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NOÇÕES GERAIS DE PRINCÍPIOS AMBIENTAIS APOIO 2

OBJETIVO

Propiciar um estudo mais aprofundado acerca dos princípios ambientais, de


forma a fixar os conteúdos abordados.

LEITURA RECOMENDADA

Davi Tiago Cavalcante

Sumário: 1. Introdução. 2. Princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado. 3.


Princípio da natureza pública da proteção ambiental. 4. Princípio do poluidor-pagador.
5. Princípio da prevenção. 6. Princípio da participação comunitária. 7. Princípio do
acesso igualitário aos recursos naturais. 8. Princípio da informação. 9. Princípio da
função sócio-ambiental da propriedade. 10. Princípio da cooperação entre os povos
para manutenção do equilíbrio ambiental. 11. Princípio do desenvolvimento sustentável.
12. Considerações finais.

1. Introdução. O advento de um progresso tecnológico intenso nos tempos hodiernos,


iniciado na Revolução Industrial e intensificado durante o Século XX, fez-se
acompanhar de um gradual acréscimo da intervenção humana na natureza, de forma a
afetar cada vez mais o meio ambiente que nos rodeia. O transporte eqüino foi
substituído por veículos com motores à combustão, emitentes de óxidos de carbono; a
caça e pesca rudimentares passaram a ser feitas desenfreadamente, buscando maior
satisfação lucrativa coadune com o mercado capitalista, levando espécies a extinção;
florestas foram arrasadas e rios poluídos, tudo decorrente da mesquinha busca humana
por auto-satisfação plena, fechando os olhos para o mal que paralelamente fez a si
mesmo.

Neste contexto preocupante, governantes e visionários passaram a questionar a


extensão dos malefícios decorrentes destas atividades, criando os alicerces da
proteção ambiental. Entretanto, orientações e avisos, visando à disseminação
informativa preconizadora comportamento mais adequado dos cidadãos, não foram
suficientes para frear a sede lucrativa e ambiciosa do ser humano, necessitando de
uma ação estatal normativa e executiva para que se confira ao meio ambiente a
proteção a que ele faz jus, seja o natural, o artificial ou o cultural.

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Desta forma, surgiu o Direito Ambiental, recurso competente para tutelar o meio
ambiente, em todas suas espécies, da agressão humana, tentando fazer nossos
descendentes disporem de condições análogas às que nos são oferecidas, buscando
um desenvolvimento sustentável. Como disciplina autônoma que é, o Direito Ambiental
rege-se por princípios próprios, eficazes no combate à interferência lesiva humana na
natureza, constituindo eles a base das demais normas reguladoras deste ramo jurídico,
sendo estas seus sucedâneos. Sobre estes princípios discorreremos no presente artigo.

2. Princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Os princípios do Direito


ambiental, face sua magnânima importância para o bom desenvolvimento humano,
encontram-se, em geral, dispostos no texto de nossa Carta Magna, elaborada no
contexto de uma preocupação ambientalista. Desta forma, o primeiro destes princípios
introduz o capítulo da Constituição Federal de 1988 destinado à tutela do meio
ambiente, estando presente no caput do artigo 225. Através deste princípio temos que
todos os indivíduos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito
fundamental bastante ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Como animais que somos, precisamos de condições naturais específicas para


sobrevivermos,as quais uma vez alteradas, requerem uma evolução tendente a
adequação ao novo quadro, ou estaremos destinados à extinção, pelo mecanismo da
seleção natural, conforme apontam os mais simples estudos biológicos evolucionistas.
É verdade que o homem, podendo alterar as condições do meio em que vive com certa
maestria, é mais resistente que outros animais ao problema apontado, mas a chegada
de mudanças abruptas pode fugir ao controle humano.

Assim, devemos manter o equilíbrio ordinário do meio natural que nos cerca,
interferindo o menos possível e da maneira menos lesiva neste meio, de modo a
possibilitar o prosseguimento normal do curso da natureza. Mantendo um equilíbrio
ecológico, ganha o homem em qualidade de vida e em melhores perspectivas da
manutenção de sua raça.

