You are on page 1of 9

1º BOLETIM

Encontro pela Proibição


dos Despedimentos
Lisboa, 27 de Fevereiro de 2010

h t t p : / / p r o i b i c a o d o s d e s p e d i m e n t o s . b l o g s p o t .com
Encontro pela Proibição
dos Despedimentos
Lisboa, 27 de Fevereiro de 2010

MANIFESTO - Exigir a retirada do PEC, para defender


a classe trabalhadora e garantir a existência do nosso país!

No passado dia 27 de Fevereiro, realizou-se em Lisboa um “En- Em contradição frontal com as aspirações e as exigências expres-
contro pela proibição dos despedimentos” que teve a participação sas na luta dos trabalhadores e no sentido do voto da maioria do
de um representante da CGTP (pertencente ao seu Conselho Na- povo português, o Governo quer pôr em prática um Orçamento do
cional), de membros de 3 Comissões de trabalhadores (da empresa Estado para 2010 e um novo Pacto de Estabilidade e Crescimento
da indústria vidreira Santos Barosa, do sector das Alfândegas e da (PEC), cujo conteúdo é o aprofundamento da política de privatiza-
filial em Portugal da maior empresa de embalagem da Europa – a ções, de aumento dos impostos sobre os trabalhadores, de redução
SAICA) e 1 da Direcção do SPGL. Esteve também presente na dos salários, das pensões de reforma e dos subsídios de desempre-
Mesa do Encontro um membro do Sindicato do sector da Saúde go – a política das falências das pequenas e médias empresas, do
das CCOO de Espanha. Intervieram no Encontro trabalhadores desemprego e da precariedade.
ligados a diferentes sectores de actividade (professores e outros Nós, participantes neste 1º Encontro organizado pela Comissão
funcionários públicos, aposentados,…). pela Proibição dos Despedimentos, consideramos que ele constitui
Este Encontro – organizado pela Comissão pela Proibição dos um pólo de reagrupamento para continuar a desenvolver as inicia-
Despedimentos, com base num Apelo subscrito por dirigentes tivas que ajudem o movimento dos trabalhadores – estruturado a
de outras CTs (Groundforce, Portugal Telecom, Autoeuropa) e partir das suas organizações – a impor a formação de um Governo
do Sindicato Nacional da Indústria Vidreira – adoptou o seguinte que aplique um Plano de:
Manifesto. - proibição dos despedimentos;
«A mobilização dos trabalhadores, da qual todos nós fazemos - retirada do OE para 2010 e do novo PEC;
parte, para garantir os aumentos dos salários e das pensões - manutenção da soberania nacional sobre todos os portos, recur-
de reforma, para garantir os postos de trabalho, a contratação sos marinhos, aeroportos e espaço aéreo;
colectiva e todos os direitos sindicais, não pode ter senão o seg- - renacionalização da Banca e restantes sectores estratégicos da
uinte conteúdo: a exigência da constituição de um Governo que economia nacional, sem indemnização nem resgate;
rompa como o novo Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) - criação de todos os dispositivos necessários para salvar o aparel-
que Sócrates se prepara para aceitar – um pacto que não é mais ho produtivo nacional, aplicado sob o controlo das organizações
do que o concentrado dos ditames do FMI e das instituições da dos trabalhadores;
União Europeia, ao serviço dos especuladores e das multinacion- - aumento geral dos salários e das pensões de reforma;
ais, um plano da mesma natureza e conteúdo daqueles que quer- - revogação das leis anti-laborais contidas no Código do Trabalho;
em impor aos trabalhadores gregos e espanhóis. - restabelecimento do vínculo público aos trabalhadores da Função
É neste processo que se inscreve a greve geral da Função Pú- Pública;
blica, de 4 de Março, no seguimento das mobilizações históricas - revogação do PRACE (Programa de Reestruturação da Adminis-
dos professores, dos enfermeiros e de todos os outros sectores tração Central do Estado) e do SIADAP (Sistema Integrado de Av-
da classe trabalhadora contra o Código do Trabalho e a flexig- aliação do Desempenho da Administração Pública), que significam
urança, em defesa dos seus estatutos profissionais. Deste mesmo o desmantelamento dos serviços públicos e a destruição da vida
processo fazem parte as mobilizações contra os despedimentos, profissional dos seus trabalhadores.
em defesa da Segurança Social e de todos os serviços públicos. Este Encontro saúda a luta dos trabalhadores gregos, espan-
Todas estas mobilizações colocam como questão central a neces- hóis, franceses, russos e moldavos – a luta dos trabalhadores e
sidade da existência de um Governo que rompa com as políticas dos povos de toda a Europa – com a convicção de que será dela
ditadas pelas instituições estranhas aos interesses da maioria do que podem nascer as bases para a constituição de uma união
povo português, responsáveis pela destruição da quase totalidade livre de nações soberanas, assente na cooperação solidária entre
do aparelho produtivo e do mercado nacional. os trabalhadores e os povos europeus.»
Pedido de audiências ao PS, ao PCP e ao BE,
bem como à CGTP e à UGT para que rejeitem o PEC

