You are on page 1of 13
Responda as seguintes Questoes: Verdadeiro Falso OA eco ORC ars Cinicenek cule nue | a ira ecient Irene ee cue BRUCE Lice RUC ie Ue CCC Coe oe guid CRTC ce Care Tee Cen tc Mer Oe nr eg CAM eit cid PERE ome Boe ee ue eRe eset .... Agora leia atentamente as préximas paginas e cruze a informagao disponivel com as suas respostas. yi abe IMIGRAGAO - OS MiTOS E OS FACTOS Os imigrantes est&o 4 invadir-nos’? Estima-se que em Portugal estejam 452 725 estrangeitos em situagao legal! 2007 Total Autorizacées de Residéncia 401.612 Total Prorrogagdes de AP 5741 Total Protagagées Vistos de Longa Duragéo 28.383 Vistos de Trabalho Concedidos 4825 Lei antiga (1) | Vistos de Estudos Concedidos 1836 Vistos de Estada Temporaria Concedidos 3244 \Vistos de Residéncia Concedidos 6432 Novalei(1) | Vistos de Estada Tempordiria Concedidos 692 TOTAL 452 7125 Fonte: Servigo de Estrangoiros e Fronteiras ¢ (1} Ministério dos Negdcios Estrangeiros Mas quererd esse numero dizer que os imi- grantes estdo a invadi-nos? Esta é, seguramente, uma ideia que assalta muitos portugueses @ com uma explicagao compreensivel. Tem sido repetido & exaus- tao que Portugal viveu nos titimos anos um crescimento muito significative do nimero de imigrantes. Em ntimeros redondos, em 1960 a populagdo estrangeira com residén- ia legal era de apenas 0,3%. Em 1980 essa percentage passa a corresponder @ 0,5% @ jd em 2005, veriica-se um reforgo signi- ficativo da sua Importéncia, que se traduz numa subida percentual para 4,8%. Este orescimento 6 realmente significativo, nomeadamente se atendermos ao curto pe- riodo em que decorreu. Mas, desconstrua- mos os numeros, Apesar do crescimento do nlimero de imi- grantes nos titimos anos, Portugal estalonge e ser um dos paises europeus com maior |. No ett contains nest nimore os caangaos qu chegam ao pl com un vo da uta dap visto dito e/ vito do eecl percentagem de imigrantes. Em 2006, nao considerando © caso espectfico do Luxem- burgo com cerca de 41,6% de populagao estrangeira (a maioria dos quais portugue- ses), 0s paises europeus com maior per- centagem de estrangeiros no seu terttério eram a Suiga (20,3%), a Espanha (10,3%), a Austria (0,9%) ¢ a Bélgica (8,8%). % Populagao Estrangeira por Pais (2006) Portugal esta longe 1 de ser um dos paises europeus com maior percentagem de l estrangeiros numero de imigrantes. Segundo dados da OCDE, em 2006 a chegada de estrangeiros a Portugal representou apenas 0,24% da Acresce que este aumento de imigragao se deveu a um periodo de grande crescimento econdmico de Portugal, na segunda meta- Fonte: International Migration Outlook, OCDE 2008 * Dados de 2006 {International Migration Outlook, OCDE 2007) Nota-se também que Portugal esté entre os paises que recebe anualmente menor 2. Tend netomatina Maran, Esie exigiu, para a sua concretizagéo, uma disponibiidade de mao-de-obra muito signi- ficativa, & qual Portugal no tinha capacida- de de responder. Era o tempo da Exoo 98, da Ponte Vasco da Gama, da Auto-estrada do Sul e, mais tarde, dos Estadios do Euro Quando se contextualiza desta forma o au mento do némero de imigrantes, percebe-se que, @ como sempre nos fenémenos mi- graiérios, essa oportunidade/necessidade encontra de imediato resposta nos fuxos rmigrat6rios. Luxemburgo_ 416 7 er sua populagaio total. Suica 203 Espanha 103 Austria 99 Bagica 88 de dos anos 90. ‘Alemanha 82 [anda SY Inglaterra 58 Suécia 54 Dinamarca 5,1 Noruega 54 2004. Italia 50 Holanda 4.2 Portugal 4A Finlandia 28 Portugal precisa, tal como os restantes paises da Europa, dos trabalhadotes imigrantes para satisfazer as caréncias do mercado de trabalho? Assim nao é surpreendente mt rou} IMIGRAGAO - Os MiTos E os FACTOS Gréfico 1 - Entrada de estrangeiros em 2006 por mil pessoas de populagao em paises seleccionados na OCDE 6 oe eee | aut GAO EA LAL LISI OES aa Fonte: international Migration Qutlook, OCDE, http://www.080d.org/ets/migration/imo2008 veriicar que, quando comparado com ou- tros paises, Portugal se destaque por procu- rar na imigragao essencialmente uma forga de trabalho. Segundo dados da OCDE, em 2006, 29% dos fluxos imigratorios que che- garam a Portugal vieram para trabalhar. Nao foram os imigrantes 1 que nos “invadiram”; somos nés que necessitamos deles. ‘momar Stats, nino cena ant gona esc ote, Wet Pn Importa também abordar agora outra perspectiva complementar da mesma questdo: pode Portugal, a médio-longo prazo, dispensar a presenga de imigran- tes? O nosso pais, como toda a Europa, vive um ciclo de quebra demogrétioa, com reducdo significativa do numero total de habitantes e crescente envelhecimento da populagéo, As previsdes apontam para que a Europa perca até 2050, pelo menos, 22 milhdes de pessoas. Também apontam que se néo existisse imigragdo, o némero de pessoas em idade activa (entre 15 e 64 anos) desot ria 19% até essa data’. No mesmo periodo, as pessoas com mais de 64 anos, aumnen- taréo de 73 para 125 milhdes. Em 2050, por cada 2 trabalhadores no activo haver& reformado/pensionista. Hoje a proporcéo é de 4 trabalhadores para cada reformado. Grdfico 2 - Percentagem de fluxos de imigragao segundo a categoria de entradas em paises da OCDE _ Noland Suga si + Fonte: International Migration Outlook OCDE, htip:/wwnw.oeod.org/els/igration/imo2008 Este cenério € muito complexo e de sustentabilidade duvidosa e torna-nos dependentes da imigrago