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o . . . . . . . . . Q . ® . ® D ® . 5 ® ® D . D . . . . . . . D . . “Este tivo, que & uma jéia na literatura brasileira, cispensa co- mentarios. Jé 0 tinha lido e muto aprendi nele, Sera obra de cabeceira estuciasos de direito publico.” (Alfredo Buzaid) tentie os que pensam dessa maneira esté 6 Sr, Paulo Bonavides iustre jurista cearense, que, dispulando uma cadeira na universidade da sua terra, escreveu uma lese sob 0 titulo 0 ESTADO LIBERAL AO ES: TADO SOCIAL. Recorda, em paginas de sadia erudigdo, 0 que foi oes «0 liberal e quais os seus grandes doutrinadores para, em seguida, sus tentar que na maior parte dos paises ja existe o estado social inclusive 0 Brasil, O Sr. Paulo Bonavides revela, ria sua tese, conhecimento intim: com 08 grandes autores antigos e modemos, notaddamente com Kant e Hegel, aos quais decica capitulos extensos do seu livvo, O'seu trabalho 6 lido com proveito e sem fadiga.” (Plinio Barreto) “O titulo 6 de um livro de Paulo Bonavides, cult e brihante pro- fessor da Faculdade de Direito da Universidade do Ceay4, escrito com primor de linguagem, profundidade de doutrina e apurado senso critic. Para terminar,tralg-se de um lvro de renome para 0 autor, de rele para a cultura universitéria do Ceara: de. preciosa contribuicdo para as letras jurcicas do pais:" Joaquim Pimenta) Slida e brihante inonogratia, que é, sem favor, uma fore ati. mage de cultura |uridica.* (Oswaldo Trigueiro) Contribuigdo digna da sua bela erucigao @ das tradi¢bes invejd veis da cultura cearense.” (Victor Nunes Leal) sumenta bem o poder da sua inteligéncia e de sua anal lemas da vida politica.” (Pinto Ferreira) a i PAULO BONAVIDES DO’ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL FEBYVTVFVTFSCVZTVIGTIVPGVP@ITFP@PISOTITOSCOOOOOO: ae La PAULO BONAVIDES DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL Bl { ) | NOTA DA EDITORA SOBRE O LIVRO E 0 AUTOR Com a 8 edigdo do livro Do Estado Liberal co Estado-Social a Malheiros Editores se associa as comemoracies que'em'2008 vao as- sinalarve solenizar o cinglientenario da publicagao desta obra, sem diivida a-primeira no Brasil e talver no ocidente ~.ndo conhecemos outra igual a tragar e definir com autonomia 0 novo modelo.de Es- tado incufcado pela Lei Fundamental de. Bonn na Alemanha,poucos anos depois da catAstrofe do Nacional Socialismo e do fim da Segun- da Guerra Mundial Tal otorreu ~ a aparigdo do sobredito modelo — durante a fase ‘mais agitada, mais aguda, mais turbulenta da controvérsia ideologi- a do século XX. Naquela ocasiao néo havia, com forga, na doutrina, uma forma de Bstado.que pudesse vir em substituigao da modalidade marxista, de feigto autoritéria, Havia tdo-somente o Estado liberal do sgeulo ‘XIX, em sua decrepitude eterna, proposto, mas repulsado, por alter- nativa aos sistemas estatais do autoritarismo totalitafio. , sesperavam-se os inconformados com a falta de outro cami- ihe qué 86 se alcangou com aquela verso de uma categoria de Esta- 4 que'sutgiu do fato constitucional, sobretudo da nova éérrétite de idéias e instituigBés due a Alemanha de’Bonn propunia redumir © consubstantiar na‘divisa do Estado Social E Exn Weimaf se proclamara ¢ abrira com os direitos'so% clo das futuras geragdes de direitos fundamentais. Em‘Béni'ée tampara a forma democratizadora de Estado que protegia, na liber- dade, esses direitos, fazendo assim de todo ininterrupta a gaminha- da té6tiea'‘pata’ se’ dleangar um grau superior de legitimidade dos ‘egimes que orgatiizam o poder na época contemporanea. De Estado Liberal ao Estado Social © Patno Bonavives & edigdo, 05.1996; 7 edigdo, 1° ‘iragem, 07.2001; 2 tiragem, 03.2004, ISBN 978-85-7420-826-8 OS CINQUENTA ANOS DESTA OBRA Dirgtos reseriados dest edigto por : “MALHEIROS EDITORES LTDA. Rua Paes de Araujo, 29 conju 171 CEP O653i-940-~ sid bade SP Tels (11) 3078-7205 Fax: (11) 3168-5495 URL: ware malheiroseditores.com.br e-mail: malheiroseditores@terra.com.br Composigao e editoracto eletrénica Virtual Laser Editoragio Eletrénica Ltda, Capa Criaglo: Vania Liicia Amato, Arte: PC Editorial Lida, Impressono Brasil. Piel nb PAULO BONAVIDES. DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL St edigio EIROS ORES x DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SCCIAL segundo, e.a que j6 por-vezes tem sucumbid®, de cair no totalitarismo, Re governo das masses.ou na corrupsso da plutocracia. Trata-se de ‘bm livro atualissimo e de maior interesse” (Casnat dt MoncAD4). “Sélida e brilhante monografia, que é, sem favor, uma forte afir~ ago de culturh furidica” (Qsvatpo Trucuein0). «0 titulo € de um livro de'Paulo Benavides, culto e brilhante professor da Faculdade de Direito da Universidade do Cearé, eserito Eom primor de linguagem, profundidade de doutrina e apurado sen Se eritico (..): Para terminar, trata-ge de urn livro dé rénome para 0 tutor, de relevo para a cultura universitéria do Ceard, de preciosa contribuigho para as letras juridicas do pais” (Jonqin Prott4). “iste livro, que & una j6id da literattira brasileira, dispensa co- mentérios, J& 0 tinha lido e'‘iuito aprendi nele, Agora, que © Sa~ aiva The assegura divulgagio nacional, serd obra de cabeceira dos estudiosdside direit®'pblicd” (Axrnepo Buzarn). “Coitribuigas digna da’ dtd bela erudicko e dds tradigdes inveja- vveis da éultura cearense” (Victor Nunes Leat). Pasgamog, em seguida, & figura do Autor. Dentre as alusdes ¢ de- poimentbs relatives ao valor, ao papel ¢ ao significado dagiilo que o Professor Paulo Bonavides, por sua produgéo juridiea e por sua ativi- dade no magistério tem representado_para o Direito no Brasil, ¢ tam bbém para a educagdo das novas geragdes que frequentaih as Universi- dades do pais, as mengdes subseqientes resumem tudo, dando 0 perfil {do publicista da obra cinqlentendria cuja reedigo comemorativa ora langamos, . “Ontem, o doutor Clovis Beviléqua, hoje a figura oracular de Paulo Bonavides, um dos maisres constitacionalistas brasileiros de todos os tempos que se singularizou por colocar o seu imenso saber teédrico no compromisso com ¢ seu tempo e com a luta do seu povo contra todas as iniqlidades” (Serdivepa Perrence, ex-Presidente do ‘Supremo Tribunal Federal). 4 “0 autor. é.um dos mais notéveis publicistas do Brasil contem- porineo, com-uma série de obras que o destacam entre os seus con-* femportneos pela cultura e significagdo-de suas teses. &, por exce- lénela, um doutrinador politico, tragando rumos para a sociedade de seu tempo (..). Professor visitante de universidades estrangeiras, qmericanas ou alemas, hé um sentido de apostolado na pregacdo I beral de Paulo Bonavides” (Bannosa Lima S08n0¥#0). 0 Professor Paulo Bonavides é considerade em Portugal como tum principe entre os eonstitucionalistas de lingua portuguese. (0S CINQUENTA ANOS DESTA OBRA xt ““A sua obra vastissima e sempre atualizada, a profundidade das reflexes que nela se encontram, o sentido de justo que nele perpas- sa fazem do Professor Paulo Bonavides um mestre conhecido, res- peitado e admirado tanto no Brasil quanto em Portugal. “Por isso, a Universidade de Lisboa concedeu-lhe, erv-ceriménia solene realizada em 22 de janeiro de 1998, o grau de doutor honoris tauisa em Direit (distingao rarissima que o pos a par de satios come Duguit e Miguel Reale) (.). Aeresce que a palavra e a escrita de Pale Bonavies que tabi fo jralea~ sf de eleadains qualidade literaria, Hum emérite ciltor da lingua” (Jonce Misano Qutededtico da Universidade de Lisboa). me “Dr. Paulo Botiavides'é o:jurista e cientista politico brasileiro contemporéreo mais conhecido na Alemanha (..). Tive hé alguns fanos o prazer de traduzir unr de seus mais itnportantes trabalhos tebricos e-publicé- ali em nossa mais conceituada, mais rigorosa ¢ mais exigente publicagdo jurfdica, a revista’ Der Stact [0 Estado’, _que normalmente'ndo publica trabalhos de cientistas estrangeiros Vives. Seu.trabalho.‘A:-Despolitizagso da:Legitimidade’ eausou na ‘Alemanha grande sensagdo (hat in DeutséRfand 2urecht grosses ‘Aufsehen erregt) e também grande admiraclo (auch grosse Wuerdi- gung gefunden) (..) Dr. Paulo é, ao meu ver, dos mais importantes cientistas de toda « América Latina (Jetet meine ich Dr. Paulo min- destens der bedeutendsten Wissenschaftlers der ganzen Lateiname- rikcas)” (Prizonicn Musiier, antigo Catedrético da Universidade de Heidelberg). “Desde que hé mais de uma déceda conheci o Professor Paulo Bonavides em Coiinbra, onde, a nosso convite, proferiu magnifices Ligbes na Faculdade de Direito de Coimbra, as nossas rotas acadé- micas, civices © pessoais t8m-se cruzado frequentemente. Seja em _coldquios, eja na apresentacio de livros, seja em reunides de conv vio, a impressao que se colhe deste homem é sempre a de um jurista eminente, um homem {ntegro e um cidadao apaixonadamente dedi- ado a-defesa das virtudes efvicas. apaizonadaments ded “Nao foi acaso que a ‘carta 4 um cidadso participative, por nés escrita, foi parar a0 posto de'edrreio'de'Fortaleza, ‘Aqui mora o prin- cipe dos constitutionalistas de Iingita‘portuguesa” (J. J. Gowes Ca- Notts, Catedrético da Universidade de Coimbra), sen BL rot Paulo Bonavides no aos uno de os mts release 1es maestros de la comunidad jurfdico-piblica y cientifico-pltt rearets Tats noe bide Gbradacente ews ees ms de eineventa viajes académicos que levo-tealizados a la préct- ca totalidad de esa drea geogréfica a la que tan préximo me siento, vat DC ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL Foi com reflexes pertinentes ao contraste entre o universo so- cialista de Merx em expanséo e 0 mundo morto do liberalismo que ‘ndo se deixava sepultar que o Professor Bonavides escreveu sia mo- ‘nografia juridica inaugurando uma nova artéria da democracia nas ‘esferas do pensamento constitucional Isso ele o fez mediante a construgio tebrica, em tese de citedra, na longinqua década de 1950, do modelo que a restauragdo democré- tica de pés-guerra, eoncretizada na Alemanha, lhe inspirars. ‘As constituigdes da democracia por toda a segunda metade do -séeulo passago, até aos nossas dias, consagram e, de iltimo, se em- penham em consolidar principios de constitucionalismo social que, pelo menos, atenuam a luta de classes ¢ os antagonismos da desi- gualdade Da importéncia dessa via aberta entre nés, com a aparigéo da obra cinqdentendria, bem como da poderosa influéncia que ela exer~ cou sobre as novas geragées formadas nas academias de Direito do Brasil, oferece sélido testemunho o eminente.e culto Minisira Se- rourena Penrice, ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal, no Prefécio & obra Direito Constitucional Contemporéneo ~ Estuios em Homenagem ao Professor Paulo Bonavides. Escreve o Ministro Penrence:* “Vem de longe ~ dos meus longinquos tempos de estudante ~ a descoberta da dimensio de Paulo Bonavides, que fiquei a dever, se nao falha a meméria, a adverténcia do querido Prof, Orlando de Car- valho sobre a exceléncia da tese submetida ao concurso, obra semi nal da juventude ~ Do Bstado Liberal ao Estado Social ainca hoje, signo da definigao dos rumos de sua obra multiféria. "A leitura inesquecivel de uma das primeiras edigies da itese constituiu, para mim e os de minha geragdo, 0 encontro alvissareiro de sélido embasamento teérico para a nossa crenga ~ quigé ingénua nos dias que correm ~ na viabilidade da superagéo do individualis- to desenfreado do Estado liberal burgués, sem perda da reafirmagio das liberdades fundamentais de primeira geragdo conquistadas para a humanidade nas duas grandes revolugées que o erigiram. ..) O intelectual Paulo Bonavides se imporia, assim, é:admi- ragdo dos juristas de seu tempo, s6 pelo peso de uma obra de rar envergadura, Sepllveds Pettence, Preficio 10 Ditcilo Consttuciong! Contonporineo ade? Sgn om, Pe ite rind Cope, pp. 1X eX 05 CINQUENTA ANOS DESTA OBRA x “Mas 0 aleance do respeito:que granjeou, sem forcejar, néo se restringe ao que mereceria por si.s6 0 pensador encastelado na refle- xo académica e na esmerada difusdo do seu saber, na cétedra e nos livros. . “Quem conhece a obrare'o magistério de Paule Bonavides! - tes- temunha a autoridade do douto Ganotilhod.- indo pode, deixar de re. conhécer, com,hurnildade, of limites, do.nosso,saber quando a nossa frente so perfila um dos mais, notdyeis cultores da: Juspublicistica em lingua portuguesa. Aos seus, trabalhos ~ I\icidas e informadgs ~ estf sempre subjacente um inegnibmnayal Imperative egtopivio ¢ ‘uma inquebrantavel implantagao,ciiada’.. sea + _ “Nele, por isso, separar 0. furtdado. culto,ao sfbio da yeneracdo dovidn ao eas malar fra valaguar& ncoaiilinge te Re mem inteitigo.”. oe Assinalando-o significado, da. ofeméride jurtdica, ora festejada, coligimos e,transcteyemos nessa sequéncia opinises e apreciagses a ivro'e sua ressonfncia, beim somo ao autor ¢ sua repu- tged0.no meio jurfdico nacional e internacional a TBéncia @ conjugagdo desges jufzos de valdt,id'de infe- Ait oleitor a dimensio do homenageado é'a éstatura da contribuigdo aus ele deu ao Direite Canstiusional ea Ciencia Politica de nosso teinpo eoimo pensador da liberdade, testis dq demodracia, guardi doEstadsdeDireite. —” op emesracie Goarige ‘Agora, vejimos a manifestagio' dos jufistas sobre a obra cin- ‘uentendria: “0 livro Do Estado Liberal ao Estado Social, de Paulo Bonavides; (.) 6 um dos mais sugestivos trabalhos, publicados em lingua portw. uesa, sobre a grande hite do nosso tempo entre o velho liberalismo do século XIX e as novas idéias socialistas; chtve a ideologia burguesa do sapitalismo e a socialista.ou comtnista do, quarto estado ow proleta- Tadd, A paz entre as duas correhtess6 pode fazer-se, segundo’ autor, ‘mediante o compromisso do chamado Estado Social, como um Estado “hi de'uma classe 56 da sotiedadg mias de todas as classes. O autor ~foca neste livro, brilhantemente, os principais aspectos que tem acom- “panhado esta lenta mals segura ‘ubstituicdo:do Estado Liberal pelo “Esta Social, analigando, ao mesmo tempo, cdm acertado critério f- loséfico, as respectivas ideologias e' mostrarido os perigos que.corre 0 cpssae fs Coste? Catto, “Ciitzasgo ds Dito Cénstinidoral ou Cinstitucionae aia Die ii bas rae Wills Cuca Fito (Org Diss Coto Yl Etre heaps Pl Bohl, 1 Mahe Etre 00; p08 xi DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL sino que es, de-igual forma, objet dél mismo reconocimienito,intelec- tual y académico en buen ntimero de paises europeos (Portugal, Ale- mania, Italia y Espafia son un‘buen ejemplo de ello, por s6lo citarle algunos). “La obra cientifica del Profesor Bonavides no sélo es de una ex- traordinaria, y poco comin amplitud, sino que, :la par, es de un reconocida rigor.cientifco, Su transitar por los-distintos campos del saber, siempre con ponderacién y equilibrio, al margen ya de rigor indiscutible,justifica, a mijuicio, que pueda considerarse al Profesor Paulo Bonavides como-un humanista de nuestro tiempo, califcativo. al que pocas personas podrian acceder: “En. Espaiia, la-obra del Prof.-Bonavides es recensionada, co- mentada,-leidaly seguida.con intergs por amplios sectores de la co- ‘munidad cientifica,ala que pertenezco.. | “Pero resultaria. incompletaila vision que.del:maestro Paulo Bo- navides'tenga se no. subrayara su extraordinaria‘congruencia per- sonalentresus.tscritos y.su aétuacién. Paulo Bonavides no.s6lo ha; defendido y defiende un marco:constitucional asentadé en los valo- res y en los derechos.de la persona en sus muchos libros y artfculos. Su trayectoria-humana, profesional, académica y cientifica es enor- memente coherente con sus escritos. En Paulo Bonavides siempre he visto un luchador en defensa de la democracia, de los derechos humanos y de aquellos valores constitucionales (dightdad, libertad, igualdad, solidaridad...).que fundamentan la cohvivencia civilizada en una sociedad democrética, Siempre me ha impresionado (y lo co- nozco desde hace ya muchos afios) su ettraordinaria coherencia y enorme honestidad intelectual” (Francisco Fervanoz Seoaoo, Cate- dratico de Direito, Constitucional da. Universidade Complutense de Madrid e Diretor do Anuario Tberoamericano de Justicia Constitu- ional). "E que honra é para a Universidade de Lisboa e sua Faculdade de Direito 0 poderem receber como seu Doutor honoris causa esse Homem do seu Tempo, esse Homem do seu Universo, esse Tomem da mesma Familia cultural.queé o Senhor Professer-Doutor Paulo Bonavides. (...) Hoje, chegou.a gratidao da Faculdade de Direito e da Universidade de Lisboa ao Senhor Doutor Paulo: Benavides, Agra- decemos-lhe o ter sido e confinuar a ser.um homem de seu século, intervindo nele, decifrando antecipadamente o,seu curso. “"E porque Ihe agradecemos tudo isto, queremog que se junte, aos doutores honoris causa.que, ao longo dos anns, nos foram enobresendo. Temos a certeza de que, 1é novalto, nesse colégio eterno dedoutores = longe das vicissitudes do imediata -, uma satisfagio incontida se (OS CINQUENTA:ANOS DESTA OBRA xi espelharé nos rostos de um Duguit, de um Josserand, de-um Lam- bert, de um Politis, de um Sarichez Albornoz. Quem melhor do que 0 Senhor Professor Doutor Paulo Bonavides para exprimir a rique- i requiatude de pensamento, exemplo de criatividade e de incansével juventude eterna ao servi. 