A Comissão pela Proibição dos Despedimentos ficou mandatada Proposta da CT da SPdH (Groundforce) apresentada
para decidir sobre as iniciativas que devem dar continuidade ao no Encontro de CTs da CIL
Encontro e que estão expressas no manifesto adoptado.
Uma das decisões tomadas por esta Comissão, na sua reunião de No seguimento das decisões tomadas no Encontro de 27 de Fe-
16 de Março, foi pedir audiências aos partidos que têm as suas vereiro, a CT da Sociedade Portuguesa de Handling (SPdH) – mais
raízes no movimento operário e que estão representados na As- conhecida por Groundforce – apresentou no Plenário de CTs da
sembleia da República (PS, PCP e Bloco de Esquerda), para lhes Cintura Industrial de Lisboa (CIL), do passado dia 19 de Março, a
dizer que a sua posição só pode ser uma: a rejeição do PEC. seguinte proposta de Resolução (que esse plenário aceitou):

Carta enviada à Direcção do PS Mobilização nacional para defender


os trabalhadores e o nosso país
«Certamente que partilham connosco a preocupação com a gravi-
dade da situação do nosso país, num contexto internacional muito O novo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) constitui uma
complexo. ofensiva brutal contra todos os sectores da classe trabalhadora,
Contudo, temos a convicção de que em democracia é sempre pos- levando nomeadamente ao aumento do número de desemprega-
sível encontrar uma saída positiva para sociedade, por mais difícil dos e do número de trabalhadores precários, bem como ao des-
que seja a situação que ela atravesse. mantelamento do que resta da economia nacional – através da
Temos também a convicção de que nesta saída é imprescindível a alienação/privatização de empresas imprescindíveis à defesa do
mobilização dos trabalhadores, com as organizações que os repre- nosso país.
sentam ou que falam em seu nome. Perante esta situação, o Encontro das CTs da Cintura Industrial
É neste sentido que, em nome da Comissão pela Proibição dos de Lisboa, realizado a 19 de Março de 2010, exige:
Despedimentos, pedimos que a Direcção do PS receba uma dele-
gação desta Comissão a fim de vos apresentarmos a nossa posição 1) a proibição de todos os despedimentos sem justa causa;
perante o PEC.» 2) a retirada da alteração prevista no Regime do Subsídio
de Desemprego, que pretende obrigar os trabalhadores
Carta enviada ao Comité Central do PCP desempregados a aceitar um trabalho por qualquer preço;
3) o respeito pelos contratos colectivos de trabalho, proibindo
«Conscientes de que a preocupante evolução da situação política as violações e perseguições constantes de que muitos tra-
torna necessário o desenvolvimento de esforços capazes de con- balhadores estão a ser alvo em várias empresas, em nome
tribuir para a luta unida de todas as organizações e correntes do da aplicação dos seus regulamentos internos;
movimento operário, que permita impor ao Governo a ruptura 4) a retirada do Plano de privatizações apresentado pelo
com o PEC e impedir a prossecução da destruição dos direitos dos Governo e a garantia do que ainda resta do sector público
trabalhadores e restantes conquistas do 25 de Abril, em nome da (nomeadamente da TAP, da ANA, dos CTT, da REN, da
Comissão pela Proibição dos Despedimentos vimos solicitar uma Galp, da EDP, da INAPA, da Companhia de Seguros Fidel-
audiência.» idade – CGD).
As Comissões de Trabalhadores reunidas neste Encontro consid-
Cartas com idêntico conteúdo foram enviadas eram que é necessária uma mobilização nacional unitária dos
à Mesa Nacional do BE e ao Conselho Nacional da CGTP trabalhadores de todos os sectores – do público e do privado –
e ao Conselho Geral da UGT. para impedir que o Governo possa aplicar este Plano de austeri-
dade e de regressão social imposto pela Comissão Europeia, tal
E, ainda, foi dado conhecimento – tanto do Manifesto do Encon- como os trabalhadores dos outros países europeus estão a tentar
tro, como das decisões da Comissão, tomadas na sua reunião de realizar, particularmente os da Grécia.»
16 de Março – a organizações dos trabalhadores, em particular às
que subscreveram e/ou apoiaram esta iniciativa.
Intervenções feitas no Encontro de 27 de Fevereiro

O combate ao desemprego Adélia Gomes – Leu uma carta dirigida ao ministro da Economia sobre a ordem do
é um problema em toda a Europa Tribunal Europeu de Justiça, exigindo que o Estado português abdique da “golden share”
que tem na PT.