como um dos principals factores de compensagao. A importancia dos estrangeiros no total da populagao activa portuguesa era, segundo 0s dados dos Censos de 2001 de 4,2% e representava 2,2% da populagao total. Essa impor- ‘Ancia relativa ¢ ainda mais significativa se alendermos ao facto que, em 2001, a percentage de populacdo activa com idades compreendidas entre os 20 ¢ os 44 anos corresponde a 80,3% da populacao activa estrangeira e a apenas 63,8% do total de populacdio activa em Portugal. r+ ate IMIGRAGAO - OS MITOS E os FAcTOS Populagao Activa segundo o escalao etario, em 2001 ae Portugal Estrangeros % % | 15419 38 38 20-24 40,7 147 25.29 144 216 | 30-34 138, 185 35-68 134 148 20-84 123 109) 25-49 tA 72 54 98 44 00-64 14 65+ 18 08, , Total 100 100 x Fonte: Censos de 2001, INE ‘Come foi sublinhado no estudo do Observa- t6rio de Imigrago, coordenado pela Profes- sora Maria Jodo Valente Rosa*, os imigrantes contribuiram para 0 reequilioio dos dois se- x08, para o aumento de efectivos em idade activa (na década de noventa, o numero de individuos com 16-34 anos teria diminuido em Portugal sem a presenga de estrangei- ros) @, Com as suas Litimas vagas, para um povoamento mais euilibrado, Mas, funda- mentaimente, "a manutengéo de um saldo migratério posttivo® pode contribuir para in- verter a tendéncia de efectivas @ para "se- gurar” o decréscimo de efectivos em idades activas”. Apesar disso, néo seré suficiente para contrarlar, em absoluto, a quebra de- mogratica. Ou seja, sem a entrada de novos Sem a entrada de novos l imigrantes, o nosso problema demografico l seré muito mais grave imigrantes, 0 nosso problema demografico. nomeadamente _associado_ao_envelheci- mento, ser muito mais grave. 4 Valent Rosa, Maria Joo ot (2004) Contos dos niyante na Dografa Portuguesa ~O papel das popu; do nacioraidadeesbargeia, (bso da orto. 6. ada de rigs superior sida de emirates Os imigrantes vem "roubar’ empregos @ fazer baixar os salarios? Esta idela corrente baseia-se na convicgdo de que uma nova méio-de-obra introduzida no mercado de trabalho competiré. pelos postos de trabalho existentes, expulsaré quem jé af estd e, segundo as leis do merca- do, faré baixar salérios. Simples, obvio... 0, poor regra, falso Vejamos porgué. Comecemos por uma andlise macro. Se fos- se verdade esta correlago automética entre imigragéo @ desemprego, encontrariamos uma maior taxa de desemprego nos paises com maior percentagem de imigrantes. Ora, um estudo da OCDE? demonstra o contré- tio: as maiores taxas de desemprego esto em paises com baixas percentagens de imi- grantes ¢ os paises com maiores percenta- gens de imigrantes t8m taxas de desempre- go relativamente baixas (Canad, Austrétla, As maiores taxas 1 de desemprego estao em paises com baixas percentagens de imigrantes e os paises com maiores percentagens de imigrantes, tém taxas de desemprego l relativamente baixas. (fo Coppa et 32001), 389 15. Ver em wawnandrgfecniecs c0 depot leo da OCDE Tens in inmlraton ar ena consequences EUA, Suiga). A presenga de taxas elevadas de populacdo estrangeira num pals néo um factor explicativo de olevadas taxas de desemprego. Nos fluxos migratérios de motivago econé- rrica existe uma natural racionalidade. A cor- relagdo 6, em certa medida, a oposta: onde existe desemprego alto, af est um destino no atractivo para imigrantes; onde hd baixo desemporego e oferta de trabalho cisponivel, ternos um destino atractivo para imigrantes. Este potencial de atraogéo evolui dinamica- mente com os ciclos econémicos de desen- volvimento e, dada a grande mobiidade flexibiidade da mao-de-obra imigrante, esta evolui com ela. E significativo o exemplo de que © crescimento da taxa de desemprego em Portugal, entre 2001 e 2005, de 4% para Rad ace roximo dos 7%, foi acompanhada da néo Tenovago — e provavel salda - de 65 000 imigrantes que correspondiam a 15% do contingente existente © a um tergo dos imigrantes entrados nos tltimos cinco anos. E também signitficativo oue os picos de taxa de desemprego tenham ocortido em anos que no registévamos uma presenca rele- vante de imigrantes, como por exemplo, nos anos de 1984 e 1985 (10,4% de taxa de de- semprego} ou 1987 (8,7%). Por outro lado, a ser verdade que os imi- gfantes roubam os empregos aos nacionais deveriam detectar-se taxas de desemprego maiores entre as populagées nativas. Con- tudo os dadios oficiais acerca de patses de imigragao mostrarn exactamente o inverso. Em particular na Europa, segundo dados da OCDE, 0s imigrantes mostram-se bastante mais vulnerdveis ao desemprego que as po- pulagées europeias.” Portugal néo 6 excep¢ao. Segundo dacos dos Censos, vetifica-se que nas Uitimas duas décadas os imigrantes apresentaramn sempre taxas de desemprego mais eleva- das. 7. Pa aprelundar el ematons Meraon Oubok, OCDE, 2006 58. Taxa de desemprego Nacionalidade 1991 | 2001 Portugueses 6% | 7% Total de estrangeiros 9% 9% Angola 12% | 14% Guiné-Bissau 9% | 12% SéoTomée Principe | 12% | 11% Mogambique 11% | 11% Franga 10% | 8% Venezuela 9% | 8% Canada 9% | 8% Cabo Verde 8% | 8% cane [oe | os Brasil 9% | 7% Espanha 7% | 7% Alornanha 8% | 6% Peises Baixos 8% | 4% Reino Unido 6% | 4% Fonte: Cansas de 1991 @ 2001, INE Estes nimeros evidenciam inequivocamiente Que nao ha correlacdo entre desemprego e imigracao. A este ponto importa aorescentar um outro que também é evidenciado pelas estalis- ticas: os