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AÇÃO ORDINÁRIA (PROCEDIMENTO COMUM ORDIN Nº

2007.70.01.002563-4/PR)
AUTOR : SHALIMAR WASSILEVSKI
ADVOGADO : SHALIMAR WASSILEVSKI
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECCAO DO
RÉU :
PARANA

SENTENÇA

Shalimar Wassilewski, advogada, ajuizou a presente ação de indenização por


danos morais contra a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Paraná,
aduzindo que teve contra si aplicada sanção disciplinar consistente na
suspensão do exercício da atividade profissional em razão da inadimplência,
penalidade que perduraria enquanto não satisfeita a dívida.

Aduziu que manejou ação ordinária (autos 2006.70.01.006213-4),


distribuída a este Juízo, à qual pediu distribuição por dependência, em
razão da conexão, na qual houve concessão de liminar, mantida pelo TRF, a
despeito do agravo de instrumento tirado pela Ré, sendo restabelecido seu
direito de trabalhar, que jamais poderia ter ocorrido porque, nos termos do
artigo 5º, inciso XIII, da CF/88, é livre o exercício de qualquer trabalho,
ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer, situações que nada têm a ver com o inadimplemento.

Afirmou que o comportamento da Ré, arbitrário, causou-lhe prejuízos e


aborrecimentos, pois, exemplificando, destacou situação pertinente à
execução de verba honorária decorrente de sua atuação como curadora
especial em ação monitória proposta pela Caixa Econômica Federal, na qual
restou acolhida sua defesa, mas a suspensão aplicada pela Ré vinha sendo
utilizada como fundamento da CEF para obstar o recebimento do fruto do
seu trabalho.

Destacou que, ao lado dessa situação, sua honra, imagem e boa fama foram
lesadas, ocasionando-lhe danos, os quais são presumidos, principalmente
quando, tratando-se de dano moral, sobre o qual discorreu, este visa
compensar o abalo sofrido, devendo ser traduzido em pecúnia,
apresentando, para tanto, parâmetro centrado na declaração de
rendimentos, ou seja, R$2.000,00 (dois mil reais), mensais, estimando o
dano, então, totalizado em R$82.000,00 (valor correspondente ao tempo da
suspensão).
Deu valor à causa em R$30.000,00, juntando documentos às fls.11/31.

Citada, a Ré apresentou resposta, sob a forma de contestação, às fls.


44/56, ocasião em que destacou a necessidade da comprovação dos
pressupostos objetivos para reparação do dano, não havendo ato ilícito
algum, porque praticou o ato amparado por expressa disposição legal,
principalmente quando o artigo 5º, inciso XIII da CF/88 estabelece que o
exercício da profissão é condicionado ao atendimento dos requisitos prévios
estabelecidos em lei, conforme doutrina citada, devendo prestigiar-se o
princípio da isonomia, em face dos advogados regularmente adimplentes.

Colacionou jurisprudência em abono de sua tese e finalizou aduzindo


ausência de dano concreto e objetivo, sendo impossível sua reparação, pois
meros dissabores não são passíveis de indenização, a qual, ainda, deve se
cingir ao dano moral e não ao dano material, como posto na petição inicial,
porque não houve, nesse aspecto, pedido.

Por fim, salientou culpa da autora, devendo ser afastada a indenização, cujo
intuito é de locupletamento, e, a título de argumentação, se procedente o
pedido, a indenização deve ser fixada com base na equidade, evitando-se
fixação de quantum abusivo.

Réplica à fl. 87, ratificando a petição inicial e pedindo julgamento


antecipado.

É o relatório! Decido:

FUNDAMENTAÇÃO

Consigno, de saída, que a lide comporta julgamento antecipado, sendo


desnecessária a produção de provas em audiência, nos termos do artigo 330,
inciso I, do CPC.

