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Olhar MAES

Exposição Beatriz Milhazes: Gravuras


GOVERNO DO ESTADO MUSEU DE ARTE DO ESPÍRITO SANTO
“DIONÍSIO DEL SANTO”
Governador do Estado
Paulo César Hartung Gomes Diretora
Leila Horta
Vice-Governador do Estado
Ricardo Ferraço Assessora Especial
Rosane Baptista
Secretária de Estado da Cultura
Dayse Maria Oslegher Lemos Setor De Arte Educação
Ana Luiza de Oliveira Bringuente
SubSecretário de Cultura
Erlon José Paschoal Setor Administrativo
Joaquim Galdino de Oliveira
SubSecretária de Patrimônio
Anna Luzia Lemos Saiter EXPOSIÇÃO BEATRIZ MILHAZES: GRAVURAS

Gerente de Ação Cultural Curadoria


Mauricio José da Silva Ivo Mesquita

INSTITUTO SINCADES Curadora Assistente


Juliana Ripoli
Presidente
Idalberto Moro Curadoria Educativa
Priscila Chisté e Ana Luiza Bringuente
Gerente Executivo
Dorval Uliana LIVRETO OLHAR MAES

Gerente de Relacionamento Texto


Domingos Gomes de Azevedo Érika Sabino de Macêdo
Priscila de Souza Chisté
Gerente de Projetos
Rosalvo Marcos Trazzi Revisão e Colaboração
Gilson Sarmento

Design do Livreto
Studio Ronaldo Barbosa

Produção Executiva
Casa do Lago
O Governo do Estado do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Cultura e o Museu de Arte do
Espírito Santo Dionísio Del Santo, em parceria com o Instituto Sincades, tem a grata satisfação de
apresentar pela primeira vez ao público capixaba a exposição “Beatriz Milhazes: Gravuras”.

A seleção criteriosa desta mostra, foi elaborada por Ivo Mesquita, curador da Pinacoteca do Estado
de São Paulo. A presença de Mesquita no projeto desta exposição é fruto de laços cooperativos
estabelecidos entre o MAES e a Pinacoteca a partir da exposição “Vistas do Brasil”, em 2008.

A exposição “Beatriz Milhazes: Gravuras” acontece no MAES, instituição que possui o nome do
gravurista que muito contribuiu para a pesquisa e difusão desta técnica: o capixaba Dionísio Del Santo.
Beatriz Milhazes e Dionísio Del Santo conheceram-se na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no
Rio de Janeiro. Sobre a ocasião a artista relembra: “Ele deu à serigrafia uma nobreza que ela não tinha.
Passou sua técnica aos alunos e fez com que a impressão deixasse de ser vista como coisa menor.”

Buscando aprofundar o diálogo entre as obras de Milhazes e de Del Santo, o MAES colocará em
exposição parte do acervo de serigrafias de Dionísio, propondo uma grata homenagem a este
artista, o grande mestre da serigrafia.

Dayse Maria Oslegher Lemos


Secretária de Estado da Cultura

Leila Horta
Diretora do MAES
Apresentação
O Contexto

A elaboração deste material insere-se no Projeto de Curadoria Educativa para as exposições “Beatriz
Milhazes: gravuras” e “Exposição Dionísio Del Santo: serigrafias” elaborado pela equipe propositora
representada pela Profª. Ms. Priscila Chisté e pela coordenadora do Setor de Arte/Educação do MAES,
Ana Luiza Bringuente. Este projeto propõe ações capazes de potencializar a fruição e a compreensão
das obras pertencentes às exposições. A criação e a elaboração do Olhar MAES, está entre as
propostas dessa curadoria que tem como objetivo principal dinamizar as relações entre a instituição
museológica e o público. Para que o leitor possa entender nossas idéias, nossas expectativas e nossos
objetivos com a elaboração do Olhar MAES, explicamos, a seguir, como foi seu processo de criação.

O Processo de criação

A proposta deste material está em consonância com os conceitos apresentados pelo Estatuto dos
Museus (Lei 11.904/09) e pelos princípios defendidos pelo ICOM (Conselho Internacional de Museus)
que destacam como uma das funções básicas dessas instituições o aspecto da comunicação e da
educação. Diante disso uma pergunta é inevitável: como fazer isso? Acreditamos que um caminho
possível seria através de textos críticos e acessíveis que possam orientar o observador na análise dos
elementos que compõem cada obra de arte, e no aprofundamento da percepção dos seus significados.

Após a pesquisa inicial feita através de leituras, traduções e também um olhar atento sobre as obras,
surgem novas perguntas: como organizar as informações, análises e observações feitas? Como
promover o diálogo entre o espectador e a obra através do texto? Como explorar, aumentar e aprofundar
o conhecimento do leitor/observador? Chegamos à conclusão que dois momentos são necessários,
o primeiro seria oferecer ao espectador informações históricas, estéticas e técnicas. Desta forma, ele
terá embasamento para construir um olhar crítico em relação às imagens.