imigrantes, em contexto de crise econdmica, so os primeiros a perderem o emprego, dado a sua maior vulnerabilidade contratual e por estarem _em_sectores de actividade muito sensiveis as crises. Isso faz com que exista mais uma desvantagem competitiva para esta populagéo que mais facilmente é “descartada” pelo sistema. De uma forma grosseira, quando escasseiam 8 empregos, os mais ameagados sao os imigrantes, que sofrem percentagens de de- semprego proporcionalmente maiores que os nacionais. I IMIGRAGAO - OS MITOS E OS FACTOS Os imigrantes, em contexto 1 de crise econémica, sao os primeiros a perderem o emprego, dado a sua maior vulnerabilidade contratual e por estarem em sectores de actividade l muito sensiveis as crises Adicionaimente, constata-se que os imigran- tes _tendem_a_concentrar-se_em_secte econémicos que, pelas suas caractersticas riscos, os portugueses Nao procuramn, Por outras palavras os imigrantes no roubam 08 empregos aos nacionais, mas respon- dem as caréncias de determinados segmen- tos do mercado de trabalho portugués. Uma vvez mais observemos dados oficials: Distribuigao da populacdo empregada estrangeira € portuguesa por sector de actividade (2001) sector do Acti Eston por Sater | neo Sct ot rebate Aaja a = a indistas 34 140 220 Conetragao Ow 148 36,1 uA Hotelria e Restauragéo tr 129 49 Comercio 19 78 155 Senigo a Empresas 96 150 48 Outos 23 116 20.1 Total 50 100 100 Fonte: Gansos de 2001, INE id p.12 Verfica-se que uma parte substantiva dos imi- grantes activos trabalharn no sector da cons- trugdo civil e indistrias. Ora, segundo dados da Inspecgéio-Geral do Trabalho, esses so exactamente os sectores de actividade com maior sinistralidade mortal. Segundo a mes- ma fonte, os riscos profissionais tendem a va~ ‘iar também em fungo da nacionalidade. Em 2001, por cada 10 000 trabalhadores morre- ram 2 estrangeiros e 0,56 portugueses Por outras palavras, individuos com nacio- nalidade estrangeira encontram-se substan- ciaimente mais vuinerdveis ao risco e a inse- quranca no trabalho que os trabalhadores ortugueses. No estudo coordenado por Hordcio C. Faus- tino para 0 Observatério da Imigrago® 6 também demonstrado 0 impacto positive da imigrago sobre as exportagdes portugue- sas. Este estudo permite ainda reconhecer as oportunidades econémicas existentes nos paises de origem dos imigrantes, podendo o tecido empresarial portugués beneficiar das redes sociais dos imigrantes, do seu dominio da lingua ou dos cédigos das respectivas cul- turas burocréticas e empresarias. Nestes tempos de crise financeira mundial ‘que comporta inevitaveis reflexos no equilibria da balanga comercial portuguesa, importa ter presente estes dados para percebermos as vantagens competitivas decorrentes da actu- al mo-de-obra imigrante ou da presenga de imigrantes empreendedores e empregadores, que também podem ser actores faciltadores das exportagdes portuguesas com o que isto IMIGRAGAO - OS MiTOS E OS FACTOS representa para o fortalecimento da econo- mia portuguesa. Neste contexto 8 possive! conctuir que os imigrantes néo vém roubar os trabalhos aos portugueses, mas ocupam essencialmente 08 trabalhos que os portugueses evitam por serem mais ariscados e/ou mais sujos. Deve-se refer ainda que, conforme fol de- monstrado nos estudos de Catarina Reis Of- veire? para 0 Observatorio de Imigracdo, os imigrantes demonstram meior propensao para a iniciativa ernpresarial do que os portugueses. Por outras palavras, os imigrantes néo s6 no vém_‘roubar’_empregos como _contriouem mesmo para a criago de empregos em Por- tugal, A semehanga do observado em inume- ros paises da OCDE, a iniciativa empresarial imigrante tem vindo a reforgar-se em Portugal, tendo passado de 4500 empregadores imi- grantes em 1991 para 20 500 em 2001. Por ‘outro lado, a importncia relativa dos imigran- tes no total de empregadores no pais passou, no mesmo periodo, de 1,7 por cento para 4,4 por cento, ; & £8, Faustino, Horio ot al, As caacterstzas da igo em Popa os seus ees ro comércio bisa, Obcovato ca kiya. 9 Otvoa, Catara Fels (200), Esatégis Ererosart de mgraes om Portugal Observer danraqao & Over, Catarina Aa 2009, Emporio degen rai ti de heer ooonamica am Petipa Obata ca mgracioe reasoto em 2008. Os estrangeiros concentram-se nos 1 sectores de actividade de maior risco, onde se verifica maior sinistralidade mortal Eno que diz respeito aos salarios, have- ra evidéncias de que os imigrantes fa- zem diminuir os saldrios em Portugal? Uma vez mals os dados oficiais demions- tram que essa ideia nao passa de um mito, vide a publicagéo Quadros de Pessoal 2004 da Direcgao-Geral de Estudos, Es- tatistica e Planeamento (DGEEP), que tem por base o preenchimento anual e obriga- t6rio dos mapas do quadro de pessoal por parte das entidades com trabalhadores 20 seu servigo, constituindo desse modo um virtual censo dos trabalhadores por conta de outrem. Tal como 6 possivel observar na tabela, existem claras diferengas na re- muneragao base dos imigrantes face ao total nacional em todos os niveis de qua- Ificagao, Contudo, estas diferengas nao tam sem- pre o mesmo sentido: no topo da escala de qualiicagdo a remuneracao base dos imigrantes 6 mais alta, enquanto que nos niveis inferiores de qualificagéo os estran- geiros auferem remuneragdes base mais baixas, No que respetta & profisso, 0 pa- norama é em tudo semelhante: nos grupos profissionais