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Cutiriba
2010
*Estes textos foram produzidos originalmente pelo autor e não podem ser copiados nem reproduzidos com
qualquer outra finalidade sem autorização do mesmo.
Sumário
A Vida -----------------------------------------------------------------------------------------------------03
Emigrantes ----------------------------------------------------------------------------------------------09
Nomes ----------------------------------------------------------------------------------------------------13
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A Vida
Dedique um tempo do seu dia hoje para pensar na vida. Perceba como é
formidável o fato de você estar vivo. Estamos em um planetinha flutuando no meio do
nada, existem seres vivos nele e pensantes, e para isso uma série de coincidências -será?-
foram necessárias.
Primeiro pense se você consegue admitir que o universo seja infinito. Se não consegue,
faça o inverso, imagine uma área de um metro, dê um zoom nessa área até ela chegar ao
tamanho de um milímetro, esse milímetro pode ser dividido em vários nanômetros, e
esses nanômetros podem ser divididos ainda mais, eternamente. Sempre é possível dividir
uma quantidade de área, não estou falando de matéria física, como átomos -que aliás são
divisíveis-, estou falando de área, sempre é possível dividila. Então é possível aumentar
eternamente também. Tente visualizar isto. O universo é infinito, incompreensivelmente
infinito.
Agora se aprofunde no mistério da vida, nem todas as estrelas têm condições de possuir
planetas habitáveis em suas órbitas, algumas são grandes demais ou pequenas demais,
outras são muito novas. Imagine uma estrela do tamanho do Sol, só existe uma faixa
habitável em sua órbita, onde a temperatura permite a vida. No entanto, não é porque o
planeta tem condições de abrigar vida que seres vivos irão aparecer. Para um planeta
chegar a essa condição demora muito tempo, sempre sujeito aos grandes eventos
universais.
Entende a singularidade do nosso planeta? Pare e reflita... Além de tudo isto, o que te faz
capaz de ler este texto, e o que me torna capaz de escrevê-lo, é o nosso poder de
raciocínio. Além de estarmos vivos, somos seres pensantes. Podemos pensar sobre coisas
como amor e amizade, planos pro fim de semana e planos para uma vida inteira.
Podemos fazer contas, aprender várias línguas e o mais importante, podemos sentir o
mundo que nos cerca: olhar o nascer do Sol, sentir o cheiro da goiaba, tocar o espinho de
uma rosa, saborear o gosto do caramelo, ouvir sua música preferida. O ser humano é
perfeito nesse aspecto.
Em contra partida a essa perfeição natural, existem vários problemas: o fator auto
destruição, o ser humano está mutilando o planeta e acabando com o futuro da
humanidade. Existe o fator alienação, onde milhões de pessoas vivem por viver, aceitando
tudo o que a sociedade impõe, como moda e ideologias. O problema da fome que assola
milhões. O problema das guerras. Todos os problemas mundiais e pessoais, como
amorosos e financeiros. Mesmo assim, esqueça estes problemas um pouco, dedique um
tempo hoje para refletir, você consegue notar a beleza de estar vivo?
3
O Enigma da Felicidade
4
Um Espelho Chamado Governo
O povo reclama demais dos modos de governo. Mas o que é o governo? Teoricamente
deveria ser a ferramenta que garantisse a aplicação da democracia em prol do povo.
Todos os brasileiros sabem que não é isso que acontece, todos. E por este motivo
escolhem lados, esquerda e direita. A oposição sempre acha que se o seu candidato
estivesse no poder o Brasil estaria melhor. Quando o FHC era presidente, a esquerda
achava isso. É fato que desde 2002 a economia brasileira teve melhoras, mas as grandes
mudanças que esperávamos não ocorreram, não houve reforma tributária, nem política e
muito menos agrária (utopia agrária). Isto não é uma crítica ao Lula, podem apostar todas
suas fichas que o próximo presidente não fará também, o motivo é simples: isso não é
conveniente aos interesses dos bancários e empresários que são os verdadeiros
governantes deste país, a situação para eles está boa,da mesma forma que está boa para
os políticos.
O governo está repleto de deputados acomodados. Se eles fazem algo errado e são
descobertos, apenas largam o cargo (alguns nem largam, né Sarney?!) e se candidatam na
próxima eleição , a lama que é o judiciário permite este privilégio. O absurdo não é a
permissão disto, absurdo mesmo é o fato do povo elegê-los novamente (né Collor?!).