0 do Espirito?” (Marceto Ressio ve Sousa, Catedratico de Direito Constitucional da Universidade de Lisboa). “Paulo Bonavides:& um dos mais sotéveis constitucionalistas, historiadores constitucionais e cientitas politicos do Brasil e de toda 1 América Latina. Ganhowalta reputagio no.somente na América do Sul ¢ na América. do Norte; mas também:na Alemanha, Itélia, Espanha‘e Portugal, mercé de seus trabalhos jurfdicos, (...) sua obra fundamental Histéria Constitucional do Brasil transpés o Brasil e se fez mundialmente célebre (...). Com freqiéncia tem sido considerado o fundador da Oiéncia Politica no Brasil” (Kiaus Stemn, Catedraties da Universidade de Colénia). 1, _ "Paulo Bonavides é um:dos maisvemjnentes mestres da ciéncia Juridica nacional, salientando.se, além disso, como.uma personalida- de de,renome no estrangeito pelo seu saber especializado no campo da ciéncia politica e dp direito constitucionsh. Pertence a linhagem dos grandes juriscongultos brasileiras, que tém glorificado o pen: mento juridico do pats..B de relembrar que o Brasil tem tido juris- gonsultos de eminéncia, entrecles se destacando Clévis, Bevildqua, Djacir Menezes, Teixeira. de Freitas, Tobias Barreto, Rui Barbosa, Joko Mangabeita, Pedro Lessa, que ge apresentam como pensadores que honram e glorificam a cigncia politica nacional. “Paulo Bonavides continua essa linhagem dignificando a cién- cia juridiea, do, pa(s, que concretiza. através de livros, eonferéneias, aulas, artigos de,jornal, todos representatives de uma inteligéncia privilagiada que conquista q admiragio geral” (Puro Fenazita, Ca- tedrético da Faculdade de Direjto do Recife). “A.leitura de qualquer trabalho do professor Paulo Bonavides é sempre um regalo para 0 esp{rito por duas razdes: a primeira porque © seu contetido 6 carregado de sabedotia, traz muitos efiginamentos, serve de aprendizao; a segunda por sor escrito em torneado ver: nécul, com un éstllo ao mesmd tempo simples, terso e castigo, sem ostentccao Via wigerdate vie “Foi com muita honra e encantamento que redigi este prefécid 20 livre de’umh ‘de togios maiores eonstiticionalistas contempora: neos, da linha de’ Jodo Barbalho, Pontés de Miranda e Aleing Pints Paleo, para s6 falar de alguns mortos. Como 0 notével advogado, xv DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL jurista e politico francés Henri Torrés, Paulo Bonavides mostra que se conserva grande professor e,cidadao, que guarda intactas sua for- a de trabalho, sua resisténcia a fadiga, suas indignagGes e céleras civicas: ‘cumpriu a cada dia uma proeza muita rara neste mundo: continua fiel a si mesmo” (EvaNoRO LNs # Sitva, ex-Ministro do Su- premo Tribunal Federal) “Suristé emérito, constitucionalista'de larga contribuigdo a0 es- tado de direito democratico, um brasileirs jue j& lecionou, por perio dos letivos; em Universidades da Alemenha ¢ dos Estados Unidos; {til estilista do idioma pétrio.e no s6.ho.campo das letras jurt cas; historiador, jornalista'e orador que prende o leitor e faz atento © auditério,por:sér forradoldo saber associtdo ao.desassombro do di- zer, Paulo Bonavides é, som divide, hoje, um nome internacignal” (J. M. Ortion-Sinou, Fundatior @Presidente da Academia Brasileira deLetras Juridicas): v.00 ° “Paulo Bériavidas' tin dos Furistas ‘tiais notdveis do Brasil, néo apenas da atuilidade, mas dé todos os temrbu8. Sua produedo densa, de grande rigor‘eientiG e oflginalidade; foi fator decisivo para a forma- cdo de uma geraiaorde-estudiosds e penstdores brasileiros, na area do! direito constitueional; da flotofa e da ciénsia politica. ‘Seu pioneirismo, lideranga e respeitabilidade sioncontestaveis, Paulo Bonavides jamais {oi um repetidot deritico de discursos-convencionais. Justamente ao re- vvés, em lugar de’ percorrer os cathinho's quis existiam, criotniovos ru- mos #'levow sua visto brasileira e progressista do dircito e da vida a todos os dominios sobre os quais projetou seu talento invulgar, : “Mais do que um jurista, o Profestor Paulo Bonavides é um humanista devotado a0 Brasil, om uma perspectiva critica e cons- trutiva dos problemas nacionais, Nac é:possivel refletir acerca de fondmenos importantes has cifncias sociais, da interpretatde cons- titucional a globalizagdo, sem percorrer seus textos insuperéveis Um homei sintonizado com o seu tempo, né fibstncia e ndo nos ‘modismos" (Luis Roserro Bannoso, Jifisebnisulto). “Nas minhas Tides docéntd8\Y parlainefitatés + ao longo de qua- renta ands de vida piblica ~'Sémpre recbiti aos ensitarnentos do Pro- ‘ontides na sua exuberante obra no eartipo’ do’ dibiteeonstitiicional. Nao'ss pela derisidade, come pelo fio condiitér Aledstico te sua’ produedo, dela constaiido ainda os monu- mentais Textos Politicos da Histéria do Brasil, ei 9 volumes. iG Minato de Estado da Justicaja- ‘shlaBoragdo que Ihe pa solicitada, sem rificio peadoal pelo tempo dep- (OS CINQUENTA ANOS DESTA OBRA xv pendido, Ihe trouxesse alguma vantagem pecuniéria ou resultasse em dnus para os cofres pablicos “°B, por fim, na Assembléia Nacional Constituinte — da qual fui eu Relator Geral - 0 Professor Paulo Bonavides era o Mestre in- cansével, sempre atento no apontar caminhos e inditar solugbes" (J. Beenatoo Casrat, Relator da Constituinte), Finalizando a série de referéncias ao homenagedo, trasladamos 08 textos subsequentes da oragio com’que o Dr. Reanik:00 Oscar D4 Castro, ex-Présidente do Conselho Federal da Order: dos Advogados do Brasil, recepcionou o Dr. Pavto BONAVIDES, por ocasifo da entre ga da Medalha Rui Barbosa, em nome da entidade, durante a ceri- ménia de encerramento, em Fortaleza, da XVI Conferéneia Nacional dos Advogados: ‘Ne constelagfo de nomes augustos que formam e honram o fr- mamento jurfdieo do Brasil, terios hoje a assdeiagic de dois astros de primeira grandeza. “Um 6 Rui Barbosa. 0 outro, Paulo Bonavides: “O primeiro, filo dileto da Bahia, gigante da cultura do Direito em.notsa pétria, inspirador de,geragées'e orgulho ac Brasil em ter. ras daBuropa, ” “0 outro, nosso homénageada neste’ dia de glérie para a Ordem dos Advogados do Brasil, 6 discfpulo e herdeiro das melhores tr digées de Rui; modelo de professor e de edueador, de advogado e de cidadia | “8 momento de rara felicidade este que.hoje vivemos, quando 0 nome de Rui Barbosa, que ajudou a formar Weonsciéncia juridiea de Paulo Bonavides, como a de todos nés, brasileiros, vem pousar sobre seu peito, em forma de medalha de honra, que leva onome do gran de tribuno da Bahia, . “Se Rui Barbosa Paulo Bonavides sempre estiveram juntos em sus obras de paladinos do Direito, dagui porvdiaate essa unig se torna ainda mais firme e permanente, a partir da feliz combina gio entre ojurista de ontem, que empresta seu glorioso name a uma homenagem, ¢ o jurista de hoje, que a recekje com todgs os, méritas 9 quais sobram no cultor da teoria e da prética do Direite, autor do ioral volume CincisPaltze~ publicdo em 1857 «jf na sua cima edigio -, que a Universidade Federal do Cearé homen com o Prémio Clévis Beviléqua ngeon “Nio 6 este um galardéo que se distribua a mancheias. “A nossa entidade tem sido parcimoniosa e criteriosa na sua atribuisao, néo por falta de merecedores, que felizmente os temas XVI DO ESTADO.LIBERAL AO ESTADO SOCIAL eni.abiandasicia em, siossa-pétria, mag.pelo, rigor com que a Ordem ddos Advogados do Brasil se cémporta, tanto em reveréncia ao patro- no.que batiza a comenda quanto ao agraciado que a recebo. ‘Basta lembrar, que, antes-do:professor Paulo Bonavides, o pré- mio ‘Medalba..Rui, Barbosa’ ~. eriada.em,1957, extinto em 1961, ¢ restaurado dez anos depois ~, foi.conferido, nesses querenta anos, ‘a apenas nove eminentes brasileiros,.cpios, nomes declina com res- "de algyns, comssatidade: Heraclito de Sobral Pin:o, em 1973; ia. Magalhdes, om 1975; Nehemjas Gueiros, em 1976; ‘Miguel Seabra Fagundes, em 1977; José Cavalcanti Neves, er 1980; Ribeiro de,Casiro, em 1982; Augusto Sussekind de Méraes Rego, em 1984; Evandro,Cavalcante, Ling e Silva, em 1991, ¢ Berbosa Lima Sobrinho, em 1995, + “Hg cineo.qnop, partante, naa gutargava a nasga eniildde o seu mais,elevada,galardap,.que Bae Soran, spay, todos 2 titulos, ao eminente professor e jurista Paulo Bonavides, nome exponencial de nossas letras jurdicas e personalidade de destaque na cultura brasi- Feito ésae Balaitgs dd audgd's de papel do Professor’ Pato Bo- aviDES no eendrio juridico do Pals, stgundo testemunko das gran- der ores do Dirt que esp eee manifstaran no Brea ¢ no Exterior; reitahbs'ainide'reféhiirque e384 sendo programado para Ba ide ‘agosto dp 2008, & Feullzate, ts ‘Natal, do I'Congresso Brasileiro’ de Direitdé' Proc8sio‘Constitucional, por iniciativa da FARN (Faculdade Natalerise para o Desenvolvimento do Rio Gran- de do Norte),'eii‘horhéntagem aquele Megthere, especialmente; & sua obra Do Estado Liberal do Estado Social, # qual, segundo consta-da convdcagio, “o iniciou na eétedra de-Diteit‘Constitucional da Uni- versidade Federal do Ceara’. vo ‘A Malheiros Editores, hi quase 20 anos divilgadora da maiér parte das obras do Professor’ Pauto'Bonavibes langa, com jtibilo, essa tdigdo comemorativa dos 80:anc8 doivro Do Estado Liberal ao Es tado Social, vademecum de’gerégdes que o compulsaram’ nas esco- is juridieas do Pais'e quéy'médiante'a leitura dele; fortaleceram a renga nos printfpios da democracia © alentaram‘a fé nos valores da justiga social. vse “Ao redor de dois pontos sandentes, girs toda a vida do ginero humano: 0 individuo e a coletividade. Com- preender a relagéo entre ambos, unir harmoniosamente ‘essas duas grandes poténcias que determinam o‘eureo da, hist6ria, pertence aos maiores e mais érduot problemas. com que a ciriciae a vida se defrontam. Na ago, como, no pensamento, prepeners ora un, ora ou dene e “al Brepnke snd sum de sich das ganze Leben der Menschheit bewogt: Indivigaum © und Gesamte Das rehtige Vernal beider cu efssen, die belden gross Macchi welche den Can’ det Geschichte Eesimmen, Rarmonieh 20" veratigen fctoen ns den gression tn nfergen Proviesar Sc Wisencha snd des Uber Bal cbervechert det tls bald der ander Por in Godan ud Tt” Géorc Jeune, Ausgewashite Schriften und Reden, ester Ban, Brie BT ep BS “ SUMARIO PREFACIODA7* EDIGAO ... PREFACIO DA # EDIGAO: PREFACIO {2:00.82 Cugtnuo I-DAS ORIGENS DO LIBERALISMO AO ABVENTO DO © “ESFADO SOCIAL: © problema da liberdade @ do Estado como’ problema de resist 20 absolutisma “ O direito natural da burgutsi revoluciondtia investe no poder ¢ tereira estado... . Da consolidagto do Estado liberal ao comego de sua transformagi 42 A separagio de poderes, dogma do constitucionalismo da prime ra fase (Locke e Montesquieu). oe . O Estado libera-denicerstco ruta de uma contradigdo doutrin Vierkandt eo pensamento politica alemio Critica ao liberalismo eadvento do Estado social. ‘Castro Il- © ESTADO LIBERAL E A SEPARAGAO DE PODERES A queda de um dogma, . Importinciae jusificagioihistérica do Principio da separa de oderes. A burguiia eo tunfo do iseraliomo na A separa de poderes ome tna delimisgto do pder 5. Os perealgos da separectio, 5. Corretivesa técnica Separatist Jellinek ea preservacia da unidade do poder ~~ Separagio relative, com supremacia do Legislative,(Bluntschli) 4 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL 9. Ocrganicismo como doutrina de reagio e combata a liberalismo 10. Critica as teorias organicistas. 11, Tendéncia do constitucionalismo contemporaneo para estreltar 2 colaboracio e vinculaglo dos poderes... ve — Certo Il -O PENSAMENTQ POLITICO DE KANT 1. A flosfia do Estado de Kant 0 debate em tomo de sua importineia.. 89 2: Princials fas da Blosofa kantiana oo 3: O maior filésofo da Idade Modema etaves de todos os tempos 94 4, Elosoia e métedo, segundo Kant. vee 5, Btica, face Idealigtae renovadora do sistema 6. Dualsmo na lof de Kan com a supers metan edo ‘empirismo 7. Oproblema 8. Direitoe Estado... 9. Opacto social. hoa 10. A passagem do “status naturalis”20’status civils”, mofnento deisivo para o aparecimento do Estado e a garantia do Diréitosenwcennn IID 11, Aoutina da separstodepoderes¢oslogime da. ‘ordem etatal 113 12. Kant fl6sofo do liberalism and 15. Estado juridio “versus Esta rr 14. O panegirco da liberdade... Ww CCasirao IV -© PENSAMENTO POLITICO DE HEGEL 1, Pantelsmd edialtica Hegelian ns 2. A monarguia prussiana como realizagio do absoluto uma contradiggo de Hegel mi 3. O fildsofo ea Revolugdo Francesa a2 ‘ednlutn de Pato esse rigid Estado 5: Doutta exaa do aos em qu» Eopn rere 6 Hegel, fideo do totalitarismo?- 7-Superagdo dojusnaturlismo da vlhs teria absolusta 2 8, Poetalados hegelanos no: maemo pensaieniy poles vreorn” aocdizeito natural como salda para rie dalibetdade thodema 133 ‘9. Hegel e a separagdo de poderes snows 1 Oranidono eta SUMARIO 8 (Castro V- A LIBERDADE ANTIGA E A LIBERDADE MODERNA. 1. A crise da liberdade madera... vs so 139 2. Germanismo, helenismo e reacionarismo 3. Benjamin Constante o cult da liberdade na, “polis” grega 4. O antiindividualismo do Estado-Cidade ou a indole coletivista das comunidades gregas 46 5, Conheceu a antigiidade direitos fundamentals do Homenn? snow 153 6. Opensamento de Miguel Reale so 160 7. Aliberdade em Roma, segundo Jehting. 161 8. Uma reinterpreted ExtidogregNietschee 0 Comego da Tragééi O antiliberalismo nas deutinas autoritiias da liberdade (Casto VI-AS BASES IDEOLOGICASDO ESTADO SOCIAL NNN De Rousseata Marx... 2 A originalidade de Rousseau 3, A limitagio do poder, tee mitt doliberalsms,¢ a vepea democrtica de Rousseau. a 165 16 167 4. O pessimismo de Rousseau e Marx .. 169 5. As trés posig6es fundamentais de interpretaci® da obra rouss¢auniana 170 6 Avalon generale” es recupeagio do otniamo “amt 7. Do pot, en Rousseau ao eto em Nar sua teria do Estado 8 Excl oContco Soil ecessarimnenteO Capital? 9. Da conrbuigfodoutriniri de Rousseau e Marx ao mademo Estado soil : 10, Rousseau ea evolugto democriia para osodalsmo wm “173 175 178 (Cariraio VIL-O ESTADO SOCIALE A DEMOCRACIA 1:0 mademno Estado socal 182 2. Distsgfo entre Estado social e Estado socalista 3. Osada socal como frat da peas ideolgia do soto liberalism. 4, As massas no Estado social: oimismoe pessimismno dos socidlogos ~ 191 wie 6 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL 5, Masifigacio e nivelamento (SolmS) wn 19s 6, Amassa como pressuposto das ditaduras (Grabowsky) .. 197 7. Aimportancia da massa nas democracias i 19 cA politizagio da fungio social pelo Estadoicomo meio de agravar a dependéncid individuo, desvirtoar a democracia ou consolidar 9 poder ttt nin 9 Consagragio do Estado socal no contitucionalisio demacStico 202 Cueto VID- A INTERPRETACAO DAS REVOLUGOES 1: Nao basta fazer a soclologia das R vous urge também interpreté-las. 2, Tesesobre o deflagrareo destino das Revolugies 3, Revel» gp de Eta: ay sonseg iri ireversive de uma ree 0 Estado s0dial foi, no Ock 4, Nema Revlupto Francau se legirtou pelo teva, nem a Revelugo Ruse pela dtadura do proletiadoe sua purge. 