4
O segundo momento é o grande desafio das instituições artísticas na contemporaneidade:
provocar discussões e gerar questionamentos através da obra exposta. Desta forma, estimulamos
o espectador a recriar e a reinterpretar a imagem a partir de seus valores, sua percepção e suas
idéias. Partimos do princípio que uma exposição é uma construção de um discurso, e o Olhar
MAES se apresenta como uma proposta de mediação desse discurso. Sendo assim, é importante
darmos ao espectador a oportunidade de desconstruir e reconstruir as obras, utilizando o objeto
exposto como fonte de reflexão sobre ele mesmo e a sociedade. Ou seja, a proposta é irmos
além dos conteúdos artísticos, formais e técnicos. Pretendemos que o espectador, no contato
com a obra de arte, atribua sentidos pessoais e coletivos aos objetos expostos. Deste modo, as
imagens serão para o espectador objetos ricos em significação e sentido, uma forma possível
de ler o mundo.

A estrutura

Embasadas por estas idéias estruturamos o material em três partes: I - Aquecendo o olhar; II
– O olhar sobre a exposição; III – Provocando o olhar. Na primeira parte abordaremos questões
técnicas, históricas e estéticas sobre a obra de Beatriz Milhazes. Ofereceremos ao espectador
uma visão ampla sobre o trabalho da artista através de informações sobre sua formação,
suas influências, seu processo criativo e sua técnica. O foco da segunda parte recai sobre as
especificidades que envolvem a exposição Beatriz Milhazes: Gravuras. E finalmente, a última
parte deste trabalho pretende estimular o diálogo entre o espectador e a obra de arte através de
questões que instiguem o olhar a procurar por respostas individuais. Esta é a proposta do Olhar
MAES, permitir ao espectador o acesso a informações, análises, depoimentos e questionamentos
que tornem seu olhar mais atento, mais curioso e mais crítico.

5
I – Aquecendo o olhar

“O seu olhar nasceu


O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu”.
(Arnaldo Antunes e Paulo Tatit)

A exposição Beatriz Milhazes: Gravuras nos permite conhecer parte da obra dessa artista carioca
em sua trajetória artística no cenário nacional e internacional, apresentando um repertório de
elementos, composições e cores que buscam a beleza na dissonância, no contraste, na mistura
e no movimento das formas. Porém, antes de abordamos os aspectos relativos à esta exposição,
veremos a seguir alguns tópicos que acreditamos serem relevantes para a compreensão da obra
da artista.

Esse jeito do Rio

A artista plástica Beatriz Milhazes é carioca, de Copacabana, e vive no Rio de Janeiro, mas sua relação
com essa cidade vai além de residir lá, ela não é apenas o lugar em que nasceu e que escolheu para
viver; com o Rio ela troca idéias, pois a cidade funciona como fonte inspiradora para a artista.

“É um tipo de beleza que você nunca se cansa. A natureza daqui sempre participou do meu trabalho
e eu gosto de estar rodeada pela natureza. Meu estúdio é ao lado do Jardim Botânico e isso me dá
muito prazer, me faz voltar para o estúdio e trabalhar. Não quer dizer que eu pegue as coisas lá e vá
para o estúdio usá-las. Mas, eu olho...e acho formas interessantes”1.

A atmosfera solar e cromática da cidade é refletida em seu trabalho, suas telas apresentam as cores
exuberantes e as formas sensuais da cidade maravilhosa. Ao contrário de vários artistas brasileiros
que se mudam para os grandes centros de produção artística em busca de reconhecimento
profissional e aprimoramento técnico, Milhazes faz questão de permanecer em sua cidade. Sua
família, seus amigos, sua casa e seus dois estúdios estão no Rio de Janeiro. Mas, isto não impede
que ela passe longas temporadas fora, fazendo exposições em Paris, Londres ou produzindo

1 Beatriz Milhazes em depoimento em Vídeo. 2008. Disponível em http://www.jamescohan.com/artists/beatriz-milha-


zes/video/. Tradução nossa.

6
gravuras em Nova Iorque. Mas a volta para casa é sempre um momento muito esperado.

“Preciso de um canto reconhecível que está lá me esperando, que está arrumado do meu jeito, que
tem as minhas coisas. Eu não posso pintar em qualquer lugar. (...) Eu preciso ver a natureza, ver a
praia, esse jeito do Rio...isso é uma fonte inspiradora”2.

Além da natureza exuberante de mares e montanhas que se misturam com a agitação dos carros,
pessoas e edifícios, é na cultura do Rio de Janeiro que Milhazes encontra outra fonte de inspiração:
o carnaval. Segundo a artista, toda influência que recebe na sua produção artística é subjetiva, ou
seja, são imagens, formas, composições e cores que fazem parte do seu repertório visual e, que de
maneira natural e espontânea, integram o processo de elaboração de suas imagens.

“O carnaval do Rio, essa exuberância da parada, a forma livre, selvagem, com que eles lidam com a
cor, com a forma, essa livre criação de desenvolvimento de tema... tudo isso sempre me estimula.
São coisas que estão na minha cabeça, mas não as utilizo objetivamente”3.

Quando seu olhar desvia-se do Rio de Janeiro com seu Jardim Botânico, do desenho ondulado das
calçadas de Copacabana e de suas Escolas de Samba, a artista encontra na História da Arte outras
referências importantes para a sua produção.