3. Princípio da natureza pública da proteção ambiental. Sendo algo tão importante


para a hegemonia dos cidadãos, não pode a tutela dos direitos ambientais ser posta na
mão de determinadas pessoas apenas, mas deve o próprio Poder Público poder
procedê-la ex officio, assim como possibilitar que o cidadão dê ensejo. Daí surgiu o
princípio da natureza pública da proteção ambiental onde é interesse de todos e do

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Estado a manutenção da estabilidade do ambiente, podendo este intervir em situações


particulares de abuso desta estabilidade.

Direito difuso que é, qualquer associação popular pode ingressar visando a tutela
de interesses ambientais, assim como esta iniciativa pode advir da máquina estatal,
através dos órgãos competentes para o pleito, executando o Estado, posteriormente, a
tutela almejada, que se sobrepõe aos interesses do particular que realiza o esbulho.

4. Princípio do poluidor-pagador. Para ser efetiva a tutela ambiental, necessário se


faz que o perturbador ilícito da ordem ambiental responda pelo seu ato, sendo este o
objetivo do princípio do poluidor-pagador, presente na Constituição Federal, em seu
artigo 225, § 3° e artigo 4° da Lei reguladora da política ambiental nacional, a saber a
Lei 6839/81. Não é cobrado apenas o dano do poluidor, pois, se assim o fosse,
poderiam pessoas abastadas poluírem a vontade, mas também exige a recuperação do
dano causado, fazendo com que a área lesada retorne ao status quo ante. Não sendo
possível tal recuperação, paga o poluidor também por isso e pelo tempo que a área
permaneceu abalada, desencorajando assim esta prática odiosa. Esta punição
pecuniária não afasta a incidência de outras penas previstas legalmente, como as de
cunho penal ou administrativo.

5. Princípio da prevenção. Não visa a principiologia ambiental apenas punir o esbulho,


mas também procura evitar que ele ocorra, prática que se dá através do princípio da
prevenção, ou princípio da precaução, presente no artigo 225, § 1°, VII, para a fauna,
flora e recursos naturais não re nováveis. Procura-se aqui evitar que se lesione, ou
mesmo que se coloque em riso o meio ambiente. Face a importância do bem jurídico
tutelado, não se deve admitir nenhum perigo potencial ou concreto a ele, de forma que
se evite, em absoluto, tais práticas, fazendo-as acompanhar, nas ocasiões permitidas,
de medidas protetoras e da devida fiscalização.

6. Princípio da participação comunitária. Além da proteção estatal, deve-se estender


à população a possibilidade da proteção ambiental. Esta é conferida no artigo 225 da
Constituição Federal, dito na doutrina representar o princípio da participação
comunitária. Vislumbra -se uma aplicação fática deste princípio nos Comitês de Bacia,
por exemplo. Fazendo com que a comunidade contribua para a proteção ambiental, fe z
o constituinte nascerem suas beneficies: maior proteção do bem jurídico tutelado, onde
cada cidadão é fiscal em potencial, e consciência popular ambiental, tornando o
cidadão mais ordeiro na interferência na natureza.

7. Princípio do acesso igualitário aos recursos naturais. Sendo os recursos


naturais, em sua grande maioria, bem de uso comum do povo, pertencem estes a todos

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os nacionais, igualitariamente, devendo ser conferido a todos estes seus “donos” a


possibilidade de acesso. Não se pode, v. g., fechar um rio que passa em propriedade
privada, pois os demais cidadãos têm direito a usufruir suas águas na região de seu
curso em que for possível. Pertencendo a todos, é interesse geral sua tutela, mantendo
este princípio intrínseca relação lógica com o ante rior, por vista disso.