210 213 [REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS, soe AT INDICE ANALITICO. i ON" Do zstado liberat ao Estado socal, éstampado em fins da d6- cada de 50, foi.9 primeiro livro que se esereveu no Brasil sobre o Estado Quando veio a luz, 0 universo juridico da época ou ignerava em srande parte, ou ndo percebia, ou até relutava.em admitir, 0 sentido © 0 aleance,teérico da expressid, por nio dizer que no comungava com a formula de compromisso cunhada pelos humildes ¢ deslem- brados e desconhecidos, autores da Lei, Fundamental de Bona. Souberam eles, porém, com “ama loeugio breve ¢ ¢ de rara conciséo, formular em 1949 « cléusula princi reitos da segunda geragio. Herdaram-ne-do influxo weimariano, controverso e.casuls- tied, que, partindo da Alemanha, se jrradiara pelos, paises consti- tucionais, empenbados,em renovar, reformer ou reconstrair seus modelos .de Constituigao. Mas malograram.por. obra dos abalos ideolfgicos dos anos 20, Desgracadamente, as, Cartas Magnas desse tipo sogobrafim, pos- to que iag.hajam vingado. . +s0- mundo teeotheu. por-esse. modo,da:fonte-gerthdnies, a po- derosa sugestéa:de:um iconstitucionalismarde nova dimensfo, que intentava,: por. via dag cartas sociais de, direits,.apaziguar. rela- cies; juridcas. at Perpassadas dos litigios dq, capital Dip, lida chevigr sid ‘precuante os eonatiaisten mea canos:de-1017; mas a fama-e o:prestigio da novidade intredutéria 8 DO ESTADO LIBERAL AO FSTANO SOCIAL ficara com 0s republicanos de Weimar e sua efémera Carta de 1919, tdo efémera e instével quanto a nossa de 1934. ‘Toda vez que versamos 0 tema pertinente ao Estado social, ocorrem-nos reflexses sobre a natureza dos entes ao redor dos ‘quais gravitam os fins sociais da pessoa humana: o Estado e a So- ciedade. De ambos, a liso da préxis, da historia, da experiéneia, do conhecimento, da ciéncia e da observagéo, nos consente inferir 0 contreste das duas organizagées. ‘A Sociedade € muito mais; nomeadamente em peso ¢ dimen- sio, Porque'é 0 valor, a legitimidade, a Constituigfo, a vontade popular, a cidadana, «justia doe principio, a sdberania do pro, 0, dieita ¢ itos, a igualdade e a liberdade, enfin, Alas sak cb Se do pluralismo, ou seja, um gine ro de a natural que, ao baixar da esfera abstrata © meta- fisica aos conceitos de valor ¢ principio; busca positividade, sfir- miiighc 6Presdnbl eo" eotididhoMta' Vidas do eto, “ > "he Sociedad® tent’ conto “bitrate “Otte feta, outa ida: a injustign das desigualdades,'a batalha dos egofsmos, o'téa tro "Wis ambigbes, 0 eepayo"féchado dos privilégios, a competigto dé clisses;' 0"jdgo' de interests, 'as.-contradigées,-0s agravos, as [Btlidaldtstondusides’¥s aferas: aetna, isto 6 do-traba- Iko:e°Mo eapital: aE ares 0 Bitado ‘nto “tard” godlollda’ & Bicietfadé'com’ 6 poder qie’a subjufa, com J: arbittiov que’ a -desfalege, com a onipoténcia que Ihe quebianta a'resisténcia, oii 6 desfotistnd qué a-dissolve. © liberticida, o tirano, 0 ditador, o°ehécida tém por domict- lio o Estado, ndo a Sociedade. Sujeitam’ésta @rufna e & servicio. © descompasso entre governo ‘¢ cldidao" dpsinala 0 déclinio da autéridade'e do eousenso, a'pai'da diab hibida"do poder cbm a lei, que 6, assim, regra e no principio; nottia @ nfo Valor. ‘Téve 0 Estado social séiabéyen Hol ’patses do cHainiadb Pri- ‘miéire-Mundo, logo apés a Seiuinda* Grande! Guerra, servit’ de ‘uma doutrina constitucional cuja inspiratad'tiaior se-ciffavi’ na justigayna igualdade, no’ estabelecimento; de: paz: social, na ‘cessa- ‘ea0 dis conflites de classo;inatmidangi-hogeimbnita:que-se tras- Tada do:prinetpio da legalidade’para principio da‘ legitimidade, das rogias dba-cédiges'teve"oF Neguitieitd & auro- ra dos principios ¢ das Constituiges. Em termos“rigbrssamente doutrindrivs) veorre-o primadovdo''prineipio:’sobreira ‘regra, da Lonstttuigao sobre a lei, do:direito sobre‘ norma; da justign so- PREFACIO DA 7* EDIGAO. 9 bre a seguranga; esta em sede.de razio de Estado, que’é a instan. cia de abuso onde se absolvem e se canonizam os atos de: forea dos governantes desviados do bem comum. © Estado Social, pondo-se nessa linha, motivou ¢ inspirou indubitavelmente a eriagfo contemporénea de um novo direito ra regido te6rica, com fundamentos principiais, bem afim as su- gestdes hermenéuticas de natureza concretista, escoradas no Princtpio da coustitucionalidade, que é, em sua esséacia mesma, © prineipio da legitimidade. “Daqui 0° denso teor: legitimate, qualitative hierérquico desse novo Direito que, atrelado ao campo constitucional e' No- jva Hermengutica, pOe abaixo, em certa maneira, a’ Dogniética Feldssica, bem como algumas categorias conceituais da velha es- cola positivista, ultrapassada: nos rigores. de seu tradicional :for- malismo, ‘Do Estado liberal'ao Estado social, sobre ser, portanto, a pre- lego: politica €-filoséfica deum direito positive instaurado now- tras ‘bases, que nao so as dovindividualismo minguante; mas as da socializagao ascendente e que trouxe @ altura constitutional, durante a segunda metade do século XX, os direitos fundamen- tais da segunda dimensto, 6,.do mesmo passo, uma espécie de iniciagdo, introdugéo ou propedéutica tedrica a democracia parti- cipativa, qual-a esbogamos em nosso Curso de Direito Constitu- ional, na coletanea Do Pais constitucional ao Pais neocolonial e em livro mais recente, por nome Teoria Constitucional da Demo- cracia Participativa. Conjugedos numa clara e manifesta unidade axiolbgica for- mam, consoante jé assinalamos em distinta ocasido, uma espécie de trilogia da liberdade, da. justiga-e da igualdade Com efeite, todo projeto de sociedade aberta e constitucional, consagradora da democracia.participativa,.fica inexeqUivel:e fada- do a0 malogro, se desfalcado desses valores ¢ principios superio- res, ali exppstos. ...., ier Tem, de° dltimo, 0. Estads: socialinexo direto .gom vas crises que’ a0 comego-doséculoXXI-flagelam: 0 Brasil, Basta:a esse res- peito ligeira reflexio acerca-das ‘comogbes do presidencialisimo, aauslap que aeompanhem departs ante. dasse gtneto de; Esta (Ou) formuldda-acutros erm faxen-impossvel estahtlecer fa sociedade participativa daquelé Estadovsociat’ A verdddé}ierim 10 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL plantagio entre nés de um-Estado.social & muito mais dificulto que na Europa, onde desde muito floresce ele em varias repdbl as constitucionais do continente. No Velho Mundo o retrocess® neoliberal fere tao somente a epiderme da sobredita forma de orgenizagio do poder, ao passo que nos paises da periferia.a lesto do tecido social é bem mais grave-e profunda, _ Compromete, por conseqéncia, o advento de quadros insti- tucionais propiciadores de um sistema que incorpore em suas bases: os principios de justiga ingénites Aquela modalidade de Estado, oy ‘Sto princfpios objetivamente volvidos para concretizar 0 dis- curso -declaratério de direitos fundamentais de quatro dimensées, jd teorizado pelo constitucionalismo contemporiineo. ‘A dificuldade mais espinhosa & concretizagdo desses direitos procede, como se sabe, da conjuragdo-neoliberal do capitalismo plobalizador © sua méquina de poder, que, domina mercados ¢ fanula,-com-pactos de vassalagem e recolonizagéo, a soberania dos paises em. desenvolvimento, Capitalismo de agressio, ¢ ele o inimigo miais feroz do Esta- do social porquanto percebe que este 0 ataca e organiza a resis- téncia dos povos oprimidos. . (0 Bstado social, nés0 vislumbramos hé cinco décadas, e 0 te- mos ainda por chave da-crise institutioiial deste Pats. Mas ele £6-funciondré’se o pevfilhtirios nas: instituitdes:poli- eas ao lado da democracia participativa, da qual 6, dé necessida- fo, na teoria, o predmbulo, e.na préxis, o érgio de execugio. Com 0: Estado social se positivaii os direitos fundamentais das Constituigdes progressivas:e libertérias. © * ‘As consideragSes acim expendidasicertifieam pois a’ relevan- cia atualizadora desfrutada’ pela temética deste livro, :agora. em sétima edigdo, > Vincula-se ele, por inteiro, a um pensamento abjuratido, jamais oblitetandoou ‘apostdtando-idéias, valores: prinefpies exarados numa linha de -eoneridadéespifitual inabdicdvel.. 5 wth PREFACIO DA 7 EDICAO. a Que munca nos falte, assim, jufzo ertico, espirito de anslise, energia, conviegio ¢, sobretudo,”consciéncia ética com que sus. tentar Propagar e defender aquele brevidrio de mandamentos da democracia e da justiga, que 6 a filosofia mesma do Estado so- cial em seu consércio com a soberania participativa do povo. Como se infere dai, a politica passa pela ética. Sem ética no exercfcio do poder, néo ha obediéncia nastida ou derivada do res. Brito Ie. Hid coagfo e modo, NAo hé tampouco direito na soie lade, mas arbitrio. Nao ha justiga, mas forga. N&o ha autoric nas opweseas, igé | rga. N&o hé autoridade, » Dessa -diregd ou ttiltis ~ tornas assinalar rt mos a assinalar - o legitimo Binds apr pat on lg gine prineipios b néo em decretos-leis; porque tem por si a legitimidade da. letra constitucions| einéo unicarhente a legalidade dos cédigos ou das regras -alterdveis ad nutum dos. legisladores de ocasiao, sem mandato’ popular, semlegitimidade, sem respeito a soberania, Senhores de um decisionismo refratério & ordem juridica ao Fegime; sto-eles, no caso'do Brasil,os autores de mals de qua tro -mil-medidas provisérias,’que desarticularam o Estado de'Di- feito atrpelaram as formas represetativas, feriram o dignida- ie das casas congressuais-~ desapossadais da func&o legiferante, invadida e'usurpada — desafiaram a independéncia dos tribunais, rompetan 0 saul, a divisto, a hariitnia’& a paridade consti- rucional dos poderes, enfirh, atentaram’ contra ‘a i ie cana’e fedérativa do sistema. ~ ssstnca republ Estado social, qual 0 entétidamos; & déiocracia, nao ‘ode nem medida de excegao, Sees ier nfo 6 desre: Estado de Direito, ‘nado ¢ valhiac i e do 6 valkdcpite de ambigdes prostitut- das ao eoatnleio dos poleres« dos andaton s ero néo é trafic de influéncia. que.avilta valores sociais. E poder responsével.e.néo entidade publica violadora dos in- teresses. do:pais‘e alienadora-da coberania, Nelasore dos is Estado“sovial, ‘por'-derradeito;"\é “avidentidade da a Estado’soc 6 ident nagio m mia; éxpreésa por uth ‘conistitieidHalisixe le“'libertacao, oor um igialitarititio'de democrat 4 fudifalisimo de salva- guarda”dos ‘direitos *funifa ” Em putras palavras, Estado social é efalid partitipativa’ que 2a a jaoa exec ag ek PREFACIO DA 6 EDICAO : «tic, iguatine ado social nasceu' de uma inspiragio de justica, igual de ieee ts mae sugestive do tela conatiicoral ee nelplo governative mais rico emigestacho no universe po oo cary rogar meio ntervenconitas para etabeecer 0 equils io nae ’ios bene socials, instifulu ele 20 mesmo pas wcarepie Se a St one Ttoriesa uona concepeio democratica de poder vineulada pr 3 direitos fundamentals, conee- teiro cistinta daquela peculiar ise subjetivintas do asst mn objetiva dos valores que o ser eomowoda paz eda justigana do. Teses sem lagos com a or coneretiza sob a égide de um objetivo mao sociedade. ‘feito, essa espécie de Estado socal, humanizador do po- er aes es fandafentossclis da iberdade,democrético na esséncia de seus valores, padece, de timo, amence etal i conser do das respectivas bases e conguistas. Esmaecé-lo e de} TERT part programaicn dao trmulas neoliberal propagadas ‘ertrnome da globalizacao e da econor mia de mercado, ' emo queda de fronteiras ao. capital migratério, cuja, expansio © crcl 6 0 tu dap sian vel ara decretar e perpetuar a ja ems elm conc desprotegidos, sistemes que demotam nas es rasdo Terceiro Mundo. * sa potas “Tem esse capital internacional yredatéria sobre o ‘bra dos pattesem desenvolvimento, porquanto gia de maieira especulativa, provoca crises, abala'a fazenda publica, desorgani ay ‘ikernas, derruba bolsas, dissolve economias, esmaga Rereados. ° PREFACIO DA.6 EDIGAO 13 As correntes déshationalizadoras navegatn todas no'barco do neoliberalismo: setus-axiomas inipugnam-o Estédo, a soberani nacionalidade, ¢ os éxércitos, cuja existéncia proclammam ind fazem como se tudo isso fora ansictonistio. Nad‘obstante,-selyeve- lam elas impotentes.para arrebatar o futuro as nacionalidades cons-_ tituidas ¢ calar o-Animo das-aspiragies:nacionais, que,confinuam, sendoo sangue da unidade decada organismonacional. + >. Demais, 6ijuees Shdbliberilisino quea regionilidadé dos ¢on- Atos militate 168 edinpos e rhonanhas balednieas da-ex-lugosl4- via, a par dos sobressaltos étnicos na Europa das Refides, lhes traz © desmentido das’ suas expectativas w prognésticos; bern assim a adverténcia de que'a nagdo, exprimindotumaiconsciéncia de identi- dade, 6a suprema vocagdo de'podér legitime-quie conduzo destino : dos povos Sobie ésses valores't © neoliberalismo.atéveair exanimeno vazio einconsisténciande'suas formulas idéias, ‘Cabe-inos assirialar, por igtial,’quie 0 néoliberalismo; invéstiga- do desaltas suas ratzése aférido mr sua niatireza, ado & endqaxnto forma’ politica regta de pderoW sistenta doutvindrio, mas to-S0- nieite aspecto'Secuhdario'e tributério da préptia eategoriathistni: cide organidagte dp Estado, que'chegou a'ium desraumals cleva= do de suas transformagées na'Segurida metade-do século XX pas- sando a'dendminar-se Estado social. © éonifromisso désse Ratado com a liberdade se fz irttiate- vel; a liBerdade éitebidida aqui ‘gm’ seu significado positivo, este que os liberais nunca compreerideram e nunca haverdo de compro ‘ender por hes ferir interesses econdmicos imediatose inarredavels, (Ora. significado positivo da liberdade, distinto do de Jellinek, que era o de um status negatious, néo pode deixar de ser 0 de sua con- spcdo como direito ental provido de dupla dimensio tec- rica! a'da subjetividade e a da objetividade. Desta ltima se achava desfaleadoo conceito do sAbio alemao. Fora desse angulo da bidimensionalidade e da associagio como Estado sotial ‘tériazmente recusada pelas posigdes neoliberais con tefipdtatiéss, a reflexdo' do" nesliberalismo, sobre ser retrocesso, Atta Conta’o dosenvolviments dIberdide mesma, cue iets “ filosofia’kantisti!'em miatéria politica, é 0 éoroamento doistri- nirio do liberalimo e se enquadra, indiscutivelmente, na fase jé adiantada desse movimento.:Exprime a maturidade por ele alcan- gada em fins do século XVIII, quando, impetuoso é triunfante, gra- {as a agio revolucionéria ~ seguro jf pelas enerpias arrogimere {fadas para conter a reagio medieval da nobreza.cecadente, ¢ ni ‘menos seguro em arrostar a reagio absolutista das realezas ociden- tals ~ podia.adormecertrangillo quanto ao soialiemo, que ainda The nao batia &6 pottas, e’cujos vagidos rernotos vinham de longe, quase imperceptiveis, quebrar-se por muitos anos em protestos inocentes nos esquemas pomposos da wopia. oe Sob a mesma inspiracio, estudamos aspectos da influéncia de Rousseau, Hegel e Marx, que formam os élos da graride cadeia so- Gil, responsdvel peas ms elebres preciitases doutrindrss, Jue condiuziram, na Idade*Contemporanea, & superagio final da- Shilo que, correspondendo,ags comecos da revolugio industrial, foi a estrutura priméria da ordem capitalista, no seio da qual se ge” rou antigo liberalismo da burguesia, sat do se chega ao Estado social jf ficou para trés toda uma consapeio ‘de vida, com as,tradigdes de um passado morto € irrecuperdvel, oa 0 Estado social ¢, sob certo aspecto; deeorténcia do dirigismo que a tecnologia e o adiantamento das idéias de colaboragio huma- nave social impuseram ao século, des ‘De um‘lado, 08 povos que'véem:nele 0 instrumento de sua ree ee ee fale tiana entre a planificaciollivre ea planificagéo completa. ‘PREFACIO 25 Mas planificagio livre, planificagio na liberdade? Naohaverd af alguma contradigao? Quando responde precisamente a essa indagacio, é que o libe ralismo se enrijece na sua ftiria anti-social, has objecdes as medidas hibrida, que impermeabilizam algumas zonas da Sociedade & ple- ra realizagio da livee iniciativa, Karl Mannheim debateu esse problema vital para a democr: ssoderna. E esse problema, a nosso ver, se resolve no Estado social. Distinguimos em nosso estudo duas modalidades principais de Estado social: o Estado social do marxismo, onde o dirigismo é im- posto e se forma de’cima para baixo, com a supressio da infra-es- ‘trutura capitalista,'e a coriseqiiente apropriagio social dos meios de producid ~ doravante pertencentés a coletividade, eliminando-se, dessa forma, a contradicao, apontada por Engels no Anti-Duehring entre a produgdo social ¢ a apropriagio privada, tipica da economia lucrativa do capitalismo — eo Estado social das democracias, que admite a mesma idéia de dirigismo, coma diferenca apenas de que aqui se'trata de um dirigismo consentido, de baixo para cima, que conserva intactas as bases do capitalismo. Todas as variagdes na relagéo trabalho-capital sio superestri- turais nessa tiltima forina, pois nao alteram substancialmente o sis- tema capital Inspirados na filosofia de Kant, ser-nos-ia licito, ademiis, for- mular outro conceito do Estado social contemporaneo. Caberia, nes- se-caso, ao estudioso aprofundar a filosofia formalista de Stammlér e-em harmonia com a linha,do pensamiento neokantiano, construir uma Begriff do Estado social, que abrangesse variacdes empiricas, histoticas,culturaise politicas dos mais distintos matizes. O dirigismo, conceito politico formal, nao Gomporia acaso, sob ‘esse ponto.de vista, a esséncia do Estado social? Por esse caminho, acabariams.na mesma conclusio que Stantmler com o direito na- tural:,um Estado social de contetido variavel. » A’saida’ pelo-formalismo concilia, pois discrepancia estrutu- ral tie toa irredutivel 0 Estado social das democracias ocidentais com o Estado social dos paises populares de inspiragao ow'organi- ‘zagao bolchévista. —~ : "Mas tlio 6a intérpretagio formalista o que buscamos. Dai por git 20 inscrevermos, no pértco deste trabalho, uma das mAximas ‘dorenovador da Teoria'Geraldo Estado — Georg Jellinek '~'o fize- ‘mios:na Zetteza de qué ela exprime'e consagra substanciatmente'a verdade mais simples ¢ elementar da ciéncia politica: ordissidio 26 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL ilenar entre o individual e 0 social, que chega a0s nossos dias com toda a intensidade tragica de uma luta indecisa. Pouco importa que sociélogos da estirpe de um Alfred Weber, {que conta, alids, com muitos adeptos, queiram dissimular a agude- za desse choque ott encobrir a face dessa realidade brutal, mediante a escusa de que 0 centro de gravidade se deslocou irremissivel- mente do individuo para 05 grupos sociais intermediarios - desde o sindicato a escola, cada vez mais influentes — ou entio para o Es: tado, com 0 qual referidos grupos se defrontam numa puigns desesperadora de afirniagao e controle. . [Nao negamos a importancia dessas formagoes socials interpos: tas. Negame-Ihes, porém, autonomia, no sentido de haverem elas removido o duelo essencial que o binémio individuo-coletividade representa. = “Sip apenas pecas dentro desse antagonismo,e tanto o so que ¢ Estado social! 