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TEMPO PASCAL. QUINTA SEMANA.

QUINTA-FEIRA

79. OFERECER AS OBRAS DO DIA


– Pelo oferecimento de obras dirigimos para Deus o nosso dia desde o começo. A nossa
primeira oração.

– Como fazê-lo. O “minuto heróico”.

– O oferecimento de obras e a Santa Missa. Oferecer as nossas tarefas ao Senhor muitas


vezes ao dia.

I. PARA ORDENARMOS a nossa vida, o Senhor deu-nos os dias e as


noites. O dia fala ao dia e a noite comunica à noite os seus pensamentos 1. E
cada novo dia recorda que temos de continuar os nossos trabalhos
interrompidos e renovar os nossos projectos e as nossas esperanças: “O
homem sai para o trabalho e lá fica até o anoitecer. Depois chega a noite e,
com um sorriso bondoso, Deus manda-nos pôr de lado todas as ninharias a
que nós, pobres mortais, damos tanta importância [...], fecha-nos os livros,
esconde-nos as distracções, cobre com um grande manto negro as nossas
existências...; quando a escuridão nos envolve, passamos por um ensaio
geral da morte; a alma e o corpo despedem-se um do outro... Então chega a
manhã e com ela o renascimento”2.

De certa maneira, cada dia começa com um nascimento e acaba com uma
morte; cada dia é como uma vida em miniatura. No fim, a nossa passagem
pelo mundo terá sido santa e agradável a Deus se tivermos tido a
preocupação de que cada dia fosse grato a Deus, desde que o sol despontou
até o seu ocaso, como também a noite, porque a teremos igualmente
oferecido a Deus.

O hoje é a única coisa de que dispomos para santificar. O dia fala ao dia; o
dia de ontem sussurra ao de hoje e nos diz da parte do Senhor: “Começa
bem”. O dia de ontem desapareceu para sempre, com todas as suas
possibilidades e com todos os seus perigos. Dele só ficaram motivos de
contrição pelas coisas que não fizemos bem, e de gratidão pelas inumeráveis
graças, benefícios e cuidados que recebemos de Deus. O “amanhã” ainda
está nas mãos do Senhor. “Porta-te bem «agora», sem te lembrares de
«ontem», que já passou, e sem te preocupares com o «amanhã», que não
sabes se chegará para ti”3.

O que devemos santificar é, pois, o dia de hoje. Mas como havemos de


fazê-lo, se não o começamos oferecendo-o a Deus? Só os que não
conhecem a Deus e os cristãos tíbios é que começam os seus dias de
qualquer maneira. O oferecimento de obras pela manhã é um ato de piedade
que orienta bem o dia, que o dirige para Deus desde o princípio, tal como a
bússola aponta para o Norte; prepara-nos para escutar e atender as
constantes inspirações e moções que o Espírito Santo nos segredará ao
longo do dia que começa, um dia que nunca se repetirá. Se ouvirdes hoje a
sua voz, não queirais endurecer o vosso coração4. O Senhor fala-nos todos
os dias.

Dizemos ao Senhor que queremos servi-lo no dia de hoje, que queremos


tê-lo presente. “Renovai todas as manhãs, com um serviam! decidido –
Senhor, eu te servirei! –, o propósito de não ceder, de não cair na preguiça ou
no desleixo, de enfrentar os afazeres com mais esperança, com mais
optimismo, bem persuadidos de que, se em alguma escaramuça formos
vencidos, poderemos superar esse baque com um ato de amor sincero”5.

As nossas obras chegarão mais cedo a Deus se lhe oferecermos o dia


através de sua Mãe, que é também a nossa Mãe. “Aquilo que desejes
oferecer, ainda que seja pouco, procura depositá-lo nas mãos de Maria, mãos
graciosíssimas e digníssimas de todo o apreço, a fim de que seja oferecido ao
Senhor sem que desperte a sua repulsa”6.

II. O COSTUME DE OFERECER o dia a Deus já era vivido pelos primeiros


cristãos: “Logo que acordam, antes de enfrentarem novamente o bulício da
vida, antes de conceberem em seu coração qualquer ideia, antes mesmo de
se lembrarem do cuidado dos seus interesses familiares, consagram ao
Senhor o nascimento e princípio dos seus pensamentos”7.

Muitos bons cristãos têm o hábito adquirido de dirigir o primeiro


pensamento do dia para Deus. E, a seguir, de viver o “minuto heróico”, que é
uma boa ajuda para fazer animosamente o oferecimento de obras e começar
bem o dia. “O minuto heróico. – É a hora exacta de te levantares. Sem
hesitar: um pensamento sobrenatural e... fora! – O minuto heróico: aí tens
uma mortificação que fortalece a tua vontade e não debilita a tua natureza”8.
“Se, com a ajuda de Deus, te venceres, muito terás adiantado para o resto do
dia. Desmoraliza tanto sentir-se vencido na primeira escaramuça!”9

Ainda que não seja necessário adoptar uma fórmula concreta, é


conveniente ter um modo habitual de cumprir esta prática de piedade, tão útil
para que todo o dia ande bem. Há quem recite alguma oração simples,
aprendida na infância ou quando já era crescido. É muito conhecida esta
oração à Virgem, que serve ao mesmo tempo de oferecimento de obras e de
consagração pessoal diária a Nossa Senhora: Ó Senhora minha, ó minha
Mãe! Eu me ofereço todo a Vós e, em prova da minha devoção para
convosco, Vos consagro neste dia meus olhos, meus ouvidos, minha boca,
meu coração e inteiramente todo o meu ser. E como assim sou vosso, ó boa
Mãe, guardai-me e defendei-me como coisa e propriedade vossa. Amém.