2 Beatriz Milhazes em entrevista Coletiva. In.: Entrevista Coletiva. Segundo Caderno, O Globo, 07/02/2010. Disponível
em http://www.oglobo.globo.com/cultura/video/ 2010/16548
3 Ibidem.

7
Essa antropofagia

As vanguardas artísticas européias do século XX e o modernismo brasileiro são sempre citados


por Milhazes como suas principais referências, mais especificamente três nomes importantes
influenciam seu trabalho: Mondrian, Matisse e Tarsila do Amaral.

Na obra de Tarsila, Beatriz Milhazes se interessou pela idéia antropofágica da mistura entre o
nacional e o estrangeiro defendida pelo modernismo brasileiro: “Essa antropofagia de comer
culturas é uma coisa que continua me interessando”4. Sendo assim, a artista vai buscar suas fontes
estrangeiras no Neoplasticismo de Mondrian, se alimentando e digerindo sua geometria e sua
organização racional do espaço: “Eu me considero uma artista geométrica. Adoro a geometria, e
meu trabalho é extremamente racional, apesar de não parecer. Tudo ali está milimetricamente
colocado5”. A utilização vibrante, dominante, pura e alegre da cor e o uso da arte decorativa ela
absorveu do Fauvismo de Matisse: “Para mim, a cor é que faz tudo se resolver. Eu dou um trabalho
por terminado quando essa questão da cor está concreta ali”6. Sua tendência antropofágica ainda
envolve e absorve outros artistas:

“A medida que minha obra vai se tornando mais e mais abstrata, eu me interessei por Sonia Delaunay
e Bridget Riley. Eu as descobri em início de 2000. Eu sou particularmente fascinada pela mecânica
circular das composições de Delaunay. Já em Riley são os efeitos óticos criados pelas linhas retas
de suas composições e sua interação com o espectador que me interessam”7.

Além desses, trabalhos como de Oiticica, Yves Klein, Ivan Serpa, Ione Saldanha, Andy Warhol,
Waldermar Cordeiro também são citados pela artista. Mas, outras fontes apetitosas estimulam seu
olhar curioso, ela investiga e saboreia formas e cores encontradas no crochê, nas rendas, no chitão,
na festa junina, nas igrejas barrocas, na procissão, em azulejos coloniais e nas “mestras do exagero
feminino” segundo a própria artista: Miriam Haskell e suas bijuterias e Carmem Miranda. Desta
forma, observamos que suas referências são diversificadas, misturando propostas diferentes e muitas
vezes opostas. Ela mistura o exagero do Barroco, do chitão e de Carmem Miranda com a organização
planejada do Concreto, do Neoconcreto e de Mondrian. O Minimalismo formal de Klein com a
distorção das formas de Tarsila. Tudo isso parece impossível ou poderíamos pensar que resultaria em
uma catástrofe visual. Mas, as obras de Beatriz Milhazes estão aí para provar justamente o contrário.

4 Ibidem.
5 Ibidem.
6 Ibidem.
7 Beatriz Milhazes em entrevista à Leanne Sacramone. 2009. Disponível em http://fondation.cartier.com/files/press_
file_1744_fr.pdf . Tradução nossa.

8
“Eu acredito que o que caracteriza meu trabalho, é a liberdade com a qual eu misturo conceitos,
imagens, cores, abstração e figuração. E tudo dentro de uma proposta de uma pintura muito racional
e geométrica. Uma liberdade ordenada”8.

Essa questão de misturar e transpor elementos retirados do “saber fazer” cotidiano, para uma
linguagem artística, característica recorrente em sua obra desde o início de sua carreira, faz com
que as fronteiras entre a arte e o artesanato ou a cultura popular e a erudita sejam minimizadas.
Desse modo, observamos que a proposta de quebrar as barreiras entre esses universos distintos,
iniciada na Semana de Arte de 22, ainda permanece em movimento na obra de Milhazes e se
apresenta como aspecto importante da sua poética visual. A utilização desses elementos em
suas telas, além de estabelecer um diálogo com a cultura popular, decorativa e com o cotidiano,
propõe também uma aproximação com um universo feminino que não podemos deixar de
observar em sua obra.

É nesse banquete multicultural de misturas quase improváveis que encontramos a produção


artística de Beatriz Milhazes. Mas, além dessas referências, o processo de formação da artista
também contribuiu com seu percurso artístico. Os professores, as instituições de ensino e as
experimentações iniciais serão os assuntos abordados a seguir.

A tentativa de entender o que o artista faz nunca acontece

Beatriz Milhazes formou-se em Comunicação Social e antes de iniciar sua carreira artística
foi professora de matemática. Esta é uma pista relevante sobre seu trabalho, pois observamos
em suas telas e gravuras uma proposta geométrica importante. “A arte abstrata em geral, mas
principalmente a geométrica e a construtiva, são meus pontos principais de observação”9.

Ainda encontramos outros indícios sobre os procedimentos e percursos escolhidos por Milhazes
se analisarmos os aspectos que se referem a sua formação artística. A artista estudou na Escola
de Artes Visuais do Parque Lage, instituição de ensino de importante relevância no Rio de
Janeiro. Dentre os professores, a artista cita o escocês Charles Watson como a figura marcante
que contribuiu de forma efetiva em sua formação e consolidação de sua produção artística.