0 -mais familiarizado comit.presenga de tais nui cleos ~ ora-os-v8'a servigo do Estado; que €6 caso antarga realidade contentporanea, ora inclinados-para a idéia indi- vidual da personalidade Essa idéia é aquela que‘ Estado social e dermocratico do Oci- dente forceja por salvar. E para i séria e definitivamente com o.antigo individualismo do laissez faire, laissez Passe vain! ose 5 + O Estado séeial do modem constitucionaligmo europeu eanie: ricano emprega assim, nos paises de stia'Srbita, como tiltimo recur: $0,:técnica de compromisto, que embora consagré-modificagbes se- cundérias e progressistas, deixa, contudo, conforme vimos, intacta, em grande parte, a infra-estratura econdmica, isto é 0 sistema ca- pitalista 4 Instrumento, por conseguinte, da tébreviveéncia burguesa, pos* saclranerto por cnsegul de abled urges, po conciliar-se,o Estado social, a despeito da impiedosa critica rharxis- ta e do colapso.do Estado liberal, constitui a palayra de-esperanca com queacenam estadistas ¢ tedricos. do, Ocidente,.na,ocasiio em que os elementos da tempestade sacial, de hémuito acamulados no Rorizonte politico das massas proletarizadas, ameacam desabar so- te a ordem social vigente, impondo-lhe o dilema de renovar-se ou re a ordem ea dorlhe ogi ena: Nele vemos, a sinica saida:honrosa.e humana que ainda resta para aris poten ¢ social despavoraule babitam a grande bacia atlintica ¢ Ps PREFACIO. * » No estudo oportunissimo de lenta, Estado literal so Estado soil, seidesenha adernre soa rosa nitidez — urge repeti-lo — te da democra ma pela superaio da antee cdnicsindividuotsorneee Todas essas razbes nos convence ‘ neste ensaio politico, umtema d iio, como a que vai do m, pois, de havermos versado, le nossos dias, PautoBonavives INTRODUGAO 48+ : wre i 1, Do século XVIII a0 sécilo"XX, © murido atravessdu uns randes revolucSes + a da liberdade ¢'a da-igualdade — seguidas Somat luas; que se degensOlami debaixg de possas vistas equees’ © “oh talaram dusante.es silfimas dléeadas. Unialé'a-revolucio da rater |“ 1) nidade, endo. por objeto o' Homem-concreto, a.ambiénciacplaneta- Qos tia o sistema ecologiao, a pittrisvunjverso.-A outra €a revolugiodo “WS 5. Estado social em sun fase mais recente de'concretizacio constiticiow) ps ral, tanto da liberdade como da igualdade, 1st Se as duas primeiras tiveram como palco 6 chamado Primeiro ‘Mundo, a terceira e a quarta'tém por cendrio mais vasto para defi- nir aimportancia e a profurdlidade deeus efeitos libertérios aque- las faixas continentais onde demoram os povos subdesenvolvidos. Al, 0 atraso) a'fomme, a Uotiica, S'désemprego, a indigérida, 0 analfabetismo; 0 inedo, a insegufanga'e 0 éofrimento acometem i= IhGes de pesioas,*#itimas da violéncia social e' das opressée: do neocolonialismo capitalista, berh como'da corrups publicos. Impetiain ‘edsas masias'é esses méirg, 8 Estado il seguir, oEtado | socialistay s 0 Estado social das Constituiges progriimaiteas, | aSsim batizadas'ou earattettdtas peld teor alata & berinion. | cionado de suas declaragées de direitos; e, de iltimo, 0 Eutddo so- { cial dos direitos:fundamentais,este, sim,, \por infeiro.capacitade da pagie dos preceitos-eregras quegarantem es- grtafarn"tdis mudangas a: Sid, ehquahto nav positivattseus Valores, a3 i 6 eee | séncia uma dimensio' éncobérta dt jusnatiFalsmo! BAH er ») ot Sry, oP WH eee KLEE Cidustocsiges 2 ane wan rondeneoy 30 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL natural atuou sempre como poderosa energia revolucions- ee ee ore roe Coarar it bega ooshcies de seus principios, tem ele invariavelmente ocupado a consciénc do Homem em todas as épocas de crise, para condenar ou sancio- nar a queda dos valores e a substituiglo dos préprios fundamentos da Sociedade, ea Asgrandees mutagées operadas na segunda metade deste século sn Nfaneg mance opera ei © século XVII por uma filosofia cujo momento culminante, em ter- tnos de efetividade fo a Revolugio Francesa, De natureza univer sal e indestrutivel nos seus efeitos, porquanto entendem estes cont a natureza mesma do ser humano, aquela comosio revolucionaria produ até hoje correntes de pensamento que transformam ou ten SematrpnsformaraSagiedademedema, us 1. sHouve, as Jaez primeira-nia histéria‘dos povos, & uni- ‘ersalizagtordo pri vpciie lite. Mio foram unfoamente quebran- tadas as instituigGes feudais eas hierargi¢s que sacraligavam atra digo e 0 pasado, sendb-que se constiiiu ou se intentowGoristruir, sobre eferar ies parm un sport a baieto, ms «pls deste ou daquele povo, mas a de tod imano: polis cxjos Slicers, posto que ainda abstratos, fo foram outros endo liber dade, a igualdadeea fratemidadey 3: .,:« : ram os ingleses a Magna Catta,‘'Bill of Rights, o Instru- (mento Geceranint sees ae Cartas coors #0 Pact fe | derativo da Filadélfia, mas 56 0s franceges, ao lavrarem a Declarigio | Universal dos Direitos do Homer, procederam como havia procedido © a lo com o Cristianismo, Dilataram as fronteiras da a De tal sorte que o govemo livre deixava de ser 2) eaagtive de urna rage ela pe ser 0 apanigio de cada ente | Praroiv dea rp ou ap ropes ol ie ideologial O homem-cidadao sucedia ao homem-aidit Desse,modo, tornousse a 0 rlantissimas renovagdes.,nsHtucionais, nam 9 nee favor do Homem, a tri ela iberdade, igualdade e fra- temidade, decretando, com,seus ramos, o-presente,¢.o futuro da civiliza . 9 a0, ™ «> Daquelelema derivaram; ao mesmo’ paseo, as ditéiivas revolu- ciondnas fadadas a se-concretizarent' no decuis® Ua ais pollica subsegtiente. Dos trés dogmas, jé referidos, partiram 0s espéctmiens decade Revolucdo com que se particularizam as fasegmediatas da caminnada’ emancipadora, qu , fine cada, momento. singuler:¢ transformador.da Histéria, ou, ainda,,se alcanga-am grau qualitati- INTRODUGAO aL vona io daquela divisa que faz o Homem ocupar o centro: de toda lelogia cdo poder sobs aSocedaae eePaT © ame | Mercé de tamanha amplitude hermenéutica da visio dos trés Litimos séculos, jf nos é posstvel discemincom clareza, pelo aspec- to de histoticidade e concrecio, e nio apenas-ie Sua inexcedivel infinitude tebrica, que a Revolugio Francesa fora um espécimen do rande Re- préprio género de Revolucio em que ela se conteve! olughe tspintualeracionalsta do'aéiulo XVI a ~'Sé débaixo desse aspecto de limitagio Historica e determinagio da fronteira espacial que a circunsereve se faz possivel aceité-la, it i snes aepei ‘da Grande Revol. #46 do século XVI, ou seja, re Kizide orsomente a Revolugio da Snrguetia — um horioonte ment do chamaido Estads , a0 mesmo passo, com Revolucao da burguesia, decretow os cédigos da Sociedade civil Outro no foi, portanto, o Estado da separacio de poderes e di de Direitos, que entrou para'a historia sob a denom fe! dlosJiberal Aa suas nascentes:filoséficas slo, por inteire, sondadas aqui na extensa inquirigéo das paginas desta monografia, ) IN ng EY QS. Blo fs assy yee | Od. Bee OG. sy? ~ Y Se ots i cy 32 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL 3 6 ye INTRODUGAO. ge 3 Se ‘alidéia andrquica, potencialmente contidana XS Tem padecido'esse-Estado, porém, eh nui adaptativa comosse FI Pen er beaut, aos respectivos fins. Antes do esfacelamento do socialisme autor ipolencia dg principe #divindade ow inet critico na Unitio Soviticae na Europa Oriental havin el por tan m_passo,de imensa latitude naquela directo fa imediata no Ocidente realizar, em primeiro lugar, geting, ivisdo.de poderes, surgirain as utopiasisocialistas ¢, ‘com o minimo possivel de sacrificio das franquias iberaisrem Ou 18,0 marxismo: 0s pocialistas, sentenciandoa intrinsgca iniqili-)) tras palavras, buscava lograr esse resultado por a do amprego de dade do,Estado, gos marxistas,-em nome da ciéncia, das leis hist6- | tervencionistas ¢ ia e da ide, ricas, da dialética eg determinismo social, ¢ fim do,aparelho ae] estatutos da liberda- coergié daSoriedade., oe ~ Tal fim nd todavia, de uma.construgdo aparentemen- % »-pois, para-debelarvas crises e recesses da ordem ileerommcatit cum erm cpt aR ea tee suampriu-e en ery suma, previsio feita, sem A manecia-pluralista.e aberto. Um Estado, certamente, da economia Faiz na ciéncia) na razko e no bom senso, eque a certiddo.dos even- \ |). de mercado, embora aiguna tla ou cdirgame, gue tos histdrigas transcorridos coma malogradia experiéncia sovidtien Pouca ound fava as estruniras, posto que interditasee de- parece haver invalidado por completo. Jw ico9 gsr bso wisioonen) ferminados espages da pdem econdmica, subtraidos ao livre ree ” doscefejigs lentos, porém seguros, provenientes da gradual acomo~ seu. primado. Sua observancia faz a legitimidade de todo o orde-) oo pay fatto devin fe egies ie eadval aso: | allan nent dene Badan inde fo deveras Liltimo, se aca, por sem divida dle toda.ultrapassado, ‘Bee feits, seria.devestranhar quesassim ndo.fosse, porquanto'as s ni t mise distintasisociédades riacionais exibemidistintos grausdedesenvol- | | nsolida ais inscalpidos em sucessivas ge Vimento'politico; urmas;mais atrisadas, outrasimais adiantadas,no Figbes, ol dimensbes;¢ euja'concretizagioise espera da formula cu- mento politi - ae nhada:pela Graride Revolugéo do século XVII. smu Hs = Coke bibarnol vf XI = sutreptioolo Sar teve tanta atualidade g,importincia durante o,século XIX.mas, de. dale todo cele 36 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL INTRODUGAO a Néa.vivemos e viveremos sempre da Revolucio Francesa, do por juristas do porte de Gerber;Laband e Jellinek,.at verbd-de’seus'tribunes, do:pensamento de seus fildsofos, cijas te- ‘mativistas puros, do qui ad o ses, prinetpios, idéias e valores jamais pereceram e constantemente, -- Olegalismo positivista ‘certo modo,o se renova, porquanto: conjugate iveis, das Tegitimida (((so vebatkar ou iphotar 0 concn de tindade aay ee das, duias vaotades soberinas:a doPovo.eadaNacio. -———/ \\conceito de: legaliciade.- Manifestavai essa vposigio estranheza 6 <, (72 “nail ROVoIigaS prosseZue, assim, até chegar acs nio’sés dids; alheacgo absolutace-valores elfins:iDettahsonte que, exacerbarido.o ny || com o Estadé 'social-cristalizado-nos principios da liberdade, igual- neutralismo: axinlégico,e telealigico;.fazia prevalecer :acimas dade fraternidade. Umavez universalizados e concretizados, hio tudo, principio,tia legalidade. Efetivamen ‘eles de compor.s'suma:politica de todos os processos.de libertagio teiro,.do centro das reflexdes sobre o Direito 9 problema doHomem, 17:.'" + legitimidace, numa, concepgio assim todo falsa e, sbi "OB esttilerés politicos do ¥éeulo XVIM, quando tiverdm a intui- ul saca. anto.o munda de nossos dias s4 tem visto cres- iis Rade se entra leghinidadede ‘der’ demo- ome ime aa inda gatribnida Aquele.prineipio... v- + ctatico, estiVaid ja, seritaber; formulando e decretaiidd} com dois Nossa tese reflete, em larga parte, aquela fase grandes em- ' bebida Ho pi rolagetetne fa dofloensato atl ahd Lees ‘da fufara $6. aa 2 ei lenforr . viva 4 -meméria. ue fora.a se ReableMas de justica docial har 20 Estat Liberal ao Estado Social, tese de concurso de'cktedra a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceara, apare- cellarante:a década-de'50, e nunca foi to atual nos seus fund: iments filosbicdsjuridicos e sociais quanto nesta época em qué a decomplosigitdo poder sovietico, jf ocotrida, paréce haver mud: dostfacedoniando, ~ . Sem haver lograd &xtinguir o socialism ~ 0 que, als, se nos afigararimposifvel ~, o capitals, conservando insolGves os setisigraves'e crutciaig problemas, continua: muito.controvertido-e impugnado; sajelto anovas.e futuras contestagées sociais. “A cétedra dispuitdda naquela dcasia era a de Teoria, do Estado, dele dé je sie eaves acnivamso redor eae amen eee deo ay rope gl ide Pt irl condeado, a root fee Maas Geonixo das Presses sociais ¢ 'stado liberal nao sucumbiu, nem desapareceu: transfor e “Pestgnee Eidos LT yO ‘Com efeito, a sobrevivencia da de racia limjtada e represen- ilidade do advento do so- sistema capitalista, conforme o pressdgio dominante nos efrculos instittifda’ por ensejo da‘dit dura civil do Estado Novo de Getilio mais influentes do pensamento da época. Como se fora uma senten- Vargas e; mais tarde, transformada em Direito Constitucional I, por ade morte lavrada por compulato deldgicn rece ebiseg/ obra da reforma introduzida no eurriculo universitario. ~O Prograrha dé'Teoria Géral do Estado, da época, no s¢ cir- cunscrttia aperias 8 parte teGrita do direito cBnstitucional’ dento ‘qué séivraio-de abrangéncia fazia « singular disciplina coincidir, em Nio podia, pois, a Sociedade liberal achar outra fSrmula de sobrévivencia sendo a que na) se da mesma frmula gravada em nossa pre- adic cotta dina poien, A findamentacbo toric do stadloteportednseguinterda ordem jurfdica positiva compunha a coce e recuada andlise sobre o Estado social, tao distanciado, ert, espinha dorsal de toda a sua tematica, di sistematzagio doutrindria« dos publi istas Gque ainda nie Ree snub pode seryportanté mais ala matriatue elégemos por viam percebido o alcance da cldusula constitucioral introduzida na ole doniiiseagueeapertn ‘4 década de retomno'aojus- (LeiFundamental deBonn, (ya. © 7, raturalismo e de:profugtio:désalentordoutrinério.com-asfrmulas O texto da Lei Maior alem#-positivara, juridicamente, o princi lissicas'da clénclardo-dintito positivo; nomesdamente do direito pio de uni novo regime repassado da uniso sorcihatori de teoren, Piiblico, assentadas sdbie. ttredigionde unt -forinalismo professado de coma isonomia de (ates, debaixo de ua id novaque vi- ae 38 DO ESTADO LIBERAL AO. ESTADO SOCIAL nha restaurar anogio de Estado, tio lacerada pelos excessos autori- tdriosidas “Gecndasde 20 e.30. Tals extessos,perpetrads poridéo- i confiscaram as liberdades do cidadao, ‘i lita epropiciasam b adventer Positivado:como principio’ dé um Est te. construida:sobrens “alores da ignidade'dapessoa hurnana,’o:E: tado.social.despontou para conciliat de:formadtiradoura'e'et 7 «Sociedade:com ot statloyconformeintentatrios demonistrar-O'Es- jy. / tido social de hoje, portanto, achave dasdémocraciasd futuro.” “y. i “Fori'db Priméiro, Maido, poser avithidnla importa tudo se cfr riessa‘dltemativa: Esthds Soda bit ditddluta, Seth Esta do social nid hé demoditeia, e seth deinocracia Riko hi legitimnidade, ib deste seculc dchestonto -vivj'por ehseo da Quinta eiligdd, ann Captule bride o quit sumtriamente sobre x Revoliigio Francesa fd se diz cor muito rigor’ propriedads. Seno, Eodlira-de Som 4 anslise feita a Her- menéutica das Revolugdes. Capitulo 1 DAS ORIGENS DO LIBERALISMO AO ADVENTO DO ESTADO SOCIAL 1.0 problema da litendede edo Estado como problems de resistencia 20 abslutsmo,2.O diet natural di urguesia revolute: tem poe 0 "teretv estado". 