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Leda Verdiani Tfouni ee Frc telele | Multiplas Faces da Yuteria Jalyne Caves tascimenty = Uonreege Chisen PEGHEUX, Michel. 0 disewso: estrutura ou acontecimento? ‘Ihuli lo de Eni Pulcinelli Orlandi. St0 Paulo: Pontes, 1990. PRET, Dino; URBANO, Hudinilson (Org). A finguagem fla lit na cidade de Séo Paulo. Si Paulo: Projecto Nure, 1988. ‘TROUNI, Leda Verdiani. “A Dispersio ¢ a deriva na constiauiyia dy autoria ¢ suas implicagdes para uma teoria do letramento”. [i SIGNORINI, Inés (Org.). Investigando a relagio oralfeserito © 4s (0) ias do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2001, p. 77-97. (Ci legio idéias sobre linguagem). __. “Letramento e autoria: uma proposta para contorar a dicotoiii c escrita”. Revista da ANPOLL, Campinas, SP, n. 18, p. 127-14) - O caricer terapeutico da escrita ~ priticas de letrament oi lum hospital psiquiftrico, Revita Paidéia—~Cadernos de Bducas0, 20) (no prelo). Mensagem e poesia. A atualidade de Saussure e Jakobson, sobre a verdade do sujeito (€ do sentido) em deriva. In: GASPAR, N Ry ROMAO, L. M. 8. Discurso ¢ zexzo: multiplicidade de sentils Ciencias da Informagio. S40 Carlos: EDUFSCAR, 2007b. (no pel) TORIA _ ONTENGAO DERIVA' Verdiani Tfouni ‘Ao escolher palavras com que rnarrar minha angtstia, eu ja respiro melhor ‘A uns Deus 0s quer doentes, A outros, quer escrevendo, Adélia Prado, Ex-voto, 1999 Retomo (e recomeco...) aqui uma reflexao iniciada em trabalhos, jores (Tfouni, 2001, 2005 et passim), na qual procuro relacionar 0 to de autoria com o de deriva, tomando como bases te6ricas a ¢ de discurso pécheutiana (AD) ¢ a psicanslise lacaniana, & na tiva de estabelecer um dislogo entre essas duas abordagens que ho em Tfouni (2001, p. 80): trabalho de autoria situa-se naquilo que Pécheux deserevew como “.. uma divisio diseursiva entre dois espagos: 6 da mani- pulugio de significagSes estabilizadas, normatizadas por uma higiene pedagégica do pensamento, e 0 de transformagbes de sentido, eseapando a qualquer norma estabelecida a priori, de tum trabalho do sentido sobre o sentido, romados no relancar infinito das interpretagdes.” (2002, p. 51). Analiticamente, 0 sujeito ocupa a posigio de autor quando retroage sobre © pro- cesso de produgio de sentidos, procurando “amasrar” a disper: Teo Ewa ampliagdo das ref f Aucori ~ Um lugar a espera? © O earivercerapeuticn da escrits: pica dle to em um hospital psiquticn so que esti sempre vireualmente se instalando, devide cequivocidade da lingua . O aucor, assim, produz aquilo qu: .can (1957) denominow de “poine de eapiton”, ponto de esto fo, lugares do proceso de enunciagio onde se pereebe que + sujeito efetuou um movimento de retorno 20 enunciado, ¢ pale assim, olhi-lo de tum outro lugar, que proponhio denominar « Ingae de autor Nesse mesmo texto, unindo a nogio de dispersao colocada ante riormente com a de deriva, comento ainda: «mesmo conseguindo conter a dispersio, através dos “shifters outros recursos (que so da ordem do sistema), o autor ni cconsegue controlar 0 equivoco, e, conseqilentemente, a derive sempre se instal. A questio & que, se para o sujeito-enunciator a deriva € um processa inconseiente, produto das duas ilusd: ‘ou esquecimentos deserites por Pécheus, para 0 sujeito autor a deriva & ponto de apoio, seja para criar manobras retéricas fim de eviti-la, como ocorre no texto cientifico (que pode ser coma tima aula, ou escrito, como uma tese), seja pani eseancari-la coma recurso de denegacio da equivocidade «i Finga (op. cit, p. 82) Conforme afirmo em ‘Pfouni (2005), 0 trabalho de autora faz-se conjuntamente com uma interpretagio déitica que se dé durante « cenunciagio, Ou sejas, a0 enunciar, 0 sujeito-autor constréi formagies imaginarias sobre 0 texto que pretende construir, as quais dardo ori gem a mecanismos de antecipagio, ou de “espera” do sujeito em lug res ainda vieeuais da significagio, O sujeito, nesse movimento, situs-s cem algum ponto da rede interdiscursiva que constitui a meméria do dizer, que € onde se localizam os enunciados (o j-formulado). Enun ciat € um ato histérico-social de apropriagio € de funcionamento di lingua, um aconteeimento ancorado nas determinagdes da Historia doy dizeres possiveis ou