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Ines i la Araújo

• •
• •

A reGO
OIh d0lllt.-:&.



L rie Acadêmica
• •
01lJ EOITORA UNISI O
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

Pró- Re!to ria Co munitária e de Extensão

Reitor
I'c. Aloysio Bohnen , SJ
A reconversão
Vice-Reitor
I'e. Pedro Gilbe rto Go mes
do olhar
Prática d iscursiva
l'r6-Reltor Com u nitário e de Extensão e produç:'io dos sentidos
Vleenle d e Paulo Oliveira Sant'Anna na intervenção sodal

fl/[J EDITORA UNISINOS

l o es ila Araújo

Diretor
Carlos Alberto Gianoni

Conselho EditoriaJ
Anico Inado Chassot (presidentt:)
Carlos AlbertO Gianotti
lone: Maria Ghlslene Bentz
Pc. Jose Ivo Follmann, 5J
Nt:stor Torelly Martins
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

Pró- Re!to ria Co munitária e de Extensão

Reitor
I'c. Aloysio Bohnen , SJ
A reconversão
Vice-Reitor
I'e. Pedro Gilbe rto Go mes
do olhar
Prática d iscursiva
l'r6-Reltor Com u nitário e de Extensão e produç:'io dos sentidos
Vleenle d e Paulo Oliveira Sant'Anna na intervenção sodal

fl/[J EDITORA UNISINOS

l o es ila Araújo

Diretor
Carlos Alberto Gianoni

Conselho EditoriaJ
Anico Inado Chassot (presidentt:)
Carlos AlbertO Gianotti
lone: Maria Ghlslene Bentz
Pc. Jose Ivo Follmann, 5J
Nt:stor Torelly Martins
o dI' lLLLmn . 2000

A663 r Ar.I.\Jjo. Im:sirJ


A reconversão do olhar / 1nc:s illlAr.lú jO. _ 5lio Leopoldo: suMÁRIo
Ed. UNISINOS, 2000.
280p. (k.w<:ml C'J)
l'lI It PÁCIO ....... ......................... ... ... ........... .......... ....... .... .. .. .................. .. 7
ISBN 85·743 1-040-9 CDU 659.3
A,J1 )Di\.MH A O U·IARt ........... ...... .............. ........ .. ... ............... .. 15
1. Com'-loicaç:io. 2. Sem,ÓIK:a. 3. ComuniçitÇfo-Sc:mióli· MO I)() DE OUiAR, MODO DE PROPOR ................................... "........... 19
a . I. TiN lo . 11. Sêric. lü;eo n es ................ " ...... " .. " .... , ... , ....... , ............. " .. , .... , ... "........ 20
A disputa pelo poder s imbólico ............... " .. "......................... 24
UnI:! ruptura instaUr:ldora ........... ,.", ......... " ............... ,............ 28
I'crc urso .. ....... ............... ...... ..... ................... .......... .. ................. 33
Prepcu açao: Paulo fUlõIstt: Campos I • O OLHAR DOM INANTE ............ .. ......................... , .. ..... ................... .. 43
Rev isãQ: Renato DeilOS, Dankw:m Ikunsmullcr e o eo nlador de histó rias ........ ......................... ...... ................... . 43
Janaína Pim e nta Lt:mos Comu nicação ru ral: o que se faz , o que se pensa .................. . 45
l!'dltoraçao eletrótlica : Paula Carvalho O pesquisador e seu obje[O encontram a s ua teoria .............. . 104
Capa: AGEXI'P da UNISINOS
Impressão: Gráflc..~ da UN ISINOS l'o ntO de passagem ..... , ....... ........................ .., .. ..... .................. . 107
11 • O O LHAR SEMIO LÓGICO .. .. .... ....................... ..... .. ............... .. 109
Pré·construções .......... .. .. ... ... .. .. ... .............. .. .... ... .... ............... . 109
Condições d e produção .. ....... ......................... ..... .................. . 111
A reprodução inte gral o u parcia l, por qualque.r meiO. das pági nas que com· Postulados ... " ... , ... , ............ ............. , ....... , ................................ . 11 9
põem essa obra, sem a aUlOrlzação do editor, é ilíc itl e se eo ns lilUi numa Princípios me todo ló gicos .............. , ........................................ . 152
comrafação. Fo i fdto o dep6sito legal. I.o nto de passagem ................................................................. , 166
111 . AJUSTE DE f OCO ................ .... ............................. · .................... .. 17 1
Os discursos solid á rios no Nordeste nlral ...... .. ...................... 173
Discurso, discurso s ... , .. .. .. .. ..................... , ....................... " ....... 181
Origens .. .. ..................... ..... .............. , ...... , ........ ................. , ..... . l84
AnáJise textua l ..... ........... " ......... .................... .......... .. ............... 197
DispOSitivOS de e n unciação - das diferenças às semelhanças ..... . 257
IV . FRONTEIRA.......................................................... ................. ....... .... 263
Dirc ho$ rcse rv:ldos à ANID'O DO CAPÍTULO 111 .... 271
I!llh ora d:1 Univers idade: do Vale do Ri o dos Sinos
BIIlLlOGRAFIA .. .. ...... " .. .................. ......... " .................... ... .. .. ................ . 273
Av . Un lslnos. 9 50 ·9302:2·000 · São Leo poldo, RS, Bras!!
TcI .: 5 1.590.8239 · Fax: 5 1.590.8238
c·maU : e dilo r:I@ luna.u o isinos.br
o dI' lLLLmn . 2000

A663 r Ar.I.\Jjo. Im:sirJ


A reconversão do olhar / 1nc:s illlAr.lú jO. _ 5lio Leopoldo: suMÁRIo
Ed. UNISINOS, 2000.
280p. (k.w<:ml C'J)
l'lI It PÁCIO ....... ......................... ... ... ........... .......... ....... .... .. .. .................. .. 7
ISBN 85·743 1-040-9 CDU 659.3
A,J1 )Di\.MH A O U·IARt ........... ...... .............. ........ .. ... ............... .. 15
1. Com'-loicaç:io. 2. Sem,ÓIK:a. 3. ComuniçitÇfo-Sc:mióli· MO I)() DE OUiAR, MODO DE PROPOR ................................... "........... 19
a . I. TiN lo . 11. Sêric. lü;eo n es ................ " ...... " .. " .... , ... , ....... , ............. " .. , .... , ... "........ 20
A disputa pelo poder s imbólico ............... " .. "......................... 24
UnI:! ruptura instaUr:ldora ........... ,.", ......... " ............... ,............ 28
I'crc urso .. ....... ............... ...... ..... ................... .......... .. ................. 33
Prepcu açao: Paulo fUlõIstt: Campos I • O OLHAR DOM INANTE ............ .. ......................... , .. ..... ................... .. 43
Rev isãQ: Renato DeilOS, Dankw:m Ikunsmullcr e o eo nlador de histó rias ........ ......................... ...... ................... . 43
Janaína Pim e nta Lt:mos Comu nicação ru ral: o que se faz , o que se pensa .................. . 45
l!'dltoraçao eletrótlica : Paula Carvalho O pesquisador e seu obje[O encontram a s ua teoria .............. . 104
Capa: AGEXI'P da UNISINOS
Impressão: Gráflc..~ da UN ISINOS l'o ntO de passagem ..... , ....... ........................ .., .. ..... .................. . 107
11 • O O LHAR SEMIO LÓGICO .. .. .... ....................... ..... .. ............... .. 109
Pré·construções .......... .. .. ... ... .. .. ... .............. .. .... ... .... ............... . 109
Condições d e produção .. ....... ......................... ..... .................. . 111
A reprodução inte gral o u parcia l, por qualque.r meiO. das pági nas que com· Postulados ... " ... , ... , ............ ............. , ....... , ................................ . 11 9
põem essa obra, sem a aUlOrlzação do editor, é ilíc itl e se eo ns lilUi numa Princípios me todo ló gicos .............. , ........................................ . 152
comrafação. Fo i fdto o dep6sito legal. I.o nto de passagem ................................................................. , 166
111 . AJUSTE DE f OCO ................ .... ............................. · .................... .. 17 1
Os discursos solid á rios no Nordeste nlral ...... .. ...................... 173
Discurso, discurso s ... , .. .. .. .. ..................... , ....................... " ....... 181
Origens .. .. ..................... ..... .............. , ...... , ........ ................. , ..... . l84
AnáJise textua l ..... ........... " ......... .................... .......... .. ............... 197
DispOSitivOS de e n unciação - das diferenças às semelhanças ..... . 257
IV . FRONTEIRA.......................................................... ................. ....... .... 263
Dirc ho$ rcse rv:ldos à ANID'O DO CAPÍTULO 111 .... 271
I!llh ora d:1 Univers idade: do Vale do Ri o dos Sinos
BIIlLlOGRAFIA .. .. ...... " .. .................. ......... " .................... ... .. .. ................ . 273
Av . Un lslnos. 9 50 ·9302:2·000 · São Leo poldo, RS, Bras!!
TcI .: 5 1.590.8239 · Fax: 5 1.590.8238
c·maU : e dilo r:I@ luna.u o isinos.br
PREFÁCIO

A autora deste livro, Inesita Soares Araújo, destacou-se de ime·


diato e ntre meus alunos de pós-graduação na Escola de Comunica-
ção da Universidade Federal do Rio de Janeiro e tive a felicidade e a
honra d e orientar seu projeto de dissertação de mestrado, de o nde
foi extraída a presente obra, e de estar orientando agora sua lese d e
doutoramento. O encontro entre professor e aluno é sempre exci-
rante e eruiquecedor para ambos. além d o conteúdo ministrado coti-
dianamente nas auJas . Me u encOnlro com Inesita foi , no e ntanto,
muito além de qualquer expectativa, pois desde logo ela se mostrou
uma interlocutora que, apesar da modéstia que lhe é própria, passou
a dialogar comigo e com Outros professores de igual para igual, todo
o processo educacional vindo a culminar na defesa de sua disserta-
ção, quando um professor estrange iro que fazia parte da banca pro-
pôs que lhe fosse arribuído logo o título de Doutor (o que se sabe
não é permitido no país) em lugar do grau de Mestre que pleit'eava. A
recol/versão d o olhar e ncanrou·nos e V'".u agora conquistar lei tores
em todo pais por seu rigo r teórico e metodológico, o riginalidade e
perspicácia na análise social.
Sendo um trabalh o s ingular, quanto ao objeto e modo de abor·
dagem, é, porém, pane de uma obra colech'íl: o dese nvolvimento d e
uma linha teó rica c metodológica no campo da Semio logia dos Ois·
cursos Sociais. Tendo Já produzido diversas leses e dissertações, essa
Linha, por mim o rientada, combina as tendências mais recent'es das
tcorias dos discursos, resultando numa visada que está muito
bem.apresentada pela autora. Uma de suas premissas centr.l.is, a de
que discursos são sempre cOflfextualizados, resulta e m uma maior
aproximação c mre as teorias explicativas da prática social e essas
mesmas práticas, articulação da qual A recotlversão do olhar é. um
bom exemplo . A Escola de Comunicação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro tem s ido o loeus desse movimento , que se inicia nos
cu rsos de Semiologia oferecidos no programa de pós·graduação e se
consolida num núdeo d e pesquisa, o NUPEC - Núcleo d e I'esqulsas
PREFÁCIO

A autora deste livro, Inesita Soares Araújo, destacou-se de ime·


diato e ntre meus alunos de pós-graduação na Escola de Comunica-
ção da Universidade Federal do Rio de Janeiro e tive a felicidade e a
honra d e orientar seu projeto de dissertação de mestrado, de o nde
foi extraída a presente obra, e de estar orientando agora sua lese d e
doutoramento. O encontro entre professor e aluno é sempre exci-
rante e eruiquecedor para ambos. além d o conteúdo ministrado coti-
dianamente nas auJas . Me u encOnlro com Inesita foi , no e ntanto,
muito além de qualquer expectativa, pois desde logo ela se mostrou
uma interlocutora que, apesar da modéstia que lhe é própria, passou
a dialogar comigo e com Outros professores de igual para igual, todo
o processo educacional vindo a culminar na defesa de sua disserta-
ção, quando um professor estrange iro que fazia parte da banca pro-
pôs que lhe fosse arribuído logo o título de Doutor (o que se sabe
não é permitido no país) em lugar do grau de Mestre que pleit'eava. A
recol/versão d o olhar e ncanrou·nos e V'".u agora conquistar lei tores
em todo pais por seu rigo r teórico e metodológico, o riginalidade e
perspicácia na análise social.
Sendo um trabalh o s ingular, quanto ao objeto e modo de abor·
dagem, é, porém, pane de uma obra colech'íl: o dese nvolvimento d e
uma linha teó rica c metodológica no campo da Semio logia dos Ois·
cursos Sociais. Tendo Já produzido diversas leses e dissertações, essa
Linha, por mim o rientada, combina as tendências mais recent'es das
tcorias dos discursos, resultando numa visada que está muito
bem.apresentada pela autora. Uma de suas premissas centr.l.is, a de
que discursos são sempre cOflfextualizados, resulta e m uma maior
aproximação c mre as teorias explicativas da prática social e essas
mesmas práticas, articulação da qual A recotlversão do olhar é. um
bom exemplo . A Escola de Comunicação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro tem s ido o loeus desse movimento , que se inicia nos
cu rsos de Semiologia oferecidos no programa de pós·graduação e se
consolida num núdeo d e pesquisa, o NUPEC - Núcleo d e I'esqulsas
Tn<,sfluAraujo

e m Estr.1tégias de Comunicação, do qual fazem parte diversos pes- p rio objeto , po rl:m com um aporte de fora - não se trata d e um co-
quisad o res inte rcss:ldos e m desenvolver seu uabalho nessa perspec- nhecimento neutro, m as si m "interessado" - , discu tindo tambl:m os
riscos c vantagens d a junção de um o lhar de d e ntro com um o lhar de
Embora o o bjc to e mpírico do trdbalho apresentado neste Livro fora , ao mesmo te mpo admitindo a impossibilidade de um e de o u·
direcio ne para a comunicação rural no Nordeste, tantO po r se refe rir lro; introduz o s principais conceitos e perspec tivas teóricas d o traba·
OI pr.Íticascomumc lllc assim nome:ld as quanto pela fo rça e c ristaliza· lho .
ç:l0 da designação dcssa área de conhecimento/atuação , A recol/ver· No capítulo de no m inado "O o lhar d o minante", Inesita constrói
são do olbar dc\'e ser percebido para aJém de uma discussão d o o ce nário da ime rvençâo social no me io rural no Nordeste, por meio
campo estritO da comunicação rural. O trabalho de Incsita Soares da análise das principais instâncias d e fo rmação parad igm át ica na co-
Amújo é parte de seu esforço , que o antecede e que não termina municação, e nte nd id as como instâncias mediado ras : lugares de pro-
nele, d e procurar conhecer os modos pelos quais os ato res sociais ce ssamento e (rc)c1aboração de um pc ns'Lme nto e uma p ráxis. O
equilibram fo rças e disputam :1 hegem onia na p rática da intervençáo eixo que conduz a aná lise é a pre missa de que há d o is grandes mode·
social; d e procurar descobrir onde esses modos se naturaJizar::tm e los paradig máticos qu e mo ldam as escolhas e subjaze m nas p ráticas,
os processos que levaram a isso; de descobrir novas o u re novadas O tmnsfe renci al e o dial6gico , percebidos com o :lmagôn icos pelos
pe rspectiv:tS teóricas e m e todoló gicas que poss ibilitem essa proc ura; atores sociais. Procura d e mo nstrdf que o anragonism o é aparen te ,
de discutir , sempre , os modos d e produçáo do saber legitimado, en· ou d e natureza apenas política , mas que teoricamente não apresen·
tre eles o acadê mico, este :uravt=s de sua p rópria prática acadêmica, tam um d iferencial, uma vez que compan'ilh:un a mes ma concepção
to mando sua pró pria pessoa como um agente hibridizante e hibridi· de língua e linguagem . Defende ainda que é e ssa dico to mia uma d as
zado de alguns d os c ampos que com põem o cenário da intervenção causas do imobilismo teórico que se verifica no âmbito da comunica-
social. Assim, no tr.lbalho que resultou neste livro , Inesita estuda as ção rural. As instâncias mediadoras que reconhece são: os cursos
práticas com unica tivas d as institu içôes que atuam no meio mr-.tI do universitários, a ação pr.itica, a pesquisa e os cursos de pós·g radua·
Nordeste; no estudo q ue dese nvolve a rualme nte para seu doutora· ção. N:1 ação prática, dcs t3c:1 os principais núcleos produtores de
me nta , vem analisando as dispUlas no campo da saúde indígena na d iscursos e toma cada núcleo pe la perspectiva da s ua fo m13ção para·
Amazônia; e em futuro próximo, quem sabe, estenderá suas pesqui· digm:í.ric:1 em comunjcaç:io, consolidada pelas pr..iricas atuais, que
sas ao ambie nte socia l e m O utras regiões, e assim por diante. procura descreve r e analisar. Os núcleos estudados ma is a fundo
M:ts o livro não de ixa de ser um:1 com ribu ição para quem traba· são: o s órgãos governamentais, as ONGs, os grupos religiosos, as or-
lha com a chamada comunicação rural. É també m parA lodos que ganizações representativas (especificamente:ls d os s istemas sind ical
tê m o u desejam ter a lgum tipo de atuaçáo no campo da ação co mu· e cooperativista e O MSl) e a e Xle nsão universitária.
nitária o u solidária - is to é, quase todo mundo que trabal h:1 hoje Esse capítu lo p rOCura também dar com:t, com m u ita o riginali-
com imervenção social. E quer também ser uma contribuição à siste - dade, de um processo de construção do o bjeto, com o ele fo i sendo
m:uização da Scmio logia dos Discursos Sociais e uma demonstr-.tção construído :10 longo dos tem pos , processo que extmpolou larga-
de um dos modos possíveis d e se fazer Análise dos Discursos. me nre a pessoa da auto ra, sem prescindir dela. Contém , ponanto,
A reconvf:!rsão d o olbar compõe-se de (1) uma a presentação, implicitamente, u m a diScuss:io meto d o ló gica.
onde a autora , como é de praxe, descreve um pouco a natureZ:1 do No capítulo denominado "O o lhar semio lógico" , Inesita d ed i-
textO e faz ag radecime ntos; (2) uma introdução, o nde ela faz um rc· Cl·se a fazer uma síntese dos princi p:lis :lurOres c idé ias que constitue m
con e do cen:irio e s rudado. lança as hipóteses c premissas d o traba· a Se mio logia dos Discursos Sociais, no enfoqu e (Iue vai propondo . O
lho; narra o percu rso d a construção do o bjeto, discutindo os [COla é introduzido na p:lfte de no mi nada "Pré-construções"; em
pro ble m as da natureza de um conhecimento feito de dentro do pró· "Cond ições de produçâo", são focalizados S:tussure , Pe irce c suas

• ,
Tn<,sfluAraujo

e m Estr.1tégias de Comunicação, do qual fazem parte diversos pes- p rio objeto , po rl:m com um aporte de fora - não se trata d e um co-
quisad o res inte rcss:ldos e m desenvolver seu uabalho nessa perspec- nhecimento neutro, m as si m "interessado" - , discu tindo tambl:m os
riscos c vantagens d a junção de um o lhar de d e ntro com um o lhar de
Embora o o bjc to e mpírico do trdbalho apresentado neste Livro fora , ao mesmo te mpo admitindo a impossibilidade de um e de o u·
direcio ne para a comunicação rural no Nordeste, tantO po r se refe rir lro; introduz o s principais conceitos e perspec tivas teóricas d o traba·
OI pr.Íticascomumc lllc assim nome:ld as quanto pela fo rça e c ristaliza· lho .
ç:l0 da designação dcssa área de conhecimento/atuação , A recol/ver· No capítulo de no m inado "O o lhar d o minante", Inesita constrói
são do olbar dc\'e ser percebido para aJém de uma discussão d o o ce nário da ime rvençâo social no me io rural no Nordeste, por meio
campo estritO da comunicação rural. O trabalho de Incsita Soares da análise das principais instâncias d e fo rmação parad igm át ica na co-
Amújo é parte de seu esforço , que o antecede e que não termina municação, e nte nd id as como instâncias mediado ras : lugares de pro-
nele, d e procurar conhecer os modos pelos quais os ato res sociais ce ssamento e (rc)c1aboração de um pc ns'Lme nto e uma p ráxis. O
equilibram fo rças e disputam :1 hegem onia na p rática da intervençáo eixo que conduz a aná lise é a pre missa de que há d o is grandes mode·
social; d e procurar descobrir onde esses modos se naturaJizar::tm e los paradig máticos qu e mo ldam as escolhas e subjaze m nas p ráticas,
os processos que levaram a isso; de descobrir novas o u re novadas O tmnsfe renci al e o dial6gico , percebidos com o :lmagôn icos pelos
pe rspectiv:tS teóricas e m e todoló gicas que poss ibilitem essa proc ura; atores sociais. Procura d e mo nstrdf que o anragonism o é aparen te ,
de discutir , sempre , os modos d e produçáo do saber legitimado, en· ou d e natureza apenas política , mas que teoricamente não apresen·
tre eles o acadê mico, este :uravt=s de sua p rópria prática acadêmica, tam um d iferencial, uma vez que compan'ilh:un a mes ma concepção
to mando sua pró pria pessoa como um agente hibridizante e hibridi· de língua e linguagem . Defende ainda que é e ssa dico to mia uma d as
zado de alguns d os c ampos que com põem o cenário da intervenção causas do imobilismo teórico que se verifica no âmbito da comunica-
social. Assim, no tr.lbalho que resultou neste livro , Inesita estuda as ção rural. As instâncias mediadoras que reconhece são: os cursos
práticas com unica tivas d as institu içôes que atuam no meio mr-.tI do universitários, a ação pr.itica, a pesquisa e os cursos de pós·g radua·
Nordeste; no estudo q ue dese nvolve a rualme nte para seu doutora· ção. N:1 ação prática, dcs t3c:1 os principais núcleos produtores de
me nta , vem analisando as dispUlas no campo da saúde indígena na d iscursos e toma cada núcleo pe la perspectiva da s ua fo m13ção para·
Amazônia; e em futuro próximo, quem sabe, estenderá suas pesqui· digm:í.ric:1 em comunjcaç:io, consolidada pelas pr..iricas atuais, que
sas ao ambie nte socia l e m O utras regiões, e assim por diante. procura descreve r e analisar. Os núcleos estudados ma is a fundo
M:ts o livro não de ixa de ser um:1 com ribu ição para quem traba· são: o s órgãos governamentais, as ONGs, os grupos religiosos, as or-
lha com a chamada comunicação rural. É també m parA lodos que ganizações representativas (especificamente:ls d os s istemas sind ical
tê m o u desejam ter a lgum tipo de atuaçáo no campo da ação co mu· e cooperativista e O MSl) e a e Xle nsão universitária.
nitária o u solidária - is to é, quase todo mundo que trabal h:1 hoje Esse capítu lo p rOCura também dar com:t, com m u ita o riginali-
com imervenção social. E quer também ser uma contribuição à siste - dade, de um processo de construção do o bjeto, com o ele fo i sendo
m:uização da Scmio logia dos Discursos Sociais e uma demonstr-.tção construído :10 longo dos tem pos , processo que extmpolou larga-
de um dos modos possíveis d e se fazer Análise dos Discursos. me nre a pessoa da auto ra, sem prescindir dela. Contém , ponanto,
A reconvf:!rsão d o olbar compõe-se de (1) uma a presentação, implicitamente, u m a diScuss:io meto d o ló gica.
onde a autora , como é de praxe, descreve um pouco a natureZ:1 do No capítulo denominado "O o lhar semio lógico" , Inesita d ed i-
textO e faz ag radecime ntos; (2) uma introdução, o nde ela faz um rc· Cl·se a fazer uma síntese dos princi p:lis :lurOres c idé ias que constitue m
con e do cen:irio e s rudado. lança as hipóteses c premissas d o traba· a Se mio logia dos Discursos Sociais, no enfoqu e (Iue vai propondo . O
lho; narra o percu rso d a construção do o bjeto, discutindo os [COla é introduzido na p:lfte de no mi nada "Pré-construções"; em
pro ble m as da natureza de um conhecimento feito de dentro do pró· "Cond ições de produçâo", são focalizados S:tussure , Pe irce c suas

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conu-ibuições seminais e são descritas as três fases marcantes da Se- cialis mo, capitalismo e funcionaUsmo, este último com ênfase para;1
miologia, pondo em cena Banhes e sua transição por umas e o utras; fonnação do conceito de Desenvolvimento de Comunidade; depois,
em "Postu lados", a autora apresenta as idéias e conceitos que com· aborda as condições de produção de cada material selecionado, dois
põem o núcleo centraJ da Semio logia dos Discursos Sociais, tais d e cada núcleo discursivo: Estado, ONGs e Igreja, levando às ú ltimas
como sentido e produção dos semidos, prática e formação discursi- conseqüências as recomendações de comparar dispositivos de enun-
va, e fala de uma teoria não subjetiva do sujeito, de enunciação, atra- ciação. Esses fo ...am extraídos de um C01PIlS de cinqüenta impressos
vés principalmente de Foucault e Bcnveniste. No desdobramento circu lantes ou que circu laram no meio n.IraJ, corpus que referencia
deste item, "'A heterogeneidade enunciativa" discute os conceitos de também a análise.
discurso, de polifonia, de dialogismo, de sujeito do enunciado e da Os títulos que encimam a descrição das condições d e produção
enunciação. Bakthin, Foucault e Benveniste são os principais convo- de cada comunidade discursiva podem dar uma idé ia do rumo da
cados. "A semiose infinita" mlla de intenextualidade e da diferencia- análise: "CPT e cia. - o discurso da Igreja produzido de um OUlro lu-
ção entre texto e discurso. "A economia política do significante" gar"; "CNBB - o discurso da hierarquia pelo viés de um pai"; "PMAI-
aborda o mercado s in~bólico , o dispositivo de enunciação, as condi- o discurso da oposição que virou governo"; "Intelectuais o rgãnicos
ções de produção, circulação e consumo, o contrato de leirura, se· sob o patrocínio do Estado"; "PATAC - a missão de fazer crer na força
gundo a ótica de Eliseo Vemn. Mas fala também da pragmática como do çomunitário "j "PTA - a tecnologia redentora pela mão iluminada
relação de construção dos discursos, discutindo os vários contextOS dos técnicos" .
da pr.ílica comunicativa e as noções de cena social e cena discursiva. A análise comparativa foi estruturada em torno d os seguintes
Saindo dos posrulados, o tópico "Discurso e poder" volta com Ve- eixos: a construção da imagem do emissor; a construção da imagem
mn, Foucauh e Bakthin e os associa a Bourdieu, para discutir o p0- do destinatário; as relaçõcs discursivas entre emissor e destinatários',
der simbólico, o poder do texto, as relações de poder e ntre Centro e as relaçõcs de concorrência discursiva; a construção do conceito de
Periferia discursivos, as estratégias desviantes. "Princípios metodoló- "comunidade-. O capítu lo conclui com o modo singu lar como cada
gicos" abre espaço para a Análise dos Discursos, fazendo opções que comunidade discursiva. se posidona no merc-ddo simbólico, algumas
serão concretizadas na análise feita no terceiro capítulo da obra. Pa- generalizações e conclusões referentes às hipóteses iniciais.
lavras plenas e instrumentais; os códigos sêmicos e culturais; operd- Em conclusão, a autora aborda as característica.,.; da natureza do
dores e tempos verbais; operações e nunciativas e de modalização; tidbalho, que funcionam como limitações, coerções ou parâmetros:
aspectos fOrnla.is dos suportes discursivos; formas de silêncio c si len· a s ua pertença ao universo estudado; o amalgamemo do objeto com
ciamemo. Entra ainda em cena , aqui, O conceito de "comunidade seu locus profissional ; o fato de ser um conhecimento em conStru-
discursiva", com a exigência metodológica que impõe. de estudar as ção; a situação de crise e transição paradigmática vivida pelo cenário
condições materiais de produção dos discursos. É de tirar o fôlego! estudado; a peculiaridade da região Nordeste, que exacerba as con-
No capítu lo denominado ~Ajuste de foco'"', é avaJiada a viabili- dições de vida e formas d e e nfrentamento dos agentes individuais e
dade de aplicação do enfoque semiológico - mais especificamente institucionais. Trata ainda da possibilidade de gener.l.lização de um
da Análise de Discursos - às práticas discursivas estudadas, ou seja, estudo sobre:: discursos em suportes impressos e lembra estar falan-
às práticas institucionais de comunicação no meio rural. Antes de en- d o de sentidos propostOS, que nâo necessariamente serão confirma-
trar na análise propriamente dita, InesÍla aprofunda o conceito de dos em recepção.
discurso polêmico. Parte em seguida para a anál ise das condições da A reconuersão do ollJar é um excelente exemplo da aplicabilida-
produção discursiva sobre a ação comu nitária e a solidária: primeiro, de da Análise de Discursos:1 um corpus o riundo de diferentes lugares
as condições histó ricas, políticas e sociais que afetam a todos; em se- SOCiais de fa la, visando a um aprofundamemo e a uma nova m:meir.1
guid:l, as das matrizes do discurso do agir coletivo -cristianismo, so- de se estudarem os embates sociais pela hegemonia. É curioso, tal.

. "
conu-ibuições seminais e são descritas as três fases marcantes da Se- cialis mo, capitalismo e funcionaUsmo, este último com ênfase para;1
miologia, pondo em cena Banhes e sua transição por umas e o utras; fonnação do conceito de Desenvolvimento de Comunidade; depois,
em "Postu lados", a autora apresenta as idéias e conceitos que com· aborda as condições de produção de cada material selecionado, dois
põem o núcleo centraJ da Semio logia dos Discursos Sociais, tais d e cada núcleo discursivo: Estado, ONGs e Igreja, levando às ú ltimas
como sentido e produção dos semidos, prática e formação discursi- conseqüências as recomendações de comparar dispositivos de enun-
va, e fala de uma teoria não subjetiva do sujeito, de enunciação, atra- ciação. Esses fo ...am extraídos de um C01PIlS de cinqüenta impressos
vés principalmente de Foucault e Bcnveniste. No desdobramento circu lantes ou que circu laram no meio n.IraJ, corpus que referencia
deste item, "'A heterogeneidade enunciativa" discute os conceitos de também a análise.
discurso, de polifonia, de dialogismo, de sujeito do enunciado e da Os títulos que encimam a descrição das condições d e produção
enunciação. Bakthin, Foucault e Benveniste são os principais convo- de cada comunidade discursiva podem dar uma idé ia do rumo da
cados. "A semiose infinita" mlla de intenextualidade e da diferencia- análise: "CPT e cia. - o discurso da Igreja produzido de um OUlro lu-
ção entre texto e discurso. "A economia política do significante" gar"; "CNBB - o discurso da hierarquia pelo viés de um pai"; "PMAI-
aborda o mercado s in~bólico , o dispositivo de enunciação, as condi- o discurso da oposição que virou governo"; "Intelectuais o rgãnicos
ções de produção, circulação e consumo, o contrato de leirura, se· sob o patrocínio do Estado"; "PATAC - a missão de fazer crer na força
gundo a ótica de Eliseo Vemn. Mas fala também da pragmática como do çomunitário "j "PTA - a tecnologia redentora pela mão iluminada
relação de construção dos discursos, discutindo os vários contextOS dos técnicos" .
da pr.ílica comunicativa e as noções de cena social e cena discursiva. A análise comparativa foi estruturada em torno d os seguintes
Saindo dos posrulados, o tópico "Discurso e poder" volta com Ve- eixos: a construção da imagem do emissor; a construção da imagem
mn, Foucauh e Bakthin e os associa a Bourdieu, para discutir o p0- do destinatário; as relaçõcs discursivas entre emissor e destinatários',
der simbólico, o poder do texto, as relações de poder e ntre Centro e as relaçõcs de concorrência discursiva; a construção do conceito de
Periferia discursivos, as estratégias desviantes. "Princípios metodoló- "comunidade-. O capítu lo conclui com o modo singu lar como cada
gicos" abre espaço para a Análise dos Discursos, fazendo opções que comunidade discursiva. se posidona no merc-ddo simbólico, algumas
serão concretizadas na análise feita no terceiro capítulo da obra. Pa- generalizações e conclusões referentes às hipóteses iniciais.
lavras plenas e instrumentais; os códigos sêmicos e culturais; operd- Em conclusão, a autora aborda as característica.,.; da natureza do
dores e tempos verbais; operações e nunciativas e de modalização; tidbalho, que funcionam como limitações, coerções ou parâmetros:
aspectos fOrnla.is dos suportes discursivos; formas de silêncio c si len· a s ua pertença ao universo estudado; o amalgamemo do objeto com
ciamemo. Entra ainda em cena , aqui, O conceito de "comunidade seu locus profissional ; o fato de ser um conhecimento em conStru-
discursiva", com a exigência metodológica que impõe. de estudar as ção; a situação de crise e transição paradigmática vivida pelo cenário
condições materiais de produção dos discursos. É de tirar o fôlego! estudado; a peculiaridade da região Nordeste, que exacerba as con-
No capítu lo denominado ~Ajuste de foco'"', é avaJiada a viabili- dições de vida e formas d e e nfrentamento dos agentes individuais e
dade de aplicação do enfoque semiológico - mais especificamente institucionais. Trata ainda da possibilidade de gener.l.lização de um
da Análise de Discursos - às práticas discursivas estudadas, ou seja, estudo sobre:: discursos em suportes impressos e lembra estar falan-
às práticas institucionais de comunicação no meio rural. Antes de en- d o de sentidos propostOS, que nâo necessariamente serão confirma-
trar na análise propriamente dita, InesÍla aprofunda o conceito de dos em recepção.
discurso polêmico. Parte em seguida para a anál ise das condições da A reconuersão do ollJar é um excelente exemplo da aplicabilida-
produção discursiva sobre a ação comu nitária e a solidária: primeiro, de da Análise de Discursos:1 um corpus o riundo de diferentes lugares
as condições histó ricas, políticas e sociais que afetam a todos; em se- SOCiais de fa la, visando a um aprofundamemo e a uma nova m:meir.1
guid:l, as das matrizes do discurso do agir coletivo -cristianismo, so- de se estudarem os embates sociais pela hegemonia. É curioso, tal.

. "
vez, notarquc estc t'rabalho é, no fundo , uma espécie de pesquisa de
mercado, aplicada a um mer<:ado simbólico, mas que, pelo mergu-
lho que faz nos processos sociais e pelos resultados alcançados,
avança muitO em re laçio às análises quantitativas e mesmo qualjtati-
va5 que estamos acostumados a ver sob este nome. Desde já se coloca
como obrd indispens:ive l na bibliografia de comunicadores, cicntis-
tas sociais, professores, animadores socioculrurais e quaisquer ou-
tras pessoas que trabalham ou se interessam pelos processos de
intervenção social. Sua leirura se torna, assim, obrigatória para estu-
dantes de Comunicação, Ciências Sociais, Letras , Serviço Social , His·
tória, par.. citar só aJguns dos cursos superiores cujos alunos irão
benefici ar-se, de agora em diante, de uma tal obra.

Milto"josé Pinto

Para Eduardo,
amor da minha vida.

"
vez, notarquc estc t'rabalho é, no fundo , uma espécie de pesquisa de
mercado, aplicada a um mer<:ado simbólico, mas que, pelo mergu-
lho que faz nos processos sociais e pelos resultados alcançados,
avança muitO em re laçio às análises quantitativas e mesmo qualjtati-
va5 que estamos acostumados a ver sob este nome. Desde já se coloca
como obrd indispens:ive l na bibliografia de comunicadores, cicntis-
tas sociais, professores, animadores socioculrurais e quaisquer ou-
tras pessoas que trabalham ou se interessam pelos processos de
intervenção social. Sua leirura se torna, assim, obrigatória para estu-
dantes de Comunicação, Ciências Sociais, Letras , Serviço Social , His·
tória, par.. citar só aJguns dos cursos superiores cujos alunos irão
benefici ar-se, de agora em diante, de uma tal obra.

Milto"josé Pinto

Para Eduardo,
amor da minha vida.

"
AJUDA-ME A OLHAR'

Dfl,lgQ ",io co"bcda (} mar. O pai. So nlia8QKo' llldlojJ. l e/I(),/-o para que deter)-
brisu (} mar, Viajaram paro o SuL Ele, Q mar, eslat/O do Oll/ro üulQ das du-
lU1S altas, espertmdo.
Q ual/do Q metl/IlO IJ o pai enfim alcmlçaralll aquelas allllras cle areia, depois
de milito camlllbur. () mar esta,.'(l em /rente a Sl!US olhos. I:.'Jo / /anla a Inllmsl.
tido lia mar, e (m,1O (} seu fi l/sor, que (} num/IIO f icou mudo de beleza.
/] quando ftnaltmmle ronSl18ulll jalar, (reme,u/f), gagt.ejamJo, pedlll (la pai:
- Me aftuJa a olhar!
Eduudo Galeaoo, O IiLTO dos abnlços

A historinha de Diego, deslumbrado diante da imensidão da be·


leza d o mar, abre este livro, pelo sentido figurado do seu apelo: "me
ajuda a olhar!"
De pois de mais de uma década às voltas com a prática comuni-
cativa d as insriruições que procuram intervir na reaJidade social, um
curso de mesrrado me d escortino u uma o utra paisagem, ofere-
ceu-me um outro modo d e pe rceber essa mesma prática. Novas d is-
ciplinas e seus mestres me oferecerdm seu o lhar, ajudaram-me a
o lhar. Durante três anos, estudei e refled sobre o vivido, à luz d esses
conhecimentos, até cumprir o rito fmal do mundo acadêmico: de-
fender uma dissertação. Fala",.! e la do polifônico, d o heterogê neo,
da semiose infinita, da pluralidade dos sentidos, das marcas do dis·
curso desmentindo as palavras do poder, da necessária mestiçagem
do saber e muito mais.
O desejo de companilhar a possibilidade de ver o novo move
este trabalho, que traz, quase na íntegra, o texto acadê mico. Seu títu-
lo fala de o lhar. Para ver, é preciso reconve rter o o lhar. Foi isso que
fiz, é isso que desejo propor. Mas a reconversão exige d esprendi-
mento, por vezes impõe nlpruras.
Uma delas, seguramente, é com o te rmo "co municação rural",
que pontua este trabalho. Circunstâncias históricas associam a "co-
municação nlr.tl" à prálica exr:ensionista oficial e, para a maioria das
IX!ssoas, à opção pelo mode lo difusionista. Mais recenteme nte, pas-
AJUDA-ME A OLHAR'

Dfl,lgQ ",io co"bcda (} mar. O pai. So nlia8QKo' llldlojJ. l e/I(),/-o para que deter)-
brisu (} mar, Viajaram paro o SuL Ele, Q mar, eslat/O do Oll/ro üulQ das du-
lU1S altas, espertmdo.
Q ual/do Q metl/IlO IJ o pai enfim alcmlçaralll aquelas allllras cle areia, depois
de milito camlllbur. () mar esta,.'(l em /rente a Sl!US olhos. I:.'Jo / /anla a Inllmsl.
tido lia mar, e (m,1O (} seu fi l/sor, que (} num/IIO f icou mudo de beleza.
/] quando ftnaltmmle ronSl18ulll jalar, (reme,u/f), gagt.ejamJo, pedlll (la pai:
- Me aftuJa a olhar!
Eduudo Galeaoo, O IiLTO dos abnlços

A historinha de Diego, deslumbrado diante da imensidão da be·


leza d o mar, abre este livro, pelo sentido figurado do seu apelo: "me
ajuda a olhar!"
De pois de mais de uma década às voltas com a prática comuni-
cativa d as insriruições que procuram intervir na reaJidade social, um
curso de mesrrado me d escortino u uma o utra paisagem, ofere-
ceu-me um outro modo d e pe rceber essa mesma prática. Novas d is-
ciplinas e seus mestres me oferecerdm seu o lhar, ajudaram-me a
o lhar. Durante três anos, estudei e refled sobre o vivido, à luz d esses
conhecimentos, até cumprir o rito fmal do mundo acadêmico: de-
fender uma dissertação. Fala",.! e la do polifônico, d o heterogê neo,
da semiose infinita, da pluralidade dos sentidos, das marcas do dis·
curso desmentindo as palavras do poder, da necessária mestiçagem
do saber e muito mais.
O desejo de companilhar a possibilidade de ver o novo move
este trabalho, que traz, quase na íntegra, o texto acadê mico. Seu títu-
lo fala de o lhar. Para ver, é preciso reconve rter o o lhar. Foi isso que
fiz, é isso que desejo propor. Mas a reconversão exige d esprendi-
mento, por vezes impõe nlpruras.
Uma delas, seguramente, é com o te rmo "co municação rural",
que pontua este trabalho. Circunstâncias históricas associam a "co-
municação nlr.tl" à prálica exr:ensionista oficial e, para a maioria das
IX!ssoas, à opção pelo mode lo difusionista. Mais recenteme nte, pas-
sou a ser entendida pelo grande público como O conjunto de iniciati- cas SOCiaIS. A5 práticas de comunicação das organizaçócs correspon-
V'dS da mídia voltadas para a informação e a orientação rum!. O dem à sua política d e comunicação, que, por s ua vez, correspondc
presente trabalho faz pane de um esforço pessoal no sentido de ao seu projeto de intervenção social. Não podem, portamo, ser e n-
romper com esse conceito, quando se trata d e designar as prátic-J.s tendidas como um mero conjunto de técnicas e mate riais, sendo ava-
das instituições e organizações que desenvolvem algum projetO de liadas e aperfeiçoadas apenas por uma perspectiva instnune ntalista.
intervenção social no meio rural, sej am elas gove rnamentais ou nao, Repito, este é um texto situado. Como tal, fala de configurações
religiosas ou leigas, do campo político ou popular. Mais que isso, °
sociais que, por natureza, são dinâmicas. O mundo, país, as organi-
substituí-lo por "comunicação pam a intervençáo social ", que cOnSi- zações, as pessoas estão mudando sempre e cada vez mais rapidamen.
dem outra transversalidade e outras ho mologias. Um passo nessa di- te. A cena social que aqui foi estudada não escapa dessa injunção.
reçao consiste justamente e m reconverter o o lhar e percebe r essa Alguns anos já separam o estudo original e a publicação deste .l.ivro. É
prática comunicativa através de o utras perspectivas teóricas, distin- possível Que algumas características contextuais estejam diferentes,
tas das que hoje predominam . A recorwersiio do olbar quer propor principalmente no âmbito das organizações cujas práticas e materiais
uma ruptum, sim, mas uma ruptura instaumdora, que não só aponta de comunicação foram analisadas. A elas peço tolerância e a compre-
os limites, mas sugere como rompê-los. ensão d e que, se fo r.un escolhidas e expostas num dado momento de
O olhar aqui proposto - um entre os possíveis - altera substancial- sua existência, é porque se d estacam de outras pelo entusiasmo e in-
mente o modo de perceber as instituições, os agentes e as relações so- vestimento na comunicação, acreditando na possibilidade de tr'.tIlsfor-
ciais envolvidas na prÁtica comunicativa. Põe em cena os conceitos de mação do mundo do Qual fazem parre e quc desejam me LhorM.
"mercado simbólico··, de "comunidades discursivas" , de ··polifonia", de Chegou a hora dos agradecimentos, a todas as pessoas que, de
"disrursos concorrentes". Fala de "prática discursiva", para designar o um modo ou de outro, deixaram suas marcas neste trabalho. Corren-
conjunto das práticas até aqui nomeadas de "comunicação ruml". do o rist:o d e cometer alguma injustiça, pelo esquecimento, gostaria
Como este, porém, é um texto situado e que consider.! relevan- de destacar algumas delas.
tes as representações dos agentes sociais sobre sua própria realida- Começo pelo pro fessor Milto n José Pinto, meu Querido orien-
de, optei por conservar o termo "comunicação rural", sobretudo tador. Tudo que sei sobre a Semiologia e a Análise de Discursos
quando referenciar as práticas atuais, e ir introduzindo "prática dis- aprendi com ele. As infinitas possibilidades de aplicação desse cam-
cursiva" à medida que a proposta teórica for criando condições par.! po do conhecimento foi ele quem me mostrou . Ofereceu-me mais
t:ll. Mas quero esclarecer que este não é absolutamente um estudo que isso, porém : ofereceu-me a sua amizade e o seu afeto, [:"io impor.
sobre o modelo difusio nista e muito menos sobre a eJ..1:ensão rurAl. tantes para a produção intelectual Quanto o saber científico.
Q uanto a isso muito já se pensou e escreveu , sobretudo no contexto AO professor Antônio Fausto Neto eu chamo de "meu ilumina-
da Teoria da Dependê ncia e do debate sobre o desenvo lvimento Que dor de cena". Ele tcm a capacidade de fv.er \'er o novo, o relevante, o
lhe corresponde u . O mome nto histórico desses estudos já passou e, que vale a pena estudare construir. Aponta as tendêndas da cena social
se aqui são re tomados, o são como instâncias de formação paradig- c acadêmica, desafia a curiosidade imelectual e, com sutileza, empur-
mática do atual momento. r:1-nos para o olho do fum.cão (ainda bem que ele vai junto). Este livro
Porém , mais do que optar por uma terminologia - t: a compre- tcm muito de sua inspiração.
ensão d e mundo e de sociedade Que lhe corresponde - , pareceu-me Outros professores estão aqui presentes, especialmente o pro·
Importante deixar clara a transição para um conceito de política e fcssor Aluízio Trima, cujo curso de "Paradigmas e Modelos da COOlU -
pdtica institucional de comunicação, cujo marco conceitual seja o nicação" foi , sem dúvida, o primeiro passo na reconversão d o o ll1:lr.
d :l ~ teorias d:1 enunciação e do disc urso. Políticas de comunicação Ao professor Muniz Sodré devo o meu aco lhimento no progra·
1', 11 po lfticas de apoio a intervenção social e , neste sentido, são politi- m<l de pós-graduação, eu, que tr.12ia um projeto aparentementel:to

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sou a ser entendida pelo grande público como O conjunto de iniciati- cas SOCiaIS. A5 práticas de comunicação das organizaçócs correspon-
V'dS da mídia voltadas para a informação e a orientação rum!. O dem à sua política d e comunicação, que, por s ua vez, correspondc
presente trabalho faz pane de um esforço pessoal no sentido de ao seu projeto de intervenção social. Não podem, portamo, ser e n-
romper com esse conceito, quando se trata d e designar as prátic-J.s tendidas como um mero conjunto de técnicas e mate riais, sendo ava-
das instituições e organizações que desenvolvem algum projetO de liadas e aperfeiçoadas apenas por uma perspectiva instnune ntalista.
intervenção social no meio rural, sej am elas gove rnamentais ou nao, Repito, este é um texto situado. Como tal, fala de configurações
religiosas ou leigas, do campo político ou popular. Mais que isso, °
sociais que, por natureza, são dinâmicas. O mundo, país, as organi-
substituí-lo por "comunicação pam a intervençáo social ", que cOnSi- zações, as pessoas estão mudando sempre e cada vez mais rapidamen.
dem outra transversalidade e outras ho mologias. Um passo nessa di- te. A cena social que aqui foi estudada não escapa dessa injunção.
reçao consiste justamente e m reconverter o o lhar e percebe r essa Alguns anos já separam o estudo original e a publicação deste .l.ivro. É
prática comunicativa através de o utras perspectivas teóricas, distin- possível Que algumas características contextuais estejam diferentes,
tas das que hoje predominam . A recorwersiio do olbar quer propor principalmente no âmbito das organizações cujas práticas e materiais
uma ruptum, sim, mas uma ruptura instaumdora, que não só aponta de comunicação foram analisadas. A elas peço tolerância e a compre-
os limites, mas sugere como rompê-los. ensão d e que, se fo r.un escolhidas e expostas num dado momento de
O olhar aqui proposto - um entre os possíveis - altera substancial- sua existência, é porque se d estacam de outras pelo entusiasmo e in-
mente o modo de perceber as instituições, os agentes e as relações so- vestimento na comunicação, acreditando na possibilidade de tr'.tIlsfor-
ciais envolvidas na prÁtica comunicativa. Põe em cena os conceitos de mação do mundo do Qual fazem parre e quc desejam me LhorM.
"mercado simbólico··, de "comunidades discursivas" , de ··polifonia", de Chegou a hora dos agradecimentos, a todas as pessoas que, de
"disrursos concorrentes". Fala de "prática discursiva", para designar o um modo ou de outro, deixaram suas marcas neste trabalho. Corren-
conjunto das práticas até aqui nomeadas de "comunicação ruml". do o rist:o d e cometer alguma injustiça, pelo esquecimento, gostaria
Como este, porém, é um texto situado e que consider.! relevan- de destacar algumas delas.
tes as representações dos agentes sociais sobre sua própria realida- Começo pelo pro fessor Milto n José Pinto, meu Querido orien-
de, optei por conservar o termo "comunicação rural", sobretudo tador. Tudo que sei sobre a Semiologia e a Análise de Discursos
quando referenciar as práticas atuais, e ir introduzindo "prática dis- aprendi com ele. As infinitas possibilidades de aplicação desse cam-
cursiva" à medida que a proposta teórica for criando condições par.! po do conhecimento foi ele quem me mostrou . Ofereceu-me mais
t:ll. Mas quero esclarecer que este não é absolutamente um estudo que isso, porém : ofereceu-me a sua amizade e o seu afeto, [:"io impor.
sobre o modelo difusio nista e muito menos sobre a eJ..1:ensão rurAl. tantes para a produção intelectual Quanto o saber científico.
Q uanto a isso muito já se pensou e escreveu , sobretudo no contexto AO professor Antônio Fausto Neto eu chamo de "meu ilumina-
da Teoria da Dependê ncia e do debate sobre o desenvo lvimento Que dor de cena". Ele tcm a capacidade de fv.er \'er o novo, o relevante, o
lhe corresponde u . O mome nto histórico desses estudos já passou e, que vale a pena estudare construir. Aponta as tendêndas da cena social
se aqui são re tomados, o são como instâncias de formação paradig- c acadêmica, desafia a curiosidade imelectual e, com sutileza, empur-
mática do atual momento. r:1-nos para o olho do fum.cão (ainda bem que ele vai junto). Este livro
Porém , mais do que optar por uma terminologia - t: a compre- tcm muito de sua inspiração.
ensão d e mundo e de sociedade Que lhe corresponde - , pareceu-me Outros professores estão aqui presentes, especialmente o pro·
Importante deixar clara a transição para um conceito de política e fcssor Aluízio Trima, cujo curso de "Paradigmas e Modelos da COOlU -
pdtica institucional de comunicação, cujo marco conceitual seja o nicação" foi , sem dúvida, o primeiro passo na reconversão d o o ll1:lr.
d :l ~ teorias d:1 enunciação e do disc urso. Políticas de comunicação Ao professor Muniz Sodré devo o meu aco lhimento no progra·
1', 11 po lfticas de apoio a intervenção social e , neste sentido, são politi- m<l de pós-graduação, eu, que tr.12ia um projeto aparentementel:to

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distante d as linhas de pesquisa ali praticad as. Sem seu es tímulo , tal-
vez a minha his tó ria fosse outra c este livro não existisse .
Muitas pessoas me o fe receram suas preciosas o piniões e análises
d a prática social, o utras tantas me cederam seus impressos c info ml:l-
çõeS. A todas sou muitO grata e espero que se sintam compensadas MODO DE OLHAR, MODO DE PROPOR
pelo seu investimento . Queria :tgradecer especialmente a Pablo Si·
d ersky, da AS-PTA, e ao padre Herminio Canova, d a CI'T.
A Eduardo )o rdão cabe um agradecimento especial, por comp:u"ti. "Transfomlar o mundo é transformar a linguage m, combate r
Ihar comigo seu conhecimento SOCiológico do Nordeste rural , que me suas escleroses e resistir a seus acomodamentos." A frase , pro ferid a
pcmlitiu compreender melhor as novas (:onfiguraçées do cenário da por Ro Iand Barthes em sua magistral aula inaugural no Collcge de
intervenção .social. France, permi te·me começar a falar sobre o tema das práticas de co-
Fui presenteada com duas excelentes r/"."visôes do me u texto. mun k-ação na Lntervenção social. Tenho plena consciência dos Iimi.
Uma, a do professor Anthony Andenion, na époc."l membro do escri- tes d e um trabalho acadêmico. no que lange à capacidade de
tório br.ls ileiro da Fundação Ford e hoje na World Wild tife Fund, trAnsformação do mundo ; três d écada.s j:í nos distanciam da época
Qu e participou da banca examinadora da dissertação e me ho nra em que os intelectuais pe nsavam cons tituir a vangu arda de forças
com sua amizade, Outra, a de Ana Paula Goulan Ribeiro, querida populares re\-olucionárias. Mas tomo por verdadeiro o pressuposlo
amiga desde a.... primeirds horas da grande aventur.l acadêmica, cuja da pragmática discu rsiva de que f.'tlar é fazer, o u melho r, falar é f.lZer
argúcia intelectual mui 10 me ajudou a compreender as sUlilezas d os ver e . portanto , fazer existir. Nas relações do mundo acadêmico com
cami nhos t'e óricos. o mundo da ação pr:.ítica, esse poder d e fazer e,xistir se exerce media.
Um o utro grande amigo se fez presente neste livro: Laerte Ma- do pelo "cfeito-teoria", que faz com que as inte rpretaçõcs teóricas da
gaJhães, colega d e d o uto rado , exímio domador d e imagens no mun- realid :lde física e social sejam tomadas por representações da verda.
do concretO e no virtual , aplainou as agrur.ts do CAminho de uma de e assumidas coletivame nte como na rurais e incontestáve is. Evi.
us uária inexperie nte de computadores. dentemente , para Que tal aconteça, é necessârio que h aja condições
Po r fim , gostaria de expressar meu agradecimemo :'i. Editora históricas e culturais favoráveis, criando um ambiente p rop ício à
UN ISINOS , nas pessoas do seu diretor, professor Carlos Alberto Gia· con jugação de interesses econô micos e políticos em to m o d o esta-
noui, e da dire tora da estante de comunicação, professora lo ne belecimento de algum "regime de verdade" (J:oucault , 1982). Tais
Bentz, por possibilitar a publicação deste livro, permitindo, assim, conside raçõcs vale m ranto para o entendimento do o bjelo quamo
que as idéias aqui expostas cheguem a um maior núme ro de pessoas. do o bjetivo desle livro, que serão aqui introduzidos.
Como se pode perceber, este é um texto polifônico. Tantas vo- . Ao falar d o objeto, pretendo comentar s ua peninéncia, tanto
zes eSlão aqui presentes!..: Participando, muit:ts sem que o soubes· teó n ca Quanto empmca, estendendo-me um pouco sobre os come}(.
sem, d e uma conversação em curso, à qual agora podem incorpo- tos em que procuro situar·me. O contc.'{tO empirico dad acesso, ainda
r.lr·sc, se o desejarem, d e forma intencional. Quem sabe, avalizando {Iue num nível introdutório, às cenas soci::d e discursi\';t que se constituem
o o lhar aqui proposto. Quem sabe, oferecendo out:ra direção possí. alvo. do me u interesse, e o contexto teó rico pcmlitirá fuJar das preocu.
vel parn a qual recom'erter o o lhar. Este deve ser o destino dos livros. paçoes no plano das idéias, que me ICV'.lT:lm até a Semiologia.
A discussão sobre o o bjeto re mete :1 uma outra, e m (o rno d a
rclaç:lo entre o pesquisador e o o bjelo pesquisado, na qual prete n.
d o acercar·me d e alguns proble mas d e mé lod o e da proouçiio de
çonhecimento aplicados ao meu caso particular.