3. Da constldapo do Estado liber comego de sux tranformagto. 4. A separa de podees, dogma do constticonlismo da prea fse (Locke Mortesquiew 5.0 Esta 4p teratdemoeritco, frto de wna cntradito doutindri. 6 Viertandte 0 penstmenio poltico alerze. 7. Critic ao liberals ¢ cadverto do Este soc. 1. O problema.da liberdade e do Estado como problema de resistincia ao absolutismo © problema da liberdade, para qua exata compreensio, deve set posto-em,confronto dialético com a realidade estatal, a fim de ue possamas conhecer-lhe o contesido hist6rico eos diferentes ma- {izes ideolégicos de que se hd reves, até aleangarmos, no mo- demo Estado sosial,.25 linhas mestras de sua caracterizagio na consciéncia ocidental contemporanea, : « Trata-sede.tema.recothecidamente controverso, jue agitou, de funda, 0 pensaménto:,politico: da [dade Moderna, m ankandors, através de.seu,estudo, a propria conquista da HeMOsTACRG Sie Fo Para colocarntos'o problema ta libeitidde na esteta do constitu- cionalismo ocidental(iberl e social-democrdtce)€ indiepensdvel termos sempre em conta o Estado burgués de Direito, de qué nos fala 0 [DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL Carl Schmitt, ou 0s conceitos histérico e racional-normativista da Constituisio, segundo o esquema ibérico de Garcia Pelayo. Na doutrina do liberalismo, o Estado foi sempre ofantasma que atemorizou'o individuo, O poder; de que néo pode prescindir 0 ordenamento estatal, aparece, de inicio, na modems teoria const tucional como o maior inimigo da liberdade. Foi assim que o trataram os primeiros doutrindrios do liberalis- mo, a0 acentuarem, deliberadamente, essa antinomia. 'A Sociedade representava historicamente, e depois racio- nalmente, com Kant, a ambiéncia onde o homem frufa de plena liberdade. + O Estado e a soberania implicavam antitese, restringiam a liber- dade primitiva. 1 Hipnit d cBasthiigho do Estado jtiridico, cuidavamos pensadores do ditaite natural, pfiraipatinerite ostde sua variante racionalista, hhaver encontrado formulacio tebrica capaz desalvar, em parte, ali- berdade ilimitada de que o homem desfrutava na sociedade pré-es- tatal, ou dar a essa liberdade fungio preponderante, fazendo do Es- tudo sacanhado seevado individuo Com o advento do Estado, que nio é de modo algum um prius, mas, necessariamente, uma posteriori da convivéncia humana, se- gundo as teorias contidas na doutrina do direito nazural, importa- Va, primeiro que tudo, organizar a liberdadeno campo social individu, titular de direitos inatos, exercé-los'ia na Socieda- de, que aparece como ordem positiva frente ao Estado, ou seja, frente ao negativum dessa liberdade, que, por isso mesmo, surde na teoria jusnaturalists rotleado de limitagBes, indispensiveis & garan- tia do cfrculo em que se projeta, soberana ¢ invioldvel, a majestade do individuo. ‘Decorrertte déssa posigio filoséfica, temos o Estilo gendarme de Kant,'9 Estado: guatda-noturno, que Lasalle tanto ridiculizava, de- missionérié de qualquet responsabilidade na promogio do'Bémi¢o- imum: Este $6 se aleanci quidrido os individuos sé eritregam livre e plena expansio de suas‘energias-criadoras, fora’de.qualder ebtor- Vodenaturéza estatal. eh ‘A Sociedade, por.suavvez, na teoriaidoliberalismo;se reduz & chamadapoeira atémicadéindividuos, ‘ate elausiila-Kantista, do espeito-mmeituo da liberdaite de cada ‘um, converte-se em dominio onde as aptid&es individuals con- cefizam,aemargem de toda-esbogo ds coacio eetatal- 1 aressunghlehrespald. os . owe DASORIGENS DO LIBERALISMO AQ ESTADO SOCIAL 41 ‘© Estado 'manifestayse,.pois, como. criacio deliberada:e cons- ciente:da vantade dos: individuas Se consoante as. doutrinas do contratualismo social: » sompoem, aoe engine inp spent oigmante rege sedeixasse de ser 9 aparelhiode que se serve o Homem para sleane ata Sociedade, « spalizagrore seus fins. mem Pa 5 como-d Estada ko monapolizador de poder, odetentor da soberania, o depositario da coagaoiincondicionada, torna-se,.em de- Seminndoe meeronton sige clean cee, ermaze em: Bibi, sevaliagontraaGriador. + Daj o,zelo doutringtia.da Filosofia usnaturalista em criar uma seis dee seine dh poder «formu ig de meics que passibilifem deter.o sey extrayasament na irres ponssbilidade do grande devstador, oimplacivel Leviata 2. O direito natural da burguesia revoluciondria investe no poder o"terceiro estado”. : Foi assim ~ da oposigio hist6rica e secular, na Idade Moderna, entre a liberdade do individuo e o absolutismo do monarca ~, que nase ptimeia nogio do E446 dé Direito, mediante um ditto de evolugdo tesriéa e decantacio conceitual, que se completa com a fi- losofia politica de Kant. ° Pistoome Estado é armadura de defesa e protecio da liberdade. Cuida- se, com esse prdenamento abstrato e métatisico, neutro e abstencio~ nista de Kant, de chegar a uma regra definitiva que consagre, na de- fesa da liberdade e dodireito, papel fundamental do Estado. ‘Sia ésséticla hé de esgotar-se nuishi riissfo de inteizo alhea- mentoe auséncia de'iniciativa social, Ease primeiro Estado -de Direto, com'seu formalismo supremo, que despira’o Estado'de substantividadlé ou conteddo, sem forga criadora, réflete & pugna da liberdade coxtra o despotismo na area continental eutopéia. _A pugha decidléied rid itVintento de 1789, quando 0 direito satutal da burguesia reviliciéndtia invest no' poder o teceiro Désde que 0 evolver politicdida Idade Modema tomou, segun- do felineko carder irremediavelmente antinomico ja réeriao, 0 direito natural foia fortalezasde idéins onde procuraram aslo,tanto 08 doutrindrios da liberdade'como aside absolutismo, Seria, pois erréneo reconhecer na teoria jusnaturalistada Ida- de Média & Revolugio Francesa) ordem de idéiasyvotada exclusiva. ‘mented postulacio dos direitos do Homem. a DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL A burguesiarevolucionéria utlizouca para estritar os poderes da Coroa e destruir 0 mundo de privilégios da feudalidade deca- dente. E desse prélio saiu vitoriosa Daf porque'a pétspectiva hist6rica daqueles tempos nos mostra com mais evidéicia o prestigio da idedlogia que amparou 6s dire! toanaturis do Homem perante oEstado'de que aq oriunda de unr te6logo corno Bossuet ow unt flésot apregoava’o direito natural do Estado, encamado na opressio da realeza absoluta.” rer Esta veio a ser, por conseguinte, a cambiante vencida. Enquan- to, pdis,-o Estadd eo absdlutismo sq estearam na doutrirta da mo- Hafquia divina,Yoi® diteito'naturals maisnecesséria e conservado~ das douitrihas, conforie aésinalou, com rigorosa exacio critica, © jutista Kelsen: €m’andlise pertinente & evolucio conceitual'do jusnaturalismo. 3. Da consolidagio da Estado liberal ao comego de sua transformacao, \ Em suria, o primeito Estado juridico, guardito das liberdades individual, Heangou sea experimentagto histrica na Revolugio “Francesa. E tanto ele como a sociedade, qual a idearam os te6ricos desse mesmo embate, entendendo-a coo uma soma de étomos, corresipdndy sejuindo alguns pgisadores, entre os quais Schr, tdo-sbmehte a Concepgio Burguesa da order politica A burguesia, classe dominada, a principio e, em seguida, classe dominante, formulou os princfpios filoséficos de sua revolta social. E tanto antes como depois, nada mais fez do que generalizé-los doutrinariamente como ideais comuns a todos os componentes do corpo social. Mas, no momento em que se apodera do controle poli tico da sociedade, a burguesia j se no interessa em manter na pr tica a universalidade daqueles principios, como apandgio de todos ‘os homens.56 de maneira formal os sustenta, uma vez que no plano de aplicacio politica eles 9 conservam, de fato, principins cans: titutivos de wma ideologia de classe. Foi essa a contradicdo mais profunda na dialética do-Estado moderno. “Aburguesia acordavs 5, que eAtio despertou para acons- cigneia desues lberdadespoltea. All estava um Diretonovo, na teoria politica, que mantinha:principios cuja validez indiscutivel transpunha'qualquet idade-histbrica e se situava fora de quaisquer limitagSes de polo, meridiano ou latitude, como sea razio humana DAS ORIGENS DO LIBERALISMO AO ESTADO SOCIAL 43 Teismode Pascal so printeras erdades alee Infracetratura do grupalismohumang, sure? Ae sua na saad Prttensiosaniente, da doitrind de uma classta doutrina ce Diao dededjero ed Violéncid das objects qui mais tarde sulec- no amargo ce- tou, notadamente no século XIX, qudndo os seus do juridico puro se evidenciaram indcuos, ode lopli ee damente:abstrito, em face°de realidades socials imprevises ¢ anjargas, que rompiam os contomosde seu lineamento tradicional. saprichoss, dilatada e rica de expres- Feitos lindes lagu lto ‘de Procusto 1 doutzina dy rajlo.cuidava poder ‘da’ primgira fase do cons- is pede um.novo leito, Da Sabér, da id. i tleidhrtn incertae cease estate wie seoke mous asap ada «ARE ER AR ct aitltenart rep arteinsd na classe, 80 goving de todas'as classes. wort ca we va sobretudo, com invencivel,impeto,.rumo sguesia enuunciava-e defendia a principio de we? wave défeodia gpriociio da representagso. tilegos denen a eat or bon -iat.Frangay tio radical stiamaturaigiot cof stitucio | cance te ealizar-denmorio cb opembors ianeoto Eeeeeiiar Wisisambpeaber 8, coma yitéria on i Rexolugto Franessa. poi seutaratex presias de Mvolugho da bburguesiadevacaoa consumagiode; msocial, onde pate fRemastextos constitucionais,oteiunfojtotal doliberalismo. Doli- Bu RRe spette ado dacdemonsacaipm séquenda democracia i “yainops Ugur, «esate amg ot ioqrBistay aleangouray is, com 4 O consticionlomo de seclo Ie eramameren désangue, “ DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL Mas; de qualquer modo, a representacao e a soberania popular Toc paras Spec, os quis sigifcavam,j, yma deologia do passado, com aautoridade rene Do ‘O mem pisavafirme'na estrada da democracia, e os seus combates haviam de prossegui some ‘fetivamente prosseguram, determinando.a:mudanga que houye,com 9 tempo, no sentido das Caer einctiutconais, cada vex mais exigentes de contetido dest 1, yaler objetivamente as liberdades concretas e digni- ‘Personalidade humana, ; Asbeparagio de pres, dogma do consttucionalismo da primeira fase (Locke é Montesquiet). eine cae 1é seu formaligmo ¢ de seu éxito Se tra ital, que resguarda os direitos da liberdade, compreendida esta, consoante jd dissertos, conto HBerdatledarburguesia:2 “F 7r bia libprdade the era iAd}spensAivel para manter 0 doiminio do obec Soult ra seme in vais classes, 7 Disco ndo advinha para a burguesia dano algum, sendo:muita vantagem.demsigign, dada. somplsta puséncia dé condicies mo. teriais que permutiscent ae massas transporas restrigbes do sufrdgio asl tChcoer Sotetaian fear forme Goda vontadd estatal’7 5: ° a Permitia, ademait, burpuesia flat ilusoriamente em tigriie de tee? 1G com oat ld proclamara, os quiais, em See Gaajeto, coho yt asstalames &apresertavam G6 pono de para toda a comunidadé Hitinata,’embora, na realidatextive ‘aiimero.deles wigéncia tio-somente parcial, cemproveito davlassequesfetivaments on poi ruin 7 + grin? iv RSA POUEALY! como VEremiss techie furdae mental de protecio dos direitos da liberdadé. Ad’ gerial Montes Guieivleversefusrmaig deabtia fortlagio/eiante aqueléteo, ris gaa tairito pi fe ‘Ros éxireds:tempos do constitucio- nalishno eldgsted) e que hoje) sujeita, f.a eonsideraveit retificacbes, jae the'atendarant a rigidexinicialétormclasevéraménte’comba- ida pela moderna e avangada teoria politica do constitucionalisino ficopaqqual, todaviayriip lherecusa.aiimportancia ¢o.papel hhistéricoquedesempenhou. 1% ae a DAS ORIGENS DO LIBERALISMO AO ESTADO SOCIAL 45, Coma divisio de poderes vishumbraram 0s tesricos da‘primei- a dade do constitucionalismo a solugio finatedo problema delimi= tagio da soberania. 2 A filosofia politica do. liberalismo, preconizada par ‘Locke, Montesquieu.¢ Kant, cuidava,que, decompondo a soberania na Pluralidade dos poderes, salyariaa ibersade. Fazia-se mister contrapor & onipoténcia do rei um sistema infa- livel de garantias, ; i. Essa doutrina & como se vé,o termémetro das tendéncias an tiabsolutistas. Segunda Gierke,o constitucignalisme trouxeinicial- mente consigo, durante os combates a favar dos direitos do,pavo, © enfraquecimento ea desintegracio da doutrina da soberania? A teoria tripartida ono, principio de or fo do Estado constituc tribuicdo de Locke Mon- tesquieu.' Este se. guivocadamente, no que spd uses eguvecadaent rogue spe res (Executive; Logislitive € Jidiciatio) estatiam inodelaf@aMne ge: parados e mutuamente contidos, de acordo com a idéia dé“duie “o poder detémo poder":(“le pouvoirarréte l¢-pouvoir”).5 wo A A divisao de poderes, por ser, rut est@hcia) técriy atdutdfadora dos direitosido individuo perante oorganismo estatal, ndo impli 2.-Todo o Uberalisma:ieevidualistrinspirmee ol pip area de chsticon& tendéncn menopolzadors da poder, tndncn gua trecenoeien acto estat. Dat segundo Labhol, “a, evesidade da cinco de tana ge de freiod destinaidos a garantir' iberdadt e's propriedae WMaividunis cata clas injustificdveis” (Gerhard -Laibholz; “Lalniatife éOles-formes'de-\aldéatodtatie”, ‘Archies de Phsophe du Dro et de Secologi frie n 34/10). 3. okey Athi und 4. Gusta Seller, Gn 5. Mént garni eas cont ngiticns arias rosea da iberdade indi dual CUesprt da yatme de a séparation dex pouvoir onsets 8 ptraugese Soe erin: oie de mon dept a Sissies ems a ps a ‘siestiavérs allsbisactitdansle cdsire-dirla thonarchie cinstitutionnella:; Lé faitquiane east inetnos repeteentaliveses convient uellementpardapaent py imation dela vlondé Gartque Ceah data Praline ne guriabe ce ot Je ingles ations “dns fe domaine dea liber ndividudle” ose 46 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL sariamente detgrminada forma de governo, e tanto podia Counpaddecerse como Estado democrdtico como, tumbérn, com a ‘monarquia constitucional. Era,em suma, técnica doliberalismo, muito mehés radical que Montesqiiieu, engendrow essa divisto apenas como ‘pfincipio de Iimitagio do-poder entre o mo- narewea representagio popular” * “uteadaect ruin ‘A despeito das raias que the foram doutrinariamente trag 0 poder dos feis ndo sai, em sia filosofia politica, tao Riruldo conto sei de super primeira visa, ratandose do prt Com eféito, além do poder éxeciutivo, cabé aos reis da nova mo- Harquia artiabolutist sbra do fildsofo, enfeixar ou- roepoderes stale poral ial: . . 