Infelizmente o voto nesse país é obrigatório, obrigando gente mal informada a ir votar,
baseando-se apenas no que ingere no sagrado telejornal manipulador de todo dia. Dessa
forma partidos pequenos e com ideologia, mas sem nenhuma expressão na mídia, não
têm a menor chance de vencer uma disputa ao governo de um estado. Mas chega de
apontar os problemas, eles são visíveis. O difícil é resolver. Na verdade a solução não está
só em punir os corruptos do governo, está em conscientizar a população. De que forma
conscientizar uma sociedade com séria carência de informação útil? A resposta é uma
medida em longo prazo, melhorarias na educação básica, tendo aulas de política e
filosofia desde os oito anos. Uma solução que cai numa encruzilhada. A linha de raciocínio
é a seguinte: para o povo pressionar o governo precisa ser um povo ativo, para ser ativo
precisa ser bem informado, para ser bem informado necessita de atitudes do governo,
que não tomará atitudes se não for pressionado.
Parece uma situação triste e sem fim, mas tenho certeza que aos poucos a filosofia atual
do "estude para conseguir um emprego" será substituída pela ideologia do "estude para
ter opinião crítica". Existem pessoas insatisfeitas e elas estão aparecendo, suas idéias vão
se espalhar. Vão passar primeiro para os amigos, que no futuro passarão para os filhos
que passarão para os amigos deles, que passarão para os filhos deles. O governo é
reflexo do povo, uma hora o povo vai arregaçar as mangas e fazer estas reformas (mais
do que necessárias) nesta casa largada às traças chamada Brasil.
5
A Razão de Viver
A menina ruiva era cheia de dúvidas. Queria saber o porquê de tudo, não aceitava
verdades absolutas. Uma dúvida em especial a fazia vagar pela sua mente, ela queria
descobrir a razão de viver, queria saber o motivo de ter consciência, queria saber se era
seu espírito ou apenas reações químicas no cérebro que davam esse poder dela pensar, e
ela pensava muito. Ela procurava o sentido da vida, mas essa resposta não se encontrava
em livros, então decidiu fazer o seu. Demorou alguns meses, mas conseguiu. Escolheu um
nome bem sucinto, chamou-o de Livro das suposições fundamentadas sobre a razão de
viver. Ela achou o título meio grande, mas era uma das maiores perguntas da
humanidade, então achou de bom tamanho. No volume ela explicava em vários capítulos
as possíveis respostas para a razão de viver. Deixava bem claro no prefácio que o leitor
podia fechar o livro imediatamente, pois aquilo não era um documento válido, era apenas
um pensamento trabalhado.
A menina ruiva nunca conseguiu uma editora que publicasse seu livro, os poucos que
aceitaram a idéia decidiram editar uma ou outra parte, e isso era inaceitável para a
menina que tinha um temperamento de fogo, assim como seus cabelos. Ela nunca quis
dinheiro, apenas esperava que pessoas se interessassem em pensar sobre a vida, ela
reparava na sociedade, as pessoas apenas vão vivendo: um dia a mais na vida, um dia
mais perto da morte, a rotina do fim dos tempos. Ela decidiu imprimir seu livro e fazer
trinta e três cópias, foi o que seu dinheiro podia pagar. Deixou uma cópia em um banco
de ônibus pela cidade, com um pedido na contracapa: leia isto e passe adiante. Em pouco
tempo seu livro virou notícia e todos queriam saber quem era a autora daquilo, mas
nunca saberiam, porque no último parágrafo estava escrito: “A razão de viver é ser uma
pessoa inesquecível para pessoas inesquecíveis, isso se consegue acreditando em seu
potencial e não deixando que digam como levar sua vida, nunca deixe o sistema e a
rotina moldarem sua mente, a razão de viver é ter liberdade para amar a si mesmo e aos
outros, de forma única e completa.”. E quase no fim da página se destacava uma linha
com quatro palavras... Autora: A Menina Ruiva.
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Um Amor Tranqüilo
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Sobre Inspiração
Preciso escrever, sempre precisei. Era o meu jeito de mostrar a minha visão, meu
universo. Mas estou numa abstinência de idéias. Ultimamente tenho me perguntado se
meu ímpeto literário se resume a apenas ler, se minha criatividade acabou. Queria voltar a
escrever sobre amor, amizade e coisas universais. No entanto, aparentemente estou
incapaz de fazê-lo. Neste texto me limito a reclamar dessa falta de produtividade, culpa
da Dona Inspiração que não vem mais me ver. Claro que inspiração cada um tem a sua,
provavelmente a minha não gosta do tempo frio e chuvoso do setembro curitibano
(setembro chove? Sim, chove). Reclamo e espero, assim como o produtor de café espera
uma boa safra, tenho fé que isso é passageiro, que o mau tempo que está impedindo que
meus pensamentos germinem vá passar. Apenas vou esperando, não vou forçar uma falsa
inspiração. Afinal, não adianta forçar uma escrita sem vontade, nem procurar inspiração.