superiores os imigrantes so melhor remunerados do que a generalida- de dos trabalhadores por conta de outrem, enguanto que nos grupos profissionais menos qualificados os imigrantes séo pior remunerados do que é usual. Remuneragao base média por niveis de qualificagao em 2004 Remuneragée Base ss Diterenga relat cnr estan Total | Eetangoros | Pttal dot Quadros, Superiores 1907.45€ | 261498€ 33% Quadros Mécios 16.166 | 1497656 11% fo 95405 | to2082€ 7% Profesonals Ataments Quafcados | 068,06 | 1082,70€ 1% Profesionals Quafcadas ei77oe | 57526 "1% Profisionais Seri-Cualficadas corse | 472526 1% Proisonals Nao Qualficadas 448,75€ | _41793€ 7% Praticantes @ Aprendaes 42205€ | 41298€ 2% Nivel Desconhecdo ezagee | 550,706 “1% Total mate | oi7a2e 7% Fonte: DGEEP, Quadros de Passoal de 2004, Ry | Qs imigrantes vem desgastar a nossa seguran¢a social € , viver de subsidios? Esta 6 outra idela frequente, que em Portu- gal se tem reduzido, mas que ainda persiste. Nos inguéritos sobre Imagens Recfprocas entre Imigrantes Nacionais®, desenvohi- dos para 0 Observatério de Imigrac&o, 0 nd- mero de portugueses que respondeu “con- cordo” & afirmago “os imigrantes recebem a Seguranca Social mais do que dc’, des- ceu de 42% para 21%. Os dados objectives so, no entanto, inequi- voces, em Portugal e noutros paises, Apesar da complexidade da andlise, nomeadamen- te na sobreposic&o de diferentes ciclos de vida de contriouigdes € de aiferentes me- todologias de céiculo, quando se procura estudar 0 contributo dos imigrantes para as contas do Estado, todos as conclusdes sto convergentes. Os imigrantes dao uma substancial cont ig¢ao para aliviar a carga fiscal de geragées futuras em Paises da Europa com l baixa fertilidade Comacemos pelo World Economic and So- cial Survey 2004, das Nagdes Unidas, sobre Migrag6es internacionais que refere 10, Deporke on wince gore IMIGRAGAO - OS MITOS E OS FACTOS “Em geral, estes exercicios tandem a mos- trar que os imigrantes do uma substancial contribuicdo para aliviar a carga fiscal de geragées futuras em paises da Europa com baixa fertlidade (Collado, tturbe-Ormaetxe and Valera, 2003; Bonin, 2002). Céiculos da ‘Alemanha, mastram que 0 seu ganho fiscal, decorrente da admissao de trabalhaciores migrantes, 6 potencialmente grandee (...) Devido 4 composipdo etdra favorével, a sua média de pagamentos para o sector piblico pode ser positiva, mesmo depois de des- contar os gastos adicionais com eles..." Em Portugal, Anaré Corréa d’Almeida’? ela- orou uma andiise mais vasta para o Obsor- vat6rio da Imigrago, indo além do sistema de seguranga social e observando o impac- tonno conjunto das contas pibblicas. As suas conclusées epontam para um saldo posi- tivo de 324 milhdes de Euros em 2001 @ de 243 milhdes de Euros em 2002 (om média, cada imigrante empregado teré sido um contribuinte liquide do Estado Portu- gués, em 2001 no montante de 1365€ e em 2002 no montante de 8276). Ainda sobre a situagéo portuguesa, importa referir que os imigrantes no beneficiam de qualquer subsicio ou apoio social espectfico, exclusivamente a eles destinado. Ao nivel do apoio social, cumprem os mes- mos prazos de garantia que os nacionais para poderem beneficiar de, por exemplo, subsidio de desemprego e s6 acedem gra- Os imigrantes nao beneficiam de qualquer subsidio ou apoio social especifico, exclusivamente a eles destinados. Os beneficios que podem sufruir decorrem das suas i proprias contribuig6es tuitamente, ou com taxas moderadoras, ao Sistema Nacional de Satide se estive- rem inscritos na Seguranga Social. Quanto aslo, nada a opor. E 0 justo principio da igualdade. Mas importa ter consciéncia - e ue a opinido publica o saiba - que nada é oferecido aos imigrantes: os beneficios que podem usufrulr decorrem das suas préprias contriuigdes. Séio, por isso, direitos adqui- ridos e néio benesses da sociedade de aco- lhimento. No dominio da Seguranga Social, hé ainda uma outra dimensao a sublinhar, que con- traria 0 mito de que os imigrantes sobre- carregam 0 sistema. A quebra_demogrét ga acentuada que temos vindo a sentir em toda a Europa, e também em Portugal, vai agravar-se. Ao mesmo tempo, a esperan- ca de vida alarga-se, havendo por isso um numero de beneficiérios cada vez maior @ a usutuir mais tempo de apoio social. Este fe- némeno arrasta a preocupante questo da sustentabilidade do sistema de seguranga social. Ora, ndo sendo a solugéo completa, a contribuicéio de méo-ce-obra imigrante le- gal, que entra de imediato na vida activa e € Contriouinte liquida, néo s6 no é um peso, como 6 importante para a sustentabildade do sistema da seguranca social. A conti mao-de-obra imigrante legal, 6 importante para a sustentabilidade do sistema da seguranga social 11 fer Ceoneme and Sci Say 2004 neat My 12! Ganda Amel (2000), Impact da Ingraggo an Po IMIGRAGAO - OS MITOS E OS FACTOS Os imigrantes est&o associados ao crime? Recorrentemente, nos meios de comunica- do social, surgem noticias que associam os imigrantes ao mun¢ riminali Quando se olha as taxas brutas de crimina- lidade ¢ se analisa o grupo de nacionais € o grupo dos estrangeios verfica-se que para 08 primeiros esta 6 de 7% @ no segundo 11%e. Aparentemente, os nimeros confir- mam esta ligagdo. Mas, veremos, trata-se de mais um erro de anaise. Se a comparagao for feita correctamente nado ha diferenga na taxa de lidade entre nacionais e estrangeiros