1B, entre eles, pio’ dos, menpres o'ehamadé poder fxderatv’, ja Aenminacio 9, grspris aitor admite que ndo seja adequadass 5 9-5 als: - No entanto;,comos¢le mesmo confessa, pouco importa o nome, sea idéia for bem compreendida. - «E que compreende. Locke.por’ poder federativo? Inquestiona- velmerte, aquele poder pertinente is questbes de order eter, deguerra epaz; tratados ealianga, que se levantam entre diferent comunidades: = =) ayn Sn cena es aheieing rcp wn Geis em Eape pode USA hcg tetadniemedte que ique em dE EAE ree RT io ocorrene der dem edano. oe wt . ional r ,emipreendida por Lécke, tropesa, we neiagse Sea 4 teoria do,absolui}bino,-questanto se fortalecera,com.o-iricop sured dla pegwraringrardep praca polo da Idade Moderay-cua dota ne ae pole nuincaseparar grate pert pace SPT Tees ees oe ela ne a else it Save poder ila custou as. ‘a; Badin, a sobapanias.a Vaquiavel, a laicizacio contra asing renclas papaisya Hobbes, aunifiagio“pelo abeclutismo- nS sind aupbuing 7 Lathes ne Say ‘ he igs scl ee ot ese SSE SERREN & esi Fame foi jt, ‘ DAS ORIGENS DO LIBERALISMO AO ESTADO SOCIAL 47 mente, tanto de fato como na doutrina, o poder absoluto dos reis Perdeu sua razio hstricn, Novo momento dialético adveio, por jiiéncia, com a con- tradisfo estabelecida entre o poder Geshecessariamente abeoleto do monarca eos encatgos pe sdo povooprimido, Em nome deste, ¢ apenas noininalmente, reagiu a nobreza da Inglaterra nas revolugées do século XVII. E sua revolta gerou umn fr lesofo. Besse filésofo €aquele de que ra nos ocupamos Mas John Locke, como dissemgy, nlo emerge inteiramente triunfante em sua obra de cerceamento do poder estatal, Onde ele niais convenct, onde seus atgumentos ostentam mais de persiiasio; taramente igualada por outro pensador, é tio. soimente na teoria dos direitos ¢liberdades individeaie cones dine, tis oponiveisa sociedade politica *.. O.2élebre fitvro de Locke} Tratado sobre « Governe Civil, ficou lon- ge de‘alcangar os efeitos do' Espirito das Leis em matéria de conters _Shodo poder. : Ein Locke, o poiler se limita pelo consentimento, pelo direito fatural, pela virtude os governantes, de maneira mais ou menos Lst6pica Em Montesquieu, sobretudo pela técnica de sua organiza: fo, deforma menos‘abstrata. sot lsist inglés ainda ndo se capacitara daquele principio aé- Bio da éxperiéncia universal, referido por Montesquiee, segundo o gual todo poder teride a corromper-se.e todos os que o possuem tendehi a ser levados, mais cedo. ou maié tarde, a abusar de seu em- Prego. vod doiutriria de Locke emerge um otimismo que ele nio dissi- smidla, desprésciupagio que quase igriori'a natureza profundaments negativa do poder, . Ein Montesquieu o pessimismo dé ojacents A doutrina contra o Estado, na consideracio do proprio onferamento estatal. Em Lo-. gke, era como se bastasse afirmar que o Homem tinha direitos para ues Huntanidade de imetiato os consagrasse, persuadida da su- Perioridade ‘dd Seu sistema de idéias e: dé governo coméo mais con- Fe coméNatureza e a razio dos bomwne {SHO assis cotsicleraioes prelimiratés iidispersaveis para assi- nnalar lucidamente a largueza ¢ a ingenuidade com que Locke, ibe. to cdi ‘concilia airida cot: esse tipo de realeza, jé miodernd, Ou seja, dotada de poderes ie iuecida, que viesse 4 fal- de poche, {nas mistlo 8 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL Esse poder estatal, assim amesquinhadoe invalidado, quis 0 li- persia nate tarde perfilhilo, ab ‘completar-se 6 ciclo lagico de sua:primeira evolugio, da qual foram dltimos expoentes Montes- quleue Kanter wnse ou sae 8 A Mn bee ade, Alémeds'executivo'e do federativo;'a emibrionatia e algovtiesi- tante separagio. de poderespostuldaper Loc conferinao nar. i tuma tersgica extera depeder ~.siprenragativa, a queo pensa dedicao CapituloXIV doseu Treatise of Givil Gonernment..s : + Locke legitima'a prerrogativa em-nome'do bem.comum. Diz aque “muitas coisas hé para as quais.a lei nfo:prove meios.e-qiie ne- cessariamente devem ficar a-cargo daquele.que detém.env’suas mos o poder executivo, para serem por ele ordenadas,.na.medida ‘em que a conveniéncia ¢ o-bem.piiblica o determinarem?,(“Many things there are which the law can by no. means, provide for,-and those. must necessarily be left ta the discretion of him that has the execytive power in his hands t9,be ordered. by him as thé,piblic good and advantage shall require”)? Qrinteresse piblico representa, assim,.a medida da.prerrogati- ido Locke, jedade mais, simples, as lejs io me: ‘nos nuimgrosas é a agdo dos principes ou goyernantes, para preen- cher os espacos omissos nas prescrighgs legis, necessariamente mais extensa e vigorosa, Mas essa acio Ado se confunde nunca com 6 atbitrio, peculiar ao absolutismo, ade do pri - pata lund ranagecasho ao bem pablico,perde ela’ sua egitimacio € séus atos jd ndo se enquadram nessa esfera de poder que Locke denoniina a prerrogativa. Sio atos de absolutism, Ey9, povo, que conferira ao’ seu réi aquela faculdade de atuar desembaracadamente na ausénicia da lei sareaté mesmo contra a lei" —, tendo em vista medidas pertinentes ‘a0 bem publico, retoma o poder, de que nunca se desfez em-cardter definitivo, e passa a limitira prerrogativa real, uma vez qui 6 prin- cipe por seus atos,seaparfou do interesse geral. Essa capacidade de limitacio’ da -prerrogativa é compreenoao do sistema lockiano da distr buigka de poderes. ‘A prerrogativa compée-se, por conseguinte, de todos os pode- res remanescentes ou eventuais que-o principe passa exereet ~ € 1 trae of Groene Cnei Teen 38 BANE pcan sinyorgue Be nape #: Signaciente trent oan wom eens ae oh feet saa Le cen ae a ques fo de pov ace seus governittes, no silencio da let, ara estes, ot erecta rsa ea aps DAS ORIGENS DO LIBERALISMO AO ESTADO SOCIAL 49. 1uco importa que sejam eles-grandes ou pequenos, na dependén- Fi ratwralmente, de lacunas Vincaladas Lo volume da reese istente, maior ou menor conforme a complexidade do grupo so- ial ~, desde que os empreguie ett consonancia com o interesse pui- blico. Pots a'prerrogativa; para Locke, “nad mais é que o poder de fazer o bem publico, na auséricia da lel"(for prerogative is nothing but the power of doing public good without w rule”). A preivogativa lockiana Seiia,'s nosi0 ver, em suas conseqiién- cias mais favordveis &'monarquia, quando muito, o absolutism do bom rei; o-que 6 uina contcessao das mais largas e vantajosas ao,exer- cicio do poder real, iim degrau intermediario na evolucio para 6 li- beralismo antes que este chegue Montesquieu, a legitimagio, em, nome do'bem piblico, de ainpla e indeterminada esfera de compe- téhcia ao principe recém-saido do absolutismo. J4, a doutrina de Montesquieu, inspirada por um sentimento ra- dical de reagho ao absolutes nao pen cordescender com as (or mas mitigadas de limitacio,do poder, como, por exemplo, a monar- quia constitucional dos Estados europeus no perfodo imediatamen- te posterior as guerras napoleénicas, 0s quais adotaram um consti- tucionalismo bastante timido e moderado, em que prevaleciam air da principios deautoridade, tradigao e pasado. Cartas réacionérias, como a da Restquragio francesa de.1814, ‘mal podiam encobrir o constrafigimento com que 6 absolutisrio ce- dia lugar As novas idéias ¢ a avareza‘com que o Estado contra-fevo- luciondrio acatava os direitos da liberdade conquistados pela bur- guesia ascendente. Montesquieu foi, incontestavelmente, um clissico do liberalis- mo burgués. O que hé de mais alto na sua doutrina da separagio dos poderes, segundo o consenso dos melhores trstadistng,€ que nele a divisio nio tem apenas cardter tebrico, comoem Locke, mas corresponde a uma distribuigio efetiva-e pritica de poder entre ti- tulares que se no confundem.” vezes contra s. disposic literal deli” ("prerogative can te nothing but the ‘people's pemitting their rulers to do-several things of their own free choice where be aw vas silent and sometines too, against the direc eter ofthe law, forthe public good” — ob.cit.p. 111). . 9. 8 0. que-asinalam, por, exemplo, Bhunchli « Karl Laren (ste ex “Statspilosophie™,obra.em eolaboragio cam Gunther Holstein, no Handluch der Philosophie, Maniguee Berlin 5/4, p79). Escreve Buntsci, a ete respito: "Mais important ainda fo princio ds dase! sepragto desea tts poderes as pes tuo ergo aque haviam sido cometdes que ele o princi em prclanar om enerit «defend lom nome ds Uberdade plisca’ (Wistaigernock ar dst Frinaip der wuenschbaren Tensung deer dra Cewltsn in det Personen Set 50 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL 5.0 Estado liberal-democrético, fruto de uma contradieéo doutrinéria ‘rcunstancia de algumas monarquias se compadecerem com er ntcncs desleune ora oe ‘nagio histérica ce monarquiss consttucionas ~ que coresponde 2 abdicagh de seu carter absolutista ea uma ponderével conces- ‘so do despotismo ao poder emergente da burguesia, como classe sécinl, vanguardern da soberania, que, segundo Schmitt, apenas omindlmente recai sobre o povo ~ traz ampla evidéncia daquilo que jé acéitidmos, ou seja, de que a idéia essencial do liberalismo go € a presenga do elemento populaf na formagio da vontade ss tata, nem tampouco a teoria igualitéria de que todos tém direi igual a essa participago ou que a liberdade é formalmente esse ireito. : 1 que promana da teoria de Montesquieu é uma ne- sah PSS rae teat de Menges Cae a iediaria nb péraamento dos filbsofos ibe igualdade procede das vertentes do- contratualismo de Rounsedarde seu alamuctspacto soil, em que oatormentad fie sofo de Genebra, vendo o Homem de sta época'acorrentado a to servidio do absolutismo, rodeado de ferros por toda a part com a idadede duro que antecedeua cougiorstatal” 4 A igualdade, qual ele a conceitiou, néo contradiz.o principio da soberata, como acontecenafSmula de Monteaquien ao cones Flo, uma doutrina apologética do poder. st de ni, i ee ‘eget dc at a ‘Sigeiarartaeanlel gen mbeorates sh Srecapstantn ene bag cen ag Sida teen cas ee Bee feecertc Cee pode rae pina rvs pose slvr ea qua Be bis as nape cle ea Eas re Orn Bee peratures see CEs Sa ee ate ec ned pra terbee bien corte raisins accenceteet eee toda a forga comum & 2.08 bens de cada membrg, e pela qu a hs EE eames neater eames Seana Deceecbramacie iterate qacian qidied wiewrerasst mcitintepee ee EE SE ent Seccmnarveelieooed act ceoncatanreng Wl wow cle Trarlecontat socal donne ia souton” Jean jacques Rousseau, Du Cont Soil, ES aT Aaya DAS ORIGENS DO LIBERALISMO AO ESTADO SOCIAL 51 Rosseau nio o teme, e, na filosofia politica que precede.o.mo- demo constitucionalismo, é dos primeiros que resolutamente force- jam por acometer de frente o poder da soberania sem o preconceito de ver.no poder a antitese necessériado direito. Eo faz com pleno axito e brilho. Mas'a:teoria constitucional da Revolugio recolhe tanto as‘idéias dé Rousséauicomo as de Montes. quiew. E, por isso mesino, o que recolhé é uma contradicéo. Com efeito, 0 filésofo do:contrato social nas téve'a'preocupacio de con- ter a soberania mediante a dissociagio do poder decompondo-o em. esferas distintas eindependentes. » Transfére-o, intaéto, do rei ao povo! Essa transferéncia nio foi percebida por todos os intérpretes da déutrina politica, alguns dos quis, com demasiada superficialidade, viram nesse deslocamento da:autoridade mera translacio do absolutismo do rei para o povo, conservandosse,’assim-aberta 4 porta que conduzia aos regimes despéticos.: . J [No éritanto;é tblonté générale do fil8tofo romanticé e moralista, segundo s poterada tited de Del Velthio,encerra precisamente a singuléridad de tevestir o poder dé'eardter juridito, fundado no consentimento, dando-se gra reitos naturais em direitos civis." Na sociedade estatal,’a libéttlad’primitiva, para sér parcial- mente recuperada, fez-se liberdade juridica. A organizac&d' politica restitui aos individuos, através da lei e da participagdo ha elabor: ‘glo da vontade estatal, os direitos que:estes Ihe haviam cometido, limitando a prépria liberdade, ao estatuirém as bases do contrato social. Se nko, vejamos o que a este-respeito nos diz Del Vecchio, ine terpretando, com exemplar corresio,'a controvertida doutrina de Rousseau: “Segundo Rousseau, urge concaber da seguinte maneira ‘2 contrato social: Faz-se mister queos individuos confiram momen- tanéaiente os seus difeltos ao Estado, o qual, em seguida, os resti- tui a todos, mudando-lhes os nomes;jé ndo se chamam direitos na- turais ¢ sim direitos civis. De tal modo que 0 ato, cumprindo-se igualmente piard'tddos, ninguéth bai privilegiado, e a igualdade fica desse modo preséivada. Aderiais, cada aad ‘conserve sua liberdas de; porqivanto's'idividdd se'toina Sidito unicamente em rélagto a0 Estado, quie 6a sintese is liberdadesindfviddais. Por essa espécie de novagao, ou de transformagio dos'direitos ‘naturais em direitos ci- vis; tém-os cidadaos,asseguradosipelo Estado, os direitoswqule pos- contrato a transmutagio dos di- 11 Mazel Djuvca, “La pense de Ciogpio Del Vecchio" Archies de Phsophie iu Dra et de Scifi, 19979. 216, «Paso Bonavidea, Dos Fis do Erde (Sintse des Principat Doings Fel as pp 243, 52 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL {am j& por natureza” (diz: Rousseau: “il faut concevoir le contrat Socal dela manidre suivante il est nécessaire que les individus conférent pour un instant leurs droits a I’Etat, lequel les redonne tensait a tous, on changeant leur noms; ce'he seront plus des droits naturels, mais des droits.civils. De cette facon, I‘acte étant également accompll parous, personne ne sera. privilégié I égalité est done assuré. En outre, chacun conserve sa liberté, parce que! individu se rend sujet uniquement par rapport & Etat que est la synthise des libertés individuelles, Par cette, espéce.de novation, ou de transfor- mation des droits naturels en droits civils, les citoyens se sont assurés par I'Etat les droits qu’ils possédaint déja par nature”) ‘A contradigio, entre Rousseau ¢ Montesquieu — contradigio im qus onesie doutrna liberal democratica do primeiro estado juritico ~ assenta no fato de Rousseau haver erigido como dogma 2 doutrina absolute da saberania popular com as caracerstcns eo tencias de inalienablidade,imprescrtbilidade e indivisibldade, ue se coaduna tip bem, com 0 pensamento monista do poder, mas duesplide a 8 pluvaliamo de Montesquieu e Constant, os quals abracavamia tese de que 0s poderes deveriam ser divididos. A ideologia revolucionéria da burguesia soube, porém, enco- brit 0 axpecto contraitério dos dois principios e, medians sua vinculagdo, construiu a engenhosa teoria do Estado liberal-de- mosritico. -. Esse seria acometido, depois, jf pela reacio conservadora da monn et ert de npledona chien doutinaria do: hator- Tomo, Mipela insatisfacio social do quarto slado, que percebia com ritidez o rumo divergente, contradit6rio e espoliativo em que evol- ‘Vian 03 dois principios, 0 dentocrdtico e o liberal; quando de sua aplicacio conereta As realidades sociaise politicas. Liberalismo e demoératia nem sempre coiincidiram e se conei- liaram em sua verdade conceitual, como nos d¢monstram as sabi refleides de Leibholz.”” } Jo ese trataista do dirsio priblico. alent, o encontro hisigrigo,do liberalismo com a dempcracia, como aconteceu na ela- PORE an printipios da Revslugho Francesa, norteada pelo pen- samento de Rousseau, Voltaire e Montesquieu, “tem carater conti gente enko necessério ou inelutayel”. : Criticando os autores que admitem a democracia associeda 20 liberalismo, defende Leibholz a tese de que esses dois termos po- 12: Phiosophiedu Droit, pp206-107 13.0b.ctp.135.* DAS ORIGENS DO LIBERALISMO AO ESTADO SOCIAL 53. dem ter significagio e contetido opostos e que a sintese tradicional deve acolher-se com rara reserva, por traduzir aperas. comunhio histérica de interesses nos combates travados contra o inimigo co- ‘mum, a saber, o Estado monarquicoautoritirio. Dal o cariter liberal di democracia nioderna como decorréncia da tenaz oposigio que boa patte da filosofia politica dos séculos XVIfe XVIII moveu contra o absoltisiio. Isso ndo exclui, todavia, segundo o professor de Goettiigen, a verdade de que “no curso. da histéria a democracia nao, se tenha aliado a elementos antiliberais, do mesmo passo que o proprio libe- ralismo aparece consorciado com a monarquia, sob a forma de mo- narquia constitucional”. Afirma, ainda, o inelito publicista: “A possibilidade de dissociar a-democracia do liberalismo se cinge, em ditima anilise, & distincéo dos valores fundamentais's0- bre os quais se baseiam. O valor essencial que inspica o liberalis~ mo.no’se volta para a comunidade, mas para a liberdade c ra do individuo dotado’ de -tazao. Partindo desse pento-de vista, havia o liberalismo desenvolvido um sistema metafisico completo, fundado na fé de que uma solucio racional total podia resultar do lve eoneurso das opniGes individuas em todos os dominios da “A importincia que tem o individuo para contetido de libera- lismo cléssico manifesta-se, com particular relevo, no fato-de qq originariamente, 0 valor da personalidade era concebido como il mitado e anterior ao Estadd. E 0b esse aspecto que se introduz a doutrina liberal nas primeiras Constituigées escritas, as. Ca | americanas e francesas, cujas teses adquiriam, para a democraci beral, o valor de uma profissio de fé religiosa e mistica, Nos Es dos Unidos, essa mentalidade fundada na crenga da personalidade soberana.e ilimitada do individuo, precedendo 0 Estado, se mante- veaté o fim do século XIX, gracas A.atitude conservadora da Supre- Corte” ("La possibilité d’tine dissociation dé la démocfatie et du, libéralisme se ramérie, 'eidemniére analvse a la difference ‘des ‘Waleurs fondaméntales sur lesquelles ils! se“fondent'La valet essentielle que inspire le libéralisme n'est pas oriextée ‘versa communauté mais vers la liberté créatrice'de l'individu deué de raison, De ce point de vue,-le libéralisme avait bieoppé un systéme métaphysique complet, fondé sur la foi qu’une solution rationnelle totale pouvait résulter de la libre concurrence des opi- 14, Gerhard Laibhols bt, p.136, sat DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL nions individuelles dans tous les.domaines de la vie (..) Lim portance de l’individu pour le contenu: du libéralisme classique fpparat avec un rele particulier dans le fait qu’ Yoriging la Valeur de la personnalité était congue comme illimitée et précédant Etat, C'est sous cet aspect que la doctrine libérale s'est introduite dans les premigres Constitutions écrites, les Chartes américaines et frangaises, dont les théses acquéraiéht, pour la democratie libér la valeur d/une profession de foi religieuse et mystique. Aux Bts Unis, cet espfit'fondé éurla croyancea la personnalité souveraine et Impossible litter de individu précedant Eat, «est mainter, jusqu’a'la'finrdu XD sidele, gre a I'attitude conservatrice de la Cour Siipréme”):* Professa a mesma opiniso Luis Legaz y Lacambra, em seu estu- do Derecho y Libertad, quando lembra-que liberalismo e democracia sio,idéias.distintas, “embora tenham.andado juntas ¢ aparesam ambas comeiprodutas do sepirito mederno e consubstanciais coma realidadedo, stado oriundo da Revolucio”.