"
distante d as linhas de pesquisa ali praticad as. Sem seu es tímulo , tal-
vez a minha his tó ria fosse outra c este livro não existisse .
Muitas pessoas me o fe receram suas preciosas o piniões e análises
d a prática social, o utras tantas me cederam seus impressos c info ml:l-
çõeS. A todas sou muitO grata e espero que se sintam compensadas MODO DE OLHAR, MODO DE PROPOR
pelo seu investimento . Queria :tgradecer especialmente a Pablo Si·
d ersky, da AS-PTA, e ao padre Herminio Canova, d a CI'T.
A Eduardo )o rdão cabe um agradecimento especial, por comp:u"ti. "Transfomlar o mundo é transformar a linguage m, combate r
Ihar comigo seu conhecimento SOCiológico do Nordeste rural , que me suas escleroses e resistir a seus acomodamentos." A frase , pro ferid a
pcmlitiu compreender melhor as novas (:onfiguraçées do cenário da por Ro Iand Barthes em sua magistral aula inaugural no Collcge de
intervenção .social. France, permi te·me começar a falar sobre o tema das práticas de co-
Fui presenteada com duas excelentes r/"."visôes do me u texto. mun k-ação na Lntervenção social. Tenho plena consciência dos Iimi.
Uma, a do professor Anthony Andenion, na époc."l membro do escri- tes d e um trabalho acadêmico. no que lange à capacidade de
tório br.ls ileiro da Fundação Ford e hoje na World Wild tife Fund, trAnsformação do mundo ; três d écada.s j:í nos distanciam da época
Qu e participou da banca examinadora da dissertação e me ho nra em que os intelectuais pe nsavam cons tituir a vangu arda de forças
com sua amizade, Outra, a de Ana Paula Goulan Ribeiro, querida populares re\-olucionárias. Mas tomo por verdadeiro o pressuposlo
amiga desde a.... primeirds horas da grande aventur.l acadêmica, cuja da pragmática discu rsiva de que f.'tlar é fazer, o u melho r, falar é f.lZer
argúcia intelectual mui 10 me ajudou a compreender as sUlilezas d os ver e . portanto , fazer existir. Nas relações do mundo acadêmico com
cami nhos t'e óricos. o mundo da ação pr:.ítica, esse poder d e fazer e,xistir se exerce media.
Um o utro grande amigo se fez presente neste livro: Laerte Ma- do pelo "cfeito-teoria", que faz com que as inte rpretaçõcs teóricas da
gaJhães, colega d e d o uto rado , exímio domador d e imagens no mun- realid :lde física e social sejam tomadas por representações da verda.
do concretO e no virtual , aplainou as agrur.ts do CAminho de uma de e assumidas coletivame nte como na rurais e incontestáve is. Evi.
us uária inexperie nte de computadores. dentemente , para Que tal aconteça, é necessârio que h aja condições
Po r fim , gostaria de expressar meu agradecimemo :'i. Editora históricas e culturais favoráveis, criando um ambiente p rop ício à
UN ISINOS , nas pessoas do seu diretor, professor Carlos Alberto Gia· con jugação de interesses econô micos e políticos em to m o d o esta-
noui, e da dire tora da estante de comunicação, professora lo ne belecimento de algum "regime de verdade" (J:oucault , 1982). Tais
Bentz, por possibilitar a publicação deste livro, permitindo, assim, conside raçõcs vale m ranto para o entendimento do o bjelo quamo
que as idéias aqui expostas cheguem a um maior núme ro de pessoas. do o bjetivo desle livro, que serão aqui introduzidos.
Como se pode perceber, este é um texto polifônico. Tantas vo- . Ao falar d o objeto, pretendo comentar s ua peninéncia, tanto
zes eSlão aqui presentes!..: Participando, muit:ts sem que o soubes· teó n ca Quanto empmca, estendendo-me um pouco sobre os come}(.
sem, d e uma conversação em curso, à qual agora podem incorpo- tos em que procuro situar·me. O contc.'{tO empirico dad acesso, ainda
r.lr·sc, se o desejarem, d e forma intencional. Quem sabe, avalizando {Iue num nível introdutório, às cenas soci::d e discursi\';t que se constituem
o o lhar aqui proposto. Quem sabe, oferecendo out:ra direção possí. alvo. do me u interesse, e o contexto teó rico pcmlitirá fuJar das preocu.
vel parn a qual recom'erter o o lhar. Este deve ser o destino dos livros. paçoes no plano das idéias, que me ICV'.lT:lm até a Semiologia.
A discussão sobre o o bjeto re mete :1 uma outra, e m (o rno d a
rclaç:lo entre o pesquisador e o o bjelo pesquisado, na qual prete n.
d o acercar·me d e alguns proble mas d e mé lod o e da proouçiio de
çonhecimento aplicados ao meu caso particular.

"
Ao te mp o em que d ese n vo lver os tó pi cos mencio nados , ro reCOrte, metodológico, lcV""J. a optar pelo mo mento específico da
esta re i rormuland o a lgumas questões , a , {ru lo d e hipó te ses , produção discursiva, tomando os processos de circulação e consu-
<Iue d e,,~r.i.o ser respondidas ao longo dos capíl'Ulos, cujo percurso mo e nquantO condições d e produção . O quarto, operacion:al, defi-
será discutido sob o ângulo das escolhas teóricas c metodológicas. nindo como s uportes discursivos a serem analisados os impressos
Cl"cio estar assim cu mprindo a finalidade desta introdução, que produzidos po r aquelas instituições c dirigidos aos camponeses. O
é criar aJgumas condiçóes para:1 leitur:1 do textO que se segue, que, ú himo é um rt."<COrte temático e privilegia os discu rsos sobre :a ação
por sua rem:hica, não está no rol d aqueles de d o mínio comu m. coopt:rativa e solidária como alvo de imeresse analítico. Resuh:1 d :lí
um obj elO que , em termos e mpíricos, pode ser de finido como as
práticas d iscursivas das instituiçÕC!i interessadas em intervir na reali-
Recortes d ad e rural da região Nordeste . Mais especificame nte, as práticas ma-
terializadas na produção e distribuição, entre os camponeses, de
Como grande tema de estudos, meu interesse rec'.ti sobre os me· impressos que , d e uma fo rma ou d e outra, incentive m o tr-.tbalho co·
CLl1ismos de produção de sentido no universo da interven\'ão social, le livo.
aqui representados na especificidade do meio rural. Mais concretamen·
tC, isso signifi<.. a interesse em pesquisar os elementos e mecanismoS o Nordeste das práticas discursivas
constirutivos do regime de verdade no meio rurJ...l : que atores, em que
cenários, descm'olvcm quc estratégillS, o rientados por quais interesses
e objetivos, infonnados por que conjunto de crenças constituídas em Muito se estuda e se escreve sobre a região Nordeste, sob as
que cin..-unsci.nch.. histó ricas e mt.>diad:tS por quc pJ"dticas institucionais . mais dh'el"Sas abordagens: faJa·se de suas estru turas políticas e sociais
E, partindo do princípio de que relações sociais se dão entre discur.;os c arcaicas, d a espccilicidade do semi-árid o , d a posiçlo subalterna na
de que falar é f:J.zer, desvelar de que fonna esses atores representam e econo mia nacional, da miséria social, da cu ltura po pular, dos movi·
exen:em sua açio no mundo pela via discul'Siva. Indo mais além: areicm· mentos sociais, entre OUlros temas . Como raramente tais estudos as·
do que falar de "regime de verdade" é falar do exercício de poder,1 emen- saciam mais d e duas vari:Í\'Cis, rem-se uma realidade fr-.l gme lltada,
der como se estabelecem as relações de poder :UI"a\'(-S dos discun;os. ou a impressão de q ue V{lriOS Nordestes co nvivem lado a lado , sem se
Como disse, e ste é um grande tema, e a p lu ralidade de vdfiáveis interpenetrarcm . É d e todos esses Nordestcs que quero falar, visto
aí envo lvidas é tamanha que exige recortes especifi cas. O primeiro por um o u tro ângu lo , que mes mo sendo o ut.ro pernlcia os demais: o
deles é o geográfi co e localiza na região Nordeste do Brasi l a área de d as p ráticas discu l"Siv"d.S .
abrangência do estudo. O segundo, institucio nal, estabelece como Se m dúvida. o Nordes te é uma região d eprimida social e eco--
parâmetro as ins[ituições sem fins lucrativos que têm como o bje tivo nomicamente, d e forma acentuada no meio rural. Comparada a o u-
provocar algum tipo de tr:m sfo nnação social no meio rur.d .2 O tercci- t·ras regiões, ocupa sempre o ú h imo lugar nos indicadores sociais e
econômicos. Di spõe de me nos tecnologia , mobiliza menos investi-
De :lcordo com Fo uc:luil, Ma ~e rd.:ltk esd cirC\,t:ume mc ligada a sist cm:lS de mentos p úblicos c atrai pouco os privados, o nível de escolaridad e
pode r, que: a produ zem e apóiam , e :t t:fcilOS de po dcrq ue cb induz e que are .. da po pulação é irrisório, a conce mração fundiária é exacerbada, :1
proo.l uzcm ~ ( 1982 : 14) . est rutur-J. de ger.lçao de e mprego e renda praticamente não existe .
2 A CJ(prcssão "mclo rural"" a..~slna l;l. para mim um CSp3~O mu \tidlmcnslom.J, qUI: Dianre disso , nu merosas instituições - gove rnamentais ou priva-
se consti tui no Cn.J7.a mentO de uma dada reKião fbll,:o-geugrállca L-om dete rmi .
n ados tipos de relaçõcs sociais c discursi\'», rornlõl..~ cconõmlc-..IS de: p roduçio,
das, re ligiosas o u leigas, acadí=mic:as ou n:io - procuram d ese nvol·
cstrulurJ de propric:d:adc dos bel\!>. ~laÇÕCs de tnb:l!lu) c C".Ir..Ctcri~1icts L"Ullu- vcr políticas de interve nção, viSando prO\'oC:lr mudanças ora
rai s. No cntanto, neste =ba lho , alguUlas vczes rdcrcn clará apenas ocspaço fJ!'ll. estrll1"ur-J...is, 0 1'".1. conjunturais. Tais políticas são formuladas te ndo
L"O n~ (}-urbano.

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Ao te mp o em que d ese n vo lver os tó pi cos mencio nados , ro reCOrte, metodológico, lcV""J. a optar pelo mo mento específico da
esta re i rormuland o a lgumas questões , a , {ru lo d e hipó te ses , produção discursiva, tomando os processos de circulação e consu-
<Iue d e,,~r.i.o ser respondidas ao longo dos capíl'Ulos, cujo percurso mo e nquantO condições d e produção . O quarto, operacion:al, defi-
será discutido sob o ângulo das escolhas teóricas c metodológicas. nindo como s uportes discursivos a serem analisados os impressos
Cl"cio estar assim cu mprindo a finalidade desta introdução, que produzidos po r aquelas instituições c dirigidos aos camponeses. O
é criar aJgumas condiçóes para:1 leitur:1 do textO que se segue, que, ú himo é um rt."<COrte temático e privilegia os discu rsos sobre :a ação
por sua rem:hica, não está no rol d aqueles de d o mínio comu m. coopt:rativa e solidária como alvo de imeresse analítico. Resuh:1 d :lí
um obj elO que , em termos e mpíricos, pode ser de finido como as
práticas d iscursivas das instituiçÕC!i interessadas em intervir na reali-
Recortes d ad e rural da região Nordeste . Mais especificame nte, as práticas ma-
terializadas na produção e distribuição, entre os camponeses, de
Como grande tema de estudos, meu interesse rec'.ti sobre os me· impressos que , d e uma fo rma ou d e outra, incentive m o tr-.tbalho co·
CLl1ismos de produção de sentido no universo da interven\'ão social, le livo.
aqui representados na especificidade do meio rural. Mais concretamen·
tC, isso signifi<.. a interesse em pesquisar os elementos e mecanismoS o Nordeste das práticas discursivas
constirutivos do regime de verdade no meio rurJ...l : que atores, em que
cenários, descm'olvcm quc estratégillS, o rientados por quais interesses
e objetivos, infonnados por que conjunto de crenças constituídas em Muito se estuda e se escreve sobre a região Nordeste, sob as
que cin..-unsci.nch.. histó ricas e mt.>diad:tS por quc pJ"dticas institucionais . mais dh'el"Sas abordagens: faJa·se de suas estru turas políticas e sociais
E, partindo do princípio de que relações sociais se dão entre discur.;os c arcaicas, d a espccilicidade do semi-árid o , d a posiçlo subalterna na
de que falar é f:J.zer, desvelar de que fonna esses atores representam e econo mia nacional, da miséria social, da cu ltura po pular, dos movi·
exen:em sua açio no mundo pela via discul'Siva. Indo mais além: areicm· mentos sociais, entre OUlros temas . Como raramente tais estudos as·
do que falar de "regime de verdade" é falar do exercício de poder,1 emen- saciam mais d e duas vari:Í\'Cis, rem-se uma realidade fr-.l gme lltada,
der como se estabelecem as relações de poder :UI"a\'(-S dos discun;os. ou a impressão de q ue V{lriOS Nordestes co nvivem lado a lado , sem se
Como disse, e ste é um grande tema, e a p lu ralidade de vdfiáveis interpenetrarcm . É d e todos esses Nordestcs que quero falar, visto
aí envo lvidas é tamanha que exige recortes especifi cas. O primeiro por um o u tro ângu lo , que mes mo sendo o ut.ro pernlcia os demais: o
deles é o geográfi co e localiza na região Nordeste do Brasi l a área de d as p ráticas discu l"Siv"d.S .
abrangência do estudo. O segundo, institucio nal, estabelece como Se m dúvida. o Nordes te é uma região d eprimida social e eco--
parâmetro as ins[ituições sem fins lucrativos que têm como o bje tivo nomicamente, d e forma acentuada no meio rural. Comparada a o u-
provocar algum tipo de tr:m sfo nnação social no meio rur.d .2 O tercci- t·ras regiões, ocupa sempre o ú h imo lugar nos indicadores sociais e
econômicos. Di spõe de me nos tecnologia , mobiliza menos investi-
De :lcordo com Fo uc:luil, Ma ~e rd.:ltk esd cirC\,t:ume mc ligada a sist cm:lS de mentos p úblicos c atrai pouco os privados, o nível de escolaridad e
pode r, que: a produ zem e apóiam , e :t t:fcilOS de po dcrq ue cb induz e que are .. da po pulação é irrisório, a conce mração fundiária é exacerbada, :1
proo.l uzcm ~ ( 1982 : 14) . est rutur-J. de ger.lçao de e mprego e renda praticamente não existe .
2 A CJ(prcssão "mclo rural"" a..~slna l;l. para mim um CSp3~O mu \tidlmcnslom.J, qUI: Dianre disso , nu merosas instituições - gove rnamentais ou priva-
se consti tui no Cn.J7.a mentO de uma dada reKião fbll,:o-geugrállca L-om dete rmi .
n ados tipos de relaçõcs sociais c discursi\'», rornlõl..~ cconõmlc-..IS de: p roduçio,
das, re ligiosas o u leigas, acadí=mic:as ou n:io - procuram d ese nvol·
cstrulurJ de propric:d:adc dos bel\!>. ~laÇÕCs de tnb:l!lu) c C".Ir..Ctcri~1icts L"Ullu- vcr políticas de interve nção, viSando prO\'oC:lr mudanças ora
rai s. No cntanto, neste =ba lho , alguUlas vczes rdcrcn clará apenas ocspaço fJ!'ll. estrll1"ur-J...is, 0 1'".1. conjunturais. Tais políticas são formuladas te ndo
L"O n~ (}-urbano.

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em vista um segme nta d a população pensado em termos de usuários çado pela oricnt':lção internacio nal pa • .! os países perifé ricos no
o u beneficiários d as açõcs propostas, que delas devem (Ornar conhc- se ntido de se imprimir às atividades de descnvolvimenro um cunho
cimento e manifestar s ua adesão. Tenta-se obter isso atrav~s d e pro- cooperativista.
cessos comunicativos o u , nos termOS que pre firo, d e práticas O contexto de crise me ncionado aprese nta outros ângulos,
discursivas , dirigidas, no caso específico, a determinados núcl eos entre os quais O da dificuldad e d e definição dos papéis c O da insa-
da sociedade camponcsa .3 tisf:lçiio co m os próprios limites de atuação. Um fenô meno recente
Os diversos atores implicados nesse cenário companilham a que d ecorre disso é O movimtnto no se ntido d e funcion ârios públi-
idéia de que uma d as motivaçõcs básicas do seu agir (em algu ns ca- cos criare m o rganizaçõcs privad as, que em tesc lhes permitiriam
sos a principal) é a solidariedade e O espíri(O de cooperação, percep- uma atuação po lítica e social mais gr.lIificanre e um nível de gestão
ção de fun cio namento social que tentam transferir aos desti natários ao qual não tê m acesso n~ agências governamentais e , em contra-
de su as políticas dc intervenção. partida , uma tenrativa dos profiss io nais ligados às organizações pri-
A idé ia d e aniculação da sociedade pela solidariedade , em- vad as d e ocuparem cargos públ icos, procurando um maior poder
bora não se ja nova para alguns segmentos , como o religioso, am- lega l de intervir no âmbito socia l, o u seja. mais efetividade para
pliou seu espectro e adquiriu ou trllS dimensões no contextO d e S U:IS ações.
crise das ins tituições e das so luções políticas tradicionais po r qu e Por outro lado , intensificam-se as iniciativas de pa rceria entre
vem atravessando o país. Assim , o Estado, após um período de regi- a... várias institu ições para imp lantação das políticas públicas, o que
me ditato ri:ll , exacerba seu discurso ~ panicipaLi vo", criando o u fo- implica no repasse de recursos finan ceiros d o campo governamen-
mentando to d a son e de mecanismos cole tivos e transfonnando a (ai para o privado . Até mui to recentemente , a visão d o minante era a
ação solid ária num dos seus pi lares de interve nção social. As orga- de "alianças", fundamentalme nte dis tinta da de "parceria". Para
nizações não-govername ntais d e promoção social têm na solidarie- isso colabora amplamtnte a prcss:lo dos orga nism os inte rnacio-
dade um princípio jus tificativo, qu e de rrubaria fromeiras de classe n:tis de cooperação , principalme nte os ofi daiS (como O Banco
e unificaria inte resses e ideais. Pa • .! :15 inslituições religiosas, e la é Mundia l), que chegam mesmo a estabe lecer a p:trceria com a socie-
constitUtiva, co nverte ndo-se em mandamemo divino e em um d os dade ch'il como condição p :lr:1 a d oação de recursos ao gove rno
caminhos da salvação eterna, através da sua ro nna d efrater1lida d e. brasileiro .
E assim por diante . A definição de sociedade civil como "um con- No plano di scursivo, esses movimentos e a indefinição d e pa-
junto de relações sociais mediadas pe la solid ariedade" (Schiochct, pé is produzem uma exacerbação da po lifo nia (vozes qu e se expri-
1994 : 6 1) correspo nde bem 3 perspectiva corre nte e m amplos setO- me m num texto) , havendo uma clara e múlua apropriação d os
res, nos qu ais se incluem os atuais ocupantes do governo rede r:1l e discursos alheios, de [ai sorte que um observador desaviS:ldo não
de alguns estaduais e municipais. Os pró prios campo neses, expos- percebe muita diferença entre os vários núcleos discursivos . Ta nto
tos que são aos discursos dos outros núcleos, n1anifestam em se us mais que, a partir da Eanh Summit 92, o co nceito de Organização
discursos a valorização da ação coop erativa. Esse contexto é re fo r- N:io-Governamental - ONG -, até então restrito e aplic:ívcl :t um
lil)O d e finido de institu ição, p assou a designar par-d o grande públi-
O loda c qualquer o rganização que não stj:1 govername nlaJ , incluin-
3 o COTl(dtO de -Clmpon;::!l~ o u "SQCil.!dadc Cl mpont;~a- é eo mplao c passÍ\'C1
de muitas Interpretaçócs tc:ó ricôl!i. Deixo h test:s de sodologi;l runl ou amro- do ar os grupos ambientalistas , as organizações caritativas e até mes-
po logia tallarefa e a.~sumo que t;lI1npo,,~s des igna , de modo si mplificado. os ha- 1110 algumas ligad as :l interesses econômicos .
bitamC!i do meio roral roi .... tividade de subsistência est:i ligada de algum modo
~ produÇ'ÃO :.l gropaslOr ll. Meu conceilo indui um recool.! socioeconómieo. qoe
l.!lo.:lui O!i mc':di()!; t: grandes propriet;irios rurais. Es.~a definição nio illlplica o
de$COn hccimc: nto d a plunJid..dc de CU1tulõlS, cosmO\isõcs, modos de \ '!\'Cf c
16giCls o rgani7.aü.-aS da suciedadc Clmponesa.

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"
em vista um segme nta d a população pensado em termos de usuários çado pela oricnt':lção internacio nal pa • .! os países perifé ricos no
o u beneficiários d as açõcs propostas, que delas devem (Ornar conhc- se ntido de se imprimir às atividades de descnvolvimenro um cunho
cimento e manifestar s ua adesão. Tenta-se obter isso atrav~s d e pro- cooperativista.
cessos comunicativos o u , nos termOS que pre firo, d e práticas O contexto de crise me ncionado aprese nta outros ângulos,
discursivas , dirigidas, no caso específico, a determinados núcl eos entre os quais O da dificuldad e d e definição dos papéis c O da insa-
da sociedade camponcsa .3 tisf:lçiio co m os próprios limites de atuação. Um fenô meno recente
Os diversos atores implicados nesse cenário companilham a que d ecorre disso é O movimtnto no se ntido d e funcion ârios públi-
idéia de que uma d as motivaçõcs básicas do seu agir (em algu ns ca- cos criare m o rganizaçõcs privad as, que em tesc lhes permitiriam
sos a principal) é a solidariedade e O espíri(O de cooperação, percep- uma atuação po lítica e social mais gr.lIificanre e um nível de gestão
ção de fun cio namento social que tentam transferir aos desti natários ao qual não tê m acesso n~ agências governamentais e , em contra-
de su as políticas dc intervenção. partida , uma tenrativa dos profiss io nais ligados às organizações pri-
A idé ia d e aniculação da sociedade pela solidariedade , em- vad as d e ocuparem cargos públ icos, procurando um maior poder
bora não se ja nova para alguns segmentos , como o religioso, am- lega l de intervir no âmbito socia l, o u seja. mais efetividade para
pliou seu espectro e adquiriu ou trllS dimensões no contextO d e S U:IS ações.
crise das ins tituições e das so luções políticas tradicionais po r qu e Por outro lado , intensificam-se as iniciativas de pa rceria entre
vem atravessando o país. Assim , o Estado, após um período de regi- a... várias institu ições para imp lantação das políticas públicas, o que
me ditato ri:ll , exacerba seu discurso ~ panicipaLi vo", criando o u fo- implica no repasse de recursos finan ceiros d o campo governamen-
mentando to d a son e de mecanismos cole tivos e transfonnando a (ai para o privado . Até mui to recentemente , a visão d o minante era a
ação solid ária num dos seus pi lares de interve nção social. As orga- de "alianças", fundamentalme nte dis tinta da de "parceria". Para
nizações não-govername ntais d e promoção social têm na solidarie- isso colabora amplamtnte a prcss:lo dos orga nism os inte rnacio-
dade um princípio jus tificativo, qu e de rrubaria fromeiras de classe n:tis de cooperação , principalme nte os ofi daiS (como O Banco
e unificaria inte resses e ideais. Pa • .! :15 inslituições religiosas, e la é Mundia l), que chegam mesmo a estabe lecer a p:trceria com a socie-
constitUtiva, co nverte ndo-se em mandamemo divino e em um d os dade ch'il como condição p :lr:1 a d oação de recursos ao gove rno
caminhos da salvação eterna, através da sua ro nna d efrater1lida d e. brasileiro .
E assim por diante . A definição de sociedade civil como "um con- No plano di scursivo, esses movimentos e a indefinição d e pa-
junto de relações sociais mediadas pe la solid ariedade" (Schiochct, pé is produzem uma exacerbação da po lifo nia (vozes qu e se expri-
1994 : 6 1) correspo nde bem 3 perspectiva corre nte e m amplos setO- me m num texto) , havendo uma clara e múlua apropriação d os
res, nos qu ais se incluem os atuais ocupantes do governo rede r:1l e discursos alheios, de [ai sorte que um observador desaviS:ldo não
de alguns estaduais e municipais. Os pró prios campo neses, expos- percebe muita diferença entre os vários núcleos discursivos . Ta nto
tos que são aos discursos dos outros núcleos, n1anifestam em se us mais que, a partir da Eanh Summit 92, o co nceito de Organização
discursos a valorização da ação coop erativa. Esse contexto é re fo r- N:io-Governamental - ONG -, até então restrito e aplic:ívcl :t um
lil)O d e finido de institu ição, p assou a designar par-d o grande públi-
O loda c qualquer o rganização que não stj:1 govername nlaJ , incluin-
3 o COTl(dtO de -Clmpon;::!l~ o u "SQCil.!dadc Cl mpont;~a- é eo mplao c passÍ\'C1
de muitas Interpretaçócs tc:ó ricôl!i. Deixo h test:s de sodologi;l runl ou amro- do ar os grupos ambientalistas , as organizações caritativas e até mes-
po logia tallarefa e a.~sumo que t;lI1npo,,~s des igna , de modo si mplificado. os ha- 1110 algumas ligad as :l interesses econômicos .
bitamC!i do meio roral roi .... tividade de subsistência est:i ligada de algum modo
~ produÇ'ÃO :.l gropaslOr ll. Meu conceilo indui um recool.! socioeconómieo. qoe
l.!lo.:lui O!i mc':di()!; t: grandes propriet;irios rurais. Es.~a definição nio illlplica o
de$COn hccimc: nto d a plunJid..dc de CU1tulõlS, cosmO\isõcs, modos de \ '!\'Cf c
16giCls o rgani7.aü.-aS da suciedadc Clmponesa.

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"
A ,..,.,."rr........;.,d(J oIba~

A dis puta pelo poder s imbó lico ridos entre os núcleos concorrentes : uma vez que estes se organizam
e atuam em fun ção de políticas vohadas à popu lação, é :1 aceitação
ou não das po líticas po r essa população Que legitima seus autores.
Nesse ponto, é possívellevanrar algumas hipÓteSes. A primei- Mas os camponeses não são ape nas objeto de disputa : eles partici-
ra delas é que as instituições que compõem esse ce nário pa rtici- pam ativamente do processo d e negociação de sentido , confron-
pam, po r me io de suas organizações (aqui consideradas núcleos tando interesses e desenvolvendo estmtégias. Minha hipótese é
discursivos) , de um:\ disputa de seu lido , ou seja , disputam com :L" que os núcleos ins titucionais não ope ram com a idéia d esse com-
demais o direito pela preva lência do seu modo d e pe rcebere plane- ponamento estratégico dos destinatários de seus discursos, conside-
jar a sociedade (que e m última análise se expressará na formulação rando-os "receptores" e não "inrerlocutores". Com base na teoria se-
de políticas públicas) . Formam um m ercado simb6lico, no qual as mio ló gica dos disc ursos , considero que as m a rcas dessa concepção
relações ocorrem e ntre discursos c onde se negociam apoios ou se estão presentes nos textos que fazem circu lar :ltr"dvés d os me ios. É
estabelece uma concorrência. Tal disputa nãose d á num nível cons- també m através das marcas que se pode identi.fic;tr outros aspeCtos
ciente verificand o-se m esmo nos processos em que predominem d a imagem que os n úcleos emissores tem do dest inatário , a sua
relaç~s de parceria ou em que se explicitem prindpios de ação so- auro-imagem e o lipo de relação que pr opõem entre um e outro.
lidária . Não estou pondo em dúvida o ideal d e ação solidária, :tlé Tais imagens, que podem ser inferidas no dispositivo de
mesmo porque há campos cuja lógica de funci onamento favorc::ce emwcillçâo de cada discurso , são um pomo nevrálgico nas rela-
esse tipo de posicionamenro, como é o caso do campo religioso. ções de po der inere ntes ao func io namento do mercado simbólico,
Mas cons idero a hipÓteSe de que :1 prática sociod iscursiV".1 d os nú- uma vez que estas são detinidas pelo modo como os desrin:lIários
cleos estudados denuncia um outro e ixo em torno d o qual se mo- aceitam o u rejeitam o que lhes é proposto. Essa premissa- que, para
"em os atores, o eLxo da disputa do "poder simbólico". O objetivo ser inleir.tffiente validada, exigirIa u ma análise dos discursos em re-
é , em última análise, pôr em cena um modo de percebe r as relações cepção - é fund ;tffiental para a com preensão das escolhas teóricas e
sociais que [Orne por referência a construção dessas relações pela me todológicas, a.s.sim como à construção d;IS cenas social e discur-
via discursiva e cuja pert inê ncia pretendodemons tr:u" na seqüência s iva .
do trabalho. Uma OUlra premissa fundamental neste tr:lbalho é a de que os
Uma o utm hipóteSe é a de que os discursos produzidos pelos v;írios núcleos aqui considerados e missores vêm-se debatendo, nos
núcleos trazem marcas da cena social descrila . Eles expressam os últimos 25 anos , entre dois grandes mode los d e comunicação, per-
acordos o u co nco rrências, dentro da atual crise de identidade. Em cebidos como anmgônicos: O rrotlSfereucial (ou difusionista) e o
outros termos, é possível identiticar, através da análise dos discursos dlal6glco (ou humanis ta), ambos solidificados no in ício da d écada
desses núcleos, o modo como cada um se posiciona no m e rcad o de 70, o primeiro de justificativa predominantemente téc nica e o
si mbó lico e com que cstr::uégias disputa a supremac ia sobre os ou- segundo eminente mente polítko. A idéia que defend o é a de que , a
Iras. despeito de a lg umas lenlativas de revisão c rítica, os pratic:lIltes da
As instiruições e stabelecem uma relação discursil'a com os nú- c hamada comunicação ruml e nccrmram-se nessa aparente dicoto-
cleos tia sociedade camponesa , mediad3 por uma certa variedade de mia , se m conseguir perceber o núcleo comum às propos tas - que
meios e processos de comunicação. Os discursos veiculados freqüe n- e m e ndo como sendo o modelo in!ormaciof/til de comunicação- e
te mente inclue m , no plano da doutrina, O ~stímulo à ação so li~ :\ria , IIper:t1ll com os dois modelos simu ltaneamente, o dialógico emba·
e nqu :lIltO procuram definir sua própria pratica como exprcssao do IIH I1(.I0 a teoria e o transferencial di recionando a prática . Dessa for-
compromisso solidário com uma sociedade fundada na justiça social. IIHI , são le vados :I uma espécie de esquizofrenia entre o m o d o de
í.i possível , nes te pontO, formu lar o utra hipótese, que co nside- tOllcebc,":1 socie dade e as re laçõcs entre seus atores e o modo de
ra:l pre missa de que os camponeses são o ccntro da d is puta d e sen-

,. "
A ,..,.,."rr........;.,d(J oIba~

A dis puta pelo poder s imbó lico ridos entre os núcleos concorrentes : uma vez que estes se organizam
e atuam em fun ção de políticas vohadas à popu lação, é :1 aceitação
ou não das po líticas po r essa população Que legitima seus autores.
Nesse ponto, é possívellevanrar algumas hipÓteSes. A primei- Mas os camponeses não são ape nas objeto de disputa : eles partici-
ra delas é que as instituições que compõem esse ce nário pa rtici- pam ativamente do processo d e negociação de sentido , confron-
pam, po r me io de suas organizações (aqui consideradas núcleos tando interesses e desenvolvendo estmtégias. Minha hipótese é
discursivos) , de um:\ disputa de seu lido , ou seja , disputam com :L" que os núcleos ins titucionais não ope ram com a idéia d esse com-
demais o direito pela preva lência do seu modo d e pe rcebere plane- ponamento estratégico dos destinatários de seus discursos, conside-
jar a sociedade (que e m última análise se expressará na formulação rando-os "receptores" e não "inrerlocutores". Com base na teoria se-
de políticas públicas) . Formam um m ercado simb6lico, no qual as mio ló gica dos disc ursos , considero que as m a rcas dessa concepção
relações ocorrem e ntre discursos c onde se negociam apoios ou se estão presentes nos textos que fazem circu lar :ltr"dvés d os me ios. É
estabelece uma concorrência. Tal disputa nãose d á num nível cons- també m através das marcas que se pode identi.fic;tr outros aspeCtos
ciente verificand o-se m esmo nos processos em que predominem d a imagem que os n úcleos emissores tem do dest inatário , a sua
relaç~s de parceria ou em que se explicitem prindpios de ação so- auro-imagem e o lipo de relação que pr opõem entre um e outro.
lidária . Não estou pondo em dúvida o ideal d e ação solidária, :tlé Tais imagens, que podem ser inferidas no dispositivo de
mesmo porque há campos cuja lógica de funci onamento favorc::ce emwcillçâo de cada discurso , são um pomo nevrálgico nas rela-
esse tipo de posicionamenro, como é o caso do campo religioso. ções de po der inere ntes ao func io namento do mercado simbólico,
Mas cons idero a hipÓteSe de que :1 prática sociod iscursiV".1 d os nú- uma vez que estas são detinidas pelo modo como os desrin:lIários
cleos estudados denuncia um outro e ixo em torno d o qual se mo- aceitam o u rejeitam o que lhes é proposto. Essa premissa- que, para
"em os atores, o eLxo da disputa do "poder simbólico". O objetivo ser inleir.tffiente validada, exigirIa u ma análise dos discursos em re-
é , em última análise, pôr em cena um modo de percebe r as relações cepção - é fund ;tffiental para a com preensão das escolhas teóricas e
sociais que [Orne por referência a construção dessas relações pela me todológicas, a.s.sim como à construção d;IS cenas social e discur-
via discursiva e cuja pert inê ncia pretendodemons tr:u" na seqüência s iva .
do trabalho. Uma OUlra premissa fundamental neste tr:lbalho é a de que os
Uma o utm hipóteSe é a de que os discursos produzidos pelos v;írios núcleos aqui considerados e missores vêm-se debatendo, nos
núcleos trazem marcas da cena social descrila . Eles expressam os últimos 25 anos , entre dois grandes mode los d e comunicação, per-
acordos o u co nco rrências, dentro da atual crise de identidade. Em cebidos como anmgônicos: O rrotlSfereucial (ou difusionista) e o
outros termos, é possível identiticar, através da análise dos discursos dlal6glco (ou humanis ta), ambos solidificados no in ício da d écada
desses núcleos, o modo como cada um se posiciona no m e rcad o de 70, o primeiro de justificativa predominantemente téc nica e o
si mbó lico e com que cstr::uégias disputa a supremac ia sobre os ou- segundo eminente mente polítko. A idéia que defend o é a de que , a
Iras. despeito de a lg umas lenlativas de revisão c rítica, os pratic:lIltes da
As instiruições e stabelecem uma relação discursil'a com os nú- c hamada comunicação ruml e nccrmram-se nessa aparente dicoto-
cleos tia sociedade camponesa , mediad3 por uma certa variedade de mia , se m conseguir perceber o núcleo comum às propos tas - que
meios e processos de comunicação. Os discursos veiculados freqüe n- e m e ndo como sendo o modelo in!ormaciof/til de comunicação- e
te mente inclue m , no plano da doutrina, O ~stímulo à ação so li~ :\ria , IIper:t1ll com os dois modelos simu ltaneamente, o dialógico emba·
e nqu :lIltO procuram definir sua própria pratica como exprcssao do IIH I1(.I0 a teoria e o transferencial di recionando a prática . Dessa for-
compromisso solidário com uma sociedade fundada na justiça social. IIHI , são le vados :I uma espécie de esquizofrenia entre o m o d o de
í.i possível , nes te pontO, formu lar o utra hipótese, que co nside- tOllcebc,":1 socie dade e as re laçõcs entre seus atores e o modo de
ra:l pre missa de que os camponeses são o ccntro da d is puta d e sen-

,. "
I ncsita A.mijo

procur.u- intervir nessa socie dade, por intermédio das práticas co- A RECONVERSÃO DO OU lAR
municativas. TEMA DE Procc:sso~ de produç~o d os s~midos no univcr'lIO d:l.
Um a idé ia que tentarei defender ao longo do Capítulo I é a de ESTUDO Interv~nção soc.i:ll.
que tamo a d ificu ldade de extrapolar a abordagem dicotômica como OBJ ETIVO I'mpor uma rceo oven;âo do olhar sob re: as práticas ins·
os limites das revisões críticas intentadas situam-se no fato de ter tltucionais de eomunieaç-.io no meiO rural. lnstiruindo um
modo d e: abordagem que: tome por refcrenciõLl teórico um
pennanccido intocada a concepção lingüística que se encontra subja- dado L"Unjunto de teses d~ Semiologia dos Dlscursos Sociais e
cente aos modelos dominantes, que estabelece a Iíngu:l como e spaço por rcf~rência empíriCol ~ L'Onstruçio das relações MX:lais peb
de interação e a comunicação como um processo d e ajustamento de via discursiVll.
OBJETO
códigos.
Essas hipóteses c premissas orientam a formulação e a condu- Te:órlco O interesse c aplicabilidad<;: das teorias sc: miológieas
ao processo d e produçao dos sentidos no umpo d~~ politl-
ção do presente trabalho, que propõc um outro modo de abordar as eas de intervenção so d ;rJ.
práticas discursivas no meio rural, tomando como referencial teóli- EmpíriCO A!; prátiCôls dIscursivas das inst.ituiçõcs e grupos inte-
co as teses da Sem io logia dos Discursos Sociais. Estas refonnulam o ress<l.dos em int<;:rvir 001. realidade rural da região Nordeste.
modo de perceber as relaçõcs comunicativas entre as instituições e HIPÓTESES
os destinatários de suas políticas sociais . A Semiologia dos Discursos GenériC3 A Scmlologia dos Discursos Sociais possibillta i C......
Sociais, que será tratada em detalhes no Capítulo 11 , é uma disciplina , municação para li. InteJYenç~o SOCial um a\';lnço em relação
nova, com um acentuado potencial de renovação da abordagem das ao seu aNal e:stágio de: dcscn\"Olvimemo, ca ....u:terizado este
por um ap~rente antagonismo e ntre: dois modelos de al,."a o.
pr.íticas sociais e pode ser definida, inicialmente , com o "ciência que dicOlOmia que imobili2.ll a produção do conh e cime:nto.
estuda os fenômenos sociais como fenô m e nos de produção de senti-
Es p ecíficas 1. A.~ instituiçoes panicipmn d e um mcread osimbólieo.
dos". no qual disputam a dominância na produção dos sc:midos. ou
Não é minha pretensão formu lar um mode lo semiológico de seja. disputam a pre\'alência do s~u modo de pcn.:eber e pla-
comunicação para a intervenção social, m as propor uma recotlver- nejar 3 SOCiedad e .
sâo do o/bar, como modo de romper os limites dos modelos domi- 2. A prática socjodiscursi~. denuncia um e:ixo d e: arti-
nantes e abrir cami nho para uma posterior construçiio de um culação da socic:dade: pela disputa do Ixx.!<;:r simbó lico e:
negoJ pardõLlmcmc 3 rctórk. da anicu lação pela solidarie:da-
modelo operacional e compatível com a concepção poLítica de socie- d o.
dade e intervenção social que os núcleos discursivos demonstram
3. Os di~cun;os da.s organizaçõcs dirigidos aos campo-
ter. O quadro seguinte sintetiza e o rganiza as p rincipais p ropostas neses = m marcas d<l. cena soc iai 00 qual estão inscritos.
deste trabalho. Ess:lS marcas e:videnciam relaçôcs de conL"Orrênda entre os
núcleos d iscursivOS e dc domina<,.-ao emre estes e: os campo-
nc:sc:s. Pre missa: é na pcitica discursiva que os agentes ex-
pn:s~3m Sll:tS concepçóc:s sobre a MX:icdadc e as reiaçõcs
sociais. partidpando assim ativame:me da re-prod ução des-
sas relações .
4 . Camponeses s:io consldendos receptores passivos
dos discursos a eles dirlgidos e n.'i:o agente~ de uma práti ca
diM;ur.;iv-.I. Premissa: CôlmponesC$ s~o Interlocutores atIvos,
cxcrct m parei definitório na produção dos sc:midos clrcu ·
lantes.

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I ncsita A.mijo

procur.u- intervir nessa socie dade, por intermédio das práticas co- A RECONVERSÃO DO OU lAR
municativas. TEMA DE Procc:sso~ de produç~o d os s~midos no univcr'lIO d:l.
Um a idé ia que tentarei defender ao longo do Capítulo I é a de ESTUDO Interv~nção soc.i:ll.
que tamo a d ificu ldade de extrapolar a abordagem dicotômica como OBJ ETIVO I'mpor uma rceo oven;âo do olhar sob re: as práticas ins·
os limites das revisões críticas intentadas situam-se no fato de ter tltucionais de eomunieaç-.io no meiO rural. lnstiruindo um
modo d e: abordagem que: tome por refcrenciõLl teórico um
pennanccido intocada a concepção lingüística que se encontra subja- dado L"Unjunto de teses d~ Semiologia dos Dlscursos Sociais e
cente aos modelos dominantes, que estabelece a Iíngu:l como e spaço por rcf~rência empíriCol ~ L'Onstruçio das relações MX:lais peb
de interação e a comunicação como um processo d e ajustamento de via discursiVll.
OBJETO
códigos.
Essas hipóteses c premissas orientam a formulação e a condu- Te:órlco O interesse c aplicabilidad<;: das teorias sc: miológieas
ao processo d e produçao dos sentidos no umpo d~~ politl-
ção do presente trabalho, que propõc um outro modo de abordar as eas de intervenção so d ;rJ.
práticas discursivas no meio rural, tomando como referencial teóli- EmpíriCO A!; prátiCôls dIscursivas das inst.ituiçõcs e grupos inte-
co as teses da Sem io logia dos Discursos Sociais. Estas refonnulam o ress<l.dos em int<;:rvir 001. realidade rural da região Nordeste.
modo de perceber as relaçõcs comunicativas entre as instituições e HIPÓTESES
os destinatários de suas políticas sociais . A Semiologia dos Discursos GenériC3 A Scmlologia dos Discursos Sociais possibillta i C......
Sociais, que será tratada em detalhes no Capítulo 11 , é uma disciplina , municação para li. InteJYenç~o SOCial um a\';lnço em relação
nova, com um acentuado potencial de renovação da abordagem das ao seu aNal e:stágio de: dcscn\"Olvimemo, ca ....u:terizado este
por um ap~rente antagonismo e ntre: dois modelos de al,."a o.
pr.íticas sociais e pode ser definida, inicialmente , com o "ciência que dicOlOmia que imobili2.ll a produção do conh e cime:nto.
estuda os fenômenos sociais como fenô m e nos de produção de senti-
Es p ecíficas 1. A.~ instituiçoes panicipmn d e um mcread osimbólieo.
dos". no qual disputam a dominância na produção dos sc:midos. ou
Não é minha pretensão formu lar um mode lo semiológico de seja. disputam a pre\'alência do s~u modo de pcn.:eber e pla-
comunicação para a intervenção social, m as propor uma recotlver- nejar 3 SOCiedad e .
sâo do o/bar, como modo de romper os limites dos modelos domi- 2. A prática socjodiscursi~. denuncia um e:ixo d e: arti-
nantes e abrir cami nho para uma posterior construçiio de um culação da socic:dade: pela disputa do Ixx.!<;:r simbó lico e:
negoJ pardõLlmcmc 3 rctórk. da anicu lação pela solidarie:da-
modelo operacional e compatível com a concepção poLítica de socie- d o.
dade e intervenção social que os núcleos discursivos demonstram
3. Os di~cun;os da.s organizaçõcs dirigidos aos campo-
ter. O quadro seguinte sintetiza e o rganiza as p rincipais p ropostas neses = m marcas d<l. cena soc iai 00 qual estão inscritos.
deste trabalho. Ess:lS marcas e:videnciam relaçôcs de conL"Orrênda entre os
núcleos d iscursivOS e dc domina<,.-ao emre estes e: os campo-
nc:sc:s. Pre missa: é na pcitica discursiva que os agentes ex-
pn:s~3m Sll:tS concepçóc:s sobre a MX:icdadc e as reiaçõcs
sociais. partidpando assim ativame:me da re-prod ução des-
sas relações .
4 . Camponeses s:io consldendos receptores passivos
dos discursos a eles dirlgidos e n.'i:o agente~ de uma práti ca
diM;ur.;iv-.I. Premissa: CôlmponesC$ s~o Interlocutores atIvos,
cxcrct m parei definitório na produção dos sc:midos clrcu ·
lantes.

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"
"O texto quer dizer tecido." (Roland Banhes)
Uma ruptura instauradora
"O ter sido foi tecido, fio a fio , em miubas veias." (Raimundo Gadelha)

o título deste livro expressa, então, uma intenção e uma pro-


posta . Foi inspirado num trecho de O poder simbólicu, de J>ielTe A clássica divisão e ntre teoria e metodologia pode ser vista como
Bou rdieu, em que ele coment:! a necessidade de uma ruptu ra com fruto da apliC'.tção, no campo do con hecimento, da divisão sodal do
modos de pensar, com conceitos e com métodoS que têm a aparê n- trab:t1ho, cuja utilização acrítica tende :t transformas a metodologia
cia de bom senso cie ntífico, estabelecendo "um novo o lhar", na im- em um receituário de técnicas desconectadas da especificidade dos
possibilidade da produção de "um homem novo". Bouroieu (ala em objeros (a cargo dos metod610gos) c:t teoria num conjunto de idéias
"conversa0 do pcnsamelllo" ou "revoluçãO do o lhar", referind o-sc desvinculadas do modo d e construção do objeto e da verificação em-
ao rompimentO com o pré-construído e com tudo que o s ustenta pírica. oi
como no rma fundamental da prática científica. Concord:tndo com Tal preocupação se me afigurou tão logo percebi que a Semio-
ele, prefiro, porém , falar em "reconversão do olhar~ , levando e m logia dos Discursos Sociais punha e m foco aJguns conceitOS que
cons ideração que toda ruptura só é possível porque já existe um co- obrigaV'.I.ffi a repensar a adequaçÃo metodológica às convicções que
nheci mento antes constru ído c esse conhecimento integra as condi- eles expressam . Como afirma Lopes, "o saber de uma disciplina n:io
ções de produção do novo conhecimentO, sendo d ele constiruti\'o. é desmcável d e sua implementação na investigação" (1990: 79) . Isto
Creio que o mais :Idcquado seria falar e m uma "ruptur.t instaurado- é mais fácil de pe rcebe.. quando se trata do método de pesquisa de
ra" usando uma fóm1Ula de Michel de Certeau , que não supõe apa- campo, ou tr.ttamemo dos dados empíricos, muito embora h:lja uma
ga:;ls marcas da experiência e do conhecimento acumulados, o que forte te ndência para se tomarem os métodos de pesquisa gerados a
seria de fato impossívd, m:LS n:dirccion;lf o esforço intcle<'tual no partir de um paradigma - o positivista - e no seio de uma determina-
sentido de entenderas limites desse saber, questioná-los e instaurar da conjuntura histórica e sociaJ - a da sociedade no rte·americana
princípios de um novo s:lber, produzido por um outro modo de dos anos 40-60- por uma metodologia científica de validade univer-
olhar. sal. isenta de comprometimentos de qualquer narun. .za, inclusive
Trata-se, então, de reconvcrteroolhare instiruir um outro modo ideológicos.5 É a relação sujeilo-objeto, porém, que exige maior
de perceber as pr:'uicas d e comunicação das instituições que desenvol- atençi.o do pesquisador, tanto por ser :di mais dificil escapar às im-
vem políticas d e imervenç:io, mais especificamente no meio rural. posições paradigmáticas dominantes, <Iue conferem ares de cientifi-
Temos aqui alguns problemas de ordem metodológica, que p0- cidade e neutralidade aos procedimentos objelivist:lS, quanto por
deriam se r resumidos na segui nte questão: como situar o problema ser o ponto mais relegado na construçao da coerência teórico-meto-
d:\ produção de conhecimento delllro da 5emio logia dos Discur.iOS dológica e da comprovação da validade de uma linha anaJítica.
Sociais? A Semiologia traz consigo postulados que não podem se ..
consider-J,dos r;10 somcme no plano teórico, impondo uma reflexão
também metodo lógica . A reconversão do o lhar exige uma mudança 4 Bourdieu "r.ríhul a con~"gl'lllçio dcssa f6rmula 11 "/)(Iftll"8 cJcn tífk.(· a seu ver
form:l.d:l. por Parson5. Menon e I.v.õusfcld, cuja Jegitim:l.çio cstni~ ;I$sociada;'
de perspectiva e m todos os sentidos, dos quais des taco dois, um de- posição de dom,nâncb Intemadorul dos EUA. Um a bo:a d lscuss.;\o CTÍI;"." ,b
corrente do outro: o d a natureza intenextual do processo analítico e dicOl:omia IL'Ori:l-mc«xlolo gia pode se r enconU'ada e m Howard Bccker. Sob
a relação do pesquisador com seu objeto. O que se segue não pre- OUtro ângulo. m~~ aind" no Icrritório da discussão e pistcmológica sobre meiO-
dolugia, há O Uvro do.: lmacolana V. Lopes.
tende ser um "tratado" sobre o tema, mas, tomando emprestadas P:I-
b vras de wiugens tein, "' fr.lgmentos de uma novo' maneira de pensar 5 O própriO Icnno "o bjeto de estudo" i: produto dCM:I ,i >ã o metodológica. Vou
ulill:Ú·lolllq\li, e mbur.. s:l.bcdora de :;U:l.$ implicaçõcS o.: correndo o risco de pa·
e de agi r~ . n.:o.:er comr:ldltória, por n:'io cncon!r.lrou u'O IIUo.: possa corresponder com ela-
TC'. ta ao seu To;:f<.:rcnlc.

