No artigo, o autor argumenta que o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende foi negligenciado em termos de sua relevância artística. Ele afirma que a coletânea deve ser lida não apenas para análise técnica, mas para fruição literária genuína. Duas razões contribuíram para relegá-lo: o foco na época nas crônicas de viagens de descobrimento e o cansaço com a poesia trovadoresca. No entanto, o Cancioneiro antecipou aspectos renascentistas e deve ser
Original Description:
Análise do artigo de Geraldo Augusto Fernandes sobre a coletânea "O cancioneiro geral"
No artigo, o autor argumenta que o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende foi negligenciado em termos de sua relevância artística. Ele afirma que a coletânea deve ser lida não apenas para análise técnica, mas para fruição literária genuína. Duas razões contribuíram para relegá-lo: o foco na época nas crônicas de viagens de descobrimento e o cansaço com a poesia trovadoresca. No entanto, o Cancioneiro antecipou aspectos renascentistas e deve ser
No artigo, o autor argumenta que o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende foi negligenciado em termos de sua relevância artística. Ele afirma que a coletânea deve ser lida não apenas para análise técnica, mas para fruição literária genuína. Duas razões contribuíram para relegá-lo: o foco na época nas crônicas de viagens de descobrimento e o cansaço com a poesia trovadoresca. No entanto, o Cancioneiro antecipou aspectos renascentistas e deve ser
No artigo "Da Necessidade -- e do prazer -- em se estudar o Cancioneiro Geral de
Garcia de Resende", Geraldo Augusto Fernandes se prope a resgatar a
compilao de poemas organizada pelo escritor portugus (e publicada no incio do sculo XVI) do que ele considera uma negligncia histrica em relao sua relevncia artstica. Segundo o autor, a leitura dos poemas que compem a obra no deveria ser feita apenas em funo da anlise da tcnica empregada pelos poetas, mas como exerccio de genuna fruio literria. H dois fatores que, de acordo com Fernandes, contriburam para que o Cancioneiro fosse relegado a segundo plano no panorama literrio portugus: o momento histrico por que passava o pas quando de sua publicao e a sada de voga da lrica trovadoresca com que o tom da maioria dos textos que integram a coletnea supostamente se afinava. No primeiro caso, a poltica das grandes navegaes desviava os holofotes, no mbito da escrita, para as crnicas histricas, os relatos de viagem que mantinham a Coroa inteirada a respeito da situao das colnias, descobrimentos e negociaes comerciais com o oriente. No segundo, um certo enfado geral pesava sobre a pouca autonomia estrutural e temtica dos textos da coletnea em relao produo potica tpica do trovadorismo. Como objeo a este ltimo tpico, Fernandes afirma que houve antecipao, no Cancioneiro, de aspectos literrios que s se consolidariam no Renascimento, como o tom sensualista. Fernandes critica, ainda, o olhar "pluralizante" dos estudos realizados sobre a obra, os quais, concentrando-se no todo, ignoram o valor isolado das partes. Mesmo as poucas anlises individuais existentes mantm o foco em possveis relaes dos poemas com a realidade histrica vivida pelo pas, desprezando quaisquer eventuais qualidades do texto como objeto literrio autnomo. Na segunda parte do artigo, o autor se dedica a explicar o contexto de surgimento da poesia palaciana, um gnero que, como o nome evidencia, nasce do formalismo artificial das relaes aristocrticas. Em certas obras do Cancioneiro, contudo, h a evoluo temtica do gnero, que passa a abordar
eventos de grande importncia social (como as prprias navegaes) com alguma
criticidade. A vanguarda artstica da compilao se manifesta tambm nas poesias de cunho herico, precursoras sutis da epopeia camoniana. Outro aspecto presente nas obras do autor de Os Lusadas (e nas estticas renascentista e barroca, na sua vertente conceptista) e antecipado por produes do Cancioneiro o tema do "eu" fragmentado, que ocupa a terceira e ltima parte do artigo. Dados os exemplos anteriores, Fernandes conclui seu estudo ratificando a relevncia da coletnea potica organizada por Garcia de Resende no apenas como documento de cunho historiogrfico ou repositrio anacrnico de frmulas trovadorescas, mas como um acervo de obras autnomas, marcantes, influenciadoras de estticas vindouras e perfeitamente passveis de apreciao ldica.