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JUDICIÁRIA DE.....
I – DOS FATOS
O Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais da Educação é a pessoa jurídica de direito
privado incumbida de fiscalizar e representar os interesses dos servidores públicos federais da área de
educação e, diante de flagrante ato ilegal e abusivo de poder do Direto do órgão.... que determinou o
desconto, nos salários dos respectivos profissionais, do valor correspondente aos dias de paralisação em
decorrência de greve.
Com efeito, os servidores públicos federais da área de educação, a fim de promover suas
reivindicações junto à Administração Pública Federal, realizaram uma greve nacional cuja duração foi de
23 (vinte e três) dias. Não obstante a Direção do órgão público ter promovido medida judicial contrária ao
movimento grevista, com fito de impedi-la, não obteve êxito, restando afirmado na decisão judicial (em
anexo) que “ante a inexistência de lei que regulamente a greve do servidor público, deve-se aplicar por
analogia a Lei nº 7.783/89”.
Ocorre que, ao fim da greve, a Direção do referido órgão público determinou os supramencionados
descontos e, em decorrência, para muitos servidores, isso representou a perda de quase todo o salário,
coagindo-os a contrair dívidas para o custeio das necessidades básicas dos seus núcleos familiares. Em
suma, verificou-se uma redução drástica de suas possibilidades financeiras.
Assim, outro caminho não resta que não a impetração do presente writ, a fim de restabelecer o
direito líquido e certo dos servidores públicos federais da área de educação que restou violado.
II – DA LEGITIMIDADE ATIVA
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
Por sua vez, a lei nº 12016/09, que regula o mandado de segurança, prevê que:
Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido
político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou
por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de
direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou
associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas
finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.
Ademais, trata-se de direito individual homogêneo, pois de origem comum e identificáveis seus
titulares.
Por sua vez, no polo passivo da ação constitucional, figura o agente público que por ato ilegal ou
abusivo de poder ameaçou ou violou direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas
data. Nesse sentido é a redação do artigo 5º, inciso LXIX:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
O presente Mandando de Segurança com pedido de medida liminar é tempestivo, visto que
impetrado dentro do prazo de 120 (cento e vinte) dias, legalmente estabelecido no artigo 23 da Lei
12016/09, contados da ciência, pelo impetrante, do ato impugnado, in casu, da decisão administrativa que
determinou o desconto nos salários dos servidores públicos federais de educação.
Ademais, trata-se de direito líquido e certo, desnecessitando de produção probatória, pois que
possui sede Constitucional, como adiante se demonstrará, bem como resta devidamente comprovadoa a
decisão judicial que pautou legitima o movimento grevista
IV – DO DIREITO
Por sua vez, ao tratar dos direitos humanos Flávia Piovesan indica que compõem um instrumento
imprescindível no resgate e promoção da dignidade humana, caracterizados por sua universalidade e
indivisibilidade. No dizer da autora1:
Desta forma, partindo do pressuposto de que os direitos humanos são marcados pela
universalidade, pode-se elencar basicamente dois requisitos que os distinguem: (a) titularidade inerente ao
ser humano e (b) reconhecimento universal.
Ora, torna-se fácil perceber que o movimento de normatização do direito de greve, enquanto
Direito Fundamental dos trabalhadores, ensejou seu reconhecimento a um nível global enquanto direito
social.
1
PIOVESAN, Flávia. Cadernos de Direito Constitucional: Direitos Humanos e o Direito Constitucional
Internacional. Escola Da Magistratura Do Tribunal Regional Federal Da 4ª Região, 2006. Disponível em: <
http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/flaviapiovesan/piovesan_dh_direito_constitucional.pdf>.
A Carta Constitucional destaca-se por ser extremamente garantista, constando em seu bojo um
enorme elenco de direitos alavancados ao status de verdadeiras garantias individuais. Antes, contudo, é
necessário ressaltar que logo em seus primeiros artigos aduziu o lesgislador constitucional que:
A compreensão é importante, como logo se demonstrará. Ressalte-se, portanto, que longe de ter por
fundamentos, dentre outros, a cidadania, dignidade da pessoa humana e valores sociais do trabalho e da
livre iniciativa, constituindo princípios norteadores da interpretação das demais normais constitucionais e
infraconstitucionais, o legislador constituinte preocupou-se em elencar os objetivos primordiais da
República Federativa do Brasil, os quais demandarão um esforço conjunto dos Poderes no sentido de
concretizá-los.
Logo à frente, após discriminar, não exaustivamente, um catálogo de direitos fundamentais que
incluem garantias individuais e sociais, o artigo 5º, §2º prevê:
A previsão já seria suficiente para se admitir a existência do direito de greve, enquanto direito
fundamental. Mas o legislador constituinte, não satisfeito, optou por enuncia-lo em todos os seus termos no
artigo 9º, afeto ao Capítulo dos Direitos Sociais:
Por conseguinte, não restam dúvidas de que, efetivamente, a greve foi reconhecida como direito
social fundamental do homem trabalhador.