" "
"O texto quer dizer tecido." (Roland Banhes)
Uma ruptura instauradora
"O ter sido foi tecido, fio a fio , em miubas veias." (Raimundo Gadelha)

o título deste livro expressa, então, uma intenção e uma pro-


posta . Foi inspirado num trecho de O poder simbólicu, de J>ielTe A clássica divisão e ntre teoria e metodologia pode ser vista como
Bou rdieu, em que ele coment:! a necessidade de uma ruptu ra com fruto da apliC'.tção, no campo do con hecimento, da divisão sodal do
modos de pensar, com conceitos e com métodoS que têm a aparê n- trab:t1ho, cuja utilização acrítica tende :t transformas a metodologia
cia de bom senso cie ntífico, estabelecendo "um novo o lhar", na im- em um receituário de técnicas desconectadas da especificidade dos
possibilidade da produção de "um homem novo". Bouroieu (ala em objeros (a cargo dos metod610gos) c:t teoria num conjunto de idéias
"conversa0 do pcnsamelllo" ou "revoluçãO do o lhar", referind o-sc desvinculadas do modo d e construção do objeto e da verificação em-
ao rompimentO com o pré-construído e com tudo que o s ustenta pírica. oi
como no rma fundamental da prática científica. Concord:tndo com Tal preocupação se me afigurou tão logo percebi que a Semio-
ele, prefiro, porém , falar em "reconversão do olhar~ , levando e m logia dos Discursos Sociais punha e m foco aJguns conceitOS que
cons ideração que toda ruptura só é possível porque já existe um co- obrigaV'.I.ffi a repensar a adequaçÃo metodológica às convicções que
nheci mento antes constru ído c esse conhecimento integra as condi- eles expressam . Como afirma Lopes, "o saber de uma disciplina n:io
ções de produção do novo conhecimentO, sendo d ele constiruti\'o. é desmcável d e sua implementação na investigação" (1990: 79) . Isto
Creio que o mais :Idcquado seria falar e m uma "ruptur.t instaurado- é mais fácil de pe rcebe.. quando se trata do método de pesquisa de
ra" usando uma fóm1Ula de Michel de Certeau , que não supõe apa- campo, ou tr.ttamemo dos dados empíricos, muito embora h:lja uma
ga:;ls marcas da experiência e do conhecimento acumulados, o que forte te ndência para se tomarem os métodos de pesquisa gerados a
seria de fato impossívd, m:LS n:dirccion;lf o esforço intcle<'tual no partir de um paradigma - o positivista - e no seio de uma determina-
sentido de entenderas limites desse saber, questioná-los e instaurar da conjuntura histórica e sociaJ - a da sociedade no rte·americana
princípios de um novo s:lber, produzido por um outro modo de dos anos 40-60- por uma metodologia científica de validade univer-
olhar. sal. isenta de comprometimentos de qualquer narun. .za, inclusive
Trata-se, então, de reconvcrteroolhare instiruir um outro modo ideológicos.5 É a relação sujeilo-objeto, porém, que exige maior
de perceber as pr:'uicas d e comunicação das instituições que desenvol- atençi.o do pesquisador, tanto por ser :di mais dificil escapar às im-
vem políticas d e imervenç:io, mais especificamente no meio rural. posições paradigmáticas dominantes, <Iue conferem ares de cientifi-
Temos aqui alguns problemas de ordem metodológica, que p0- cidade e neutralidade aos procedimentos objelivist:lS, quanto por
deriam se r resumidos na segui nte questão: como situar o problema ser o ponto mais relegado na construçao da coerência teórico-meto-
d:\ produção de conhecimento delllro da 5emio logia dos Discur.iOS dológica e da comprovação da validade de uma linha anaJítica.
Sociais? A Semiologia traz consigo postulados que não podem se ..
consider-J,dos r;10 somcme no plano teórico, impondo uma reflexão
também metodo lógica . A reconversão do o lhar exige uma mudança 4 Bourdieu "r.ríhul a con~"gl'lllçio dcssa f6rmula 11 "/)(Iftll"8 cJcn tífk.(· a seu ver
form:l.d:l. por Parson5. Menon e I.v.õusfcld, cuja Jegitim:l.çio cstni~ ;I$sociada;'
de perspectiva e m todos os sentidos, dos quais des taco dois, um de- posição de dom,nâncb Intemadorul dos EUA. Um a bo:a d lscuss.;\o CTÍI;"." ,b
corrente do outro: o d a natureza intenextual do processo analítico e dicOl:omia IL'Ori:l-mc«xlolo gia pode se r enconU'ada e m Howard Bccker. Sob
a relação do pesquisador com seu objeto. O que se segue não pre- OUtro ângulo. m~~ aind" no Icrritório da discussão e pistcmológica sobre meiO-
dolugia, há O Uvro do.: lmacolana V. Lopes.
tende ser um "tratado" sobre o tema, mas, tomando emprestadas P:I-
b vras de wiugens tein, "' fr.lgmentos de uma novo' maneira de pensar 5 O própriO Icnno "o bjeto de estudo" i: produto dCM:I ,i >ã o metodológica. Vou
ulill:Ú·lolllq\li, e mbur.. s:l.bcdora de :;U:l.$ implicaçõcS o.: correndo o risco de pa·
e de agi r~ . n.:o.:er comr:ldltória, por n:'io cncon!r.lrou u'O IIUo.: possa corresponder com ela-
TC'. ta ao seu To;:f<.:rcnlc.

" "
'ne$lla lIraúJa

Se acei!:tmos a idé ia de que discursos são um sistema de "efei· em "ma rede ( .. .). Ctmwfla ascVlulições dI! produção do lliscu rSQ e de Sll// ob·
jeto (.. .) Um dlscllrso flullllerá portal/to lima ma~c(.l de cielllifici~u(l,", e;>.pfic/·
lOS de sentido"; se estamos lidando com e produzindo um discun;o tmulo as cOlldlçó<ts e IIS rt'gras d/! SlIfl protluçtlf) .., em primeIro (lig ar, as
científico ; se discursos funcionam dentro de um "sistem a prod uti· relaç()es de VIu/e m lsu.( 19<J4 : 11 0).
vo"; se entendemos que o conhecimento científico é moed a c ircu·
A relação do analista com o objelo e nvolve, porem, outrdS con·
lante no "mercado simbólico " dos sentid os produzidos. fica fácil
s iderações. A prática científica d o minante impôc o distanciamento
perceber que
entre o pesquisado r c o objeto pesquisado, com o fim de aumentar
(Iproblem" do ronbl!Clm.mto sltua·se nu Imerlorde uma f//Iustclo milito mais ao máximo a isenção e a neutr.uidade, bem·vistas na p erspecliva p0-
ampla, a sabt'r, a fJmwclo do SISllJflll1 prodllfillO dos tliscursos sociais, o qual
ê, por s//a IICZ; //mfragmelllo do campo de produçQo soela' ,lo t emido. (VeTÓn ,
sitiVista dt: ciência . É O processo d e objetivação da realidade, que eli·
1980: 103) minaria os vieses de toda natureza e marClria a disIinção entre
ciê ncia e ideologia. Como objetivar, porém , algo no qual se está pro-
Se assim é, torna-se indispens;ivel aplicar alguns princípios se- funda me nte implicado? Não creio ser possível. O interesse e a pe r-
miológicos da produção do seI/lido ao (mto metodológico do obje· ccpç:"io que provê m do fato de se pcn'e ncer a um determinado
to . O da existência de um mercado simbólico está na base da campo têm OUU-dS características bem distintas daqueles do analista
concepção de funcionamento social que aqui se adota, fuzendo-se cx6geno. Envolvem não s6 uma forma de con hecime nto p rático,
presente forteme nte ao longo d o trabalho. Por isso quero me referir que mantém urna relaç:io dialética com o conhecimento teórico, mas
a outro p rincípio, o da "intertextualidade", que influi deciSivamente também im plica ser parte consl itUliva do objeto. Não há como de·
nas minhas opções me todológicas. marcar rigidame nte os Limites e ntre o pesquisador (e seu discurso
A anál ise de um texto d entro do universo textual q ue lhe cor- analisador) e o objeto pesquisado. O objeto não está lá, pronto, já
responde abre proficuos caminhos para o entendimento da sua dado , à espera do analista, por um "aro teórico inaugural", mas se
constituição e do modo de o su jeito participar do jogo de produção constitui no processo das relações sociais, do qual este participa. Nas
dos sentidos . A rede de relações com textos que lhe an tecedem lhe p:l1avras de Bou rdieu, o o bjeto "é prodUZido socialmente, num tra·
são contemporâneos o u com texros vindouros permite. entre ourras balho coletivo de construção d a realidade social e por meio d este
vantage ns, dialetizar a relação leirura-escritur:.1 (Dosse, 1994: 76) , re· t"lbaUlo" ( 1989: 37). No meu caso panicu lar, esta caraCl"eríst.icd. se
lativizando a concepção d e au toria c mooificandoo est:ltulo dos tex· acenroa, por estar I·r:.uando de processos de I.inguagem, de práticas
tOS e autores convocad os para a fundame ntação do q ue se produz. d iscursivas, que não se pode separar d e s ua histo ricidade e que de fi·
Passa-se a perceber o trabalho intelectual como pane de um trabalho nem a historicidade de todos os atores envolvidos.
coletivo, elo de uma rede de intercâmbios, que SÓ pode ser compre- Po r o utro lad o , há se m dúvida um a diferenciação eDlre pesqui.
endido se for leV:ldo em consideração o universo textual em que se sador e pesquisado, que é demarcada pelo lugar de o nde se o lha.
inscreve, considerado como COftdição de produção . A historicização Como diz Bakthin, o que vemos é dctcnninado pelo lugar de o nde
adquire suma importância neste quadro de reflexõcs, e no ambiente ve mos. E é inevit'.ível pensar a partir de um lugar, que no caso de um
teórico semiológico é condição de cientificidade. produlOrde uma disse rtação está também inscrito c m o urras "fo rma·
Isso pode ser aplicado também à relação do analis ta com o ob- çõt.'S discu rsivas", dis tintas daquelas do agente da prÁtica social . Eu
jeto, ao modo de conce.lx-to e aode construí-to . Nas palavras de Cer· não posso evitar pensar as práticas discu rsivas das instituições a par·
teau, Ilrdesse o utro tugar e assi m dissolver os vários textos desse universo
ao "esquecer" o trabalho coleti/IO nu qual se inscrem/!, uo isolar d/! sua gêfl/!51! na minha noV"J. culrura, amalgamada , comp6sita de conhecimento
histórica O obj/!ffJ de sell d iscurso, Iml "tll//or" pratica a denegaçâo d/! sua si. prático e teó rico.
I"açdo real. 1:'1<1 Critl aficçdo do 11111 IIIJ;ar próprio. ( ... ) O (l/O de iroJar ti reM.
ção Sltjei/(NJbjeto 0 11 a reltlÇfJo dlscuno-objeto I a aburaçâu que gera IInIa Po r o utro lado, ainda, se tomo como verdadeird a existência de
nm,,'uçdo de "autor". l:;'S54' mo apaga os /raçQS de pertença de lima pesquisa UIII mercado simbólico no <Iual, como afirmei, o conhecime nto cien-

lO li
'ne$lla lIraúJa

Se acei!:tmos a idé ia de que discursos são um sistema de "efei· em "ma rede ( .. .). Ctmwfla ascVlulições dI! produção do lliscu rSQ e de Sll// ob·
jeto (.. .) Um dlscllrso flullllerá portal/to lima ma~c(.l de cielllifici~u(l,", e;>.pfic/·
lOS de sentido"; se estamos lidando com e produzindo um discun;o tmulo as cOlldlçó<ts e IIS rt'gras d/! SlIfl protluçtlf) .., em primeIro (lig ar, as
científico ; se discursos funcionam dentro de um "sistem a prod uti· relaç()es de VIu/e m lsu.( 19<J4 : 11 0).
vo"; se entendemos que o conhecimento científico é moed a c ircu·
A relação do analista com o objelo e nvolve, porem, outrdS con·
lante no "mercado simbólico " dos sentid os produzidos. fica fácil
s iderações. A prática científica d o minante impôc o distanciamento
perceber que
entre o pesquisado r c o objeto pesquisado, com o fim de aumentar
(Iproblem" do ronbl!Clm.mto sltua·se nu Imerlorde uma f//Iustclo milito mais ao máximo a isenção e a neutr.uidade, bem·vistas na p erspecliva p0-
ampla, a sabt'r, a fJmwclo do SISllJflll1 prodllfillO dos tliscursos sociais, o qual
ê, por s//a IICZ; //mfragmelllo do campo de produçQo soela' ,lo t emido. (VeTÓn ,
sitiVista dt: ciência . É O processo d e objetivação da realidade, que eli·
1980: 103) minaria os vieses de toda natureza e marClria a disIinção entre
ciê ncia e ideologia. Como objetivar, porém , algo no qual se está pro-
Se assim é, torna-se indispens;ivel aplicar alguns princípios se- funda me nte implicado? Não creio ser possível. O interesse e a pe r-
miológicos da produção do seI/lido ao (mto metodológico do obje· ccpç:"io que provê m do fato de se pcn'e ncer a um determinado
to . O da existência de um mercado simbólico está na base da campo têm OUU-dS características bem distintas daqueles do analista
concepção de funcionamento social que aqui se adota, fuzendo-se cx6geno. Envolvem não s6 uma forma de con hecime nto p rático,
presente forteme nte ao longo d o trabalho. Por isso quero me referir que mantém urna relaç:io dialética com o conhecimento teórico, mas
a outro p rincípio, o da "intertextualidade", que influi deciSivamente também im plica ser parte consl itUliva do objeto. Não há como de·
nas minhas opções me todológicas. marcar rigidame nte os Limites e ntre o pesquisador (e seu discurso
A anál ise de um texto d entro do universo textual q ue lhe cor- analisador) e o objeto pesquisado. O objeto não está lá, pronto, já
responde abre proficuos caminhos para o entendimento da sua dado , à espera do analista, por um "aro teórico inaugural", mas se
constituição e do modo de o su jeito participar do jogo de produção constitui no processo das relações sociais, do qual este participa. Nas
dos sentidos . A rede de relações com textos que lhe an tecedem lhe p:l1avras de Bou rdieu, o o bjeto "é prodUZido socialmente, num tra·
são contemporâneos o u com texros vindouros permite. entre ourras balho coletivo de construção d a realidade social e por meio d este
vantage ns, dialetizar a relação leirura-escritur:.1 (Dosse, 1994: 76) , re· t"lbaUlo" ( 1989: 37). No meu caso panicu lar, esta caraCl"eríst.icd. se
lativizando a concepção d e au toria c mooificandoo est:ltulo dos tex· acenroa, por estar I·r:.uando de processos de I.inguagem, de práticas
tOS e autores convocad os para a fundame ntação do q ue se produz. d iscursivas, que não se pode separar d e s ua histo ricidade e que de fi·
Passa-se a perceber o trabalho intelectual como pane de um trabalho nem a historicidade de todos os atores envolvidos.
coletivo, elo de uma rede de intercâmbios, que SÓ pode ser compre- Po r o utro lad o , há se m dúvida um a diferenciação eDlre pesqui.
endido se for leV:ldo em consideração o universo textual em que se sador e pesquisado, que é demarcada pelo lugar de o nde se o lha.
inscreve, considerado como COftdição de produção . A historicização Como diz Bakthin, o que vemos é dctcnninado pelo lugar de o nde
adquire suma importância neste quadro de reflexõcs, e no ambiente ve mos. E é inevit'.ível pensar a partir de um lugar, que no caso de um
teórico semiológico é condição de cientificidade. produlOrde uma disse rtação está também inscrito c m o urras "fo rma·
Isso pode ser aplicado também à relação do analis ta com o ob- çõt.'S discu rsivas", dis tintas daquelas do agente da prÁtica social . Eu
jeto, ao modo de conce.lx-to e aode construí-to . Nas palavras de Cer· não posso evitar pensar as práticas discu rsivas das instituições a par·
teau, Ilrdesse o utro tugar e assi m dissolver os vários textos desse universo
ao "esquecer" o trabalho coleti/IO nu qual se inscrem/!, uo isolar d/! sua gêfl/!51! na minha noV"J. culrura, amalgamada , comp6sita de conhecimento
histórica O obj/!ffJ de sell d iscurso, Iml "tll//or" pratica a denegaçâo d/! sua si. prático e teó rico.
I"açdo real. 1:'1<1 Critl aficçdo do 11111 IIIJ;ar próprio. ( ... ) O (l/O de iroJar ti reM.
ção Sltjei/(NJbjeto 0 11 a reltlÇfJo dlscuno-objeto I a aburaçâu que gera IInIa Po r o utro lado, ainda, se tomo como verdadeird a existência de
nm,,'uçdo de "autor". l:;'S54' mo apaga os /raçQS de pertença de lima pesquisa UIII mercado simbólico no <Iual, como afirmei, o conhecime nto cien-

lO li
r""SI/OMOÚjo

tífico é moeda forte , é preciso assumi.r que estou em pleno exercício metodologia, que, apesar de olhar o objeto por dentro , mantém os
do jogo estr'.négico de interesses que move tal mercado. O poder de lugares mu ito bem demarcados. Pretendo tratar da construção do
fazer ver c fazer crer, objeto de toda disputa de poder simbólico, está objeto a panir da minha experiência pessoal como agente da prática
associado ao capital culrural dos agentes. Além disso, :10 organ i7.ar que busco analisar. Tomar como rcferencia meu percurso, recons-
sobdetenninada perspectiva os fatos sociais que formam o objeto de truir a sociogenesedo meu pensamento, isto faz parte d as condiçóes
eStudo, estou tentando produzi r um dado efeito de se ntido ao im- de desenvolvimento desse pensame nto e , conseqüememelHe, do
primir à realidade um princípio de classificação (se vai ser acolhido obje to, fazendo e ntende r como ele se ofereceu à minha percepção,
ou não, isso d epender.í. do quantO corresponde à pe rcepção dos d e- marcada por quais variáveis históricas, políticas , sociais e p essoais.
mais agentes, à sua necessidade de explicação dos fatos , do meu capi- Em o utros termos, com preender o que, no curso d os aconteci men-
tal simbólico acumu lado e da concorrência discur.!iiva, entre outros tOS dos últimos 25 anos, fo rjou meu modo de olhar sobre os fatos ,
fatores) . Como diz Certeau, "o s 'objetos' de nossas pesquisas 11:10 produzindo assim O meu o bjeto de análise.
podem ser d estacados do 'comércio' intelectual e social que organi- Encerro este tópico com a \-"Oz de Bourdieu , que muito refletiu
za suas dis tinções e seus deslocamentos (op. cit. : 110).
M
e escreveu sobre os proble mas da constnlção do conhecimento: "A
Há também que considerar a força da intertextualidade, que faz condição preliminar d e toda conslrução de ob jeto é o controle da re-
falar por meu tCXto mú ltiplas vozes que também são parte do objeto lação muitas vezes inconsciente e obscura , com o objeto a ser cons-
e que por essa via participam do mercado simbólico, sem que sobre truído" (1990: 134) . Fo i isto que tentei fazer e que poderá ficar mais
e las eu possa exerce r ple no controle. daro no próximo tópico, em que apresento c justifico o percurso do
Diame desses dilemas, enCOntro algumas soluçõcs. A primeira, trabalho.
certame nte , é entender e aceitar que a verdade do mundo social é
sempre constituída por uma dupla dimen.s.1.o, a objetiva e a subjetiva, Percurso
e que recusar essa evidência leva a criar artificialismos que pOdem re-
sultar infrutíferos. Uma possibilidade de conciliar essas dimensões no
p lano da anáJise é ficar com a fórmula bourdieuniana de "objetivação l.evando-se em conta as reflexões anteriores, talvez seja possí-
participante", por intennédio da qual se tem:t demarcar os detenni- vel en tender meu interesse e m romper com os p ré-construídos no
names sociais e individuais "dos próprios princípios de apreensão d e campo d as práticas de comun.icaç.'io no meio rural. Ao invés de s im-
qualquer o bje to possível" (op. di .: 51) . plesmente escolher um d os modelos dis poníveis e f.aê-Io funcionar
A segunda é solidificar a decisão de forçar os limites da lingua- med iante sua aplicação a uma realidade , o pte i por identificar o tra-
gem, já que de suas redes somos cativos, buscando desnaturalizar as balho social de consrrução dos instrumentos que desenh am a reali-
práticas discursivas (inclusive a minha). dade nesse campo particu lar.
Finalmente, optar por uma abordagem u!órico·feno menológi- Repito, sou parte interessada no jogo de disputas de sentido
ca do objeto a ser estudado , assert iv--.l que pede um esclarecimento . em que esse trabalho se dá. Por isso, vou mais aJém : não só ide mifi-
Uso o termo "fe nomenológico" com um sentido mais metafó rico co , mas procuro avaliar criticamente a :Idequação das o rientações
que preciso, se considerarmos a linha fil osófica de pcnsamemo d a paradigmáticas às necessidades das instituiçôcs (Capítulo I) c: propo-
fenomenologia , que prima por reduzir o objeto à sua essência. Nãoé nho uma reorientação teórica (Capítulo 11) . Mas isso é algo novo,
isto que pretendo e sim evitar me acercar do objeto de um modo pu- nesse campo: não há rastros a seguir. Então. tesro a viabilidade e a
mmente inte lectual. Não pretendo, porém, recorrer à pesquisa parti- ulilidade do enfoque (Capítulo \rI) .
cipante - que leva às últimas conseqüências a relação pesquisa/ação Com Bo urdieu, acredito que, quando se trata do mundo social ,
política e é mais apropriada a o utro tipo de proposta - e nem à Etno- falar com autoridade s ignifica fazer. A questão da autOridade re lacio--

12 lJ
r""SI/OMOÚjo

tífico é moeda forte , é preciso assumi.r que estou em pleno exercício metodologia, que, apesar de olhar o objeto por dentro , mantém os
do jogo estr'.négico de interesses que move tal mercado. O poder de lugares mu ito bem demarcados. Pretendo tratar da construção do
fazer ver c fazer crer, objeto de toda disputa de poder simbólico, está objeto a panir da minha experiência pessoal como agente da prática
associado ao capital culrural dos agentes. Além disso, :10 organ i7.ar que busco analisar. Tomar como rcferencia meu percurso, recons-
sobdetenninada perspectiva os fatos sociais que formam o objeto de truir a sociogenesedo meu pensamento, isto faz parte d as condiçóes
eStudo, estou tentando produzi r um dado efeito de se ntido ao im- de desenvolvimento desse pensame nto e , conseqüememelHe, do
primir à realidade um princípio de classificação (se vai ser acolhido obje to, fazendo e ntende r como ele se ofereceu à minha percepção,
ou não, isso d epender.í. do quantO corresponde à pe rcepção dos d e- marcada por quais variáveis históricas, políticas , sociais e p essoais.
mais agentes, à sua necessidade de explicação dos fatos , do meu capi- Em o utros termos, com preender o que, no curso d os aconteci men-
tal simbólico acumu lado e da concorrência discur.!iiva, entre outros tOS dos últimos 25 anos, fo rjou meu modo de olhar sobre os fatos ,
fatores) . Como diz Certeau, "o s 'objetos' de nossas pesquisas 11:10 produzindo assim O meu o bjeto de análise.
podem ser d estacados do 'comércio' intelectual e social que organi- Encerro este tópico com a \-"Oz de Bourdieu , que muito refletiu
za suas dis tinções e seus deslocamentos (op. cit. : 110).
M
e escreveu sobre os proble mas da constnlção do conhecimento: "A
Há também que considerar a força da intertextualidade, que faz condição preliminar d e toda conslrução de ob jeto é o controle da re-
falar por meu tCXto mú ltiplas vozes que também são parte do objeto lação muitas vezes inconsciente e obscura , com o objeto a ser cons-
e que por essa via participam do mercado simbólico, sem que sobre truído" (1990: 134) . Fo i isto que tentei fazer e que poderá ficar mais
e las eu possa exerce r ple no controle. daro no próximo tópico, em que apresento c justifico o percurso do
Diame desses dilemas, enCOntro algumas soluçõcs. A primeira, trabalho.
certame nte , é entender e aceitar que a verdade do mundo social é
sempre constituída por uma dupla dimen.s.1.o, a objetiva e a subjetiva, Percurso
e que recusar essa evidência leva a criar artificialismos que pOdem re-
sultar infrutíferos. Uma possibilidade de conciliar essas dimensões no
p lano da anáJise é ficar com a fórmula bourdieuniana de "objetivação l.evando-se em conta as reflexões anteriores, talvez seja possí-
participante", por intennédio da qual se tem:t demarcar os detenni- vel en tender meu interesse e m romper com os p ré-construídos no
names sociais e individuais "dos próprios princípios de apreensão d e campo d as práticas de comun.icaç.'io no meio rural. Ao invés de s im-
qualquer o bje to possível" (op. di .: 51) . plesmente escolher um d os modelos dis poníveis e f.aê-Io funcionar
A segunda é solidificar a decisão de forçar os limites da lingua- med iante sua aplicação a uma realidade , o pte i por identificar o tra-
gem, já que de suas redes somos cativos, buscando desnaturalizar as balho social de consrrução dos instrumentos que desenh am a reali-
práticas discursivas (inclusive a minha). dade nesse campo particu lar.
Finalmente, optar por uma abordagem u!órico·feno menológi- Repito, sou parte interessada no jogo de disputas de sentido
ca do objeto a ser estudado , assert iv--.l que pede um esclarecimento . em que esse trabalho se dá. Por isso, vou mais aJém : não só ide mifi-
Uso o termo "fe nomenológico" com um sentido mais metafó rico co , mas procuro avaliar criticamente a :Idequação das o rientações
que preciso, se considerarmos a linha fil osófica de pcnsamemo d a paradigmáticas às necessidades das instituiçôcs (Capítulo I) c: propo-
fenomenologia , que prima por reduzir o objeto à sua essência. Nãoé nho uma reorientação teórica (Capítulo 11) . Mas isso é algo novo,
isto que pretendo e sim evitar me acercar do objeto de um modo pu- nesse campo: não há rastros a seguir. Então. tesro a viabilidade e a
mmente inte lectual. Não pretendo, porém, recorrer à pesquisa parti- ulilidade do enfoque (Capítulo \rI) .
cipante - que leva às últimas conseqüências a relação pesquisa/ação Com Bo urdieu, acredito que, quando se trata do mundo social ,
política e é mais apropriada a o utro tipo de proposta - e nem à Etno- falar com autoridade s ignifica fazer. A questão da autOridade re lacio--

12 lJ
1,,~J1laArmljo

na-se com a da legitimidade, que começa a tomar forma no atO mes- ciência possível" de um dado grupo social está delimitada por inJun.
mo de pôr e m causa a naruralidade da ordem vigente; que se nutre ções teóricas, sim, mas também por determinantes históricas, polftiC'dS,
da mÍStica que envolve o saber domo da academia; que reforça·se sociais e instiructonais. VaJe pt:ruhu" no que disse $ante: os tipos de cons.
com o álibi da experiência vívida; mas que se defronta com um só li- ciência sáo insuperáveis e nquantO não for superado O movimento his.
do adve rsário, que são as representações par.ldigmáticas inscritas tó rico de que são expressão. Quando o movimemo histórico entra em
nas instituições e em seus agen tes. crise, configura·se uma "c rise de t eoria~ , que é "'a expressão panicular
Aqui faz-se necessário abrir um breve parê ntese para. esclarecer de uma crise social e seu imobilis mo é condicionado pelas contradi.
os conceitos que estão sendo utifuados de modelo e paradigma quc , ções que dilaceram a sociedade::" (Lopes, op. dr. : 33).
por admitirem acepções várias, reque rc m que se precise aquela ado- Parece-me que estamos vive ndo um mo me nto desses. O cená.
rada. Goza de gr.t.nde prestígio nos meios científicos a definição de rio no qual me situo é tipicamente de c rise. Há mic ro rrupruras visí.
Tho mas Kuhn (199 1: 2 18), segundo a qual paradigma é "3 constela· veis por todo lado. Os modelos de comunicação (e outros) não
ção d e valores, crenças. técnicas partilhadas pelos membros de uma atendem mais às necessidades instirucionais , mas o imobilismo do
comunidad e de[erminada". Para Kuhn, é o paradigma que estabele· cam po da produção teórica de conhecimentos é pat'e nte, num uni.
cc as mesmas regras c padrÕC!s para a prática cie ntífka d e um grupo - verso cuja relação entre prática e teoria é bastante estreita. Um me-
concepção adequada aos meios acadêmicos e de pesquls:t, principaJ- mento propício, como se vê. a propoSfas de "reconversao d o o lhar",
me nte àqueles lig:tdo s às ciências exatas e da natureza. Modific lOdo pois supõe-se uma prt:disposição para mudanças.
lige iramente os tcnnos da d efinição, par.t moldá·la ao universo aqui Não é fácil propor mudanças quando se tr'dta de práticas sociais,
tratado, paradigma será entendido como um conjunto de idé ias, me- porque, como diz CeMeau, "essas práticas VOlta e meia exace rbam e
d os de ser e de pensar que confere m identidade à prátiC'd de um dese ncaminham as nossas lógicas" (op. dt.: 43). Mais dificil ainda em
dado grupo social. O paradigma alUa sobre a escolha dos problemas te mpos d e c rise : velhos par.tdigmas mesclam-se com os emergentes ,
de pesquisa, o s mé todos de análise e avaliaç'do, a opção por esta o u de form a nem sem pre coerente, e o que era hOje amanhã já se modi-
aquela linha teórica e circunscreve O ele nco de modelos que vão di- ficou . Nesse quadro, a Icntativa de aprisionar um COntexto ou fazer
recionar a açao prática de um grupo. Ainda com Bourdieu , ·'esst! es- um recaMe minimamente estável da realidade é le merMia. De que
paço das ro madas de posição científicas (e e pistemológictS) sempre modo procure i cumprir essa rarefa? Dividindo·a em três panes.
comanda as práticas o u em todo caso sua signific:lção social, quer sai-
bamos ou não disso - e com certeza tanto mais brutalme nte quanto
me nos o sabemOS" ( 1990: 44) . o olhar dominante
Modelos são o paradigma visível, tangível, avaliável. Um mo de-
lo é uma fo nna, um mo lde pelo qual se procura analisar e explicar
A primeira parte relata a cOnstruçâo do o bjeto ao mesmo tem.
uma dada realidade . Por o utro lado, é a representação simbólica das
po em que caracteriza o olhar do minanre na co municação rural.
estruturas e relaçÕC!s que estão presentes no processo modelado . Como já disse , tomo como ponto de referência as vÁrias instâncias
Um paradigma pode com pona r diversos modelos, que, po r sua vez,
profissionais e intelec tuais pelas quais me constituí como agente so.
são fund ados em alguma teoria. Dito d essa forma, pode parecer que cial, numa a bordagem que inle::gr.t a minha pessoa no movimento
há uma rígida hier.lrqu ia entre teoria e modelo . quando, na verdade,
das idéias e d3 produção social do conhecimento sobre a comunica-
há uma circularidade: teorias ge ram modelos que possibilitam novas
ção rural. Bourdieu faz me nção, aludindo ao seu pró prio intento, à
teorias , que geram novos modelos . "i1usiio rerrospectiva" de quem procura fazer uma análise retroativa
I':trad igmas podem ser e ntendidos corno tipos de consciê ncia
da elaboração d e conceitos (1990: 3 1) . Para minimizar tal risco, do u
social possível , nos termos d iscutidos por Goldman (s/d) . A "cons- po r aceito que a visão de hOje eSlá confonnada pelos conhecimentos

"
1,,~J1laArmljo

na-se com a da legitimidade, que começa a tomar forma no atO mes- ciência possível" de um dado grupo social está delimitada por inJun.
mo de pôr e m causa a naruralidade da ordem vigente; que se nutre ções teóricas, sim, mas também por determinantes históricas, polftiC'dS,
da mÍStica que envolve o saber domo da academia; que reforça·se sociais e instiructonais. VaJe pt:ruhu" no que disse $ante: os tipos de cons.
com o álibi da experiência vívida; mas que se defronta com um só li- ciência sáo insuperáveis e nquantO não for superado O movimento his.
do adve rsário, que são as representações par.ldigmáticas inscritas tó rico de que são expressão. Quando o movimemo histórico entra em
nas instituições e em seus agen tes. crise, configura·se uma "c rise de t eoria~ , que é "'a expressão panicular
Aqui faz-se necessário abrir um breve parê ntese para. esclarecer de uma crise social e seu imobilis mo é condicionado pelas contradi.
os conceitos que estão sendo utifuados de modelo e paradigma quc , ções que dilaceram a sociedade::" (Lopes, op. dr. : 33).
por admitirem acepções várias, reque rc m que se precise aquela ado- Parece-me que estamos vive ndo um mo me nto desses. O cená.
rada. Goza de gr.t.nde prestígio nos meios científicos a definição de rio no qual me situo é tipicamente de c rise. Há mic ro rrupruras visí.
Tho mas Kuhn (199 1: 2 18), segundo a qual paradigma é "3 constela· veis por todo lado. Os modelos de comunicação (e outros) não
ção d e valores, crenças. técnicas partilhadas pelos membros de uma atendem mais às necessidades instirucionais , mas o imobilismo do
comunidad e de[erminada". Para Kuhn, é o paradigma que estabele· cam po da produção teórica de conhecimentos é pat'e nte, num uni.
cc as mesmas regras c padrÕC!s para a prática cie ntífka d e um grupo - verso cuja relação entre prática e teoria é bastante estreita. Um me-
concepção adequada aos meios acadêmicos e de pesquls:t, principaJ- mento propício, como se vê. a propoSfas de "reconversao d o o lhar",
me nte àqueles lig:tdo s às ciências exatas e da natureza. Modific lOdo pois supõe-se uma prt:disposição para mudanças.
lige iramente os tcnnos da d efinição, par.t moldá·la ao universo aqui Não é fácil propor mudanças quando se tr'dta de práticas sociais,
tratado, paradigma será entendido como um conjunto de idé ias, me- porque, como diz CeMeau, "essas práticas VOlta e meia exace rbam e
d os de ser e de pensar que confere m identidade à prátiC'd de um dese ncaminham as nossas lógicas" (op. dt.: 43). Mais dificil ainda em
dado grupo social. O paradigma alUa sobre a escolha dos problemas te mpos d e c rise : velhos par.tdigmas mesclam-se com os emergentes ,
de pesquisa, o s mé todos de análise e avaliaç'do, a opção por esta o u de form a nem sem pre coerente, e o que era hOje amanhã já se modi-
aquela linha teórica e circunscreve O ele nco de modelos que vão di- ficou . Nesse quadro, a Icntativa de aprisionar um COntexto ou fazer
recionar a açao prática de um grupo. Ainda com Bourdieu , ·'esst! es- um recaMe minimamente estável da realidade é le merMia. De que
paço das ro madas de posição científicas (e e pistemológictS) sempre modo procure i cumprir essa rarefa? Dividindo·a em três panes.
comanda as práticas o u em todo caso sua signific:lção social, quer sai-
bamos ou não disso - e com certeza tanto mais brutalme nte quanto
me nos o sabemOS" ( 1990: 44) . o olhar dominante
Modelos são o paradigma visível, tangível, avaliável. Um mo de-
lo é uma fo nna, um mo lde pelo qual se procura analisar e explicar
A primeira parte relata a cOnstruçâo do o bjeto ao mesmo tem.
uma dada realidade . Por o utro lado, é a representação simbólica das
po em que caracteriza o olhar do minanre na co municação rural.
estruturas e relaçÕC!s que estão presentes no processo modelado . Como já disse , tomo como ponto de referência as vÁrias instâncias
Um paradigma pode com pona r diversos modelos, que, po r sua vez,
profissionais e intelec tuais pelas quais me constituí como agente so.
são fund ados em alguma teoria. Dito d essa forma, pode parecer que cial, numa a bordagem que inle::gr.t a minha pessoa no movimento
há uma rígida hier.lrqu ia entre teoria e modelo . quando, na verdade,
das idéias e d3 produção social do conhecimento sobre a comunica-
há uma circularidade: teorias ge ram modelos que possibilitam novas
ção rural. Bourdieu faz me nção, aludindo ao seu pró prio intento, à
teorias , que geram novos modelos . "i1usiio rerrospectiva" de quem procura fazer uma análise retroativa
I':trad igmas podem ser e ntendidos corno tipos de consciê ncia
da elaboração d e conceitos (1990: 3 1) . Para minimizar tal risco, do u
social possível , nos termos d iscutidos por Goldman (s/d) . A "cons- po r aceito que a visão de hOje eSlá confonnada pelos conhecimentos

"
l ""s/t" Araújn

de hoje e que q ualquer esforço de memó ria que se possa fazer não
co n~a dessas preocupações e sis tematizar algumas condições d e pro-
vai consegu ir incluir com fide lidade todas as V-AriávC::is que condicio-
duçao pam os capírulos seguintes.
nam as perce pções e escolhas que resultaram no atual ob jeto de pes-
quisa.
Pela particularidade de abrangência de um perCUniO pessoal, o olhar semio/6gico
são trazidas à cena várias instâncias cons tirutiv".LS das bases paradigmá-
ricas do universo estudado. Assim, fo nnaç-J.o acadêmica (gradu;tÇi.o e
pós-graduação) , po líticas e prd.ticas ins titucionais d e comunicação e Sob esse título, o rganiza-se a segunda parte d o me u esru do.
cenários de pesquisa são arrolados c inter-relacionados, possibilitan· Seu o bje tivo principal fo i convocar um certO número de autores e al-
do a um só lempo deLinear oobjelo d e investigação e traçaroquadro gumas de suas idéias para com por o quadro teórico que embasa a
co nccituaJ que subjaz nesse unive rso, com suas implicações histó ri- proposta d e rcconversão do o lhar. Não d efendo, absolutamente,
cas, políticas, teóricas e metodológicas. E, embora analisando cada que a Sc mio logia seja a ú nica disciplin a que pode provocar transfo r-
instância de p er si, houve a preocupação em não perder de vista a maç~ no contexto imobilis ta de conhecimento , ide ntificado no
concepção relacional de socied ade , fu ndame ntal para a compreen· Caplfulo I. Mas el a me parece uma opção muito intcressam e , n a sua
são do funci o namento do mercad o simbólico. ~ria n tc da Semio logia d os Discursos Sociais. SU;lS vantagens pode-
Oplei por privilegiar a análise d as práticas: os conceitos que vão rao ser pesadas ao lo ngo d os capítulos, mas imediatamente mencio-
°
aos poucos fo rmando quadro teórico das práricas são inferidos a no tres.
partir d e las. Uma das premissas deste trJ.baJho é a de Que é nas pr.iti· Uma, que da conduz ao necessário apagamento das fronteiras
cas discu rsivas (ou d e comunicação) que o s agentes express:tm suas d icotômicas, possibilit:l.ndo avanços na compreensão dos fenô me-
reais concepções sobre o fun cionamento social. Então, discu nios n?s sociais. O utra , a d e que, por s ua própria his tóri a c pelo fato de
teóricos são importantes - e muito - , mas só na medida em que p0- por e m cena p reocupações comuns a vários campos do saber, favo-
dem ser contrapostos a uma dada prática. Uma hipótese levantada rece amplamente a tr.tnsdisciplinaridade, produzindo assim um co-
considera que, mesmo que no plano da retórica se procure substiruir nhecimento mais p lur::tJ. A terceira, o modo como lida com a questão
os modelos de sociedade e de comunicação, os textoS que materIali- do "sujeito", o u seja: privilegiando a inrersubjetividade .
zam a p rática comunicari.....t trazem as marcas dos antigos paradignus As pOSSibilidades que o o lhar semio lógico abre são amplas e so-
que se pensa descartados, dando·se continu idade à ve lha ordem ins· bre tudo noV3S, no campo d a inten·enção sociaJ j ainda necessitam
tituída. 1'01· outro lado, centro a atenção nos paradigmas e modelos ser construídas. Sua viabilkbd e pede esrudos arravés dos quais se
que por via das prálicas surgem como d o minantes. Os o utros adqu i· possa avaliar como fu nciona o quadro conceitual aplicad o a um con.
rem pertinência na medida em que estabelecem certo equilíbrio d e Junto de dados empíricos . É isso que pretendo na terceim parte .
forças com os dominantes e deixam marcas, nem que seja pela polê-
mica .
Aj uste de foco
Kuhn afinna que "o conhecimento cientifico, como a linguagem,
é intrinsecame nte a propriedade comum de um grupo ou e nL5.o não c
nada . Para e ntendê· lo, precisamos conhecer as características essen- Uti lizando o mé todo d a Análise de Discu rsos (AO), exa mino os
ciais dos grupos que os criam e o utilizam" (199 1: 257). Por seu turno , dJsposW vos de enu"ciação de seis mate riais de comuniC".tção dirigi.
tanto 8ecker como 80 urdieu insis tem na im portância d a ins tituição d os aos camponeses, provenientes de instâncias institucionais dis.
nas re presentações dos agentes . O Capítulo I buscou justame nte dar tirHas. O irwan·alile refc rencial é a ação cooperativa (ou solid ária) e
() que busco descobrir é como os núcleos constroem discursivamen-

" J7
l ""s/t" Araújn

de hoje e que q ualquer esforço de memó ria que se possa fazer não
co n~a dessas preocupações e sis tematizar algumas condições d e pro-
vai consegu ir incluir com fide lidade todas as V-AriávC::is que condicio-
duçao pam os capírulos seguintes.
nam as perce pções e escolhas que resultaram no atual ob jeto de pes-
quisa.
Pela particularidade de abrangência de um perCUniO pessoal, o olhar semio/6gico
são trazidas à cena várias instâncias cons tirutiv".LS das bases paradigmá-
ricas do universo estudado. Assim, fo nnaç-J.o acadêmica (gradu;tÇi.o e
pós-graduação) , po líticas e prd.ticas ins titucionais d e comunicação e Sob esse título, o rganiza-se a segunda parte d o me u esru do.
cenários de pesquisa são arrolados c inter-relacionados, possibilitan· Seu o bje tivo principal fo i convocar um certO número de autores e al-
do a um só lempo deLinear oobjelo d e investigação e traçaroquadro gumas de suas idéias para com por o quadro teórico que embasa a
co nccituaJ que subjaz nesse unive rso, com suas implicações histó ri- proposta d e rcconversão do o lhar. Não d efendo, absolutamente,
cas, políticas, teóricas e metodológicas. E, embora analisando cada que a Sc mio logia seja a ú nica disciplin a que pode provocar transfo r-
instância de p er si, houve a preocupação em não perder de vista a maç~ no contexto imobilis ta de conhecimento , ide ntificado no
concepção relacional de socied ade , fu ndame ntal para a compreen· Caplfulo I. Mas el a me parece uma opção muito intcressam e , n a sua
são do funci o namento do mercad o simbólico. ~ria n tc da Semio logia d os Discursos Sociais. SU;lS vantagens pode-
Oplei por privilegiar a análise d as práticas: os conceitos que vão rao ser pesadas ao lo ngo d os capítulos, mas imediatamente mencio-
°
aos poucos fo rmando quadro teórico das práricas são inferidos a no tres.
partir d e las. Uma das premissas deste trJ.baJho é a de Que é nas pr.iti· Uma, que da conduz ao necessário apagamento das fronteiras
cas discu rsivas (ou d e comunicação) que o s agentes express:tm suas d icotômicas, possibilit:l.ndo avanços na compreensão dos fenô me-
reais concepções sobre o fun cionamento social. Então, discu nios n?s sociais. O utra , a d e que, por s ua própria his tóri a c pelo fato de
teóricos são importantes - e muito - , mas só na medida em que p0- por e m cena p reocupações comuns a vários campos do saber, favo-
dem ser contrapostos a uma dada prática. Uma hipótese levantada rece amplamente a tr.tnsdisciplinaridade, produzindo assim um co-
considera que, mesmo que no plano da retórica se procure substiruir nhecimento mais p lur::tJ. A terceira, o modo como lida com a questão
os modelos de sociedade e de comunicação, os textoS que materIali- do "sujeito", o u seja: privilegiando a inrersubjetividade .
zam a p rática comunicari.....t trazem as marcas dos antigos paradignus As pOSSibilidades que o o lhar semio lógico abre são amplas e so-
que se pensa descartados, dando·se continu idade à ve lha ordem ins· bre tudo noV3S, no campo d a inten·enção sociaJ j ainda necessitam
tituída. 1'01· outro lado, centro a atenção nos paradigmas e modelos ser construídas. Sua viabilkbd e pede esrudos arravés dos quais se
que por via das prálicas surgem como d o minantes. Os o utros adqu i· possa avaliar como fu nciona o quadro conceitual aplicad o a um con.
rem pertinência na medida em que estabelecem certo equilíbrio d e Junto de dados empíricos . É isso que pretendo na terceim parte .
forças com os dominantes e deixam marcas, nem que seja pela polê-
mica .
Aj uste de foco
Kuhn afinna que "o conhecimento cientifico, como a linguagem,
é intrinsecame nte a propriedade comum de um grupo ou e nL5.o não c
nada . Para e ntendê· lo, precisamos conhecer as características essen- Uti lizando o mé todo d a Análise de Discu rsos (AO), exa mino os
ciais dos grupos que os criam e o utilizam" (199 1: 257). Por seu turno , dJsposW vos de enu"ciação de seis mate riais de comuniC".tção dirigi.
tanto 8ecker como 80 urdieu insis tem na im portância d a ins tituição d os aos camponeses, provenientes de instâncias institucionais dis.
nas re presentações dos agentes . O Capítulo I buscou justame nte dar tirHas. O irwan·alile refc rencial é a ação cooperativa (ou solid ária) e
() que busco descobrir é como os núcleos constroem discursivamen-

" J7
I "tl/la llraújtl

te as imagens de si, do destinatário, do s oUlros agentes sociais (con- por meio d a ;tnálise dapolifonitl constirutiv:t dos discursos . Po r o u-
correntes ou não) e do modo de relação entre e1es_ tro :1ngulo, por scr um método basicament"c comparativo e rebcio-
AAD é o mt!todo preferencial de análise d:l Semiologia dos Dis- nal, pe rmire ro mar um caso particular e cons iderá-lo de ntro do
c ursos Sociais, embora não o único. Como ins trumelHO de crít ica con junto dos possíveis, a partir d as homo logias enrre campos dife-
po lítica se revela muito interessante, pelo fato d e que , no domín io re ntes o u mesmo de contextos ou c ircunstâ ncias dislintas d e um
d o simbólico, atos d e forma são :u os d e força e atos d e fo rça também mesmo campo, Assim , apesar do corp us ser constituído por impres-
se manifestam por atos d e fo rma. A AD caracteriza essa lrans m uta- sos contemporflneos, to mo como t..'Ontrapomo todo um conjunto de
ção, ao lidar com :IlOS discursivos em sua forma m aterial, sem disso- ou tros impressos, que circ ularam e fo ram consumidos em condições
ciá-Ias d a cena social em quc se inscrevem . e m omentos diversos, que permite m compree nder os que são o bje-
Optei por tr.lbalhar apenas com discursos impressos, por três to de análise d et'.tI.bada.
razões associadas . Uma, porque os impressos concretiz:tm bem essa Tal o pção impõe certos limites. A pani r m esmo d o reconheci-
materiaUdade . O utra, por serem o meio prefe rido pelos núcleos mento de que, como diz Ver6n, "todo discurso desenha um campo
para veicul:u- seus discu rsos. Po r último, porque , base:lda e m estu- de e feitos de scmido, c n:io um só e fe ito " ( 1983: 34) e que estes se-
d os anteriores, acredi to serem os impressos os materiais com m aio r rão produzidos e m reccp\' âo , para um d eterminado ind ivíduo o u
relev-âncla no âmbito da recepção, tanto no que respeita à credIbi li- g rupo e numa determinada situação , é necessário d e limitar clara-
dade como à capacidade d e circulação e reprodução. mente os ho rizontes d a análise de um corpus fo rmado por materiais
Po r outro lado, a esco lha por trabalhar apenas com a ins tância impressos extr.lídos d o processo d e c irc ul:tção e consumo .
da produç ão, justamente num mo m e nto de revitalização dos estu- Bak"thin alertara antes para o utro â ngulo desse pro blema, o do
dos de recepção, lem sua r.l.Zão de ser. Cons iderando-se q ue os dis- contexto enunciativo . quando escre veu que "a comunicaç:io verbal
cursos das ins tiruições exercem pllpel d eterminante nas condições não poderá ja mais ser compreendida e explicada fo ra d o vínc ulo
de recepção, creio na necessidade de compreendê-los melho r, sob com a situação concreta" ( 1992: 124) . Re fe ria-se ele :10 d iscurso es-
um prisma difereme dos adotados até agOrll, até m esmo para p rodu - cri tO, que integraria um fluxo contínuo, no qual "qualquer enuncia-
zir estudos d e recepção mais St:gu ros. Aliás, os estudos d e recepção ção, po r mais signifkaliv-d e comple ta que seja, constil'Ui apenas um3
não deveria m prescindir nunca d a an:i1ise das ins tãncias de produ- fração de um3 corrente de comun icação verba l ininlcrrupta" (ide m :
ção, sem :I qual fi cam incompletos. Creio também ser necessária 123) .
uma certa cautela quanto à e uforia em to mo da im portância dos es- É interessante notar que B:t.kthln se p reocupava, em cena as-
ludo s de recepção , para que s implesme nte n ão se invertaM as polari- peclO, com O que Foucault chamou de "discurso fundador ", tema
dades d o modelo informacional e se ma ntenha sua linearidade e o tramdo também por Verón (1980) , Orlandi ( 1993) e por Maingue neau,
eSlancam ento d os seus com ponentes . Alé m disso, o discurso neoli- na aná lise da "dêixis fundadora" c "dêixis discursiva"' ( 1993: 42) , a
beraJ tende a uni\'crsaliz:tr a noção d o mercad o como regulado r do propósi to d esse contimmm que é o ato comunicativo. A cena, s imul-
equilíbrio social, focalizando a ate nção no consumo. Apesar d e ter ta neamente social e discursiva, não (·e m nunca um pontO zero, a par-
uma cerra r,trio, tal d iscurso apaga as desigualdades e nega o confli- tir d o qual se possa imobilizá-Ia para fins d e análise . Há sempre um
to social e, se essa reflexão é :Iplicáve l à ênfase excessiva na recepção, ";tn tes", conhedd o o u não pelos interlocuto res, fo rmado por confl i-
o é também para a re presentação d e me rcado s imbólico, um dos ei- lOS, rituais, acordos, expectati"as c umpridas o u fru strad as, etc., q ue
xo s do o lhar que aqui pro pon ho e para tal m e mantenho atenta . faz com que cada mome nto em si seja um e feito de e nunciaçõcs :m -
A AO permite que se identifique e se vá alé m do efeito naturali- (criores . O analista pode supor, mapear práticas institucio na is , Ic-
7.3nte d as teorias nas rcpresent"dçõcs sociais - limite encontrado pe- v:mtar indicadores, m as nunca controlar todas as variáveis d:1
los processos habituais de me dição e mpírica de ;ttitudes e opiniões - produção dos se m id os. Como recursos oferecidos pela AO par.l mi-

lO
"
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te as imagens de si, do destinatário, do s oUlros agentes sociais (con- por meio d a ;tnálise dapolifonitl constirutiv:t dos discursos . Po r o u-
correntes ou não) e do modo de relação entre e1es_ tro :1ngulo, por scr um método basicament"c comparativo e rebcio-
AAD é o mt!todo preferencial de análise d:l Semiologia dos Dis- nal, pe rmire ro mar um caso particular e cons iderá-lo de ntro do
c ursos Sociais, embora não o único. Como ins trumelHO de crít ica con junto dos possíveis, a partir d as homo logias enrre campos dife-
po lítica se revela muito interessante, pelo fato d e que , no domín io re ntes o u mesmo de contextos ou c ircunstâ ncias dislintas d e um
d o simbólico, atos d e forma são :u os d e força e atos d e fo rça também mesmo campo, Assim , apesar do corp us ser constituído por impres-
se manifestam por atos d e fo rma. A AD caracteriza essa lrans m uta- sos contemporflneos, to mo como t..'Ontrapomo todo um conjunto de
ção, ao lidar com :IlOS discursivos em sua forma m aterial, sem disso- ou tros impressos, que circ ularam e fo ram consumidos em condições
ciá-Ias d a cena social em quc se inscrevem . e m omentos diversos, que permite m compree nder os que são o bje-
Optei por tr.lbalhar apenas com discursos impressos, por três to de análise d et'.tI.bada.
razões associadas . Uma, porque os impressos concretiz:tm bem essa Tal o pção impõe certos limites. A pani r m esmo d o reconheci-
materiaUdade . O utra, por serem o meio prefe rido pelos núcleos mento de que, como diz Ver6n, "todo discurso desenha um campo
para veicul:u- seus discu rsos. Po r último, porque , base:lda e m estu- de e feitos de scmido, c n:io um só e fe ito " ( 1983: 34) e que estes se-
d os anteriores, acredi to serem os impressos os materiais com m aio r rão produzidos e m reccp\' âo , para um d eterminado ind ivíduo o u
relev-âncla no âmbito da recepção, tanto no que respeita à credIbi li- g rupo e numa determinada situação , é necessário d e limitar clara-
dade como à capacidade d e circulação e reprodução. mente os ho rizontes d a análise de um corpus fo rmado por materiais
Po r outro lado, a esco lha por trabalhar apenas com a ins tância impressos extr.lídos d o processo d e c irc ul:tção e consumo .
da produç ão, justamente num mo m e nto de revitalização dos estu- Bak"thin alertara antes para o utro â ngulo desse pro blema, o do
dos de recepção, lem sua r.l.Zão de ser. Cons iderando-se q ue os dis- contexto enunciativo . quando escre veu que "a comunicaç:io verbal
cursos das ins tiruições exercem pllpel d eterminante nas condições não poderá ja mais ser compreendida e explicada fo ra d o vínc ulo
de recepção, creio na necessidade de compreendê-los melho r, sob com a situação concreta" ( 1992: 124) . Re fe ria-se ele :10 d iscurso es-
um prisma difereme dos adotados até agOrll, até m esmo para p rodu - cri tO, que integraria um fluxo contínuo, no qual "qualquer enuncia-
zir estudos d e recepção mais St:gu ros. Aliás, os estudos d e recepção ção, po r mais signifkaliv-d e comple ta que seja, constil'Ui apenas um3
não deveria m prescindir nunca d a an:i1ise das ins tãncias de produ- fração de um3 corrente de comun icação verba l ininlcrrupta" (ide m :
ção, sem :I qual fi cam incompletos. Creio também ser necessária 123) .
uma certa cautela quanto à e uforia em to mo da im portância dos es- É interessante notar que B:t.kthln se p reocupava, em cena as-
ludo s de recepção , para que s implesme nte n ão se invertaM as polari- peclO, com O que Foucault chamou de "discurso fundador ", tema
dades d o modelo informacional e se ma ntenha sua linearidade e o tramdo também por Verón (1980) , Orlandi ( 1993) e por Maingue neau,
eSlancam ento d os seus com ponentes . Alé m disso, o discurso neoli- na aná lise da "dêixis fundadora" c "dêixis discursiva"' ( 1993: 42) , a
beraJ tende a uni\'crsaliz:tr a noção d o mercad o como regulado r do propósi to d esse contimmm que é o ato comunicativo. A cena, s imul-
equilíbrio social, focalizando a ate nção no consumo. Apesar d e ter ta neamente social e discursiva, não (·e m nunca um pontO zero, a par-
uma cerra r,trio, tal d iscurso apaga as desigualdades e nega o confli- tir d o qual se possa imobilizá-Ia para fins d e análise . Há sempre um
to social e, se essa reflexão é :Iplicáve l à ênfase excessiva na recepção, ";tn tes", conhedd o o u não pelos interlocuto res, fo rmado por confl i-
o é também para a re presentação d e me rcado s imbólico, um dos ei- lOS, rituais, acordos, expectati"as c umpridas o u fru strad as, etc., q ue
xo s do o lhar que aqui pro pon ho e para tal m e mantenho atenta . faz com que cada mome nto em si seja um e feito de e nunciaçõcs :m -
A AO permite que se identifique e se vá alé m do efeito naturali- (criores . O analista pode supor, mapear práticas institucio na is , Ic-
7.3nte d as teorias nas rcpresent"dçõcs sociais - limite encontrado pe- v:mtar indicadores, m as nunca controlar todas as variáveis d:1
los processos habituais de me dição e mpírica de ;ttitudes e opiniões - produção dos se m id os. Como recursos oferecidos pela AO par.l mi-

lO
"
I "~SIW ArmlJu

nimizar tallimitaçao, ele conta. com a pró pria natureza d os d iscursos


duto res de discursos dirigidos à sociedade campo nesa, e como Sê
que, tomando as palavras de Certeau, configuram eSsas m:lrcas.
como os ull,msflios, (... ) são marCluJos por IISUS; apl"f.'seJllarll â allãlln~ as mar- COm la l trajeto busquei dar co nta dos o bjetivos traçados de um
cas l/e aros uu processus de emmelação; significam as operações que/oram modo adequad o a um o bje to que cons idero político: o fat~ d e sc
objeto, opera(Óf!s reftllivas a situafÓCs e encartiveis C(imo moeJa{izaçóes co"-
jmlfllrais do cmm ciado 011 tla prtilica; de m(}(lo mais fato, indicam " orlautu pro~r p.roblcmas de conhecime nto a Qualquer aspecto da socicda-
"mil bl.storicitltule socll" lia qual us s#tclllas 11ft rt'presenlaç,/(!S 0 11 us proced i- ~e a[~,~)u,-lhe esse caráter. No fundo, como diz Bourdieu , todo saber
mentos de fabricação IUlo aparecem mais só como II"adros IIUfflla/ IIIQS maS (' pclmco, porque [em s ua gênese nas relações de poder. Mas esta é
cvmo illStnlmemos manipuláveis por usuários. ( 1991: 82)
uma lo nga conversa . Passemo s, pois, ao Capítulo I.
Conla também com uma exigência do próprio método, a d e
analisaras condições de produção dos discursos, que inclue m , e ntre
o utros, os contextos s ituacio na l e da ação disçursiva. De qualque r
modo , essas questões põem em jogo não só a impossibilidade d e tra-
tar separadamente as cenas social e discursiva, como o caráter parcial
de toda análise, para o qual Verón sempre alerta,
Pe mlanece ainda a restrição à supressão, no estudo d as instân-
cias d e produção de discursos, d as circunstâncias d e inte rlocuÇ"Ão,
modeJadoras d os sent idos. A pro pósito , Bourdieu manifestou-se:
o discllnu escrito é fI/li produ /Q estra ..bo, que Sé' i",'(!Uta, 11(.0 oo,I/"JIIIO p uro
etl/re aquele que escrelJe " o que ele t"IH a diZer. d It/0'1Jl'm de q,u~lquer e~l)l'­
rlí'm ela dirt!ta de ImUl relação social, à margem wmbbll deCVl/stratlgfmemos
c das w/icltaçÓf's de uma tlemam/a /med/fllamel/te percelJida, que se mani-
festo por lodo ti/lU de slgllus ile resistê>lcia ou til' ap rrR.'(lçiJQ.( I 99Q, 9)