* ‘Acreseditéssetratadlista’que foi Ortega y Gasset o prinieiro a enxergir-clato no theio-do'denso nevoeiro-que envolvia aqueles dois principios politicos, quando afirmou que o liberalismo era ‘uma idéia aristocratica que nada tinka que ver com a democracia, E, mais adiante: “A relagio dialética ~ atragio e repulsio ~ de liberalismo edemocracia, ou, se se prefere, a tensio entreos valores de liberdade e igualdade, constitui a esséncia do drama politico de nossos dias”.” O erro dé Lacamitira, a0'fazer 0 ‘panesgirico de Totqueville, © ariéochta libel, que ele compara a Caf Schmit, & labre tebrico do nacional-socialismo, tencido mas nao convencido, consiste em su- Bor aue.ra Revolt Francesa tanfou o Princ ‘democratic. it teoria; ’possivel. Narrealidade, porém, a vitbria foi apenas par- «ial, icando no meio'do eaminho a concretizacéo da doutrina de- mocrdtica Exprimea Revoluglo Francesa o triunfo de uma classe ede uma nova order, social. A ordem politica, rio entanto, saia daquele em- bate ervolta.no,caos.¢ na contradigao das doutrinas que derruba- ram ancien.ségime, . Antes da Revolugéo tudo se explicava:pelo binémio absolutis- ‘mo-feudalidade;fruto deeontradicaojé superada. Depois da Revo- 1SiGethard Labhots abet pp: ASEIOR. 16.0. ct, pp. 87-88, 17.08 it pp. 87-88, "dos focos de inteligénciachumana que ifuuminam, as vezee, de stb. DAS ORIGENS DO LIBERALISMO A TADO SOCIAL 55 lugdo, advém outro binémio, com a se‘ e versa inéria? democracia-burguesia oudemocracialibe ‘mon Gouringin Antes, o politico (0 poder dori inhaascendéncia sobre o aon Ein eft Sor ea medina are SEP industrialismo) que iniialmentecontrolaedirge o politico (a genoct “a Toe erando uma ¢ 's mais furiosas contradicbes do séc Dissemos inicialmente porque, depois, 0 eauilibrio se m , depois, o equilibrio se rompe coma pugna ideolégica, qu reprimiu edesacreditouo antigo pa principio teria que aderir, num processo adaptativo, o qual, é& brig, importa porsveis alteragoes de natureza essencial, Toda andlise que se fizer das Constituigdes que tiveram seu ber- ge ¢ sua génese na profunda transformagio politica a.que assisti- mos, apés6 ultimo conflito mundial, ha de.evidenciar, & saciedade, i diviséo de poderes, é, em nossos dias, principio atenua ‘em franca decadéncia doutringria. + presipo tera, Data: colocermos emela de debate a certeza de versirmos te- sma que:denota, com:clarezai9;sentido peculiar em.queevalveu 0 constitucionalismo modemo, queinko segue a rota dsindjvidualise mosradicional,avorecide.eamparado pela separacio classics xmas -envereda pelos, do social, visando.nisyapenas aafiancar 1. Afonso Arins de Melo Franco, Estudos de Ditele Gonsttucional pp. 156/157. 66 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL a0 Homem os seus direitos fundashentais perante o Estado (princt- io liberal), has, sobretudo, a resguardar a participacio daquele na rmigo da'vontade’ deste (principio democritico), de modo a idlizit’8'appatelho eétatal para uma democracia efetiva, onde os poderes piiblicds estejam capacitados a proporcionar ao individuo somacada ver maisamplade favores concretos. | ‘vio todo esforgo que buscar outra diretriz para eluci- tes do constitucionalismo moderno, respeitan- {Ye ao sistema emque se apdia.a técnica de distribuigio de pod ‘No-entanto, essa oscilagio. politica’ para a igualdade, que em, nosso século ¢, sobretuda, osilagia de.cunho social e econémico, revela-se como antinomia perante a liberdade classica, que o século -sonseguin igo principio liberal, ora em de- St a eee serevens nal ‘Principio, aparecey rudemente imolado. Foi isso si Neen eget tle tieeatataecs 9 cer chp ideplogica do Estado liberal- ie SE secretes ‘esse fato teria alcancado no dominio ikerdade humana, 2 tinnortdncia e justifizagia higtériea do principio da separacao depoderes ..., re Cabe;'prélinlindemetite, o exame da doutrina da divisio de po- eres, sua orighif ¢jlltificagio, ” Quanto a6 derradéiro dspecto — 0 de sua justificagéo -, chi- dames imprescidveisalgumas reflexes, vito que noses tse nfo despreza nem menoscaba 6 principio em aprego,-reconhecendo-Ihe toda finpoririahistrin que teve ea conveniénca que spre” séritou em ‘determihado'mornento dos embates travados pela sofia politica do século‘XVIIL; com sua vocagao profundamente cri- tice ¢ racionalizadora; dé antagonismo aos lagos da autoridade eda ‘reo feito i ‘época de revolta, em que a ideclogia asnadurecera para formas de coneretizacl6 social imediata, Precisava-sé-sepultarnos:éspiritos'aIdade Média, 0 corporati- vismojisfetidalidade'e seus privilégios; o absolutismo do rei ¢é sua contradigiotoinaliberdate moderna — oc Dilifade elorganicisiig sdeial de outros tempos nas vastasanti- teas qué haveriam de eifipréstat Feigao mécaticista &'sociedade e redutiro corpo social a uma poeira de &tomos, refletida nos exage- 708 da teoriaiitiividualista. : O ESTADO LIBERAL E ASEPARAGAO DE PODERES 67. As idéias da Reforma e da Renascenga, reinterpretando a Anti- gildade cldssica em desacordo com Aristéilese Plato, para fur- a, .0 direlto natural Inicizado, as bases politicas do Estado libe- ral-democrético, alcancavam agora sua, indisputavel sobre a conscitncia politica de todo um steulor SP Langadas estavam, pois, io terreno ecorémico, politico, social e filoséfico, as bases da grandé renovacio. Esta se produziria com 0 trauma revolucionério de 1789, quando ascende ao poder o tereeiro estado, a burguesia, constituida-depois que o comércio e a indis- tria, no século das conquistas e navegagbes, entraram a romper 0 acanhado espago da corporacio modeval, de estreitssimas lac ses de producio, para ganhar os mares, assinalando, por esse 9, passagem dla economia urbana para a economia nacional, com todos o8 efeitos de universalizacio de mercados e dilatacio erescente dos interesses econémicos. A burguesia triunfante, ao soar ésse ensejo historico, enfeixava todas os poderes ae jatfcavn socaiments come mow sane ~minador comum de todas as classes, por cua liberdade — uma li berdade que, de modo concreto, s6\a ela'aproveitava em grande Parte ~ havia tergado armas como despotismo vencido. Como se v8, titulo de representagio da iberdade fora usurpa do pela burguesia, Em verdade, o que ela representava era uma liberdade de cu- nnho politico, que se compadecia harmoniosamente com os seus in- teresses de classe social preponderante e com a ordem de relagdes secondmicas que sustentava, como forca vanguardeira da Revolu- sao Industrial incipiente. Nato havia de custar muito & critica pés-revoluciondria das pri- meiras décadas do século passado resuynir todos os erros, lacunas € imperfeigées daquele conceito de liberdade, seu normativismo va- Zio'e os inumerdveis claros que apresentava, declarando-o, por con. seguinte, inoperante para prover as necessidades e reivindicagSes sociais das classes desfavorecidas, maiqrmente aquelas que com. punham os escuros quadros da miséria urbana e proletaria nas mi- nas efabricas da chamada Revolugio Industrial. 3. A burguesia e o triunfo do liberalismo na Revolucao Francesa Quem participava essencialmente na formagio da vontade es- tatal em face d¢ novo Estado liberal-democratico? A burguesia, sem duivida, a cuja sombra, em nome do payo, se ocultavamn inte- resses parcelados da classe dominant. 68 BO ESTADO LIBERAL AO.ESTADO SOCIAL s.restrigbes ao, sufrdgio, antes.que a democracia abrangesse, ee eS i tedas as causes, ptentean que ‘a. Revolugio Francesa nao, erropera a totalidade pe iesios se Sbstauiam, a,participagio ativa, co Povo, DA, xe ag obgtalans a particpasie AB pa oe et litico, foram, sobretudo, as de liberdade, en ies Tengu see eats hun sentido de 4 “burguesia precisava da liberdade,re 0 Estado liberalkdermo~ critica, aspenta go naqusle foraalismouridiea queen Kant haga sua;fermulagio, ‘acabada; erasum Estado, destituido, Conteido, neutralizado parastodo atd de intervengso:que pudesse fembaracar.ja livre iniciativa material e espiritual do: individuo, 0 ‘qual, como soberano, cingira a Coroade todas as respansabilidades sociais. ce " Esse rei,quesa ideologiadoséculo, XIX comesaria depois: ades- tron verse Smith m incomparsvel sro, que © coloearay tambsm, como'eixa de gravitagaa de outro;sistema, nko menos fur damental — oecondmico. *) 5 7 si wrens be 7 a ia, com o long tifoei coritra o al sexiness come ngs i i mocratico, erguido pelo constitucionalismo pés-revolucionario, © Principio liperal tiunfara indiscutivelmente sobre.e principio de- moet . Ht, . “ {jf assinalamos, recoihese-nele’menos « doutring Rovsoaue ‘ade Montesquieu. 6, uma soberania una antepoe sea soberania parcelada ou pluralizada dos poderes que se divider. sma de.garantir oindividuo, de rodes-lo de protecio con- aa terug ein oes © negatioum de que emanamy-as piores ameagas aq vasto circulo des. dnveitos individuais, que a:Revolugdo havia erigido em dogma de, vitorioso evangelho!palitico, - Assim se explica ‘a origeni do célebie principio da divi poderes? Soa. - Cabe aqui, sem divida, menglo dos filésofos que Ihe deram fundamentagio tebrica, antes queo vissemos aplicado’par viarevo- lucionéria: We tat in " euliia d aria consti € 2 4 sifeuliie da separate de. a poms sicuccng jel ETS AASB HEAT sera ence csi ae Fae on und Ws Dee sie. Snes utd sien OESTADO.LIBERAL E A SEPARAGAO DE PODERES 69 Mas essa divisio néo se prende apenas a uma racionalizagio doutrinéria,.a maneira do que.fez Montesquieu para a Franc, quando elaborou as bases tééricas do principio, a saber, em obser- Jagbes colhidas na vide consttuciona ingles, sem embargo de a critica dos tratadistas haver subseqiientemente comprovado 6 en- gano do inclito fil6sof6 liberal, enigano que, segundo certo autér, foi *o mais fecindo” dé que hé noticia na historia das idéias politicas da Humanidide, porhaver permitido o advento do constituciona- jismo democritico.” Dizemos critica dos tratadistas, fnas houve excegSes. E,algumas abalizadissimas, como a do .insigne constitucionalista alemgo.Carl Schmitt, Acha este que Montesquieu nio'se iludira po exame da realidade inglesa. Torcera-a deliberadamente. Mas ndo da as razes que o convencem: No entanto; supomos encontré-las no fato de que Montesquiets sabia’ perfeitamente qui ali, outro era o sentido das instituigbes, outro 0 Seu organismo juridico, outra a mentalidade ; que se criara. Tratava-se'de sistema esteado ent tradigdes que evo, viam com lentidio, mas seguranca,e sempre significavam o fertale- cimentoprogressivo da liberdade: : A Inglaterra, com 0s seus bardes e sua ndbreza nunca ofuscada, no abolira de stibito a Idade Média eo feudalismo, que desapare- ceram mediante transigo vagarosa eretardada. O reijamsis pudera abater a aristocracia e sujeité-l r0 dominio, como no Continente, onde o monarca, dep truir a supremacia feudal dos fidalgos, se colocara ostensivamente em contraposigio as classes ndo privilegiadas. Em verdade, 02 barées feudais, como assinala proficientemente Laboulaye,‘se aliaram, nas ilhas britanicas, a0 povo, para combater as pretenses do absolutismo real, precisamente ao contrério do 3. A mesma tese sobre o equivoco de Montesquieu ¢ professada por Mirkine Guetzéviteh,condorme lembra o Prof. Orlando Bitar. Nas conferéncias do bicente- nirio do: Espira das, Leis (1948), diz Guetztvitch que a Inglaterra € para Montesquieu uma utopia semelhante is de Patio, Morus e Campanella. \Lembraainda Bitar, arsimado em Bagehot, que de 1729 a 1731, 6poca davisita ‘ds Mondesquen s Inglaterra, o pais te inlinava para o regis dp gabinet, com ‘Tascensds parlamentgr do “grbo-vieit” Sir Robert Walpole. © mesmo Montesquieu ‘Thesitante sua dUvida transparece noe tines trecton do ctlebre Capito’ § do Livro XI, sabre « Constituicio da Inglaterra, quando -escreve: “Nio ae-compete ‘ecaminat se os Lagleses agora deafrutam ow no desta Uberdade, Bastame dizer {que ela é cstabelecda por suas leis, e eu nfo busco outra coisa sendo ipsa” ("Ce ‘est point A mol 8 examiner si les Anglos joulseentactucllement de cette Sberté ‘ou non. I me suit de dire quelle est tabll par leurs lois, et je n’en-chercbe pas davantage’). * 4, LEta ete Limits, 22. : 70 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL ue se deu na Europa, onde o rei tetia pactuado'com as'classes po- AAlares para everter a independénia, 4 Iiberdade e © poderio da fobrezaliquidando-a politicarnente.* fetidal de cats P Pomposo brilto'de sais thilos e qué alimetitivam s fivez na tradiao « deposta das antigas glorias feudais. tesa ia 1ue se formou entre 0 rei 0 povo, depois de abitidu:pocanvers dependence ica dn obreza, dew revo- lugio Jiberal-demoerAtiea’elrdptia felgho intelramente distinta da- quela qué ccorreu na lighter. Velie ater, ».,O8 pauaseuropeis pediam também liberdade, taf ° age tares meee erence ig Felvindleagies, igo sfgulo XVI, que, instauraram, delinitivamente o sistema liberal buscayama bige teGrica desuas aspiracbes, . . Foranvenconthécla ae engendrarem a técnica da.divisio.de po- deres, pois a unidade do poder, se abertamertte.esposada; como na Inglaterra, por parte da aristocracia, implicaria, no Continente, sua remogig da monarca para 5 povo. " se Queria, assim, evar que o poder rctise no povo. Esta fa a antinomia sober do seio deste destaca-se uma Giseck Burguosa: Est pretend eacigr 0 poder, amparando-e constitidionalinerite na téchica separatists. 4 Sem a sey de poderes ter-se-ia a vit6ria ‘do principio de- mosritcn con expat nas tarde Rousseau, Montesquieu advo- gava o principio liberal, abragava a solucfo intermediéria, relati- Vista, que, detum lado, afastava o despotismo do reie, de outro, ndo entregava o poder ao povo: Essé principio seria aleancado por via do esquema exposto, que transplantaria a decahtada li sglesa para as paragens Continentals, | Nio discutimos se Mont queria o poder para os fidalgos decadentes ou para a burguesia ascendente, O que asseveramos, ¢ ‘io padece-dilvida, € que sua:teoria se prestou admiravelmente ‘bem a6 prograina da cldsié ale iti governar politicamente a Euro- pa no século XIX, e:qué faria, com tanto éxito, a Revolugio France- 5a, consorciando aos seus ideais-os dademocracia, numa alianga — aliberal-democracia ~ que muitds tedricos ho considerado hibri- daecostradisria. : Montesquieu interpretou precéncebidamente a Constituigéo in- lesa, para servir aos fins da Fevolugfo incipiente, ao descontenta- mento que lavrara contra as monarquias opressoras de diritodivino. lade in- ~ até entio encobertos na feriom éhologia'da Natureva, a O ESTADO LIBERAL E A SEPARAGAO DE PODERES 71 A reformagio consciente, cujos.motivos Schmitt nio explica, deve ter decortido das razdes a que anteriormente aludimos, res- peitantes a posicio ideolégica de Montesquieu, colocado entre o ab- solutismo monarquico e a democracia pura e simples, ¢ que o cone ‘erteuno malor eSrico do liberalismo.’ " ° © principio néo be prende a uid raciorilizagio doutrindria, re- petimos, porquanto a Inglaterra, com a sua sabia \¢40 poli- tica, de cunho organicista e tradicional, jé fizera medrar o embriéo daquela'idéia, do mesmo:passo que fildsofos sociais, como Locke, dela se fizeram paladino’'e préciursdtes:”> * Tratava-se, indubitavelinerite, da'idéia' que se afirmaria mais vivae palpitante no normativismo constitucional subseqiiente A Re- volugio Francesa, 4.A separacio de poderes como técnica de limitacao do poder ~ __ De outro lado, a vitbria da’ciéncia, que descerrs ndia as es- Petanets © 9 ofimisme des fiésofos racionalistas. Cuidavam eles aver transposto assim 0 pértico'de-tima'eri'que prométia a0 Ho- mem a solugio do caso social. A implacivel investida que se fez contra as antigas instituicdes, destrufdas nos alicerces, pedlia que ao desinioronamento das velhas idéias sucedesse a reconstrugao da realidade social, nomeadamente em seu aipécto politico Eo pensamento daquela idade conflagiada cuidou dese modo levar a cabo, com pleno, éxito, a reconstituigio da autoridade, em bases completamente novas, que dessem ao individuo, com a Carta de seus direitos fundamentais, ideologia,furidada em valores rigi- dose absolutos. Odireito natural, no que tange & ordem politica, chegara.ao seu ponto culminante de forescinento, exercertio score a onactocl dos reformadores europeus do século XVII prestigio raramente cancado por outras doutrinas. Supunha-se estar de posse da chave do destino sdcial, encami- nhado a felicitacgo do género humano, Antes, porém, que arealidade tontradissesse aquele majestoso sistema de idéias ou pusesse abide nquele esbogo otimista de orga nizagio social, em queazazio humana anunciava; no.plano tebrico, a obra de perfectibilidaderdas instituigSes, tudo levava a. crerine triunfo dos esquemas de técnica constitucional do liberalismo. n DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL Um desses esquemas foi o da divisio de poderes, que tinha como objeto precipuo servir de escudo aos difeitos da iberdade, Sem embargo de sua compreensio rigotosamente doutrindria con- duzir ao enfraquecimento do Estado, & dissolugio de seu conceito, dada a evidente mutilacto aque se expurha o principio bisico da soberania, uma de cujas qaracteristicas, segundo Rousseau, era a indivisibilidade. No entanto, 0 anseio de proteger eficazmente a liberdade leva- vva ao esquecimento dessa contradiglo, sem que se suspeitasse se- quer da necessidade de retificar 0 principio, com as corregbes que the foram feitas, posteriormente, em ordem a atenuar o rigor de suas conchis6es. . ‘A ligio dos povos que padecerain os abusos do absolutismo ex plica, por conseguinte, a elaboracio daquela técnica sedutora que Enperou, por mais de século, no constitucionalismo clissico. Deverio$ entendé-la, pois; cori arfna'de’qiié se valet’ doutri- ‘na para combater sistemas tradicionais de opressio polit Visceralmente antagénico a concentracao.do poder, foi, portan- to; pringipig fecundo de.que se serviy para a protecéo da liberdade CcBratiteepatsme moderg,ao fala, com o Estado juridico-0 sverno da lei, endo 0 governo dos homens, ou seja, a government of, ernment of men, conforme asseverou judiciosamen- ja historica, 6 ifsigrie Toni Rdams, dissertando achhed da Constituigio arserieand, ‘Mas nunca se deve perder de vista que o afamado principio se gerou tambem na idéia peculiar 20 liberalismo de limitagio maxi- a dos fins do Estado. ‘Oabsolitismo iluministd dilatara a teleologia éstatal, eo ibe lismo da primeira fase, que'se lhe segue, introduzira na teoria poll fea 1déias que slo preciearnenté o reverso do dive pedia 0 Estado po- licial, de cunho mercantilista. . Kant sucede a Wolff, na Alemanha, assim como Montes i do liberalismo contiental, sucedera, em Franca, 20s tebricos Eo absolutismo, que encamavam a sdberatia no monarca de to divino. Com 6 modemo Estado social érescerarn, porém, os fins do Es- tado, + * vot Ora, 9 principio de Mantesquen, domo virion, compadeca-se coma didhinuicko, endo-come alargamento, dagueles fins: "Dat outro motivo para determinir ovrecuo necessérioyse no abandono a que se acha exposto,na doutrina politica denossos dias, ‘© mencionado principio, notadamente depois que as necessidades © ESTADO LIBERAL E ASEPARAGAO DE PODERES 73, do mundo modemo impuseram ao poder estatal a ampliacéo de seus fins.e oaumento continuo da esfera de suas responsabilidades. 5. Os percalzos da separagdo possivel ir mais longe e, em abono da teoria de Montesquien afirmar-que © principio evolveu, no campo do constitucionalismo, de aplicagio empirica e de interpretagio assinaladamente restrita, | para:conceituacio aprimorada, em que os poderes, como aspectos diversos da soberania, se manifestamy em Angulos distintos, aban- donando-se, dai, expressées improprias.e antiquadas, quais sejam serrate « dito, aybstidas por outas mais corvetas,« ber, Aalstingt, coordenagto'e colabéragao, Hitratadistas ¢expasitores que preferem, ao termo poder, ter mo fungio, Essas.entendas-a doutrina sio fundamentals ¢,esclare+ cem.que os; poderes-caminham. para ina integracfo, compativel coma larguissima-esfera da agio.estatal,9.qual:progressivamente se estende, com 0 acnéscimo-de novas responsabilidades saciais.e econSmicas, que perdem sua configuracio juridica meramente tur telar e formalista para se corverterem em elementos matetidis € consubstanciais do conceito de Estado. A tendéncia para a vinculagio, a sinte deres atesta que, no modemo Estado, inlo temeo poder. Houve época, porém, na filosofia politica, em que havia da par- te dos teSrcos a preocupasto dominantede refrettae reprint. Via-se nele, com indissimulével suspeita, elemento:exclusiva- mente negativo; o inimigo mortal da liberdade humana, 0 principio de todos os maleficios e danos & ordem sociale a existéncia livre do individuo na sociedade. Compreende-se essa tendéncia como reacio extrema aos ex sosdo abeolutismo. mmoreasio “ E foi isso talveznecessario a que se fundasse 0 respeito A perso- ralidade humana, torrandora joridicamente intangivel, Sob ease aspecto, no hé:por que reprovar os resultados positives da doutri= naindividualista. Mas ela foi indiscutivelmente perigosa para a defesa da mesma personalidade dohomem, quando,caiu na contradi¢io e naantitese dle determinar, de wm edo. antraquesimente do, Estado, no valho esquema da liberal-democraci Outro, a hipertrofia do Esta- do, no moderno esquema totalitério, ou seja, na ideologia dos que rridico e democraticn, jd se ” ‘DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL buscavam resposta para-o-desnivel eo desencontro entre a realidar de sotial, mais poderota e dortinadora,¢ a realidade jur fraca e sem contetido, de feigdo normativista, logicista e abstrate, que rodeava e ccultava, na sociedade burguesa, um mundo interno de contradigées, em plena fermentacio. * ‘Avreagio a favor do poder, com o'seu cuinho antideniocratico e toialitério, 96 poderis'ser vitoriosamenté acometida caso se evacu- asse para avigoraraestrutura do novo Estado democrtico, de teor social tio vasto, aqua posiclo anterior, de manifesto antagonismo a0 principio.da soberania, isto é,-dos que dividem intransigent= mente o podertem esferas quase incomunicéveis, Nio foi ser tainio ie Miguel Reale, esctevendo a respeito de Hauriou e sua doutrina do Direito, afirmou, com inteira procedén- cig; que “Haurioii pertencéaquela familia de juristas que sabe queo piorinimigo do Dirtito é quele que fecha os olhos para o problema Go Polder é dqulejue julga ter aalvo aigualdade e'a liberdade co- locarido © poder env ui plano seeundérto de subservigncia As e- _graé espontaneament biota tfitos das relagdes humanas” ? Ora, outra coisa néo fizeram os teéticos do'liberalismo; do aelte libéralismus, de que nos fala Nawiiasky, na primeira idade do Estado juridico da burguesia, senio “fechar os olhos” aquele problema e deixar que a sociedade; na.composigio de suas forcas dinamicas, contradissessey ce iniotlo: cada véz-mais veemente e ameacador, 0 que.se divide é o objeto do poder, ao qual se.dirigeaatividade estatal Quando muito, hé divisio de competéncias;nurtca, porém divisto de poderes.* 10.Madison in Federalist XLVIL/272,apud G. Jelinek, ob. cit p50 11,08. dt, pp. 500-501, ‘ 12.0b. ci, p. 503. 13.0b., Na pédia: Metternich’‘encontrar/:na-ciéncia: juridica, aliados muis:devotostiern adeptos minis atdorosos:da’téoria restauradora do que aqueles filésofos e jurisconsultos intélectialmente nutridos nogeacionarismoda Santa Aliangsy2!)-*:. » Tinhava burguesia vitotiosa, como.arma idedlégica de combate, em que assentava o seu prédominie'sotiatde classe, interpretacdo ‘mecanicista da Sociedade, esteada nos postulados da razio. __ Qublembratse a idadetausn€ O ESTADO LIBERAL E'ASEPARAGAO DE PODERES 83 ea’ ideologia reacionria da nobreza decadente fundava, por sua ‘vez, 0 organicismo, como. réplica que se propunha a invalidar as Scgrmpamee wige geen eels Combatia-se, portanto, a formula mégica e abusiva com que os regicidas da flosofia politica, a proleespiritual da Encilopadin, ace, navam para.a palavra liberdade, fomentando o reyelucionarismo ro seio dos povos e despertando as massas adormecidas para a par~ tcipagio politica mediante o exercicio do direito de voto. ‘Apelava Savigny para as tradigBgs alemas. Em seu livro de 1814 dephramse-nos, jo» germes de uma teoriaorganitista da Socie Sua visio genial do Direito nos familiar®2iva com idéias que va- sos ver mais tarde amplamente expoatase debatidas por figsofor adistas, cujas raizes mer ‘na mesma inspiragio de pos- fuladosquea escola historic Pissfo depo Omovimento de codificacio foi o pretexto para a grande arre- _emetida ideolégica, Rompemese as hostlidades, ena lagica © com. pacta argumentacio do sabio hd passagens que patenteiam 0 apre- Seen que eletinhao prircipioorganicista, Se nio;'vejamos, compulsando-the o livto'afamado. Depois de referir-se a uma “conexao organica do Direito com aesséncia e 0 ca- rater do.povo", diz Savigny, mais adiante, em.uma de suas compa- rages para'atestar'o cardter funcional do Direito, 0 principio de qué cle impilica-uma relagio dindmica: “Em todo ser orgartico, e as- sim também.no Estado, repousa a satide no equilibrio das partes com o todo, que a cada um.concede.o direito que the cabe” ("In jedem organischen Wesen, also auch im State, beruht, die Gesundheit darauf, dass beides, das Ganze und jeder Theil, in Gleihgenehe see, dass jedem sein Recht widerfahre”).* sobretudo na.conclusio de sua dbra, depois de percuciente aniline dx sofreguidto codifiadorn de sus poe ihe oie declaradamente se confessa o organicista do ireit. <2 Ese mesa ae bere. 62 ling com oo pretend restau ate pclae eee :Contieriguilmenteasinaar que einige quae fola mec bp, i quae fo nec Saeeteden ter nee sate dette Seba poe’ s a Aaa Beas aE Gb ead no vere bead demoed aca Tora ee ei et prot uta como a ‘tnd ota tole dion pcan hepenn puro daemon nahi asus tor 18. Vom Be waver et fier Gethin Redes 9.2, 84 [DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL ‘Merece lembrada essa expressio de seu pensamento, para fi- xarmos 0 ponto de vista de um jurisconsulto que vai ter continua dores:na teoria organicista aplicada'ao Direito e dai ao Estsdo Sociedade, e que se acha vazada nos seguintes termos: “No alvo estamos’ de acordo: quveremos um Direito de bases firmes: fi contra ingeréncias arbitrarias e opinides injustas; queremos cate Le reynidade nactonale a concentagho de seustorgos cientificos com vistas ao mesmo mister. Para’esse propésito pedem eles um cédigo; 0 que acarretaria.a desejada ‘anidade aperas para ‘ima parte da Alemanha, ao passo que a outra ficaria mais ostensi- vamenge insulada do.que.antes. O verdadeiro remédio, vejo-o em uma ciéncia juridica, progressiva e brganica, pertencente a toda a ‘:Nagéo" ("In dem Zweck sind wir einig: wir wollen Grundlage eines sicheren Rechts, sicher gegen Eingriff der Willkuetr und ‘ungerechter. Gesinnung; desgleichen Gemeinschaft der Nation und Concentration ihrer wissenschaftlichen Bestrebungen auf dasselbe Object; Fuer diesen Zweck verlangen sie ein Gesetzbuch, was aber die ischte Ban fuersdie Haelfte von. Deutschland hervorbringen, die sre Haelfte dagegen schaerfer als vorher ‘absondern wuerde. Ich sehe das, rechte Mittel in einer organisch fortschreitenden Rechtswissenschaft, die der ganzen Nation gemein sein kann”). De.todos.os organicistas alemaes do Direito e do:Estado, foi Otto von Gierke, porém, 0.que mais estreltamente abracouressa fese, acompanhado de perto por Bluntschli, Ahrens ¢ Jellinek. Pertence-Gierke a estirpe dos grandes luminares do Direito que ‘0 séculoXDdeu's Alerainha, Na sua teoria do direito publico ha o esforco cientifice mais meticuloso que se conhece para lanar em definitivo as bases do organicismo juridico. A leitura de um de seus livros capitais,’DieGrindbegriffe des Staatsrechts'iund die xewesten Staatsrechisthevrin; déenos bem a medida do que foi otrabalho des- se incomparavel Mestre. Os alemies cultivavam efetivamente com zelo e devogio as teo- rias organicistas. Mas, por estranho que pareca, 6 na Inglaterra de Locke que se nos depara, encamada‘em Sir Edmund Burke,a genial antecipacio inglesa do organicismo juridico e estatal. Burke escreveu antes de Savigny,.e Bluntschli confere-lhe, com razio, 0 titulo de pai e precursor da’ moderna escola organicista: Se ria, por conseguinte, injusta’a omissdo'de uin dos pensadores mais Grigingis da Inglaterra, 0 autor das cflebres Reflections on the French Revolution, obra.de reagdo; que tanto.se.popularizou nos circulos 19,0b, ct, p.98 O ESTADO LIBERAL E A SEPARAGAO DE PODERES 85. restauradores empenhados em sufocar com sangue e terror os idenis da Revolugdo Francesa 10, Critica as teorias organicistas Um dos melhores reparos que conhecemos aos excessos da teo- ria organicista fé-o, sem diivida, Kelsen: Herdeiro das idéias kantistas e sustentéculo de uma Filosofia do Direito que continua a tradicéo formalista do eminente filésofo de Koenigsberg, no podis'o"Mestre de:Viena, transponido o logi- cismo de Stamriler e ingressando'de chéio no mais puro forma- lismo juridico, deixar de ser o inimigo mortal da doutr i= cista, o mais temivel e impigdoso.de seus adversarios. ne organs le escreyen, lice. a sua Teoria Geral do Es- formulagéo len, Der Staat Seos.ai tem, em parte,i andlise que ficam as contradigdes e fraturas. que ele descobre no livro do teérico entos de um jurista da estatura de Gierke nig resis- thes fa Kelsen, mais abertas e expostas e iniciador da geopolitica.” Nio menos éélebire a respéitd desse tema foi, decerto, a polémi- ‘ca que Otto von Gierke haitteve com Valk Krieken, outro fervoroso adepto da teoria mecanicistae precursorde Kelsen nessas idéias. Krieken inerimiriara os organicistas de enfraquecerem adrede a base em que'se apoiava 0 modémo,constitucionalismo liberal-de- mocréfico dos séculos XVIII e XIX, 20 se Fevantarem, em coeréncia coma teseorgenicista, contra origemvcontratual do Estado. Considerantio o-organicismo.explicacio inistil para 0 Direito, por achar-se eivado de contradicSes e:fomentar a confusio em to- dos os domibion da dotrnw tlw anteeenor de Keen gue to- ria organicista, quando muito, tem alguma importancia, par spreigio poi do Estado. me pase quinporém, essa importincia ¢ toda negativa. Sem embi de muitos persadores, amantes.sinceros.da liberdade, se haveram abracado a semelhante:teoria, diz Krieken que a,doutrina orga- nici “limita a Iiberdade individual e. favorece 0 arbito abso- 20 Fas Kai Teora Gani ei Eade; pp. 47-486, 21, Otto von ,Gierke, Die Gran actrecht Statsrechitheoren, p85. Sranlesife des Ststrecs urd die meusten 86 DO ESTADO LIBERAL AO ESTADO SOCIAL I. Tendéncia do constitucionalismo contempordneo para estreitar a colaboragao e vinculagao dos poderes 1egamo: essa conclusio: a teoria da divisto de poles fem outesterpe,arma necesdrn da esdade ¢ afirmagio da personalidade humana (séculos XVIII e XIX). Em nos s08 dias é um principio decadente na técnica do constitucionalisro. Decadente em virtude das contradigées e da incompatibilidade em ue se’acha perante a dilatacio dos fins recdnhecidos a0 Estadio-e Ai posigio em que se deve colocar’o Estado para proteger eficaz- mente liberdade do individup esua personalidade. liberdade contra o Estado é uma idéia morta. 8, como se vé-nosepuinte lem sualeancamosalibeidade no Esta para’ tanto se mostrar4 cbsoleto o principio

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