O diploma normativo, como bem esclarece “dispõe sobre o exercício do direito de greve, define
as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras
providências.” E, logo em seu artigo primeiro, enuncia o que já reiteradamente tem-se afirmado: a greve é
um direito do homem trabalhador, ressalvando, todavia, que o exercício legítimo da referida garantia deve
ater-se aos parâmetros estipulados pela lei.
Com efeito, o próprio legislador estipulou o que se compreende por legítimo exercício do direito
de greve, logo em seu artigo 2º:
Artigo 2º - Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de
greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação
pessoal de serviços a empregador.
Desta forma, desde que realizado mediante meios pacíficos e de forma temporária a greve será
legítima. Todavia, é salutar esclarecer que o referio diploma legal não disciplina a greve no âmbito do
funcionalismo público, embora, diante da ausência, até o presente momento, de disciplinamento especifico,
seja aplicado de modo subsidiário.
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em
lei específica.
Art. 16. Para os fins previstos no art. 37, inciso VII, da Constituição, lei
complementar definirá os termos e os limites em que o direito de greve poderá
ser exercido.
O ordenamento jurídico nacional não visualizou, até o presente momento, a edição da respectiva
lei especifica. Nessa toada, até o advento do julgamento relativo ao mandado de injunção nº 670/712,
compreendia-se ser impossível o exercício do direito fundamental de greve pelos servidores públicos,
entendimento que contraria, expressamente, o disposto no artigo 5º, § 1 º da Lei maior:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
Ocorre que com o advento do mandado de injunção nº 670/712, o Supremo Tribunal Federal
consignou que é aplicável ao serviço público, enquanto não for disciplinada pelo Legislativo, a lei de greve
do setor privado, qual seja, a Lei nº 7.783/1989. Assim, inexistindo qualquer irregularidade no exercício da
greve, não há que se falar em descontos proporcionais.
Nesse sentido:
Ademais, restou violado outro direito fundamental: a vida e seu consectário saúde e alimentação.
É de recordar que o salário tem natureza alimentar, vez que se destina a garantir a manutenção do
sustento do servidor e de sua família. Ora, por meio da alimentação garante-se, por sua vez, a saúde e, num
modo mais amplo, a vida. Dessa forma, qualquer medida que prive o servidor público de quase da totalidade
de seu salário, é ilegal e violadora de direitos constitucionais, ainda que fundada em legitima razão, o que
não se verifica no caso em comento.
Ora, estar-se ia penalizando os servidores públicos federais pelo legitimo exercício de um direito
que o assiste, sendo reconhecido pela carta constitucional e ratificado pela maior instancia judiciária do
país. Não há como argumentar a manutenção da penalidade, descabida e desprovida de quaisquer
fundamentos legais. Assim, outra conclusão não resta que não o julgamento procedente do presente writ.
A lei nº 12016/09, que disciplina o Mandado de Segurança, trata, em seu artigo 7º, inciso III, a
possibilidade de concessão de medida liminar, ante ao preenchimento de 03 (três) requisitos: prova
inequívoca, fumus boni iuris e periculum in mora.
Com efeito, o fumus bonis iuris bem como a prova inequívoca restam consubstanciados no
dispositivo constitucional que assegura o direito à greve, ainda que dependente de regulamentação
infraconstitucional, bem como no decidido no mandado de injunção nº 670/712.
Em relação ao fumus boni iuris, como já dito, os servidores públicos federais foram praticamente
privados de seus salários, obstruindo a boa gestação do núcleo familiar. Dessa forma, restou violado o
direito fundamental à alimentação, bem como ameaçados o direito à saúde e a vida.
Por fim, não há fundamento para a contracautela, pois suficientemente demonstradas as razões do
impetrante. Dessa forma, faz-se necessário conceder a respectiva medida liminar com o fito de determinar,
incontinenti, a devolução dos valores indevidamente descontados, corrigidos e atualizados.
VI – DOS PEDIDOS
a) a concessão da medida liminar, ante a presença de seus requisitos, o fumus boni iuris e o
periculum in mora, a fim de determinar a devolução dos valores indevidamente descontados,
corrigidos e atualizados.
b) a notificação da autoridade coatora, a fim de prestar esclarecimentos, em conformidade com
art. 7º, I, da Lei do Mandado de Segurança;
c) a cientificação do órgão de representação judicial da pessoa jurídica de direito público
interessada, consoante art. 7º, II, da Lei do Mandado de Segurança;
d) a manifestação do Ministério Público, conforme art. 12 da Lei do Mandado de Segurança;
e) a concessão da segurança em caráter definitivo, ratificando a medida liminar anteriormente
deferida, reconhecendo como líquido e certo o direito do impetrante à devolução dos valores
indevidamente descontados, corrigidos e atualizados, haja vista inexistir fundamental legal
que assim determine;
f) a condenação da parte ré em custas judiciais.
Local, data.
Advogada, OAB nº