8 Ibidem.
9 Beatriz Milhazes em Vídeo sobre a artista. Disponível em http.//www.jamescohan.com/artists/beatriz-milhazes/ví-
deo/. Tradução nossa.

9
Didaticamente, Watson valorizava duas ações no processo de criação que podemos observar
claramente na obra de Milhazes: a disciplina e o estímulo à invenção.

Outra pessoa com quem ela teve contato nesse período do Parque Lage foi o capixaba Dionísio
Del Santo. Sobre o trabalho de Del Santo a artista diz: “Ele deu à serigrafia uma nobreza que ela
não tinha. Passou sua técnica aos alunos e fez com que a impressão deixasse de ser vista como
uma coisa menor”10.

Além de ter sido responsável por parte da formação da artista, a Escola de Artes Visuais do Parque
Lage também contribuiu para que o trabalho de Beatriz fosse divulgado. Isso por que Milhazes integrou
a famosa exposição intitulada “Como vai você geração 80?”. Aberta em 14 de julho de 1984, a mostra
teve como curadores, Marcus de Lontra Costa, Paulo Roberto Leal e Sandra Magger. Participaram
da exposição cento e vinte e três artistas de idades e formações distintas que em sua maioria eram
ligados à Escola de Artes Visuais do Parque Lage ou à Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP.

A mostra é considerada como uma referência importante para a compreensão de algumas


direções tomadas pelas artes visuais na década de 1980. Essa coletiva marca a retomada da
pintura que se reapresentava no cenário artístico depois de um afastamento provocado pelo
domínio de propostas mais tridimensionais e conceituais na arte brasileira. Os trabalhos nela
apresentados destacavam algumas características marcantes: as grandes dimensões; telas sem
chassis; a informalidade do gesto pictórico; o experimentalismo com a utilização e a pesquisa de
novos materiais; e o acabamento bruto da obra. Nesta exposição, as obras de Beatriz Milhazes, já
chamavam a atenção pela ornamentação e pela utilização de aspectos estéticos do movimento
do design europeu: a Art Decó.

Atualmente na obra de Milhazes ainda percebemos traços dessas características, como por
exemplo, a utilização de grandes formatos e o acabamento de suas pinturas que deixa sempre
um traço revelador do “feito à mão”. Mas, o interesse pela pesquisa e pela experimentação são
aspectos ainda mais marcantes da trajetória artística de Milhazes. Foi pesquisando uma solução
para um problema em seu fazer artístico que ela inventou uma técnica própria de criar seus
quadros. Visando compreender o processo de criação de Beatriz veremos, a seguir, como isto
ocorreu. Consideremos, no entanto, um alerta da própria artista:

10 Beatriz Milhazes em depoimento a Daniela Name. In: Dionísio Del Santo tem sua obra analisada em livro com texto de
Frederico Morais. O globo, Rio de Janeiro, 5 de mar. 1999.

10
“A tentativa de entender o que o artista faz nunca acontece, nunca se vai realmente entender o que se
passa. É sempre uma tentativa. Nem mesmo o artista entende, são apenas resultados sem explicação”11.

As possibilidades se tornam infinitas...

Beatriz mantém dois espaços para suas criações no Rio de janeiro, um para colagem e outro para
a pintura. Trabalha no exterior também; em 2009, por exemplo, a artista produziu gravuras na
Durham Press, na Pensilvânia – EUA e ainda fez uma exposição na Fundação Cartier, em Paris.

O reconhecimento profissional que a artista alcançou não é conseqüência somente de sua disciplina,
mas também de sua curiosidade e seu espírito pesquisador. Podemos notar a inventividade de
Milhazes, tão estimulada nos cursos do Parque Lage, em sua técnica de pintura. Na verdade
essa técnica envolve procedimentos não somente típicos da pintura, mas também, da gravura
e da colagem. Sua estratégia técnica surgiu quando a artista, que já utilizava colagens em suas
pinturas desde o início de sua carreira, percebeu as limitações inerentes a técnica e aos materiais
da colagem. Dessa forma, ela resolveu experimentar uma nova forma de colar, pintar e imprimir.
Essa técnica criada por Milhazes pode ser designada como uma pintura porque utiliza pincéis e
tintas para cobrir uma superfície. Essa superfície final é uma tela, mas antes das tintas ocuparem
o espaço branco da tela, as formas e cores são elaboradas sobre um outro suporte: o plástico.
A artista desenha seus círculos, linhas, arabescos, flores e rendas em pedaços de plástico. Em
seguida, ela pinta a forma criada e se aproveitando da tinta fresca, ela aplica na tela a imagem
pintada. Depois que a tinta seca, a artista retira o plástico, suporte inicial, e a forma está, então,
livre para interagir e exercer sua função na composição da obra.