«A empresa onde trabalho faz parte do grupo da SA- «Vai o Governo aceitar cumprir as ordens das instituições da União Europeia, abdi-
ICA, que é a maior empresa de embalagem a nível da cando da “golden-share” da Portugal Telecom?
Europa. Neste grupo também se está a viver o prob-
lema dos despedimentos. As pessoas têm medo. O Senhor Ministro da Economia,
Os lucros da PT são fabulosos.
combate ao desemprego é um problema em toda a Eu-
Como V. Exª tem conhecimento, estes lucros – que deveriam estar a ser canalizados para
ropa.» Jorge Torres – membro da CT da UNOR investimentos produtivos – são canalizados para a especulação, pelas mãos dos grandes
accionistas desta empresa. Estes nem sequer pagam impostos, através de mecanismos
Não deixar que nos trucidem que lhes permitem colocar os dividendos no exterior do nosso país.
na precariedade e no desemprego Os salários dos seus administradores são elevadíssimos, tal como nas outras empresas
públicas.
O seu presidente recebe mensalmente 51.433 euros (no ano 2007 foi paga a quantia de
A luta dos professores foi inédita. Fez-me compreender 72 mil euros por mês); por outro lado, cada um dos administradores recebeu este ano um
como os problemas dos trabalhadores são comuns. prémio de 834 mil euros, segundo notícia publicada na revista Sábado, de 8 de Outubro
O que é importante é que encontremos os pontos de 2009.
que nos identificam, para construirmos as redes que Em contrapartida, os salários dos trabalhadores acima dos 1350 euros foram todos conge-
nos liguem numa luta comum, para não deixarmos lados; os salários de valor inferior receberam um aumento de 1%. Todos os trabalhadores
receberam um prémio de 250 euros; mas, a soma de todos os prémios é inferior ao prémio
que nos trucidem nas malhas do desemprego e da
dos administradores.
precariedade.»Isabel Pires– dirigente do SPGL Os salários dos trabalhadores estagiários, que antes eram de 1100 euros, passaram para
650 euros.
Os trabalhadores são uma classe; a sua base E, a Administração ousa dizer aos trabalhadores da PT que, actualmente, é um privilégio
é o sindicato e a comissão de trabalhadores ter emprego; e que, por isso, estes deveriam aceitar perder os seus direitos para o manter.
A mesma Administração que apresenta como solução para ultrapassar a crise… despedir
uma parte dos trabalhadores!
«90%dos trabalhadores da empresa onde trabalho são O Estado tem o poder de intervir na empresa, através da sua “golden-share”, para con-
efectivos. Mas, com o novo Código do Trabalho, ire- trolar a distribuição dos dividendos que forem acima de 45% dos lucros, o que não tem
mos entrar todos na precariedade. acontecido.
Quando um trabalhador não vê renovado o seu con- Uma empresa desta dimensão e com uma importância estratégica na vida nacional – quer
pelas receitas, quer pelo que representa toda a tecnologia de informação na vida das em-
trato de trabalho, ao fim de três meses, a CT vai im-
presas e de toda a sociedade – não devia voltar ao sector público, como estava consignado
ediatamente procurar saber o que se passa e se ele foi na Constituição portuguesa aprovada após o 25 de Abril?
substituído por outro. Temos que ser nós que estamos E é nesta situação – quando se torna premente que o Estado retome o seu controlo – que
numa posição efectiva a defender os outros e a lutar a Comissão Europeia (CE) e o Tribunal Europeu de Justiça (TEJ) impõem que o Estado
para proibir os recibos verdes. Os trabalhadores são português abdique da sua “golden-share”, propriedade do povo português, para que se-
jam respeitados os princípios dos Tratados europeus que afirmam que “a concorrência é
uma classe; mas têm que ter base e organização que
livre e nada a poderá obstaculizar”.
transmita isso. Essas bases são a CT e o sindicato. Profundamente preocupados com a situação do nosso país, empenhados em contribuir
Temos que contar com a importância dos empresários. para que ela tenha uma mudança positiva – o que, em nossa opinião, exige que o Governo
Não podemos esquecer que quem manda neste país é o tome todas as medidas necessárias para preservar os postos de trabalho, no sentido da
poder económico. E, é preciso dar a volta a isto. proibição dos despedimentos – nós dirigimo-nos ao Governo, na pessoa do seu Ministro
Já o podíamos ter feito. Podíamos ter ligado a nossa da Economia, para lhe perguntar como tenciona responder à exigência da CE e do TEJ,
no que diz respeito à “golden-share” da PT?
luta à luta dos professores e dos camionistas.
Sou delegado sindical da CGTP; mas nunca senti da A Comissão de preparação de um Encontro pela proibição dos despedimentos»
parte da central sindical uma grande vontade de unir
tudo.
A CGTP tem que olhar mais para a luta dos trabal-
hadores.» Emanuel Nogueira – membro da CT da
Santos Barosa
Paula Montez A função pública voltou há semanas a sair à rua contra o Orça-
– Leu uma intervenção em nome da CDEP mento do Estado, mais um factor de agravamento da situação dos
trabalhadores e do país em geral. Um orçamento que não hesita
«Subscrevi o apelo a este Encontro enquanto membro activo da em aumentar as despesas com a guerra do Afeganistão enquanto
Comissão de Defesa da Escola Pública (a que passarei a chamar por cá se vão desbaratando as escolas e os hospitais e se esvaziam