Tal proble ma, inegável, principalme nte por se sabe r que luga-
res e momentos de e nunciação são d efinid ores dos lugares e posi-
ções e nunciativos, começa a se r contornado pelo enrendimemo de
como funciona o mecan ismo da imerrexrualidadc. Não é certo que o
:ltO de C5CI'e\--er está livre de constrangimentos e ocorre à margem
das re lações socia is . Um texto está sempre prenhe de o utras vozes,
além da do aU lor, inclusive as dos interlocutores. Como diz Baklhin ,
/XX/e·SI! compr('l"fldera pala ura "diálugo" /I/lm ~tlfidOllmpJo, i!lu é, /lão llfJe-
IItU como CU/1IIm/caçõo ~ 1>0= alta, d e pessoas CQ/ucudas fa ce a fa c(!, mas
toda comulllcaçao verbal, de qualquer tipo que seja. Destafonlla. u ll/seursu
escrito sempre responde Q alguml' cuisa, rrf.. ta, cOtiflnllu . antecipa respostas
e oojeçóes pot/meiais, procura apolo etc:. CopoÚ L ' I n}

Enfim, o que me proponho, nesse mome nto e de ntro das limi-


t:tÇÕCS aqu i comentad as, é veri.lkar, através d o desvelame mo dos dis-
positivos próp rios de e nunciação, se os discursos If".u:e m as marcas
d o cenário construído , no que range aos núcleos inst itucionais pro-

. .
I "~SIW ArmlJu

nimizar tallimitaçao, ele conta. com a pró pria natureza d os d iscursos


duto res de discursos dirigidos à sociedade campo nesa, e como Sê
que, tomando as palavras de Certeau, configuram eSsas m:lrcas.
como os ull,msflios, (... ) são marCluJos por IISUS; apl"f.'seJllarll â allãlln~ as mar- COm la l trajeto busquei dar co nta dos o bjetivos traçados de um
cas l/e aros uu processus de emmelação; significam as operações que/oram modo adequad o a um o bje to que cons idero político: o fat~ d e sc
objeto, opera(Óf!s reftllivas a situafÓCs e encartiveis C(imo moeJa{izaçóes co"-
jmlfllrais do cmm ciado 011 tla prtilica; de m(}(lo mais fato, indicam " orlautu pro~r p.roblcmas de conhecime nto a Qualquer aspecto da socicda-
"mil bl.storicitltule socll" lia qual us s#tclllas 11ft rt'presenlaç,/(!S 0 11 us proced i- ~e a[~,~)u,-lhe esse caráter. No fundo, como diz Bourdieu , todo saber
mentos de fabricação IUlo aparecem mais só como II"adros IIUfflla/ IIIQS maS (' pclmco, porque [em s ua gênese nas relações de poder. Mas esta é
cvmo illStnlmemos manipuláveis por usuários. ( 1991: 82)
uma lo nga conversa . Passemo s, pois, ao Capítulo I.
Conla também com uma exigência do próprio método, a d e
analisaras condições de produção dos discursos, que inclue m , e ntre
o utros, os contextos s ituacio na l e da ação disçursiva. De qualque r
modo , essas questões põem em jogo não só a impossibilidade d e tra-
tar separadamente as cenas social e discursiva, como o caráter parcial
de toda análise, para o qual Verón sempre alerta,
Pe mlanece ainda a restrição à supressão, no estudo d as instân-
cias d e produção de discursos, d as circunstâncias d e inte rlocuÇ"Ão,
modeJadoras d os sent idos. A pro pósito , Bourdieu manifestou-se:
o discllnu escrito é fI/li produ /Q estra ..bo, que Sé' i",'(!Uta, 11(.0 oo,I/"JIIIO p uro
etl/re aquele que escrelJe " o que ele t"IH a diZer. d It/0'1Jl'm de q,u~lquer e~l)l'­
rlí'm ela dirt!ta de ImUl relação social, à margem wmbbll deCVl/stratlgfmemos
c das w/icltaçÓf's de uma tlemam/a /med/fllamel/te percelJida, que se mani-
festo por lodo ti/lU de slgllus ile resistê>lcia ou til' ap rrR.'(lçiJQ.( I 99Q, 9)

Tal proble ma, inegável, principalme nte por se sabe r que luga-
res e momentos de e nunciação são d efinid ores dos lugares e posi-
ções e nunciativos, começa a se r contornado pelo enrendimemo de
como funciona o mecan ismo da imerrexrualidadc. Não é certo que o
:ltO de C5CI'e\--er está livre de constrangimentos e ocorre à margem
das re lações socia is . Um texto está sempre prenhe de o utras vozes,
além da do aU lor, inclusive as dos interlocutores. Como diz Baklhin ,
/XX/e·SI! compr('l"fldera pala ura "diálugo" /I/lm ~tlfidOllmpJo, i!lu é, /lão llfJe-
IItU como CU/1IIm/caçõo ~ 1>0= alta, d e pessoas CQ/ucudas fa ce a fa c(!, mas
toda comulllcaçao verbal, de qualquer tipo que seja. Destafonlla. u ll/seursu
escrito sempre responde Q alguml' cuisa, rrf.. ta, cOtiflnllu . antecipa respostas
e oojeçóes pot/meiais, procura apolo etc:. CopoÚ L ' I n}

Enfim, o que me proponho, nesse mome nto e de ntro das limi-


t:tÇÕCS aqu i comentad as, é veri.lkar, através d o desvelame mo dos dis-
positivos próp rios de e nunciação, se os discursos If".u:e m as marcas
d o cenário construído , no que range aos núcleos inst itucionais pro-

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I - O OLHAR DOMINANTE

o contador de histórias
Em O livro dos a braços, Eduardo Galeano fala das figuras de
barro dos índios hopis, do Novo México, que representam os conta-
d o res de histórias, fi gu r:.Is humanas "brOlad:1S de pessoinhas" que
saem de dentro de si. Ao iniciar este ca pítulo, s into-me um pouco
como aqueles narradores da me mó ria coletiva , sem que tenha, de
modo aJgum, a prele nsão d e deselllpt!nhar aqu i essa função. Mas o
que me proponho sei que não vou cumpri-lo sozinh a e que muitas
vozes se farão presentes alravés da minha .
Meus objetivos são dois e me parece impossível d issociá-los.
Um , é relatara processo de construção d o meu o bjeto de estudo. , Foi
um lo ngo percurso, por meio d o qual um campo de interesses foi-se
configurando. e nquanto se acumu lav-'! um conhecimento que pôde,
enflm, ser processado a pan:ir de um outro tipo d e conhecime nto , de
narureza acadêmiCl. Para mim , o objeto não é um simples reCOrle
temporário t: casual d e u ma dada realidade . Antes, é um mo me nto
específico de um processo que lhe transcende largamente e só ad-
q uire sentido confrontado com o utras variáveis desse processo e
com sua pró pria histó ria. Dessa his tó ria participam inúmeros atores
sociais, que assim como cu são constitutivos do o bjeto. O modo d e
olhar esse objeto o u, por ourra, o modo de recortar a realidade e
convenê·la num o bjeto de reflexão, é CCrlamente panicu la r e s ingu-
lar, mas, corno diz Michel de Cert'eau , "todo lugar p r6prio é alterad o
po r aquilo que, d os o urros, já se acha ncle" (1994 : 110).
O o utro objetivo é ide ntificar ;IS caracte rísticas do alUal mo do
dominante d e pensar e faze r a comunicação, ao mesmo te m po em
que de marco alguns de seus d eterminantes his tóricos. Te nto fazer
isto através da correlação de fatores de ordem política, teórica e prá-
tica, que se manifestam concretamen te por intermédio de ins tâncias
de coostiruição e d e mediação do que podemos chamar de "parAdig-
I - O OLHAR DOMINANTE

o contador de histórias
Em O livro dos a braços, Eduardo Galeano fala das figuras de
barro dos índios hopis, do Novo México, que representam os conta-
d o res de histórias, fi gu r:.Is humanas "brOlad:1S de pessoinhas" que
saem de dentro de si. Ao iniciar este ca pítulo, s into-me um pouco
como aqueles narradores da me mó ria coletiva , sem que tenha, de
modo aJgum, a prele nsão d e deselllpt!nhar aqu i essa função. Mas o
que me proponho sei que não vou cumpri-lo sozinh a e que muitas
vozes se farão presentes alravés da minha .
Meus objetivos são dois e me parece impossível d issociá-los.
Um , é relatara processo de construção d o meu o bjeto de estudo. , Foi
um lo ngo percurso, por meio d o qual um campo de interesses foi-se
configurando. e nquanto se acumu lav-'! um conhecimento que pôde,
enflm, ser processado a pan:ir de um outro tipo d e conhecime nto , de
narureza acadêmiCl. Para mim , o objeto não é um simples reCOrle
temporário t: casual d e u ma dada realidade . Antes, é um mo me nto
específico de um processo que lhe transcende largamente e só ad-
q uire sentido confrontado com o utras variáveis desse processo e
com sua pró pria histó ria. Dessa his tó ria participam inúmeros atores
sociais, que assim como cu são constitutivos do o bjeto. O modo d e
olhar esse objeto o u, por ourra, o modo de recortar a realidade e
convenê·la num o bjeto de reflexão, é CCrlamente panicu la r e s ingu-
lar, mas, corno diz Michel de Cert'eau , "todo lugar p r6prio é alterad o
po r aquilo que, d os o urros, já se acha ncle" (1994 : 110).
O o utro objetivo é ide ntificar ;IS caracte rísticas do alUal mo do
dominante d e pensar e faze r a comunicação, ao mesmo te m po em
que de marco alguns de seus d eterminantes his tóricos. Te nto fazer
isto através da correlação de fatores de ordem política, teórica e prá-
tica, que se manifestam concretamen te por intermédio de ins tâncias
de coostiruição e d e mediação do que podemos chamar de "parAdig-
Comunicação rural: o que se faz, o Que se pensa
mas e modelos d a comunicação ru .....lr. Essa práxis comuniC'.niva
constitui-se na vida socia l, nas relaçõcs concretas e ntre os agentes
sociais (e ntre os quais estou) e suas vozes compare!.:em ao lado da As práticas discursivas d as instiruiçÕt:s para o meio rural consti-
minha, dentro da minha, seja na fo rma mais explícita da citação, seja tuem-se num cenário configu .......do basiC'dmc mc por dois tipos d e in-
de modo maiS sUlil , pelos subterfúgios da polifo nia discursiva. ten'enç:"lo social : :1 comunicação para o descnvolYimento e a educação
Enfim, como n os ens ina Ba)",hin , o OutrO atravessa e constitui p opular. De acordo com sua natureza e fins , a instituição confere
o Eu e , :10 ler textOS e pr.:íticas alheias, é a mim mesmo que esto u le n- m ais peso a um dos dois tipos, mas de fo nna geral ambos estão prt:-
d o _Esse principio , que se estende aqui :lO intrinc:lmcn lo constituti- scllles , senão como o bjetivo , pelo me nos emprestando s uas card.ctc-
vo e ntrc objeto e sujeito, te lll como resu ltante o capítulo que ora se rist iC'.lS ao discu rso c à prática. Assim, po r exemplo , a interve nção d e
inicia, dividido e m duas partes. Na primeira, identifico e d escrevo um grupo ligado ii Igre ja Cató lica, com tendê ncias progressistas,
qualro instâncias de cons tituição par:u.ligmática da comunicaçáo ru- provavelmente assumirá características mais próprias da educação
ral, ligadas à minha trajetória profissional: os cu rsos u niversit:irios, a popu lar, não o bstanle sua pr.\tica possa vir a ser identificada com a
ação prática, a pesquisa e OS cursos de pós-graduação. A ação prática comunicação para o desenvolvimento , enquanto que a de um ó rgão
desdobra-se na análise de ci nco das mediações Instjtucion:lis mais go ve rnamental tenderá para a comunicação para O desenvolvimen-
p resentes no meio rural; as agências estatais de desenvolvimento , as to, em bora possa fundame ntar s ua ação, no plano das inte nções e
organizações priV:ldas de promoção social (ONGs) , os grupos religio- dos documemos, nos pressupostos da educação popular. Ambos os
sos, as organizaçõcs representativas d a população e a e.'{tensão uni · conceitos são portad o res de uma acenruada polissemia, le ndo s ido
versitária. Na segunda, faço uma síntese da pri me ira e introduzo o palco c objeto de d isput."IS entre as instituições e os grupos pelo d irei-
Capítulo 11 , a partir da questão: que O UITOS modos de o lhar a prática to de definir o significado das palavras (/eseulJollJitl/emlO e educação
comunicativa podem ser mobil izados, no cenário da intcr.'enção so- popular, signific-ddo que historicamente! fo i-se modifica ndo ao longo
daI no meio rur:ll? d o tempo e de acordo com as mudanç'dS poliricas e sociais e que , ain-
Reafinno o caráter s ubsidi;Írio desse capírulo , que [em a função da hoje, difere segundo os locutores que delas fazem uso. Sem e ntrar
de demarcar uma realidade sobre a qual incide a proposta central do n o mérito ideológico das definições, "ações de d esenvo lvimento" se-
rrab.'llho . Tenhoccrteza d e que só uma fr:lçãO mínima dessa realid ade r:io e nte ndidas aqui como aquelas que o bjetivam promover:t melho-
plural pôde ser aqui considerada. E sei que me u modo panicul:u- de ria d a qualidade d e vida d a população; por "educação popular"
perceber e nomear os fatos pode não coincidir com o de outrOS ato res compreender-se-á as ações que visam aos processos educativos da
que participam da mesma cena, mesmo aqueles cujas vozes fo ram p opul:lção no sent.ido da sua promoção l~O m n seres humanos e
aqui arregimentadas. Afinal, "intercâmbios, leirurdS e confrontos, que como atores políticos.
fonnam suas condições de possibilidade, cada csrudo panicular é um Nesse cenário, mO\"em-se atores diversos. que podem, num pri-
espelho de cem faces (neste espaço os outros estão sempre a parecen- me iro momentO, ser agrupad os em dois núcleos; um, form ado pelas
do) , mas um espelho panido e anam6 rfico (os o utros aí se frag~ e n ­ instituições que desenvo lvem políticas sociais visando intervir, por
tam e se alteram)" (Ceneau, op. cit .: 11 0) . Mas, como se podera ver, m eio d a p«x luçl0 e transferência de conhecimentos, na feição so-
este é um objeto em pennanente construção . O que se escreve ho je, c ioeconô mico-culrur.tl da sociedad e camponesa, SOCiedade que,
amanh ã poder.:í estar desarualizado: são pessoas, s:"to relações, é a vida u suária de tais políticas, conslirui o o u tro núcleo. Não são núcleos
social que aqui se tenta aprisionar por alguns momentos, e como tal ho mogêneos; muito pelo contrário, cada um comporta uma p lurali-
não poderia ser diferenle. dade d e estratos e seus agentes negociam de forma diferenciada as
pr:iticas econômicas, sociais e discu rsiV:ls que são postas em cena.
I ~or o utro lado, apesar d e haver uma ccrta sedimentação na divisão

.. "
Comunicação rural: o que se faz, o Que se pensa
mas e modelos d a comunicação ru .....lr. Essa práxis comuniC'.niva
constitui-se na vida socia l, nas relaçõcs concretas e ntre os agentes
sociais (e ntre os quais estou) e suas vozes compare!.:em ao lado da As práticas discursivas d as instiruiçÕt:s para o meio rural consti-
minha, dentro da minha, seja na fo rma mais explícita da citação, seja tuem-se num cenário configu .......do basiC'dmc mc por dois tipos d e in-
de modo maiS sUlil , pelos subterfúgios da polifo nia discursiva. ten'enç:"lo social : :1 comunicação para o descnvolYimento e a educação
Enfim, como n os ens ina Ba)",hin , o OutrO atravessa e constitui p opular. De acordo com sua natureza e fins , a instituição confere
o Eu e , :10 ler textOS e pr.:íticas alheias, é a mim mesmo que esto u le n- m ais peso a um dos dois tipos, mas de fo nna geral ambos estão prt:-
d o _Esse principio , que se estende aqui :lO intrinc:lmcn lo constituti- scllles , senão como o bjetivo , pelo me nos emprestando s uas card.ctc-
vo e ntrc objeto e sujeito, te lll como resu ltante o capítulo que ora se rist iC'.lS ao discu rso c à prática. Assim, po r exemplo , a interve nção d e
inicia, dividido e m duas partes. Na primeira, identifico e d escrevo um grupo ligado ii Igre ja Cató lica, com tendê ncias progressistas,
qualro instâncias de cons tituição par:u.ligmática da comunicaçáo ru- provavelmente assumirá características mais próprias da educação
ral, ligadas à minha trajetória profissional: os cu rsos u niversit:irios, a popu lar, não o bstanle sua pr.\tica possa vir a ser identificada com a
ação prática, a pesquisa e OS cursos de pós-graduação. A ação prática comunicação para o desenvolvimento , enquanto que a de um ó rgão
desdobra-se na análise de ci nco das mediações Instjtucion:lis mais go ve rnamental tenderá para a comunicação para O desenvolvimen-
p resentes no meio rural; as agências estatais de desenvolvimento , as to, em bora possa fundame ntar s ua ação, no plano das inte nções e
organizações priV:ldas de promoção social (ONGs) , os grupos religio- dos documemos, nos pressupostos da educação popular. Ambos os
sos, as organizaçõcs representativas d a população e a e.'{tensão uni · conceitos são portad o res de uma acenruada polissemia, le ndo s ido
versitária. Na segunda, faço uma síntese da pri me ira e introduzo o palco c objeto de d isput."IS entre as instituições e os grupos pelo d irei-
Capítulo 11 , a partir da questão: que O UITOS modos de o lhar a prática to de definir o significado das palavras (/eseulJollJitl/emlO e educação
comunicativa podem ser mobil izados, no cenário da intcr.'enção so- popular, signific-ddo que historicamente! fo i-se modifica ndo ao longo
daI no meio rur:ll? d o tempo e de acordo com as mudanç'dS poliricas e sociais e que , ain-
Reafinno o caráter s ubsidi;Írio desse capírulo , que [em a função da hoje, difere segundo os locutores que delas fazem uso. Sem e ntrar
de demarcar uma realidade sobre a qual incide a proposta central do n o mérito ideológico das definições, "ações de d esenvo lvimento" se-
rrab.'llho . Tenhoccrteza d e que só uma fr:lçãO mínima dessa realid ade r:io e nte ndidas aqui como aquelas que o bjetivam promover:t melho-
plural pôde ser aqui considerada. E sei que me u modo panicul:u- de ria d a qualidade d e vida d a população; por "educação popular"
perceber e nomear os fatos pode não coincidir com o de outrOS ato res compreender-se-á as ações que visam aos processos educativos da
que participam da mesma cena, mesmo aqueles cujas vozes fo ram p opul:lção no sent.ido da sua promoção l~O m n seres humanos e
aqui arregimentadas. Afinal, "intercâmbios, leirurdS e confrontos, que como atores políticos.
fonnam suas condições de possibilidade, cada csrudo panicular é um Nesse cenário, mO\"em-se atores diversos. que podem, num pri-
espelho de cem faces (neste espaço os outros estão sempre a parecen- me iro momentO, ser agrupad os em dois núcleos; um, form ado pelas
do) , mas um espelho panido e anam6 rfico (os o utros aí se frag~ e n ­ instituições que desenvo lvem políticas sociais visando intervir, por
tam e se alteram)" (Ceneau, op. cit .: 11 0) . Mas, como se podera ver, m eio d a p«x luçl0 e transferência de conhecimentos, na feição so-
este é um objeto em pennanente construção . O que se escreve ho je, c ioeconô mico-culrur.tl da sociedad e camponesa, SOCiedade que,
amanh ã poder.:í estar desarualizado: são pessoas, s:"to relações, é a vida u suária de tais políticas, conslirui o o u tro núcleo. Não são núcleos
social que aqui se tenta aprisionar por alguns momentos, e como tal ho mogêneos; muito pelo contrário, cada um comporta uma p lurali-
não poderia ser diferenle. dade d e estratos e seus agentes negociam de forma diferenciada as
pr:iticas econômicas, sociais e discu rsiV:ls que são postas em cena.
I ~or o utro lado, apesar d e haver uma ccrta sedimentação na divisão

.. "
histórica das funçót!s sociais, esta não se apresenta de forma rígida xos discursivos d esse cenário , ainda que se ja impossível regislr"dr
o u estática. Assim, tanto uma organi.zaç'.l.o de camponeses pode assu - grAficame nte toda a dinâmica e as interconexões que o caracte rizam :
mir em certas circunstâncias o papel de produtor ou executor de p0-
líticas sociais e/ou públicas para a sociedade que re presenta, como
uma institu ição do primeiro núcleo pode tornar-se objeto das políti- ~-,FLUXOS E ATORES DA PRÃT1CA DISCURSIVA --_~
NO MEIO RURAL
cas geradas por o utra instituição_
No campo d as insliruições, distinguem-se quaTro núcleos com
objetivos e práticas distintos: as o rganizações govername ntais, as re·
ligiosas. as universidades (po r meio da extensão n.tra[) c as organiza-
ções privadas de pro moção social, estas con hecidas por ONGs -
O rganizações Não-Governamemais. Um q uintO núcleo é fornlado , Igrejas
C
pelas organizações representati\"3S da popu lação- sindicatos, associa- N
ções de produtores, e tc. I)cstacam-se neste ú ltimo , como produtores
imensivos d e discursos dirigidos a seus representados, os organismos
o
"
S
Sociedade ,
O
M

R
de representação e assessoria do sistema cooperativista. do siste ma T
sindical e o Movimento dos Sem-Terra que, apesar da d esignação •I
ONGs
C
I
O
("movimento"), é institucionaJizado . N:i.o se pode d eixar de mencio- A
nar também os meios de comunicação privados (mais especific:l-
OrganizaçOes
mente a TV) e os produtores d e bens mate riais de consumo (aqui representativas
incluindo insumos agrícolas e remédios) que, ainda que não se jam
gerado res de políticas públicas ou sociais, fazem pane do cenário.
Os p artidos po líticos fazem-se prese ntes nesse contextO, em tem pos
eleitorais. Alguns de les, em geral ligados a corre ntes mais progressis- ",rOIA
tas, têm feito tentativas de manter uma ação comunicativa mais cons-
tante com a p o pulação. No entanto, são tão rants as concretizações
dessa inte nçáo Que não se justifica incluí-los no mesmo nível d os d e-
mais núcleos emissores. Não o bstante, sua estreita vi nculação com Os mode los e paradigmas que o rientam a prática de comunica-
outraS organizações, principalmente ONGs c grupos religiosos, faz çlo rur:ll nao surgi ram do nada ne m fo ram impoStOS arbitrariameme
com que suas vozes estejam presentes nos d iscu rsos circulantes. por algum poder superio r. Eles fora m construídos através de um
Pard viabi lizar seus objetivos, muitos desses gn lpos contratam os processo histó rico de mediaçõcs institucionais, que também não fo-
serviços de profissionais da comunicação. seja p ara a elaboração de r.lm produtos de meras decisões o u desejos de u ma elite dirigeme,
políticas de linguagem, seja para im plementá-las. É aí que se d á minha mas sofreram as in junções de toda uma con juntura política e teó rica
inserção nesse universo, iniciaLnc nte como formuladora de políticas internacio nal e nacionaJ. São essas mediações que passo a analisar,
e estratégias institucionais de cornuníca\-"áo e produto ra de mate riais buscando correlacioná-Ias com um cenário externo e mais globaJ .
educa[ivos , em segu ida como consultord das organizações, assessora Lembro que o termo " media ções~ não se limita a designar "pontos
dos quadros técnicos e pesquisadora. de passagem", mas também de processamento e reelaboração de um
O diagrama abaixo permite visualizar os principais atores e flu- pensamento c umaprá.:\·is.

46 47
histórica das funçót!s sociais, esta não se apresenta de forma rígida xos discursivos d esse cenário , ainda que se ja impossível regislr"dr
o u estática. Assim, tanto uma organi.zaç'.l.o de camponeses pode assu - grAficame nte toda a dinâmica e as interconexões que o caracte rizam :
mir em certas circunstâncias o papel de produtor ou executor de p0-
líticas sociais e/ou públicas para a sociedade que re presenta, como
uma institu ição do primeiro núcleo pode tornar-se objeto das políti- ~-,FLUXOS E ATORES DA PRÃT1CA DISCURSIVA --_~
NO MEIO RURAL
cas geradas por o utra instituição_
No campo d as insliruições, distinguem-se quaTro núcleos com
objetivos e práticas distintos: as o rganizações govername ntais, as re·
ligiosas. as universidades (po r meio da extensão n.tra[) c as organiza-
ções privadas de pro moção social, estas con hecidas por ONGs -
O rganizações Não-Governamemais. Um q uintO núcleo é fornlado , Igrejas
C
pelas organizações representati\"3S da popu lação- sindicatos, associa- N
ções de produtores, e tc. I)cstacam-se neste ú ltimo , como produtores
imensivos d e discursos dirigidos a seus representados, os organismos
o
"
S
Sociedade ,
O
M

R
de representação e assessoria do sistema cooperativista. do siste ma T
sindical e o Movimento dos Sem-Terra que, apesar da d esignação •I
ONGs
C
I
O
("movimento"), é institucionaJizado . N:i.o se pode d eixar de mencio- A
nar também os meios de comunicação privados (mais especific:l-
OrganizaçOes
mente a TV) e os produtores d e bens mate riais de consumo (aqui representativas
incluindo insumos agrícolas e remédios) que, ainda que não se jam
gerado res de políticas públicas ou sociais, fazem pane do cenário.
Os p artidos po líticos fazem-se prese ntes nesse contextO, em tem pos
eleitorais. Alguns de les, em geral ligados a corre ntes mais progressis- ",rOIA
tas, têm feito tentativas de manter uma ação comunicativa mais cons-
tante com a p o pulação. No entanto, são tão rants as concretizações
dessa inte nçáo Que não se justifica incluí-los no mesmo nível d os d e-
mais núcleos emissores. Não o bstante, sua estreita vi nculação com Os mode los e paradigmas que o rientam a prática de comunica-
outraS organizações, principalmente ONGs c grupos religiosos, faz çlo rur:ll nao surgi ram do nada ne m fo ram impoStOS arbitrariameme
com que suas vozes estejam presentes nos d iscu rsos circulantes. por algum poder superio r. Eles fora m construídos através de um
Pard viabi lizar seus objetivos, muitos desses gn lpos contratam os processo histó rico de mediaçõcs institucionais, que também não fo-
serviços de profissionais da comunicação. seja p ara a elaboração de r.lm produtos de meras decisões o u desejos de u ma elite dirigeme,
políticas de linguagem, seja para im plementá-las. É aí que se d á minha mas sofreram as in junções de toda uma con juntura política e teó rica
inserção nesse universo, iniciaLnc nte como formuladora de políticas internacio nal e nacionaJ. São essas mediações que passo a analisar,
e estratégias institucionais de cornuníca\-"áo e produto ra de mate riais buscando correlacioná-Ias com um cenário externo e mais globaJ .
educa[ivos , em segu ida como consultord das organizações, assessora Lembro que o termo " media ções~ não se limita a designar "pontos
dos quadros técnicos e pesquisadora. de passagem", mas também de processamento e reelaboração de um
O diagrama abaixo permite visualizar os principais atores e flu- pensamento c umaprá.:\·is.

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Os cursos uuiversittÍrios Instituto de Pesqu isa de Comunicação da Unh'ersidade de St:mford
( EUA) - , patrocinado pela UNESCO. Adepto da Teoria da Ação, de
A primei.ra de55:ts mediações é a representada pel05 cursos uni- TalcOIl Parsons, Schr:.lmm analisa, numa abordagem funcionalista e
ver5itários de Comunicaç:io Social, não só porque é ali que os profis- instrume ntal . as fun çõcs que os Meios d e Comunicação de Massa-
sionais da área forjam sua visão teórica sobre o funcionamento da M CM - podem desempenhar nos países subdesenvo lvidos e conclui
socied:lde e as práticas a da cor responde ntes, mas porque foi a im- com uma série d e recomendações aos governos, estabelece ndo uma
plantação e a oriem:tção d esses cursos que legitimo u e ajudo u a cris- relação causal direta entre informação e "progresso nacional". No
taliz:tr modelos e paradigmas vigentes na comunicação rural . Por prefáciO do livro , escrito por Alberto Oines, h:í o seguinte trecho,
que bem exemplifica O espírito da época:
outro lado, dentro do propósito met'Odo lógico de delineamento do
objeto d e pesquisa a partir do meu trajeto pessoal, a gmduação uni- A escalada s()Cial de 11111 indlu{duu dentro dogrllpo ti lima dewrrimc/a rI/reta
vershária representou o primei.ro estágio. tio seu g rtW rle I,I/ormaçdo. E e$lcgruu de infol'maç4a éfmtu de Sell e,lIra_.
Fiz parte da prime i.ra tunna do curso de Comunicação Soei:ll da menta com a sls/ema do ql/al faz parte (p. 17).
UFPE, entre os anos de 7 1 e 75. Naquela época, vigorava o currícu lo E mais na frentc;
regu lamentado em 1969 no bojo da refonna universitaria exigida
pelo acordo MEC/USAID, que introduzira modificações fundamentais ( ... ) mas é !ichmmm quem fO ....1!aJ Pers/Jecti/Jas ollsa ndo vlsfumbl'(lr coisas po.

no de 1966, adotado :ué e ntão.6 Além de desvincular a fomlação e m


°
slfl~Jas 11 afirmando que se sll/xlese,wolulmeUlo miQ é apenas 11m COnjlm/o

Comun icação Social da formação específiCA em Jornalismo, currí- ° de mdlcesll taxas. mas também lI/tIa pustul'a merl/al. e"fiivJxxle scrallerado
por fatores psiool6gicus (p. 19).
cu lo direcionava os cursos para uma qualificação mais técnica dos
profissionais, atendendo assim a um duplo objetivo: esvaziar a co- Po r "fatores psicológicos" entenda-se "mOtivação para o pro-
municação d o seu potencial político de contestação e transformação g.ress~", um conceito fundament:d para a formação dos novos profis-
social e preparar quadros que correspondessclll aO projeto de mo- s l o,n:l.ls que aruariam numa região pobre e arrasada em relação ao
dernização do país, perfeitamente sintonizado com a orielllaç-Jo teó- °
prus, como é Nordeste.
rica no ne-americana. Eram tempos de McLuhan e a aldeia global; O curso da UFPE, primeiro d o gênero na região, foi oferecido
tempos de Cibernetica ,e da Teoria dos Sistemas; te mpos de Shannon por cinco anos atr.lvés de um convênio com uma pequeníssima ONG,
e We:lVer e da Teoria da Informação ; tempoS de sucesso da noção de o Centro de Comunicação Social do Nordeste _ CECOSNE. Para for-
feedbl'lck , de David Berlo, que tinha a capacidade de apaziguar as mar seu quadro docente, o CECOSN E conrratou professores ligados
consciê ncias, fazendo com que lodos nos sendssemos perfeito.) de- às áreas de Filosnth e (:j~nrias Hllffi:lnas. Tateando no campo especi-
mocratas, não coniventes com o sistema e com o regime. A comuniCA- fico da comunicação, descobrindo os autores quase :10 mesmo tempo
ção, pensava-se, resolveria todos os problemas do subdesenvolvimento que seus alunos, os mcstres imprimiram às disciplinas o viés que traziam
que . afinal, ccam problemas de falta de informação, de educação e d e seus campos de orige m. Assim . os Fundamentos Científicos da Co-
de cultura - idé ia herdada do período Kubitschek e introduzida no municação tiveram uma abordagem filosófico-humanista; as discipli-
Brasil pela UNESCO. nas. d.~ Psicologia vieram impregnadas de bcha\~ orismo ; Pesquisa de
Um exemplo ilust'r.nivo dessa conccpç-Áo é o livro Comunica- O pm.ao e MercadolOgia introduziu os métodos e técnicas empiricis-
ção de massa e desctloolv;mellto , de Wilbur Schramm - diretor d o ms em voga nos EUA; e Sociologia trouxe a discussão sobre os MCM
baseada em Umbeno Eco e nos primeiros sons que nos chegavam da
'r,eona Crítica. Transit:wd-se emre as teorias que privilegiavam O indi-
6 Pode-se obll:r Um1l :lnâli5c minucio~;a d esse proa:550 de rormaçlodOlll'\urlcu- V1duo e aquelas que tinham a massa como unidade social a ser cons i-
los dos CUfl'OS dc comuniaçio e s u~ n::laçio com U$ ObjCli'"OS do poder c m d e r.tda, sem que se estabelecesse e ntre elas ne nhuma inte r-relação c
Wr.BER, t994: 9 t -l 04.

.
Os cursos uuiversittÍrios Instituto de Pesqu isa de Comunicação da Unh'ersidade de St:mford
( EUA) - , patrocinado pela UNESCO. Adepto da Teoria da Ação, de
A primei.ra de55:ts mediações é a representada pel05 cursos uni- TalcOIl Parsons, Schr:.lmm analisa, numa abordagem funcionalista e
ver5itários de Comunicaç:io Social, não só porque é ali que os profis- instrume ntal . as fun çõcs que os Meios d e Comunicação de Massa-
sionais da área forjam sua visão teórica sobre o funcionamento da M CM - podem desempenhar nos países subdesenvo lvidos e conclui
socied:lde e as práticas a da cor responde ntes, mas porque foi a im- com uma série d e recomendações aos governos, estabelece ndo uma
plantação e a oriem:tção d esses cursos que legitimo u e ajudo u a cris- relação causal direta entre informação e "progresso nacional". No
taliz:tr modelos e paradigmas vigentes na comunicação rural . Por prefáciO do livro , escrito por Alberto Oines, h:í o seguinte trecho,
que bem exemplifica O espírito da época:
outro lado, dentro do propósito met'Odo lógico de delineamento do
objeto d e pesquisa a partir do meu trajeto pessoal, a gmduação uni- A escalada s()Cial de 11111 indlu{duu dentro dogrllpo ti lima dewrrimc/a rI/reta
vershária representou o primei.ro estágio. tio seu g rtW rle I,I/ormaçdo. E e$lcgruu de infol'maç4a éfmtu de Sell e,lIra_.
Fiz parte da prime i.ra tunna do curso de Comunicação Soei:ll da menta com a sls/ema do ql/al faz parte (p. 17).
UFPE, entre os anos de 7 1 e 75. Naquela época, vigorava o currícu lo E mais na frentc;
regu lamentado em 1969 no bojo da refonna universitaria exigida
pelo acordo MEC/USAID, que introduzira modificações fundamentais ( ... ) mas é !ichmmm quem fO ....1!aJ Pers/Jecti/Jas ollsa ndo vlsfumbl'(lr coisas po.

no de 1966, adotado :ué e ntão.6 Além de desvincular a fomlação e m


°
slfl~Jas 11 afirmando que se sll/xlese,wolulmeUlo miQ é apenas 11m COnjlm/o

Comun icação Social da formação específiCA em Jornalismo, currí- ° de mdlcesll taxas. mas também lI/tIa pustul'a merl/al. e"fiivJxxle scrallerado
por fatores psiool6gicus (p. 19).
cu lo direcionava os cursos para uma qualificação mais técnica dos
profissionais, atendendo assim a um duplo objetivo: esvaziar a co- Po r "fatores psicológicos" entenda-se "mOtivação para o pro-
municação d o seu potencial político de contestação e transformação g.ress~", um conceito fundament:d para a formação dos novos profis-
social e preparar quadros que correspondessclll aO projeto de mo- s l o,n:l.ls que aruariam numa região pobre e arrasada em relação ao
dernização do país, perfeitamente sintonizado com a orielllaç-Jo teó- °
prus, como é Nordeste.
rica no ne-americana. Eram tempos de McLuhan e a aldeia global; O curso da UFPE, primeiro d o gênero na região, foi oferecido
tempos de Cibernetica ,e da Teoria dos Sistemas; te mpos de Shannon por cinco anos atr.lvés de um convênio com uma pequeníssima ONG,
e We:lVer e da Teoria da Informação ; tempoS de sucesso da noção de o Centro de Comunicação Social do Nordeste _ CECOSNE. Para for-
feedbl'lck , de David Berlo, que tinha a capacidade de apaziguar as mar seu quadro docente, o CECOSN E conrratou professores ligados
consciê ncias, fazendo com que lodos nos sendssemos perfeito.) de- às áreas de Filosnth e (:j~nrias Hllffi:lnas. Tateando no campo especi-
mocratas, não coniventes com o sistema e com o regime. A comuniCA- fico da comunicação, descobrindo os autores quase :10 mesmo tempo
ção, pensava-se, resolveria todos os problemas do subdesenvolvimento que seus alunos, os mcstres imprimiram às disciplinas o viés que traziam
que . afinal, ccam problemas de falta de informação, de educação e d e seus campos de orige m. Assim . os Fundamentos Científicos da Co-
de cultura - idé ia herdada do período Kubitschek e introduzida no municação tiveram uma abordagem filosófico-humanista; as discipli-
Brasil pela UNESCO. nas. d.~ Psicologia vieram impregnadas de bcha\~ orismo ; Pesquisa de
Um exemplo ilust'r.nivo dessa conccpç-Áo é o livro Comunica- O pm.ao e MercadolOgia introduziu os métodos e técnicas empiricis-
ção de massa e desctloolv;mellto , de Wilbur Schramm - diretor d o ms em voga nos EUA; e Sociologia trouxe a discussão sobre os MCM
baseada em Umbeno Eco e nos primeiros sons que nos chegavam da
'r,eona Crítica. Transit:wd-se emre as teorias que privilegiavam O indi-
6 Pode-se obll:r Um1l :lnâli5c minucio~;a d esse proa:550 de rormaçlodOlll'\urlcu- V1duo e aquelas que tinham a massa como unidade social a ser cons i-
los dos CUfl'OS dc comuniaçio e s u~ n::laçio com U$ ObjCli'"OS do poder c m d e r.tda, sem que se estabelecesse e ntre elas ne nhuma inte r-relação c
Wr.BER, t994: 9 t -l 04.

.
' nu;'" Arm'jo

sem que se fizesse uma ponte entre t(X1a essa par.úe nlâlia de idé ias e a possível ao receptor, escolher um canal que pe rmitisse a minimi7..'I'
realkl:lde social - brasileira e noroes tina - na qual os profissionais de- ção de ruídos e levar em consideração ofeedbllck na reaJ imentaç'Jo
veriam aruar, uma vez fonnados . d o processo. Tudo muito simples, tudo muito o rgânico, rudo funcio-
Por esse caos teó rico, unificado c ordenado apenas pel:t Teoria nando mecânica c perfeitamente dentro d e uma lógica causal e uma
da Inrormação, aceita com "a Teoria da Com unicaçflo", passou uma visão instrumental da comunicação.
boa pane das pessoas que se inreressaram por comunicação nesse É fácil perceber por tcls dessa concepçl0 o grande paradigma
período (não só de Pernambuco, mas também de outros estlldos da das ciências sociais, o positivi sta. O positivismo esre,,·e rOl1emente
região Nordeste) , como alunos regulares ou ouvintes de cursos es- presente nas teorias da comunicação, principalmente entre os anos
pecíficos. Uma parte dessas pessoas direcionou-se para a atividade 50 e 80, o que é compreensí\'ei numa perspectiva histórica : seria pra-
empresarial (publicidade, sobretudo), Outr.1.5 ocupanm espaços na ticame nte impossível uma teoria e modelos das clências sociais gera-
mídia, mas uma parccla cons iderável - e é esta que inreressa aqui - d os nos anos 40-70, numa sociedade como a norte.americana
passou a constituir o corpo docente dos cursos de comunicação (re- escaparem das grandes linhas poSitivistas do pensamenlO. An:ilise~
produzindo. pois, o proceSSo de ronnaçáo) ou roram trabalhar como sociais, métodos de pesquisa , decisões políticas, políticas de romla-
técnicos e assessores de comunicação na área governamental, nas ção de recursos humanos, ludo roi conformado por aquela <Iue pare-
ONGs c no movimento popular. Uns c outros também passar:.\m a cia uma verdade inelutáveL É arravés do terceiro tema b:isico da
ensinar comunicação nos cursos de nível médio , nos de cooper:ui- d outrina, o da neçcssidade de um espírito positivo na organização
vismo , agronomia e exte nsão rural . Não se pode deixar de mencio nar d as estrutur..tS sociais c políticas, que se investe na ronnação daquela
aqui os numerosos religiosos que acorreram ao curso da UFPE naque- que de\'cria ser uma nova elite dentífico-industrial, capaz de desen-
le período, tanto pelo rato de a comunicação estar "em alta" também volver atividades técnicas correspondentes a cada uma das ciências
nos meios católicos como pela vincuiaçáo do CECOSNE com uma (daf o incentivo;\ especialização) , l:Ontcxto que produz, entre o u-
congreg:.lção religiosa: naquela época, sem dúvida, o CECOSNE era a tros, os cursos de comunicação . Por outro lado , é só a panir do final
palavr..l autorizada em t..'o municação SOCial, no Nordeste. da déCtda de 70 que se afirmariam no Brasil as teorias críticas da cul.
P:tirando acima da diver..ificação de abordagens c marcando pro- tura, assim como cresceria a inRuência marxis ta no âmbitod:t univer-
fundamente a ronnaç:lo teórica (e, em decomncia, a pr.itica Ix>srerior) sidade, mais especificamente das teses de Althusser e de Gr..tmsci.
desses profissionais, pode·se identificar o paradigma inromlacional .I'ode·se ainda le mbrar que o grande debate nacional político-acadê-
que, atr..lvés de alguns modelos, sobrerudo o clássico de Ulsswel1 : mico que se verificava em tOrno das tcorias da dependéncia, no qual
quem ~ diz o que ==- :lI'rdvc:s de que canal ==- aQuem==- com Que ereilo, se problematizavam as noçóes de imperialismo c outras que pu-
cstabe lecia que a comunicação era um processo com começo e fim . nham em xeque os modelos importados de desenvolvimento e de-
composto por: um emissor (ao Qual Clbia a iniciativa) ; uma me nsa- femlia m a necessidade de políticas nacionais de comunicação, não
gem, rormada por códigos verbais o u n;io; um canal, que cumpria a conseguiu permear os currículos fo nnais dos cursos de graduação
mera função de transmissor; um receptor, a quem C:lbia a decirração nem equilibr..tr rorças com as correntes teóricas hegemônicas .
da mensagem. A intençl0 da comunicllção erd sempre prm'OCar um VOltando à rcgião NordeSle : o Ulros cursos foram implantados,
detenninado ereÍlO no receptor, o <Iue poderia ser avaliado através Outr:.IS idéias ror:tm agregadas, OU tras correntes teóricas ganharam
dofeedback. A noç.!o de ruído recebia extrema relevância, possivel- cs paço . O curso de comunicação concretizou mais sua presença na
mente porque fosse através da tipificação de ruídos possíveis que se universidade após O fim do convcnio com o CECOSNE, passando in-
podia acentuar a especificidade de cada disciplina: se de o rdem cul- clusive a funcionar no camjJUs, mudança que teve várias conseqüências,
IUraJ (socio logia) , motivacional (psicologia), etc. Comunicar-se bem entre elas a d e minimi7.ar a abordagem humanista das disciplinas e
era, então, articu lar os códigos da língua da rorm:1 mais adequada .'Iccmuar o car.ítcr técnico e inserumemal do currículo. Mas as bases

SI
"
' nu;'" Arm'jo

sem que se fizesse uma ponte entre t(X1a essa par.úe nlâlia de idé ias e a possível ao receptor, escolher um canal que pe rmitisse a minimi7..'I'
realkl:lde social - brasileira e noroes tina - na qual os profissionais de- ção de ruídos e levar em consideração ofeedbllck na reaJ imentaç'Jo
veriam aruar, uma vez fonnados . d o processo. Tudo muito simples, tudo muito o rgânico, rudo funcio-
Por esse caos teó rico, unificado c ordenado apenas pel:t Teoria nando mecânica c perfeitamente dentro d e uma lógica causal e uma
da Inrormação, aceita com "a Teoria da Com unicaçflo", passou uma visão instrumental da comunicação.
boa pane das pessoas que se inreressaram por comunicação nesse É fácil perceber por tcls dessa concepçl0 o grande paradigma
período (não só de Pernambuco, mas também de outros estlldos da das ciências sociais, o positivi sta. O positivismo esre,,·e rOl1emente
região Nordeste) , como alunos regulares ou ouvintes de cursos es- presente nas teorias da comunicação, principalmente entre os anos
pecíficos. Uma parte dessas pessoas direcionou-se para a atividade 50 e 80, o que é compreensí\'ei numa perspectiva histórica : seria pra-
empresarial (publicidade, sobretudo), Outr.1.5 ocupanm espaços na ticame nte impossível uma teoria e modelos das clências sociais gera-
mídia, mas uma parccla cons iderável - e é esta que inreressa aqui - d os nos anos 40-70, numa sociedade como a norte.americana
passou a constituir o corpo docente dos cursos de comunicação (re- escaparem das grandes linhas poSitivistas do pensamenlO. An:ilise~
produzindo. pois, o proceSSo de ronnaçáo) ou roram trabalhar como sociais, métodos de pesquisa , decisões políticas, políticas de romla-
técnicos e assessores de comunicação na área governamental, nas ção de recursos humanos, ludo roi conformado por aquela <Iue pare-
ONGs c no movimento popular. Uns c outros também passar:.\m a cia uma verdade inelutáveL É arravés do terceiro tema b:isico da
ensinar comunicação nos cursos de nível médio , nos de cooper:ui- d outrina, o da neçcssidade de um espírito positivo na organização
vismo , agronomia e exte nsão rural . Não se pode deixar de mencio nar d as estrutur..tS sociais c políticas, que se investe na ronnação daquela
aqui os numerosos religiosos que acorreram ao curso da UFPE naque- que de\'cria ser uma nova elite dentífico-industrial, capaz de desen-
le período, tanto pelo rato de a comunicação estar "em alta" também volver atividades técnicas correspondentes a cada uma das ciências
nos meios católicos como pela vincuiaçáo do CECOSNE com uma (daf o incentivo;\ especialização) , l:Ontcxto que produz, entre o u-
congreg:.lção religiosa: naquela época, sem dúvida, o CECOSNE era a tros, os cursos de comunicação . Por outro lado , é só a panir do final
palavr..l autorizada em t..'o municação SOCial, no Nordeste. da déCtda de 70 que se afirmariam no Brasil as teorias críticas da cul.
P:tirando acima da diver..ificação de abordagens c marcando pro- tura, assim como cresceria a inRuência marxis ta no âmbitod:t univer-
fundamente a ronnaç:lo teórica (e, em decomncia, a pr.itica Ix>srerior) sidade, mais especificamente das teses de Althusser e de Gr..tmsci.
desses profissionais, pode·se identificar o paradigma inromlacional .I'ode·se ainda le mbrar que o grande debate nacional político-acadê-
que, atr..lvés de alguns modelos, sobrerudo o clássico de Ulsswel1 : mico que se verificava em tOrno das tcorias da dependéncia, no qual
quem ~ diz o que ==- :lI'rdvc:s de que canal ==- aQuem==- com Que ereilo, se problematizavam as noçóes de imperialismo c outras que pu-
cstabe lecia que a comunicação era um processo com começo e fim . nham em xeque os modelos importados de desenvolvimento e de-
composto por: um emissor (ao Qual Clbia a iniciativa) ; uma me nsa- femlia m a necessidade de políticas nacionais de comunicação, não
gem, rormada por códigos verbais o u n;io; um canal, que cumpria a conseguiu permear os currículos fo nnais dos cursos de graduação
mera função de transmissor; um receptor, a quem C:lbia a decirração nem equilibr..tr rorças com as correntes teóricas hegemônicas .
da mensagem. A intençl0 da comunicllção erd sempre prm'OCar um VOltando à rcgião NordeSle : o Ulros cursos foram implantados,
detenninado ereÍlO no receptor, o <Iue poderia ser avaliado através Outr:.IS idéias ror:tm agregadas, OU tras correntes teóricas ganharam
dofeedback. A noç.!o de ruído recebia extrema relevância, possivel- cs paço . O curso de comunicação concretizou mais sua presença na
mente porque fosse através da tipificação de ruídos possíveis que se universidade após O fim do convcnio com o CECOSNE, passando in-
podia acentuar a especificidade de cada disciplina: se de o rdem cul- clusive a funcionar no camjJUs, mudança que teve várias conseqüências,
IUraJ (socio logia) , motivacional (psicologia), etc. Comunicar-se bem entre elas a d e minimi7.ar a abordagem humanista das disciplinas e
era, então, articu lar os códigos da língua da rorm:1 mais adequada .'Iccmuar o car.ítcr técnico e inserumemal do currículo. Mas as bases