Interpretemos melhor estes _ntimeros. Os investigadores Hugo Martinez de Seabra e Tiago Santos, num estudo pioneiro, “Crimi- nalidade de Estrangeiros em Portugal: um inquérito cientiico"® deram passos signifi- cativos nesse objectivo, comegando pelos universos de comparacao. A caracterizagio demogréfica do universo da criminalidade 6 semelhante para nacio- nais e estrangeiros, com uma predominancia de homens, em idade activa, sotteiros e com 19, Departs am wwneckacks ox habiltagdes académicas basicas, At aqui, tudo bem. Mas, no passo seguinte, dé-se um enorme enviesamento: no caso dos na- clonais, 0 universo de referéncia, sobre o qual se faz a percentagem para obter a taxa bruta de criminalidade, é 0 de todos os cidados nacionais, ou seja, dos 0 aos 100 anos, com proporgo equiliprada no género e de todas as classes socials ¢ nivels académicos, Jé © universo de referéncia dos estrangeiros € maiortariamente masculino, em idade acti- va e de nivel s6cio-economico médio-baixo. A partida, so universos_ndo comparaveis, pois 0 dos nacionais inclui um peso muito significativo da faixa 0/16 anos (inimputave) @ acima dos 60 anos (onde praticamente ja no hA criminalidade), faixas que quase no existem no universo dos estrangeiros. Desta diferenga dos universos de referéncia, resul- ta, naturaimente um resultado erracio. Mas hd ainda outro factor a considerar, O que as estatisticas da Justia nos dao é simplesmente a nacionalidade, dlstinguindo entre nacionais e estrangeiros. Ora, no é coincidente o conosito de estrangeiro e de imigrante, Por exemplo, todos os turistas que nos visitam, so estrangeltos, mas no so imigrantes. No nimero de condenados estrangelos ha uma presenca_signiticati- va strangeiros nado imigrantes, nome- ademente de ‘correios de droga’, ou seja, pessoas sem residéncia ou profiss’o em Portugal que procureram introduzir droga no nosso pais, numa viagem de curta duragao, Daqui se conelui, que da taxa bruta de cr- minalidade nos estrangeiros, uma parte néo cortesponde a imigrantes Em média, os estrangeiros 1 so sujeitos, para os mesmos crimes, apenas l mais pesadas. Se se corrigiem os universos de compara- 40, equiparando-os, o valor da taxa bruta de criminalidade encontrado nos nacionals sobe de 7%s para 11%, enquanto se man- tém nos 11%. para os estrangeiros, Isto 6, se compararmos 0 comparével, néo ha dife- renga na taxa de criminalidade entre nacio- nais @ estrangeiros. Finalmente, para conclu, em média, os estrangeiros s40 sujeitos, para os mesmos Grimes, a penas mais duras. Isso é evidente desde a apicagzo da prisdo preventiva — facto Pena de Pris g97998999 que teria alguna expiicagao, pelo maior ris- co de fuga ~ até & comparagao das penas pelo mesmo tipo de crime, como se veritica, por exemplo, na percentagem de aplicagao de pena de prisdo efectiva por tréfico de dro- ga, entre os anos 1997 ¢ 2008. A desconstrugao do mito que associa imi- gragdo a criminalidade, poderia ter come- ado por outra perspectiva de abordagem: @_exclusdo social que_gera_criminalidade. Com efeito, fruto de um percurso de discri- minago face &s oportunidades geradas e de uma acentuada desvantagem compeliti- vva em relacéio & maioria dos nacionais - que reduz muitas vezes a zero 0 horizonte de futuro - alguns imigrantes, especialmente os descendentes de imigrantes, chegam a ori- minalidade. Nao porque sejam estrangeiros, ‘Sendo uma expli- cacéio parcial - veridica também para bolsas de excluséo social composta por nacionals —esla perspectiva 6 eminentemente justifica- tiva e pode dar involunteriamente a idea (erra- da) que a taxa de criminalidacte é fataimente maior entre os imigrantes. E como ficou ante- riormente provado, isso néo é verdade. io Efectiva por Tratico de Droga’* Estrangeiros $$ ~ tt 14. par do Etude Sebra, 1; Sart, 12005) Crna de Etrangates tan ings caniice, osenaro da igo, Nacior 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Qs imigrantes trazem-nos Desde tempos imemoriais sempre se agitou 0 fantasma da associagdo entre doenga e estrangeiro. Desde as descrigdes dos lepro- 0s, a vaguearem de terra ern terra, agitando campainhas para que ninguém se aproxi- masse, até a associagdo entre as pestes do séoulo XIV e os estrangeros, nomeadamen- te coma perseguicéo aos judeus, sempre se verificou a tentagdo de culpar o estrangeiro, por todos os novos males da sociedad, no- meadamente, as doencas epidémicas. Essa atitude, ainda que mais discreta, também se veritica hoje, em relagdo aos imigrantes, considerando-os como potenciais portado- res de doengas que nos ameagam. Esse receio ¢ injustificado. Varios estudos nos Estados Unidos da América’ evidenciaram, por exemplo, um fenémeno identiicado como “paradoxo his- panico”, em que os imigrantes revelam & chegada, em mécia, melhores indicadores de satide do que a populacdo residente. Dado 0 processo muito exigente de se- Ieogo natural que decorte durante © ci- clo migratério, em que os mais fracos fi- cam pelo caminho, os imigrantes que conseguem vencer todas as barreiras ‘men ti orn mal tas do ances rao hs IMIGRAGAO - OS MITOS E OS FACTOS doencas? @ chegam aos palses de acolhimento, so os mais saudéveis e com maior resistén- cia fisica ¢ psiquica. Este facto bloqueia sig- nificativariente a entrada de imigrantes do- entes. E se certo que ao terem origem em paises mais pobres, tiveran possiblidades de contactar com algumas patologias