CDEP). Desde o momento em que tomei conhecimento das novas os serviços públicos de trabalhadores. Agora está convocada uma
leis que iam passar a regular a Educação senti que era chegada greve da função pública, com as principais organizações dos tra-
a altura das pessoas terem um papel activo na defesa da Escola balhadores, a qual a Comissão de Defesa da Escola Pública não
Pública. Por isso me envolvi na Associação de Pais da escola dos hesitará em apoiar.
meus filhos, procurando manter os pais informados dos ataques Esquecia-me de referir que para além de encarregada de edu-
que estavam a ser feitos aos professores enquanto profissionais cação eu sou também desempregada… faço parte do número de
e ao ensino em geral enquanto processo formador das novas licenciados desempregados que o nosso país se dá ao luxo de des-
gerações, o qual devia ser apoiado e financiado pelo Estado e perdiçar. O desemprego tem crescido estes últimos anos, não só
não privatizado e mercantilizado, como estamos a assistir agora, porque o mercado do emprego se tornou competitivo e precário,
quer através da passagem dos edifícios escolares para os priva- mas também porque temos assistido ao encerramento de serviços
dos, quer por via da Municipalização que para aí vem. Como não públicos e à falência das empresas. Dizem-nos que a crise é mun-
podia deixar de ser, essa direcção acabou por ser afastada por dial… mas a banca sempre viu os seus lucros aumentados e os
intervenção da própria directora da escola por meio de processos governos, inclusive o nosso, têm optado por apoiar esse sector…
pouco democráticos. para nos salvar da crise que o próprio sistema bancário e os es-
A escola, os agrupamentos, estão a tornar-se feudos, locais de ne- peculadores geraram! Enquanto desmantela os serviços públicos
gociatas em que se envolvem as próprias organizações do Movi- e deixa engolir a produção nacional sem a apoiar e as pequenas
mento Associativo dos Pais. Os professores sofrem um processo e médias empresas, permitindo o aumento massivo dos despedi-
de desqualificação profissional que atinge todos aqueles que se mentos.
estreiam agora na profissão. A precariedade atinge os profission-
ais da educação, como aos outros trabalhadores. Entretanto ger- É por isso que este Encontro pela Proibição dos Despedimentos
am-se estruturas piramidais onde colegas avaliam colegas e nem tem toda a pertinência bem como toda a conjugação de esforços
sempre da forma mais justa. Conheço casos de professores avalia- para impor aos órgãos de decisão e de jurisdição que criem e
dos por colegas mais jovens e inexperientes, com menos anos de aprovem uma Lei que proíba os despedimentos sem justa causa,
serviço, em escolas onde reina a desconfiança e a competição… que impeça a precariedade salarial, os recibos verdes, repondo os
mas também conheço escolas onde as equipas que trabalham lado direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo dos séculos. É
a lado num projecto comum são capazes de integrar e interessar preciso exigir aos governantes, sejam eles quais forem, que parem
crianças que fora da escola pública nunca teriam essas oportu- o processo de destruição dos serviços públicos, dos quais a Esco-
nidades. la é um pilar, e que recusem aumentar o orçamento para financiar
Participei activamente nas manifestações dos professores, ao a Guerra do Afeganistão ou outras. Não é a guerra que desejo
lado dos outros membros da CDEP e sempre mantive a esperança para o futuro dos meus filhos, nem uma paz podre em que tudo
que as pessoas se unissem para defender a Escola Pública. Houve se encaminha para a precariedade e para a destruição porque
um momento, quando os professores se manifestaram nas ruas a se insiste em não se romper com o sistema que as gera. Desejo
100 000, em que teria bastado os sindicatos organizarem a luta que possam frequentar uma escola equitativa e qualificada ca-
dos trabalhadores nesse sentido e as pessoas teriam entendido a paz de os preparar para os desafios do futuro. Mas uma escola
importância de se unirem na defesa dos direitos do trabalho e na onde aprendam a cooperar em vez de competir, uma escola em
defesa da escola dos seus filhos. que colham o exemplo da vivência democrática. Hoje as escolas
Mas afinal, cada sector foi organizado no sentido de defender a são geridas numa lógica empresarial completamente estranha ao
sua classe profissional isoladamente das outras e nem sequer a ambiente de cooperação entre pares propício a que o objectivo
função pública se conseguiu mostrar unida no momento certo, comum de pais e professores seja a formação do ser humano, o
impedindo que o Código do Trabalho viesse tornar as suas vidas sucesso dos alunos e a transmissão da cultura.»
ainda mais sujeitas às condições da precariedade e do desempre-
go. Foi a meu ver tarde demais que se pediu a unidade da função
pública, quando teria sido fácil uni-la na luta contra a perda de
direitos que estava a sofrer e na defesa da escola pública, unindo
a sua força à enorme força demonstrada pelos professores e edu-
cadores.
Ana Tavares – Leu uma intervenção centrada sobre Só é possível exigir a proibição dos despedimentos
o desemprego e a precariedade nos professores e educadores se se exigir outra política económica