SI
"
paradig máticas eStavam solidamente formadas - com o veremos mais o jJ(/rmfigllm fi'lgllístfcu tlumimwle
adiante - não ex:Hamente pcl:l competência de um corpo d ocente ,
m as po rque fazíamos todos, a lunos, pro fessores, instiruiçáo, parte
de uma época em que a comunicação (oi consid ernda estr.Hégica Não seria possível abordar aqui lo<bs as teorias que já fora m
para os interesses nacionais e internacionais , havendo um a lto inves- formuladas a respeito do signo, t:toro pelos filósofos da linguagem
limemo na disseminaç:lo de idéi:LS que possibilitassem a implanta- com o. pelos li ngüistas e teóricos d:a comunic tção h umana. De uma
ção d e um modelo dcsenvolvi mcntista, capitalista e apolítico. Esse ma n e:,r~ e...<t~emamente simplitiC'dda, poder-se-ia d izer que o concei-
contexto de época é que me leva:1 afirmar que, e mbora os o utros to de _sl gn~ apolHa pard o que é ace ito com o representação d e algo
c ursos d e comunicação pudesse m encaminhar dife rentemente a que "'lO a SI mesmo, ou seja, o seu referente . A relação e ntre o signo
aplicação do m esmo currk ulo , e nfatizando outrOS aspeCtOS (como o e o .refe,:nte (també m c hamado "sign ificanre") seria m ed iada pela
da UnD, que vinculava forteme nte a comunicação com o d esenvolvi- codlficaçao e pnxluziria o significado. As variações teór icas existen-
m e m o), o u conferir ê nfa.se maio r a o utras correntes teóricas (C'olSO da les, qu ~. dive rgem sobre os fa tores que inlerferem nessa relação e,
UFRJ , onde a semio logi:t da época e a Escola de Frankfurt tive ram consequenremenre , no modo de produção d o s ignificado, S:IO, de
mais influê ncia) , a base paradigmática fo i a mesma e (oi, como já dis- cena forma , ho mogeneizadas pelo paradigma lingüístico dominante
se, sólida. Mais d e duas d écadas depois, é possível ide ntificá- Ia subja- que possibilita e legitima a noção de signo e CJue estabelece aJgun~
cem c e m quase to das as políticas e pr.hicas d e comunicação (e aqui pressu postos que afetam dirct"'dmellte a Teoria da Comunicação. Hefe-
me rt:firo ao campo da comunicação rural, embora o panorama pos- ~.m-se estes:i imanê ncia d o sentido nas palavras e à autonomia d o su-
sa se repetir e m OUtros campos), ainda que mesclados com o utros Jeito em relação à língua e à produç:"io da significação.
paradigmas e mergenrcs, seja no campo re ligioso, político, governa- De :1t_'Ordo com esse modo de pensar. a língua cons istiria num
me ntal o u não. As escol:t$ de (:omunicação da rcKião, cujo q uadro d o-- reperrório de cód igos com significado já estabelecido (sentido ima-
cente é em grande parte fonu ado por alunos da década de 70 e por neme ~ palavras) do qual o s uje ito la nçaria m ão sempre que tivesse
p rofessores que naquela época iniciaram sua profissão, c umprem pa- n~cess ld ade de se comunicar, fazendo uma combinação a cada situa-
pei fundamental nessa re produção. "Acentuando a dimensão da re- çao, se~u ndo as rcgr.lS d a g mf1l:ítiCl c da simaxe. O sig nificado da sua
produção, os conteúdos do e nsino te nde m II seguir a reboque da alocuçao seria, po is, construído por ele , e mbora dentro d as nomlas
realidade, distanciados das práticas da socie dade e refratários às mu· d:alJngua. Um sujeito scnmnticamente ativo e s intaticamente passivo.
danças que não consegu em abso('\'cr"', confirma Lopes (op. cit.: 64) . AO rccep~o r caberia buscar compree nder o significado da mensagem ,
Po r outro lado, m esmo :tS infl uências teóricas ma is ma rcantes e:t e ficáCia da comunicação esta ria na capac idade de l:stabelccer uma
que aportaram no campo da comunicação vi.ndas d e o utras áreas d as perfeita corre lação e ntre o senrido d o dilo e d o com pree nd ido.
ciê ncias huma nas e produzidas por o utra visão parndigmática, que Essa idéia apóia-se num modelo d o s ig nifiClOtc/s ignificado que
pode ser chamada de "conflitua!" , como a Teoria Crítica e algumas (en~a ~ar conta do fenôm e no da sig nificação através dessa relação di-
teses m a rxis tas, traziam subjacentes a essência do modelo comunica- cotomlca e mecân ica c ntre o o bjero e o que ele s ignifica. Po r o utrO
tivo dominante, o u seja, a existência de um núcleo emissor, ativo, pro- lado , demarca fro nte iras rígidas e ntre a sintaxe e a semântica, a lé m
duto r de sentido - c veiculador de ideologia, o que e ra fund:amental de ~csco nhecc(" a prdgmátiC-d . Tal modelo cristaliza a noção de ideo--
pard essas COlTCntes -, e um núcleo receptor, passivo, que consom c I ~gla como co nfinada ao :lmbito sem ântico, d os conteúdos, sendO:1
acriticamente as m e nsagens que lhe c hegam - e , em conseqüência, é s intaxe ~cutr.1 e desprovida d e conoração. O pró prio par conceitual
ideologicamente do minado. I'ara e ntender m e lhor essa base comum dcnotaçao/conotação, característico das reorias do s igno, evide nc ia e
entre correntes tão díspares na sua origem , é preciso nos remcte nnos sacmmcn ta essa separaçiio e ntre fo rma e COnteúdo e dissocia :I for-
ã m:)(,:ão de signo e ao parad igma lingüístico oorrt':sponde ntc . m a da ideologia: a denotaçáo - aspccto forma l do signo _ seri:l d es-

" "
paradig máticas eStavam solidamente formadas - com o veremos mais o jJ(/rmfigllm fi'lgllístfcu tlumimwle
adiante - não ex:Hamente pcl:l competência de um corpo d ocente ,
m as po rque fazíamos todos, a lunos, pro fessores, instiruiçáo, parte
de uma época em que a comunicação (oi consid ernda estr.Hégica Não seria possível abordar aqui lo<bs as teorias que já fora m
para os interesses nacionais e internacionais , havendo um a lto inves- formuladas a respeito do signo, t:toro pelos filósofos da linguagem
limemo na disseminaç:lo de idéi:LS que possibilitassem a implanta- com o. pelos li ngüistas e teóricos d:a comunic tção h umana. De uma
ção d e um modelo dcsenvolvi mcntista, capitalista e apolítico. Esse ma n e:,r~ e...<t~emamente simplitiC'dda, poder-se-ia d izer que o concei-
contexto de época é que me leva:1 afirmar que, e mbora os o utros to de _sl gn~ apolHa pard o que é ace ito com o representação d e algo
c ursos d e comunicação pudesse m encaminhar dife rentemente a que "'lO a SI mesmo, ou seja, o seu referente . A relação e ntre o signo
aplicação do m esmo currk ulo , e nfatizando outrOS aspeCtOS (como o e o .refe,:nte (també m c hamado "sign ificanre") seria m ed iada pela
da UnD, que vinculava forteme nte a comunicação com o d esenvolvi- codlficaçao e pnxluziria o significado. As variações teór icas existen-
m e m o), o u conferir ê nfa.se maio r a o utras correntes teóricas (C'olSO da les, qu ~. dive rgem sobre os fa tores que inlerferem nessa relação e,
UFRJ , onde a semio logi:t da época e a Escola de Frankfurt tive ram consequenremenre , no modo de produção d o s ignificado, S:IO, de
mais influê ncia) , a base paradigmática fo i a mesma e (oi, como já dis- cena forma , ho mogeneizadas pelo paradigma lingüístico dominante
se, sólida. Mais d e duas d écadas depois, é possível ide ntificá- Ia subja- que possibilita e legitima a noção de signo e CJue estabelece aJgun~
cem c e m quase to das as políticas e pr.hicas d e comunicação (e aqui pressu postos que afetam dirct"'dmellte a Teoria da Comunicação. Hefe-
me rt:firo ao campo da comunicação rural, embora o panorama pos- ~.m-se estes:i imanê ncia d o sentido nas palavras e à autonomia d o su-
sa se repetir e m OUtros campos), ainda que mesclados com o utros Jeito em relação à língua e à produç:"io da significação.
paradigmas e mergenrcs, seja no campo re ligioso, político, governa- De :1t_'Ordo com esse modo de pensar. a língua cons istiria num
me ntal o u não. As escol:t$ de (:omunicação da rcKião, cujo q uadro d o-- reperrório de cód igos com significado já estabelecido (sentido ima-
cente é em grande parte fonu ado por alunos da década de 70 e por neme ~ palavras) do qual o s uje ito la nçaria m ão sempre que tivesse
p rofessores que naquela época iniciaram sua profissão, c umprem pa- n~cess ld ade de se comunicar, fazendo uma combinação a cada situa-
pei fundamental nessa re produção. "Acentuando a dimensão da re- çao, se~u ndo as rcgr.lS d a g mf1l:ítiCl c da simaxe. O sig nificado da sua
produção, os conteúdos do e nsino te nde m II seguir a reboque da alocuçao seria, po is, construído por ele , e mbora dentro d as nomlas
realidade, distanciados das práticas da socie dade e refratários às mu· d:alJngua. Um sujeito scnmnticamente ativo e s intaticamente passivo.
danças que não consegu em abso('\'cr"', confirma Lopes (op. cit.: 64) . AO rccep~o r caberia buscar compree nder o significado da mensagem ,
Po r outro lado, m esmo :tS infl uências teóricas ma is ma rcantes e:t e ficáCia da comunicação esta ria na capac idade de l:stabelccer uma
que aportaram no campo da comunicação vi.ndas d e o utras áreas d as perfeita corre lação e ntre o senrido d o dilo e d o com pree nd ido.
ciê ncias huma nas e produzidas por o utra visão parndigmática, que Essa idéia apóia-se num modelo d o s ig nifiClOtc/s ignificado que
pode ser chamada de "conflitua!" , como a Teoria Crítica e algumas (en~a ~ar conta do fenôm e no da sig nificação através dessa relação di-
teses m a rxis tas, traziam subjacentes a essência do modelo comunica- cotomlca e mecân ica c ntre o o bjero e o que ele s ignifica. Po r o utrO
tivo dominante, o u seja, a existência de um núcleo emissor, ativo, pro- lado , demarca fro nte iras rígidas e ntre a sintaxe e a semântica, a lé m
duto r de sentido - c veiculador de ideologia, o que e ra fund:amental de ~csco nhecc(" a prdgmátiC-d . Tal modelo cristaliza a noção de ideo--
pard essas COlTCntes -, e um núcleo receptor, passivo, que consom c I ~gla como co nfinada ao :lmbito sem ântico, d os conteúdos, sendO:1
acriticamente as m e nsagens que lhe c hegam - e , em conseqüência, é s intaxe ~cutr.1 e desprovida d e conoração. O pró prio par conceitual
ideologicamente do minado. I'ara e ntender m e lhor essa base comum dcnotaçao/conotação, característico das reorias do s igno, evide nc ia e
entre correntes tão díspares na sua origem , é preciso nos remcte nnos sacmmcn ta essa separaçiio e ntre fo rma e COnteúdo e dissocia :I for-
ã m:)(,:ão de signo e ao parad igma lingüístico oorrt':sponde ntc . m a da ideologia: a denotaçáo - aspccto forma l do signo _ seri:l d es-

" "
I"cs/w Araujo

provida de sentido, enquanro que a conotação- aspecto simbólico - diStribuição e consumo de bens agrícolas, assim corno o desenvo lvi-
seria a correia de transmissão ideológica, mento e a transformação da vida rural" ( l978: 83). Aqui será adotado
Ora, como observa Eliseo Verón (1980: 93) , essa concepção e tr.ttildo como sinônimo o sentido mais corrente, que corresponde
às políticas e práticas institucionais de comunicação - em outros ter-
n(lo ~ uma illl)(!IIçLlo arbitrária de certos UIIgfiistas em semló/ogus. Au COlllró,·
rio, reflefl!uu reproduz. 'IU nE/leI da teoria Iillgiiística. uma cOlIsclêllcla social mos, práticas discu rsiv-d.S - direcionadas aos segmenlos sociais que
bem (letermlllada da flIivfdade dalillguagem; decorre de 1111/ cOlifunto precl· constituem o público pmencial ou efetivo das organizaçôes que bus·
so de I)peraçães ideol6gicas. O mecanismo /deol6gicv de base oi, assim. lima cam intervir na realidade do meio ruraL7
projeção. sobre os sistuII/as comp!uxos. de um m(}(lelo fl!cllológico·/llslrume" ·
tal sug/llulo o qual Iinguage/ls sâu máquillas trollsparentes cujo funciuna·
A comunicação rural , como atividade planejada e direcionada,
muniu repousa 'UlS necessidades de crmumicaçdo dos usuários. é antiga no Brasi l, embora o conceito seja mais recente, tendo sido
antecedido pe lo de "informação rural", cujos primeiros registros da-
interessante observar que, ao admitir, mesmo que de forma tam de 1900 (Bordenave, 1988: 23). A idéia de c011lunkação substi-
não e..xplícita. o modelo da comunicaçãu proveniente da Teor ia da tui a d e infonnação no bo jo do movimento d e implantação da
lnformação - e assim incorporar o p:rradigma lingüístico nele subja- extensão rur.u nos moldes norte·americanos, na década d e 40, por
cente -, as teorias que se fil iam ao paradigma conflitual incorrem em meio das "Missões Rumis" e afirnla.se, na década de 60, como conse-
cenas contradiçôes, como a que existe entre o idealismo próprio da qüência da reorientação da UNESCO sobre o papel da comunicação
concepção de significação subjacente àquela matriz lingüística c o para os países não-desenvolvidos. Está, então, vl nculada por origem
materialismo dialético, base do paradigma conflitual. Essas e outras ã ação dos órgãos governamentais. Não é de se estran har, ponanto,
contradiçóes vão espelhar-se nas políticas e práticas discursivas das que todos os outros segmentos institucionais que passaram a atuar
instituições que intervêm no meio rural. sistematicamente no meio rural tenham se posicionado política, d is·
c ursivae metodologicam e nte em relação à extensão oficial e s ua prá.
A ação prática tica comunicativa .
Na seqüência, passo a analisar cada núcleo discursivo institucio-
nal pelo ãngulo de suas práticas e pressupostos, buscando identifi-
A segunda das mediações de construção/reproduÇloJIegitima. car onde e como os modelos e paradigmas se manifestam e se
ção dos modelos e paradigmas vigentes na comunicação rural é cons- reproduzem. Do ponto de vista da m inha relação pessoal com a
tituída pelo conjunto das práticas institucionais de inten'enção social. construção do objeto, tais núcleos têm sido meu locus profissional.
"Comunicação rural" é um conceito que, tomado litemlmente,
englobaria um espectro m uito amplo de atividades , ou seja, qual- Ór,gãos GO/J(!nlamelltais
quer ato humano praticado entre pessoas num âmbito não urbano.
Porém , seu uso no Brasil refere-se mais comumente às esrratégias de
comunicação desenvolvidas pelas instituiçôcs junto à sociedade cam- Tal e qual em relação aos demais núcleos , é impossível definir
ponesa, com vistas à consecução dos seus projetos de imervenção so· um só pressupostO para a prática de comunicação ou um só ripo de
cial. Mais raramente, o termo é usado pam designar os processos de prática comunicativa dos ó rgãos governamentais, devjdo às contradi·
comunicação que ocorrem horizontalmente entre os camponeses,
ou a partir deles. Uma rerceim acepção engloba a mídia comercial es- 7 A .. tu il l fr:lgmentação do ObjetO da co municação em ~ahcrcs regio nais. cada
pecializada no meio rural (revisras, programas de 1V e rádio, etc.). "<.2 mais numerosos -comunicaç-.ío sind ical. popular. empresarial. o rganiza cio-

Bordenave assim a definiu : "Conjunto de mensagens, fluxos e pro- nal, rur.tl . ele. - deoorn:: muilo m~is d~ U!ilid~de e conveniê nci a de se especifi·
car um~ determinnd~ prátic~ social e 05 atOres nel~ implicados. do que d~
cessos de comunicação, veiculados, seja por pessoas, meios e organi- con"iq,-.io de tlue sãu fenumenos distintos aO qual c..'Orrcs pondem conheci·
zaçôes, que se relacionam direta o u indiretamente com a produção, mentos distintos.

54
"
I"cs/w Araujo

provida de sentido, enquanro que a conotação- aspecto simbólico - diStribuição e consumo de bens agrícolas, assim corno o desenvo lvi-
seria a correia de transmissão ideológica, mento e a transformação da vida rural" ( l978: 83). Aqui será adotado
Ora, como observa Eliseo Verón (1980: 93) , essa concepção e tr.ttildo como sinônimo o sentido mais corrente, que corresponde
às políticas e práticas institucionais de comunicação - em outros ter-
n(lo ~ uma illl)(!IIçLlo arbitrária de certos UIIgfiistas em semló/ogus. Au COlllró,·
rio, reflefl!uu reproduz. 'IU nE/leI da teoria Iillgiiística. uma cOlIsclêllcla social mos, práticas discu rsiv-d.S - direcionadas aos segmenlos sociais que
bem (letermlllada da flIivfdade dalillguagem; decorre de 1111/ cOlifunto precl· constituem o público pmencial ou efetivo das organizaçôes que bus·
so de I)peraçães ideol6gicas. O mecanismo /deol6gicv de base oi, assim. lima cam intervir na realidade do meio ruraL7
projeção. sobre os sistuII/as comp!uxos. de um m(}(lelo fl!cllológico·/llslrume" ·
tal sug/llulo o qual Iinguage/ls sâu máquillas trollsparentes cujo funciuna·
A comunicação rural , como atividade planejada e direcionada,
muniu repousa 'UlS necessidades de crmumicaçdo dos usuários. é antiga no Brasi l, embora o conceito seja mais recente, tendo sido
antecedido pe lo de "informação rural", cujos primeiros registros da-
interessante observar que, ao admitir, mesmo que de forma tam de 1900 (Bordenave, 1988: 23). A idéia de c011lunkação substi-
não e..xplícita. o modelo da comunicaçãu proveniente da Teor ia da tui a d e infonnação no bo jo do movimento d e implantação da
lnformação - e assim incorporar o p:rradigma lingüístico nele subja- extensão rur.u nos moldes norte·americanos, na década d e 40, por
cente -, as teorias que se fil iam ao paradigma conflitual incorrem em meio das "Missões Rumis" e afirnla.se, na década de 60, como conse-
cenas contradiçôes, como a que existe entre o idealismo próprio da qüência da reorientação da UNESCO sobre o papel da comunicação
concepção de significação subjacente àquela matriz lingüística c o para os países não-desenvolvidos. Está, então, vl nculada por origem
materialismo dialético, base do paradigma conflitual. Essas e outras ã ação dos órgãos governamentais. Não é de se estran har, ponanto,
contradiçóes vão espelhar-se nas políticas e práticas discursivas das que todos os outros segmentos institucionais que passaram a atuar
instituições que intervêm no meio rural. sistematicamente no meio rural tenham se posicionado política, d is·
c ursivae metodologicam e nte em relação à extensão oficial e s ua prá.
A ação prática tica comunicativa .
Na seqüência, passo a analisar cada núcleo discursivo institucio-
nal pelo ãngulo de suas práticas e pressupostos, buscando identifi-
A segunda das mediações de construção/reproduÇloJIegitima. car onde e como os modelos e paradigmas se manifestam e se
ção dos modelos e paradigmas vigentes na comunicação rural é cons- reproduzem. Do ponto de vista da m inha relação pessoal com a
tituída pelo conjunto das práticas institucionais de inten'enção social. construção do objeto, tais núcleos têm sido meu locus profissional.
"Comunicação rural" é um conceito que, tomado litemlmente,
englobaria um espectro m uito amplo de atividades , ou seja, qual- Ór,gãos GO/J(!nlamelltais
quer ato humano praticado entre pessoas num âmbito não urbano.
Porém , seu uso no Brasil refere-se mais comumente às esrratégias de
comunicação desenvolvidas pelas instituiçôcs junto à sociedade cam- Tal e qual em relação aos demais núcleos , é impossível definir
ponesa, com vistas à consecução dos seus projetos de imervenção so· um só pressupostO para a prática de comunicação ou um só ripo de
cial. Mais raramente, o termo é usado pam designar os processos de prática comunicativa dos ó rgãos governamentais, devjdo às contradi·
comunicação que ocorrem horizontalmente entre os camponeses,
ou a partir deles. Uma rerceim acepção engloba a mídia comercial es- 7 A .. tu il l fr:lgmentação do ObjetO da co municação em ~ahcrcs regio nais. cada
pecializada no meio rural (revisras, programas de 1V e rádio, etc.). "<.2 mais numerosos -comunicaç-.ío sind ical. popular. empresarial. o rganiza cio-

Bordenave assim a definiu : "Conjunto de mensagens, fluxos e pro- nal, rur.tl . ele. - deoorn:: muilo m~is d~ U!ilid~de e conveniê nci a de se especifi·
car um~ determinnd~ prátic~ social e 05 atOres nel~ implicados. do que d~
cessos de comunicação, veiculados, seja por pessoas, meios e organi- con"iq,-.io de tlue sãu fenumenos distintos aO qual c..'Orrcs pondem conheci·
zaçôes, que se relacionam direta o u indiretamente com a produção, mentos distintos.

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"
Jnenta Araujo

ções que os pcrnleiam e às tentativas de ruptura com o modo hege- Rogers.9 Berlo, a partir da Teoria da Info mlação e das teses de Skin-
mônico de pensar e agir. Mas é possível identificar aquilo que é ner, propõe um modelo no qual o o bjetivo é obter do recepror con-
dominante, que pode ser observado como regularidade, Que resiste e dutas desejáveis propostas pelo cmissor, mediante estímu los e
persiste a todas as iniciativas isoladas de muronça. mo ldagem de hábitos e comportame mos. Sofisticado, de aparência
Os ó rgios governamentais que :ltu:un no campo operam basica- d e mocrática - tanto por ver no receptor características iguais ao
meme com as áreas temáticas de pnxlução (agrícola e animal) e sau- emissor, como por incluir a noção de realimentação -, Serlo mar-
d e. Na primeir..l , podem ser incluídos associativismo e implanta- cou profundameme a noção do que consistiria o processo de comu-
ção/gestão de org:tniz:u;Õt!s prodmivas, além de lemas propriamente nicação, não só da extensão rural ofidal, mas também dos demais
agropastoris. A segunda engloba os remas rdativos a economia do- segmentos. Rogers foi o OUtro grande mentorda época, por intenné-
méstica, água e saneamento , prevenção e trat:unenlO de docnças .8 dio do modelo de difusão/adoç..1.o de inovaçõcs, propoStO inicial-
A concepção de comunicação está associada ao uso dos meios, s0- me nte no seu livro Difllsao de iflOvações ( 1962) e rea(jrnlado e m
bretudo os impressos e o rádiO, seguidos pelos vídeos e audiovisuais. Comunicação de inovações (1971) . Fundonalista, ele s ima adoção
Os meios, ou seja, a "comunicaç;ío", apóiam o método de rrabalho de inovações como resultado da necessidad e de segurança pessoal e
baseado em visitas individuais e re uniÕCs . Há a modalidade de ~cam ­ social. Tal adoçio dar·se-ia num cOIl /imwm , no qual se poderia
panha", principalmente na área da saúde, com a difusão massiva de identificar três etapas : antecedentes (onde se considera a identidade
infonnação. Aqui e ali, surge m iniciativas que fogem desse padrão, do potencial "adotante" e sua pen:epção da situação); processo
mas não são re presentatiV"dS, pode ndo ser facilmente contabilizadas (centrado nas fontes de informação, que servem dec.stímulo ao indi-
c , se são apOntad:lS como exemplares de um nO\'o modo de fazer co- víduo); e resultados (adoção ou rejeição). Legitimando essas aborda-
municaç-.1o para o desenvolvimento, não conseguiram ainda se impor gens encontrava·se a Teoria da Modernizaçáo, de David Lerner, Que
como modelo. Um dos pressupostOS b{lSicos da prática comunicatiVoI localh:aV"..1 o problema da mudança em futores psicossociais .
é , pois, o da comunicação como infra~stru tura para as atividades de Berlo c Rogers levavam em conta que os receptores rinham
campo. O Outro é :mterior a este e relaciona-se à I.-uncepção de que a uma cultura própria - conheci mentos, valo res, experiências - e que
solução dos problemas d e desenvolvimenro encontr:l-se na comuni- isso não poderia ser ignorado, sob pena de fracasso dos o bjetivos da
cação, cujos instrumentos de vi:lbilizaçio e oper..lcionaJização são os comunicaçao. Decorre disso a ênfase na noção defeedback , que per-
me ios. Para entender melhor tais pressupostos e como eles se m:m- mi tiria 30 emiSSOr ajustar seus códigos ao receptor, criando mensa-
tt:m ou se articulam com outros, :uU:llmc nte, façamos uma análise re- gens facilmente d(.'Codificáveis. Mas essa clareza não evito u que
IrospecriV'"d Tf.."Cenle das idéias que dirigiram o curso da ação. Lembro tr:tbalhasscm basicamente com a intenção de indução ou persuasão,
que vou ater-me ao período compreendido emre os anos 70 e 90,
embora possa referir-me a discussõcs e propostas teóricas geradas
num lempo anterior. 9 Uma abordagem mais detalhad~ c..I:1..5 Jdéiu e modcl05 desses lIutores c s ua in-
Pode-se distinguir dois momentos mar<:'1.ntes em relação à co- f1u i': naa na orrens;;,o rural pode se r obtida em Friedrich.Já Sauqu<:t q ueo;tionõl
a r<:al influê ncla dos me!'1llOS sabn:: a pr:h k:a cxtcnsion isra, ... m a \'CO", (Iu<: Sr':fTIc,.
municação. O primeiro, cunhado pelo difusio nismo, tinha como Ih!lnte ti po d" poslUra c comport;J.mc m o poderia .ser obscfV'~do lambém e nln::
mentores basicamente dois n orte-americanos: David ncrta c Everen os Ittnicas rranceses, em seus lrablllhos dese n volvime ntiSlôlS na Árria o u na
Á.o;ia, e eles n~o le riam acesso aO!i teórH.'0"5 norte-arne ril:ll.nu5. Creio qu e aqui
ccrt;J.rne ntc ~e pode vo lt:lr a fal:lf" na to rÇll 1.105 par..digmas. lJ.crlo e Rog<:T5 n~o
siio e xemplos unlcos de aulO~S qu<: a §5imil~rnrtl um parndlgma c o co n\"<:rt e-
r~m em modelo~. Al é m da mais , c.~sa vi5~O parndigm:itja impregllava forte-
m<:llt e os estudos c recomendaçôcs da UNESCO. que cr~m vál idos para tado
mundo n:\o-descnvo lvid o e náo :;ó p.lrn a Améria utin:a. Haia viSta ao livro a-
8 As pr.itie:l5 <: moddos da comunicao;io na irea espc:cifica da s:lílde sio aborda· (ado de Sc.hramm. escrito par enoomen<b da própria UNESCO. eom :a finalida-
d os t':m R(lCha Pill:!. qu<: tr:lÇl um I»florama <..Tilico do sela r. de d e divu lgar mundialmente suas direltues.

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Jnenta Araujo

ções que os pcrnleiam e às tentativas de ruptura com o modo hege- Rogers.9 Berlo, a partir da Teoria da Info mlação e das teses de Skin-
mônico de pensar e agir. Mas é possível identificar aquilo que é ner, propõe um modelo no qual o o bjetivo é obter do recepror con-
dominante, que pode ser observado como regularidade, Que resiste e dutas desejáveis propostas pelo cmissor, mediante estímu los e
persiste a todas as iniciativas isoladas de muronça. mo ldagem de hábitos e comportame mos. Sofisticado, de aparência
Os ó rgios governamentais que :ltu:un no campo operam basica- d e mocrática - tanto por ver no receptor características iguais ao
meme com as áreas temáticas de pnxlução (agrícola e animal) e sau- emissor, como por incluir a noção de realimentação -, Serlo mar-
d e. Na primeir..l , podem ser incluídos associativismo e implanta- cou profundameme a noção do que consistiria o processo de comu-
ção/gestão de org:tniz:u;Õt!s prodmivas, além de lemas propriamente nicação, não só da extensão rural ofidal, mas também dos demais
agropastoris. A segunda engloba os remas rdativos a economia do- segmentos. Rogers foi o OUtro grande mentorda época, por intenné-
méstica, água e saneamento , prevenção e trat:unenlO de docnças .8 dio do modelo de difusão/adoç..1.o de inovaçõcs, propoStO inicial-
A concepção de comunicação está associada ao uso dos meios, s0- me nte no seu livro Difllsao de iflOvações ( 1962) e rea(jrnlado e m
bretudo os impressos e o rádiO, seguidos pelos vídeos e audiovisuais. Comunicação de inovações (1971) . Fundonalista, ele s ima adoção
Os meios, ou seja, a "comunicaç;ío", apóiam o método de rrabalho de inovações como resultado da necessidad e de segurança pessoal e
baseado em visitas individuais e re uniÕCs . Há a modalidade de ~cam ­ social. Tal adoçio dar·se-ia num cOIl /imwm , no qual se poderia
panha", principalmente na área da saúde, com a difusão massiva de identificar três etapas : antecedentes (onde se considera a identidade
infonnação. Aqui e ali, surge m iniciativas que fogem desse padrão, do potencial "adotante" e sua pen:epção da situação); processo
mas não são re presentatiV"dS, pode ndo ser facilmente contabilizadas (centrado nas fontes de informação, que servem dec.stímulo ao indi-
c , se são apOntad:lS como exemplares de um nO\'o modo de fazer co- víduo); e resultados (adoção ou rejeição). Legitimando essas aborda-
municaç-.1o para o desenvolvimento, não conseguiram ainda se impor gens encontrava·se a Teoria da Modernizaçáo, de David Lerner, Que
como modelo. Um dos pressupostOS b{lSicos da prática comunicatiVoI localh:aV"..1 o problema da mudança em futores psicossociais .
é , pois, o da comunicação como infra~stru tura para as atividades de Berlo c Rogers levavam em conta que os receptores rinham
campo. O Outro é :mterior a este e relaciona-se à I.-uncepção de que a uma cultura própria - conheci mentos, valo res, experiências - e que
solução dos problemas d e desenvolvimenro encontr:l-se na comuni- isso não poderia ser ignorado, sob pena de fracasso dos o bjetivos da
cação, cujos instrumentos de vi:lbilizaçio e oper..lcionaJização são os comunicaçao. Decorre disso a ênfase na noção defeedback , que per-
me ios. Para entender melhor tais pressupostos e como eles se m:m- mi tiria 30 emiSSOr ajustar seus códigos ao receptor, criando mensa-
tt:m ou se articulam com outros, :uU:llmc nte, façamos uma análise re- gens facilmente d(.'Codificáveis. Mas essa clareza não evito u que
IrospecriV'"d Tf.."Cenle das idéias que dirigiram o curso da ação. Lembro tr:tbalhasscm basicamente com a intenção de indução ou persuasão,
que vou ater-me ao período compreendido emre os anos 70 e 90,
embora possa referir-me a discussõcs e propostas teóricas geradas
num lempo anterior. 9 Uma abordagem mais detalhad~ c..I:1..5 Jdéiu e modcl05 desses lIutores c s ua in-
Pode-se distinguir dois momentos mar<:'1.ntes em relação à co- f1u i': naa na orrens;;,o rural pode se r obtida em Friedrich.Já Sauqu<:t q ueo;tionõl
a r<:al influê ncla dos me!'1llOS sabn:: a pr:h k:a cxtcnsion isra, ... m a \'CO", (Iu<: Sr':fTIc,.
municação. O primeiro, cunhado pelo difusio nismo, tinha como Ih!lnte ti po d" poslUra c comport;J.mc m o poderia .ser obscfV'~do lambém e nln::
mentores basicamente dois n orte-americanos: David ncrta c Everen os Ittnicas rranceses, em seus lrablllhos dese n volvime ntiSlôlS na Árria o u na
Á.o;ia, e eles n~o le riam acesso aO!i teórH.'0"5 norte-arne ril:ll.nu5. Creio qu e aqui
ccrt;J.rne ntc ~e pode vo lt:lr a fal:lf" na to rÇll 1.105 par..digmas. lJ.crlo e Rog<:T5 n~o
siio e xemplos unlcos de aulO~S qu<: a §5imil~rnrtl um parndlgma c o co n\"<:rt e-
r~m em modelo~. Al é m da mais , c.~sa vi5~O parndigm:itja impregllava forte-
m<:llt e os estudos c recomendaçôcs da UNESCO. que cr~m vál idos para tado
mundo n:\o-descnvo lvid o e náo :;ó p.lrn a Améria utin:a. Haia viSta ao livro a-
8 As pr.itie:l5 <: moddos da comunicao;io na irea espc:cifica da s:lílde sio aborda· (ado de Sc.hramm. escrito par enoomen<b da própria UNESCO. eom :a finalida-
d os t':m R(lCha Pill:!. qu<: tr:lÇl um I»florama <..Tilico do sela r. de d e divu lgar mundialmente suas direltues.

" "
I "ulta Araujo

de cond icio namento d o rL-cepror aos inte resses e o bje tivos pred efi- XOS, não foi assimil:lda, assi m como todas as V:lri:iveis que com poriam
nidos d a fo nte , que pod e ria m ser ape rfeiçoados media nte realime n- os "e feitos limit:tdos d a comunicação": os :lgen tes da p rática incor-
tação, mas não revistos o u mo dific:.dos segundo os interesses do porar.1m tâo só os e le me ntos ce ntrais do modelo , com suas inte r-re-
recepto r. Em seu s mod elos, o receptor é algué m com condutas inde- lações primárias.
sejáveis, que devem ser modificadas pela ação d o emissor e - o que é O segundo mome nto ve rifica·se na d écada de 80, com a abertur.l
imponante - pod e m ser modificadas . A visão social que está n a base política, quando se te nto u revisar os pressupostos da extensão ruraJ e
desses d o is a uto res é o rganiCiSta, sendo a sociedad e um conjunto d c re d efinir suas d i.re trizes. Q debate sobre a disjuntiva exte nsão/comu.
estruturas que inte r..gem funcionalme nte, por inte rméd io de rela· niC:lçâo não e ra mais novo, me nos no plano Inte rno do s is te ma, mais
ções causais e de mecanismos regulado res. no pl :mo acad ê mico e inte rnacional. Já em 1972 , a UNESCO passara a
O texto seguinte, extraíd o de um docume nto d e 1982 da re come ndar que a comunicaç.l o fosse vista como um processo "multi-
Empresa de Extensão RU r.ll d o Par.. n:í , "Meios e métodos de comuni· lateral" e o CIES I'AL - Cenuu Internacional d e Estudos Superiores de
cação rural", cxempUfica bem o quanto esses mode los determina- I'eriodismo paJ"3 :1 Amé rica Latina - pass:u-a a dar corpo, :ttravés d e
ram o mo do de e m e nder e fAZer a e xte nsão/comunicação rural. s u as o ficin as e seminários, à idéia da necessid :td e de particip:lç:tO dos
NQ~$l' objetili<O ê oh/I!r lima melhor eficácia "a extellsdQ nlral. Dl! tal for",a
camponeses e m todas as e tapas das ações com u nitárias, do pl:tneja.
que 1//1/ ",ímero crescei/ti! (Ie clientes da eX!I;,.sãu cO/l/pree,ula I! ael" te a men· me m o à avaliação. Nessa é poca, o de bate polít ico que se travava e m
sagem lll! mmumto dlt prodllllvidade JJQr prdllcas mais rac1t.)II,lis, ( ...) Não se tomo d os e fei tos e reações ao im perialismo tinha como um d e seu s ei.
Itsqlleçam IIImca do euetlclal: qlleo c/lell lecomprT!f!/ula e se delxeco/wimcer.
XOS:t q uestão ru ral, tanto pela importância das teses da refo mla agrá-
I'ara Isto, h6 os ml:todos. E.T/s/em os meios de comm'Icaç4o. que perm item
persmuliro cll/mte de/om," ",,,Is rápida e ' ficllZ. (.. ,) O Im portemte é o resl/l· ria qU:lntO por serem o campo C a política agricola espaços que
ladoJi"al, a adoçtJo de tecllologla ( ...). A. metodulogla Ilti/{Z(I</tl deve cOlldu. tom avam mais visíveis as te nta tiv-J.S hegc mô nicas d os países centr.. is. A
zir o {lmelmor n/ral a mustr(lr i' ltereSSI! na ad oçào ell! prdllcas Itllsillaelas.
(a/l 11(1 Sauquel: 25)
"transferência tecno lógica", conceito essencial de toda a p rática de ex-
te nsão rural, concentrava e exp rim ia tudo o que se combatia poUtica-
Cabe ainda uma referência ao modelo comunicativo do "Fluxo m e nte e contra ele m uitosc escreveu . Em 1968, Paulo Freire publicou
e m duas e ta pas", fonnulado por Uizarsfeld e m 1944 e desenvolvido seu clássico Extensão ou conJtmicaçãoi' Q UlI"OS auto res, como Luís
depois amplame nte por Me n o n, Katz. Kla pper, Howland c o u rros, Beltrán eJuan Bordenave, insistiam e m ale n ar p arA a inviabilidade, a
que co nferia relevo ao papel do mediador no processo da comun iCl- inconveniê ncia e comprometimentOS ideológicos d o modelo chbisico
ção. Segundo e le, entre o e missor e o receptor, afetando a recepç.'io extensionista e m vigor. No entanto , é só em meados dos anos 80 que
d a me nsagem, haveria a fil,.'Ura de u m intermed iário , geralme nte o "li- su rgem no próprio sis te ma condições de se falar sobre isto. Além d e
d e r de opinião", d ando-se o p rocesso e m do is passos: d a fo me para O alg umas d issen açóes de mestrado levad as a cabo por algu ns técnicos
mL-diador e deste para o recep tor. Esse modelo foi fundame ntal para a extcnsionis tas, duas publicações d evem ser me nciOnad as como muito
adoç:io do método de trabalho de fonnação de lide ranças comunitá rias. represen tativas.
p rocurando-se através delas atingir as demais pessoas. Na prática, O Ií· Em 1987, o docume nto "A comunicação na extensão ru ral: fun-
d e r fu ncio naria como u m meio de adequar as mensagens ao repenó- d a mentos e diretrizes operacio n ais" , resu ltame d e um ciclo de semi.
riu lingüístico c c ulruraJ do público, aume ntando o índice de ná rios ocorrido no Sis te ma Embr.u'e r, que visavam ajustar a prática
aedtação/adoçáo d as inovaçõcs propoStas. de comunicação às m ud a nças que se tentava operar na e mpresa, d is-
Inreressantc é nOtar que uma d as pri nci pais contribuições d es· corre sobre a nova visão d a extensão rural ,
se modelo à com p reensão d os mecani smos de fun ciona mc nro da co· ( ... ) l'I!rdeldeirmmmle demacrdllca 1/ po/lular. Uma ER que j amais esqu~'C.. que
m u nicação - a "dclinição d a situação comunicativa" - , conceito q ue a melhoria d(~s C'(J,,~liçóesde Irabalbo e devida das famílias rurais só I: possl.
localiza os processos comunicativos sob par.lmetros sociais com pie- vel com a redwrlblllrdu da riqlle.::a. (Ia renda e do fXJde r em "ossa sociedade.
Um(I ER que se ellgaja selll qualquer lIacilaçào no processo de RefQml(l AgrA.

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I "ulta Araujo

de cond icio namento d o rL-cepror aos inte resses e o bje tivos pred efi- XOS, não foi assimil:lda, assi m como todas as V:lri:iveis que com poriam
nidos d a fo nte , que pod e ria m ser ape rfeiçoados media nte realime n- os "e feitos limit:tdos d a comunicação": os :lgen tes da p rática incor-
tação, mas não revistos o u mo dific:.dos segundo os interesses do porar.1m tâo só os e le me ntos ce ntrais do modelo , com suas inte r-re-
recepto r. Em seu s mod elos, o receptor é algué m com condutas inde- lações primárias.
sejáveis, que devem ser modificadas pela ação d o emissor e - o que é O segundo mome nto ve rifica·se na d écada de 80, com a abertur.l
imponante - pod e m ser modificadas . A visão social que está n a base política, quando se te nto u revisar os pressupostos da extensão ruraJ e
desses d o is a uto res é o rganiCiSta, sendo a sociedad e um conjunto d c re d efinir suas d i.re trizes. Q debate sobre a disjuntiva exte nsão/comu.
estruturas que inte r..gem funcionalme nte, por inte rméd io de rela· niC:lçâo não e ra mais novo, me nos no plano Inte rno do s is te ma, mais
ções causais e de mecanismos regulado res. no pl :mo acad ê mico e inte rnacional. Já em 1972 , a UNESCO passara a
O texto seguinte, extraíd o de um docume nto d e 1982 da re come ndar que a comunicaç.l o fosse vista como um processo "multi-
Empresa de Extensão RU r.ll d o Par.. n:í , "Meios e métodos de comuni· lateral" e o CIES I'AL - Cenuu Internacional d e Estudos Superiores de
cação rural", cxempUfica bem o quanto esses mode los determina- I'eriodismo paJ"3 :1 Amé rica Latina - pass:u-a a dar corpo, :ttravés d e
ram o mo do de e m e nder e fAZer a e xte nsão/comunicação rural. s u as o ficin as e seminários, à idéia da necessid :td e de particip:lç:tO dos
NQ~$l' objetili<O ê oh/I!r lima melhor eficácia "a extellsdQ nlral. Dl! tal for",a
camponeses e m todas as e tapas das ações com u nitárias, do pl:tneja.
que 1//1/ ",ímero crescei/ti! (Ie clientes da eX!I;,.sãu cO/l/pree,ula I! ael" te a men· me m o à avaliação. Nessa é poca, o de bate polít ico que se travava e m
sagem lll! mmumto dlt prodllllvidade JJQr prdllcas mais rac1t.)II,lis, ( ...) Não se tomo d os e fei tos e reações ao im perialismo tinha como um d e seu s ei.
Itsqlleçam IIImca do euetlclal: qlleo c/lell lecomprT!f!/ula e se delxeco/wimcer.
XOS:t q uestão ru ral, tanto pela importância das teses da refo mla agrá-
I'ara Isto, h6 os ml:todos. E.T/s/em os meios de comm'Icaç4o. que perm item
persmuliro cll/mte de/om," ",,,Is rápida e ' ficllZ. (.. ,) O Im portemte é o resl/l· ria qU:lntO por serem o campo C a política agricola espaços que
ladoJi"al, a adoçtJo de tecllologla ( ...). A. metodulogla Ilti/{Z(I</tl deve cOlldu. tom avam mais visíveis as te nta tiv-J.S hegc mô nicas d os países centr.. is. A
zir o {lmelmor n/ral a mustr(lr i' ltereSSI! na ad oçào ell! prdllcas Itllsillaelas.
(a/l 11(1 Sauquel: 25)
"transferência tecno lógica", conceito essencial de toda a p rática de ex-
te nsão rural, concentrava e exp rim ia tudo o que se combatia poUtica-
Cabe ainda uma referência ao modelo comunicativo do "Fluxo m e nte e contra ele m uitosc escreveu . Em 1968, Paulo Freire publicou
e m duas e ta pas", fonnulado por Uizarsfeld e m 1944 e desenvolvido seu clássico Extensão ou conJtmicaçãoi' Q UlI"OS auto res, como Luís
depois amplame nte por Me n o n, Katz. Kla pper, Howland c o u rros, Beltrán eJuan Bordenave, insistiam e m ale n ar p arA a inviabilidade, a
que co nferia relevo ao papel do mediador no processo da comun iCl- inconveniê ncia e comprometimentOS ideológicos d o modelo chbisico
ção. Segundo e le, entre o e missor e o receptor, afetando a recepç.'io extensionista e m vigor. No entanto , é só em meados dos anos 80 que
d a me nsagem, haveria a fil,.'Ura de u m intermed iário , geralme nte o "li- su rgem no próprio sis te ma condições de se falar sobre isto. Além d e
d e r de opinião", d ando-se o p rocesso e m do is passos: d a fo me para O alg umas d issen açóes de mestrado levad as a cabo por algu ns técnicos
mL-diador e deste para o recep tor. Esse modelo foi fundame ntal para a extcnsionis tas, duas publicações d evem ser me nciOnad as como muito
adoç:io do método de trabalho de fonnação de lide ranças comunitá rias. represen tativas.
p rocurando-se através delas atingir as demais pessoas. Na prática, O Ií· Em 1987, o docume nto "A comunicação na extensão ru ral: fun-
d e r fu ncio naria como u m meio de adequar as mensagens ao repenó- d a mentos e diretrizes operacio n ais" , resu ltame d e um ciclo de semi.
riu lingüístico c c ulruraJ do público, aume ntando o índice de ná rios ocorrido no Sis te ma Embr.u'e r, que visavam ajustar a prática
aedtação/adoçáo d as inovaçõcs propoStas. de comunicação às m ud a nças que se tentava operar na e mpresa, d is-
Inreressantc é nOtar que uma d as pri nci pais contribuições d es· corre sobre a nova visão d a extensão rural ,
se modelo à com p reensão d os mecani smos de fun ciona mc nro da co· ( ... ) l'I!rdeldeirmmmle demacrdllca 1/ po/lular. Uma ER que j amais esqu~'C.. que
m u nicação - a "dclinição d a situação comunicativa" - , conceito q ue a melhoria d(~s C'(J,,~liçóesde Irabalbo e devida das famílias rurais só I: possl.
localiza os processos comunicativos sob par.lmetros sociais com pie- vel com a redwrlblllrdu da riqlle.::a. (Ia renda e do fXJde r em "ossa sociedade.
Um(I ER que se ellgaja selll qualquer lIacilaçào no processo de RefQml(l AgrA.

" "
ria, 110 fortallXim~tltO dcfu mulS orgu nizacio nais" aSSOC/(l(i~'(ls dos agriclIl-
/orl'S, (I/,e mel/OS têm tillv L'ae /;uz IIUS espaços IXOI/õmlros, s()Cioocollf)lIIicm
A o utra publicação, de 1988, é a brochura Comunicação ruml;
~ sociQPQ/itlcos. Que ousadame,,/e aceita relJellsar sua eXIJerlé"cia d e traba· proposição critica d e lima nova con cepção, de Odilo Friedrich, téc"
lho com as 1ll111bere$ cjorJells rurais, segmelltos clIlturalmCl/te Qprimldos, /lU nico da Embratt!r. Nela, O :tuto r de nuncia o car.1tcr ideológico das teo-
illtcrlor mesmo dasfmfiks eXc/llidus tluslHmeftcios da chml/u(la modemlzu-
fdo (/a agr/c/l llllra ( ... ). (p . 13· 14)
rias que dão sustenraç:"to à extensão rural, analisa as práticas vigentes
e p ropõe um novo modelo, qu e ele deno mino u "humanis ta", repro,
Com referência à concepção de Educação, preconiza que du zid o a seguir:
... li mediallle a /X,rtlclpaçdo (fue Ul'xrrc{(u u reflexiiQ.. o mciocíllio, tI in/e/I_
gêll citf, II imagillllçt'lo e a crlllt/,;ldad e freme aos problemas do sistema (11/-
produ çdo I' das rela ç6cs sueill/s. Cbegar·se-á, assim, à COllllmialçàa dialOgl·
ca, I'SS(hICiu ,lul'dllcaçtiv e, por amsegu /" t". da E.·dellsão NI/ral.

E propõe uma comunicação que, en tre outros requisitos,


/lÚO mais udmila o rl'/aciollamelltQ l'l/m:aclollal !'{lo p rofeswr -sabe lIulo " .
o almlO "/gl/ orame ,I" rell/ldade '. A relação elllre educa/lor e educam/" pas-
sa a ser ,lo tipo horim lllal. centrado ti O/liálogo entro slljt!l/os e /liio 110 "' 0116-
logu do prufeuor (mjfdto, ativo e agellle) freI/te ao "/"" 0 (ubjf!/o . recip/tmlf!.
pau/tlQ e o,wl"te). (p. 16)

Reconhece que
Iltt'i!I1/Os em 11m" lCC/eda(le (Qm IIIf~rc:ssesco'if1itmllc:s quc adut" "" 1 modelo
I
de deSel//lU/llim ellfO /lU1/(ulu para u eflc/6rICla em de/r/mellfo da cqiiltltltle.
Nesse modelo, /lmfl m/' lO r/lI sol/dif/cll scus /III eresses IIU medida em que im -
IX>e (Ortt ;/IImmellle seus IlUlores e busco malller i,,,II/I1(all<, sIm situação huSe-
mÓ/lICQ, cmllrarlal/(Io UI ;I/teress!!s dOI U1s me,lIos majuritár/os da lCC/!!l/ade.
A roml/lt/caçiiu, assim comu loda Extl.',/Sl1u RI/rui, fax parte tio cm rjlllllO tle
mecmliSl1los de slls/ellf(lçâu desses imeres.sn, q,,(lIldo atua re/urçalldo mUC/1l-
los de dl/-sel/vo/"imeUlO IlIjustm e (Wlcelllrado,f!$,

e afirma que
( ...) " 6.-tellstlo Il .. ra/ tem culldiçõef de assumir lima postUr(l que resulte
II/Imll comullicaçao dl"/68ica, crilica, fH'Ntctptlf;t.'U, prublc:matizadol"a, bu-
ma,,/,'" c: (Jucstit)tlatJora, comprometida (um a eqtiitlmJ!! e ,,110 ape'uls com
U c:1.w açãollll prod/tçiioe ~prodl/tivtdadeftsica. Em SIl/1/(I, lima postura '1'le
resgate a /mpurtallcill ,Jus meios de cQIl/lm/ctlçtlo tiOpT"QCes$o de cOlIscienl iza· .~
çiio dus agricullUres e " 0 apoio ti sua at/vlllm/c prorlllUI/tl, II/samlQ ti me/ho-
ria efet/IXI das cu",UÇ6l'I de "Ida dos qlle trabalham a terra c geram riquczas.
( p . 22) J
A razão da ênfase c espaço que d o u aos te rmos desse d ocume n-
tO é o f,HO de eles, além d e ilustrarem perfeitame nte a tentativa de r:l -
zer funcio n:u o sistema so b um par.tdigma oposto ao anterio r - que
fica bem caracterizado por sua denegação explícita - , expressarem
com fidelid ade o discurso d as ONGs, grupos da Igreja. e de sero res d~l
extensão univel"Sitária.

60 61
ria, 110 fortallXim~tltO dcfu mulS orgu nizacio nais" aSSOC/(l(i~'(ls dos agriclIl-
/orl'S, (I/,e mel/OS têm tillv L'ae /;uz IIUS espaços IXOI/õmlros, s()Cioocollf)lIIicm
A o utra publicação, de 1988, é a brochura Comunicação ruml;
~ sociQPQ/itlcos. Que ousadame,,/e aceita relJellsar sua eXIJerlé"cia d e traba· proposição critica d e lima nova con cepção, de Odilo Friedrich, téc"
lho com as 1ll111bere$ cjorJells rurais, segmelltos clIlturalmCl/te Qprimldos, /lU nico da Embratt!r. Nela, O :tuto r de nuncia o car.1tcr ideológico das teo-
illtcrlor mesmo dasfmfiks eXc/llidus tluslHmeftcios da chml/u(la modemlzu-
fdo (/a agr/c/l llllra ( ... ). (p . 13· 14)
rias que dão sustenraç:"to à extensão rural, analisa as práticas vigentes
e p ropõe um novo modelo, qu e ele deno mino u "humanis ta", repro,
Com referência à concepção de Educação, preconiza que du zid o a seguir:
... li mediallle a /X,rtlclpaçdo (fue Ul'xrrc{(u u reflexiiQ.. o mciocíllio, tI in/e/I_
gêll citf, II imagillllçt'lo e a crlllt/,;ldad e freme aos problemas do sistema (11/-
produ çdo I' das rela ç6cs sueill/s. Cbegar·se-á, assim, à COllllmialçàa dialOgl·
ca, I'SS(hICiu ,lul'dllcaçtiv e, por amsegu /" t". da E.·dellsão NI/ral.

E propõe uma comunicação que, en tre outros requisitos,


/lÚO mais udmila o rl'/aciollamelltQ l'l/m:aclollal !'{lo p rofeswr -sabe lIulo " .
o almlO "/gl/ orame ,I" rell/ldade '. A relação elllre educa/lor e educam/" pas-
sa a ser ,lo tipo horim lllal. centrado ti O/liálogo entro slljt!l/os e /liio 110 "' 0116-
logu do prufeuor (mjfdto, ativo e agellle) freI/te ao "/"" 0 (ubjf!/o . recip/tmlf!.
pau/tlQ e o,wl"te). (p. 16)

Reconhece que
Iltt'i!I1/Os em 11m" lCC/eda(le (Qm IIIf~rc:ssesco'if1itmllc:s quc adut" "" 1 modelo
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de deSel//lU/llim ellfO /lU1/(ulu para u eflc/6rICla em de/r/mellfo da cqiiltltltle.
Nesse modelo, /lmfl m/' lO r/lI sol/dif/cll scus /III eresses IIU medida em que im -
IX>e (Ortt ;/IImmellle seus IlUlores e busco malller i,,,II/I1(all<, sIm situação huSe-
mÓ/lICQ, cmllrarlal/(Io UI ;I/teress!!s dOI U1s me,lIos majuritár/os da lCC/!!l/ade.
A roml/lt/caçiiu, assim comu loda Extl.',/Sl1u RI/rui, fax parte tio cm rjlllllO tle
mecmliSl1los de slls/ellf(lçâu desses imeres.sn, q,,(lIldo atua re/urçalldo mUC/1l-
los de dl/-sel/vo/"imeUlO IlIjustm e (Wlcelllrado,f!$,

e afirma que
( ...) " 6.-tellstlo Il .. ra/ tem culldiçõef de assumir lima postUr(l que resulte
II/Imll comullicaçao dl"/68ica, crilica, fH'Ntctptlf;t.'U, prublc:matizadol"a, bu-
ma,,/,'" c: (Jucstit)tlatJora, comprometida (um a eqtiitlmJ!! e ,,110 ape'uls com
U c:1.w açãollll prod/tçiioe ~prodl/tivtdadeftsica. Em SIl/1/(I, lima postura '1'le
resgate a /mpurtallcill ,Jus meios de cQIl/lm/ctlçtlo tiOpT"QCes$o de cOlIscienl iza· .~
çiio dus agricullUres e " 0 apoio ti sua at/vlllm/c prorlllUI/tl, II/samlQ ti me/ho-
ria efet/IXI das cu",UÇ6l'I de "Ida dos qlle trabalham a terra c geram riquczas.
( p . 22) J
A razão da ênfase c espaço que d o u aos te rmos desse d ocume n-
tO é o f,HO de eles, além d e ilustrarem perfeitame nte a tentativa de r:l -
zer funcio n:u o sistema so b um par.tdigma oposto ao anterio r - que
fica bem caracterizado por sua denegação explícita - , expressarem
com fidelid ade o discurso d as ONGs, grupos da Igreja. e de sero res d~l
extensão univel"Sitária.

