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O Cancro
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Ebook180 pages2 hours

O Cancro

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Numa linguagem acessível às pessoas sem formação médica, este livro procura responder às perguntas básicas do universo da oncologia. O que é o cancro? Quantas doenças cancerosas distintas se albergam sob a designação geral de «cancro»? Como se originam os cancros a partir das lesões pré-cancerosas? Porque é que o cancro está a aumentar em todo o mundo? No cancro, o que é hereditário e o que é ambiental? Qual o papel dos nossos comportamentos na ocorrência de doenças cancerosas? Na segunda parte da obra, as respostas a estas perguntas são utilizadas para passar do pensamento à acção: Como se previne o cancro? Como se diagnosticam os cancros nas suas fases iniciais? Como se tratam os doentes? Sem deixar de salientar a necessidade de apostar na prevenção e no diagnóstico precoce, a resposta à grande questão — o cancro tem cura? — é, felizmente, cada vez mais afirmativa.
LanguagePortuguês
Release dateMar 1, 2016
ISBN9789898819840
O Cancro
Author

Manuel Sobrinho Simões

Manuel Sobrinho Simões nasceu há 66 anos no Porto, em cuja Faculdade de Medicina se licenciou (1971) e se doutorou em Patologia Oncológica (1978). Fez o pós-doutoramento em 1979-80 no Instituto de Cancro da Noruega. Ajudou a criar e dirige desde a sua fundação o Ipatimup. Presidiu à Sociedade Europeia de Patologia de 1999 a 2001, depois de ter sido secretário-geral de 1989 a 1997. Foi co-autor de cerca de 330 artigos científicos e de 24 livros ou capítulos de livros publicados na Europa, EUA e Japão que deram origem a mais de 9000 citações. Realiza anualmente 200 a 300 casos de consulta diagnóstica (tumores da tiróide, sobretudo) para instituições da Europa, Estados Unidos da América, América do Sul e África. Prémio Bordalo de Ciência — 1996, e Prémio Pessoa — 2002. Grande Cavaleiro da Ordem Real da Noruega e Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Actualmente é professor catedrático e director do Departamento de Patologia e Oncologia da FMUP, chefe de serviço no Hospital de São João, director do Ipatimup e vice-presidente do Health Cluster Portugal.

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    O Cancro - Manuel Sobrinho Simões

    O Cancro Manuel Sobrinho Simões

    Numa linguagem acessível às pessoas sem formação médica, este livro procura responder às perguntas básicas do universo da oncologia. O que é o cancro? Quantas doenças cancerosas distintas se albergam sob a designação geral de «cancro»? Como se originam os cancros a partir das lesões pré-cancerosas? Porque é que o cancro está a aumentar em todo o mundo? No cancro, o que é hereditário e o que é ambiental? Qual o papel dos nossos comportamentos na ocorrência de doenças cancerosas? Na segunda parte da obra, as respostas a estas perguntas são utilizadas para passar do pensamento à acção: Como se previne o cancro? Como se diagnosticam os cancros nas suas fases iniciais? Como se tratam os doentes? Sem deixar de salientar a necessidade de apostar na prevenção e no diagnóstico precoce, a resposta à grande questão — o cancro tem cura? — é, felizmente, cada vez mais afirmativa.

    Na selecção dos temas a tratar, a colecção Ensaios da Fundação obedece aos princípios estatutários da Fundação Francisco Manuel dos Santos: conhecer Portugal, pensar o país e contribuir para a identificação e resolução dos problemas nacionais, assim como promover o debate público. O principal desígnio desta colecção resume-se em duas palavras: pensar livremente.

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    Manuel Sobrinho Simões nasceu há 66 anos no Porto, em cuja Faculdade de Medicina se licenciou (1971) e se doutorou em Patologia Oncológica (1978). Fez o pós-doutoramento em 1979-80 no Instituto de Cancro da Noruega. Ajudou a criar e dirige desde a sua fundação o Ipatimup. Presidiu à Sociedade Europeia de Patologia de 1999 a 2001, depois de ter sido secretário-geral de 1989 a 1997. Foi co-autor de cerca de 330 artigos científicos e de 24 livros ou capítulos de livros publicados na Europa, EUA e Japão que deram origem a mais de 9000 citações. Realiza anualmente 200 a 300 casos de consulta diagnóstica (tumores da tiróide, sobretudo) para instituições da Europa, Estados Unidos da América, América do Sul e África. Prémio Bordalo de Ciência — 1996, e Prémio Pessoa — 2002. Grande Cavaleiro da Ordem Real da Noruega e Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Actualmente é professor catedrático e director do Departamento de Patologia e Oncologia da FMUP, chefe de serviço no Hospital de São João, director do Ipatimup e vice-presidente do Health Cluster Portugal.

    logo.jpg

    Largo Monterroio Mascarenhas, n.º 1

    1099-081 Lisboa

    Portugal

    Correio electrónico: ffms@ffms.pt

    Telefone: 210 015 800

    Título: O Cancro

    Autor: Manuel Sobrinho Simões

    Director de publicações: António Araújo

    Revisão de texto: Helder Guégués

    Capa: Carlos César Vasconcelos

    © Fundação Francisco Manuel dos Santos e Manuel Sobrinho Simões, Fevereiro de 2016

    O autor desta publicação não adoptou o novo Acordo Ortográfico.