Nos autos 2006.70.01.006213-4, em que a autora pediu a declaração de


nulidade do procedimento administrativo de suspensão do exercício
profissional, por irregularidade em sua intimação no processo
administrativo, houve concessão de antecipação de tutela, confirmada pelo
TRF e, ao final, julgamento pela procedência do pedido, cuja sentença
restou proferida, nos seguintes termos:
"... Necessário, de saída, destacar que a autora salientou não ter sido
notificada e, por isso, inválido e nulo o processo administrativo, ao
passo que a Ré, na contestação, aduziu que a atualização do cadastro
se deu após o despacho proferido no processo administrativo que
determinou sua notificação por edital.

Analisando-se o despacho proferido no processo administrativo à fl.


127 é possível reconhecer-se tal argumentação, no entanto, isso não
implica automática observância do devido processo legal.

De efeito {e aqui não está o Poder Judiciário se imiscuindo na


discricionariedade da Ré [porque não se está a substituir à OAB na
escolha da pena]}, aplicação de penalidade desse jaez necessita, para
observância do devido processo legal substancial, no mínimo, antes da
utilização do meio editalício, a adoção de diligências possíveis para
entrega pessoal ao profissional, o que não ocorreu.

Vislumbra-se à fl. 125 que, desde 04 de abril de 2000, a autora já


havia informado tal endereço, porém, a despeito de ter sido
encaminhada correspondência para o endereço atualizado (fl. 133,
verso), não foi recebida pessoalmente pela autora, restando maculado o
processo administrativo pela ausência de regular notificação.

Não se pode olvidar que, imposição de pena, mesmo com a presunção


contida no § 1º do artigo 137-A, do Regulamento Geral do EAOAB,
imprescinde de adoção de medidas capazes de efetivar a comunicação
do ato, dentre as quais, a intimação pessoal, não realizada, conforme
se vê no documento de fl. 133, verso.

De outro norte, ainda que assim não fosse [bastaria o acolhimento de


um dos fundamentos da demanda] há razão outra, suficiente para
conceder a pretensão deduzida, na medida em que se vislumbra a
ocorrência de inconstitucionalidade, adiante fundamentada, quanto à
aplicação da pena de suspensão em casos de inadimplemento de
anuidade devida à OAB.

Os artigos questionados pela autora têm a seguinte redação:

" Art. 34. Constitui infração disciplinar:


...
XXIII - deixar de pagar as contribuições, multas e preços de serviços
devidos à OAB, depois de regularmente notificado a fazê-lo."

"Art. 37. A suspensão é aplicável nos casos de:


I - infrações definidas nos incisos XVII a XXV do art.34;
...
§ 2º. Nas hipóteses dos incisos XXI e XXIII do art. 34, a suspensão
perdura até que satisfaça integralmente a dívida, inclusive com
correção monetária...."
A aplicação conjunta desses dispositivos permite concluir que o
advogado em débito com a OAB sujeita-se à suspensão de suas
atividades profissionais até que quite a dívida.

É notória a afronta à garantia do artigo 5º, inciso XIII, da CF/88,


que dispõe ser "livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer", não se admitindo qualquer ingerência nesse aspecto,
bastando o cumprimento do disposto no artigo 8º da Lei 8.906/94 para
se inscrever como advogado e se enquadrar no mandamento
constitucional.

As demais exigências, especificamente o pagamento da anuidade, de


modo algum, pode impedir o exercício do trabalho, mormente quando a
suspensão desse direito implica coerção indireta, instrumento ilegítimo
ao recebimento do crédito, haja vista que a OAB possui outros meios
para cobrança de seus créditos, os quais, pela razoabilidade, devem ser
utilizados sob pena de ocorrência de sanção desproporcional, privando o
profissional do exercício de sua profissão.

Já quadrou ensejo ao TRF da 2ª Região, decidir que o "... exercício da


profissão não pode estar condicionado ao pagamento da anuidade. Se o
advogado possui um débito para com a OAB, deve a mesma utilizar-se
da via adequada para recebimento do deu crédito e não se utilizar da
ação de busca e apreensão para inviabilizar o exercício profissional pela
mera inadimplência. ..." (TRF 3 - AC 322846. Processo
2000.51.03.002004/RJ. Sexta Turma Esp. Data da decisão
11/5/2005).

