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2 Desejado TERCEIRO O DESEJADO. Onde quer que, entre sombras e dizeres, Jazas, remoto, sente-te sonhado, E ergue-te do fundo de nao seres Para teu novo fado! Vem, Galaaz com patria, erguer de novo, Mas ja no auge da suprema prova, Aalma penitente do teu povo A Eucaristia Nova. Mestre da Paz, ergue teu glidio ungido, Excalibur do Fim, em jeito tal Que sua Luzao mundo dividido Revele o Santo Gral! 18-1-1934 Lusiadas: -- 101 Fernando Pessoa, Portugal, Sebastianismo e Quinto Impérto, pag. 130 164 Op cit, pig, 170. 42 Anténio Mateus Vilhena indica 0 paradoxo de ser “uma figura solitiria, embora colectiva ~ a nagdo portuguesa naturalmente introvertida, ensimesmada, como o poeta a simbalizou na composigdo inicial da Mensagem -, o guia epiritual da Europa’ (in Op. cit). Andlise estilistica do poema ‘66 Nao se repete, mas logicamente intersecciona os poemas que tém os mesmos sujeitos poéticos. 4187 Cf. Antonio Quadros, Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista, pags. 358 esegs. Antonio Cirurgido interpreta a passagem de modo diferente, indicando as semelhancas com uma passagem bibica, em Lucas 1, 20-35 (Op. cit, pig. 212). 1 Para jung “o sonho pode tero valor de uma idea positivadirectora(..) de alcance vital superior aos esquemas conscentes Namero de versos 2 Vem, Galaaz com patria, erguer de novo, Obeervagter | srutura em forma de pt/€™ cavaleiro nobre da nacdo, erguer de novo o pa Drimeiros versos eos restanes 10) uso de hiposMas ja no auge da suprema prova, Aividido"); uso de repeticdes (por ex.o verbo “erguAgora em altura de grande dificuldade. eee Aalma penitente do teu povo Vem renovar a alma dos Portugueses. 2 i 5 . A Eucaristia Nova. fo que é a sua terceira referéncia directa a figura di, \ epetir-se', isto porque progressivamente 0 rei perue™s &Spccud suse ‘rogressiv:Andlise contextual da segunda estrofe: :m “D. SebContinuando a sua exortagaAndlise linha a linha da terceira estrofe: nas home Galahad). Segundo a lenda, ( Simbolos” que ~ com Percival ¢ Bors ~Yestre da Paz, ergue teu glidio ungido, arne e ossNenhum cavaleiro da Tavola, éri: i home, deCamolot dc onde parviam eMlestre da Paz, ergue a tua memaéria de guerreiro de Deus. adcula, pre Sxcalibur do Fim, em jeito tal Andlise linPessoa compara D. Sebastiao) teu direito divino, a tua verdade. patria’. Pedindo, pede-Ihe nique sua Luz ao mundo dividido Onde quetde Galaaz uma missao supren, Mesmo qu ‘ara que a luz que irradia do teu mito caia no mundo dividid Jazas, rem“No auge da suprema prova’ Mesmo quhist6ria, um momento ideal Revele o Santo Gral! E ergue-tee pobreza intelectual e politica. Por isso a “alma penitente do (...) povo", uma alma - nobreza, Erguendo-esséncia - em ruina, que sofre os castigos de ser mal dirigida. Para teun Para nova pessoa quer “erguer de novo” essa alma, mas a “Eucaristia Nova”. Ou seja, nao basta o mito existir, ele deve prevalecer, como religido. Pessoa indica que “a religido é um fenémeno ligador de almas (...), socialmente titil (..)” sobretudo se é “nacional” e “popular!8?". 0 Cristianismo, segundo Pessoa, 0 D. Seba: € popular nem é nacional. “Abandonemos Fatima por Trancoso’, exorta entao ele, concluindo: . Seba‘ce hé que haver religido em nosso patriotismo, extraiamo-la desse mesmo patriotismo. Felizmente apenas wy lanka 'temo-la: 0 sehastianicma 70 Sebastianismo se deVeu a uid forte tradigao oral, muitas das vezes secreta, porque exercida em 6pocas de opressao ou falta de liberdade’®”, Se esse mito jaz sempre “remoto”, basta que “o sonhem", para ele vir de novo a realidade™*. Pessoa invoca claramente 0 mito, para que ele venha trazer nova vida ao “corpo morto de Portugal” “Ergue-te do fundo de nao seres", nada mais é que uma exortagdo magica e esotérica, um encantamento de um mago que nao 0 é, de um iniciado que nao pertence a nenhuma ordem sendo a sua. “O novo fado", 6 a nova missdo que agora cabe a0 mito. Houve j4 um fado, um destino, para D. Sebastido homem, que é imensamente diferente do fado que espera o D. Sebastiao mito. fal como no poema “D. Jodo O Primeiro” em “Os Castelos”, Pessoa introduz uma referéncia Templaria: “Mestre”, cruzada com uma referéncia Rosa-cruciana: “da Paz’. A paz profunda consigo sréprio 6 0 objectivo tltimo da investigagdo intima dos rosa-crucianos, a ser atingida através de srincipios de fraternidade universal. D. Sebastido aparece novamente como cavaleiro, mas da paz, guerreiro da fraternidade universal. 0 seu “gladio ungido” nao traz o conflito, mas a mudanga (ver 0 poema “O Conde D. Henrique” em "Os © Cf. Fernando Pessoa, Portugal, Sebastianismo e Quinto Império, pigs. 151-2. Ibid, pig. 110-11, Castelo”). “Excalibur do Fim”, reforga esse sinal: é uma espada, mas simbolo da paz infinita, do iltimo reino, reino do fim. Tanto é assim, que da espada jorra “Luz ao mundo dividido” para que se “revele o Santo Gral’. Ou seja, o simbolo, o mito de D. Sebastido, traz uma Luz de comunhao - que é luz de conhecimento ¢ luz deuniao - a um mundo nas sombras, dividido e sem ordem.

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