Além do oferecimento de obras, cada um deve ver o que pode ser


conveniente acrescentar às suas orações ao levantar-se: mais alguma oração
a Nossa Senhora, uma invocação a São José, ao Anjo da Guarda. É também
o momento adequado de recordar os propósitos de luta feitos no exame de
consciência do dia anterior, e de renovar o desejo de cumpri-los, com a graça
de Deus.

Senhor Deus todo-poderoso, que nos fizestes chegar ao começo deste dia,
salvai-nos hoje com o vosso poder, para que não caiamos em nenhum
pecado e as nossas palavras, pensamentos e actos sigam o caminho dos
vossos preceitos10.

III. TEMOS QUE DIRIGIR-NOS ao Senhor todos os dias pedindo-lhe ajuda


para tê-lo presente em quaisquer circunstâncias; não apenas nos momentos
dedicados expressamente a falar com Ele, mas também nas actividades
diárias normais, pois queremos que, além de estarem bem feitas, sejam
oração grata a Deus. Por isso podemos dizer com a Igreja: Nós te pedimos,
Senhor, que previnas as nossas acções e nos ajudes a prossegui-las, a fim
de que todo o nosso trabalho comece sempre em Ti e por Ti alcance o seu
fim11.

A Santa Missa é o momento mais adequado para renovarmos o


oferecimento da nossa vida e das obras do dia. Enquanto o sacerdote oferece
o pão e o vinho, nós oferecemos tudo quanto somos e possuímos, bem como
tudo aquilo que nos propomos fazer no dia que começa. Colocamos na
patena a memória, a inteligência, a vontade... Colocamos nela a família, o
trabalho, as alegrias, a dor, as preocupações..., e as jaculatórias e os actos
de desagravo, as comunhões espirituais, os pequenos sacrifícios, os actos de
amor com que esperamos preencher o dia.

Sempre serão pobres e pequenos estes dons que oferecemos, mas, ao


unirem-se à oblação de Cristo na Missa, tornam-se incomensuráveis e
eternos. “Todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, a vida
conjugal e familiar, o trabalho quotidiano, o descanso do corpo e da alma, se
praticados no Espírito, e mesmo os incómodos da vida pacientemente
suportados, tornam-se hóstias espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus
Cristo (1 Pe 2, 5), hóstias que são piedosamente oferecidas ao Pai com a
oblação do Senhor na celebração da Eucaristia”12.

No altar, ao lado do pão e do vinho, deixamos tudo quanto somos e


possuímos: anseios, amores, trabalhos, preocupações... E no momento da
Consagração entregamo-los definitivamente a Deus. Agora, já nada disso é
só nosso, e portanto – como quem o recebeu em depósito e para o
administrar – devemos utilizá-lo para o fim a que o destinamos: para a glória
de Deus e para fazer o bem aos que estão à nossa volta.

O fato de termos oferecido todas as nossas obras a Deus ajuda-nos a


executá-las melhor, a trabalhar com mais eficácia, a estar mais alegres na
vida em família ainda que estejamos cansados, a ser melhores cidadãos, a
esmerar-nos na convivência com todos. Aliás, podemos repetir em
pensamento o nosso oferecimento de obras muitas vezes ao longo do dia; por
exemplo, quando iniciamos uma nova actividade ou quando aquilo que
estamos fazendo se torna especialmente difícil. O Senhor também aceita o
nosso cansaço, que desse modo adquire um valor redentor.

Vivamos cada dia como se fosse o único que temos para oferecer a Deus,
procurando fazer bem as coisas, rectificando-as quando as fazemos mal. E
um desses dias será o último, e também o teremos oferecido a Deus, nosso
Pai. Então, se tivermos procurado viver oferecendo continuamente a Deus a
nossa vida, ouviremos Jesus que nos diz, como ao bom ladrão: Em verdade
te digo, hoje estarás comigo no Paraíso13.

(1) Sl 18, 3; (2) R. A. Knox, Meditações para um retiro, Prumo, Lisboa, 1960, pág. 30-31; (3)
São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 253; (4) Sl 35, 8; (5) São Josemaría Escrivá, Amigos de
Deus, n. 217; (6) São Bernardo, Hom. na natividade de N. Senhora, 18; (7) Cassiano,
Colações, 21; (8) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 206; (9) ib., n. 191; (10) Preces de
laudes, Liturgia das horas da quinta-feira da quinta semana do Tempo Pascal; (11) ib.; (12)
Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 34; (13) Lc 23, 43.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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