    As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade do autor e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

    A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada ao autor e ao editor.

    Edição eBook: Guidesign

    ISBN 978-989-8819-84-0

    Conheça todos os projectos da Fundação em www.ffms.pt

    Manuel Sobrinho Simões

    O Cancro

    Ensaios da Fundação

    Índice

    Agradecimentos

    Introdução

    1. O que é o cancro e como se classifica

    2. As causas dos cancros – genes e ambiente

    3. Como nasce e se desenvolve um cancro? Das lesões pré-malignas à invasão e metastização

    4. Os números do cancro em Portugal e no mundo

    5. Prevenção e diagnóstico precoce

    6. Tratamento

    Epílogo – o futuro

    Referências

    Agradecimentos

    Aos meus amigos e colaboradores Fátima Carneiro, José Manuel Lopes, Fernando Schmitt, Leonor David, Valdemar Máximo, Raquel Seruca, Paula Soares, Isabel Amendoeira, Joanne Lopes, Mário Seixas, Paula Silva e Conceição Souto Moura, co-autores de três publicações sobre «Cancro», «Célula neo­plásica» e «Linguagem médica no diagnóstico oncológico» e de um site do IPATIMUP com as Respostas às Perguntas mais Frequentes dos Doentes e seus Familiares (http://www.infosaude.org/InfoSaude), pelo que me ajudaram e ensinaram.

    Ao Dr. António Araújo pelo envolvimento no processo e pela revisão minuciosa e profissional do texto sem a qual o ensaio não seria acessível à generalidade do público. A qualidade da revisão ficou também a dever-se, e muitíssimo, ao Dr. Marco Pina.

    Às Dras. Maria José Bento e Ana Miranda pelos esforços que têm feito, no Norte e no Sul do País, no sentido de dotar Portugal de dados fiáveis no domínio da oncologia (http://www.roreno.com.pt e http://www.ror-sul.org.pt).

    À minha amiga Fátima Magalhães pela paciência e profissionalismo com que «dactilografou» uma boa meia dúzia de versões do texto.

    Ao meu filho Manuel Areias Sobrinho Simões devo a ajuda nas neoplasias ditas «líquidas» e a leitura crítica do manuscrito.

    Introdução

    «A minha mãe, o meu pai e a minha madrasta, uma segunda mãe para mim, morreram todos de cancro, o meu melhor amigo tem um cancro em fase terminal, e pelo menos cinco outros amigos são sobreviventes de cancro… Não admira que a Cancer Research UK¹ seja a instituição filantrópica de que me sinto mais próxima.»

    É assim que Arabella Weir, escritora e actriz de 54 anos, justifica, numa entrevista publicada no Financial Times em meados de Junho de 2012, o seu apoio à campanha da Cancer Research UK no sentido de convencer o Governo inglês a impor a remoção das marcas dos maços de cigarros para os tornar menos atractivos para crianças e adolescentes.

    É notável como três linhas de uma conversa social sem pretensões de profundidade científica podem dar tantas pistas sobre os problemas com que nos debatemos hoje no que diz respeito ao cancro.

    Desde logo, a noção de que é uma doença muito frequente, adivinhando-se que atinge sobretudo adultos e adultos idosos. Depois, a verificação, quase paradoxal, de que há muito quem morra de cancro e muito quem lhe sobreviva. E, finalmente, o contraste entre a preocupação por quem está na fase terminal da doença e a adesão a uma campanha de prevenção apontada a jovens cheios de vida.

    A possível existência de susceptibilidade genética para o desenvolvimento de doença cancerosa, embora não expressa, subentende-se da referência ao facto de tanto o pai como a mãe de Arabella Weir terem sido vítimas de cancro. Não sei se ela estará ou não preocupada com isso, mas é natural que esteja, a fazer fé na minha experiência de mais de trinta anos de trabalho em oncologia. Não sou um clínico, no sentido em que não lido directamente com doentes, mas estou, dia após dia, envolvido em problemas relacionados com o diagnóstico de doenças cancerosas e pré-cancerosas². É nesta condição que recebo muitas mensagens, geralmente e-mails, que se iniciam com uma história como a de Arabella Weir e acabam a perguntar: «Qual o risco de vir a ter um cancro?» ou, quando o interlocutor é mais pessimista: «Posso fazer alguma coisa para diminuir a probabilidade de vir a morrer de cancro como os meus pais?»