que 9s palses mais ricos jé resolveram (como a maléria, por exemplo, que desapareceu em Portugal hé cerca de cinquenta anos ou as parasitoses intestinais) estes imigrantes vém encontrar outras doengas, nomeadamente decortentes de estos de vida pouco saudé- eis, com as quais néo contactavam, Se a stuagdo a chegada desmente este preconceito de que os imigrantes, por regra, trazem doengas com eles, regista-se por ou- tro lado, que a vida dos imigrantes, jé no pais de acolhimento, tem elevacios riscos nara a sua satide. E porque? As explicagbes séo varias e bastante con- sistentes. Por um lado, a dureza da vida imigrante, esté associada a varios factores de fisco, como ma alimentago, mas condi- Ges de alojamento, profissdes perigosas ou recelo de contacto com o sistema de satide. emarcanosevderiam gua Estes factores criarn condigdes pata que doenga se instale. Surgem entéio, exactamente como na po- pulagio_nacional com o mesmo contexto socioecondmico, as doengas associadas pobreza e & exclusao social: a tubercuiose @ outras doengas infecto-contagiosas, por um lado, os acidentes de trabalho e as do- engas profissionais, por outro, bem como © aleooismo @ 0 excesso de consumo de tabaco. Acresoe que estes imigrantes que esto en- tre nés, tm outros riscos especticos para a sua salide, nomeadamente 0s associados & satide mental, A soliddo e a dificuldade de integrago, associadas & saudade de casa, da familia e dos amigos, provocam, muitas vezes, quadros de depresséo grave e de grande soffimento — sindroma de Ulisses ~ que se acentua com episédios em que 0 imigrante se sente discriminado ou vitina de actos racistas. Este quadro arrasta por sua vez, Num circulo vicioso, para comporta- mentos desviantes que constituem um fac- tor de risco de agravamento do estado de sade jé dé. Os imigrantes revelam 1 a chegada, em média, melhores indicadores de satide do que a I populagao re: Neste dominio, importa também sublinhar ‘que as diiculdades de acesso a satide ~ ain- da maiores que para os nacionais - agravam todos estes riscos. Por exerplo, muitos dos imigrantes para se deslocaram a uma con- sulla médica, perdem um dia de trabalho e, com ole, 0 salério associado. Outros, nao tendo enquadramento de apoio na aquisl- do de medicamentos, no tém meios para os comprar por si mesmos @ néo cumprem 0s tratamentos que deveriam. Por fim, as di- ferengas cultureis ¢ linguisticas criam ainda outras bareiras, aigumas ciffcels de utra- passar, que afastam os imigrantes do siste- ma nacional de saiide. Como defendem as médicas portuguosas Domitlia Faria e Helena Ferreira'®, “Serd in- correcto assumir que os imigrantes tém maior probabilidade de ser infectados no pais de origem. A exposigéio ao VIH pode ocorrer em qualquer das etapas do proces- 80 migratério ~ pais de origem, locais de trnsito, destino ou retorno a origem. A vida de imigrante, ja no pais de acolhimento, tem elevados riscos para a sua satide No entanto, a quebra de lagos familiares, a falta de recursos econdmices, 0 isolamento @ a marginalzagao, a dificuldade no acesso ImIGRAGAO - 0S MITOS E OS FAcTOS aos cuidados de satide, sdo factores co- muns que, acrescidos de barretras linguis- ticas @ culturais, toram as comunidades imigrantes particularmente vulnerdvels a esta infecedo, no pais de acolhimento.” OquesepassacomaSIDA, assimcomocom outras doencas, équeosimigrantes, talcomo (0s portugueses em iguais circunstancias sociosconémicas e culturais, estéo mais ‘expostos, por via da pobreza, da exolusdo @ de comportamento de risco, a serem con- tagiados ou a desenvolver determinadas doengas, Por isso, em vez de ameaga, eles S80, so- bretudo, viimas da sua circunstancia e das Vicissitudes da sua vida. % » 16. asoctvaentsAestonte Hospital ds Mec Inna — Hostal do Sarena ga © Aasitente Groduada de Sade Pibioa ~Conesso Dita do Lute Conta a SaB/AS co Agave, om camunkagio “foot Vi @ greed om Parga, 202. Os imigrantes SG perigosos? As noticias recorrentes de detengdes de imi- grantes “legais" em operacdes policais es- tabelece uma perversa ilustio de éptica na opinido ptibica que tende a olhar estas pes- as — alvos das policias — como potenciais perigos para a sociedade. Mas, quem & o imigrante “legal”? E, to s6, um homem ou uma mulher que abandonou o seu pais procura de uma vida melhor, mas n&o tem autorizagéo para permanecer e trabalhar no pais para onde se dirigiu. Ou seja, ndo esté autorizado a per- manecer ¢ trabalhar, Nao se trata, por isso, de um perigo para a seguranga ptiblica, ou uma ameaga para qualquer um de nés. Ali- 8, teremos todos a experiéncia pessoal de contacto com muitos imigrantes que esto irregularmente em Portugal ¢, nesse con- “Malt tuguesas. No veréo do ano passado estavam a ser deportadas “mutastamiias portuguesa: polos ofciais da imigragdo eram exoulsas por estarem jegas,afrmou. “Actualmente est2o a deportar menos port {gueses' refer sem aclantar 0 nero de portuguases que jd foram expulsos do Canad. Do acordo com Antério Leta, vivem ern Toronto nos arredores entre oto a dez mil portuguese legals e a maioria trabaha na construgdo cle lmpezas. A morar em Toronto hd mals de sete mmentadosj& compraram casa, vive na Dundas Street (zona de concentra: «ram para 0 Ganadfé porque ft ntam uma pessoa de famila a vver neste pal.” Excerto de noticia da Agéncia Lusa, 18 de Foverero de 2005, sete anas, trabaiham e fazem os seus descantos. € injusto 