interdiscurso. Segundo Pécheux (1988), olhar 04 fondmenos lingiisticos do ponto de vista da enunciagio, ou do seit funcionamento, implica aceitar que esse funcionamento é em parle aceon 143 ingistico, e que ele s6 pode ser definido em relagio as suas con- lives dle produgio (incluindo-se aqui a histéria pessoal do sujeito) semos como isto é levado em conta na anslise mais adiante, ‘Vejamos as préprias palaveas de Pécheux: (..) propomes chamar interdiscurso a esse ‘todo complexo com dominance’ das formages diseussivas, esclarevendo que «am bbém cle € submerido a lei de desigualddade-contradigio-su- bordinago que, como dissemos, caracteriza 0 complexo dus Formagées ideolégicas. (..) 0 propria de toda formaio discursiva dissimular, na eransparéncia de sentido que nela se forma, a objetividade material contraditéria do interdiseurso, que de- termina essa formagio discursiva como tal, abjerividade mare- rial e558 que reside no fato de que ‘algo fala’ (ga parle) sempre “antes, em outto lugar e independentemente’, isto €, sob a do- -minagio do complexo das formagies ideolégicas (1988, p. 162). Podemos dizer que existe, assim, um mecanismo (ideol6gico) naturalizagio dos sentidos, que captura o sujeito, e que pode atua- 1gua através da escolha de um Iéxico, por exemplo. Bakhtin, ob o pscuddnimo de Voloshinov (1986), jé afirmava que as palavras de ia lingua so carregadas de um contetido ideolégico que reflete a listGria da luta de classes. Deste modo, as formagies metaforicas que ncretizam a deriva (origem do acontecimento) inserem-se também histéria particular, ou seja, na meméria, de onde se segue que as alizagdes na lingua so produto da Hist6ria social e da histéria parti- Auibuir um sentido € trabalho do imaginstio, da ideologia: fa- lago, estabelecer relagdes, ordenar, classificar, comparar, transfor- este novo que perturba em algo sempre-jé-lé: domesticar a insta- idade da “lalangue” através da “langue”, fixando, assim, por meté- © metonimias, uma nova unidade transitéria, que logo também issolverd sob o assédio incessante do real, do retorno do recaleado, ilo que é impossivel de se dizer enquanto tal. Como fica 0 trabalho do autor diante da possibilidade de deriv Sabemos que toda escolha implica exclusdes. “A meméria € memo do desejo”, afirma . portanto, a estratégia que o sujeite 1st para restituir 4 cadeia metonimica a sua seqiiéncia perdida nio esti ligada a um processo consciente nem aleatério. Assim, para voltir 3 posigo-autor, o sujeito se refugia no interdiscurso pelo lado do avess cle se refugia no fantasma (ver oartigo Aucoria ¢ Fantasia: cons(c)ertanli a realidade insatisfatéria de Alexandra Fernandes Carreira, nesta revist) Na tentativa de refinar estas colocagGes, € seguindo os proceili mentos da AD e da psicanilise, prosseguirei este raciocinio fazendo anilise de um corpus precioso que, acredito, se prestaré para ilustrat como as formagées metaférieas, que coneretizam a deriva (origem do acontecimento), inserem-se também na histéria particular, ou seja, mt meméria. Deste modo, creo, poderei argumentar que as atualizagies na lingua so produto da Histéria social e da hist6ria particular, as quay possibilitam ao sujeito alocar-se em sitios de significagao (materializa dos em cadeias de significantes): lugares especificos no interdiscurs0, que vio servir de Ancora para 0 sujeito do discusso durante o ato ce cenunciagio, possibilitando-Ihe que ocupe fugazmente posigio de autoria, visto que esta diz respeito A verdade do sujeito. © texto abaixo foi produzido oralmente por um grupo de pacien tes internos de um sanatério psiquidtrico de Ribeitio Preto ~ SP, que participavam de uma classe de alfabetizagio, Como se tratava de un trabalho com a escrita, os alunos iam dando suas contribuigdes oral ‘mente (inclusive sobre o tema € 0 titulo), num processo de livres ciagdo, enquanto os estagkirias encarregados da classe escreviam: A FAZENDA A fazenda & um lugar bom de morar. Nela, n6s teabalhanoy ‘com a terra, Lii tem muita eriagio: porco, gado, galinhs, Ll tinha muito peixe, Nés tomévamos muito café, leite © gua de ‘coco. Existe uma dificuldade quando voce fea doente, poi 6 longe. Mas, quem tem a sua fazenda que se vite por bi Uma primeira visuda desse texto indica que existe