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fnnilaArm;jo

o dlsclI ~s(} da classe dom inaute, ao absorver cerlal cara Clurlslfcus do II/QI';'
É fáci l perceber que é um mod elo idealista, o ricnt'ado pelo obje- memo popular, pW'o Prll>"llrtlu r Slms privilégios, ou/arma lle ficufullll lflllo tias
tivo de interação e (Iue se articula ('cnda como pressuposto a conju n- roluÇÕf!s de produçdo e da pt!1lf!lraçiiQ I! I!;>-pa llsdo do capitalism o ' w cam po,
ção dc interesses e ntre extensio nistas e camponeses. Por o utro lado, com li Sllburdllluçiio ,los trabalbadores 11 pequl!m)s produ/ores rJlt"(lls ao.s i,,-
tcrcss/'$ do cap/wlismo, cQ/ocO/ldo-os a servi ço dOI mmple;>"OS agruiluJustriais.
excl ui os o utros agentes sociaiS, os O UltOS discursos, as relações de (idem)
poder; exclui, e nfim, o cenário social e m que tal e ncont'ro deveria
acontecer, além d e trazer imp lícita a idéia de que o sujeito domina Havia uma certe7.3 teórica de que erol possível provocar mudan-
p lenamente seu discuCSQ, de fomu a-histórica e descontt:..xrualizada. ças de fund o n a socied ade a partir da aplicação desses no\'os mode-
Em contraposição, O discurso d o primeiro documento mostra-se los, daí inclusive a deno minação ge nérica que receberam : modelos
impregnado por uma interpretação dialético-marxista da realidade, de transformação eSl"nllural . Mas, como d iz. Oliveint. (1988: 45),
m:lI"Cada pela luta de classes, que não deixa opção à Extensão: ou ela "suas práticas não passaram de pequenos 'focos ' no mapa das ações
está do lado dos opressores o u dos o primidos. Nas concepções d e institucionais". As causas disto podem ser localizadas no âmhilo in-
educação e comunicação, é clara a influ~ n cia das leses de I'aulo Frei- u; rno dos sis temas - Cl.'iO mais ca.f"dcteristico das agê ncias o fi ciais de
re, apontando-se o diilogo problematizador COmo única escolha do desenvolvimento , mas também nas deficiências dos pró prios mode-
"novo extensionista". Mas na seção dedicada às recomendaçôes de or- los, como será visto mais adiante.
dem pr.ítica, a ~ nfase absoluta recai sobre a política de edição da A extensão rural no Brasil não é pratic:ula apenas pelas e mpresas
Embrater e , em segu ndo plano, sobre o uso do vídeo e é aí que se per- ligadas até 1990 ao Sistema Embrater. IOMencionei seus d ot:lIll1t=ntos
cebe o peso d a noção instrumental da comunicação. O empenho em e fundamentação teórica porque fo i e la quem mais s istem atizou e
aperfeiçoar o s istema de edição de materiais demo nstra, por o utro expôs suas concepçõe.... e diretrizes para 3 comunicaç:l0 e produziu
lado , a persisl~ nci a da idéia de que a eficácia d a comunicaçáo repousa análises da sua prática. Alé m disso, os d ocumentos são representati-
na qualidade técnica d as men... agens (voltamos a Shan no n & Weaver) vos das práticas e concepções d e o U[ros núcleos oficiais que d esen-
e na adequação dos códigos das mensagens aos receptores (voltamos vo l\'em e/ou implantam políticas públicas (no meio rural, mas nâo só
:I Geria). Indo mais além : evide ncia a concepção de que os mareriais nele), que se fora m constituindo e se moldando à sua image m e se-
d e comunicaç-.io seriam neutros ideologicamente: a ideologia estaria melh:lnça. ll Os diversos ó rgãos estaduais e federai s de desenvolvi-
somente nas relaçôes sociais. mento lêm seus técnicos de campo e seus pro gramas de extensão,
Documentos como esse, contrapostos à pr.ítica ainda hoje vi- ainda q ue vinculados a projetos determinad os e ainda que :tSsim não
gente, são indiC'.tdores de como O debate crítico que se esrabeleceu queiram se deno minar. O Ministério da Agricultura, Abastecimento e
nos anos 70, sob forte influência dos marxismos gramsciano e althus- Refonna Agrária tem na sua estrutura um Departame nto de Assistên-
seriano c da Escola de Frankfurt, foi incorporado apenas no nível re- cia Técnica e Extens:io Runtl, que fo menta ações de extensão em
tó rico, não d eLxanclo maiores conseqüências . Poder-se-ia mesmo
afirmar que, ao inverso, fun ciOno u como um freio ou obstácu lo às tO O SiSte ma fui desa tivado no inicio do governo Collor, sob a a leg:lção de não
mudanças. Marangón (1994: 6-7) menciona as inúmer:ts tentativas au:ndcr aO!! pcqucnOl!' I>r(xlulorc::s e ser dispcnshd ao.~ gr.mdeS. Alguns dos
de os extensio nisms"sc inscreve re m e m movimentos popu lares e se nlkleos ~5laduais - Emalcr - dt.~p;o~..:~r:t>m . o ulmS fo nm c nca mp;ldos petos
g()\'Crnrn; c~rndu~ i5.
aliare m aos legítimos interesses d as comunidades, atuando por meio
I1 No Cõlmpo da sa\td~, \"Crifica·sc u m /x)(NrI 1l.'1.'t"ntc cm tomo de rdlo:ôes críti<::u c
das práticas p:lrtici pativas d os re feridos movimentos" e que foram prupost;lli sobn: os modelos e práticas de oomu n ~âo, embor.l n:io direcionado
abortadas pelas críticas, tania externas quanto de d e ntro d o s istema. pnra a in lt,.'1'Vt;nçio ...~pcl.1fiCl no meio rum!. Nos tCldosci!'O.llanleS, podc-se.: Itlcnlili·
Críticas que se fundamentavam no mesmo referencial teórico que as car principalmentc O par.uJigm~ cnlt:rgcnte dM políticas públ ica.'l associ:ulas ~o
direito de cidadania, com cnrasc no direito :l in ro nn:u;áo. Mas a pr:hiC:l dom l·
propostas de reformulaçõcs, entre o utras a de que aquele era nanlo: ainda é nOMeada pelos mc:smos moc.lcJOS deScritO!! cm rd:r.çio:l :r.grIC\lI·
lun, inclu indo:> proouc,;:io de m:>leri:r.is edUCJ livos d e IOfina ccntr:l li7.:r.da. e m
larga csc:tl.a e distnbuld05 como paCOtes a tooU:lS rcgiÕCli.

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fnnilaArm;jo

o dlsclI ~s(} da classe dom inaute, ao absorver cerlal cara Clurlslfcus do II/QI';'
É fáci l perceber que é um mod elo idealista, o ricnt'ado pelo obje- memo popular, pW'o Prll>"llrtlu r Slms privilégios, ou/arma lle ficufullll lflllo tias
tivo de interação e (Iue se articula ('cnda como pressuposto a conju n- roluÇÕf!s de produçdo e da pt!1lf!lraçiiQ I! I!;>-pa llsdo do capitalism o ' w cam po,
ção dc interesses e ntre extensio nistas e camponeses. Por o utro lado, com li Sllburdllluçiio ,los trabalbadores 11 pequl!m)s produ/ores rJlt"(lls ao.s i,,-
tcrcss/'$ do cap/wlismo, cQ/ocO/ldo-os a servi ço dOI mmple;>"OS agruiluJustriais.
excl ui os o utros agentes sociaiS, os O UltOS discursos, as relações de (idem)
poder; exclui, e nfim, o cenário social e m que tal e ncont'ro deveria
acontecer, além d e trazer imp lícita a idéia de que o sujeito domina Havia uma certe7.3 teórica de que erol possível provocar mudan-
p lenamente seu discuCSQ, de fomu a-histórica e descontt:..xrualizada. ças de fund o n a socied ade a partir da aplicação desses no\'os mode-
Em contraposição, O discurso d o primeiro documento mostra-se los, daí inclusive a deno minação ge nérica que receberam : modelos
impregnado por uma interpretação dialético-marxista da realidade, de transformação eSl"nllural . Mas, como d iz. Oliveint. (1988: 45),
m:lI"Cada pela luta de classes, que não deixa opção à Extensão: ou ela "suas práticas não passaram de pequenos 'focos ' no mapa das ações
está do lado dos opressores o u dos o primidos. Nas concepções d e institucionais". As causas disto podem ser localizadas no âmhilo in-
educação e comunicação, é clara a influ~ n cia das leses de I'aulo Frei- u; rno dos sis temas - Cl.'iO mais ca.f"dcteristico das agê ncias o fi ciais de
re, apontando-se o diilogo problematizador COmo única escolha do desenvolvimento , mas também nas deficiências dos pró prios mode-
"novo extensionista". Mas na seção dedicada às recomendaçôes de or- los, como será visto mais adiante.
dem pr.ítica, a ~ nfase absoluta recai sobre a política de edição da A extensão rural no Brasil não é pratic:ula apenas pelas e mpresas
Embrater e , em segu ndo plano, sobre o uso do vídeo e é aí que se per- ligadas até 1990 ao Sistema Embrater. IOMencionei seus d ot:lIll1t=ntos
cebe o peso d a noção instrumental da comunicação. O empenho em e fundamentação teórica porque fo i e la quem mais s istem atizou e
aperfeiçoar o s istema de edição de materiais demo nstra, por o utro expôs suas concepçõe.... e diretrizes para 3 comunicaç:l0 e produziu
lado , a persisl~ nci a da idéia de que a eficácia d a comunicaçáo repousa análises da sua prática. Alé m disso, os d ocumentos são representati-
na qualidade técnica d as men... agens (voltamos a Shan no n & Weaver) vos das práticas e concepções d e o U[ros núcleos oficiais que d esen-
e na adequação dos códigos das mensagens aos receptores (voltamos vo l\'em e/ou implantam políticas públicas (no meio rural, mas nâo só
:I Geria). Indo mais além : evide ncia a concepção de que os mareriais nele), que se fora m constituindo e se moldando à sua image m e se-
d e comunicaç-.io seriam neutros ideologicamente: a ideologia estaria melh:lnça. ll Os diversos ó rgãos estaduais e federai s de desenvolvi-
somente nas relaçôes sociais. mento lêm seus técnicos de campo e seus pro gramas de extensão,
Documentos como esse, contrapostos à pr.ítica ainda hoje vi- ainda q ue vinculados a projetos determinad os e ainda que :tSsim não
gente, são indiC'.tdores de como O debate crítico que se esrabeleceu queiram se deno minar. O Ministério da Agricultura, Abastecimento e
nos anos 70, sob forte influência dos marxismos gramsciano e althus- Refonna Agrária tem na sua estrutura um Departame nto de Assistên-
seriano c da Escola de Frankfurt, foi incorporado apenas no nível re- cia Técnica e Extens:io Runtl, que fo menta ações de extensão em
tó rico, não d eLxanclo maiores conseqüências . Poder-se-ia mesmo
afirmar que, ao inverso, fun ciOno u como um freio ou obstácu lo às tO O SiSte ma fui desa tivado no inicio do governo Collor, sob a a leg:lção de não
mudanças. Marangón (1994: 6-7) menciona as inúmer:ts tentativas au:ndcr aO!! pcqucnOl!' I>r(xlulorc::s e ser dispcnshd ao.~ gr.mdeS. Alguns dos
de os extensio nisms"sc inscreve re m e m movimentos popu lares e se nlkleos ~5laduais - Emalcr - dt.~p;o~..:~r:t>m . o ulmS fo nm c nca mp;ldos petos
g()\'Crnrn; c~rndu~ i5.
aliare m aos legítimos interesses d as comunidades, atuando por meio
I1 No Cõlmpo da sa\td~, \"Crifica·sc u m /x)(NrI 1l.'1.'t"ntc cm tomo de rdlo:ôes críti<::u c
das práticas p:lrtici pativas d os re feridos movimentos" e que foram prupost;lli sobn: os modelos e práticas de oomu n ~âo, embor.l n:io direcionado
abortadas pelas críticas, tania externas quanto de d e ntro d o s istema. pnra a in lt,.'1'Vt;nçio ...~pcl.1fiCl no meio rum!. Nos tCldosci!'O.llanleS, podc-se.: Itlcnlili·
Críticas que se fundamentavam no mesmo referencial teórico que as car principalmentc O par.uJigm~ cnlt:rgcnte dM políticas públ ica.'l associ:ulas ~o
direito de cidadania, com cnrasc no direito :l in ro nn:u;áo. Mas a pr:hiC:l dom l·
propostas de reformulaçõcs, entre o utras a de que aquele era nanlo: ainda é nOMeada pelos mc:smos moc.lcJOS deScritO!! cm rd:r.çio:l :r.grIC\lI·
lun, inclu indo:> proouc,;:io de m:>leri:r.is edUCJ livos d e IOfina ccntr:l li7.:r.da. e m
larga csc:tl.a e distnbuld05 como paCOtes a tooU:lS rcgiÕCli.

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"
todo país. inclusive d e organismos privados. Já o Ministério d a Saúde [e resses, co ntradições, diSputas por hegemonias, as mesmas que
fo menta nos eS1"ados açõcs denominadas d e lEC - Info rmação, Edu- sâo ide ntificadas na sociedade e que estas não se d esfaze m por d e-
cação e Comunicação que, com algumas e."I(ceções, são tipicamente creto; ui:s, que, em que pese a visão de processo, a comunicação
extensio nis tas. continu:t sendo tratada de fo rma mecanicis ta e instrume ntal. O fatO
A título d e ilustrAção, ci to trt.-chos d o trabalho apresentado no I de adOlar como um dos o bje tivos a "conscientização" d os agriculto-
Seminário de ComunicaÇ"".lo Ruml da Universidade Federal de Viçosa res, o u de insistir no canít"er dialógico e panicipativo da comunica-
_ UFV ( 1994) por um membro do Centro de Comunicaçáo do ção, se por um lado s ignifica um avanço em te rmos poLíticos, por
CAT1,tSecrctaria d e Agricultura de São Paulo, um d os maiores e mais o utro lado, no plano comunicativo, ajuda a esc.llnotear a manuten -
bem.aparelhados do país e que nunca integrou o sistema Emb ....Atcr. ção d aqu ele que talvez seja O maiorobst:ículo a uma real transforma-
( ... ) bis/em várltu recursos, o COllfa/O direto com o agric/ll/ora/rauh <Ie ,,1st·
çâo do cenário da exten são e d a Comunicação Rural : o paradigma
tas, numl(jes. /HIleslrar, dlas-de-c:am]JfJ, demo"straçóes de ml lOOo, "Idros lingüístico, com seu subp roduto da visão de comunicação como es-
educmllJQS, il rformespara.ftJnlals, relJisfas e emissoras de rmlio, eU;. A utiliza· paço d e harmonia e interação, no qual me ios e fo rmas sâo neutros
çlfo d esses recursos delle ser adeqluuJa a cada situação. tmllSj(Jnnundo-se em
tl/Stnlmelltojaclll/ador da traflsjerimciu de feCJIo/"gfll.
ideologicamente.

E mais adiante :
Orgall lzaçiiet Nâo-GQ,.'cmQmcII/(Ils (ONG$)
o prime Iro /HIsso 1 allaflsar o que o agriculto r já tem de c"nhecimrm/o c, a
/HIrtlr tial, / wllltlll/elltar a 110110 j'ifonnoçdo.w /ocllologla que se quer ("cor.
/J(Jra r. ( ...) Se/or dlfldl eO/lVellcê·lo, "Jemonslre a ele. Para isso, exlstcm os re·
, ,,rsotja dttuloJ: llltls-tle·campu, ptl/eSlrus, vídeos, ele. (Par.mhos. 1<1 : Anais
o termo ONG f.J.rn referê ncia, :tqui , às organizações de caráter
do Scmlnário, 11 ().. 111) privado que têm como objetivo mais amplo favorecer ou criar condi·
ções para a mudança social, contrapondo-se às atuaiS hegemonias
É JUStamente na prática atual de comu nicação runtl, perfeita· nos campos político, cu lrur.u ou econõ mico. Posicio nam·se em geral
me nte descrita nesse trecho , que pode mo s avaliar a persiS tência da a favor d as mino rias ou d as maio rias sile nciad as e tend em a trabalhar
formação paradigmática calcada na Teoria da Info rmação, reforçada com os segmentos d a população que estão e m d esvantagem social.
pela noção funcionaliSl3 d e sociedade e bchaviorista do comporta- Mais especificame nte, ONG des igna, neSte lCXtO, a rração d esse uni-
menlO huma.no e legitimada por uma concepçâo d e linguagem que verso que desenvo h'e seu s trabalhos jUntO à população rural.
se e ntranha c pcrmc ia sub-repticiamente todo esse campo de idéias: As ONGs fo rmam um núcleo discu rsivo dos mais expressivos
o d a língua como repertório de códigos com sentido preestabeleci- no cenário analisado. Emhora !'>f'j:. compoSIO por unidades com inte_
do, à disposição d o us uário para suas necessidades d e comu n ica- resSt..'S e áreas temáticas os mais d iversos, tiver:tm até po uco tempo
ção - visão sincrõ nica, a-histórica, apolítica, que conduz à idéia de s u a unidade social garantida pela posição negativa que assumem
um receptor passivo e acrílico. Fo m13ção paradigmá tica que insisle frenle aos órgãos go\'ername nta i s~ a panir mesmo de su a autodeno-
em se mante r, embo ra disfarçada por uma retórica crítica. dialé tica, minação. Tendo surgido e se afirmado como uma reação da socieda-
humanista o u revolucio nária . Formação paradigmática capaz de re- de civil frente à atuação ine fi caz e/o u indesejada de um EstadO que
sistir às te mativas bem·i ntencio nadas de alguns dirigentes e mem- re prese ntaria o s interesses das çI ,tSses dominantes , as ONGs caracte-
bros d os corpos tt!cnicos, cujos esforços não parecem d ar-se conta rizaram-se po r um discu rso marcado pela perspectiva da solidarieda-
de pelo me nos t rês ângulos da quest:i.o que dificultam o processo de social, da justiça, da redistribuição das riquezas nacionais, da
d esejado de mudança. Um , que todos os s istemas o ficiais d e exte n· igualdade d e direitos. Nesse contexto, a comunicação fo i sempre tr:1-
são o u d e comunicação para o desenvolvimento integram o aparato tada como mecanismo de apoio à consecuç:i.o dos o bjetivos inStitucio-
ideológico do Estad o e , portamo , correspondem a interesses bem nais, não logrando obter o mesmo estatuto das demais áreas d o

.
d efin id os ; d o is. que inte rnamente a cada s is tema h á uma luta d e in-

"
todo país. inclusive d e organismos privados. Já o Ministério d a Saúde [e resses, co ntradições, diSputas por hegemonias, as mesmas que
fo menta nos eS1"ados açõcs denominadas d e lEC - Info rmação, Edu- sâo ide ntificadas na sociedade e que estas não se d esfaze m por d e-
cação e Comunicação que, com algumas e."I(ceções, são tipicamente creto; ui:s, que, em que pese a visão de processo, a comunicação
extensio nis tas. continu:t sendo tratada de fo rma mecanicis ta e instrume ntal. O fatO
A título d e ilustrAção, ci to trt.-chos d o trabalho apresentado no I de adOlar como um dos o bje tivos a "conscientização" d os agriculto-
Seminário de ComunicaÇ"".lo Ruml da Universidade Federal de Viçosa res, o u de insistir no canít"er dialógico e panicipativo da comunica-
_ UFV ( 1994) por um membro do Centro de Comunicaçáo do ção, se por um lado s ignifica um avanço em te rmos poLíticos, por
CAT1,tSecrctaria d e Agricultura de São Paulo, um d os maiores e mais o utro lado, no plano comunicativo, ajuda a esc.llnotear a manuten -
bem.aparelhados do país e que nunca integrou o sistema Emb ....Atcr. ção d aqu ele que talvez seja O maiorobst:ículo a uma real transforma-
( ... ) bis/em várltu recursos, o COllfa/O direto com o agric/ll/ora/rauh <Ie ,,1st·
çâo do cenário da exten são e d a Comunicação Rural : o paradigma
tas, numl(jes. /HIleslrar, dlas-de-c:am]JfJ, demo"straçóes de ml lOOo, "Idros lingüístico, com seu subp roduto da visão de comunicação como es-
educmllJQS, il rformespara.ftJnlals, relJisfas e emissoras de rmlio, eU;. A utiliza· paço d e harmonia e interação, no qual me ios e fo rmas sâo neutros
çlfo d esses recursos delle ser adeqluuJa a cada situação. tmllSj(Jnnundo-se em
tl/Stnlmelltojaclll/ador da traflsjerimciu de feCJIo/"gfll.
ideologicamente.

E mais adiante :
Orgall lzaçiiet Nâo-GQ,.'cmQmcII/(Ils (ONG$)
o prime Iro /HIsso 1 allaflsar o que o agriculto r já tem de c"nhecimrm/o c, a
/HIrtlr tial, / wllltlll/elltar a 110110 j'ifonnoçdo.w /ocllologla que se quer ("cor.
/J(Jra r. ( ...) Se/or dlfldl eO/lVellcê·lo, "Jemonslre a ele. Para isso, exlstcm os re·
, ,,rsotja dttuloJ: llltls-tle·campu, ptl/eSlrus, vídeos, ele. (Par.mhos. 1<1 : Anais
o termo ONG f.J.rn referê ncia, :tqui , às organizações de caráter
do Scmlnário, 11 ().. 111) privado que têm como objetivo mais amplo favorecer ou criar condi·
ções para a mudança social, contrapondo-se às atuaiS hegemonias
É JUStamente na prática atual de comu nicação runtl, perfeita· nos campos político, cu lrur.u ou econõ mico. Posicio nam·se em geral
me nte descrita nesse trecho , que pode mo s avaliar a persiS tência da a favor d as mino rias ou d as maio rias sile nciad as e tend em a trabalhar
formação paradigmática calcada na Teoria da Info rmação, reforçada com os segmentos d a população que estão e m d esvantagem social.
pela noção funcionaliSl3 d e sociedade e bchaviorista do comporta- Mais especificame nte, ONG des igna, neSte lCXtO, a rração d esse uni-
menlO huma.no e legitimada por uma concepçâo d e linguagem que verso que desenvo h'e seu s trabalhos jUntO à população rural.
se e ntranha c pcrmc ia sub-repticiamente todo esse campo de idéias: As ONGs fo rmam um núcleo discu rsivo dos mais expressivos
o d a língua como repertório de códigos com sentido preestabeleci- no cenário analisado. Emhora !'>f'j:. compoSIO por unidades com inte_
do, à disposição d o us uário para suas necessidades d e comu n ica- resSt..'S e áreas temáticas os mais d iversos, tiver:tm até po uco tempo
ção - visão sincrõ nica, a-histórica, apolítica, que conduz à idéia de s u a unidade social garantida pela posição negativa que assumem
um receptor passivo e acrílico. Fo m13ção paradigmá tica que insisle frenle aos órgãos go\'ername nta i s~ a panir mesmo de su a autodeno-
em se mante r, embo ra disfarçada por uma retórica crítica. dialé tica, minação. Tendo surgido e se afirmado como uma reação da socieda-
humanista o u revolucio nária . Formação paradigmática capaz de re- de civil frente à atuação ine fi caz e/o u indesejada de um EstadO que
sistir às te mativas bem·i ntencio nadas de alguns dirigentes e mem- re prese ntaria o s interesses das çI ,tSses dominantes , as ONGs caracte-
bros d os corpos tt!cnicos, cujos esforços não parecem d ar-se conta rizaram-se po r um discu rso marcado pela perspectiva da solidarieda-
de pelo me nos t rês ângulos da quest:i.o que dificultam o processo de social, da justiça, da redistribuição das riquezas nacionais, da
d esejado de mudança. Um , que todos os s istemas o ficiais d e exte n· igualdade d e direitos. Nesse contexto, a comunicação fo i sempre tr:1-
são o u d e comunicação para o desenvolvimento integram o aparato tada como mecanismo de apoio à consecuç:i.o dos o bjetivos inStitucio-
ideológico do Estad o e , portamo , correspondem a interesses bem nais, não logrando obter o mesmo estatuto das demais áreas d o

.
d efin id os ; d o is. que inte rnamente a cada s is tema h á uma luta d e in-

"
I m'sltaAraújo

conhecimento. Daí O pouco ou nenhum espaço dado aos seus pro- cunstanciais, nas ONGs, tal discurso é constitutivo da própria mística
fissionais , em geral convocados pam a produção de materiais especí- institucional. E, se no sistema oficial de extensão a contr.tdição é s6
ficos ou para a capacitação pontuaJ das equipes técnicas. 12 aparente, exatamente pelo discurso ser apenas produto das boas in-
O pressuposto básico da atividade comunicativa é a superação tenções de uma minoria, nas ONGs ela se caracteriza como contradi-
do dilema entre objetivos e área geográfica, em geral superdimensio- ção lógica, no sentido da incompatibilidade entre raclocínioe ação.
nados, e a pouca disponibilidade de pessoal, frente às melas e prazos Para entender melhor essa contrddição, teríamos que ir buscá-Ia
estabelecidos . Meios e métodos de comunicação são pensados como mais fundo, no conjunto das COncepções, discursos e práticas das
reforço à tarefa de provocar mudanças sociais, disseminando em maior ONGs, procurando identificar ali as bases par-ddigmáticas que possibi-
escala propostas , análises, informações, tecnologias, denúncias, pa- litam a adoção de dererminados modelos d e comunicação. Lembro
lavras de ordem, que idealmente seriam realizadas no trabalho "cor- que os anos 90 são de crise e transição, o que desestabiliza e obriga a
po-a-corpo", através da comunicação interpessoal, quase sempre relarivizar constatações e afirmações que até poucos anos atrás tinham
consubstanciada em " reuniões". caráter soberano. Nos meios ';onguianos" , fala-se muito em um "vazio
Os temas abordados pelas ONGs podem ser classificados em: de paradigmas". Mesmo aceitando a procedênCia da constatação _ até
pol.íticas públicas, questão agr:.í.ria, direitos humanos, produção e porque náo está em meu alcance verificá-Ia no mo mento -, levanto a
tecnologia (incluindo gestão e comercialização) , mulher e criança, hipótese de que os antigos par-ddigmas não foram ainda descanados.
saúde, meio ambiente e formação política e sindical, temas que rara- Eles se manifestariam nas estratégias de comunicação e nas marcas do
mente são tratados de forma isolada. As ações situam-se, de uma for- discurso institucional dirigido aos C'J.mponeses. A descrição que se se-
ma ger:.tl, nos âmbitos de: apoio à organização sociaJ e política; gue diz respeito a um passado recentíssimo, que ainda não pode ser
fornlação de lideranças; defesa d os dire itos; incentivo e apoio à orga- desconsiderado quando se passa ao plano da influência sobre as pr,íti-
nização econômico-produtiva; organização comunitária e democr'J.- cas de comunicação.
mação da informação. Quanto aos meios utilizados, os impressos Po r circunstâncias histÓricas que dirigiram o curso d as idéias e
são os preferidos, seguidos pelo rádio. A produção de vídeos cresce moldaram a formação teórica dos membros das organizações de as-
rapidamente, embora não corresponda a um concomitante incre- sessoria nas três últimas décadas, 13 estes assimilaram paradigmas e
mento na utilização. Nos processos de capacitação - presentes na maio- modelos de ação que, de certa forma, Contrapõem-se, não só teórica
ria das ações -, recorre-se ao uso de cartazes, diapositivos, vídeos, músi- como ideologicamente.
ca e dr.unatizações, entre outros. O primeiro desses paradigmas, que é também o mais visível,
As ONGs aprescnt.un uma similitude com os organismos oficiais por ter s ido verbaJizado no discurso individuaJ e insritucional. é sem
em relação à comunicação, que se localiza na dificuldade de compa- dúvida o conflitual. Até há pouco tempo, manifestava-se sob a forma
ribilizar discurso e prática. Embora não costu me m expressar sua po- úo discurso dialético·marxista. Na análise socioeconômica e política,
sição teórica e ideológica sobre a comunicação em documentos as ONGs utilizavam amplamente conceitos como "modo e relações
como o da Embrater, se o fizessem os termos seriam muito pareci- de produçao", "mais-valia", "reproduçao da força de trabalho",
dos, porém com um diferenciaJ importante : se aquele corresponde a '"base" e "superestrutura", "campesinato", "'classe" e seus derivados
uma posição isolada de um grupo de técnicos e aJguns dirigentes cir- "consciência e lura de classes", "'contradição", "burguesia", "autoges-

Mcncionaria como mais rclc\Olmc:s a militância politic~. as diretrizes imernaclo-


"
Estou falando em tennos genls. AlgumaS exce ções fonm possibilitadas por di-
rigentes que perceberam 3 necess it.iade de mudar a ótica, lnn~ndo a eomuni·
cação como algo m31s SiS t';mico ou processual e que, acol hemlu n()vólS fOnll:l!'l
" nai.-l p:U-d uma na..-d ordem CCOflÕmic:t e de comunicaç:i.o, os movimentos amhien.
talist.1 e alternativo, o debate sobre tecnologias ólprop riadas t'l!T"Sll S modernas c a
de pensar e agir. contribuíram decisi\Olmemc para a emers;io d3S questõe s fOrmação acadêmica - em geral no campo da.s ciência.s humanas , :lgronórnlC'd~
Ou biológicas.

..
aqui lCamdas .

"
I m'sltaAraújo

conhecimento. Daí O pouco ou nenhum espaço dado aos seus pro- cunstanciais, nas ONGs, tal discurso é constitutivo da própria mística
fissionais , em geral convocados pam a produção de materiais especí- institucional. E, se no sistema oficial de extensão a contr.tdição é s6
ficos ou para a capacitação pontuaJ das equipes técnicas. 12 aparente, exatamente pelo discurso ser apenas produto das boas in-
O pressuposto básico da atividade comunicativa é a superação tenções de uma minoria, nas ONGs ela se caracteriza como contradi-
do dilema entre objetivos e área geográfica, em geral superdimensio- ção lógica, no sentido da incompatibilidade entre raclocínioe ação.
nados, e a pouca disponibilidade de pessoal, frente às melas e prazos Para entender melhor essa contrddição, teríamos que ir buscá-Ia
estabelecidos . Meios e métodos de comunicação são pensados como mais fundo, no conjunto das COncepções, discursos e práticas das
reforço à tarefa de provocar mudanças sociais, disseminando em maior ONGs, procurando identificar ali as bases par-ddigmáticas que possibi-
escala propostas , análises, informações, tecnologias, denúncias, pa- litam a adoção de dererminados modelos d e comunicação. Lembro
lavras de ordem, que idealmente seriam realizadas no trabalho "cor- que os anos 90 são de crise e transição, o que desestabiliza e obriga a
po-a-corpo", através da comunicação interpessoal, quase sempre relarivizar constatações e afirmações que até poucos anos atrás tinham
consubstanciada em " reuniões". caráter soberano. Nos meios ';onguianos" , fala-se muito em um "vazio
Os temas abordados pelas ONGs podem ser classificados em: de paradigmas". Mesmo aceitando a procedênCia da constatação _ até
pol.íticas públicas, questão agr:.í.ria, direitos humanos, produção e porque náo está em meu alcance verificá-Ia no mo mento -, levanto a
tecnologia (incluindo gestão e comercialização) , mulher e criança, hipótese de que os antigos par-ddigmas não foram ainda descanados.
saúde, meio ambiente e formação política e sindical, temas que rara- Eles se manifestariam nas estratégias de comunicação e nas marcas do
mente são tratados de forma isolada. As ações situam-se, de uma for- discurso institucional dirigido aos C'J.mponeses. A descrição que se se-
ma ger:.tl, nos âmbitos de: apoio à organização sociaJ e política; gue diz respeito a um passado recentíssimo, que ainda não pode ser
fornlação de lideranças; defesa d os dire itos; incentivo e apoio à orga- desconsiderado quando se passa ao plano da influência sobre as pr,íti-
nização econômico-produtiva; organização comunitária e democr'J.- cas de comunicação.
mação da informação. Quanto aos meios utilizados, os impressos Po r circunstâncias histÓricas que dirigiram o curso d as idéias e
são os preferidos, seguidos pelo rádio. A produção de vídeos cresce moldaram a formação teórica dos membros das organizações de as-
rapidamente, embora não corresponda a um concomitante incre- sessoria nas três últimas décadas, 13 estes assimilaram paradigmas e
mento na utilização. Nos processos de capacitação - presentes na maio- modelos de ação que, de certa forma, Contrapõem-se, não só teórica
ria das ações -, recorre-se ao uso de cartazes, diapositivos, vídeos, músi- como ideologicamente.
ca e dr.unatizações, entre outros. O primeiro desses paradigmas, que é também o mais visível,
As ONGs aprescnt.un uma similitude com os organismos oficiais por ter s ido verbaJizado no discurso individuaJ e insritucional. é sem
em relação à comunicação, que se localiza na dificuldade de compa- dúvida o conflitual. Até há pouco tempo, manifestava-se sob a forma
ribilizar discurso e prática. Embora não costu me m expressar sua po- úo discurso dialético·marxista. Na análise socioeconômica e política,
sição teórica e ideológica sobre a comunicação em documentos as ONGs utilizavam amplamente conceitos como "modo e relações
como o da Embrater, se o fizessem os termos seriam muito pareci- de produçao", "mais-valia", "reproduçao da força de trabalho",
dos, porém com um diferenciaJ importante : se aquele corresponde a '"base" e "superestrutura", "campesinato", "'classe" e seus derivados
uma posição isolada de um grupo de técnicos e aJguns dirigentes cir- "consciência e lura de classes", "'contradição", "burguesia", "autoges-

Mcncionaria como mais rclc\Olmc:s a militância politic~. as diretrizes imernaclo-


"
Estou falando em tennos genls. AlgumaS exce ções fonm possibilitadas por di-
rigentes que perceberam 3 necess it.iade de mudar a ótica, lnn~ndo a eomuni·
cação como algo m31s SiS t';mico ou processual e que, acol hemlu n()vólS fOnll:l!'l
" nai.-l p:U-d uma na..-d ordem CCOflÕmic:t e de comunicaç:i.o, os movimentos amhien.
talist.1 e alternativo, o debate sobre tecnologias ólprop riadas t'l!T"Sll S modernas c a
de pensar e agir. contribuíram decisi\Olmemc para a emers;io d3S questõe s fOrmação acadêmica - em geral no campo da.s ciência.s humanas , :lgronórnlC'd~
Ou biológicas.

..
aqui lCamdas .

"
(ttcs /la Araújo

tão" e "ideologia". A crença externadaera a de que o conflito, as con- o bj e tivos. Atualmente, verifica-se um deslocamento nas categorias
tradições e a luta d e classes move riam historicameme a humanidade contempladas nas avaliações, m ais por exigência das organizações
no semido de uma sociedade na qua l predominassem os valores doadoras de recurso d o que por convicçóes d os "onguianos". Os v-.t-
igualitários. No atual momento, a lg uns desse,~ conc~it~S f~~dm ,:1:- lores atuais são eficiência, eficácia e efetivid ade, pró prios do modelo
tivizados e acrescentados o utros, como os de excl Uldo e c ldad ao , liberal e retomados pelo neolibemlismo .
d e ntro de uma linha ora dominante de preocupação com as po líticas Portanto, mesmo considemndo as mudanças que estão se ope·
públicas. O paradigma pe rmanece o conflitual , recon hece~se que há rando no universo conceituaJ das ONGs, podem os afirmar que te·
desníveis e conflitos , mas estes devem ser resolvid os pela \'ta do Esta- mos dois gntndes paradigmas d as ciências sociais ali imbricados, o
do moderador, isto é, pelas políticas públicas. conflitual e o funcion alista, direcionando o rumo das reflexões, esta-
No e ntanto, a utilização d esse marco conceitual de fundo ficava belecendo os parâmetros da ação e determinando os critérios da ava-
restrita aos limites da análise macrossocial, além d e constituir a base liação. A estes, somam·se outros parâmetros conce ituais, específi cos
do discurso veiculado nos processos de capacitaçao e nos m e ios de de cada opção tem ática , e m geral associados ao g rande paradigma
comunicação. Quando p assavam ao p lano m icrossocial, isto é, no conflitual. Assim , as ONGs que atuam na área da tecnologia agrope-
âmbito interno dos grupos espeóficos com que trabalha m , ocorria cuária incorporam os p ressu postos da agroecologia, as que militam
uma mudança sensível, passando a valer as referências teóricas ~o em saúde o pe ram com os fundamentos dos direitos d e cidada nia, as
paradigma estruturo·funcionalista. No planejamento ~ ~mpl antaçao que se dedicam à organização d as mulheres adicionam modelos pró-
das estratégias d e ação, deixavam transparecer uma vlsao d o corpo prios das relações d e genero, etc. Essas visões pamdigmáticas refle-
social com o um sistema estruturado e funcional , no qual cada pane te m -se na análise da questão específica da comunicação, assim como
da estrutura relaciona·se funcionalme nte com as demais, send o as nos modelos comunicativos adotad os.
divergências vistas como disfun ções ameaçadoras à unidade do siste- Sendo p rod uto de um movime nto social d e reação a um Estado
ma. Nesse quadro, localizam-se o estímulo às numerosas modalida· au tori tário e o bjetivando , e n tre o u tras coisas, combater os e fe itos
des de organização comunitária, como clu bes de máes, grupos de perversos de uma modernização capitalista desumanizante e exclu-
jovens, g rupos de saúde, associações de produtores e o utraS, no.s dente, as ONGs adotaram , marcadamente nos anos 80 e 90, a noção
quais a coesão e o consenso são valores estimu lados . U~ a,outra . att. humanista e dia lógica de comunicação proposta por Paulo Freire e
rude resultante dessa concepção d e funcionamento SOCial e cans.de· consolidada pela Igreja nos anos 70, atr.tvés das Comunidades Ecle-
r.ar indesejável o elemento individual ou coletivo que nao responda siais de Base. O c aminho dificilmente teria s ido outro: havia a histó·
positivamente aos estímlllos oferecidos . ria pessoal de e ngajame nto político de seus membros. que de uma
Quando , ao fin a l de um período de trabalho , re~avam u~na forma o u outra tinham participado d o debate nacional sobre as polí·
avaliação, as ONGs comumente utilizav:.\m , para o plano m lcros.sOClal, ticas alte rnativas de comunicação; havia a necessidade de compatibi.
categorias d o mais puro positi\'ismo e mpirista, ou seja, as relatlv-dS ao lizar a discussão que se processava, no plano tecnológico, e m torno
progresso e evolução observável e quantificável. Buscava~ , no entan· de procedimentos alternativos às p ráticas e modelos hegemô nicos; c
to, aferir conquist:ls no plano das relações d esses microsslstem.as ~o m havia a oposição explícita ao modo de-pensar e agir das agências o fi·
o sistem a sociopolítico-económico mais amplo, e n tendidas prmclpal- ciais de desenvolvimenlo, Po r fim , havia a estreita vinculação com os
m e nte como vitórias políticas da classe trabalhadora conrra a hege- núcleos discursivos da Igreja Católica Progressista, para quem a co·
m onia das classes do m inantes. E, mais ai nda, na contabilidade geral m unicação dialógica era a essência d o seu modo d e agir.
d as perdas e ganhos, e ram as categorias dialéticas e os o~jetivOs ~e Mas. se essas eram algumas coordenadas do cenário que as
cu nho político.id eológico que pesavam mais. As estratégl~ de açao ONGs construíram e se conseguiram modelar o discu rso institucio-
e ram confrontadas, em última análise, com essas categonas e esses nal sobre a comunicação, havia outras, que se mostrJr.lffi mais sóli·

.. ..
(ttcs /la Araújo

tão" e "ideologia". A crença externadaera a de que o conflito, as con- o bj e tivos. Atualmente, verifica-se um deslocamento nas categorias
tradições e a luta d e classes move riam historicameme a humanidade contempladas nas avaliações, m ais por exigência das organizações
no semido de uma sociedade na qua l predominassem os valores doadoras de recurso d o que por convicçóes d os "onguianos". Os v-.t-
igualitários. No atual momento, a lg uns desse,~ conc~it~S f~~dm ,:1:- lores atuais são eficiência, eficácia e efetivid ade, pró prios do modelo
tivizados e acrescentados o utros, como os de excl Uldo e c ldad ao , liberal e retomados pelo neolibemlismo .
d e ntro de uma linha ora dominante de preocupação com as po líticas Portanto, mesmo considemndo as mudanças que estão se ope·
públicas. O paradigma pe rmanece o conflitual , recon hece~se que há rando no universo conceituaJ das ONGs, podem os afirmar que te·
desníveis e conflitos , mas estes devem ser resolvid os pela \'ta do Esta- mos dois gntndes paradigmas d as ciências sociais ali imbricados, o
do moderador, isto é, pelas políticas públicas. conflitual e o funcion alista, direcionando o rumo das reflexões, esta-
No e ntanto, a utilização d esse marco conceitual de fundo ficava belecendo os parâmetros da ação e determinando os critérios da ava-
restrita aos limites da análise macrossocial, além d e constituir a base liação. A estes, somam·se outros parâmetros conce ituais, específi cos
do discurso veiculado nos processos de capacitaçao e nos m e ios de de cada opção tem ática , e m geral associados ao g rande paradigma
comunicação. Quando p assavam ao p lano m icrossocial, isto é, no conflitual. Assim , as ONGs que atuam na área da tecnologia agrope-
âmbito interno dos grupos espeóficos com que trabalha m , ocorria cuária incorporam os p ressu postos da agroecologia, as que militam
uma mudança sensível, passando a valer as referências teóricas ~o em saúde o pe ram com os fundamentos dos direitos d e cidada nia, as
paradigma estruturo·funcionalista. No planejamento ~ ~mpl antaçao que se dedicam à organização d as mulheres adicionam modelos pró-
das estratégias d e ação, deixavam transparecer uma vlsao d o corpo prios das relações d e genero, etc. Essas visões pamdigmáticas refle-
social com o um sistema estruturado e funcional , no qual cada pane te m -se na análise da questão específica da comunicação, assim como
da estrutura relaciona·se funcionalme nte com as demais, send o as nos modelos comunicativos adotad os.
divergências vistas como disfun ções ameaçadoras à unidade do siste- Sendo p rod uto de um movime nto social d e reação a um Estado
ma. Nesse quadro, localizam-se o estímulo às numerosas modalida· au tori tário e o bjetivando , e n tre o u tras coisas, combater os e fe itos
des de organização comunitária, como clu bes de máes, grupos de perversos de uma modernização capitalista desumanizante e exclu-
jovens, g rupos de saúde, associações de produtores e o utraS, no.s dente, as ONGs adotaram , marcadamente nos anos 80 e 90, a noção
quais a coesão e o consenso são valores estimu lados . U~ a,outra . att. humanista e dia lógica de comunicação proposta por Paulo Freire e
rude resultante dessa concepção d e funcionamento SOCial e cans.de· consolidada pela Igreja nos anos 70, atr.tvés das Comunidades Ecle-
r.ar indesejável o elemento individual ou coletivo que nao responda siais de Base. O c aminho dificilmente teria s ido outro: havia a histó·
positivamente aos estímlllos oferecidos . ria pessoal de e ngajame nto político de seus membros. que de uma
Quando , ao fin a l de um período de trabalho , re~avam u~na forma o u outra tinham participado d o debate nacional sobre as polí·
avaliação, as ONGs comumente utilizav:.\m , para o plano m lcros.sOClal, ticas alte rnativas de comunicação; havia a necessidade de compatibi.
categorias d o mais puro positi\'ismo e mpirista, ou seja, as relatlv-dS ao lizar a discussão que se processava, no plano tecnológico, e m torno
progresso e evolução observável e quantificável. Buscava~ , no entan· de procedimentos alternativos às p ráticas e modelos hegemô nicos; c
to, aferir conquist:ls no plano das relações d esses microsslstem.as ~o m havia a oposição explícita ao modo de-pensar e agir das agências o fi·
o sistem a sociopolítico-económico mais amplo, e n tendidas prmclpal- ciais de desenvolvimenlo, Po r fim , havia a estreita vinculação com os
m e nte como vitórias políticas da classe trabalhadora conrra a hege- núcleos discursivos da Igreja Católica Progressista, para quem a co·
m onia das classes do m inantes. E, mais ai nda, na contabilidade geral m unicação dialógica era a essência d o seu modo d e agir.
d as perdas e ganhos, e ram as categorias dialéticas e os o~jetivOs ~e Mas. se essas eram algumas coordenadas do cenário que as
cu nho político.id eológico que pesavam mais. As estratégl~ de açao ONGs construíram e se conseguiram modelar o discu rso institucio-
e ram confrontadas, em última análise, com essas categonas e esses nal sobre a comunicação, havia outras, que se mostrJr.lffi mais sóli·

.. ..
P~"lura C/u. SIW IIlIurme diwrsldade é u pomo d ói partida para Indicar
das e mais eficazes no jogo das relaçócs de fo rça entre dois grandes quaIS o/Il~n/(Ilwas tknlco s a /lmIF'r. C/li que ritmo, com que eSlrat4:lo.
mode los de ação, im pondo-se à prática. Estas foram, principalmen-
te, a fo rmação teó rica dos dirigentes e dos profissionais da comun i- Indo mais além : nos vários momemos de capacitação que te-
cação, mo ldada nos anos 70. e a pouca openlcionalidade do mooelo nho coorde nado, no âmb ito das ONGs, ao lançar a pergunta: "o que
dialógico de comunicação frente aos objetivos urgemes das ONGs de é comunicação?", obten ho as respostas m ais diversificadas, aparen-
fazer funcio nar um novo ti po de sociedade, que incl u ía propoStas t:tndo provirem de diversas concepções. A um exa lll C mais alento
tecnológicas, políticas. econô micas e sociais. Acrescente-se ;, isto a porém, é possível identificar alguns e lementos comuns a todos: u~
dificuldade do modelo dialógico em se libertar dos pressupostOS da emissor, ao qual cabe a in iciativa, atento às caracteristicas sociais e
Teoria da Informação, o que acabava por criar uma séria contradição Cu lturais do seu público e que tem a intenção de intervir na realida-
interna; enquanto se p ropunha respeitar e panir do conhecime nto de Social; um receptor, dono d e um repenó rio cultu ral e Lingüístico,
do inte rlocuto r, a eficácia do modelo residia na compatibilização ao qual assiste o direito (re lativo) de panicipação no processo de co-
(ideológica, cxperiencial e vocabu lar) entre os códigos de emissor e municação e do qual se espera receptividade às propoStas do emis.
receptor, que garantisse uma compreensão adequada e livrc de ru í- sor; uma mensagem, ajustada às poSSibi lidades de deco dificação do
dos do que se queria comunicar. Tal contradição provocou o surgi- receptor e que tam bém pode provir d este receptor, desde que con-
memo e uso intensivo de expressões como "levar conscicnt"ização", formada nos parâmetros do emissor; um canal, adequado às possibl-
"mostrar a realidade social", "fazer refl etir sobre", "dar o direito de", lid ~des institucionais C/ou às características culturdis d o receptor.
"permitir o acesso à info rmação" , "possibilitar a panicipação", etc., Unmdo estes e1emenros, aparece a concepção de comunicação como
com aparê ncia muito dialógica, mas que reproduziam O esquema bá- processo de interação, d e encontro, de fusão de interesses comuns.
sico, unidir<..'Cional e amoritário (ou paternalista) do emissor - men- Ao se pedir aos meSmos grupos uma análise d os meios de co-
sagem - receptor. mu nicação na sociedade, ouve·se um discurso sobre a indústria cul.
Os poucos documentos existentes sobre comunicação tr:tduzem tura~ - frAgmento mais conhecido da Teoria Crítica _ justifictdo pela
essa tensão constante entre modos de perceber a prática comu nicati- noçao de que cad a ind ivíduo é d iretame nte aferado pelas mensagens
va. To memos como exemplo o texto Experiências das organizações da mídia, mostrando-se indefeso diante delas: se estiver ao alcance
fllio-gu/Jernamenta is em cOlmmfcaçào na transferência de tecnolo- da me nsagem, será atingido. A análise é conclu ída, quase sempre ,
gias alternativas (Von der Weid, 1987) , cuia tíru lo já é um posicio- por uma apologia da democratização d os meios massivos de comu-
namento dentro do modelo difusion ista. Na página 2, lemos , a nicação, entendida apenas como o acesso ao con trole dos canais de
respeilo da polít ica modernizantc do regime militar: rá~ i o e TV, com o obietivo de interferir no sistcm:1 fie informaçao c
Os meamumos /ltil~os 110 pl"OC~Uo liDO foram prl"clpalm~lItil us da co-
veicular mensagens compromet idas com o "in teresse popular".
rmmicaçõo _ Q que implica em CQ' JI)I;mclmetlto ou persuasãu - ma.s os do co"s- O lliando por o urro ãngu lo , o das prátic-As e materiais que con-
Ir·(u tgimellto. s u bstanciam a intenção de se ":o municar, o que enco ntramos?
1) uma estratégia centrada na C""apacitaç:io fonnal e info nnal:
E, na página 5, sobre suas próprias ações;
cursos, treinamentos, estágios, vis itas e reuniões de variados tipos;
/SIO Implica lia ;rlserçiJo de /Im IrabatlxJ li" d/fusão d~ 1er:tIQlogIa profimda- 2) uma opção pr~ferenci:tI por meios de comunicação que pos-
meti/e IJlllculollQ (lOS mml lmetltos sociais 110 campo ( ... ).
sam atingi r um maior número de pessoas.
Logo e m seguida, porém , afirma : Ambos, capacitação c meios de comunicação, veiculam COnteú-
dos de natureza técnica (saúde, agricultura, etc.), organlzativa e polí-
Ol/tro aspecto deQpçrJurlas ONGs- riem sempreadotadojxJr tQflos, ~ IICrdadl!
- foi Q de respeitar o "saber poplllar~, os conher:iml!tltus aculllular/us /XiI" prd- tica (estas duas incluindo aspectos socioeconõmicos) .
tlM emp/rlca dos peqUl!rl()S IJrodIIfOres, bem como Slla 11IIeligblcla e capacl-
(l a(l e criadura. ( ...) Compr~lIdllr (l dim}mica social e prudlltlt..a dos /Xq/tllllOS

70 TI
P~"lura C/u. SIW IIlIurme diwrsldade é u pomo d ói partida para Indicar
das e mais eficazes no jogo das relaçócs de fo rça entre dois grandes quaIS o/Il~n/(Ilwas tknlco s a /lmIF'r. C/li que ritmo, com que eSlrat4:lo.
mode los de ação, im pondo-se à prática. Estas foram, principalmen-
te, a fo rmação teó rica dos dirigentes e dos profissionais da comun i- Indo mais além : nos vários momemos de capacitação que te-
cação, mo ldada nos anos 70. e a pouca openlcionalidade do mooelo nho coorde nado, no âmb ito das ONGs, ao lançar a pergunta: "o que
dialógico de comunicação frente aos objetivos urgemes das ONGs de é comunicação?", obten ho as respostas m ais diversificadas, aparen-
fazer funcio nar um novo ti po de sociedade, que incl u ía propoStas t:tndo provirem de diversas concepções. A um exa lll C mais alento
tecnológicas, políticas. econô micas e sociais. Acrescente-se ;, isto a porém, é possível identificar alguns e lementos comuns a todos: u~
dificuldade do modelo dialógico em se libertar dos pressupostOS da emissor, ao qual cabe a in iciativa, atento às caracteristicas sociais e
Teoria da Informação, o que acabava por criar uma séria contradição Cu lturais do seu público e que tem a intenção de intervir na realida-
interna; enquanto se p ropunha respeitar e panir do conhecime nto de Social; um receptor, dono d e um repenó rio cultu ral e Lingüístico,
do inte rlocuto r, a eficácia do modelo residia na compatibilização ao qual assiste o direito (re lativo) de panicipação no processo de co-
(ideológica, cxperiencial e vocabu lar) entre os códigos de emissor e municação e do qual se espera receptividade às propoStas do emis.
receptor, que garantisse uma compreensão adequada e livrc de ru í- sor; uma mensagem, ajustada às poSSibi lidades de deco dificação do
dos do que se queria comunicar. Tal contradição provocou o surgi- receptor e que tam bém pode provir d este receptor, desde que con-
memo e uso intensivo de expressões como "levar conscicnt"ização", formada nos parâmetros do emissor; um canal, adequado às possibl-
"mostrar a realidade social", "fazer refl etir sobre", "dar o direito de", lid ~des institucionais C/ou às características culturdis d o receptor.
"permitir o acesso à info rmação" , "possibilitar a panicipação", etc., Unmdo estes e1emenros, aparece a concepção de comunicação como
com aparê ncia muito dialógica, mas que reproduziam O esquema bá- processo de interação, d e encontro, de fusão de interesses comuns.
sico, unidir<..'Cional e amoritário (ou paternalista) do emissor - men- Ao se pedir aos meSmos grupos uma análise d os meios de co-
sagem - receptor. mu nicação na sociedade, ouve·se um discurso sobre a indústria cul.
Os poucos documentos existentes sobre comunicação tr:tduzem tura~ - frAgmento mais conhecido da Teoria Crítica _ justifictdo pela
essa tensão constante entre modos de perceber a prática comu nicati- noçao de que cad a ind ivíduo é d iretame nte aferado pelas mensagens
va. To memos como exemplo o texto Experiências das organizações da mídia, mostrando-se indefeso diante delas: se estiver ao alcance
fllio-gu/Jernamenta is em cOlmmfcaçào na transferência de tecnolo- da me nsagem, será atingido. A análise é conclu ída, quase sempre ,
gias alternativas (Von der Weid, 1987) , cuia tíru lo já é um posicio- por uma apologia da democratização d os meios massivos de comu-
namento dentro do modelo difusion ista. Na página 2, lemos , a nicação, entendida apenas como o acesso ao con trole dos canais de
respeilo da polít ica modernizantc do regime militar: rá~ i o e TV, com o obietivo de interferir no sistcm:1 fie informaçao c
Os meamumos /ltil~os 110 pl"OC~Uo liDO foram prl"clpalm~lItil us da co-
veicular mensagens compromet idas com o "in teresse popular".
rmmicaçõo _ Q que implica em CQ' JI)I;mclmetlto ou persuasãu - ma.s os do co"s- O lliando por o urro ãngu lo , o das prátic-As e materiais que con-
Ir·(u tgimellto. s u bstanciam a intenção de se ":o municar, o que enco ntramos?
1) uma estratégia centrada na C""apacitaç:io fonnal e info nnal:
E, na página 5, sobre suas próprias ações;
cursos, treinamentos, estágios, vis itas e reuniões de variados tipos;
/SIO Implica lia ;rlserçiJo de /Im IrabatlxJ li" d/fusão d~ 1er:tIQlogIa profimda- 2) uma opção pr~ferenci:tI por meios de comunicação que pos-
meti/e IJlllculollQ (lOS mml lmetltos sociais 110 campo ( ... ).
sam atingi r um maior número de pessoas.
Logo e m seguida, porém , afirma : Ambos, capacitação c meios de comunicação, veiculam COnteú-
dos de natureza técnica (saúde, agricultura, etc.), organlzativa e polí-
Ol/tro aspecto deQpçrJurlas ONGs- riem sempreadotadojxJr tQflos, ~ IICrdadl!
- foi Q de respeitar o "saber poplllar~, os conher:iml!tltus aculllular/us /XiI" prd- tica (estas duas incluindo aspectos socioeconõmicos) .
tlM emp/rlca dos peqUl!rl()S IJrodIIfOres, bem como Slla 11IIeligblcla e capacl-
(l a(l e criadura. ( ...) Compr~lIdllr (l dim}mica social e prudlltlt..a dos /Xq/tllllOS

70 TI
j.,u l/a"raUju A I"«OI' . ...rsdo do v/bar

Na maioria dos processos de capacitação, podemos ide mifi(,..u' d eranças e utilização das mesmas como elemento facilitador dos
sinais da influencia das reses condu tivistas sobre o cornjX)rtamento p rocessos comun icativos é somada a tendência mais recente de aJgu-
humano, que seria passível de moldagem, mediante estímu los c re- m:LS ONGs de trabalhar não maiS diretamente com pessoas atomiza-
compensas. Numa escala progressiva de seleção dos mais aptos , os das ou organizadas em comunidades, mas com suas orga nizações
que respondem melhor e mais rápido aOs estímulos fornecidos de repreSentativas , via de regra as s indicais. Embora isso corresponda a
form:I S várias sao "premiados" com viagens, aumento de prestígiO uma discussão no p lano político, no plano comunicativo significa
junto às organizações, benefícios materiais e até mesmo possibilida- apenas mudar a instância de intermediação. Busca-se a legitimação e
d es de ganhos financeiros . Em contrapartida, os que não respondem a otim ização dos processos de intervenção social, tal como havia
de fo rma esperada são deixados de lado aos poucos.'" sid o formulado por Lazarsfeld .
Quanto aos materiais, são canilhas, jornais e OUlros impressos, A prática das ONGs d á connetude à observação de Wolf de que
progrolmas de rádio e videocasse te - por meio de seu conteúdo ten- ":lO se recusar a pertinê ncia comunicativa se tennina por aceitar o
tam influenciar, fonnar opiniao, moldar atitudes, obter adesões, su- modelo mais simplificado em cena durante longo tempo, o derivado
gerindo uma influencia das teorias da persuasão ou, em outros da teoria da informação" ( 1987 : 126). A maioria dos dirigentes das
termos, uma perspectiva da proposta Institucional como um produ- ONGs nao considera a especificidade da comunlcaç:lo, não contrata
tO de consumo. Uns poucos materiais objetivam taO só informar so- profissionais adequados e crê que tudo pode ser resolvido no âmbi-
bre detenninado tema e outros tôlnlOS se propõem a d ocumentar um t"O das opções e do discurso político.
fato ou experiência de dete rminado ~rupo (geraJmente vídeos) . A Destacaria ainda um pontO sobre a prática comunic:uiva das
mística do "alternativo", fortemente presente nas opçõeS tecno lógi- ONGs. Trata-se da natureza dessa prática, induzida pel os modelos
cas no C"".Impo da agriculturol, manifes ta-se também na escolha dos de rivoldos da Teoria da Informaç--."io. De caráter unidirecional e verti-
meios de comunicação, m:LS com ênf,LSe bem menor, cenu'ada nas C-.t.JjSlõl, (ais modelos conduzem ao amoritarismo o u , na melhor das
formas e com uma conseqüência perversa: os materiais freqüente- hipóteses, ao patem:llismo e assistencialismo , atitudes contr...ditÓrias
mente reproduzem as fonnas do minantes, porém co m uma quaHda- ~o m alguns dos valores mais caros àquelas organizações, como a
de de produção muito inferior à da mídia convencional ou mesmo à Igualdade, a reciprocidade dos conhecimentos , a perspectiva cntica
dos ó rgãos governamemais. Um tipo de materiaJ que deve ser lemo da educação popular e a autogestão. lndo um pouco mais além : a teo-
brado é o produzido com a participaçao dos núcleos receptores, es- ria behaviorista, que subjaz nos modelos de comunicaç:1o mendonados
tabelecida em vários níveis (comeúdo, foona, ilustração, impressão aci ma, prevê a obtenç:1o de comportamentos e atitudes desejáveis. O
etc.) . Qualquer que.St'"ja o material e seu objetivo. em gel"dl e les estão o bjetivo da co,? unicação é obler mudança de V'ollorcs , condutas, co-
associados a ou tras práticas institucionais, ou seja, do pontO de vista nheçimentos. E produto e serve a uma concepção de sociedade divi-
discursivo não partem do zero e não se apresentam isoladamente. dida entre os que sabem , possuem os valores corretos, as canduras
Outro pontO a se considen r é o quanto a prática das ONGs foi desejáveis (o emissor) e os ( IUC não sabem c cujos vaJores "indesejá-
influenciada, a exemplo dos ó rgãos governamentais, pela teoria do veis" d evem ser modificados (os receptores) . É uma visão (Iue propi-
fluxo da comunicação em duas etapas. Ao trabalho de forma\'ão de li· cia os esquemas sociais d e d o minação que 5.1.0 combalidos pe las
ONGs, até mesmo se constituindo na razão de ser de muiflLS delas.
I'or outro lado, as noções provenientes da Teoria Crítica , mais
14 Visto e ditO assim. parece: multo cru c: injustO com as ONGs. Mas , para além d:L'l
aparênd3s e de outr:l.'llr.lriáveis que humanizam ~ pr-.ítiea de$$;tS organi7.:I~·ud, a especificamente sobre a indúSlria cultural, são coere ntes com os mo-
IllSpiração skinncriana é bOlStanle eviden te n~s csu-.ltégL"lS de muitas dclll.:!. lnsis- delos de comunicação implícilos na prática das ONGs , uma vez que
10 , porém , em lembr.u que eslOU falando de paradigmas (e d e org'.lniz:lçíx:s partem dos mesmos pressuposlOS da unidirecionalidade do fluxo
n~o-Xõldêmicas, que habitualmente n~o ren<:tcrn sobre tais queMÕCS). ,)Imanto
de foml:IÇÓCSquc se incorpor-.am sutilmente c num plano nio-r.ldonal ou Int<:o- comunicativo e do receptor passivo e acrítico. E o que poderia ser
donal .