Mesmo porque é uma busca sem fim, ela não está aonde se procura, apenas chega do
nada, aparece por sorte, igual ao amor. Amor mesmo, aqueles dos filmes, aquele que a
pessoa te entende e você entende a pessoa, esse amor é questão de sorte.
O bom da inspiração é o fato de não ter outro sentimento que se passe por ela, no caso
do amor tem a paixão que vive fazendo isso, iludindo pessoas apressadas que na primeira
semana acham que estão amando. A Dona Inspiração é única, ou está inspirado ou não.
Sem meio termo. É necessário usá-la por inteiro antes que se vá. Pensando nisso resolvi
escrever mesmo não estando inspirado, demonstrando o meu descontentamento por
essa época de vacas magras. Como a vontade de criar é algo que vem por conta, não vou
voltar a escrever crônica (meu estilo preferido) sem me sentir realmente com vontade de
escrever. Talvez eu me sinta inspirado daqui a um dia, dois, ou um mês. Tanto faz, não
estou mais preocupado com o tempo. Por hora vou botar um edredom quente, estourar
umas pipocas e alugar um filme (não necessariamente nessa ordem). Talvez então, a
inspiração resolva se sentar comigo e conversar, contar do tempo que passou fora e das
galáxias que conheceu.
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Emigrantes
Interessante a fissura que algumas pessoas têm em trabalhar ou morar fora do país, eu
mesmo tenho muita vontade de entrar num avião, sobrevoar o oceano Pacífico e
conhecer a Austrália. Argumentos para isso não faltam, país de primeiro mundo, outra
cultura, aproveitar a vida, novas experiências.
Este texto é banal a princípio, falar de algo que eu nem tenho o que criticar, mas sou dos
que argumentam que antes de conhecer o mundo é necessário conhecer seu próprio
país. Estava conversando com um amigo meu, ele me contou sobre Amsterdã, disse que
queria muito ir lá para provar bolo de hashish e curtir a louca sociedade local. O papo foi
continuando e o assunto mudou, ele me disse com um ar de deboche que a amiga dele
não sabia quem era Fidel Castro, como se isso fosse algo descabido. Perguntei se ele
sabia quem era o presidente do senado, ele disse que não. Ele é como a maioria dos
brasileiros, mal informado sobre a nação.
Isso me mostrou uma coisa que eu já imaginava, o fato de querer morar ou trabalhar fora
é compreensível, a ideia de viajar para um lugar desconhecido e teoricamente
interessante vai sempre será preferível que viver na rotina da sua vida. A sociedade é
construída para nascer, crescer, se educar, arranjar um emprego, ter uma residência fixa,
constituir família e passar esses valores para os descendentes. Isso torna a pessoa
previsível, é bom pensar em viajar mesmo, quebrar essa linha. Ao invés de procurar
emprego que tal montar o seu próprio negócio, ao invés de gastar dinheiro numa
residência fixa que tal viajar para a Europa, enfim, buscar algo marcante. A vida é uma
série de acontecimentos, quanto mais significantes, melhor. É sempre bom sonhar com
uma foto na frente da torre Eiffel por exemplo, mas como brasileiro é essencial também
saber que cargo ocupa José Sarney e coisas do tipo.
Para a França somos apenas turistas, além do dinheiro que gastamos lá o resto pouco
importa. Já nosso país, a amada pátria Brasil, somos nós quem fazemos, com nossos
impostos (caríssimos), mão-de-obra e políticos que elegemos. Agora se fazemos bem
feito ou mal feito... Melhor mudar de assunto.
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Os Amores da Minha Vida
10
Congestão Cerebral
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Sobre ser Normal
O que é ser uma pessoa normal? Acredito que ser normal é você fazer a mesma coisa que
muitas pessoas fazem, agindo ou pensando da mesma forma. Ser normal é péssimo,
porque isso só tende a piorar. Normal é falar jargões que estão na moda; tipo Mara, (era
Mara falar Mara até virar modinha), normal é usar a internet apenas para ficar no orkut e
msn, normal é ver a Globo, normal é idealizar um amor perfeito, normal é seguir o fluxo.