«Nas escolas, o trabalho de eleição é ajudar os alunos a adquirir «A CGTP funciona aberta ao debate e à democracia.
as ferramentas e as autonomias que os tornem homens e mulheres O contexto em que vivemos é talvez o da maior crise do sistema capi-
livres, construtores dum futuro promissor. talista. Por isso, a situação actual obriga a que o debate ideológico
Vivemos numa sociedade que não prevê a inserção dos jovens li- esteja em cima da mesa.
cenciados e que condena ao desemprego um quinto da população O trabalho é condição fundamental da dignidade humana. A CGTP está
com idade inferior a 25 anos. de acordo em ir o mais longe possível na luta contra o desemprego.
Outros tantos como eu, encontram-se sujeitos ao trabalho Estamos confrontados com a maior taxa de desemprego dos últimos
precário, a recibos verdes, a contratos humilhantes. 30 anos. São 530 mil (segundo os números oficiais) e haverá outros
Neste contexto, o sector do ensino é dos mais frontalmente atingidos. milhares não contabilizados. Isto é assustador, num país em que a
Somos ao todo 120 mil docentes – na Educação Pré-Escolar e no população activa são 4milhões e meio.
Ensino Básico e Secundário, havendo ainda mais de 40 mil no
desemprego. Cresci num concelho altamente industrializado, com trabalhadores
Ninguém poderá dizer que estes nossos colegas no desemprego altamente qualificados. Aquilo a que assistimos, a partir da década de
não fazem falta nas escolas. Sim, fazem falta, tal como fazem falta noventa, foi à desindustrialização.
os psicólogos, os terapeutas e os auxiliares da acção educativa.
As turmas são cada vez mais numerosas. Como é que se pode pro- Cavaco Silva foi o principal responsável pelo que se vive hoje. A
porcionar uma boa aprendizagem, se as turmas têm vários níveis CGTP alertou que Portugal iria caminhar para o desastre económico,
de alunos, inclusive crianças com necessidades educativas espe- com a destruição do seu aparelho produtivo.
ciais, com 25, 26, 27 e 28 alunos? Mergulhámos no desastre. Se não há uma inversão a tempo, a situ-
ação tende a agravar-se ainda mais.
A ofensiva nas escolas é feita sobre os professores e sobre os restantes Tomemos como exemplo o parque eólico. Apenas 15% da sua com-
trabalhadores, mas as consequências recaem sobre os alunos. ponente material é fabricada em Portugal. As empresas portuguesas,
que estariam em condições para satisfazer a construção do seu equi-
Na Educação Especial, por exemplo, as novas medidas fizeram pamento mecânico, foram destruídas.
com que, neste ano lectivo, tenham ficado sem direito a uma re- A plataforma de mão-de-obra intensiva que Cavaco Silva começou a
sposta educativa especializada 20 mil crianças, segundo um es- trazer para Portugal era tão grande como vulnerável.
tudo rigoroso da FENPROF. O oásis que nos prometeram foi o saque. Pouco depois, o movimento sindi-
Nós exigimos o respeito da Constituição da República, que ga- cal deu um forte contributo para derrubar o pacote laboral e o Governo.
rante o ensino a todas as crianças.
Não temos nenhum preconceito em defender a proibição dos despedi-
Foi por tudo isto – pelas condições de trabalho, pela divisão ar- mentos. Mas não é possível esta exigência se, ao mesmo tempo, não
tificial da nossa carreira, por uma gestão antidemocrática – que exigirmos outra política económica. Não há volta a dar.
nos mobilizámos nas ruas (mais de 100 mil professores e edu- O modelo que está ser aprofundado pelo Governo do PS, de con-
cadores, por duas vezes) e fizemos greves com 95% de adesão, tenção salarial e de privatizações está esgotado.
unindo todos os sindicatos dos professores. As privatizações – como, por exemplo, a privatização da ANA, moeda
de troca para construir o novo aeroporto – têm como consequência
O acordo que os dirigentes dos principais sindicatos assinaram hipotecar o nosso país.
com a nova Ministra da Educação está longe das nossas exigên- O direito ao pleno emprego faz parte dos princípios da Constituição
cias. Não podemos aceitar que, para atingir o topo da carreira, se da República. Por vezes secundarizamo-la. Mas devíamos fazer uma
tenha que trabalhar mais de quarenta anos (e estamos a falar dos reflexão muito grande sobre ela.
professores avaliados com Bom). Tal como não podemos aceitar
uma avaliação sujeita a quotas, que promove a competição entre A CGTP é uma grande organização sindical. Ela tem um papel in-
professores, em vez de promover a entreajuda mútua. substituível.»

