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à “cultura” organizacional, vista como
“uma identidade, uma marca reconhecível, pelos de dentro e
pelos de fora, através da exteriorização em formas variadas
de uma visão de mundo, de um modo próprio de fazer as
coisas, de categorizar, de interagir, que emerge, via uma
estrutura interna de poder, da configuração especial, criada
internamente, para responder às solicitações e
peculiaridades apreendidas, reconhecidas no meio externo,
pelas pessoas nas posições dirigentes.”
O candidato não pode se opor a esta cultura que é considerada como
fundante e constitutiva da empresa e que abrange toda a sua vida
dentro dela. O psicólogo a serviço da organização é um pouco
considerado como o guardião desta cultura e quem a explicita e a
interpreta.
ao grupo com o qual vai interagir : há pouco tempo que se começa a
provocar algum tipo de encontro do candidato com o grupo com o
qual vai trabalhar antes da conclusão do processo de seleção. Na
maioria das organizações, o psicólogo é quem opina e acaba, na
maioria das vezes, decidindo sobre a possibilidade do candidato
conseguir conviver bem com as pessoas com as quais vai trabalhar.
Aqui é reconhecido de um modo mais direto o campo de ação do
psicólogo. Ele é habilitado pelo seu instrumental profissional a reconhecer e
decidir se uma pessoa vai "encaixar-se" ou não num determinado ambiente. O
próprio verbo usado já subentende uma visão da organização como um bloco
ou uma máquina com encaixes predeterminados; se a peça a ser incluída não
entrar bem, faz-se uma ou duas tentativas de usar a plaina. O psicólogo,
aliás, dirá se vale ou não o esforço.
C. Segurança : nesta palavra está o porquê desta avaliação "comportamental".
A organização não pode errar num processo de seleção porque repor um
executivo custo caro em termos de tempo, de desgaste e de dinheiro e porque
está em jogo uma certa visão da onisciência e onipotência da alta direção da
empresa : ela deve passar a imagem que sempre sabe onde buscar e como
atrair as competências necessárias para fazer a organização andar. Existe a
crença que existem meios científicos e, portanto, infalíveis de conhecer e
avaliar as pessoas de modo que todo risco seja eliminado na relação das
pessoas dentro da organização.
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ver Cultura organizacional, uma abordagem antropológica da mudança, Maria das Graças de Pinho
Tavares, Qualitymark Editora, 1993, pag.59
Do uso ético da psicologia nos processos de seleção dos executivos - 3
2
Librairie philosophique Joseph Vrin, 5ème édition, 1982, 411 páginas
3
ibid, página 365-366. A tradução é nossa.
4
in L'unité de la psychologie, PUF, Paris, 1949. A tradução é nossa.
Do uso ético da psicologia nos processos de seleção dos executivos - 4
5
La volonté de puissance Livre III § 335.A tradução é nossa.
Do uso ético da psicologia nos processos de seleção dos executivos - 5
4. E a ética ?
A própria crítica do autor abre pistas para uma reflexão ética sobre o assunto.
O primeiro aspecto, amplamente e profundamente analisado pelo autor, é
epistemológico mas também ético : é possível basear um processo de escolha de
profissionais em critérios puramente funcionalistas, partindo do princípio não
explicitado que o ser humano é instrumento a serviço de outros instrumentos ?
O segundo aspecto diz respeito ao poder atribuído aos psicólogos neste
processo. Diga-se de passagem que os profissionais mais conscientes que atuam
nas organizações assustam-se diante da incumbência. Mas o peso descomunal da
responsabilidade recebida corresponde a uma falta proporcional de
comprometimento por parte de quem é o real dono do processo seletivo, ou seja a
pessoa que vai empregar o candidato.
O terceiro aspecto concerne a própria eficácia do processo. As empresas usam
cada vez mais o discurso da parceria, não tanto em função de uma visão da
harmonia social. mas também de modo funcionalista em função dos seus novos
desafios competitivos. Mesmo assim, a parceria só pode se constituir a partir de uma
relação de confiança e lealdade recíprocas. Estas atitudes, ou virtudes, dependem
fundamentalmente da liberdade e da boa vontade no sentido mais literal e mais forte
da expressão. Existe algum milagreiro, psicólogo ou não, capaz de provocar e
depois avaliar e medir tal fenômeno ?
Do uso ético da psicologia nos processos de seleção dos executivos - 7
Conclusão :
Esta análise pode logo ser irrelevante. Pelo fato de ser difícil de definir o que é
um psicólogo e o progressivo desaparecimento do prurido ético impedindo de se
investir perito em humanidade, vende-se e compra-se técnicas que, em quatro ou
cinco dias, se propõem de transformar qualquer executivo em juiz infalível e absoluto
o seu semelhante com a ajuda desavisada de alguns gráficos produzidos por
qualquer 486 à beira da aposentadoria compulsória.
Não se pode deixar de lembrar algumas palavras pertinentes e relevantes :
"Deixai-os. São cegos conduzindo cegos ! Ora, se um cego conduz
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outro cego conduz outro cego, ambos acabarão caindo num buraco ."
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Mt. 15,14