No mesmo sentido, é o entendimento da Desembargadora do mesmo


TRF, Drª Vera Lúcia Lima, para quem:
(...) A medida adotada pela agravante carece de razoabilidade, na
medida em que tem por escopo impedir o impetrante, ora agravado, de
exercer sua atividade profissional como meio de obrigá-lo a pagar os
valores referentes a anuidades não pagas, quando, em verdade, a OAB
já dispõe da via do processo executivo como instrumento eficaz e
adequado de cobrança. - Obstar o exercício de atividade profissional
como meio de cobrança ofende a dignidade da pessoa humana e viola a
garantia constitucional estampada no art. 5º, XIII, segundo o qual "é
livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer". - Outrossim, a
Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal veda o manejo de sanções
políticas com o fito de compelir a parte devedora a cumprir obrigação
inadimplida (AI 589001/RS, Rel. Ministro Celso de Mello, j. em
24/04/2006, DJ de 10/5/2006, p. 57). - Agravo de instrumento
desprovido. Agravo interno prejudicado.

Em julgado recente, já consignado na decisão de fl. 80:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. OAB.


INADIMPLEMENTO DE ANUIDADE. SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO
PROFISSIONAL. SUSCITADO O INCIDENTE DE ARGÜIÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE. 1. O parágrafo 1º do artigo 37 da Lei
nº nº 8.906/94 ao penalizar o profissional, que deixa de recolher as
devidas contribuições, com a interdição do exercício profissional,
extrapolou os limites impostos pela norma constitucional contida no art.
5º, da CF/88. 2. Suscitado o incidente de argüição de
inconstitucionalidade à Corte Especial. (TRF4 - AI
2005.04.01.016797-1/PR. DJU de 29.3.2006).

Portanto, com a precisão que lhe é peculiar, assinalou com maestria o


ilustre Desembargador Luiz Carlos de Castro Lugon, na decisão que
negou provimento ao agravo interposto pela Ré, sendo digno de se
transcrever excerto da fl. 204, pois "... não há como condicionar a
atividade profissional da agravada ao pagamento de anuidades em
atraso, posto ser direito fundamental, previsto no artigo 5º, XIII, da
Constituição Federal, o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão. ..."

Assim, sendo nulo o procedimento, quer pela não observância do devido


processo legal substancial - notificação pessoal - bem como pela
violação ao princípio constitucional fundamental do direito ao trabalho,
declaro ser inconstitucional o artigo 34, inciso XXIII e o artigo 37,
inciso I, da Lei 8.609/94, e declaro que a Ré está impedida de
suspender a advogada autora do exercício da advocacia em razão de
inadimplência passada e futura, devendo promover a cobrança do que
entender devido, com utilização dos meios postos à sua disposição.

Do mesmo modo, é indevida a exigência da multa de eleição após a


suspensão, porque considerada inadimplente pela Ré, restou
impossibilitada de recolher predita multa em razão dessa suspensão,
fato que não foi impugnado pela OAB, restando prejudicados os demais
pedidos, formulados sucessivamente.

Sem mais delongas, passo ao dispositivo.

DISPOSITIVO

À vista do exposto, na forma da fundamentação, acolho o pedido


deduzido pela autora Shalimar Wassilevski, (letra "c" de fl. 14),
extinguindo o processo com resolução do mérito, forte no artigo 269,
inciso I, do Código de Processo Civil, reconhecendo, na forma da
fundamentação a inconstitucionalidade dos artigos 34, inciso XXIII e
37, inciso I, da Lei 8.609/94.
Outrossim, declaro [1] que a Ré está impedida de suspender a advogada
autora do exercício da advocacia em razão de inadimplência passada e
futura, devendo promover a cobrança do que entender devido, com
utilização dos meios postos à sua disposição; [2] ser indevida a
exigência da multa de eleição após a suspensão, porque considerada
inadimplente pela Ré, restou impossibilitada de recolher predita multa
em razão dessa suspensão.