É a “forma peregrina” citada por Herkenhoff, que migra do suporte plástico transitório para seu
destino final, a tela. Segundo Herkenhoff, “É uma transposição de uma pele de cor”12. Dessa
forma, a artista cria seus próprios decalques que são aos poucos colados na obra. Assim, o
trabalho de Milhazes se aproxima da colagem, mas com uma liberdade maior. Além disso, o fato
de a imagem final aparecer invertida na tela, estabelece um diálogo com o princípio da gravura: o
rebatimento da imagem. Estes aspectos fazem com que essa técnica original, a “forma peregrina”,
contribua efetivamente com o resultado estético, permitindo a ampliação das possibilidades de
criação da artista.

11 HERKENHOFF, Paulo. Beatriz Milhazes. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2007.
12 Ibidem.

11
“Meus motivos e minhas formas foram libertadas das desvantagens técnicas inerentes do método
da colagem tradicional. Utilizando uma técnica próxima da colagem eu posso utilizar meus próprios
motivos no lugar das imagens reproduzidas mecanicamente. As possibilidades se tornam infinitas.
Eu posso testar o lugar dos motivos sobre a tela antes de aplicar. Como o plástico não absorve nada
do pigmento, a intensidade das cores fica intacta13.”

O desafio da técnica atrai Milhazes, mas o domínio dela faz com que a artista busque outras formas
de expressão. Sem se acomodar, a artista transporta seu repertório visual para outros suportes,
outras dimensões, outros procedimentos. Milhazes se aproximou do design gráfico ao receber um
convite para fazer uma bandeira para o MOMA de Nova Iorque, ou quando fez o cartaz da Copa do
Mundo na Alemanha, a capa do c.d “Universo ao meu redor” de Marisa Monte e elaborou as capas
de uma série de livros de Lygia Fagundes Telles editados pela Companhia das Letras em 2010.

Milhazes também dialoga com a tridimensionalidade da arquitetura e com o espaço público,


principalmente ao elaborar interferências nos vidros das janelas ou nas paredes de diferentes
espaços: participou do projeto do designer Phillip Stark para o interior da livraria Taschen em Nova
Iorque, projetou painéis temporários para a estação Gloucester em Londres e cobriu com suas
cores e formas os sete andares da fachada da loja londrina Selfridge. Sobre estes trabalhos de
interferência urbana a artista comenta:

“Eu fiquei muito feliz do diálogo que se instaurou entre o público e a obra. O fato dela se situar no
mundo real e que ela comunica com o público na rua, são dois aspectos que me deram uma imensa
satisfação (...) Trabalhar em grande escala e para um público diferente modificou minha maneira
de desenhar”14.

Esta modificação citada pela artista se refere aos procedimentos técnicos que envolvem projetos
deste porte. Para fazer os painéis ou a interferência nas fachadas, inicialmente são feitos os
desenhos a partir dos planos arquitetônicos. Esses desenhos bastante precisos são em seguida,
interpretados por um computador, projetados e plotados em escala real.

“Para um projeto de grande escala, uma vez terminado a etapa do desenho e a escolha das cores,
o jogo está feito. É impossível de voltar atrás. O projeto passa para as mãos do técnico e somente
pequenas mudanças são então possíveis. Isto não tem nada a ver com a realização de uma pintura

13 Beatriz Milhazes em entrevista à Leanne Sacramone. 2009. Disponível em http://fondation.cartier.com/files/press_


file_1744_fr.pdf . Tradução nossa.
14 Ibidem.

12
ou colagem, onde a abordagem mais direta deixa o campo livre para trocas consideráveis até a
finalização da obra”15.

MILHAZES, Beatriz. Painéis temporários para a estação Gloucester, Londres

MILHAZES, Beatriz. Gávea, 2004. Projeto Brasil 40 graus. Fachada da loja Selfridges, Londres
15 Ibidem.

13
Além de todos esses desafios que colocam a artista longe de uma possível acomodação, Milhazes
estabeleceu contatos com outras formas de expressão, desenhando cenários para os espetáculos
de dança contemporânea de sua irmã, a coreógrafa Márcia Milhazes e publicando dois livros de
artista: “Meu Bem” e “Coisa Linda”. Esses últimos foram trabalhos que a levaram a se envolver
com a literatura e com a imagem fotográfica.

MILHAZES, Beatriz. Cenografia Tempo de verão, 2004. Márcia Milhazes Cia de dança

A experimentação acontece mesmo quando ela permanece no espaço bidimensional, Milhazes


conhece uma sensação nova ao levar seus motivos, habitantes costumeiros de suas telas para
uma outra técnica, a gravura.

14
Sobre as Gravuras

Instalações da Durham Press. Pensilvania, EUA. Foto Durham Press

Durham Press é um editor de impressão de arte localizado na Pensilvânia, uma hora e meia a oeste
de Nova Iorque. A empresa desde 1988 produziu e publicou, em edição limitada, mais de cem
gravuras contemporâneas de artistas influentes de todo o mundo. A cada ano, os proprietários,
Jean-Paul Russell e Ann Marshall convidam artistas para viver e trabalhar na empresa criando
estampas originais e múltiplos em seus estúdios de gravura. Durante a estadia em Durham os
artistas são incentivados a experimentar novas possibilidades de produção. A empresa oferece o
suporte técnico e a atenção que eles precisam para criar novas obras. Sobre esta técnica Russel diz:

“A gravura exige muito mais empenho do que a maioria das pessoas imagina. A fim de fazer uma
impressão, os artistas devem dividir um trabalho em pequenas fases. Isto exige concentração e
esforço, mas também cria a oportunidade de repensar - e reinventar - a técnica, a ordem, a estrutura,
a cor e a superfície. Imprimir é muitas vezes abrir vocabulários aos artistas e lhes permitir ver o seu
trabalho sob uma nova luz. A intenção é que as impressões feitas na Durham Press não sejam
apenas obras de arte incríveis, mas que elas deixem os artistas inspirados”16.