Rogério Silva – Membro do Conselho Nacional da CGTP


É por tudo isto que devemos unir-nos e defender a Escola Pública,
que pertence a todos os que defendem a democracia.»
Proibição dos despedimentos A defesa da democracia é a defesa
e defesa dos serviços públicos da existência de trabalho

«Nas escolas, o trabalho de eleição é ajudar os alunos a adquirir «Esta semana, centenas de milhar de trabalhadores manifestaram-se
«Os salários em atraso são outra realidade tão grave como os em Espanha, contra os cortes nas pensões de reforma e o aumento da
despedimentos. idade de aposentação de 65 para 67 anos.
O Governo de Zapatero quer arrecadar 40 mil milhões de euros, com
Na Federação de Pais do concelho de Vila Franca de Xira combat- os cortes nas pensões.
emos, em conjunto, contra este flagelo e pelos serviços públicos. Apresentou-se perante a Comissão Europeia e o Fórum Económico
de Davos com um plano de estabilidade para cortar as despesas pú-
O desemprego de longa duração está a aumentar. E, não são blicas em 50 milhões.
as “lojas dos chineses” que são responsáveis pela crise. São as Hoje a Segurança Social espanhola não tem nenhum problema
grandes multinacionais que se deslocam para China, para baix- económico. Tem um fundo de reserva de 60 mil milhões de euros, que
arem os custos da produção. Agora é a indústria farmacêutica. equivale quase a um ano de gastos.
Não se trata de um problema de demografia, mas sim do problema de
A OMC lançou as bases do ataque aos serviços públicos. De acor- quem decide sobre a política de salários e de pensões.
do com a OMC, aquilo que fica reservado ao Estado é área de 4 mil despedimentos por dia, 4 milhões e meio de desempregados (um
segurança, a polícia de investigação e o aparelho judicial. Numa trabalhador em cada cinco): é uma catástrofe económica e social que
palavra, o aparelho repressivo para impor as medidas contra nós. exige um plano de urgência, por parte do Governo do PS.
Eles foram eleitos para defender os trabalhadores ou os banqueiros?
Os trabalhadores do sector alfandegário iniciaram uma grande Falou-se aqui do artigo 58 da Constituição da República Portuguesa,
greve, na qual nos batemos pela reposição do vínculo público, que exige o pleno emprego. Bruxelas diz que isso não é possível; mas
pelas carreiras e pelos salários. a democracia é o pleno emprego, é a proibição dos despedimentos e a
Ainda não ganhámos. Mas, neste processo, reforçámos a nossa retirada do Plano de Estabilidade.
organização, elegendo uma nova Comissão de Trabalhadores, A União Europeia governa directamente a Grécia através dos inspec-
com jovens que se destacaram na luta. tores que controlam a situação diariamente.
A defesa da democracia é a defesa da existência de trabalho.
A Comissão pela Proibição dos Despedimentos deveria ter tam- Queremos viver do nosso trabalho e queremos que o Governo garanta
bém a palavra de ordem de defesa dos serviços públicos.» que podemos viver do nosso trabalho.»