11 7l
j.,u l/a"raUju A I"«OI' . ...rsdo do v/bar

Na maioria dos processos de capacitação, podemos ide mifi(,..u' d eranças e utilização das mesmas como elemento facilitador dos
sinais da influencia das reses condu tivistas sobre o cornjX)rtamento p rocessos comun icativos é somada a tendência mais recente de aJgu-
humano, que seria passível de moldagem, mediante estímu los c re- m:LS ONGs de trabalhar não maiS diretamente com pessoas atomiza-
compensas. Numa escala progressiva de seleção dos mais aptos , os das ou organizadas em comunidades, mas com suas orga nizações
que respondem melhor e mais rápido aOs estímulos fornecidos de repreSentativas , via de regra as s indicais. Embora isso corresponda a
form:I S várias sao "premiados" com viagens, aumento de prestígiO uma discussão no p lano político, no plano comunicativo significa
junto às organizações, benefícios materiais e até mesmo possibilida- apenas mudar a instância de intermediação. Busca-se a legitimação e
d es de ganhos financeiros . Em contrapartida, os que não respondem a otim ização dos processos de intervenção social, tal como havia
de fo rma esperada são deixados de lado aos poucos.'" sid o formulado por Lazarsfeld .
Quanto aos materiais, são canilhas, jornais e OUlros impressos, A prática das ONGs d á connetude à observação de Wolf de que
progrolmas de rádio e videocasse te - por meio de seu conteúdo ten- ":lO se recusar a pertinê ncia comunicativa se tennina por aceitar o
tam influenciar, fonnar opiniao, moldar atitudes, obter adesões, su- modelo mais simplificado em cena durante longo tempo, o derivado
gerindo uma influencia das teorias da persuasão ou, em outros da teoria da informação" ( 1987 : 126). A maioria dos dirigentes das
termos, uma perspectiva da proposta Institucional como um produ- ONGs nao considera a especificidade da comunlcaç:lo, não contrata
tO de consumo. Uns poucos materiais objetivam taO só informar so- profissionais adequados e crê que tudo pode ser resolvido no âmbi-
bre detenninado tema e outros tôlnlOS se propõem a d ocumentar um t"O das opções e do discurso político.
fato ou experiência de dete rminado ~rupo (geraJmente vídeos) . A Destacaria ainda um pontO sobre a prática comunic:uiva das
mística do "alternativo", fortemente presente nas opçõeS tecno lógi- ONGs. Trata-se da natureza dessa prática, induzida pel os modelos
cas no C"".Impo da agriculturol, manifes ta-se também na escolha dos de rivoldos da Teoria da Informaç--."io. De caráter unidirecional e verti-
meios de comunicação, m:LS com ênf,LSe bem menor, cenu'ada nas C-.t.JjSlõl, (ais modelos conduzem ao amoritarismo o u , na melhor das
formas e com uma conseqüência perversa: os materiais freqüente- hipóteses, ao patem:llismo e assistencialismo , atitudes contr...ditÓrias
mente reproduzem as fonnas do minantes, porém co m uma quaHda- ~o m alguns dos valores mais caros àquelas organizações, como a
de de produção muito inferior à da mídia convencional ou mesmo à Igualdade, a reciprocidade dos conhecimentos , a perspectiva cntica
dos ó rgãos governamemais. Um tipo de materiaJ que deve ser lemo da educação popular e a autogestão. lndo um pouco mais além : a teo-
brado é o produzido com a participaçao dos núcleos receptores, es- ria behaviorista, que subjaz nos modelos de comunicaç:1o mendonados
tabelecida em vários níveis (comeúdo, foona, ilustração, impressão aci ma, prevê a obtenç:1o de comportamentos e atitudes desejáveis. O
etc.) . Qualquer que.St'"ja o material e seu objetivo. em gel"dl e les estão o bjetivo da co,? unicação é obler mudança de V'ollorcs , condutas, co-
associados a ou tras práticas institucionais, ou seja, do pontO de vista nheçimentos. E produto e serve a uma concepção de sociedade divi-
discursivo não partem do zero e não se apresentam isoladamente. dida entre os que sabem , possuem os valores corretos, as canduras
Outro pontO a se considen r é o quanto a prática das ONGs foi desejáveis (o emissor) e os ( IUC não sabem c cujos vaJores "indesejá-
influenciada, a exemplo dos ó rgãos governamentais, pela teoria do veis" d evem ser modificados (os receptores) . É uma visão (Iue propi-
fluxo da comunicação em duas etapas. Ao trabalho de forma\'ão de li· cia os esquemas sociais d e d o minação que 5.1.0 combalidos pe las
ONGs, até mesmo se constituindo na razão de ser de muiflLS delas.
I'or outro lado, as noções provenientes da Teoria Crítica , mais
14 Visto e ditO assim. parece: multo cru c: injustO com as ONGs. Mas , para além d:L'l
aparênd3s e de outr:l.'llr.lriáveis que humanizam ~ pr-.ítiea de$$;tS organi7.:I~·ud, a especificamente sobre a indúSlria cultural, são coere ntes com os mo-
IllSpiração skinncriana é bOlStanle eviden te n~s csu-.ltégL"lS de muitas dclll.:!. lnsis- delos de comunicação implícilos na prática das ONGs , uma vez que
10 , porém , em lembr.u que eslOU falando de paradigmas (e d e org'.lniz:lçíx:s partem dos mesmos pressuposlOS da unidirecionalidade do fluxo
n~o-Xõldêmicas, que habitualmente n~o ren<:tcrn sobre tais queMÕCS). ,)Imanto
de foml:IÇÓCSquc se incorpor-.am sutilmente c num plano nio-r.ldonal ou Int<:o- comunicativo e do receptor passivo e acrítico. E o que poderia ser
donal .

11 7l
entendido como um par:ldoxo. levandoem conta as intenções e con· c\'angélicos também têm suas políticas d e linguagem , mas são volra·
cepções expressas pelos membros e dirigentes d as ONGs. transmu· c.l:ls par.! o proselitismo religioso. Estes que ser:l0 aqui considerados
ta-se e m coerência, quando enfocamos a dupla herança - a politica e ('u ores do cenário analisado tÍ!m , igualmeluc, o bjetivos evangeliza-
a re ligiosa _ na sua fo rmação discurs iva, que os faz acreditarem que dores, mas associados a uma visiio social bem mais terrena e imedia.
são porta-vozes da Verdade, da Jusliça e do Bem, o que os to rnaria t":l . 1;i1iam -se na maioria das vezes à.s corremes mais p rogressistas das
insuspeitos de qualquer inrenção de dominação_ Igrejas, adotando em gemi os pressupostos da Teologia da liberta·
Voltamos por essa via a uma das principais idéias defe ndidas ção, que busca associar os princípios da fé cristii a uma perspt:ctiv-d
aqui, a d;l preeminência de um paradigma lingüístico que no plano de s uperação das desiguaJdad es sociais e d e Iibc nação de todas as
da comunicação unifica rodos os demais, escamoteando as divergên- fo rmas de opressão.
cias e criando uma aparÍ!ncia de coerê ncia lógica. Uma das caracte· Tais grupos trabalham com uma temática equivalenle à das
rís ticas desse paradigma, relembro, é considerar a ideo logia como ONGs. Há alguma distinção e m re lação à.quelas o rganizações, no
prerrogativa dos cOnleúdos, sendo a forma neutra e romla" aqui que tange aos métodos de trabalho, embora o valor conferido às re-
compreendendo os aspecros fomlais da língua (sintaxe) , dos meios I:lções inrerpessoais e o hábito de reuniões sejam ainda mais arraiga-
c dos materiais) . Neutra seria também a fo mla de circulação e de dos . Devido talvez à formação religiosa, sob o signo do humanismo
consumo dos materiais e seu conteúdo. cristão, ao objetivo de f.tZcr cumprir os desígnios divinos e à menor
Outra característica, já mencionada, é a de que o sentido já esta- formalização de suas organizações, os membros desses núcleos ten-
ria dado na mensagem veiculada, promo no texto elaborado pelo dem a viver mais perto dos que seri:lm os receptores de suas mensa-
emissor. Sentido que se toplcaHza na semântica da linguagem, :lde· gens e a optar por p ráticas mais ho rizo ntais d e aç:lo educativa. Em
reme aos cód igos c que prescinde da cooperação do receptor, a não o utras palavras, práticas que incenrivem a iniciativa c a ação popula-
ser para decifrá-lo. A recepção seria equivalente, então, à descoberta res, permanecendo na retagu arda, com a função de apoio. E é a títu-
da Verdade. Nessa perspectiva, é impossÍ\-e! negar a adequação dos lo de apoio que fazem uso intensivo do ddio e dos impressos.
modelos de comunicação que regem a prátiC"d d as OI'{Gs. restando a Embora possa parecer paradoxal, essa estratégia e nvolvendo meios
contradição com :1 análise macrossocial e com os objetivos e pressu - de comunicação massivos pode ser e nte ndida se cons iderdmlOS a
postOS filosóficos e ideológicos instirucionais. m issão evangelizadora que é a razão de ser desses núcleos e que é ex-
Um Outro núcleo discursivo , tão presente quantO as ONGs e os pressa d e fo rma mais o u me nos explícita, na razão ill\'ersa do engaja-
ó rgãos governamentais, é cons tiruído pe los grupos religiosos; falan- me nto polítiCO de seus membros. A difusão d a palavra divina através
do instilucio nalme me, pelas Igrejas. Vejamos quais S30 suas especifi- do e nvio de missio nários aos quatro costados d o mundo é substiruí-
cidades. da, em tem]X)s midiáticos, pelo rádio, lV e pelos jornais. A "culrura"
persiste, embora o discurso já não se ja o mesmo, podendo-se dizer
Gmj)QS re/fg losos
que é equh'3lente ao das ONGs, marcado por um modo de ver a sacie-
d:lde a panirdas relações de classe e da luta con tra as diversas rormas
de opressão de injustiça soçial.
"Grupos religiosos" nomt:ia, aqui , as organizações ou grupos Este seria, pois, um de seus pressu postOS para a comunicação,
de pessoas ligados de alguma fonna às instituições religiosas - equi· enraizado na cu ltura institucio nal : a difusão da palavra divina. O ou-
pes paroquiais, comissões pastorais, organizações diocesanas, servi· tro, mais voltado às preocupaçõcs atuais, cons iste em denunciar e se
ços de congregações , etc. A maioria pertence à 19reja Cató lica contr-apor ao discurso da mídia . Ao discurso , nete·se, não à tecnolo-
Romana, embora haj:' alguns trabalhos desenvolvidos pelas igrejas gia. Procura-se ombrear tecnologicamente co m as elites dominantes,
evangélicas. principalmenre a Luterana e a Metodista. Outros ..Imos a fim de competir discursivarnente no mercado das produções sim·

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"
entendido como um par:ldoxo. levandoem conta as intenções e con· c\'angélicos também têm suas políticas d e linguagem , mas são volra·
cepções expressas pelos membros e dirigentes d as ONGs. transmu· c.l:ls par.! o proselitismo religioso. Estes que ser:l0 aqui considerados
ta-se e m coerência, quando enfocamos a dupla herança - a politica e ('u ores do cenário analisado tÍ!m , igualmeluc, o bjetivos evangeliza-
a re ligiosa _ na sua fo rmação discurs iva, que os faz acreditarem que dores, mas associados a uma visiio social bem mais terrena e imedia.
são porta-vozes da Verdade, da Jusliça e do Bem, o que os to rnaria t":l . 1;i1iam -se na maioria das vezes à.s corremes mais p rogressistas das
insuspeitos de qualquer inrenção de dominação_ Igrejas, adotando em gemi os pressupostos da Teologia da liberta·
Voltamos por essa via a uma das principais idéias defe ndidas ção, que busca associar os princípios da fé cristii a uma perspt:ctiv-d
aqui, a d;l preeminência de um paradigma lingüístico que no plano de s uperação das desiguaJdad es sociais e d e Iibc nação de todas as
da comunicação unifica rodos os demais, escamoteando as divergên- fo rmas de opressão.
cias e criando uma aparÍ!ncia de coerê ncia lógica. Uma das caracte· Tais grupos trabalham com uma temática equivalenle à das
rís ticas desse paradigma, relembro, é considerar a ideo logia como ONGs. Há alguma distinção e m re lação à.quelas o rganizações, no
prerrogativa dos cOnleúdos, sendo a forma neutra e romla" aqui que tange aos métodos de trabalho, embora o valor conferido às re-
compreendendo os aspecros fomlais da língua (sintaxe) , dos meios I:lções inrerpessoais e o hábito de reuniões sejam ainda mais arraiga-
c dos materiais) . Neutra seria também a fo mla de circulação e de dos . Devido talvez à formação religiosa, sob o signo do humanismo
consumo dos materiais e seu conteúdo. cristão, ao objetivo de f.tZcr cumprir os desígnios divinos e à menor
Outra característica, já mencionada, é a de que o sentido já esta- formalização de suas organizações, os membros desses núcleos ten-
ria dado na mensagem veiculada, promo no texto elaborado pelo dem a viver mais perto dos que seri:lm os receptores de suas mensa-
emissor. Sentido que se toplcaHza na semântica da linguagem, :lde· gens e a optar por p ráticas mais ho rizo ntais d e aç:lo educativa. Em
reme aos cód igos c que prescinde da cooperação do receptor, a não o utras palavras, práticas que incenrivem a iniciativa c a ação popula-
ser para decifrá-lo. A recepção seria equivalente, então, à descoberta res, permanecendo na retagu arda, com a função de apoio. E é a títu-
da Verdade. Nessa perspectiva, é impossÍ\-e! negar a adequação dos lo de apoio que fazem uso intensivo do ddio e dos impressos.
modelos de comunicação que regem a prátiC"d d as OI'{Gs. restando a Embora possa parecer paradoxal, essa estratégia e nvolvendo meios
contradição com :1 análise macrossocial e com os objetivos e pressu - de comunicação massivos pode ser e nte ndida se cons iderdmlOS a
postOS filosóficos e ideológicos instirucionais. m issão evangelizadora que é a razão de ser desses núcleos e que é ex-
Um Outro núcleo discursivo , tão presente quantO as ONGs e os pressa d e fo rma mais o u me nos explícita, na razão ill\'ersa do engaja-
ó rgãos governamentais, é cons tiruído pe los grupos religiosos; falan- me nto polítiCO de seus membros. A difusão d a palavra divina através
do instilucio nalme me, pelas Igrejas. Vejamos quais S30 suas especifi- do e nvio de missio nários aos quatro costados d o mundo é substiruí-
cidades. da, em tem]X)s midiáticos, pelo rádio, lV e pelos jornais. A "culrura"
persiste, embora o discurso já não se ja o mesmo, podendo-se dizer
Gmj)QS re/fg losos
que é equh'3lente ao das ONGs, marcado por um modo de ver a sacie-
d:lde a panirdas relações de classe e da luta con tra as diversas rormas
de opressão de injustiça soçial.
"Grupos religiosos" nomt:ia, aqui , as organizações ou grupos Este seria, pois, um de seus pressu postOS para a comunicação,
de pessoas ligados de alguma fonna às instituições religiosas - equi· enraizado na cu ltura institucio nal : a difusão da palavra divina. O ou-
pes paroquiais, comissões pastorais, organizações diocesanas, servi· tro, mais voltado às preocupaçõcs atuais, cons iste em denunciar e se
ços de congregações , etc. A maioria pertence à 19reja Cató lica contr-apor ao discurso da mídia . Ao discurso , nete·se, não à tecnolo-
Romana, embora haj:' alguns trabalhos desenvolvidos pelas igrejas gia. Procura-se ombrear tecnologicamente co m as elites dominantes,
evangélicas. principalmenre a Luterana e a Metodista. Outros ..Imos a fim de competir discursivarnente no mercado das produções sim·

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I <lU/Ia Araujo

bólicas. Os projetos de educ:lção popular para a leitura c rÍ(ica das meios, entre os núcleos relig iOSOS e seus interlocutores. E, como sa-
mídias fazem pane dcssa posnlra, que percebe a ideologia localizada bemos, :I opção por este o u aquele meio não é desvinculada de uma
apenas nos conteúdos. c oncepç;lo mais ampla de sociedade, das relações sociais (: d o papel
A CNB B - Confcrência Nadonal dos Bispos do Brasil - s itua a de cada um nesse cenário . Reflete e produz, simultaneamente, o tipo
Com unicação ao lado da Educação e da Pastoral Social. como um se- de inte n 'ençáo que se pretende, que é condicionada pela percepção
tor da sua "Linha 6" de ação pastoral, linha que cuida da "Dimensão de Si mesmo c do Outro. Sobre este aspecto, seria interessante reto-
Sociolr.wsfonnadora". Po r meio dela , a Igreja solidariza-se "com as mar um pouco da história de como fomm formadas as concepções
aspirações e esper'd.nças da huma nid:tdc" c Ué levada pela 'fome e sobre comunicação. na Igre j:l.
sede de justiça' a põr·sc a serviço da causa dos direitos e da promo- Mencionei anteriormente que a comuniC-.lção estava "e m alta"
ção da pessoa humana, especialme ntc dos mais pobres, denuncian- no s meios C-.ltólicos, nos idos de 70. De fato, desde muito antes a
do '3S injustiçAS e violências. parA que possa surgir uma sociedade Igreja Católica dedicou atenção ao papel dos meios de comunicação
verdadeiramente JUSta e solidária" (CNBB, 1992: 10). na sociedade. Gomes ( 1995) identifica três fases distimas nessa rela·
Nessa perspectiva, muhas dioceses possuem emissoras radiofó- ç ão que, apesar de s ucessivas cronologicamente, Coexistem - de
nic:ls, que em geral contam com alto índice de audiência popular. modo confliti vo - nos dias atuais. A primeira teve início no papado
Sua programação vai desde a ce le bração da missa :ué programas de de Pio Xl (década de 30) , com a e ncíclica Vigilallli Cura. e percebia
denúncia e noticiários, passando por uma variada gama de progra- os meios d e comunicação (i nicia lmente o cinema, depois o rádio e a
mas educativos. Cedem espaços a organizações populares e a ONGs. TV) como ameaçadores à integridade moral dos fiéis . São típicos des·
A maior parte desses programas está articulada com um conjunto de Sa é poca os guias sobre os filmes em circulação, que estabeleci am
ações de base e tem como objetivo , além de disseminar infonnaçõcs quais deles poderiam ser assistidos pela família cristã.
mais amplamente, fom e mar e dinamizar aquelas ações. A segunda rase lCri:1 sido inaugurada e m 1957, com a e ncíclica
Os impressossãoem geral boletins e jornais, c ujoobjeti\'o é , na /IIiranda Prorstls, de I·io XII , que tratava do cine ma , rádio, lV. O do-
maioria dos casos, denunciar as siruaçães vividas pelos camponeses, c umento considerava que as técnicas são nobres, são exemplos da
obter adcsâo às causas populares, ou promover o intercâmbio de no- capacidade criadora do home m , mas que poderiam ser utilizadas
tícia entre os vários núcleos de leitores. Com menor freqüência, en· para o bem o u para o mal . Era a abertuí.l para um tempo de deslum-
co ntram-se cartilhas, calendários e Outros tipos de textos csçrilOS. brdmcnto com os Meios de Comu nicação de Massa como recurso
Por ou tro lado, as fones similitudes entre o humanismo das cvangelizador, que foi solidificado pelo decreto de João XXIII Inter
propostas de Paulo Freire e os princípios fil osófi cos c ristãos, so- Mlrifica , promulgado em 1963 , no Concílio Vaticano 11 . O dec reto
mados à ~ opção preferencial pelos pobres", tornam inevinivcl a in· criou o Dia Mundial das Comunicações Sociais e fon'a leceu as Orga·
corporação pelos grupos religiosos do modo idealista freireano de nizações Católicas Internac ionais de Comunicação. Este espírito re·
perceber a comunicação, isto é , como espaço d e comunhão. O para- cebeu nova ratificação com o documento Communio el Progressio ,
digma lingüístico que se mOSlr.l tão evidente ~as concepções e práti- produzido e m 197 1 pe la I·omwcia Comissão para os Meios d e Co-
cas das ONGs c órgãos governamentais aqui aparece ocultado pela municação Social. a pedido de Paulo VI, que via os meios como "ins-
míst'iC".l que envolve a pal:avra que e mana desses núcleos: sua legiti- trumentos da comunhão e do progresso d a sociedade humana" (op.
midade , conferida pelo direito de representação da palavra divina, é dI. : 14).
consagrada pela opção pelos pobres. Palavra cujo sent ido já estaria A última fase corresponde à compreensão da comunicação
d eterminado, proposto pelo emissor. Retornamos, pois, via concep- como processo e ao imeresse no desvendamenro da sua estrutur.l e
ção de linguagem, a um modelo de comunicação linear e unidirecio- funcionamento social. O ambiente que propicio u o surgimento des·
nal , pelo menos no que concerne à relação comunicativa através dos se modo de ver tem início na LI Conferência Geral do Episcopado La·

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I <lU/Ia Araujo

bólicas. Os projetos de educ:lção popular para a leitura c rÍ(ica das meios, entre os núcleos relig iOSOS e seus interlocutores. E, como sa-
mídias fazem pane dcssa posnlra, que percebe a ideologia localizada bemos, :I opção por este o u aquele meio não é desvinculada de uma
apenas nos conteúdos. c oncepç;lo mais ampla de sociedade, das relações sociais (: d o papel
A CNB B - Confcrência Nadonal dos Bispos do Brasil - s itua a de cada um nesse cenário . Reflete e produz, simultaneamente, o tipo
Com unicação ao lado da Educação e da Pastoral Social. como um se- de inte n 'ençáo que se pretende, que é condicionada pela percepção
tor da sua "Linha 6" de ação pastoral, linha que cuida da "Dimensão de Si mesmo c do Outro. Sobre este aspecto, seria interessante reto-
Sociolr.wsfonnadora". Po r meio dela , a Igreja solidariza-se "com as mar um pouco da história de como fomm formadas as concepções
aspirações e esper'd.nças da huma nid:tdc" c Ué levada pela 'fome e sobre comunicação. na Igre j:l.
sede de justiça' a põr·sc a serviço da causa dos direitos e da promo- Mencionei anteriormente que a comuniC-.lção estava "e m alta"
ção da pessoa humana, especialme ntc dos mais pobres, denuncian- no s meios C-.ltólicos, nos idos de 70. De fato, desde muito antes a
do '3S injustiçAS e violências. parA que possa surgir uma sociedade Igreja Católica dedicou atenção ao papel dos meios de comunicação
verdadeiramente JUSta e solidária" (CNBB, 1992: 10). na sociedade. Gomes ( 1995) identifica três fases distimas nessa rela·
Nessa perspectiva, muhas dioceses possuem emissoras radiofó- ç ão que, apesar de s ucessivas cronologicamente, Coexistem - de
nic:ls, que em geral contam com alto índice de audiência popular. modo confliti vo - nos dias atuais. A primeira teve início no papado
Sua programação vai desde a ce le bração da missa :ué programas de de Pio Xl (década de 30) , com a e ncíclica Vigilallli Cura. e percebia
denúncia e noticiários, passando por uma variada gama de progra- os meios d e comunicação (i nicia lmente o cinema, depois o rádio e a
mas educativos. Cedem espaços a organizações populares e a ONGs. TV) como ameaçadores à integridade moral dos fiéis . São típicos des·
A maior parte desses programas está articulada com um conjunto de Sa é poca os guias sobre os filmes em circulação, que estabeleci am
ações de base e tem como objetivo , além de disseminar infonnaçõcs quais deles poderiam ser assistidos pela família cristã.
mais amplamente, fom e mar e dinamizar aquelas ações. A segunda rase lCri:1 sido inaugurada e m 1957, com a e ncíclica
Os impressossãoem geral boletins e jornais, c ujoobjeti\'o é , na /IIiranda Prorstls, de I·io XII , que tratava do cine ma , rádio, lV. O do-
maioria dos casos, denunciar as siruaçães vividas pelos camponeses, c umento considerava que as técnicas são nobres, são exemplos da
obter adcsâo às causas populares, ou promover o intercâmbio de no- capacidade criadora do home m , mas que poderiam ser utilizadas
tícia entre os vários núcleos de leitores. Com menor freqüência, en· para o bem o u para o mal . Era a abertuí.l para um tempo de deslum-
co ntram-se cartilhas, calendários e Outros tipos de textos csçrilOS. brdmcnto com os Meios de Comu nicação de Massa como recurso
Por ou tro lado, as fones similitudes entre o humanismo das cvangelizador, que foi solidificado pelo decreto de João XXIII Inter
propostas de Paulo Freire e os princípios fil osófi cos c ristãos, so- Mlrifica , promulgado em 1963 , no Concílio Vaticano 11 . O dec reto
mados à ~ opção preferencial pelos pobres", tornam inevinivcl a in· criou o Dia Mundial das Comunicações Sociais e fon'a leceu as Orga·
corporação pelos grupos religiosos do modo idealista freireano de nizações Católicas Internac ionais de Comunicação. Este espírito re·
perceber a comunicação, isto é , como espaço d e comunhão. O para- cebeu nova ratificação com o documento Communio el Progressio ,
digma lingüístico que se mOSlr.l tão evidente ~as concepções e práti- produzido e m 197 1 pe la I·omwcia Comissão para os Meios d e Co-
cas das ONGs c órgãos governamentais aqui aparece ocultado pela municação Social. a pedido de Paulo VI, que via os meios como "ins-
míst'iC".l que envolve a pal:avra que e mana desses núcleos: sua legiti- trumentos da comunhão e do progresso d a sociedade humana" (op.
midade , conferida pelo direito de representação da palavra divina, é dI. : 14).
consagrada pela opção pelos pobres. Palavra cujo sent ido já estaria A última fase corresponde à compreensão da comunicação
d eterminado, proposto pelo emissor. Retornamos, pois, via concep- como processo e ao imeresse no desvendamenro da sua estrutur.l e
ção de linguagem, a um modelo de comunicação linear e unidirecio- funcionamento social. O ambiente que propicio u o surgimento des·
nal , pelo menos no que concerne à relação comunicativa através dos se modo de ver tem início na LI Conferência Geral do Episcopado La·

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lnt'Sila Araujt)

tino-Amenc-. tno , realizado em 1968 e m Mede llín (Colô mbia), e GeraJ da UCBCem 197 1, d edicada ao tema "A Igreja e a O pinião I~i ·
instala-se definitivamente na lU Conferencia, e m Puebla (México), b lic3 no Brasil ":
no ano de 1979 . Ela é co nte mporânea, no pl ano nacional, ao debate olalO de (ligo ser a cellO pelo público m Io (lispellsa cu1ltrole e a ção, pois (I "b·
sobre a dependência, à reflexão teórica e política sobre os "apare- jetiuidad~ por/e (/esaparl!Cer diallle das ma"ipulaÇÕes. lim l.'f!'Zdlller/1/"$ mil
lhos ideológicos de Estado ~, ao combate à cens ura. No plano ins titu- /6mm de opl"iúes. poderemos ler 11/1/ mercado de idéias e ideologia; lima I" .
(flis/ria de fazeres e p ra:eres. A própria no /icla pode lom"r-se tlrgcx:ldl.'I! f ( ... ).
cional da Igre ja, é contempo1.\ne:1 e subsidia o surgimento e Tak-ez "U/lca lenha sido /Je,'(/adeira a tese: ~OI)i,,'âo Pública = l'erJutle ". 0 1/
afirmação d as CEBs - Comunidades Eclesia is de Base, que fo ram ma- vox popull . vox Dei Nu ellfalllo. é af qu e se slflla o /(Iral de lodos os homel/s d e
trizes d e muitos segmentos do movime nto po pular. Está tambe m na bem. em estJ«fal. dos qw/! assllmiram a reS/)OlIsabil/ll"de p elo EII.:mge fbu ; d e·
V<"ràoeles empenhar-se para que a v(Ix populi sl'ja r",IImelllea V()I( Del (lIpud
base do Pro jeto de Leirura Crítica da Comunicação, iniciatiVA da Gomes. oI'. cit.: 86)
UCBC - União Cristã Bras ileira d e Comunicação Social, fundada e m
1970, entidade que congrega pesquisadores e comunicadores cris- Os grupoS religiOSOS , assim como as ONGs, c rêem poder resol-
t;10s - projeto que visava ao desenvolvime nto da consciê ncia critica ver os problemas comunicativos apenas pelo viés dos conteúdos.
d os receptores. Inicialme nte ,"CItado aos ed ucad o res e age ntes pas- Acaba m, assim , por adotar e reproduzir modelos s implificados d e
torais, a panirde 1982 o proje to p rocurou abrir-se aos grupos popu- comu nicação, juscunente aqueles que se impõem por s ua aparê ncia
lares, mud ando também (pelo me no s no nível dos d ocumentos de naturalidade. E, tal e qual ocorre e ntre as ONGs, nos mo mentos
o fi ciais) os princípios metodo lógicos : passaria a as:mnür "uma meto- de capacitação em comunicação desses grupos o modelo info rmacio-
do logia partid p:ltiva. o nde a a nálise crítica dos meios de comunica- nal de comunicaçao e merge com bastante vigor, expressos ,'e rbal-
ção é realiz:tda a partir da percepção que estes grupos e laborAm , me nte por pessoas que acreditavam , até e ntão, serem a única
tendo como referência seu ti po d e inserção no processo produtiVO e interpretação possível do processo de comunicação e não percebiam
na articulação política d e s ua classe" (op. CiL: 194). su as implicaçúes teóricas o u ideológicas. Aí est:i a fo rça do paradig-
Apesar de se dife re nciarem e m algu ns aspectos, como aponta ma, nesta. carac te rística da inconsciê ncia, nessa naturalização dos
Gomes, parece-me que há dois eixos comuns a essas poSturas, que mo ldes de explicação da realidade.
S;10 : I) conside rar os meios de comunicação como ne ut ros, correias Apesar das o rigens e pressupostOS distintos , os núcleos religio-
de tran s missão ideo lógica. estruturas vazias que podem ser preen- sos bebem nas mesmas fOOles teóricas que as ONGs e isto, somado à
c hidas com conteúdos que servem o u não aos interesses do "povo .sua legitimidade e aceitação e ntre os camponeses, to ma as alianças
d e Deus"; 2) <Iue é a Igreja - e seu s agentes-quem deté m o poder d e inevitáveis. Alé m d o mais, m uilas ONGs foram criadas por egressos
julgar o que é o u não adequado a esse povo e d e produzir o melho r d os meios religiosos. Po r estas e outras razócs, a prática discursiva
"rc<.:he io " para os meios. Esse modo de perceber-se e aos meios d e das Igrejas exerce um pape l definitó rio e m relação àquelas o rganiza-
comu nicação é ho je vis ível tam o nas recentes iniciativas tia hierar- çôes. O mesmo nio se pode afirma r taxativameme sobre o utro nú-
quia cató lica d e invcstir e mpresarialme nte nos MCM para ampliar os cleo discursh'O, o da extensão universitá ria. Mas f...lemos antes das
efeitos d o seu prose litismo religioso (e assim competir no mercado org:mizaçõcs represe nt ativas , um núcleo que traz a singula ridade de
s imbó lico das religiões) , como na atividade mais localizada e associa- ser ao mesmo te mpo emissor e recepto r de seus discursos.
da às lutas populares, por exemplo a dos núcleos da Clrr - Comissão
PastoraJ da Te rra. O tcnno "comunic-dção liben adora", amplamente
u tilizad o nesses meios, é bastante sintomát ico d esse estado de coi-
sas, que pode também ser percebido nessa fa la de Dom Paulo Evaris-
tO Arns, arcebispo d e São !'aulo , na abertura da Primeira Assemblé ia A sociedade camponesa dispõe de um di\'ersificado conjunto
d e organizações representa tivas fo rmalizadas. As mais rradicionais c

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lnt'Sila Araujt)

tino-Amenc-. tno , realizado em 1968 e m Mede llín (Colô mbia), e GeraJ da UCBCem 197 1, d edicada ao tema "A Igreja e a O pinião I~i ·
instala-se definitivamente na lU Conferencia, e m Puebla (México), b lic3 no Brasil ":
no ano de 1979 . Ela é co nte mporânea, no pl ano nacional, ao debate olalO de (ligo ser a cellO pelo público m Io (lispellsa cu1ltrole e a ção, pois (I "b·
sobre a dependência, à reflexão teórica e política sobre os "apare- jetiuidad~ por/e (/esaparl!Cer diallle das ma"ipulaÇÕes. lim l.'f!'Zdlller/1/"$ mil
lhos ideológicos de Estado ~, ao combate à cens ura. No plano ins titu- /6mm de opl"iúes. poderemos ler 11/1/ mercado de idéias e ideologia; lima I" .
(flis/ria de fazeres e p ra:eres. A própria no /icla pode lom"r-se tlrgcx:ldl.'I! f ( ... ).
cional da Igre ja, é contempo1.\ne:1 e subsidia o surgimento e Tak-ez "U/lca lenha sido /Je,'(/adeira a tese: ~OI)i,,'âo Pública = l'erJutle ". 0 1/
afirmação d as CEBs - Comunidades Eclesia is de Base, que fo ram ma- vox popull . vox Dei Nu ellfalllo. é af qu e se slflla o /(Iral de lodos os homel/s d e
trizes d e muitos segmentos do movime nto po pular. Está tambe m na bem. em estJ«fal. dos qw/! assllmiram a reS/)OlIsabil/ll"de p elo EII.:mge fbu ; d e·
V<"ràoeles empenhar-se para que a v(Ix populi sl'ja r",IImelllea V()I( Del (lIpud
base do Pro jeto de Leirura Crítica da Comunicação, iniciatiVA da Gomes. oI'. cit.: 86)
UCBC - União Cristã Bras ileira d e Comunicação Social, fundada e m
1970, entidade que congrega pesquisadores e comunicadores cris- Os grupoS religiOSOS , assim como as ONGs, c rêem poder resol-
t;10s - projeto que visava ao desenvolvime nto da consciê ncia critica ver os problemas comunicativos apenas pelo viés dos conteúdos.
d os receptores. Inicialme nte ,"CItado aos ed ucad o res e age ntes pas- Acaba m, assim , por adotar e reproduzir modelos s implificados d e
torais, a panirde 1982 o proje to p rocurou abrir-se aos grupos popu- comu nicação, juscunente aqueles que se impõem por s ua aparê ncia
lares, mud ando também (pelo me no s no nível dos d ocumentos de naturalidade. E, tal e qual ocorre e ntre as ONGs, nos mo mentos
o fi ciais) os princípios metodo lógicos : passaria a as:mnür "uma meto- de capacitação em comunicação desses grupos o modelo info rmacio-
do logia partid p:ltiva. o nde a a nálise crítica dos meios de comunica- nal de comunicaçao e merge com bastante vigor, expressos ,'e rbal-
ção é realiz:tda a partir da percepção que estes grupos e laborAm , me nte por pessoas que acreditavam , até e ntão, serem a única
tendo como referência seu ti po d e inserção no processo produtiVO e interpretação possível do processo de comunicação e não percebiam
na articulação política d e s ua classe" (op. CiL: 194). su as implicaçúes teóricas o u ideológicas. Aí est:i a fo rça do paradig-
Apesar de se dife re nciarem e m algu ns aspectos, como aponta ma, nesta. carac te rística da inconsciê ncia, nessa naturalização dos
Gomes, parece-me que há dois eixos comuns a essas poSturas, que mo ldes de explicação da realidade.
S;10 : I) conside rar os meios de comunicação como ne ut ros, correias Apesar das o rigens e pressupostOS distintos , os núcleos religio-
de tran s missão ideo lógica. estruturas vazias que podem ser preen- sos bebem nas mesmas fOOles teóricas que as ONGs e isto, somado à
c hidas com conteúdos que servem o u não aos interesses do "povo .sua legitimidade e aceitação e ntre os camponeses, to ma as alianças
d e Deus"; 2) <Iue é a Igreja - e seu s agentes-quem deté m o poder d e inevitáveis. Alé m d o mais, m uilas ONGs foram criadas por egressos
julgar o que é o u não adequado a esse povo e d e produzir o melho r d os meios religiosos. Po r estas e outras razócs, a prática discursiva
"rc<.:he io " para os meios. Esse modo de perceber-se e aos meios d e das Igrejas exerce um pape l definitó rio e m relação àquelas o rganiza-
comu nicação é ho je vis ível tam o nas recentes iniciativas tia hierar- çôes. O mesmo nio se pode afirma r taxativameme sobre o utro nú-
quia cató lica d e invcstir e mpresarialme nte nos MCM para ampliar os cleo discursh'O, o da extensão universitá ria. Mas f...lemos antes das
efeitos d o seu prose litismo religioso (e assim competir no mercado org:mizaçõcs represe nt ativas , um núcleo que traz a singula ridade de
s imbó lico das religiões) , como na atividade mais localizada e associa- ser ao mesmo te mpo emissor e recepto r de seus discursos.
da às lutas populares, por exemplo a dos núcleos da Clrr - Comissão
PastoraJ da Te rra. O tcnno "comunic-dção liben adora", amplamente
u tilizad o nesses meios, é bastante sintomát ico d esse estado de coi-
sas, que pode também ser percebido nessa fa la de Dom Paulo Evaris-
tO Arns, arcebispo d e São !'aulo , na abertura da Primeira Assemblé ia A sociedade camponesa dispõe de um di\'ersificado conjunto
d e organizações representa tivas fo rmalizadas. As mais rradicionais c

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1""'-;1<1 Araujo A rr!Ct>i!I",r"' " 110"/10,,,

consolidadas são o sistema sindical e o cooperativista. Recente mente, mitir o acesso direcionad o da TV aos seus domínios. Embora n O
verificou-se um crescimento das associações e surgiu o MST - Movi- seja regra exclusiva, a produção d os impressos é centra.lizada na Se-
mento dos Sem-Terra, articulação institucionalizada dos campone- cretaria Nacional do MST, com sede e m São Paulo.
ses que não possuem terra de cultivo no país. O sistema sindical é um razoável produtor de impressos (carti-
O sistema sindical obedece a uma estrutura típica de partido lhas, boletins e jornais, principalmente) e um dos d ois núcleos (Us-
político, tendo como base os sindicatos si ngu lares e evoluindo até as cursivos que mais utiliza o rádio (o outro é a Igreja) . Embora,
centrais sindicais, passando pelos p ó los regionais, federações e sta- logicamente , as fede r.lções con tabilizem mais iniciativas neste lLSp<!C-
duais e uma confede ração - CONTAG . O MST estrururd-se como to (mais recursos, assessorias e pessoal qualificado) , os sindicatos
uma federação de coordenações estaduais, cuja direção máxima rambém estão no "mercad o". Info rmação e capacitação são as fun -
compete a uma coordenação nacio nal . O sistema cooperativista ções p rimordiais, embora nas épocas d e campanha salarial predomi-
apóia-se numa estrutura de OCEs - Organizações das Cooperativas ne a de mo bilização. Os temas priorizam o s projetos e progrdmas
Estaduais, filiadas à OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras. o fi ciais destinados ao m eio rural, as infonnações sobre o próprio
Este último sistema rem rambé m c aráter coercitivo, na medida em movimento, a capacitação em processos organizativos e , em meno r
que a filia ção :ls QCEs é condiçáo d e funcionam e nto para qua lquer escala, temas voltados ã atividade el.u nômica, principalmente pelo
cooperativa . Diferencia-se d os demais também por não ser exclusivo viés da tecnologia apropriada à pequena produção.
de organizações rurais, muito embora a grande maioria das coopera- O sistema cooperativista sempre conferiu grande importância à
tivas no Brasil sejam rurais e a maior parcela dos discursos circulan- comunicação, entendida como suporte à doutrinação dos associa-
tes sej a dirigida a e las e a seus associados. Outro diferencial é não dos. Um d os principias do cooperativismo é a educação permanente
dizer respeito apenas aos peque nos agricultores, mas incluir nos pard a cooperação, que tem sido tratada como divulgação da doutrina
seus me mbros m éd ios e g randes proprier;írios. e da legislação. O m e io mais utiliz:ldo é o impresso, que se presta bem
Os três núcleos desenvo lvem intensa prática discursiva junto a a essa fun ção, e m forma de cartilhas, folhetos , jo rnais c boletins. A
suas bases, utilizando-se mais comumeme os impressos. Os sindica- OCB, inclusive, possui uma gráfica bcm-equipada, de o nde produz e
tos recorrem também ao rádio, com bastante imens idade . Vejamos distribu i grande parte dos impressos circulantes no sistema. As filiadas
algumas características singulares. possuem cada uma suas próprias estratégias e impressos correspon-
O MST parece estar vivendo uma fase de transição, da qual faz demes, alé m de fazerem circular entre suas associadas os m ateriais da
parte uma revisão dos seus pressupostos quanto à comunic ação, ou OCB. Na região Nordeste, o siste ma possui, desde 1974, uma o rganiz..'l-
pelo menos das fun ções a ela atribuídas. Até recente mente , consistia ção d e assessoria, a Assocene - Associação d e Orientação às Coopera-
num instnJme ntal voltado para a relação com os participantes do tivas do Nordeste, que confere d estaque às atividades comunicativas
movimento (potenciais ou efetivos) e suas fun ções eram basicamen- embord se possa dizer que, até os anos 80, estas envolviam um espec:
te duas: mobilização e informação alternativa à grande imprensa. tro mais amplo de preocupações que o atual. Hoje, a comunicação
Pela primeira, produziam-se cartazes, folhetos e panfletos . Pela se- serve primeiramente de apoio ao processo de capacitação d o quadro
gunda, faziam circular ojornal dos Sem-Terra , publicação mensal de dirigemes e assessores das coopcnltivas, à divu lgaçáo de progra-
com norícias das lutas dos trabalhadores, mas que não dis pensava um mas oficiais para o setor, além de iniciat ivas descontínuas de órgãos
forte componente de doutrinação. Hoje, a atividade comunicativa in- informativos. Ontem, chegou-se a promover seminários nacionais e
corpora duas outras funções: a de a poio ao processo de o rganizaçáo latino-americanos de comunicação cooperativa, aos quais eram trazi-
e capacitação dos assentados e a divulgação do movimento aos ou- dos especialistas em comunicação rural e educação popular, como
tros segmentos da sociedade, na busca de solidariedade e alianças. Juan Bordenave, Manuel Calvelo, Regina Sizcnando e Osório Mar-
Entram em cena os programas de rádio e as canilhas, a lém de se per- ques. Além d os programas o ficiais , os temas tratados pela A.ssocene em

8. 81
1""'-;1<1 Araujo A rr!Ct>i!I",r"' " 110"/10,,,

consolidadas são o sistema sindical e o cooperativista. Recente mente, mitir o acesso direcionad o da TV aos seus domínios. Embora n O
verificou-se um crescimento das associações e surgiu o MST - Movi- seja regra exclusiva, a produção d os impressos é centra.lizada na Se-
mento dos Sem-Terra, articulação institucionalizada dos campone- cretaria Nacional do MST, com sede e m São Paulo.
ses que não possuem terra de cultivo no país. O sistema sindical é um razoável produtor de impressos (carti-
O sistema sindical obedece a uma estrutura típica de partido lhas, boletins e jornais, principalmente) e um dos d ois núcleos (Us-
político, tendo como base os sindicatos si ngu lares e evoluindo até as cursivos que mais utiliza o rádio (o outro é a Igreja) . Embora,
centrais sindicais, passando pelos p ó los regionais, federações e sta- logicamente , as fede r.lções con tabilizem mais iniciativas neste lLSp<!C-
duais e uma confede ração - CONTAG . O MST estrururd-se como to (mais recursos, assessorias e pessoal qualificado) , os sindicatos
uma federação de coordenações estaduais, cuja direção máxima rambém estão no "mercad o". Info rmação e capacitação são as fun -
compete a uma coordenação nacio nal . O sistema cooperativista ções p rimordiais, embora nas épocas d e campanha salarial predomi-
apóia-se numa estrutura de OCEs - Organizações das Cooperativas ne a de mo bilização. Os temas priorizam o s projetos e progrdmas
Estaduais, filiadas à OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras. o fi ciais destinados ao m eio rural, as infonnações sobre o próprio
Este último sistema rem rambé m c aráter coercitivo, na medida em movimento, a capacitação em processos organizativos e , em meno r
que a filia ção :ls QCEs é condiçáo d e funcionam e nto para qua lquer escala, temas voltados ã atividade el.u nômica, principalmente pelo
cooperativa . Diferencia-se d os demais também por não ser exclusivo viés da tecnologia apropriada à pequena produção.
de organizações rurais, muito embora a grande maioria das coopera- O sistema cooperativista sempre conferiu grande importância à
tivas no Brasil sejam rurais e a maior parcela dos discursos circulan- comunicação, entendida como suporte à doutrinação dos associa-
tes sej a dirigida a e las e a seus associados. Outro diferencial é não dos. Um d os principias do cooperativismo é a educação permanente
dizer respeito apenas aos peque nos agricultores, mas incluir nos pard a cooperação, que tem sido tratada como divulgação da doutrina
seus me mbros m éd ios e g randes proprier;írios. e da legislação. O m e io mais utiliz:ldo é o impresso, que se presta bem
Os três núcleos desenvo lvem intensa prática discursiva junto a a essa fun ção, e m forma de cartilhas, folhetos , jo rnais c boletins. A
suas bases, utilizando-se mais comumeme os impressos. Os sindica- OCB, inclusive, possui uma gráfica bcm-equipada, de o nde produz e
tos recorrem também ao rádio, com bastante imens idade . Vejamos distribu i grande parte dos impressos circulantes no sistema. As filiadas
algumas características singulares. possuem cada uma suas próprias estratégias e impressos correspon-
O MST parece estar vivendo uma fase de transição, da qual faz demes, alé m de fazerem circular entre suas associadas os m ateriais da
parte uma revisão dos seus pressupostos quanto à comunic ação, ou OCB. Na região Nordeste, o siste ma possui, desde 1974, uma o rganiz..'l-
pelo menos das fun ções a ela atribuídas. Até recente mente , consistia ção d e assessoria, a Assocene - Associação d e Orientação às Coopera-
num instnJme ntal voltado para a relação com os participantes do tivas do Nordeste, que confere d estaque às atividades comunicativas
movimento (potenciais ou efetivos) e suas fun ções eram basicamen- embord se possa dizer que, até os anos 80, estas envolviam um espec:
te duas: mobilização e informação alternativa à grande imprensa. tro mais amplo de preocupações que o atual. Hoje, a comunicação
Pela primeira, produziam-se cartazes, folhetos e panfletos . Pela se- serve primeiramente de apoio ao processo de capacitação d o quadro
gunda, faziam circular ojornal dos Sem-Terra , publicação mensal de dirigemes e assessores das coopcnltivas, à divu lgaçáo de progra-
com norícias das lutas dos trabalhadores, mas que não dis pensava um mas oficiais para o setor, além de iniciat ivas descontínuas de órgãos
forte componente de doutrinação. Hoje, a atividade comunicativa in- informativos. Ontem, chegou-se a promover seminários nacionais e
corpora duas outras funções: a de a poio ao processo de o rganizaçáo latino-americanos de comunicação cooperativa, aos quais eram trazi-
e capacitação dos assentados e a divulgação do movimento aos ou- dos especialistas em comunicação rural e educação popular, como
tros segmentos da sociedade, na busca de solidariedade e alianças. Juan Bordenave, Manuel Calvelo, Regina Sizcnando e Osório Mar-
Entram em cena os programas de rádio e as canilhas, a lém de se per- ques. Além d os programas o ficiais , os temas tratados pela A.ssocene em

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I!...sll" i\mújo

sua aruaJ prática discursivacorrespondem:i nova orientação do sistema e cional sobre a comu nicação com a abordagem dos temas Ir.llad05
são os mesmos da OCB: autogesruo, planejamenlo estratégico, ges- nas Clrtilhas, como mOSfr-J o exemplo abaixo, pinçado da primeira
tão empresaria l, enfim , rcstrururaç:"io administmtiva. de uma série de três cartilhas produzidas pela Assocene, para um
Apesar das diferenças e ntre os três segmentos descritos, pode-se programa de capacitação à distància :
dizer que têm um mesmo pressuposto para a comunicação, que os
COOPEl!A71VAÉ PARA. QUEMl- É paro qu(!m qu(!r, multaI Ê para qu(!m prec/.
distingue dos demais núcleos estudados: é o da coesão e eficiência do t para (PU!1I1 1mbalha, mul/u! O MERCADO VAI SEl.l:."CIONItR AS'
sa .. mllllO!
sistema. O modo de arualiz.í.-Io é que difere. havendo uma divagem MW/ORES COOPERA77VAS: -A que tem ri mo!lhor pl'fJduto' -A que tem a mC!lhor
acentuada entre o cooperativismo de um lado e o sindicalismo e o qualidade. EM CONSEQOÊNCiA.: AS COOPERAITVAS TEJi.;,o QUE SELEGONAll
SEUS ItSSOQJ\/JOS: os mais compe/elllesl Os que têm m elhores leCIw/ogfas! E
MST de outro. Assim, enquanto o MST preconiza, como estr.négia de
imegração d os assentados não-organiz:ldos, "a informação e a comuni-
cação permanente" , sugerindo: "- ocupar espaços na imprensa local,

os qlleqlll!rem Sl!remprcsnrios CQQpermivados!Osqu6 trabalham melhor! (p

Mais adiante, na página 26-7 :


especialmente rádio; - utilizar os espaços disponíveis nas escolas; -
dese nvolver programas de rádio e boletins infomtativos; - lutar por A NOVA COOPERA71VA OI:VIi; - SUPERAR OS JJlOQUElOS: CULnJRMS: n!oor
ter nos assentamentos postOS telefônicos~ (cartilha do MST: "Como ndoreS; acubar com 0$ pré-concei/os. PSICOLÓGICOS: n/lUlar de atitude e
postura. SOClAiS: mfX/ifjcar os refacl~»uml/m/o.s com aSSOCladus,[tmCIt.mários,
org:lnizar os asseOlados individuais", p . 17), a OCB localiza li comu- cflentes e outras Coopemlfws. POUTlCOS: deve jJfYJmOI' er a aglut/naçuu de
nicação na sua "estrutura de serviços" e lhe atribui os seguintes obje- forças. JfSJ"ENDI!R OS ll/llrrES: /lrumot'er (/ educa(flu e a partidpaçãu; c riar e
tivos: M divulgar a política, as proposras, as diretrizes, as metas e as divulgar IIOVOS CUflbm"'f!I/tOS; cstabelecer: IIUI1QS relacfotUlme,,/os, "ovas
atitudes. IIOVOS valores, IIUWIS idéias, 110001 CUI/Cei/US, "ovas/orças.
conquistas do cooperativismo" (canilha da OCB: "O cooper.ll ivismo
brasileiro", p . 25). POr último , registraria que a discuss;lo sobre os modelos huma-
A heterogene idade dos componentes desses núcleos torna difí- nisras ou diaJógicos apena"i raspou de leve os componentes desse
cil falar em um modelo de comun icação implícito nas suas práticas. nudeo, vinculados que esravam mais a determinlldas pessoas que ali
Mas é possível identificar alguns elementos que se repetem, embora passaram do que propriame nte a uma postura institucional. Assim,
associados a diferentes matrizes de concepção social. Um cenamen- não lendo sido fruto de Um debate interno ou de um movimento his-
te é a visão instrumentalista da comunicação. Outro, ade um proces- tórico das organizações, praticamente não deixaram resíduos sendo
so linear e unidirecional, mesmo se tratando de sistemas onde, em possível detectá·los :lpenas e m alguns textos do COOpenltivi;mo do
tese. haveria uma relação de horizontal idade . O fat'O é que a fonnaJi- início d os anos 80.1.5
Z:IÇ:i.O cia."i estrutUras, a existência de um quadro diri)!eme e das figu- Entrementes, passemos ao último núdeo, formado pela extcn-
rdS dos técnicos c assessores instalam uma siruação extremamenle sào universitária .
semelhante:i dos demais mkleos, principalmente no segmento coo-
perativista.
Chamaria ainda aten\'ão para a forte presença, neste último,
dos mesmos pressupostOS teóricos da extensão rural oficial, princi-
palmente da Teoria da M.odernização. Assim, tmta-se a comunicação
como estÚIlulo necessário e suficiente para converter pessoas ina-
daptadas à modernidade em ativos agentes da moderna sociedade.
Não se tem produzido discursos recentes sobre a comunicação,
o nde se possa comprov:Lr tal af.umação, mas a postura acima pode
ser inferida somando-se O que já fo i exposto quanto:i atitude institu-
" Excluo ;I(lul a Imensa de ....'t:S(.-i'ncia do movimemo siodk:d dos primeiros ;1005
da d écada d e 60, pOI" esur {or.. d o ãmhilO do trabaLho. t-k s mu a»lm náo h1
m ;uo.5 ~;si~-ei5 dCSS;l époc:a no atual discuT'$Osindlcal, no que [lI ng.: ao:, mode-
lo:. de comunlcaç:lo.