um movie nto da significagio no qual os tempos verbais se alternam (preven- passado/presente) juntamence com os objetos diseursivos (Fazenda, a, criaga0, et.) ais deslizamentos fazem com que, % medida que [Proceso associative ocorre, produzindo (escrevendo) coletivamente xto, 0 estereétipo sobre fazenda seja substiqido por uma visto jeriva gesto de autoria esta’ em, ao mesmo tempo conter a deriva dos tidos ¢ subverter o significado jé naruralizado do significante Fazen- (note-se, a propésito da nacuralizagdo, que desde o titulo nunca é do um déitico antes de fazenda), remetendo-o a outra dimensto do ntido, ou seja, o de uma abertura para outros sentidos possiveis de se fem a esse significante, processo este que apresentarei mais abaixo. im, a circulagio desses significantes passa a configurar um processo te-significacio no qual os sentidos sio retomados € relangados de Incira inconsciente, numa abertura controlada a deriva incessante icheux, 2002). Seguindo Pécheux (1988), podemos propor que o eess0 acima descrito é efeito do trabalho da ideologia numa manei- de naturalizar os sentidos através da tentativa de apagar a meméria hhist6rica do dizer © a possibilidade de os enunciados tomarem-se 05, processo esse que ocorre, no caso analisado, através de um mo- fento de retroacio do discurso, que ruma para a singularidade da nificacio. ‘Tis indicios iniciais conduzem-nos a conjeturar sobre a memé- liscursiva e seu papel na producao de sentidos. Pécheux referindo-se papel da memGria, nota que: = €ssa regularizagto diseursiva que tende assim a formar a lei da Série do legivel,é sempre suscetivel de muir sob o peso do aconte- cimento discursivo novo, que vem perturbar a meméra:« memé- fia tende a absorver @ acontecimento, como uma série miremiti- 1 prolonga-se conjerurando o rermo seguinte em vist do come- 145 Leda Verdined Theat «0 ch sétie, mas o acontecimento discursive, provocando inter: ‘0, pace desmanchar essa “regularizagio" e procuzir retrospect vvamente uma outr serie sob a primeira (..) (1999, p. 52) O autor refere-se, aqui, & nogio de deriva dos sentidos, process: que denunciaria as vicissitudes da meméria sob 0 choque do aconteci ‘mento: 0s vai-e-vem da parifrase (que, cooptando o acontecimento, pode sorvé-lo © eventualmente diluf-lo) € da polissemia (que age desregulando, pertusbando, em uma “(..) espécie de repetigio verti cal, em que a propria meméria esburaca-se, perfura-se antes de desdo brar-se em parifrase)” (op. cit. p. Em TYouni (no prelo), explico como a deriva opera enquanto fro discursivo, postulando uma dinimica de concorréncia ~ a qual niio exelui a contradi¢ao ~ entre os eixos paradigmatico (metaférico) « sintagmédtico (metonimico): += 20 construira cadeia intriseursiva, 0 sujeito depara-se —a eal “‘vazio” apés a selegio de uma palavea — com um burico de sign ficagio, que teoricamente pode ser preenchido por qualquer pal ‘yma que venha complerar aquele artanjo, Obviamente, io exis uma liberdade completa de selegi, visto que o simbélico ten ‘suas delimitagées, ¢ também porque a palavea que vai entrar aij esti comprometida com o contexto. Porém, o grau de iberdale ¢ imenso. nesses momentos que a desi se instala como possi lidade. No momento seguince, a deriva tanto pode instalar-se cretamente ~ eriando um non-sense, ou a dispersio — quanto pi ser evituda, através da eseotha da palavra “exata”, No texto A fazenda, pode-se ver essas nogbes em funcionamen to principalmente na ocorréncia de séries horizontais, que podem sel convertidas em listas verticais (ef. Courtine, 2006), as quais tornan) visfvel para o olhar do analista a contengio da deriva produzida ploy efeitos metaféricos. Ali, encontramos em associagio com esse que pt rece funcionar como “significante mestre”, ou balizador de significw do do texto imteiro, (Fazenda) as seguintes associagbes: lugar bom de morar trabalho com a terra = ctiagao (insere-se aqui uma sub-lista): porco, gado, galinha = peixe café = leite gua de coco = doenga =€ longe Cada uma dessas entradas no eixo horizontal & precedida por lum buraco de significagio, um momento de deriva possivel, que ante- pede a escolha da palavra seguinte. Essas associagdes constituem 0 efei- to metaforico do texto. Na verdade, esse efeito 86 € bem sucedido {quando a deriva € contida ¢ algum elemento preenche o necessiio de ;ntido que cla instala, O resultado dessa série de metéforas & um deslizamento de sentido, iniciado em (A fazenda) é longe, que se situa uma regio seméntica diferente daquela das associagdes que vi nham ocorrendo até entio. [Mas esse tiltimo sintagma jé vem ligado sintaticamente a algo de vo: a doenga. Essa nova associagao, que introduz o texto numa outra na do interdiscurso, quebra a unidade de sentido que até entio vie pha sendo institufda. E essa quebra é indiciada pelo significance “di Idade” (Existe uma dificuldade quando voce fica doente, porque & mge), que se opde, no niio-dito, a “facilidade”, rétulo que poderia ser ado para caracterizar a série associativa ja descrita (nomeando as faci- dades de morar em uma fazenda). Ou talvez se pudesse dizer, cons- uiindo um anagrama de “fucilidade” — que também se origina em um ito metafirico ~ que essas associagbes giram em torno da “felicida- ” que € (era) para 0s sujeitos morar em uma fazenda, Poderiamos parafrasear Pécheux (2002, p. 20) e dizer que temos af dois campos de sentido opostos, visto que os enunciados ligados a um ¢ a outro “..ndo esto evidentemente em relagio interparafristiea; esses enunciados Femetem (Bedeutung) ) ao mesmo fato, mas eles niio constroem as mesmas significagdes (Sinn)”. E preciso frer notar que também o enuneiado Existe uma dif culdade quando voce fica doente, porque é longe instala uma deriva possivel, pois a interpretagio tanto pode ser : 1= Quando voce fie doente, precisa fiear longe da fazenda (internado no sanatério, talve7?), € isso € uma dificuldade; quanto 2- Se voeé fiea doente, morando na fazenda, existe uma dificuldade, porque ela fica longe (do lugar onde Pode obter atendimento). E imporcante assinalar que niio se trata aqui de “escolher” uma das duas interpretagbes como a mais adequada (3 maneira do que faz a semfntica gerativista a0 lidar com enunciados ambiguos), mas sim de considerar que as duas eo-ocorrem, no senlo possivel decidir se uma delas teria predominio sobre a outra A insergio de “Existe uma dificuldade quando voc® fica docnte porque é longe” quebra a expectativa do rumo da significagio através da introdugdo de um outro objeto discursive: como j& foi dito acim, onde se falava de fazenda, passa-se a falar de doenga. Esse movimento de substituigao permite que se levante um questionamento acerca «li transparéneia da linguagem € de uma certa naturalizagao de sentido, que ocorre porque até entio havia uma referéneia ao significance fi zenda como um espago coletive que se encontrava marcado pol significantes estereotipados desta regiio do sentido, como café, pote, gado. A inscrcio de doente traz para o eixo metonimico um inesperili) que vem quebrar 0 rumo das associagdes nacuralizadas feitas até esse momento pelos sujeitos. Assim, 0 aparecimento de uma deriva possl vel nao deve ser creditado ao acaso mas antes a algo relacionado com verdade do sujeito: o seu sintoma. Associar fazenda com doenga, cons aru cone sscin Hlerando-se as condigBes de produgio desse discurso, indicia que o sig- lficado de fazenda, jé firmado no eédigo da lingua, através do efcito evidéncia ideol6gico, é subvertido pelo fluxo da significagio, Esse {Fecorte mostra que, para ser possivel falar de contlitos, traumas ¢ expe- iéncias desagradiiveis, é necessitio muitas vezes que 0 sujeito se des- jue para uma outra posigdo discussiva. Tfouni e Carreira (1996) co- mentam, a esse respeito, que a narritiva corna possivel que 0 sujeito le de si de maneira disfargada. © que ocorre neste pequeno texto é que, para falar do aqui c agora, das condigdes adversas da internagio, 0 jeito desloca o tempo do verbo para o passado, ¢ coloca censrio em Outro lugar ~ na fazenda. Como se vé, nese proceso, que ocorreu lurante a produgao coletiva oral do grupo de internos do sanatério, foi ssivel falar de uma outra cena fantasmética, ¢ isso se tornou posstvel do A maneira singular pela qual a deriva foi contida e domescicada Pelo discurso. A retroagio ao jé-dito © a amarragio deste através de eolhas lexicais configuram pontos em que o autor intervém, ‘Tfouni et al (2008b) afirmam que: odo e qualquer dizer tem um earieet ineseapavelmente