António Castela – Coordenador da CT Luis González – dirigente das CCOO


dos trabalhadores do sector alfandegário (Commisionnes obreras) de Espanha

Contacto para: Rua de Santo António da Glória, nº 52 B, cave C, 1250 – 217 Lisboa Fax: 21 325 78 11
http://proibicaodosdespedimentos.blogspot.com email: proibicao.dos.despedimentos@gmail.com
COMUNICAÇÃO AO ENCONTRO NACIONAL PELA PROIBIÇÃO DOS DESPEDIMENTOS

APONTAMENTOS BREVES

Terá lugar amanhã à tarde, no auditório da para um desemprego que os estrangula e para
Biblioteca-Museu República e Resistência, em Lisboa, uma precariedade que não desejam – que, no
o “Encontro Nacional Pela Proibição dos momento certo e na altura própria, saberão dar a
Despedimentos”, ao qual infelizmente por motivos de resposta exacta.
aúde não poderei estar presente, mas apelo daqui a Aos segundos, inocentes perante a ideologia
todos os que lá se possam deslocar que o façam pois dominante e adormecidos pelos comentários dos
terão oportunidade de participar num debate aberto, “especialistas” do malabarismo político, viverão
oportuno e interessante sobre a situação dos o seu despertar do sonho cor-de-rosa que o
trabalhadores no actual contexto político dominado limbo em que se resguardam lhes dá e acordarão
pelo capitalismo selvagem e a total e impune destruição para o pesadelo da realidade.
a que assistimos de todos os sectores públicos, A uns e outros respondo com uma frase feita
nomeadamente os fundamentais para que uma atribuída a Che Guevara: “Sejamos realistas,
democracia de facto funcione – economia, justiça, peçamos o impossível”.
saúde e educação –, ao mesmo tempo que todo o
sistema produtivo do país é desactivado. Não sou propriamente defensor das
proibições; é até um apodo com que a direita
Participei com agrado, apesar de em menor grau do ataca a esquerda, a mania desta em legislar
que desejaria, na preparação deste Encontro; e, dessa proibições; sou mais pelos idos de Maio de 68 e
participação, dos contactos com as pessoas, duas ou três pelo “é proibido proibir”; mas, a realidade é
notas se revelaram à minha compreensão: esta, e neste momento já não vamos lá com
- o alheamento e desconforto das forças da esquerda panaceias: ou exigimos de volta a nossa
parlamentar em lidar com iniciativas que apesar de se dignidade de trabalhadores e que tantas lutas e
revelarem importantes fogem da esfera do seu controlo. sangue já exigiu e só lá vamos lutando de novo,
Apesar de considerarem mérito e importância à onde as circunstâncias o exigirem; e, se for na
iniciativa, tanto o Bloco de Esquerda (do qual sou rua, aí será; não podemos é ficar de braços
militante de base) como o PCP demarcaram-se, não cruzados, assistindo ao nosso esmagamento
participando nem apoiando formalmente a iniciativa. O enquanto classe e à nossa alienação intelectual,
PS nem se dignou responder. ao mesmo tempo que o futuro dos nossos filhos
- a intoxicação geral levada a cabo pelos media que é arruinado e uma nova classe de senhorecos
vai formatando o discernimento das pessoas aos moldes ascende, com a sua corte, às rédeas do poder.
do pensamento único e da moda que neste momento A quem ainda não compreendeu a situação,
sob a capa de neo-liberalismo, palavra para designar aconselho vivamente a leitura ou releitura do
eufemisticamente o mesmo velho e ronceiro liberalismo “Manifesto Comunista” de Marx e Engels; dirão
económico, vulgo capitalismo selvagem, e que criou ironicamente os sabichões do regime que é coisa
nas pessoas a ideia de inevitabilidade das coisas, “é a do passado, mas vão lá ler, façam as necessárias
vida” como dizia um personagem da nossa vida política alterações e bem poucas serão que tudo o que se
de há uma década atrás. É a vida se nada fizermos para passa está lá explicado: a voracidade do
“colocar um pauzinho na engrenagem”. Pessoas houve capitalismo não tem freios e tudo destrói em
que, espantadas sob o peso da ideia de “proibição dos nome da sua ganância e da necessidade de cada