Pela sucumbência, condeno a Ré ao ressarcimento das custas adiantadas


pela autora, devidamente corrigidas desde a data do pagamento, pelo
INPC, bem como ao pagamento de honorários advocatícios, os quais,
sopesados os critérios legais, arbitro em R$1.500,00 (mil e quinhentos
reais) corrigidos pelo INPC a partir desta data, forte no artigo 20, §
4º, do CPC.
..."

Assim, reconhecida a nulidade do ato realizado pela Ré (suspensão do


exercício da advocacia), para efeito do dano moral, desnecessário provar-se
o prejuízo, pois, provado o fato, não se torna necessário provar o dano moral
dele decorrente (RESP 261.028-RJ, DJU 20.8.2001, p. 459), porquanto
traduzido como lesão ao direito de personalidade da pessoa, cuja
ocorrência, não raras vezes, é de difícil constatação, em decorrência de
seus reflexos atingirem a intimidade da pessoa, atributo infenso às
investidas ilícitas.

Acresça-se a tal fundamentação que o legislador não pode condicionar o


exercício da advocacia (profissão regulamentada) à inexistência de débito
com a entidade de classe (que possui natureza de autarquia) a cuja
fiscalização é submetido.

De efeito, esse tipo de restrição (inadimplemento), não guarda relação


alguma com a qualificação profissional exigida para se tornar advogado,
malferindo, assim, a regra constitucional que trata da liberdade do
exercício de profissão e da isonomia, mormente quando se pode atribuir a
essa exigência a qualidade abominável de elitista e censitária, porque
condiciona o exercício de direito a certos e determinados rendimentos,
impedindo, outrossim, fruição do direito fundamental social, em razão do
menor poder aquisitivo demonstrado por tais profissionais.

De outro norte, ao contrário do que foi sustentado pela Ré em sua resposta,


o princípio da isonomia não autoriza desacolher o pedido da autora, mas, ao
contrário, é indicativo para seu acolhimento, pois, conforme dito alhures, tal
restrição (ao exercício do direito fundamental ao trabalho) implica, sem
dúvida alguma, discriminação sem base legal, ofensiva ao princípio da
isonomia.

Além disso, tem-se que a razoabilidade das leis, princípio com assento no
devido processo legal ( artigo 5º, inciso LIV, CF/88), autoriza o Magistrado
a cotejar os atos praticados pela Administração com os parâmetros de
Justiça inerentes à ordem jurídica, deles podendo se inferir a existência de
desconformidade ética e moral.

Nesse aspecto, ainda que lastreada em lei, tenho que malfere o ideal de
justiça preconizado pela Constituição a consideração feita pela Ré, de
tratar inadimplência como infração, alçada à violação de ética e ensejadora
de desencadeamento de processo disciplinar, notadamente quando
confrontado com o princípio da dignidade da pessoa humana e da valorização
do trabalho, decantados no capítulo dos direitos fundamentais.
Entendo que a aplicação de suspensão do exercício da atividade profissional
pelo inadimplemento é diametralmente desproporcional ao fim visado,
porque à Administração permite-se, sim, adotar medidas necessárias para a
consecução de seus fins, mas devem ser as menos gravosas e, ainda, deve
haver ponderação entre o ônus imposto e o benefício conseguido, tudo com a
finalidade de se constatar se é justificável a interferência na esfera dos
direitos do cidadão.

Não será expletivo sublinhar que a Ré dispõe de mecanismos eficientes para


cobrança de seus créditos, em especial as anuidades dos advogados, mas, o
que geralmente se percebe é que não se vale de ação de cobrança ou
execução fiscal, preferindo se valer da imposição de penalidade - e
comunicação aos órgãos do Poder Judiciário - que determinado advogado(a)
encontra-se suspenso.

Tal ato caracteriza-se mais como sanção política pelo não pagamento da
anuidade - pois impede o exercício profissional do advogado inadimplente -
do que exercício regular de direito e, por assim ser, já quadrou ensejo ao
egrégio Supremo Tribunal Federal decidir pela impossibilidade de imposição
de tais penalidades, restando sumulada a matéria, sendo proibida a vedação
ao exercício de atividade como meio de coagir alguém a pagar tributo.