his- ico, ou seja, € impossivel pensar na linguazem, no sujeito © no sentido fora dessa relaglo, que caracterizaremos como visceral: condigio necessiria de constituigio ¢ de funciona. mento de todo discurso. F isto que confere ao acontecimento de linguagem um carieer repetivel, especialmente por sua lagao com uma (ou mais) formagi diseursiva: os dizeres poss veis em determinado momento sécio-histérico. O aconee mento da ordem do repertvel, a0 entrar em contato com 0 novo, cespectfico de um dado tempo, fe-atualiza a enunciagio, 0 que pode levar a emergéncia de um novo sentido em um enuncise do, 04, ainda, a um novo enunciado. Evidéncia adicional para 0 que acaba de ser colocado est no uso tempo do verbo no texto referido, conforme esté discutido com is detathes em Tfouni ct al. (2008c), onde, entre outras questi mamos 0 seguinte, ao comentar 0 fato'de que o texto “A fazenda” Ja estrutura de narrativa de experiéneia pessoal 149 Leda Verdinnd Toe Sabe-se que o tempo verbal privilegiado pela narraciva em geral 6 passado, No entanto, o inicio deste texto esti no presente, como se 08 fatos relatados ainda estivessem acontecendo part 6 sujeito-narrador. Conforme a associagao livre se desentr ro entanto, 0 passado vem substituir 0 presente. Em seguids, quase como se fosse uma aceitagdo, seguem-se os enunciados: “Bxiste uma dificuldade quando vocé fiea doente, porque & Jonge. Mas, quem tem a sua fizenda que se vire por ki. Nota-se aio efeito terapéutico da eseriea que se manifesta por um des: Tigamento do passado © uma reparagio no presence (atta do discusso e da organizagio da escrita) das memérias € recor ddagies que causam sofrimento, Percebe-se assim como 0 dis ceurso da eserita faquele que é organizado com comeyo, meio finalizagio) propicia a emergéncia da subjetividade, e também possibilita que pequenos gestos de auroria possam ser concre tizados, como a producto desse texto, que é coletivo, mas que diz respeito a (verdade de) cada um, Zanello (2007) faz, uma observagiio muito pertinente, alinhando trabalho teraputico com temporalidade © metéfora: 0 trabalho terapéutico deveri, assim, poder instaurat @ possibi Tidade do diferente, onde o paciente s6 vé o semelhante: aber ura de mobilidade © novas possibilidades, Trata-se também, segundo Figueiredo (1994), de uma abereura & temporal ruptura € transigio que se refere & passibilidade ao inesperio, 4 surpreendente, a0 impossfvel, pois como repeticao, “o cru ‘ma nfo passa, do propicia o futuro e ndo constieul um presente ‘o trauma atemporaliza a existéncia™ (p. 165). A “cura” seria passagem do tempo sem cempo da “doenga’ para um tempo vivo, fluido © mével". Neste sentido, posemos compreender “doenga” como a impossibilidade do fluir no virea-ser das me: tiforas de base, eistalizagdo em determinadas metiforas eter ramente repetidas (prosétipos infants), e desconsiderando de ‘um modo geral, 0 contexto. F importante observar que essa dvisio entre dois enunciaon possiveis (a saber: I~ failidade/felicidade de morar em uma fares ¢ 2-a dificuldade de morar em uma fazenda (em caso de dong), on coe sox jesses pontos de deriva que silo instalados pelo equivoco da (nal yc marcam para o sujeito o real enquanto contingénci “desde o titulo escolhido. Com efeito, o significante fazenda pode ligarse ‘mais de um significado, devido A homonimia, que cria um ponto de deriva, a saber: fuzenda pode ser interpretado, dentro de uma visio jcidria © psicanalitica, como um gertindio (algo como 0 gers latino, significando “as coisas a fazer”, © que aponta pata 0 prese ‘0 futuro), ou entio como substantivo: um lugar bom de morar; onde se trabalha com a terra, etc, (0 que convoca o passado). Enquanto palavra isolada, no titulo, o sentido desse significante ¢ impreciso, ou melhor, |firepresenta um amalgama dos sentidos posstveis de serem atualizados fo texto, indicando desde o ponto de partida a divisio constitutiva dos sujeitos, um cheque-mate entre duas formagées discursivas antagoni- fas e contraditérias. Como isto se resolver? Discutiremos mais abaixo © desenlace para essa situago conflieuosa, através da apresentacdo de Indicios encontrados no proprio ato de eserever-se e narrar-se enquan- 40 sujeito-autor que esté sendo evidenciado aqui. Por