despedimentos”, não esconderam o seu espanto e vez mais lucros, para assim sustentar o monstro
disseram: “- Está a ficar tudo doido!”. criado. Monstro que, na sua fome voraz, acaba
Quanto aos primeiros, cada qual saberá os labirintos por destruir quem o alimenta, gerando sempre
por onde se move e as linhas com que se cose. A esses novos e efémeros servidores.
serão os trabalhadores – que vêem a sua situação piorar
de dia para dia, se sentem empurrados
Sei que esta coisa de exigir o pleno emprego, e Como já vimos que da parte dos empresários isso
ainda por cima um pleno emprego com direitos, não lhes interessa, só nos resta apelar à unidade dos
causa úlceras a alguns, os Belmiros, os Bérard, os trabalhadores devidamente enquadrados nas suas
Finos… Somos poucos, não lhes retiraremos o organizações, sindicatos e comissões de
sono; mas, sendo poucos, somos alguns; e, um trabalhadores, e exigir que a maioria de deputados
destes dias, o rio engrossa e a torrente saltará as de esquerda que compõem a actual Assembleia da
margens que o oprimem. República forme um governo de esquerda que esteja
Quando todos os dias encerram mais e mais disposto a pôr em forma de lei as suas
empresas; quando os funcionários públicos reivindicações, que mais não são que afirmar a sua
perdem estatuto e estabilidade de emprego, sobrevivência em dignidade.
desaparecem postos de trabalho sem que novos Bem sei que este Encontro é muito pouco,
sejam criados, os jovens recém-licenciados ou constitui apenas um pequeno passo no conjunto lato
mestrados ou doutorados são lançados para das lutas que serão imprescindíveis serem travadas;
estágios mal pagos e sem futuro, a praga dos é um pequeno pauzinho que nem sequer encrava a
recibos verdes se espalha pelo país como engrenagem; mas, como dizia um outro
gafanhotos, os centros de emprego não respondem revolucionário em plena guerra civil de Espanha,
às necessidades dos utentes mas proliferam e Buenaventura Durruti: “- Trazemos um mundo novo
engordam as empresas de trabalho temporário, em nossos corações”. E é esse ânimo, essa
promovidas pelos próprios serviços do Estado esperança que nos anima, essa chama que não
onde vão substituir trabalhadores entretanto podemos deixar apagar, sob pena de o futuro nos
reformados ou colocados na lista da mobilidade, condenar à morte mais ignóbil: a cobardia!
se assiste à descapitalização da Segurança social, Neste Encontro daremos apenas um pequeno
porque tem que acudir a cada vez mais passo, mas um passo necessário e urgente rumo a
desempregados e vemos que muitos dos nossos um futuro Socialista e verdadeiramente
conhecidos e vizinhos caem nas malhas do Democrático.
desemprego e nem direito a subsídio têm,
proliferam as ONG’s de solidariedade social que
permitem aos ricos fazer caridade e fugir aos Jaime Crespo (Professor do Ensino Básico)
impostos através de benefícios fiscais… coloca-se
a pergunta fundamental: Que fazer?
Aqueles que aderimos a este Encontro – nem (1) Esta comunicação não chegou a ser lida
muitos nem poucos, alguns – o que temos para durante o Encontro, por falta de tempo.
dizer é que é urgente recuperar o tecido produtivo
do país, ao mesmo tempo que terá que se estancar
a sangria do desemprego. Dizem-nos que estamos
perante uma das mais graves crises económicas, a
nível mundial, crise que não é mais que um dos
sintomas do capitalismo selvagem hoje
rebaptizado de globalização, é necessário explorar
recursos e mão-de-obra neo-esclavagista; então,
nós respondemos: - só se pode ultrapassar a crise
criando riqueza e a riqueza dos povos é a força de
trabalho das suas gentes; então, há que recuperar o
tecido produtivo do país, manter os postos de
trabalho existentes e criar – através da
recuperação produtiva – novos postos de trabalho,
sem mexer nos direitos já conquistados pelos
trabalhadores; enfim, o regresso aos valores
socialistas que Abril nos deu.

You might also like