    Para responder a estas perguntas – sou um português atípico e respondo sempre às mensagens que me mandam, ainda que frequentemente a resposta não passe de um humilhante «não sei» –, é necessário obter informação adicional sobre os tipos de cancro dos familiares, a idade em que ocorreram, se os pais têm ou não relação de parentesco entre si, se existem outros elementos da família com cancro e, em caso afirmativo, com que idade e com que tipo de cancro, qual o estilo de vida dos pais e do(a) interlocutor(a) (hábitos tabágicos, consumo de álcool, etc.) e se há, ou não, na família coexistência de outras doenças. Em relação a este último ponto, além de questões de ordem geral, sobretudo dirigidas à obesidade e à diabetes – doenças que se associam a muitos tipos de cancro –, impõe-se o esclarecimento de doenças específicas relacionadas com o aumento de risco do cancro x ou y (por exemplo: refluxo gastroesofágico e cancro do esófago, gastrite crónica e cancro do estômago, colite ulcerosa e cancro do cólon, cirrose e cancro do fígado, pancreatite crónica e cancro do pâncreas).

    Em função do tipo de cancro, será também possível avaliar a maior ou menor susceptibilidade genética do interlocutor. Nos tempos que correm, esta avaliação apenas fornece elementos clinicamente úteis nas situações em que a componente hereditária do cancro é acentuada. É natural que o desenvolvimento dos estudos genéticos venha a permitir aumentar, no futuro, a utilidade deste tipo de avaliação de risco, sobretudo se for possível articular os dados genéticos com os que decorrem da análise da relação entre susceptibilidade genética e agressão ambiental, incluindo nesta última tudo quanto tem que ver com o estilo de vida no seu sentido mais lato. Este assunto será discutido em pormenor mais adiante; por ora, vale a pena sublinhar que, apesar de o cancro ser uma doença genética³, raramente é hereditária, isto é, resulta muito mais vezes da acção de factores cancerígenos⁴ externos do que de características herdadas dos pais.

    À medida que progredimos no esclarecimento da situação através da obtenção de informações facultadas pelo doente com cancro, ou pelos seus familiares, vamo-nos afastando de aspectos retrospectivos – literalmente «o que ficou para trás» – e aproximando-nos da necessidade de medidas prospectivas, isto é, do que fazer para aumentar a probabilidade de conseguir um futuro saudável. É aqui que entram a prevenção e o diagnóstico precoce.

    Enquanto na primeira pergunta, «Qual o risco?», estamos no domínio do conhecimento, procurando esclarecer factores genéticos – que não podemos mudar – e factores ambientais – que podemos mudar, mas só daí para a frente – na segunda, «O que fazer?», estamos no domínio da acção.

    Cabem neste segundo domínio, e no que diz respeito à prevenção, todas as mudanças de comportamento no estilo de vida, dos hábitos alimentares ao exercício físico, do tabagismo ao consumo de álcool. Cabem também, sempre que necessário, mudanças de natureza profissional, habitacional, ou outra, para evitar a exposição a agentes potencialmente cancerígenos.

    E cabem ainda os rastreios, que têm um papel insubstituível. Tanto os dirigidos à população em geral, como o teste de Papanicolaou para a identificação de lesões pré-cancerosas do colo do útero, como os rastreios desenhados para responder aos problemas específicos que são postos pelo senhor A ou a senhora B; falo, por exemplo, da endoscopia alta, que permite examinar o esófago e o estômago quando há uma história familiar de cancro gástrico. Tanto uns como os outros são decisivos para reduzir a mortalidade por cancro. Voltarei a este assunto adiante, mais em pormenor, pois a vitória da chamada «luta contra o cancro»⁵ passa muito mais pela prevenção e pelo diagnóstico precoce do que pelo desenvolvimento do tratamento.

    O que me proponho fazer neste ensaio é procurar esclarecer, em linguagem acessível a não especialistas, as bases biológicas dos cancros e das doenças pré-cancerosas em termos de definição (o que são), classificação (como se dividem), causalidade (a que se devem), progressão (como se desenvolvem) e terapêutica (como se tratam os doentes com cancro).

    Estes elementos serão utilizados na discussão das estratégias a utilizar na prevenção e no diagnóstico das doenças cancerosas e pré-cancerosas, e no tratamento dos doentes, sem entrar nunca em pormenores técnicos. Esta opção reflecte a minha formação de médico anátomo-patologista especializado em investigação e diagnóstico do cancro, assim como a convicção de que é indispensável aumentar a compreensão biopatológica dos

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