Professional Documents
Culture Documents
Resumo
Introdução: As neoplasias trofoblásticas gestacionais (NTG) são patologias que abrangem os tumores trofoblásticos, benignos
e malignos. Objetivo: Discorrer sobre a neoplasia trofoblástica gestacional em paciente internada no Serviço de Obstetrícia e
Ginecologia do HUUFMA. Resultado: A paciente evoluiu de forma persistente verificada pelo acompanhamento das dosagens
do gonadotrofina coriônica humana (hCG) e que necessitou de tratamento quimioterápico. A dosagem seriada do hCG no
seguimento pós-molar é o fator prognóstico mais importante para detecção precoce da involução e evolução da doença.
Conclusão: O caso relatado demonstra evolução de paciente com mola hidatiforme completa para coriocarcinoma quando
há falha de seguimento.
Abstract
Introduction: Gestational trophoblastic neoplasias (GTN) are diseases that comprise the benign and malignant trophoblastic
tumors. Objective: To discuss about gestational trophoblastic neoplasia in a patient hospitalized in the obstetrics and
gynecology service of HUUFMA. Results: The patient evolved persistently, which was verified by monitoring the human
chorionic gonadotropin (hCG) and the patient required chemotherapy. The serial hCG level in follow-up of molar disease is
the most important prognostic factor for early detection of involution and evolution of the disease. Conclusion: The reported
case demonstrates the evolution to choriocarcinoma of a patient with complete hydatidiform mole when there is failure in
the follow-up.
1
Médico Residente em Obstetrícia e Ginecologia do Serviço do HUUFMA.
2
Médica Oncoginecologista Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do HUUFMA.
3
Doutora em Medicina (Obstetrícia). Professora Associada da UFMA. Chefe do Serviço e Coordenadora do Programa da Residência Médica em
Obstetrícia e Ginecologia do HUUFMA.
Contato: Marília da Glória Martins. E-mail: martinsm@elo.com.br
Tomografia Normal
Tórax
Tomografia Útero com densidade
Abdomen heterogênea. Com os resultados, fez-se diagnóstico clínico de
Total Demais órgão e NTG, sendo submetida em 12/02/09 a biópsia uterina
estruturas normais. através de aspiração manual intra-uterina – AMIU. O
diagnóstico histopatológico confirmou coriocarcinoma.
Em 16/02/09 a paciente foi transferida para o
serviço de Oncologia da rede pública estadual, em São
Ao exame clínico a paciente apresentava estado Luís-MA, sendo iniciado QT com terapia combinada
geral regular, dispnéia leve, emagrecida, hipocorada EMA/CO (etoposida, metotrexate, actinomicina-D/
(++/4+), anictérica, acianótica, volume abdominal au- ciclofosfamida e vincristina). A paciente obteve exce-
mentado, orientada. Aparelho respitatório: FR=24 irmp, lente resposta terapêutica, evoluindo rapidamente com
asculta normal. Aparelho cardiovascular: FC= 86bpm, regressão dos sinais e sintomas iniciais e redução dos
PA: 110x60mmHg; pulsos palpáveis nas extremidades, níveis de hCG. Foi indicada terapêutica complementar
isóbaros e isócronos; asculta cardíaca sem alterações. com histerectomia total, porém a paciente, abandonou
Abdômen batráquio, doloroso à palpação profunda, o tratamento.
porém, negativo a manobras de descompressão brusca,
presença de macicez móvel e sinal de Piparote positivo. Discussão
Ao exame ginecológico, vulva, vagina e colo intumes-
cidos, coloração violácea, presença de sangramento A neoplasia trofoblástica gestacional persistente
através do óstio externo do colo e ausência de lesões é caracterizada ou definida pela manutenção ou eleva-
e/ ou lacerações em fundo de saco e paredes vaginais. ção dos níveis de hCG. A mola invasora se caracteriza
Quadro 3.Propedêutica Complementar de Imagem. nóstico de exclusão. O risco de evolução para doença
persistente varia na dependência de vários fatores2.
Data Exame Resultado
Todavia, o indicador de risco mais importante
06/02/09 USTV1 e Fígado de dimensões para desenvolvimento de doença persistente ou metas-
Abdominal reduzidas, textura solida tática é o tipo da mola. Assim, são mais elevado para os
difusamente heterogênea casos com mola hidatiforme completa em comparação
com evidência das paredes aos que apresentam mola parcial ou habitada. Outros
dos vasos. Vesícula biliar
critérios histopatológicos, como anaplasia e prolife-
normal. Pâncreas normal.
Rins direito e esquerdo ração do trofoblasto, não se mostraram relevantes, e
com padrões ecogênicos atualmente considera-se como indicador histológico de
e volumétricos de alto risco, o diagnóstico de coriocarcinoma4.
normalidade. Aorta e cava Em termos epidemiológicos, entre 80 a 90% das
de dimensões normais. molas completas, depois do esvaziamento uterino, con-
Seios costofrênicos livres. tinuam sendo benignas, uns 10% se tornam invasoras
Bexiga de paredes regulares, e cerca de 2,5% evoluem para coriocarcinoma5.
sem imagens ecogênicas no
Desta forma, no seguimento pós esvaziamento,
interior.
