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ecphraseis desde Homero, esta descrio autorrepresentativa, quer dizer, o poeta descreve o
objeto escolhido e, simultaneamente, comenta a
qualidade da descrio. Tal facto no escapou
argcia de Faria e Sousa: Alfin (dize el Poeta)
por arte, i saber divino, se via claramente ser
ordenada aquella fabrica. I aviendola el pintado
con esta admirable, inimitable, i divina estancia,
i las que se siguen, parece nos quiso dezir, que
assi como essa fabrica fue de arte divina, assi de
divino arte son los versos en que la describe [...]
que realmente admira la elegcia con que por
todo este canto dixo tantas cosas incapazes della
[por serem de matria cientfica e rida]. I no ay
duda que las eligio de proposito, para mostrar a
todos adonde llegava su ingenio, i su facundia,
i su felicidad (S OUSA 1639, IV, col. 451).
A dimenso insupervel do objeto segundo da
ecphrasis (o universo), bem como a luminosidade e visibilidade totais do globo o lume /
/ Clarssimo por ele penetrava, / De modo que o
seu centro est evidente, / Como a sua superfcie,
claramente (Os Lusadas, X.77) designam
efetivamente uma ambio potica mxima que
s cede, como veremos, perante a descrio do
prprio Deus.
No surpreende, por isso, que as estrofes
sobre a mquina do Mundo possam ser conside555
Ilha dos Amores, Jos de Almada Negreiros, 1961, inciso, trio do edifcio da Faculdade de Letras de Lisboa; reporta ao Canto X,
estrofes 74-91 dOs Lusadas. Representa Vasco da Gama, acompanhado da deusa Ttis, que lhe apresenta a mquina do Mundo,
figurada na Cosmografia de Ptolomeu
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Hlio J. S. Alves