You are on page 1of 1

A árvore que se plantou

Há muitos anos, talvez há mais de trinta embora eu não me recorde bem ao certo, a propósito
do poeta e escritor José Gomes Ferreira, natural do Porto e penso que nascido na rua das Musas,
resolveu alguém promover-lhe uma homenagem. Suponho ter tido conhecimento dessa
iniciativa através das páginas do Jornal de Notícias que era o jornal que eu lia habitualmente
nesse tempo.

A homenagem constava da plantação de uma árvore num recanto de terra que existia nessa rua.
Lembro-me vagamente. Lá se fez o buraco e se plantou o rebento se é assim que se chama às
árvores pequeninas. Estava pouca gente mas foi uma iniciativa engraçada e significativa a que
gostei de estar associado dado na altura já admirar os livros e a personalidade do escritor.

Ontem passei perto da Rua das Musas e não resisti a ir procurar o recanto, esperançado em ver
uma árvore crescida. O recanto continuava a existir mas era ocupado por arbustos densos e
recortados geometricamente demonstrando que havia ali mão regular de jardineiro. Da tal
árvore nada.

E eu fiquei a pensar: será que a árvore nunca pegou e morreu logo à nascença? Será que cresceu
um pouco e morreu ainda na infância ou juventude? Será que chegou a ter um porte adulto e
entretanto foi cortada? Será que morreu de doença? Ou faleceu de velhice, de morte natural?
O mais provável é que nunca saberei responder a estas minhas perguntas. Fica o travo longínquo
de uma homenagem a um poeta, numa rua que não poderia ter melhor e mais adequado nome
e a que eu tive a oportunidade de me associar.

You might also like