Presença de líquido ascítico. a curva de regressão dos níveis de hCG (e não somente
Útero em AVF2, mede uma amostra isolada) deve ser considerada o fator
16,0x9,6x,12,6 cm prognóstico mais importante para avaliar risco de tu-
(826cm3), contornos mores trofoblásticos em detrimento de fatores clínicos
lobulados. Textura ou de imagem6.
de miométrio sólida Logo, o modelo de seguimento indicado inclui
heterogênea com imagens dosagens semanais de gonadotrofina até a sua nega-
nodulares isoecóicas
tivação e mensais por até um ano, associadas a exame
variadas, predominando em
parede anterior. físico periódico. No entanto, altas taxas de abandono
Endométrio não visibilizado. são observadas até antes da negativação dos níveis
Ovários aumentados com de gonadotrofinas, e a porcentagem de pacientes que
várias lojas anecóicas comparece a todos os retornos oscila entre 18 e 63% 4,7.
homogêneas (cistos Assim, quando houver suspeição clínica e com-
tecaluteinicos): o direito provação laboratorial de elevação de hCG, deve ser
mede 1.241cm3 e o estabelecido o diagnóstico e o estadiamento clínico,
esquerdo mede 1.092cm3.
calculando o risco consoante a classificação interna-
cional da FIGO/OMS, iniciando-se a quimioterapia. Nos
11/02/09 TC3 Crânio Normal
estadiamentos I e II de baixo risco (lesão limitada ao
TC Pelve Líquido livre na cavidade. útero ou à pelve) o tratamento é iniciado com mono-
Bexiga forma e volume quimioterapia utilizando-se metotrexato (MTX) com
normal. resgate de ácido folínico (fator citrovorum - FC) ou
Ausência de actinomicina-D (ACTD). Nos estádios III e IV (metástases
linfadenomegalias. pulmonares, cerebral e/ou hepática) e em praticamente
Útero sem alterações
todos os casos de alto risco (como coriocarcinoma)
apreciáveis.
Ampola retal centrada
merece preferência universal o regime EMA/CO (as-
e gordura peri-retal sociação de etoposida, metotrexato, actinomicina-D,
preservada. Estruturas ciclofosfamida e vincristina)3.
ósseas e musculares Uma alternativa para abordagem de pacientes
preservadas. com doença invasora é a histerectomia, porém o pro-
Lesão expansiva em região cedimento cirúrgico não negativa a possibilidade de
pélvica. doença metastática2.
TC Tórax Derrame pleural a direita. Assim, o manejo de pacientes com diagnóstico
Área cardíaca normal. de NTG deve ser cauteloso e contínuo. Medidas simples
como exame físico ginecológico regular e a dosagem
por invasão do miométrio e dos seus vasos por vilo- seriada de hCG prevêem formas complicadas da do-
sidades e somente pode ser confirmada por exame ença, antecipam o diagnóstico de formas persistentes
histopatológico. Clinicamente é, portanto, um diag- e possibilitam tratamento eficaz, com altas taxas de
cura, evitando desfechos como o caso ora relatado.
Referências
1. Delmanto LRMG, Maestá I, Braga Neto AR, Michelin 2. Andrade JM. Mola hidatiforme e doença trofoblástica
OC, Passos JR S, Gaiotto FR, Rudge MVC. A curva de gestacional. Rev Bras Ginecol Obstet. 2009;31(2):94-
regressão da gonadotrofina coriônica humana é útil 101.
no diagnóstico precoce da neoplasia trofoblástica
gestacional pós-molar? Rev Bras Ginecol Obstet. 2007;
3. Belfort P,Braga A. Doença Trofoblástica Gestacional
29(10):506-510.
Recorrente. Rev Bras Ginecol Obstet.,2003;25(1):61-66.
4. Tiezzi DG, Andrade JM, Reis FJC, Lombardi W, Marana 6. Maestá I, Rudge MVC, Abreu ES, Dalben I, Peraçoli
HRC. Fatores de risco para doença trofoblástica JC. Preditores clínicos e histopatológicos de tumor
gestacional persistente. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; trofoblástico gestacional pós-mola hidatiforme
27(6):331-339. completa. Rev Bras Ginecol Obstet, 2000;22(3):167-
173.
5. Ceballos AQ. Embarazo molar: estudio en el período
1994-1999 en el hospital provincial ginecoobstétrico 7. Aitken SS, Benavides AM, Smirnow MS. Neoplasia
de cienfuegos. Rev Cubana de Obstet y Ginecol. trofoblástica gestacional: Hospital Félix Bulnes
2001;27(3):221-225. Cerda, 1992 – 2002. Rev Chilena Obstet y Ginecol.
2004;.69(5):353-356