8. Princípio da informação. Pertencendo a todos e tendo estes capacidade para


proceder a tutela do meio ambiente, todos possuem direito de saber sobre os atos
lesivos ao ambiente em prática, informados também dos meios que possuem para
exercer sua proteção efetivando o princípio supracitado. Esta trilogia formada pela
posse comum, informação de como protegê-la e participação comunitária é uma
genialidade da tutela ambiental, insuflando todos a lhe dar ensejo.

9. Princípio da função sócio-ambiental da propriedade. A intervenção estatal para


proteção ambiental é viabilizada pelo princípio da função sócio-ambiental da
propriedade, assegurado constitucionalmente. Neste contexto, não pode mais o
proprietário utilizar o jus abutendi na gestã o de sua terra, devendo respeitar níveis
satisfatórios de produção e manutenção do equilíbrio ambiental, aferição oriunda da
inserção desta propriedade como instituto de direito público, princípio da ordem
econômica e também do próprio Estatuto da Terra, em partes, interpretado à luz da
Constituição de 1988.

10. Princípio da cooperação entre os povos para manutenção do equilíbrio


ambiental. Princípio internacional, presente em vários tratados e convenções,
nacionalmente é sucedâneo do princípio genérico equivalente, presente este na Carta
Magna, em seu artigo 4°, inciso IX. Pouco adiantaria uma proteção a nível nacional se
os demais países não procedessem de maneira análoga na busca pelo pleno equilíbrio
ambiental, pois somente a humanidade unida neste propósito pode alcançar o almejado
desenvolvimento, para o qual os países mais desenvolvidos industrialmente muito
devem contribuir. Neste sentido, decidiu-se na ECO-92 que todos os países adotariam
o princípio da proteção ambiental como ponto importante de suas políticas e
planejamentos desenvolvimentistas, de modo que se leve sempre em consideração a
tutela do meio ambiente em suas metas de ação.

11. Princípio do desenvolvimento sustentável. Já implicitamente explicado nos


pontos anteriores, o princípio do desenvolvimento sustentável reflete a grande meta da
tutela ambiental, que é fazer com que as condições naturais resistam em níveis
satisfatórios à corrida evolucionista humana. Não se procura uma estagnação do
desenvolvimento humano com este princípio, mas apenas que esta se dê respeitando
os limites da natureza, que modo que gerações posteriores não sejam afetadas pelas

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práticas atuais. Utopia, sonho, ou realidade possível, deve-se sempre observar a devida
consecução deste princípio, pois somente desta forma restará um planeta para nossos
sucessores.

12. Considerações finais. O intento deste artigo não era exaurir os princípios, mas,
como o próprio título denuncia, apenas apresentar algumas noções acerca destes,
elencando-os e tratando brevemente acerca de seus conteúdos, que espero ter sido
elucidante para o leitor.

Expostos todos estes princípios, não se pode deixar de ressaltar, apesar da


grande valia, suas insuficiências no alcance do almejado desenvolvimento sustentável,
não por mal elaboração ou lacunosidade, pois, ao contrário, são muito bem pensados,
viáveis e interessantes. O que falta é a devida aplicabilidade, com regulamentação
infraconstitucional mais dura para os poluidores e com execução constante, pois, como
dito no início do relato, não se pode esperar que o ser humano execute de vontade
própria estas orientações, em vista de seu exacerbado egoísmo.

Objetivando o exposto, foram criados órgãos próprios para a proteção dos


recursos naturais, como IBAMA, SEMACE, COEMA, COMAM, dentre uma
multiplicidade de outros que tentam mudar esta situação. Não podemos esquecer de
mencionar também as ONG´s, que com seus ativistas abnegados vêm fazendo um belo
trabalho na busca por uma melhoria ambiental do planeta. Se um dia, tal consciência
ambiental passar a integrar o âmago da consciência humana, teremos a certeza que
nossos descendentes terão o planeta em condições adequadas de se viver.

REFERÊNCIA

CAVALCANTE , D. T. Noções gerais de princípios ambientais. 1º dez. 2003. Disponível em:


<http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/default.asp?action=doutrina&iddoutrina=1651>.
Acesso em: 15 abr. 2008.

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