16 Jean-Paul Russell fala sobre a Durhan Press. Disponível em http://www.durhampress.com/about.html . Tradução nossa.

15
Em 1996, o proprietário da Durham Press, visitou a exposição de Beatriz Milhazes na Edward Thorp
Gallery, de Nova Iorque e se interessou pelo trabalho da artista, notando uma forte aproximação
das pinturas ali expostas com a técnica da gravura. Assim, Russel convida a artista para desenvolver
seu trabalho na Durham.

Dentro das diferentes técnicas de gravura, Milhazes escolheu a serigrafia, pois esta não ocasionaria
um afastamento da cor, como seria o caso se ela gravasse em metal ou madeira, técnicas nas quais
a utilização da cor é limitada. Os procedimentos da serigrafia permitem que a engrenagem de seu
processo de criação continue a ser o aspecto cromático. Sobre essa mudança técnica no trabalho
da artista, Paulo Herkenhoff diz:

“Na serigrafia não existe ato de incisão sobre a matéria dura, nem a construção da forma dentro da
matriz. Para Milhazes, uma gravura é o processo de pensar cromaticamente através de uma ordem
outra. Assim como a pintura se fazia com o pincel e pelo dito ‘decalque’ das formas peregrinas,
agora para Milhazes se faz por impressão, como um carimbo.”17

Dessa forma vimos que cada opção técnica abordada pela artista representou novos desafios e
novos resultados, pois cada meio possui suas especificidades, sua forma de comunicar e de ampliar
seus limites. O interessante na obra de Milhazes é observar como ela transporta seu repertório
visual de uma proposta para outra, sem, no entanto, deixar de utilizar sua própria linguagem. Se
o suporte for um papel, uma tela, um vidro, um tecido, não importa, encontraremos neles a sua
marca, a sua forma de se comunicar com o mundo, o seu universo.

Criar um universo que não exista...

O universo pictórico de Milhazes guarda desde seu início elementos que permanecem em suas
obras atuais: o interesse pelas formas decorativas do Barroco, pelas flores, por arabescos, pelos
círculos e pelos estampados dos tecidos. Entretanto, ao observar seu percurso artístico, notamos
que o desenho desses elementos se tornam progressivamente mais simplificados e com contornos
mais definidos.

17 HERKENHOFF, Paulo. Beatriz Milhazes. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2007.

16
MILHAZES, Beatriz. Rio de Janeiro, 1993-1994. Acrílica sobre tela, 180x180cm

O círculo, sempre presente na obra da artista, ganha gradativamente uma função maior. Parece
que é a partir do círculo que tudo acontece nas imagens de Milhazes. A ocupação do espaço
também se modifica: inicialmente parece solta, espontânea e descompromissada, e aos poucos se
torna posteriormente mais organizada e racional.

A cor sempre fez parte de seu universo pictórico, mas aos poucos ela ganha força e estridência.

“O que me interessa em arte é criar um universo que não exista no mundo real. Ainda mais hoje em
dia, quando você já tem uma mídia tão desenvolvida, você já tem tanta informação em imagem em
todos os lugares, de tantas formas variadas que a arte teve que buscar uma função para si, para ela
continuar sendo interessante”18.

Inicialmente, esse universo criado pela artista sugere e aponta para uma abordagem decorativa,
mas, Milhazes desfaz essa percepção inicial. “Acho que a beleza é extremamente relativa. Sei
que existe isso do belo no território do meu trabalho, mas acho que ele tem também um lado
claustrofóbico extremamente complicado. Durante muitos anos, eu não tinha nada meu em casa.19”
O vocabulário visual de Milhazes se faz dentro de uma proposta que envolve algo além da busca

18 Beatriz Milhazes em entrevista Coletiva. In.: Entrevista Coletiva. Segundo Caderno, O Globo, 07/02/2010. Disponível
em http://www.oglobo.globo.com/cultura/video/ 2010/16548
19 Ibidem.

17
pela beleza, abarca desafios geométricos através da organização dos seus elementos recorrentes
no espaço pictórico. E, ao observarmos o percurso de criação da artista, notamos que esses
elementos, sofrem um processo de simplificação no qual o figurativo se aproxima do abstrato.
A artista apresenta alguns elementos recorrentes que nos mostram seu alfabeto de imagens
com as quais ela compõe: formas botânicas, pérolas, rosas, florais, esferas, raios, sol, ondas
verticais, linhas retas e curvas. Com essas formas ela organiza seu espaço através de repetições,
sobreposições e similaridades. Herkenhoff cita Manuel de Barros para explicar poeticamente
esse seu procedimento: “Repetir repetir – até ficar diferente.20” Segundo o autor a utilização de
maneira exaustiva de toda essa simbologia faz com que o signo exaurido perca sua função de
comunicação ou seu poder de significação, afastando assim seu universo do real ou do sentido
que esses símbolos teriam originalmente. Herkenhoff conclui que esse vocabulário de Milhazes e
a forma de ocupação do espaço pictórico são sempre procedimentos que possuem uma finalidade
importante em sua obra: a propagação da cor. Finalizaremos esta primeira parte do Olhar MAES,
com as palavras de Beatriz que explicam e sintetizam todo o fundamento do seu universo artístico:
“Sem a cor a imagem não acontece. Quando a sinfonia das cores não acontece a sedução acaba21”.

