probabilidade de serem neles
encontradas.

 Quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua
cateogria e os seus atributos, a sua "identidade social"

 Transformamos essas pré-concepções em expectativas normativas, criando-lhe uma identidade


social virtual. A identidade social real corresponde aos atributos que o indivíduo venha
confirmadamente a possuir.

 Um estigma constitui uma discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade
social real.

 Relatividade: um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem.

 Um estigma é um tipo especial de relação entre atributo e estereótipo.

 Estigmas do desacreditado: 1) deformidades físicas; 2) fraquezas de caráter; 3) estigmas tribais


de raça, nação e religião.

 Um indivíduo estigmatizado tende a ter as mesmas crenças sobre identidade que o indivíduo
"normal"

 Aceitação: o estigmatizado descobre que alguns de seus atributos acabam por garantir o
respeito e consideração perdidos em decorrência do estigma.

 Predisposição à vitimização: torna o estigmatizado alvo fácil das promessas de correção de seu
defeito físico

 Correção de maneira indireta: compensar a deficiência física com grande desenvolvimento


intelectual, por exemplo.

 Uso do estigma para "ganhos secundários" (desculpa pelo seu fracasso)

 Encarar o estigma como uma "bênção", devido à crença de que o sofrimento engrandece a
alma.

 Acreditar que o estigma possa reafirmar as limitações dos "normais" (que deixam de
desenvolver sensibilidades que os deficientes desenvolvem)

 Auto-isolamento: frequentemente torna a pessoa deprimida, hostil, ansiosa e confusa.

 Insegurança em relação à forma como será recebido pelos "normais" (tanto por não saber em
qual categoria ele será "classificado", como pelo receio de ser classificado em função de seu
estigma).

 Seus menores atos podem ser considerados feitos notáveis, ao passo que os menores enganos
podem ser interpretados como expressão de seu estigma.

 Quando o estigma é visivelmente percebido, existe a sensação de invasão de privacidade.

 Atitude defensiva ou aproximação agressiva. Interpretação de significados não intencionais nas


ações dos outros.

 Dilema dos "normais": a demonstração de sensibilidade pode ser interpretada por piedade; o
oposto pode ser interpretado por indiferença.

 Consciência do "eu" e consciência do "outro": interação - inquietação.


O Igual e o "Informado"

 Os iguais:

1) aqueles que compartilham o seu estigma. Entre iguais, o estigmatizado pode


reorganizar sua vida, mas deve resignar-se a viver num mundo incompleto. As
associações geralmente mantém publicações que expressam sentimentos
compartilhados.

2) aqueles que atuam em nome dos estigmatizados, seja em ONGs ou associações, seja
junto ao governo ou à imprensa. Uma tarefa característica é convencer o público a
usar um rótulo social mais flexível à categoria em questão.

Os estigmatizados que ganham projeção profissional acabam por tornar-se


representantes naturais de sua categoria, pois são obrigados a romper o círculo
fechado de seus iguais.

 Os informados:

1) quando a informação é proveniente de seu trabalho (terapeutas, enfermeiras,


garçons de bares homossexuais, polícia)

2) aquele que se relaciona com um estigmatizado através da estrutura social


(relações de amizade ou parentesco, por exemplo)

3) homens marginais diante dos quais o estigmatizado não tem motivo para se
envergonhar. Exemplo: uma prostituta ou um gay em meio ao mundo
artístico, considerado "aberto".

Os informados não devem apenas se oferecer; eles precisam antes ser aceitos.

 Normalização1 x Normificação2

1
Esforço do "normal" em tratar o estigmatizado como se fosse um igual
2
Esforço do estigmatizado em comportar-se como se fosse "normal"

A Carreira Moral

 Experiências semelhantes de aprendizagem; mudanças semelhantes na concepção do "eu"

 História natural da categoria de pessoas com um estigma diferente da história natural do


próprio estigma

 Fases do processo de socialização:

1) A pessoa aprende e incorpora o ponto de vista dos normais


2) A pessoa aprende que tem um estigma e analisa as conseqüências de possuí-
lo

 Modelos de socialização:

1) Aqueles que possuem um estigma congênito e são socializados dentro de sua


situação de desvantagem.
2) Aqueles que vivem sob uma cápsula protetora (quando a família e a
comunidade protegem o estigmatizado pelo controle da informação).
Momento crítico: quando o estigmatizado tem que sair do círculo doméstico.
3) Aqueles que se tornam estigmatizados numa fase avançada da vida ou
aprendem muito tarde que sempre foram desacreditáveis (este segundo caso
envolve uma reorganização radical da visão de seu passado).
4) Aqueles que, inicialmente, são socializados numa comunidade diferente,
devendo aprender uma segunda maneira de ser. Dificuldades em estabelecer
novas relações (visto como uma pessoa que tem um defeito) e de manter as
antigas (pois estão ligadas ao que ele foi e não conseguem aceitar o que é
hoje).

 A experiência do isolamento e da falta de habilitação, geralmente na fase de hospitalização, é a


fase em que o indivíduo aprende sobre si mesmo e procura adaptar-se à nova situação.

4. O EU E SEU OUTRO

Desvios e Normas

 Para cada pequeno defeito há sempre uma ocasião social em que ele aparecerá com toda a
força, criando uma brecha vergonhosa entre a identidade social virtual e a identidade social
real.

 Não é para o diferente que se deve olhar em busca da compreensão da diferença, e sim para o
comum.

 É condição necessária para a vida social que todos os participantes compartilhem um único
conjunto de expectativas normativas. O fracasso ou sucesso em manter tais normas têm efeito
direto sobre a integridade psicológica do indivíduo.

 A simples boa vontade em permanecer fiel à norma não é o bastante; em muitos casos o
indivíduo não tem controle de sua situação.

 Há normas que tomam a forma de ideais e constituem modelos perante os quais todos
fracassamos em algum momento da vida.

 "Por exemplo, num sentido importante há só um tipo de homem que não tem nada do que se
envergonhar: um homem jovem, casado, pai de família, branco, urbano, do Norte,
heterossexual, protestante, de educação universitária, bem empregado, de bom aspecto, bom
peso, boa altura e com um sucesso recente nos esportes. Todo homem americano tende a
encarar o mundo sob essa perspectiva, constituindo-se isso, num certo sentido, em que se pode
falar de um sistema de valores comuns na América. Qualquer homem que não consegue
preencher um desses requisitos ver-se-á, provavelmente - pelo menos em alguns momentos -
como indigno, incompleto e inferior"

O Desviante Normal

 A manipulação do estigma é uma característica geral da sociedade, um processo que ocorre


sempre que há normas de identidade.

 O estigmatizado e o normal têm a mesma caracterização mental. A simples noção de diferenças


vergonhosas assume uma certa semelhança quanto a crenças cruciais, referentes à identidade.

 Pessoas que se livram de um estigma podem sentir que alteraram sua personalidade (em
direção ao aceitável), assim como as que adquirem um estigma, podem senti-lo no sentido
oposto.

 Estigmatizado e normal: complementares e semelhantes. O par estigmatizado-normal busca


adaptar-se para manter o equilíbrio social.

 Evidências: as pessoas se encobrem em ambas as direções, por brincadeira ou seriamente. Um


grupo imita o outro e zomba com o outro entre seus iguais. Psicodrama: colocar-se no lugar do
outro.

Janaína Castilho Marcoantonio - no USP 3096577


Discursos Jornalísticos e Estigmas Sociais - Profa Rosana

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