Confira-se nas súmulas abaixo:

"Súmula 70. É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio


coercitivo para cobrança de tributo"

"Súmula 323. É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio


coercitivo para pagamento de tributo"

"Súmula 547. Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em


débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e
exerça suas atividades profissionais"
Esta última súmula retrata, com precisão, a situação trazida à apreciação
deste Juízo, pois a Lei 8.906/94 visa exatamente impedir o exercício
profissional da advocacia àquele que não estiver em dia com a Ré.

Assim, presente o ato ilícito, exorbitando a Ré quanto à imposição da


penalidade de suspensão do exercício da profissão em razão da ausência de
pagamento de anuidades, violando os princípios da isonomia, razoabilidade e
proporcionalidade, na forma exposta alhures, sendo desnecessário,
conforme citado à página 06 desta sentença, a prova do prejuízo (para
efeito do dano moral, desnecessário provar-se o prejuízo, pois, provado o
fato, não se torna necessário provar o dano moral dele decorrente (RESP
261.028-RJ, DJU 20.8.2001, p. 459), tem-se a procedência do pedido
deduzido pela autora Shalimar Wassilewski, não sendo mero dissabor a
divulgação de suspensão do exercício da atividade profissional, porque o
prejuízo é implícito, inerente à esfera íntima da pessoa, e, não raras vezes,
sofrida recôndito individual de cada um.

Nesse aspecto, a respeito da reparabilidade do dano moral à luz da


Constituição Federal de 1988, preleciona AMÉRICO LUÍS MARTINS DA
SILVA (O Dano Moral e a sua Reparação Civil, Editora RT, 2ª edição, p.
237):

"... Qualquer oposição que ainda existia contra o princípio da


reparabilidade do dano moral puro caiu por terra com a vigência dos
incisos V e X do art. 5º da Constituição Federal de 1988. Com tais
dispositivos constitucionais, o argumento contrário à reparação do dano
moral, fundado na inexecução de preceituação genérica, passou a ser
de difícil sustentação. Como bem destacou o Ministro Cláudio Santos,
'a idéia de que o dano simplesmente moral não é indenizável pertence
ao passado'. Hoje, por força de disposição constitucional, é reparável o
dano moral, quer haja ou não o dano patrimonial. Dispõe o inciso V do
art. 5º da Constituição Federal de 1988 que 'é assegurado o direito de
resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano, moral
ou à imagem. ..."

Quanto à alegação da Ré no sentido de não haver pedido a título de dano


material, de fato, isso não foi pedido e nem será examinado, porque, pelo
que se infere da petição inicial, especialmente à fl. 10, a autora não pediu a
quantia de R$82.000,00 a título de danos morais, mas, simplesmente,
indicou, por estimativa o valor que deixou de auferir, tanto que, logo em
seguida, pediu condenação por danos morais em valores a serem arbitrados,
tendo dado valor à causa, não impugnado pela Ré, em R$30.000,00.

De rigor, ainda, afastar-se a alegação de ter havido culpa da autora, porque,


ao contrário do que sustenta a Ré (a autora deveria se prevenir
juridicamente contra a execução da lei e não aguardar sua execução para
pleitear a vantagem indevida), a autora não atuou com culpa alguma, porque
deveria a Ré ter promovido a ação judicial que entendesse cabível
(cobrança/execução fiscal) para cobrança de suas anuidades e não, como
feito, valer-se de meio coercitivo (impedir o exercício da profissão) para
recebimento de seu crédito.

Ora, não tivesse havido a aplicação da penalidade de suspensão, a autora não


teria manejado as ações para afastar dita imposição e, conseqüentemente,
aí sim, não haveria dano moral passível de reparação, sendo, portanto,
procedente o pedido deduzido pela autora, restando fixar o dano moral por
ela experimentado.

Oportuno reprisar que, provado o fato, não se torna necessário provar o


dano moral dele decorrente (RESP 261.028-RJ, DJU 20.8.2001, p. 459),
porquanto traduzido como lesão ao direito de personalidade da pessoa, cuja
ocorrência, não raras vezes, é de difícil constatação, em decorrência de
seus reflexos atingirem a intimidade da pessoa, atributo infenso às
investidas ilícitas.