Se você se identificou com essas características nem continue, esse texto é impróprio para
pessoas normais.
Se eu pudesse criaria um outro tipo de AA, Anormais Anônimos, não seria para
reabilitação, não existe motivo para querer ser normal, seria apenas uma reunião bem
louca em uma sala psicodélica e com luz negra no teto para que as pessoas pudessem
contar suas experiências. Alguma garota contaria sua experiência homossexual com sua
melhor amiga, algum cara contaria sua incrível aventura jogando sabão em pó no chafariz
da praça, e no meio da reunião todos se calariam para ouvir um senhor de cinqüenta e
tantos anos contando da sua juventude transviada. Hoje existem tantas pessoas normais
que se acomodam com a ilusão de estabilidade e conforto que chega a ser irritante.
Tribos que não tem mais uma ideologia, apenas porque acharam legal o carinha da TV
que fala de amor e suas roupas coloridas. Gente fútil que só se preocupa com seu cabelo
e a combinação mais legal para o fim de semana. Por isso que eu volto ao assunto do
primeiro parágrafo. A situação das pessoas normais só tende a piorar. Eu tenho pena dos
normais, pena de quem tem vergonha de falar o que pensa por medo da opinião alheia.
Pena de quem se intimida com o primeiro obstáculo na vida. Pena dos que têm pena de
si mesmo. Se você não é normal se orgulhe. Você tem conteúdo, e isso é muito mais
importante que a ilusão de seguir a moda.
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Nomes
Estava eu olhando meu horóscopo, não acredito mas leio, é engraçado e interessante ao
mesmo tempo. Acabei parando numa página que falava de numerologia. Como estava
realmente no auge da ociosidade, parei para ler. A numerologia afirma que cada número
tem um significado que influi na vida do indivíduo. Assim, (supostamente) cada nome
carrega uma "vibração numerológica". Isso me fez pensar sobre os nomes, não acredito
em numerologia assim como não acredito em astrologia, mas acho interessante a relação
nome/pessoa.
Nomes influenciam a vida da pessoa, para mim é fato. Não por causa de destino, mas
pela sonoridade do nome, por exemplo, eu não tenho nome de atacante, se eu fosse
jogador seria obrigado a jogar no gol, não consigo imaginar o Galvão narrando Brasil x
Itália e falando:
- Lá vai Kaká, toca para o Marcos, ele gira , chutou, é gol. Goool. É do Brasil, É dele,
Marcos.
Galvão puxando o R do meu nome ia ficar sem noção. Ronaldo sim é nome de jogador,
nomes com R em geral são nomes de jogadores, vide Rivaldo; Romário; Rivelino. Se você
pensar em um pedreiro, vai pensar em Ademir, Clodoaldo, Tião. Não vai achar um
pedreiro chamado Roberto Justus. Para mim fica claro que tem gente que nasceu com o
nome certo para determinada profissão, Luís Fernando Veríssimo, que nome lindo, podia
ficar falando o nome dele o dia todo. É ótimo você pegar um livro e ver um nome desses
na capa, dá uma sensação de que tudo está em ordem.
Existem também os nomes esdrúxulos, lembro até hoje de um dia que um amigo me
falou o nome do pai dele: Astrogildo. Sem falar da minha bisavó, dona Virgilina. Sou a
favor de escolhas coerentes para nomes. Fiz umas definições que pretendo divulgar nas
maternidades mundo afora:
Primeiro mandamento: Meninas devem ter nomes como Emily, Suellen, Liege, entre
outros que sejam curtos e sonoros.
Segundo mandamento: Meninos devem ter nomes de arcanjos,santos ou reis: Gabriel,
Lucas, Henrique.
Terceiro mandamento: Nunca, em hipótese alguma bote o mesmo nome do pai no seu
filho. Nomes como Fulano Junior não tem graça.
Sobre o meu nome, Marcos Rogério Ritz Gouveia. Talvez um nome de um escritor, talvez
um nome de um simples trabalhador do dia-a-dia, sinceramente não sei. Ainda estou em
dúvida sobre o que fazer no futuro e aceito sugestões, mas ainda acho que para mim o
que mais se encaixa seria um protagonista de novela mexicana:
- Por favor Marcos Rogério, não abandone a Maria do Bairro.
- Lamento, mas ela me decepcionou, agora não tem mais volta.
Aguardem os próximos capítulos.
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