8 dos erigrantas Hogs esto no Canadlé ha mais ‘aportar estes cidadios que tém contibuido pera o futuro deste pals’, sustentou. A comissdo de apoio aos portugueses Indacumentados surge apds a deportacéo de véras dezenas de famiias por- (() | legais’ tacto personalizado, percebemnos quanto disparatado este receio. Mas mais facil ainda, para percebermos me- ihor esta realidade, é recordarmos a nossa experiéncia de imigrantes inegulares. A nos- a imigrago “a salto”, por exemplo, repre- sentava nos anos 60, mais de metade das saidas: eram perigosos esses emigrantes “ilegais’ que partiam de Portugal? Esta questo ndo se esgotou no passado. Actualmente, discute-se no Canada, que destino deve dar © governo de Toronto a cerca de 10 000 imigrantes portugueses ile- gais que al permanecem. Eevidente que se defende a imigraco legal, bem como o respeito das leis nacionais e intemacionais. Nao é desejével, para pro- tec dos préprios imigrantes, que entrem ‘que depois de serem interogacas nos, alguns de 3s portugueses indocu ‘do sabem falar inglés rf IMIGRAGAO - OS MITOS E OS FACTOS O TRAFICO DE BRANCOS Mais de 66% dos Portugueses q ‘em Franga passa- ram as fronteiras clandestinamente, Os seus passaportes, so os da montanha, “a salto’ Atravessar a fronteira pelos montes, eis a salvagao deles, sem carimbo da fronteira. Outros, que tentaram pedir um passeporte de emigrante, esporam sels meses, um ano, antes de terem uma respos- ta, que no fim 6 negativa. "Muito pobre”, dizem-thes, ‘nao podem ir para nenhum lad Jean Erwan, "Jur-Press", 9.de Abi do 1970 10 citcuito irregular, Mas no nos delxemos confundir: ndo estamos perante criminosos! Outra confuszio que é feita é entre imigracdo itreguler e méfias, como se fosse a mesma coisa. Os imigrantes irregulares nao sao membros de méfias: so as viimas das md fias. Estas operam - e prosperam tanto mais quanto mais restritiva é a politica de imigra- Go legal - em todo o mundo, ¢ também em Portugal. Fazem contrabando ou tréfico de pessoas, que introduzem ilegalmente em tertério nacional, prometendo muitas vezes uma legalizagao facil. Estas organizagdes enganam homens e mulheres desejosos cle encontrar uma oportunidade de uma vida diferente no nosso pals. S6 que, uma vez nas malhas destas méfias, um imigrante ir- regular dificimente sai, até a0 momento que estas se considerem satisfeitas, E praticada uma extorsdo mensal de parte significativa De uma exposicao da Federacao das Associagées Porluguesas de Franga. Disponivel em httox/wwn.useu-emigrantes.org/sonho, portugues.htm do salério, apreendidos os documentos e, se hé uma recusa de pagamento, 6 usada uma violincia extrema que pode ir até a0 homioidlo, HA, no entanto, um alerta que importa fazer. A permanéncia prolongada nos territérios de exclusdo social, entre os quais se conta a imigragéo imegular ~ mas também a pobreza a guetizagao de populagées portuguesas — pode criar, em situagdes extremas, becos sem saida que levam homens e mulheres em desespeto a lancar mao de expedientes e actividades ilcitas Por isso, 6 essencial o combate A imigragao irregular, promovendo verdadeiramente e em todas as frentes a imigraodo legal. Mas nun- a esquecendo que dentro de um imigrante immegular mora uma Pessoa, com toda a sua dignidade humana. Os Imigrantes rejeitam Portugal’ Em Portugal, este mito ndo tem grande ex- pressio, Pelo menos, de uma forma explici- ta. Noutros paises, princioaimente do centro da Europa, 6 mais evidente esta ciséio, com atitudes estruturadas de rejeicdo da socieda- de maioritéria por parte de algumas comuni- dades imigrantes, fundadas em _ciferencas culturais € religiosas. E conhecida a tenséo com algumas comunidades de matriz isti- mica, seja na Alemanha, na Holanda ou em Franga. Este fenmeno merece uma andlise aprofundada, pois podera esconder realida- des mais complexes que o linear “choque de civilzagdes". sa Mas, reportando-nos a Portugal, esta ques tao, com este formato, nao existe. Existem sim, alguns discursos que reproduzem vozes de revolta de alguns jovens descendentes de imigrantes que repudiam Portugal ¢ os portugueses. Procura-se encontrar af a evi déncia que os imigrantes no querem fazer parte da nossa sociadade. Nao @ verdade, quer na expresso quantitativa destas vozes de revolta, quer sobretudo, apés a descodif- cago desse grito de revolta. Importa, nesse contexto, fazer notar que esta 6 uma attitude reactiva, funciada na rejeicao - real e/ou ima ginada — que sentem da parte da sociedade portuguesa. E 0 fruto de um ciclo vicioso de. rejeicao/revolta/tetorgo da rejeigao que ndo termina. Aesmagadora maioria dos imigrantes quer fazer parte da sociedade l Portuguesa. Mas, a regra, mostra evidénoias de attitudes opostas. A esmagadora maioria dos imi- grantes quer fazer parte da sociedade por- tuguesa, Essa 6, lids, uma das suas gran- des lulas. Esta vontade vai mesmo ao lite de ambicionar para si e, sobretudo para os ImigRagAO - OS MITOS E OS FACTOS seus filhos, a nacionalidade portuguesa. Em termos colectivos, a forma como celebram, por exemplo, a festa desportiva em solida- riedade com todos os nacionais en torno de grandes momentos, como foi 0 Euro 2004 ou os Jogos Olmpicos de Pequim em 2008. Em termos individuais, 0 brio com que figu- ras como Francis Obikwelu, Nelson Evora e Naide Gomes, assumem as suas vitorias defendendo as cores nacionais, evidenciam um sentido e