Por conta disso, abandonando as interpretações que engessam a cognição


adquirida, o dano moral merece ampla reparação, que, albergada pelo
sistema jurídico, encontra-se centrada na desnecessidade de se provar
prejuízo para demonstração da violação do moral humano, principalmente
quando, no campo psicológico, abalou-se o ambiente profissional, maculado
com decepções e desgostos, centrados no fato de tal imposição de
penalidade ter sido utilizado por outrem como fundamento para tentar
invalidar ato praticado pela autora no exercício profissional, traduzindo-se
em conhecimento da situação por diversas pessoas, inclusive advogados da
parte contrária ( no exemplo trazido, advogados terceirizados da CEF), as
quais invocaram tal fato (imposição de penalidade) como suporte para
pretender a predita invalidação do ato por ela praticado.

Portanto, abandonar o modelo arcaico de reparação de danos, migrando-se


efetivamente para reconhecimento do valor moral, inerente ao indivíduo,
extirpando-se deformidades interpretativas, é função jurisdicional que
deve ser norteada pelo esquadrinhamento no cenário jurídico da efetiva
implementação da reparação de qualquer tipo de dano, principalmente o
moral, imbricado que se encontra na esfera da intimidade humana.

Assim, evidenciado o ato, a possibilidade financeira e a repercussão desse


fato na esfera psicológica da autora, autoriza-se o reconhecimento da
existência de dano moral.
A quantificação do dano moral imprescinde de adoção de parâmetros que
possam conduzir à sua efetiva e adequada reparação, além de ser necessária
a imposição de expiação ao ofensor pela prática do fato, desestimulando-o,
assim, de manter-se inerte sem adoção de providências para impedir
situações dessa natureza e, assim, como o modo de reparação pretendida
centra-se em indenização pecuniária, resta, então, fixar seu valor.

Sobre o quantum da indenização, o pretium doloris, destaco que, no


arbitramento da indenização advinda de danos morais, deve haver bom
senso e razoabilidade, atendendo às peculiaridades do caso, não podendo
ser fixado quantum que seja irrisório, minimizando a condenação e tampouco
valor vultoso que possa conduzir ao enriquecimento ilícito.

É necessário que o valor possa amenizar as conseqüências sofridas, punindo


na medida certa o responsável pelo dano, obtemperando-se as
particularidades de cada situação examinada, as conseqüências e efeitos.

Para tanto, conforme lúcida análise de Carlos Dias Motta ( Dano Moral Por
Abalo Indevido de Crédito, RT 760, fevereiro de 1999, p. 74/94):

"... Na verdade, não há falar em equivalência entre o dinheiro


proveniente da indenização e o dano sofrido, pois não se pode avaliar o
sentimento humano. Não se afigura possível, então, a reparação
propriamente dita do dano, com o retorno ao 'statu quo ante' e com a
'restitutio in integrum'. Na impossibilidade de reparação equivalente,
compensa-se o dano moral com determinada quantia pecuniária, que
funciona como lenitivo e forma alternativa para que o sofrimento possa
ser atenuado com as comodidades e os prazeres que o dinheiro pode
proporcionar. A par disso, a condenação pecuniária também tem
natureza punitiva, sancionando o causador do dano. Como corolário da
sanção, surge ainda a função preventiva da indenização, pois esta
deverá ser dimensionada de tal forma a desestimular o ofensor à
repetição do ato ilícito e conduzi-lo a ser mais cuidadoso no futuro...."