20 HERKENHOFF, Paulo. Beatriz Milhazes. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2007.
21 Ibidem.

18
II – O olhar sobre a exposição

A arte é social
porque toda obra de arte
é um fenômeno de relação
entre seres humanos
(Mário de Andrade)

A exposição “Beatriz Milhazes: serigrafias” apresenta dezessete serigrafias produzidas entre 1996
e 2008 na Durham Press, Pensilvania, Estados Unidos. Ivo Mesquita curador desta mostra diz:

“A partir de 1996 Milhazes começa a explorar as possibilidades da gravura como meio de


aprofundar questões formais do seu trabalho e de reciclar seu imaginário pessoal criando imagens
por sucessivas impressões de parte móveis, múltiplas e coloridas, articuladas em combinações e
repetições variadas, num processo análogo aos procedimentos usados na pintura e na colagem. São
dezessete imagens que se apresentam como registro da experiência diária do processo de construir
imagens, numa elaboração dedicada e refletida, durante longas residências junto aos técnicos e
impressores da Duhram Press”22.

No período de doze anos em que esteve participando de temporadas em Durham, Beatriz Milhazes
produziu gravuras que, segundo Faye Hirsch, “são alegres, complexas e intensamente trabalhadas,
além de todas serem incrivelmente coloridas, constituindo um verdadeiro inventário de temas e
motivos que aparecem em suas pinturas”.

A Técnica

Faye Hirsch explica que o processo de impressão da serigrafia de Milhazes consiste em colocar
estênceis criados de várias maneiras sobre uma tela fina, esticada em um bastidor de madeira,
sobre uma folha de papel. Sob a pressão de um rodo, a tinta é vazada através da tela de modo a criar
uma imagem. Inúmeras telas, cada uma entintada em cor diferente e preparada com toda sorte de
estêncil, podem ser utilizadas sobre uma única folha de papel, entretanto, independentemente de

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quantas sejam as telas e as sobreposições das imagens, o resultado final da impressão mostra-se
plano e liso ao toque.

Para produzir “Jamaica”, criada em 2006, Beatriz utilizou a serigrafia e a xilogravura. A imagem
apresenta o hibridismo destas técnicas: a serigrafia no fundo, contrastando-se com a densidade
composta pelas pétalas da flor.

MILHAZES, Beatriz. Jamaica, 2006/2007. Xilogravura e serigrafia, 178x178 cm

Beatriz inicialmente desenha as formas que irão compor a imagem. Planeja também como serão as
cores. Deste planejamento surgirão vários esboços sobre papel, detalhando cada fase de produção
da imagem. Para retratar a dália multicolorida a artista escolhe a xilogravura, pois esta técnica

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introduz na imagem qualidades e texturas do veio da madeira. Isto não seria possível utilizando a
serigrafia, pois suas tiragens apresentam superfícies lisas. Sobre este aspecto Faye Hirsch comenta:

“As pétalas em Jamaica são mais pesadas que as imagens do fundo, elas revelam o veio da madeira.
O resultado é mais tosco do que aquele obtido na serigrafia, ou seja, algo mais parecido com as
irregularidades das transferências de acrílicas, e aponta para uma ligeira mudança de sensibilidade
nas gravuras mais recentes da artista, talvez um maior imediatismo.”

As trinta tiragens de “Jamaica” são compostas por vinte cores e para elaboração de cada uma delas
foram feitas cento e vinte e cinco impressões. Sobre isto Herkenhoff diz que “ O excepcional nessas
obras reside na engenharia da cor, tão complexa quanto na pintura e absolutamente específica”.

A Durham Press guarda centenas de estênceis plásticos que Milhazes criou em suas visitas,
podendo a artista retomá-los a qualquer momento. Ao planejar suas gravuras Beatriz atua em
etapas, usando tachas para fichar os estênceis translúcidos às provas do trabalho e assim mapear
as camadas no decorrer da feitura da imagem. Neste processo para que as gravuras sejam
intensamente vívidas é preciso muitas sobreposições de cores. As cores das tintas, à base de
óleo, usadas na serigrafia são encontradas em uma gama bastante ampla. As tintas podem ter o
acabamento fosco ou brilhante, além de graus variáveis de translucidez ou opacidade. Algumas
são metálicas, permitindo que a artista crie efeitos brilhantes às figuras, efeitos que somados
provocam o olhar sugerindo leituras e estimulando questionamentos.

Beatriz Milhazes elaborando o projeto da serigrafia. Fonte: Durham Press

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Arranjo dos blocos de madeira para Jamaica a
partir de desenhos de Beatriz.
Fonte: Durham Press

Impressão da xilogavura de Jamaica.


