Constituio de Ambientes de Inovao Social: um novo formato para
os projetos de pesquisa
Marcelo Leite Gastal 1
INTRODUO
O Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio (DRSS) deve ter um enfoque territorial de desenvolvimento que contemple as vrias dimenses da sustentabilidade (econmica, social, poltica, cultural, tica e ambiental); que fortalea a gesto social; que estimule a organizao e participao poltica e que amplie as redes locais de cooperao, visando melhorar a qualidade de vida dos(as) agricultores(as) familiares e dos povos e comunidades tradicionais (MDA/Condraf, 2008).
Essa foi a definio aprovada nas plenrias da Etapa Nacional da 1 Conferncia Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio (I CNDRSS), realizada em Olinda, Pernambuco, no perodo de 25 a 28 de junho de 2008.
Nos princpios e prticas do DRS, o rural tem um papel central sendo visto como um espao que deve diversificar e multiplicar a pluralidade, tanto dos sistemas de produo (no os uniformizando) quanto das atividades rurais no-agrcolas; viabilizar novas estratgias de conservao ambiental compatveis com a produo sustentvel; promover e estimular dinmicas de incluso social e promoo da igualdade; e gerar alternativas tecnolgicas que favoream a disseminao da autonomia relativa de produtores(as) familiares.
Essa definio de DRS considera o mesmo no apenas como um processo de mudana tecnolgica mas sim, em ltima instncia, como um processo de mudana social baseado na construo coletiva de conhecimento.
Isso suscita uma pergunta fundamental: o que a pesquisa, desenvolvimento e inovao (PD&I) para o desenvolvimento rural sustentvel (DRS) da agricultura familiar? Ou seja, quais as conseqncias epistemolgicas dessa mudana de viso?
Este trabalho objetiva responder essas perguntas propondo um novo formato aos projetos de PD&I para o DRS da Agricultura Familiar.
JUSTIFICATIVAS DA PROPOSTA
A noo de desenvolvimento rural sustentvel (DRS) surge com a premissa bsica de reconhecimento da insustentabilidade ou inadequao econmica, social e ambiental do padro de desenvolvimento adotado pela grande maioria das sociedades contemporneas (SCHIMTT, 1995 apud ALMEIDA, 1998).
Sua abordagem territorial surge no cenrio mundial como uma estratgia privilegiada, pois dialoga a partir de identidades culturais e dinmicas econmicas prprias, favorecendo a aproximao entre as demandas sociais e as polticas pblicas (MDA/Condraf, 2008).
1 Eng. Agrn., Dr., Pesquisador da Embrapa-DPD, Marcelo.Gastal@embrapa.br 2
A Lei de Inovao sinaliza novas perspectivas ao processo de PD&I em instituies pblicas realmente comprometidas com o DRS pois nela, a inovao entendida como a introduo de novidade ou aperfeioamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou servios (Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004).
Possibilita considerar o DRS como um processo de inovao social (IS), concebido como o conjunto de atividades que pode englobar desde a pesquisa e desenvolvimento tecnolgico at a introduo de novos mtodos de gesto da fora de trabalho, e que tem como objetivo a disponibilizao por uma unidade produtiva de um novo bem ou servio para a sociedade (FBB, 2004). De construo de novos conhecimento.
Um processo de aprendizagem, compartilhado entre agricultores, extensionistas e pesquisadores, que no pode ser entendido apenas como aceso a informao (LATOUR, 1987 apud ALBAGLI e MACIEL, 2004).
O aprendizado uma relao social, um processo em que as pessoas no s so participantes ativos na prtica de uma comunidade, mas tambm desenvolvem suas prprias identidades em relao quela comunidade (HILDRETH e KIMBLE, 2002, p. 23 apud ALBAGLI e MACIEL, 2004).
Onde so geradas as tecnologias sociais (TSs) ou seja, o conjunto de tcnicas e procedimentos associados a formas de organizao coletiva, que representam solues para a incluso social e melhoria de vida. Orientadas sobretudo pela simplicidade, baixo custo, fcil aplicabilidade e impacto social (FBB, 2004).
A CONSTITUIO DE AMBIENTES DE INOVAO SOCIAL
Os projetos de PD&I para responderem a demanda de DRS da Agricultura Familiar devem possuir formato que possibilite estimular, gerar e documentar as TSs resultantes desse processo de aprendizagem. Na figura 1 so apresentados alguns elementos essenciais complementares e no excludentes.
Figura 1. Elementos essenciais de projetos de PD&I para DRS
O pesquisador pode contribuir no s como disseminador de informaes. 3 A partir do uso do mtodo cientfico alm de contribuir ao desenvolvimento das TSs, responsabiliza-se pelo registro sistemtico do aprendizado acumulado.
A organizao do conhecimento adaptado realidade, acumulado em um ambiente, serve de informao qualificada a ser oferecida a outros ambientes ou outras realidades sociais.
Para isso, o conhecimento produzido em um ambiente no deve se restringir apenas s questes produtivas. Na proposta apresentada so quatro nveis bsicos de ao (Figura 2).
Figura 2. Nveis bsicos de ao dos projetos de PD&I para DRS
A constituio de um ambiente de inovao social permitir construir conhecimentos, fruto do dilogo permanente entre agricultores, extensionistas e pesquisadores, pautado por uma determinada realidade social.
Essa realidade social, poder ser a de uma comunidade ou at mesmo numa maior escala, o territrio (Figura 3). Essa definio depende da capacidade de articulao entre os diferentes atores sociais.
Figura 3. Diferentes escalas dos ambientes de inovao social.
CONSIDERAES FINAIS
ASSOCIAO ASSENTAMENTO COOPERATIVA MUNICPIO TERRITRIO COMUNIDADE AMBIENTE DE INOVAO SOCIAL 4
importante ressaltar que esta proposta baseia-se na parceria com meta consensual, o DRS do grupo social. Entretanto, isso no significa a perda de identidade dos parceiros. A contribuio das organizaes de PD&I s ser eficiente e eficaz se estas no abdicarem das exigncias do mtodo cientfico. No da experimentao, ou do mtodo analtico, mecanicista e reducionista, necessrio para objetos de pesquisa ou problemas cientficos pontuais. Mas do mtodo cientfico na sua concepo sistmica. Para isso so fundamentais equipes multidisciplinares. O ambiente de inovao social permite considerar no apenas a dimenso econmica do desenvolvimento rural, mas tambm, a social, poltica, cultural, tica e ambiental como prope a sustentabilidade.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ALBAGLI, S.; MACIEL, M. L. Informao e conhecimento na inovao e no desenvolvimento local. Cincia da Informao, Braslia, v. 33, n. 3, p.9-16, set./dez. 2004.
ALMEIDA, J.; NAVARRO Z. (Org.). Reconstruindo a agricultura: idias e ideais na perspectiva de um desenvolvimento rural sustentvel. 2 ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1998. 323p.
FUNDAO BANCO DO BRASIL FBB. Tecnologia Social: uma nova estratgia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: FBB, 2004.
MINISTRIO DE DESENVOLVIMENTO AGRRIO/CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTVEL MDA/Condraf. 1 Conferncia Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel e Solidrio Documento Final. 2008. Disponvel em: <http://www.mda.gov.br/condraf/arquivos/1372418315.pdf> Acesso em: 15 de setembro de 2008.
AVALIAÇÃO DO IMPACTO SOCIAL DAS ACÇÕES DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: Estudo de Caso Realizado na Escola Superior Pedagógica do Bengo, no Projecto Orientação às Famílias de Crianças com Necessidades Educativas Especiais