um desejo de pertenca que to- dos deviamos respeitar e reforcar. A hist6ria feliz de Netson Evora deve fazer-nos pensar, Vindo para Portugal, com a familia Reem em re cern eee Ura gd CPA eS CUR PAU OR oul uke nen eae oe Mee eso} de Marketing, para juntar aos saltos que consegue no triplo e no salto em comprimento. A sua convicgao religiosa - membro da fé baha‘i - torna-o também militante da causa Cerin rm aer core eek ecco cn enc ei Nee ck eters tr eu Gate accor ue cui CECT tudo, seu e da sua familia. Apesar de todas as contingéncias negativas que qualquer familia imigrante experimenta, conseguiram chegar aqui. Honra Ihes é devida. Reta rctcctics 17. Ropertaga compl an ipsa ou ptidocsPubleacces UL 82 pat Os imigrantes vao colocar em risco a nossa cultura 6 as nossas tradicdes’’ \erifica-se no jA referido Estudo sobre "Imagens reciprocas entre imigrantes e autéctones’, uma natural percepgdo da ciferenga do “outro” que se reflecte, por exemplo, nas respostas ao inquérito, conde 4 em cada 10 portugueses consideram o3 imigrantes "muito diferentes nos seus usos e cos- tumes" e ‘na forma como edicam as suas crian- cas" Na manipulagdio desta percepgtio da ciferenga, mobilzada em tomo de uma visdo defensiva e de medo, estrulura-se um outro mito em torno da imi: gragdo que passa pelo suposto risoo de “conta: minaeo" da nossa cultura e das nossas tradigdes Or Oulras Que nos s4o estranhas. Esta visio, no entanto, incorre num triplo erro. primero erro radica em acrecitarmos que, num contexto de mundo aberto e globalizado, 6 possi- vel ndo_sermos influenciados por outras culturas e tradicdes, que nos chegam das mais diferentes formas, todas elas mais importantes que a influén- cia dos migrantes com quem contactamos diaria~ mente. Com a influéncia imparével dos media e da sociedade de consumo, importamos permanente- mente tragos que nos influenciam, quer conscian: te, quer inconscientemente, Tornamo-nos mais “outros”, em toro de tantos “Pais Natais" que assimilamos e integramos nas nossas tradigdes. € isto, no 6 obrigatoriamente negativ. © segundo eno 6 0 aue resulta da inverséo de pesos relatives na inter-infuéncia entre imigra tes @ autoctones. Os fenomenos de aculturac: sempre ciscutidos, umas vezes como postivos, outras como negatives, agem sobre as minorias imigrantes que se véem forcadas ou que aderem voluntariamente a uma mudenga de oresoente identificago com a sociedade de acolhimento 18. Fst valor verts-ea para migans sees © do este uae, Pa os infants brasekes ovr & que constitui a referéncia. © poder de infiuéncia do € minimamente compardvel. © “em Roma, 86 romano” constitui uma norma téo forte que 0 que se coloca frequentemente € o desafio para as comunidades imigrantes de manterem os seus ‘ragos identitérios préprios, sem se delxarem assi- miler totalmente Finalmento, o terceio ert resulta de uma andise desejustada da idenlidade portuguesa, Mesmo que néo 0 quséssemos, 0 ser portugués € 0 re- suitado de mistiplas infuéncas cultura e de tradi- (Ges que, 20 longo de séculos, se foram cruzando aqui e outras com que nos fomos cruzando pelo mundo, Somos um_povo de fuse. Soubemos integrar uma diversidade que nos fez Uirioos, no pela homogeneidade mas pela riscigenago. Por isso, nada temos a temer do contacto com outras cuituras ¢ tredigdes. Palo contrério, se com elas soubermos aprender, iremos ficando sempre mais ficos, porque mais diversos. ‘A Coleogéo de estuclos Portugal Intercultural do Observatério da Imigrago procura reflectir exac- ‘tamente, a partir de marcas histOricas, a presenga e cruzamento de povos e culturas na identidade portuguesa. No primeiro estudo desta colecgo ~ A Inierculturaidade na Expansdo Portuguesa (séculos XV-XVIl) - da autoria do Professor Joo Paulo Oiveira e Costa e da Dra, Teresa Lacerda, 6 bem iustrado como a interculturaidade foi um trago marcante da Expanséo portuguesa dos sé- culos XV a XVIll @ come influenciou 0 nosso pa- triménio cultural e a nossa identidade colectiva Estes resultados so interessantes de realcar, em particular quando a Histéria pode ter um papel crucial na projacgdo que se quer para o futuro de uma sociedade marcada pela riqueza da diversi- dade cutural P. 2 ee 5S —ateeh io IMIGRAGAO - OS MITOS E OS FACTOS As respostas as seguintes quest6es sao: Verdadeiro Falso CeCe eRe teary x] (ince cue runic IX ered eter isd rad Pinon cco ere cue | x] mie iene kn cect iis reece ers Y | ix Ceres ume Caen a Ki Crea Cee ee One ed een cece cadet ed B 5 cence ele) PMs ee suse rs Nao deixe que os preconceitos substituam a verdade dos factos. Nao se deixe dominar por mitos falsos. Nao se esquega que qualquer um de nds poderia ser imigrante, se a vida a isso nos obrigasse e se tivessemos coragem e capacidade de sacrificio para tal aventura. CONTACTOS UTEIS 4, Alto Comissariado para a Imigraco e Didlogo Intercultural, .P. Rua Alvaro Coutinho, n.°14 1150-026 Lisboa + Tel.: 218 106 100 + Fax; 218 106 117 acidi@acidi gov.pt wwrw.acici.gov.pt . 2. Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (Lisboa) Rua Alvaro Coutinho, n.°14 1150-025 Lisboa + Tal: 218 108 100 « Fax: 218 106 117 Hordrio de funcionamento: 8h30 as 16h30 8. Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (Porto) Rua do Pinheiro, n.%9 4050-484 Porto « Tol: 222 078 810 « Fax: 222 073 817 Hordrio de funcionamanto: 8h30 as 14h30 4, Linha SOS Imigrante 808 257 257

You might also like