ora, continuamos a discussio iniciada acima, Nesse momen- 10, em que uma contingéneia indetermina o sentido de um enunciado (Bxiste uma dificuldade quando voc® fica docate, porque € longe) out dle uma palavra (Fazenda), hé um impossivel que impede o lago entre ignificante ¢ significado, e, portanto, também a emergencia do sujei- (segundo Lacan (19984), o sujeito é aquele que emerge fuguzmente inte significances). E essa continggncia que faz a deriva instalarse. Bomentando esse ponto, F. E. V. Tfouni (1998, p. 97) afirma que 0 € possivel dizer dois ao mesmo tempo, ¢ acrescenta: No entanto, © niio deve retirar do texto sua polifonia (equivocidade?), questo Jue € fundamental nas formas de silencio para se entender as palavras b as palavras (1998). O autor coloca que, para discutir essa questio, é essério pensar nas .. duas dimensées do real que tocam o discurso: impossivel ¢ o contingente (1998). Podemos entender melhor esta colocagio relacionando-a com a regra de ouro da AD, que é: “Sempre que se diz x, deixa-se de dizer y” (Pécheux, 1988), regra essa que tem ver com a teoria do valor lingiifstico proposta por Saussure. Assim, ‘uma vez-materializada uma “escolha” lexical, isto cria uma impossibi- lidade de que outro significante possa entrar ali, no mesmo lugar, a0 mesmo tempo em que sobra tum residuo relacionado Aquilo que pode- tia ter sido dito no lugar, mas nto foi. Deste modo, podemos interpre tar tanto fazenda, quanto Bxiste uma dficuldade quando voeé fica doente, porque é longe, como um cruzamento enunciativo das duss signifcagées possiveis no texto. & nesse lugar polifonico que o sujeito 6 afctado por esse significant, que jf anuacia o mo que vo tomar os sentidos do texto: ao mesmo tempo falar do passado também assum “as coisas a fazer”, ou seja elaborar no presente, através da escrta, 4 situago trauma da intemagio, Neste fato discursive, vé-se como é importante, para que aucoria se instal, a retroagio 20 jé-ito (Tfouni, 2005). Miner (1996, p. 52, € também 1991, p. 341) comenta essa ques: tio da seguinte maneira: Durante um infimo momento, cada ponto de cada referente de cada proposigio da ciéncia surge como podendo ser infinitamente outro que 6, numa infinidade de pontos de vista; no momento ulterior a letra o fixou como ele & € como nilo podendo set outro que &, a no ser mudando de letra, isto é de partida, Mas « 10 do momento ulterior € de fato 6 momento anterior. Ou se)i, € impossivel, uma vez. fixado, ou matetializado, que o signo seja out, visto que ele s6 pode ser outro (infinitamente) no momento anterior Deste modo, s6 € possivel recuperar 0 que poderia (of 0 ja serve de base para 0 dito, mas no se confunde com ele, porque 4 sua fixagi sido, mas no foi, através da retroagio 3 cadeia lingiisti rclago entre os dois niveis pode ser de contradigdo, recusa, resisténclt (de)negagio, Usando a metafora genial do langar dos dados, Milnef (1996) complementa: aru conag oc Manifesear qué um ponto do universo é 0 que & requer que sejam kingados os dados de um universo possivel, onde esse Ponto seria outro que é. Ao intervala do tempo em que os dados ‘urbilhonam antes de cait, a doutrina dew um nome: emergeneia do sujeito, o qual ndo © langador (a langador nio existe), mas 68 préprios dalos enquanto estio em suspensilo, Na vertigem desses possiveis mucuamente exclusives, espoca enfim, no mo- ‘mento ulterior em que os dades caem, 0 “flash” do impossivel impossivel, uma vez cafdos, que eles fenham outto niimeto so- bre a face lisa. Onde vemos que 0 impossivel nao esti disjunto dda contingéncia, mas dela constitui 0 niieleo real. E nesse instante, nessa vertigem, do momento antetior a cafda dos dados, que a deriva se instala. A deriva refere-se 0 fato de que o sentido sempre pode vir a ser outro, ¢, quando ocorre sem ser contro- Jada, instala uma auséneia de coeréncia no texto. Refere-se a0 interdiscurso, ¢ se substancia em um relangarinfinito das significagées (Pecheux, 2002). Esté no plano dos enunciados. A deriva é a ierupgio o real, visto que o real esté na falta, e, pela deriva, outras possibilida- des de significagao irrompem, quebrando a us landlo o nao-UM. lade aparente, e in: ‘Como esse conflito ~ que configura no discurso um sujeito divi- ido ~ € resolvido nesse