Nesse aspecto, confira-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:


"PROCESSO CIVIL. PRISÃO INDEVIDA. ART. 5°, LXXV, DA CF.
APLICAÇÃO. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. ACÓRDÃO
RECORRIDO. DECISÃO EXTRA PETITA E DEFICIÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO NA APLICAÇÃO DOS DANOS MORAIS.
INOCORRÊNCIA.DANOS MORAIS E MATERIAIS MANTIDOS. ...
3. A fixação dos danos morais deve obedecer aos critérios da
solidariedade e exemplaridade, que implica a valoração da
proporcionalidade do quantum e a capacidade econômica do sucumbente.
... (RESP 434970/MG, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJ
16/12/2002)"

"INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO. Não


há critérios determinados e fixos para a quantificação do dano moral.
Recomendável que o arbitramento seja feito com moderação e
atendendo às peculiaridades do caso concreto. ... (RESP 213731/PR,
Terceira Turma, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJ 21/8/2000)"

Em situações deste jaez, em que se caracteriza o abalo psicológico pelo


impedimento ao exercício da atividade profissional, a advocacia, para a qual
preencheu os requisitos, não há previsão legal específica no Código Civil
quanto ao valor da reparação, cabendo, então, ao Poder Judiciário arbitrar
esse valor.

E, nos termos em que deduzidos nesta demanda, tendo a autora dado à


causa valor certo e determinado, R$30.000,00, o qual, inclusive, não foi
impugnado pela Ré, entendo que esse deva ser o valor da indenização
pretendida, porque razoável e atende aos princípios que norteiam a fixação
de tais danos. Confira-se:

"VALOR DA C A U S A . Dano moral.


O valor da causa em que se pede a indenização de dano moral
corresponde ao valor do pedido, quando o autor o quantifica na inicial.
Precedente da 2a Seção. Recurso não conhecido. (STJ, Resp 235.277,
Quarta Turma, Rel. Min. Des. Ruy Rosado de Aguiar. DJ de
28/2/2000, p. 89)

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INCIDENTE DE


IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. QUANTIFICADO ESTE NA
EXORDIAL DEVE CORRESPONDER AO QUANTUM DA INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS.
1. ....
2. NAS DEMANDAS CUJO OBJETO VISEM A INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS, O VALOR DA CAUSA QUANTIFICADO NA EXORDIAL
PELO AUTOR, DEVE CORRESPONDER AO MONTANTE INDENIZATÓRIO
POR ELE BUSCADO. 3. AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO. (TRF
5ª Região, AG 200205000011290, Segunda Turma, Rel. Des. Federal Paulo
Roberto de Oliveira Lima, DJ de 27/5/2003)

Portanto, reputo adequado, justo e razoável que o valor da indenização por


dano moral seja fixado em R$30.000,00, corrigido monetariamente, a partir
do ajuizamento da ação, pelo INPC, até efetivo pagamento, acrescido de
juros de mora de 1% ao mês, conforme artigos 405 e 406 do Código Civil,
combinado com o artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional.

Sem mais delongas, passo ao dispositivo.

DISPOSITIVO

Ante ao exposto, na forma da fundamentação retro expendida, extinguindo


o processo com resolução do mérito, conforme artigo 269, inciso I, do
Código de Processo Civil, ACOLHO o pedido deduzido pela autora Shalimar
Wassilewski contra a Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional do Paraná.
Condeno, outrossim, a Ré - Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional
do Paraná ao pagamento da indenização, a título de danos morais, a
importância de R$30.000,00 (trinta mil reais), valor que, a partir do
ajuizamento desta ação (21.5.2007), deverá ser corrigido
monetariamente, pelo INPC, até efetivo pagamento, acrescido de juros
de mora de 1% ao mês, conforme artigos 405 e 406 do Código Civil,
combinado com o artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional.

Pela sucumbência, condeno a Ré ao reembolso das custas adiantadas pela


autora, corrigidas pelo INPC até efetivo pagamento, bem como ao
pagamento de honorários advocatícios, os quais, sopesados os critérios
legais (artigo 20 e parágrafos), fixo em 10% sobre o valor da condenação,
corrigidos também pelo INPC.

Duplo grau de jurisdição obrigatório. Com ou sem apelos voluntários,


remetam-se ao TRF da 4ª Região, com nossas homenagens, tão-logo
exaurido o prazo recursal.

Registre-se. Publique-se. Intimem-se.


Londrina, 12 de novembro de 2007.

Gilson Luiz Inacio


Juiz Federal

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