Fonte: Durham Press

Secagem da impressão dos blocos de madeira.


Fonte: Durham Press

Elaboração do fundo de Jamaica.


22 Fonte: Durham Press
II – Provocando o olhar

O enunciado está voltado não só para o seu objeto,


mas também para o discurso do outro a cerca desse objeto.
(Mikhail Bakhtin)

Os elementos visuais que integram a obra de Beatriz Milhazes refletem o imaginário


da artista. Mas como será que se constitui esse imaginário? Segundo o francês André
Malraux tudo que vemos, ouvimos e lemos irá contribuir para a formação de um
“museu e uma biblioteca imaginária”. No momento da criação, de maneira inconsciente,
somos estimulados por todas essas referências acumuladas neste “acervo”. Do mesmo
modo, o acervo do observador também influencia nas suas leituras visuais. O processo
de entendimento e reflexão a partir da obra de arte é um processo contínuo, são as
recorrentes visitas às imagens que dão continuidade a um ciclo de vivências estéticas
que participam da formação sensível. Neste processo o sentido vai ser dado pelo
contexto e pelos conhecimentos que o observador possui, ou seja, o olhar de cada um
está impregnado por experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias e
interpretações. O nosso objetivo é que essa proposta possa promover um diálogo entre
o repertório trazido pelo espectador e a obra de arte. Sendo assim, propomos, a seguir,
alguns questionamentos a partir das obras de Milhazes.

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MILHAZES, Beatriz. Bibi, 2003. Serigrafia, 57x57 cm

Ao observar a imagem, qual a sua primeira impressão? Quais formas encontramos em “Bibi”?
Quais são as cores? Existe relação desta obra com outras obras de arte? Quais? Pense nas suas
experiências artísticas. Quais seriam os elementos visuais que compõe o seu imaginário ou que fa-
zem parte de sua história? Existem formas que você sempre utiliza em seus rascunhos, desenhos,
pinturas ou fotos? Quais linguagens ou manifestações artísticas que você mais gosta? Quais são
as imagens artísticas que te provocam ou que você não se cansa de olhar? Qual é aquele filme que
você nunca esquece?

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Nesta imagem de Beatriz Milhazes podemos dizer que existem formas que se repetem? Algumas
parecem estar mais próximas de nós? Quais? Existem cisnes nesta imagem? É possível perceber
na imagem alguma sensação de movimento? Se existe movimento, como a artista produziu esta
sensação? Existe ritmo nesta composição? Qual seria a trilha sonora desta imagem?

MILHAZES, Beatriz. Os cisnes, 2003. Serigrafia, 132 x152 cm

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MILHAZES, Beatriz. Rosa branca no centro, 2007. Serigrafia, 77x77cm

Observe “Rosa branca no centro”. O que mais te chama a atenção? Que cores compõem a ima-
gem? Como as cores se relacionam? Quantas camadas você vê? Reconhece alguma forma? O que
esta imagem te faz lembrar? Existe alguma rosa branca no centro?

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MILHAZES, Beatriz. Figo, 2006/2007. Xilogravura e serigrafia, 178x120

O que você vê? Quais associações você estabelece ao identificar estas formas? Esta imagem é fi-
gurativa? É abstrata? O que você mudaria nesta imagem? Qual seria sua proposta de composição?

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Para não finalizar...
Apresentamos aqui possíveis caminhos para olhar a obra de Beatriz Milhazes, caminhos
esses que se aplicam, na verdade, a qualquer obra de arte. Mas os caminhos são sempre
muitos, tantos quantos há observadores que se colocam diante de uma pintura ou uma
gravura. O que importa, no fundo, é descobrir o prazer estético gerado no contato com
a obra e reconhecer o enorme esforço que significa finalmente colocar uma obra de arte
diante do olhar crítico e apreciador do público. Uma coisa é certa, quanto mais crítico o
olhar, mais profunda será a avaliação da coisa observada.

Apenas uma última observação: não fiquem paralisados com o título de certas obras de
Milhazes, que aparentam ter pouco ou nada a ver com as figuras. A própria Beatriz nos
explica esse, digamos, “mistério”: “Os títulos das serigrafias, assim como as pinturas e
colagens, são nominados a partir do meu interesse nas palavras e como eu me relaciono
com as imagens. Esta relação é subjetiva e não tem uma ligação direta com a imagem”..

Dada essa licença da artista, podemos, nós mesmos, também subjetivamente, buscar as
conexões indiretas que quisermos entre a obra e seu título aparentemente desconexo. O
observador, então, a exemplo da artista, pode brincar com a obra. O momento de olhar
a obra de arte, não importa qual, é também subjetivo e o observador acaba por recriar
essa obra. Recriem, então; Beatriz Milhazes nos deu essa licença. Brinquem, então, com
essa possibilidade.

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1º de junho a 29 de agosto de 2010
MAES - Museu de Arte do Espírito Santo
Dionísio del Santo

Av. Jerônimo Monteiro, 631, Centro


Vitória - Espírito Santo 29010-003
www.secult.es.gov.br

Realização Parceria

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