texto? Vou assumir aqui a posigio de que as liiculdades que surgem 20 sujcito quando se vé diante de um texto a escrito, que s6 aparentemente sio dificuldades com a parte grifie fam do recalque os percalgos ¢ os enfrentamentos de cada um ao screver a propria histéria, @ partir de um outro lu que é 0 lugar autoria A culminancia desse processo est no echo de fechamento do fo Mas, quem tem a sua fazenda, que se vire por Ia, que pode ser pretado como um closure, no sentido psicanalitico: uma repara- ‘ho presente, na prépria enunciagio, de fatos ou experi ticos para 0 sujeito. O sujeito, nesse lugar, ao mesmo tempo em que 153 154 Leda Verdinad Taess reconhece que a fazenda no € sua, abandona também 0 sentimento de pertencimento, que era um reavivamento do passado, € coloca-se ‘numa posigio de distanciamento, que € indiciada tanto pelo advérbio 14 quanto pelo sujeito indefinido quem, Esse genérico, que serviu como ancoragem para estabelecer o fe- chamento do texto, evidencia o embate entre a ilusio de livre escolha, que € a esséncia do trabalho de autoria, por um lado, e, por outro, airtupyio do real, “fazendo furo” no simbélico, e quebrando a transparéneia imagi- dria da lingua. Nesses momentos, em que se df conta de que as palavras do cecobrem totalmente 0 mundo, © sujeito perde seu apoio como autor, se refuugia no grande Outro, a fim de buscar tamponar esse real Em Tfouni (2005, entre outras publicagées sobre mesmo tema) iscuto 0 papel dos genéricos e, recorrendo a Chemamma, coment: Chemamma, filando sobre os provérbios (que slo um tipo de generico) na experéneiapsicanalite, arma que “..s8 se poe dla conca da experigncia do real na forma proverbia” (2002, p 23), pois, ao usar estas féemulas encapsuladas, 0 sujeto antl fe enquanto locutor e refugitsc,arivés da lingua, no gra Oueeo iredueivel. E, portato, 0 dominio do Outro sobre os jeito que os genércos indicia, Peto faco de rentrinstiuir uma verdad universal, as ful sgenércasfuncionam como indeterminadores, 0 que, ainda szundo Chemamma, permite que 0 sueito poss". romper barreira da relago imaginiia do ev, que impedia que o incon ciente se manifestasse [el para que isto ocor [prossez 0 autor, € preciso ir além do eu, ¢ também do voeé: é preci romper a telasio du” (p. cit, p. 39. Ou seja,é preciso romper 0 fluxo comunicativo do discurso,# linearidade S- $, ¢ fizer a retroagio, 0 movimento de interpreta que irf estabelecer ponto-de-cstofo, E nesse momento que o suc se depara com seu préprio descjo que Ihe € apresentado pelo disuno do grande Outro na forma de uma questto: “Che vuoi?”. Nesse mes mo trabalho, observo ainda: snr scomeag ee Arravés deste movimento, 0 sujeico reali a taref de analista, rerornando sos enunciados ja proferides e pontuando a eadeia significance em lugares especificos, onde & possivel fazer uma releitura, uma amarrigio com a meméria, e, deste modo, esta belecer ponto-de-estolo. O ponco-de-estofo, também denom nado “significante mestre”, permite que a série sintagmitica se detenha momentaneamente, e possa er continuidade, at vvés de uma leitura retroativa, que ji € uma intetpretagio, Portanto, uma retomada do dito em um momento posterior, ‘mus ainda dentro do processo de enunciagio. Esse movimento permite que o sujeito lance um anzol sobre a cadeia metonimi a faga deter-se, permitindo que a significagio seja relancada, através de um processo de amarragio que vai restabelecer unidade aparente ¢ cransitéria do texto. © corpo novamente uno; no mais despedagado... (founi, 2005, p. 130) Do ponto de vista psicanalitico, pode-se vislumbrar af 0 reco: ‘hecimento da castragio por parte do sujeito, o que implica a0 mesmo tempo a assungio do desejo ¢ a revelagio da verdade do sujeito (no aso em questio, talvez a verdade imposstvel de dizer seja a doenga que causou a incernacao e 0 afastamento da fazenda). Assim, 0 sujcito 6 interrogado pelo Outro: Quais sio as coisas que podem ser feitas (*fazenda”) com relagdo a essa verdade? F. preciso assinalar que a ver dade emerge junto com o significante tomado como “palavra plena” (Lacan, 2003). Derrida (1977, p. 93), comentando a relagio entre os fonceitos lacanianos de verdade e palavra plena (que se opde a palavra a), cita 0 seguinte trecho de Lacan: “Seamos eategsricos: En la amnesia psicoanalftica no se trata de realidad, sino de verdad, por- que es el efecto de una habla plena de reordenar las contingéncias jsadas dandoles el sentido de necesidades por venir, tales como las Onstituye el poco de libertad por el que el sujeto las hace presente: ‘Lacan, 2003, p. 256)? igo novar que obra de Derrida aqui cieala est em expanhol, inclusive a itagdes de ican, porém as referencias de Lacan eolocidss por asucle anor sio os niginas om nets. Desce text, conseam as releréncis dis trades verndculas 155 Como a castragio € 0 lugar préprio do significante, Lacan co: implica verdade e fala (discurso oral), denominando essa fala que trans- porta a verdade de fala “presente”, “plena” “auténtica”, isto porque sua caracteristica é no suportar a divisto. Segundo Derrida (1977, p. 94), no entanto, no se deve assimilara palavra plena nem com comtegio gramatical, nem “com uno de esos textos dde dos dimensiones, infinitamente chato, como dicen los matemiticos, que sola tienem uum valor fiducirio dentro de um discurso constitufdo” Deve-se notar que a emergencia da verdade, entlo, ocorre mes- ‘mo quando no hi controle da deriva, fato de que resultam textos cesburacados, sem eoeréncia ou coesio, ou seja; sem autoria (ver o arti- go Hesitagio: um indicio de autoria na conversagio, de Julyana Chaves Nascimento ¢ Lourengo Chacén, nesta revista). Concluindo este racio cinio: sempre que ha deriva, seja cla controlada ou nao, hd a emergén cia de verdade e, portanto, a palavra plena, A esse respeito, Derrida (1977, p. 90), cita Lacan (1998b, p. 251-252): “Aun cuando la comunicacién no comunique nada, se comunica, y tanto mejor en este ‘caso como comunicaci6n, es decir, verdad, Por ejemplo: ‘Aunque no ‘comunique nada, el discurso representa la existéncia de la comunicacidn, aunque niegue la evidencia, afirma que la palabra constituye la verdat aunque esté destinado a engafar, especula con la fe en el testimonio” Coneluo dizendo que a respesta que © sujeito oferece ap Out, di ante da questo “Che vuoi?” & Quem tem a sua fazenda que se vite por li Parece, entio, que a irrupcio da deriva, e seu conseqilente con tole, no texto acima, foi resultado da assungzio de uma posigao diseursivi nova, afetada pela autoria,e pelo discurso da escrita, 6 que possibilit que 0s sujeitos falassem sobre 0 sofrimento © a ruptura social que & doenga mental, em conjungio com o asilamento, provoea. A discuss a andlise apresentadas aqui parecem confiemara afirmagao de Laure (2002), segundo a qual o autor € aquele que encontra um lugar que jh cestava a sua espera, e apenas o preenche (CNPq, Fapesp). rn cee. Referéncias CHEMAMMA, R. Elementos acanianos para uma psicandlice no ctidia- no. Porto Alegre, RS: CMC Edicora, 2002 COURTINE, J. J. Metamorfoses do discurso politico ~ detivas da fala Pliblica, S20 Carlos: Claraluz, 2006 DERRIDA, J. £/ Goncepto de Verdad en Lacan. Argentina: Ediciones Homo Sapiens. 197, PIGUEIREDO, L. C. Fala ¢ acontecimento em anslise. In: IGUEIREDO, L. C. (Bd.). Escurar, recordar, diser: enconteos jeldeggerianos com a clinica psicanaltiea. Sto Paulo, SP: Bscuta; Educ, 1994. p. 149-168, ACAN, J. A instancia da letra no ineonsciente ow a razao desde Freud. In ICAN, J. Ksvrias. Rio de Jancito: Jorge Zahar Editor, 19984. p. 496-556, - Rumo a um significante novo. Opgd0 Lacaniana, Revista Brasi- ira Internacional de Psicandilise, Sio Paulo: Ed. 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Ela abrigaré imagens do que esta vivo outro lugar € se desloca para a tela quando a mio da memoria do Mista se deitar no tecido virgem. Entio, a corrente migratoria de ima- ,tragos, figuras ganha compo, inscrevendo formas e sentids no vazio bbranco, afetados pela “tepresentagio de uma meméria", como diz 0 E a meméria que se desenha, ao desenhar, no movimento do isa, 0 mundo que cle suporia digho de pintar, pois “ao pinta, o pin- ilo vé 0 mundo, vé a representacio dele na meméria que dele te ‘Tomo emprestada essa definiglo sobre pintura por dois motivos: Neiro porque ela dialoga com o proceso de constituigio do discur- scja, hd sempre uma superficie da meméria que mobilizada Hesse taba foi publcada na Revista Dekea (Romo, 2000),

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