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sua aruaJ prática discursivacorrespondem:i nova orientação do sistema e cional sobre a comu nicação com a abordagem dos temas Ir.llad05
são os mesmos da OCB: autogesruo, planejamenlo estratégico, ges- nas Clrtilhas, como mOSfr-J o exemplo abaixo, pinçado da primeira
tão empresaria l, enfim , rcstrururaç:"io administmtiva. de uma série de três cartilhas produzidas pela Assocene, para um
Apesar das diferenças e ntre os três segmentos descritos, pode-se programa de capacitação à distància :
dizer que têm um mesmo pressuposto para a comunicação, que os
COOPEl!A71VAÉ PARA. QUEMl- É paro qu(!m qu(!r, multaI Ê para qu(!m prec/.
distingue dos demais núcleos estudados: é o da coesão e eficiência do t para (PU!1I1 1mbalha, mul/u! O MERCADO VAI SEl.l:."CIONItR AS'
sa .. mllllO!
sistema. O modo de arualiz.í.-Io é que difere. havendo uma divagem MW/ORES COOPERA77VAS: -A que tem ri mo!lhor pl'fJduto' -A que tem a mC!lhor
acentuada entre o cooperativismo de um lado e o sindicalismo e o qualidade. EM CONSEQOÊNCiA.: AS COOPERAITVAS TEJi.;,o QUE SELEGONAll
SEUS ItSSOQJ\/JOS: os mais compe/elllesl Os que têm m elhores leCIw/ogfas! E
MST de outro. Assim, enquanto o MST preconiza, como estr.négia de
imegração d os assentados não-organiz:ldos, "a informação e a comuni-
cação permanente" , sugerindo: "- ocupar espaços na imprensa local,

os qlleqlll!rem Sl!remprcsnrios CQQpermivados!Osqu6 trabalham melhor! (p

Mais adiante, na página 26-7 :


especialmente rádio; - utilizar os espaços disponíveis nas escolas; -
dese nvolver programas de rádio e boletins infomtativos; - lutar por A NOVA COOPERA71VA OI:VIi; - SUPERAR OS JJlOQUElOS: CULnJRMS: n!oor
ter nos assentamentos postOS telefônicos~ (cartilha do MST: "Como ndoreS; acubar com 0$ pré-concei/os. PSICOLÓGICOS: n/lUlar de atitude e
postura. SOClAiS: mfX/ifjcar os refacl~»uml/m/o.s com aSSOCladus,[tmCIt.mários,
org:lnizar os asseOlados individuais", p . 17), a OCB localiza li comu- cflentes e outras Coopemlfws. POUTlCOS: deve jJfYJmOI' er a aglut/naçuu de
nicação na sua "estrutura de serviços" e lhe atribui os seguintes obje- forças. JfSJ"ENDI!R OS ll/llrrES: /lrumot'er (/ educa(flu e a partidpaçãu; c riar e
tivos: M divulgar a política, as proposras, as diretrizes, as metas e as divulgar IIOVOS CUflbm"'f!I/tOS; cstabelecer: IIUI1QS relacfotUlme,,/os, "ovas
atitudes. IIOVOS valores, IIUWIS idéias, 110001 CUI/Cei/US, "ovas/orças.
conquistas do cooperativismo" (canilha da OCB: "O cooper.ll ivismo
brasileiro", p . 25). POr último , registraria que a discuss;lo sobre os modelos huma-
A heterogene idade dos componentes desses núcleos torna difí- nisras ou diaJógicos apena"i raspou de leve os componentes desse
cil falar em um modelo de comun icação implícito nas suas práticas. nudeo, vinculados que esravam mais a determinlldas pessoas que ali
Mas é possível identificar alguns elementos que se repetem, embora passaram do que propriame nte a uma postura institucional. Assim,
associados a diferentes matrizes de concepção social. Um cenamen- não lendo sido fruto de Um debate interno ou de um movimento his-
te é a visão instrumentalista da comunicação. Outro, ade um proces- tórico das organizações, praticamente não deixaram resíduos sendo
so linear e unidirecional, mesmo se tratando de sistemas onde, em possível detectá·los :lpenas e m alguns textos do COOpenltivi;mo do
tese. haveria uma relação de horizontal idade . O fat'O é que a fonnaJi- início d os anos 80.1.5
Z:IÇ:i.O cia."i estrutUras, a existência de um quadro diri)!eme e das figu- Entrementes, passemos ao último núdeo, formado pela extcn-
rdS dos técnicos c assessores instalam uma siruação extremamenle sào universitária .
semelhante:i dos demais mkleos, principalmente no segmento coo-
perativista.
Chamaria ainda aten\'ão para a forte presença, neste último,
dos mesmos pressupostOS teóricos da extensão rural oficial, princi-
palmente da Teoria da M.odernização. Assim, tmta-se a comunicação
como estÚIlulo necessário e suficiente para converter pessoas ina-
daptadas à modernidade em ativos agentes da moderna sociedade.
Não se tem produzido discursos recentes sobre a comunicação,
o nde se possa comprov:Lr tal af.umação, mas a postura acima pode
ser inferida somando-se O que já fo i exposto quanto:i atitude institu-
" Excluo ;I(lul a Imensa de ....'t:S(.-i'ncia do movimemo siodk:d dos primeiros ;1005
da d écada d e 60, pOI" esur {or.. d o ãmhilO do trabaLho. t-k s mu a»lm náo h1
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lo:. de comunlcaç:lo.

02
"
A cxtens(1o universitária Ou, para citar um documento oficial, o conceito de extensão es·
tabelecido pelo Fórum de Pr6-Reitores de Extensão das Universida·
des Públicas Brasileiras:
Numericamente bem menor, este núcleo caracteriza-se pela in-
termitência das ações, pela própria natureza de seus objetivos. Apesar -". extensão universitária e f) processu educalif}(). cultural e cientifico que arti-
cula o el/sil/o e a pesquisa de/orll1l1lndl$soclávtd e utabiliza a relaçáo tram-
de a Escola Superior de Agriculrura e Veterinária (atual Universidade /omwdora elltrea .wiuersidade e a sociedatle. É uma via de mão dupla. com
Federal de Viçosa) já em 1926 ter incluído a extensão universitária Irãns/to assl!guradtJ à comullidade acadêmica, que encontrará, na socieda-
em suas atividades-fins (ensino, pesquisa e cxtensão), s6 em ]931 de, a oporllmidadede e/aboraçilo da prtl.-ds de um corlhecimel/to acadêmico.
No retOnlO à ul/ilJef"sidade, docemes e discentes trardo um apnmdizado q'le,
ela foi oficializada, com a "Reforma das Universidades Públicas Brasi· subml!lido à reflexiio trorica, será acrescida àquele conhecimento. Esseflu;w
leiras". que estabelece a troca de saberes sistematizado, acadêmico e popular terá
como conseqüência a produçãu de corlbecimento resultante do confronto
A I'xtlmsãu .miIJusitária "destina-se a di/atar os belwfícios da lItmos/era .mi- com as realidades brasileira e regioual: a democratlZaçâo do CQ'lhecímellto
t'/!rsiuiria àqueles que nào SI! f!tlCOtltram aSJ()(;i(J(los a e1a - e us curso~ 11' ex- acadêmico e li pllrllclPllçiiu e/eUIJa da cotmmidade lia atuaç40 da Imiversl-
tens40 são "destinadas a pN..>pagar. em belleftclo da culetlllQ, a allllld(lt!e dade. Além de instrumentallzadora desse processo dialético de teoria e práti-
lrolica e clemifica dos Institutos UlIi,'ersitários ". (Mello, apud Obcid: 114) ca, a extellsão é um trabalho imerdiscip/lnar quefaVQrece a visãu integrada
du scx;ial. (documento final do I Encontro Nacional, B~iliól , 1987)
Ainda segundo Obeid, a idéia de "promover a difusão da cultu-
ra acadêmica em um processo educativo permanente à população Na prática da extensão, porém, a realidade é o utra, observan-
estranha à universidade" foi solidificada nos anos do regime militar, do-se uma tensão constante entre os grupos que atuam sob o signo
com a criação do CRUTAC (Centros ({urais Universitários de Treina- do difusionismo (dominante) c os que lutam pela incorporação dos
me nto e Ação Comunitária), do projeto Rondon e dos campi avança- princípios estabelecidos. Via de regra, a extensão universitária pode
dos. É necessário nomr que esses instrumentos da extensão ser caracterizada como grupos de alunos sob a coordenação de al-
universitária estiveram ;lSsociados ao projeto desenvolvime ntiSta da- guns professores, que elegem uma determinada área - um assenta-
queles anos, além de funcionarem como adestramento ideol.ógi C~ mento, povoado, comunidade, cooperativa, etc. - e ali executam
dos futuros profissionais, que em tese serviriam aos p lanos naCionaiS projetos pontuais.l 6 Embora baja uma ou outra exceção e esforços
de ingresso na mode rnidade. Como niio poderia deixar de ser, co- no sentido de estabelecer bases para uma ação mais contínua e com-
municação, educação, transferência tecnológica e desenvolvimento prometida, o que se o bteve não foi ainda suficiente para se sobrepor
eram conceiros quase sinonímicos. aos "velhos modelos" que a concebem como promotora de cursos
Na segunda metade dos anos 80, alguma mudança se observa de pequena duração ou de "ações comunitárias itinerantes".
no se ntido de incorporar os novos debates políticos c as oricmaçÕC5 Os remas geralmente se prendem à organização social ou à pro-
emergentes quanto à educação popular e os processos dial6gicos de dução. A produção de materiais de apoio ao processo de comunica-
comunicação. Neste sentido, é sintomático o trecho seguinte: ção não é significativa e , quando ocorre, é sob a forma de impressos.
A mudança proposta dá-61! em term06 polílico-melOdo/ógicos. /'til que u polltO O tipo de abordagem varia bastante, de acordo com a orientação do
de IX/rtida "ai da COIICrl!/(J real au cOllcre/o pensado. por í"terl~,éd;Q de uma professor ou das diretrizes de cada univers idade. Assim, pode-se as-
prállca social que ifl6ere 1/0 seu caminbara partilha ea sofldanedade para a se melhar à extensão rural oficial ou se identificar com as linhas de
constnlÇtlo de um projeto histórico de sociedadl', símultt21wa e a. lm~ 6a~tu ~la
qualidade IIafo"I/ação dos pro/lssiollais, em term~s de compelem:w teclU~a ação dos grupos mais progressistas. Naqueles, a linha mestra é a
e compromisso políticu. Neste COl/texto, a extensa? .expressa-se como açao transferência tecnológica. Nestes, a participação popular.
vinculada, comíllua e processual de lima IIo/Ja polmca, uma nuva filoso/la,
uma n01)a IJOSlUra de ação IW mlil!l!rsidade. (O~id : 11 5·6)
16 Neste M:mldo. pode-se consultar o ólITigo d" Callou C uutr~ . que relata e ~nali·
sa os esforços d e M:tores univasit:l.rios pela implantação, n:l. extensão, de um
"" modelo gerencial de comunicaç:io'·.

. "
A cxtens(1o universitária Ou, para citar um documento oficial, o conceito de extensão es·
tabelecido pelo Fórum de Pr6-Reitores de Extensão das Universida·
des Públicas Brasileiras:
Numericamente bem menor, este núcleo caracteriza-se pela in-
termitência das ações, pela própria natureza de seus objetivos. Apesar -". extensão universitária e f) processu educalif}(). cultural e cientifico que arti-
cula o el/sil/o e a pesquisa de/orll1l1lndl$soclávtd e utabiliza a relaçáo tram-
de a Escola Superior de Agriculrura e Veterinária (atual Universidade /omwdora elltrea .wiuersidade e a sociedatle. É uma via de mão dupla. com
Federal de Viçosa) já em 1926 ter incluído a extensão universitária Irãns/to assl!guradtJ à comullidade acadêmica, que encontrará, na socieda-
em suas atividades-fins (ensino, pesquisa e cxtensão), s6 em ]931 de, a oporllmidadede e/aboraçilo da prtl.-ds de um corlhecimel/to acadêmico.
No retOnlO à ul/ilJef"sidade, docemes e discentes trardo um apnmdizado q'le,
ela foi oficializada, com a "Reforma das Universidades Públicas Brasi· subml!lido à reflexiio trorica, será acrescida àquele conhecimento. Esseflu;w
leiras". que estabelece a troca de saberes sistematizado, acadêmico e popular terá
como conseqüência a produçãu de corlbecimento resultante do confronto
A I'xtlmsãu .miIJusitária "destina-se a di/atar os belwfícios da lItmos/era .mi- com as realidades brasileira e regioual: a democratlZaçâo do CQ'lhecímellto
t'/!rsiuiria àqueles que nào SI! f!tlCOtltram aSJ()(;i(J(los a e1a - e us curso~ 11' ex- acadêmico e li pllrllclPllçiiu e/eUIJa da cotmmidade lia atuaç40 da Imiversl-
tens40 são "destinadas a pN..>pagar. em belleftclo da culetlllQ, a allllld(lt!e dade. Além de instrumentallzadora desse processo dialético de teoria e práti-
lrolica e clemifica dos Institutos UlIi,'ersitários ". (Mello, apud Obcid: 114) ca, a extellsão é um trabalho imerdiscip/lnar quefaVQrece a visãu integrada
du scx;ial. (documento final do I Encontro Nacional, B~iliól , 1987)
Ainda segundo Obeid, a idéia de "promover a difusão da cultu-
ra acadêmica em um processo educativo permanente à população Na prática da extensão, porém, a realidade é o utra, observan-
estranha à universidade" foi solidificada nos anos do regime militar, do-se uma tensão constante entre os grupos que atuam sob o signo
com a criação do CRUTAC (Centros ({urais Universitários de Treina- do difusionismo (dominante) c os que lutam pela incorporação dos
me nto e Ação Comunitária), do projeto Rondon e dos campi avança- princípios estabelecidos. Via de regra, a extensão universitária pode
dos. É necessário nomr que esses instrumentos da extensão ser caracterizada como grupos de alunos sob a coordenação de al-
universitária estiveram ;lSsociados ao projeto desenvolvime ntiSta da- guns professores, que elegem uma determinada área - um assenta-
queles anos, além de funcionarem como adestramento ideol.ógi C~ mento, povoado, comunidade, cooperativa, etc. - e ali executam
dos futuros profissionais, que em tese serviriam aos p lanos naCionaiS projetos pontuais.l 6 Embora baja uma ou outra exceção e esforços
de ingresso na mode rnidade. Como niio poderia deixar de ser, co- no sentido de estabelecer bases para uma ação mais contínua e com-
municação, educação, transferência tecnológica e desenvolvimento prometida, o que se o bteve não foi ainda suficiente para se sobrepor
eram conceiros quase sinonímicos. aos "velhos modelos" que a concebem como promotora de cursos
Na segunda metade dos anos 80, alguma mudança se observa de pequena duração ou de "ações comunitárias itinerantes".
no se ntido de incorporar os novos debates políticos c as oricmaçÕC5 Os remas geralmente se prendem à organização social ou à pro-
emergentes quanto à educação popular e os processos dial6gicos de dução. A produção de materiais de apoio ao processo de comunica-
comunicação. Neste sentido, é sintomático o trecho seguinte: ção não é significativa e , quando ocorre, é sob a forma de impressos.
A mudança proposta dá-61! em term06 polílico-melOdo/ógicos. /'til que u polltO O tipo de abordagem varia bastante, de acordo com a orientação do
de IX/rtida "ai da COIICrl!/(J real au cOllcre/o pensado. por í"terl~,éd;Q de uma professor ou das diretrizes de cada univers idade. Assim, pode-se as-
prállca social que ifl6ere 1/0 seu caminbara partilha ea sofldanedade para a se melhar à extensão rural oficial ou se identificar com as linhas de
constnlÇtlo de um projeto histórico de sociedadl', símultt21wa e a. lm~ 6a~tu ~la
qualidade IIafo"I/ação dos pro/lssiollais, em term~s de compelem:w teclU~a ação dos grupos mais progressistas. Naqueles, a linha mestra é a
e compromisso políticu. Neste COl/texto, a extensa? .expressa-se como açao transferência tecnológica. Nestes, a participação popular.
vinculada, comíllua e processual de lima IIo/Ja polmca, uma nuva filoso/la,
uma n01)a IJOSlUra de ação IW mlil!l!rsidade. (O~id : 11 5·6)
16 Neste M:mldo. pode-se consultar o ólITigo d" Callou C uutr~ . que relata e ~nali·
sa os esforços d e M:tores univasit:l.rios pela implantação, n:l. extensão, de um
"" modelo gerencial de comunicaç:io'·.

. "
InrJlluArmij<)

A comunicação é consid erad a peça-cnave nesse COntexto de ex· na sua aparência lógica c inCOntestável continua norteando as con.
te nsão unive rsitária: cepções e práticas da comu n icação rural.
Nos últimos allos m/ll/o se /um tI/seul/do a q/les/do de um modeJo para a ex-
Acrescemaria aqui, ainda d e nt ro da hipó lese d o mode lo dial6-
tenSlÍo capaz llc promowr social, poIi/lca e f!COl/omic:amell/e as camadas l U· giro como obsráculo ao aV"dnço da teoria e da pr.itica de comunica·
tas po{mlares >lO melu rural. A parlir das idéias de PaI/lo Freire sobre a ção rural, a observação de O live ira (op. cit.: 46) d e que "a ê nfase
ql/esMo, quase I/il/gl/ém ",ais dlwlda, pelo mUI/os a I/ível (s/c) llodisCl"SO, da
impor/dl/cla da comunicaçôo como ulabilwltlora desse processo. FtL.""C' ex·
excessiva na trAnsfo rmação estrutural, e m detrime nto d e questões
tel/são nlral é ItSUI/)e/~'C1!1" uma relação de /roca de saberes. ExtellSlÍO é Isso: mais específicas da comunicação, te rmino u por le\".tr à idcologização
troa' de .wlHlres. t:",lsuJo e reuUtmmtaçáo, o que alracter/.ul Q processo (lI' co- de suas premissas, as quais se to maram mais douninárias do que cien·
tlllm' cardo. tificas". O liveira meneio na a exacerbação d a visão diCOu}mica entre
Esse texto, pinçado da apresentação do segundo núme ro do classes dominante e do minada, q ue nesse modelo explica todos os
CaLienlOS de c;xlctlsão rura l , coloca em cena a concepção de comunl· problemas, inclus ive os da co municação, e levou a dificuldades de
c"lção: um processo, d ialógico no sentido "freireano", caracterizado o rdem metodológica quando no confronto com a realidade . 17
pelo par emlssão/realimentaçáo. No entanto, os artigos publicados no
mes mo caderno fa'l.c m insisteme menção às contradições do tecido P<.m/QS ,Ie roll!llIrgcl/c la
social e às lu tas populares como força propu lsora do conbcci mCnlO
e da mudança. Nova mente somos confrontad os com a dificuldade
de compatib ilizar a análise macrossocial com o modelo de comuni· Estes doco núcleos - Órgãos Governamentais, ONGs, Igrejas,
caÇ"do. A an:í.lise segue na direção do conflito , da d ialética , d a com ra· Organizações Rcprese ntalh'as e Extensão Universit:lria - que, por in-
dição. O modelo mecaniciza e idealiza as relações comunicativas, termédio de políticas d e inte rve nção, atuam no meio ru ral não agem
ainda que sob o "mamo sagrado" d as idéias de Paulo Freire . de forma iso lada, nem seus discu rsos são impermeáveis aos de mais.
Tah'el. aí - na forte e sempre presenre he rança d iscursiva de Pau· A pr.itica discursiva não corrcsponde rigidamente à demarcação de
10 Freire - resida um dos o bstáculos a se elaborar um modelo d e co- fronteiras institucionais. A "cont:uninação" é inevitável e, ainda que
municação que corresponda à noção conflirual de sociedade que não o fosse pela própria natura:! d :! inte rdiscurs ividade, o seria pela
esse e o utros núcleos demonstram ter. Freire, a partir d e uma visão própria dinâmica social. A :ln:i1isc d e per se permitiu d e linear algu.
humanista e ide:disra, crio u as bases filosóficas de uma nova postura mas especificidades que se locaJi.z.1m mais n:! estruturação e o bjeti-
em relação à co municação, no contexto de apoio às luras populares. vos institucio nais e me nos nas concepções e práticas sociais e de
Não criou um mode lo , m:lS se o tivesse reito p rovavelme me Icria comunicaçáo. A respeito destas, creio se r pos.~ívcl identificar seis
uma carnct'crística marcame : a de buscar a interAção, a fusão, o e n· posturas comuns aos núcleos analisados, que resumo a seguir.
rendime nto e o considerar plename nte possível. Um modelo de co- • Dificuldade de compatibiliz."lr análise macrossocial e mode·
munhão, no qual o verdadeiro sentido seria produzido pe lo los d e comunicação. Aquela, com base no p:tradigma conflitu:!l, com
compro misso ideológico dos e missores com os receptores e garanti. ênfase n:tS re lações dialéticas da sociedade. Est'es, idealistas e meca·
do pelo u so de um universo vocabular e conceitual compatível com
O universo expe rieneial desses últimos. Um modelo que veria o Bem
e a Verdade como conteúdos C:lpaze.s de unificar os imeresses mais t7 Valdir Olivei ra, a~sim como Migu el Angelo (I:!. SlI vc:lra. João CulO!> CanutO,
diversos e contradiló rios e no qual a produção de sentido continua· Eduardo Co nU'eras, Benho Mar:tng6 n, entre OUlTOS, fv.em pane do reduzido
ria localizada no ajuste de cód igos. Po r fim , um modelo que tr:uia grupo que nos anos 80 refletiu criticamente: sobre: a co mun iç,.ção I"llral, embo-
r.I l()Çalizad~ na prâtiCól cJ'1I!n si on'~t3 a li cia i, temando sair do drc ulo vi cioso
implícito aquele o utro, o da emissão·recep ção·realimenraçáo , que e ntrc os m oúc:lu~ (Hfuslon!slll5 e os de trans fonna~' iio estru tu ral. Ml!.'§ mo e nt re
eSIc.~, nem todos esopar.lm de: perce: ber a comunk';l.~·:io como algo :lbstr.uo ,

..
ou com vida própria, indepelldc:me da pr:hiC;1 dos agcntl'li.

B6
InrJlluArmij<)

A comunicação é consid erad a peça-cnave nesse COntexto de ex· na sua aparência lógica c inCOntestável continua norteando as con.
te nsão unive rsitária: cepções e práticas da comu n icação rural.
Nos últimos allos m/ll/o se /um tI/seul/do a q/les/do de um modeJo para a ex-
Acrescemaria aqui, ainda d e nt ro da hipó lese d o mode lo dial6-
tenSlÍo capaz llc promowr social, poIi/lca e f!COl/omic:amell/e as camadas l U· giro como obsráculo ao aV"dnço da teoria e da pr.itica de comunica·
tas po{mlares >lO melu rural. A parlir das idéias de PaI/lo Freire sobre a ção rural, a observação de O live ira (op. cit.: 46) d e que "a ê nfase
ql/esMo, quase I/il/gl/ém ",ais dlwlda, pelo mUI/os a I/ível (s/c) llodisCl"SO, da
impor/dl/cla da comunicaçôo como ulabilwltlora desse processo. FtL.""C' ex·
excessiva na trAnsfo rmação estrutural, e m detrime nto d e questões
tel/são nlral é ItSUI/)e/~'C1!1" uma relação de /roca de saberes. ExtellSlÍO é Isso: mais específicas da comunicação, te rmino u por le\".tr à idcologização
troa' de .wlHlres. t:",lsuJo e reuUtmmtaçáo, o que alracter/.ul Q processo (lI' co- de suas premissas, as quais se to maram mais douninárias do que cien·
tlllm' cardo. tificas". O liveira meneio na a exacerbação d a visão diCOu}mica entre
Esse texto, pinçado da apresentação do segundo núme ro do classes dominante e do minada, q ue nesse modelo explica todos os
CaLienlOS de c;xlctlsão rura l , coloca em cena a concepção de comunl· problemas, inclus ive os da co municação, e levou a dificuldades de
c"lção: um processo, d ialógico no sentido "freireano", caracterizado o rdem metodológica quando no confronto com a realidade . 17
pelo par emlssão/realimentaçáo. No entanto, os artigos publicados no
mes mo caderno fa'l.c m insisteme menção às contradições do tecido P<.m/QS ,Ie roll!llIrgcl/c la
social e às lu tas populares como força propu lsora do conbcci mCnlO
e da mudança. Nova mente somos confrontad os com a dificuldade
de compatib ilizar a análise macrossocial com o modelo de comuni· Estes doco núcleos - Órgãos Governamentais, ONGs, Igrejas,
caÇ"do. A an:í.lise segue na direção do conflito , da d ialética , d a com ra· Organizações Rcprese ntalh'as e Extensão Universit:lria - que, por in-
dição. O modelo mecaniciza e idealiza as relações comunicativas, termédio de políticas d e inte rve nção, atuam no meio ru ral não agem
ainda que sob o "mamo sagrado" d as idéias de Paulo Freire . de forma iso lada, nem seus discu rsos são impermeáveis aos de mais.
Tah'el. aí - na forte e sempre presenre he rança d iscursiva de Pau· A pr.itica discursiva não corrcsponde rigidamente à demarcação de
10 Freire - resida um dos o bstáculos a se elaborar um modelo d e co- fronteiras institucionais. A "cont:uninação" é inevitável e, ainda que
municação que corresponda à noção conflirual de sociedade que não o fosse pela própria natura:! d :! inte rdiscurs ividade, o seria pela
esse e o utros núcleos demonstram ter. Freire, a partir d e uma visão própria dinâmica social. A :ln:i1isc d e per se permitiu d e linear algu.
humanista e ide:disra, crio u as bases filosóficas de uma nova postura mas especificidades que se locaJi.z.1m mais n:! estruturação e o bjeti-
em relação à co municação, no contexto de apoio às luras populares. vos institucio nais e me nos nas concepções e práticas sociais e de
Não criou um mode lo , m:lS se o tivesse reito p rovavelme me Icria comunicaçáo. A respeito destas, creio se r pos.~ívcl identificar seis
uma carnct'crística marcame : a de buscar a interAção, a fusão, o e n· posturas comuns aos núcleos analisados, que resumo a seguir.
rendime nto e o considerar plename nte possível. Um modelo de co- • Dificuldade de compatibiliz."lr análise macrossocial e mode·
munhão, no qual o verdadeiro sentido seria produzido pe lo los d e comunicação. Aquela, com base no p:tradigma conflitu:!l, com
compro misso ideológico dos e missores com os receptores e garanti. ênfase n:tS re lações dialéticas da sociedade. Est'es, idealistas e meca·
do pelo u so de um universo vocabular e conceitual compatível com
O universo expe rieneial desses últimos. Um modelo que veria o Bem
e a Verdade como conteúdos C:lpaze.s de unificar os imeresses mais t7 Valdir Olivei ra, a~sim como Migu el Angelo (I:!. SlI vc:lra. João CulO!> CanutO,
diversos e contradiló rios e no qual a produção de sentido continua· Eduardo Co nU'eras, Benho Mar:tng6 n, entre OUlTOS, fv.em pane do reduzido
ria localizada no ajuste de cód igos. Po r fim , um modelo que tr:uia grupo que nos anos 80 refletiu criticamente: sobre: a co mun iç,.ção I"llral, embo-
r.I l()Çalizad~ na prâtiCól cJ'1I!n si on'~t3 a li cia i, temando sair do drc ulo vi cioso
implícito aquele o utro, o da emissão·recep ção·realimenraçáo , que e ntrc os m oúc:lu~ (Hfuslon!slll5 e os de trans fonna~' iio estru tu ral. Ml!.'§ mo e nt re
eSIc.~, nem todos esopar.lm de: perce: ber a comunk';l.~·:io como algo :lbstr.uo ,

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ou com vida própria, indepelldc:me da pr:hiC;1 dos agcntl'li.

B6
1...·.IIIIo'IraújQ

nicislas, ancorados na Teoria da Informação, com inspiração funcio- to da(s) teoria(s) implícita(s) nas p ráticas. A forç.'I dos paradigmas re.
nalista . side justamente aj, de um lado na inconsciência e d e outro na
• Entendimento dos modelos transferencial e dialógico como naturalização das teorias e dos modelos, pri ncipaJmente se estamos
antagônicos e não percepção do seu núcleo comum . lidando com um paradigma que p rocura trazer para as ciências sociais
• Dificuldade em aplicar a análise social à própria ins tituição, o modo de pe nsar das ciências da n:nureza. As pessoas que praticam
situação dt!corrente de uma visão missionária de si mes mo. a comunicação rural pensam, freqü e ntam cursos buscam assessoria
• Percepção da comunicação como resposta para as questões incorporam novas idéias. Mas a força paradigmãtica do modelo d~
sociais (e institucionais) . Essa noção não difere muito daquela pro- comunicação que se fundamenta numa concepção de linguagem sim.
°
posta pe la UNESCO, nos anos 50/60. que muda é a abordagem dos
princípios e métodos da comunicação, persistindo a idéia central. Ao
pies e convincente e que pennanece como espinha dorsal da maioria
das análises, concepções e pr:iricas de comunicaç.ão rural, lança uma
invés de comunicação como instrumento do desenvolvimento, pas· cortina sobre certas evidências ecristaliza uma teoria sobre o proces.
samos a tê·la como instrumento de transfomlação soci:tl. 50 da comunicação como verdade inelutável.
• Panicipação popu lar como conceito-chave para esta ·' nO....J." Pierre Bo urdieu faz menção à "ilusão da constância do no mi.
abordagem da comunicação, apropriado das mais diversas formas . nar, referindo ·se à convicção corrente que um mesmo concei[Q (ou
• Noção d e ideologia vinculada :t conteúdos . Ideologia como palavra) pode ser empregado para designar a realidade que designa.
algo abstrato que é incutido através da interpretação dos fatos sociais va tem pos antes (1990: 2). Creio que isto acontece fonemente com o
e veiculada nas mensage ns o ferecidas aos receptores. Meios, fo rmas, modelo de com unicação que aqui está e lll questão, tanto mais na
formatos , processos de recepção e consu mo são ideologicamente medida em que seus adeptOs (se é que se pode chamar assim a quem
neutros. adere inconscientemente) não tt:m o há bilo de refletir criticamente
• Concepção de linguagem apoiada em três pilares : língua sobre os conceitos subjacentes à sua prática, suas cond ições históri.
como repenório , imanência do sent ido nas palavras (relação mecâ· cas de produção e aplicação. Historicizar leVa à desnaturalização e
nica significante / significado) e autonomia do sujeito sobre :I língua desf.az dicotomias qu e, por mecanismos d iversos d o jogo de interes.
e sobre aconsQ'Ução do s ignificado. De tal concepção não se tem c1a· ses de classe, transfonnam-se .em categorias d e percepção, como é o
reza, estando e la implíci ta nos modelos d e comu nicação adotados, caso, só para ci tar um exemplo , de "em issor.receptor··. Adicional.
tanto o transferendal como o dialógico. me nte , ajuda a evi tar que se tome um modelo , representaçãoesque.
Evidentemente, poder·se.ia apontar algumas exceções e m cada mática de uma explicação da realidade, como sinônimo da pró pria
núcleo, _nas ins isto em que e las são forruita5, não represenrando o realidade.
conjunto; talvez um aind a débil movimento no sentido da mudança. A análise que foi fe ita neste tópico - dos conceitos e pr:iticas co-
Oque há, sim, é a percepção em boa parte dos grupos de que há uma municativas dos principais n úcleos discursivos que Operam no meio
inadequação d os seus métodos em relação aos objetivos, mas a rea· rur.ú - procurou mostrar como os modelos e paradigmas atuam, evi.
ção tem s ido, quase sempre, a de radicalizar a participação popular, tando·se tratar "a comunicação" como algo intangível, superestrutu.
oque confirma a solidez da idéia de que o problema da comunicação ral. Como p rocesso social, ocorre c é produzido na in teração e no
reside num ajuste de códigos: ajuste cultural , verbal o u de Outra n:t· confronto social , portamo através dos age ntes sociais e s uas práticas
TUreza, mas sempre ajuste de códigos. discursivas.
Cerrame nte essa discrepância entre teoria e prática e a conco- As o utras instâncias de produç:io c reprodução d os modelos e
mitante dificu ldade em detectá·la não pode ser imputada a uma defi· paradigmas têm uma característJca dife re nciada, e mbora não menos
cii:ncia de raciocínio que assolaria tal qu antidade d e pessoas e importante: são os espaços de elaboraçao teórica. E é um desses es.
organizações . A explicação pode estar, em parte, no desconhecimen· paços, o da pesquisa, que na seqüência será abordado. Faço, porém,

.. ..
1...·.IIIIo'IraújQ

nicislas, ancorados na Teoria da Informação, com inspiração funcio- to da(s) teoria(s) implícita(s) nas p ráticas. A forç.'I dos paradigmas re.
nalista . side justamente aj, de um lado na inconsciência e d e outro na
• Entendimento dos modelos transferencial e dialógico como naturalização das teorias e dos modelos, pri ncipaJmente se estamos
antagônicos e não percepção do seu núcleo comum . lidando com um paradigma que p rocura trazer para as ciências sociais
• Dificuldade em aplicar a análise social à própria ins tituição, o modo de pe nsar das ciências da n:nureza. As pessoas que praticam
situação dt!corrente de uma visão missionária de si mes mo. a comunicação rural pensam, freqü e ntam cursos buscam assessoria
• Percepção da comunicação como resposta para as questões incorporam novas idéias. Mas a força paradigmãtica do modelo d~
sociais (e institucionais) . Essa noção não difere muito daquela pro- comunicação que se fundamenta numa concepção de linguagem sim.
°
posta pe la UNESCO, nos anos 50/60. que muda é a abordagem dos
princípios e métodos da comunicação, persistindo a idéia central. Ao
pies e convincente e que pennanece como espinha dorsal da maioria
das análises, concepções e pr:iricas de comunicaç.ão rural, lança uma
invés de comunicação como instrumento do desenvolvimento, pas· cortina sobre certas evidências ecristaliza uma teoria sobre o proces.
samos a tê·la como instrumento de transfomlação soci:tl. 50 da comunicação como verdade inelutável.
• Panicipação popu lar como conceito-chave para esta ·' nO....J." Pierre Bo urdieu faz menção à "ilusão da constância do no mi.
abordagem da comunicação, apropriado das mais diversas formas . nar, referindo ·se à convicção corrente que um mesmo concei[Q (ou
• Noção d e ideologia vinculada :t conteúdos . Ideologia como palavra) pode ser empregado para designar a realidade que designa.
algo abstrato que é incutido através da interpretação dos fatos sociais va tem pos antes (1990: 2). Creio que isto acontece fonemente com o
e veiculada nas mensage ns o ferecidas aos receptores. Meios, fo rmas, modelo de com unicação que aqui está e lll questão, tanto mais na
formatos , processos de recepção e consu mo são ideologicamente medida em que seus adeptOs (se é que se pode chamar assim a quem
neutros. adere inconscientemente) não tt:m o há bilo de refletir criticamente
• Concepção de linguagem apoiada em três pilares : língua sobre os conceitos subjacentes à sua prática, suas cond ições históri.
como repenório , imanência do sent ido nas palavras (relação mecâ· cas de produção e aplicação. Historicizar leVa à desnaturalização e
nica significante / significado) e autonomia do sujeito sobre :I língua desf.az dicotomias qu e, por mecanismos d iversos d o jogo de interes.
e sobre aconsQ'Ução do s ignificado. De tal concepção não se tem c1a· ses de classe, transfonnam-se .em categorias d e percepção, como é o
reza, estando e la implíci ta nos modelos d e comu nicação adotados, caso, só para ci tar um exemplo , de "em issor.receptor··. Adicional.
tanto o transferendal como o dialógico. me nte , ajuda a evi tar que se tome um modelo , representaçãoesque.
Evidentemente, poder·se.ia apontar algumas exceções e m cada mática de uma explicação da realidade, como sinônimo da pró pria
núcleo, _nas ins isto em que e las são forruita5, não represenrando o realidade.
conjunto; talvez um aind a débil movimento no sentido da mudança. A análise que foi fe ita neste tópico - dos conceitos e pr:iticas co-
Oque há, sim, é a percepção em boa parte dos grupos de que há uma municativas dos principais n úcleos discursivos que Operam no meio
inadequação d os seus métodos em relação aos objetivos, mas a rea· rur.ú - procurou mostrar como os modelos e paradigmas atuam, evi.
ção tem s ido, quase sempre, a de radicalizar a participação popular, tando·se tratar "a comunicação" como algo intangível, superestrutu.
oque confirma a solidez da idéia de que o problema da comunicação ral. Como p rocesso social, ocorre c é produzido na in teração e no
reside num ajuste de códigos: ajuste cultural , verbal o u de Outra n:t· confronto social , portamo através dos age ntes sociais e s uas práticas
TUreza, mas sempre ajuste de códigos. discursivas.
Cerrame nte essa discrepância entre teoria e prática e a conco- As o utras instâncias de produç:io c reprodução d os modelos e
mitante dificu ldade em detectá·la não pode ser imputada a uma defi· paradigmas têm uma característJca dife re nciada, e mbora não menos
cii:ncia de raciocínio que assolaria tal qu antidade d e pessoas e importante: são os espaços de elaboraçao teórica. E é um desses es.
organizações . A explicação pode estar, em parte, no desconhecimen· paços, o da pesquisa, que na seqüência será abordado. Faço, porém,

.. ..
uma ressalva : minha inserção aqui, não tendo s ido pela via acadêmi- formação profiSSional (que incluía atuação direta com os campone_
ca, tr.LZ a dupla condição teóriCA e prática, como se poderá avaliar. ses, avaUações. diagnósticos, e tc.), a ObservAÇ-.10 rigorosa das práticas
c~municativas das instituições e o consumo de uma li teratura predo-
minantemente latino-americana sobre experiências e concepções de
apren.dizagem de adultos e comunicação popular.
E então - em 1988 - que dou início a uma ampla pesquisa empí-
Fiz e faço pane desse universo e, como tal, não poderia ficar rica, que teve como projeto confLnnar o u não a hipótese da existência
imune:ao modo dominante de pensar. Mas a narureza do trabalho de de uma lógica de comunicação própria dos camponeses, distinta de
assessoria institucional que. .dentro de um conceito, de amogestão, o utros segmen tos da popu lação. e delinear seus contornos. A investiga-
(cm como papel precípuo propor reflexões sobre a pr.itica, associada ção abrangeu seis estados da região Nordeste e envolveu diretamente
a uma curiosidade dc pesquisadora, propiciaram-me uma perma- 18 ~~niza~S c 1150 camponeses. O IcvantamcnlO bibliográfico
nenle preocupação em observ:.tr critiC:lmente a relação discurso/prá- prellllunar, fe ito em bibliotecas de universidades, centros de pesqui-
tica, detectar os impasses e dificu ldades e descobrir suas raízes. s.a, _ONGs e órgãos públicos, que visava aponrar o panorama d as pes_
Dei.xando dc lado as <Iuestões mais próprias da educação popular, os Q.UIS3S_ em comunicação rur.u, pós-me em contato com a seguinte
primeiros iflSfgbts na direção de uma mudança de abordage m (o ram Sltuaçao :
referentes à imponância da fo mla no processo de comunicação. Mas • Um farlO material compoSto por reJatórios de pesquisa e arti-
isto nflo implicam, absolutamente, mudança de paradigma. Trata- gos escritos por pesquisadores estrangeiros (norte-americanos e
va-se de aperfeiçoar o modelo, na medida em que considerava que f~Anceses, em sua maio ria) , descrevendo os resultados de investiga-
não só O conteúdo continha s ignificados, ponanto nâo só e le dcveria çoe:- lev-d.das ~ efeito ",os COntine ntes não-desenvolvidos, sobretudo
ser ajustado ao universo do receptor. Era um avanço, certamenle. mas n a Alrica, na Asia (na India, especificamemc) e em menor escala na
na concepção de linguagem e do processo d e produção do semido. América Latina . Todos , sem exceção, voltados parA processos de de-
Um segundo passo foi descobrir a dimens:l0 da pragmática (ai nda codificação d e mensagt!ns por populações não.alfabetizadas.
que assim 0:10 fosse no meada) , isto é , do valor das formas de recep- . • Um conjunto subs t:m d;t1 de dissertações de mestrado pro-
ção, circulação e consumo dos materiais e das mensagens por eles d.m:ldas por profissionais dos sistemas o ficiai s de pesquisa e exten-
veiculadas. Este, s im, re presento u uma mudança de rumo , na medi- sao rural, defendidas principalmenre nos cursos de pós-graduação
da em que deslocou o eixo da comunicação d o emissor e da mensa- das UFRGS, UFV, UnB e (MS, no período de 1965 a 1987. Tais traba-
gem para o receptor e para o proce.sw l!e produção dos sen tidos em lhos procuravam estudar a compreensão. por p ,tne d os agricultores.
recepção . Maso paradigma lingüístico nflo fora substancialmente a](e- das mensagens produzidas pela extensão, principalmente a leitura-
rado: continuava pensando em temlOS da busca da interação através bilidade dos textos; o papel dos meios massivos e dos meios utiliza-
da compree nsão dos mecanismos de reconhecimento e consumo dos pela e),1:ensão na adoção de novas propostas tecnol6gicas, COm
das mensagens. i!nfasc nas análises comparAtivas; os fato res comunicacionais da
Ambas as dimensões - forma e pragmática da comunicação- fo- I.r.msferência tecnol6gica.
rnm incorporndas nos eventoS de capacitação sob minha responsabi. • Um pt:queno número de dissertaçôcs abordando a comuni-
lidade. o que pennitiu confimlar, por s ua receptividade, que cação popu lar, sobretudo com o e nfoque de comunicação alternati-
correspondiam a uma explicação da realidade mais de acordo com a va, ou seja, de resistência ideológica :l. dominação de classe.
complexidade dos processos sociais que compun ham o universo d e • Artigos publicados em revistas diversas, denunciando o cará-
atuação das organiz.'lções. Faltava confirmação, porém. O que cu ter manipulado .. e a1ienanre dos meios da comunicação de m:lssa.
pensava até então era fruto da conjugação d e três vertentes: min ha

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"
uma ressalva : minha inserção aqui, não tendo s ido pela via acadêmi- formação profiSSional (que incluía atuação direta com os campone_
ca, tr.LZ a dupla condição teóriCA e prática, como se poderá avaliar. ses, avaUações. diagnósticos, e tc.), a ObservAÇ-.10 rigorosa das práticas
c~municativas das instituições e o consumo de uma li teratura predo-
minantemente latino-americana sobre experiências e concepções de
apren.dizagem de adultos e comunicação popular.
E então - em 1988 - que dou início a uma ampla pesquisa empí-
Fiz e faço pane desse universo e, como tal, não poderia ficar rica, que teve como projeto confLnnar o u não a hipótese da existência
imune:ao modo dominante de pensar. Mas a narureza do trabalho de de uma lógica de comunicação própria dos camponeses, distinta de
assessoria institucional que. .dentro de um conceito, de amogestão, o utros segmen tos da popu lação. e delinear seus contornos. A investiga-
(cm como papel precípuo propor reflexões sobre a pr.itica, associada ção abrangeu seis estados da região Nordeste e envolveu diretamente
a uma curiosidade dc pesquisadora, propiciaram-me uma perma- 18 ~~niza~S c 1150 camponeses. O IcvantamcnlO bibliográfico
nenle preocupação em observ:.tr critiC:lmente a relação discurso/prá- prellllunar, fe ito em bibliotecas de universidades, centros de pesqui-
tica, detectar os impasses e dificu ldades e descobrir suas raízes. s.a, _ONGs e órgãos públicos, que visava aponrar o panorama d as pes_
Dei.xando dc lado as <Iuestões mais próprias da educação popular, os Q.UIS3S_ em comunicação rur.u, pós-me em contato com a seguinte
primeiros iflSfgbts na direção de uma mudança de abordage m (o ram Sltuaçao :
referentes à imponância da fo mla no processo de comunicação. Mas • Um farlO material compoSto por reJatórios de pesquisa e arti-
isto nflo implicam, absolutamente, mudança de paradigma. Trata- gos escritos por pesquisadores estrangeiros (norte-americanos e
va-se de aperfeiçoar o modelo, na medida em que considerava que f~Anceses, em sua maio ria) , descrevendo os resultados de investiga-
não só O conteúdo continha s ignificados, ponanto nâo só e le dcveria çoe:- lev-d.das ~ efeito ",os COntine ntes não-desenvolvidos, sobretudo
ser ajustado ao universo do receptor. Era um avanço, certamenle. mas n a Alrica, na Asia (na India, especificamemc) e em menor escala na
na concepção de linguagem e do processo d e produção do semido. América Latina . Todos , sem exceção, voltados parA processos de de-
Um segundo passo foi descobrir a dimens:l0 da pragmática (ai nda codificação d e mensagt!ns por populações não.alfabetizadas.
que assim 0:10 fosse no meada) , isto é , do valor das formas de recep- . • Um conjunto subs t:m d;t1 de dissertações de mestrado pro-
ção, circulação e consumo dos materiais e das mensagens por eles d.m:ldas por profissionais dos sistemas o ficiai s de pesquisa e exten-
veiculadas. Este, s im, re presento u uma mudança de rumo , na medi- sao rural, defendidas principalmenre nos cursos de pós-graduação
da em que deslocou o eixo da comunicação d o emissor e da mensa- das UFRGS, UFV, UnB e (MS, no período de 1965 a 1987. Tais traba-
gem para o receptor e para o proce.sw l!e produção dos sen tidos em lhos procuravam estudar a compreensão. por p ,tne d os agricultores.
recepção . Maso paradigma lingüístico nflo fora substancialmente a](e- das mensagens produzidas pela extensão, principalmente a leitura-
rado: continuava pensando em temlOS da busca da interação através bilidade dos textos; o papel dos meios massivos e dos meios utiliza-
da compree nsão dos mecanismos de reconhecimento e consumo dos pela e),1:ensão na adoção de novas propostas tecnol6gicas, COm
das mensagens. i!nfasc nas análises comparAtivas; os fato res comunicacionais da
Ambas as dimensões - forma e pragmática da comunicação- fo- I.r.msferência tecnol6gica.
rnm incorporndas nos eventoS de capacitação sob minha responsabi. • Um pt:queno número de dissertaçôcs abordando a comuni-
lidade. o que pennitiu confimlar, por s ua receptividade, que cação popu lar, sobretudo com o e nfoque de comunicação alternati-
correspondiam a uma explicação da realidade mais de acordo com a va, ou seja, de resistência ideológica :l. dominação de classe.
complexidade dos processos sociais que compun ham o universo d e • Artigos publicados em revistas diversas, denunciando o cará-
atuação das organiz.'lções. Faltava confirmação, porém. O que cu ter manipulado .. e a1ienanre dos meios da comunicação de m:lssa.
pensava até então era fruto da conjugação d e três vertentes: min ha

90
"
I"esila A.raújo

Tais estudos e pesquisas são decorrência lógica da visão desen- Os demais abordaram temas relacionados à disseminação de In·
volvimentista dos anos 60, que culminou com o currículo dos cursos fomlaçóes elou valores sociais, por meio do rádio e vídeos, propon-
de comunicação no início da década de 70. São também produto da do re flexões sobre a eficácia comparativa dos meios ou o papel dos
preocupação e prioridade dos organismos oficiais de extensão rural radialistas na difusão de valores urbanos para o meio rural. Ao lançar
com o processo da comunicação. Eles sistematizam e legitimam , sob um desafio à UFV quanto à instalação de um curso de rádio rural ,
o signo da cientificidade da pesquisa acadêmica, modelos de comu- pergunta:
nicação que, na sua origem histórica, foram constituídos para expli- Por que 11<10 fonuar aqui umll impor/allle base de graduaçã<.> e pesqlllsa sobrll
car realidades outras ou atender interesses especificos, Se olharmos as relações ,1<.> r(Úlio com os moradoresdazOtla rural, como empresários, pro·
dutores, callçÕ<!s em busca da tmllsforffluçd<.> do cidadão, que la11tO busca·
com mais atenção, as dissertações são aplicações (melhor dizendo,
/nOS? (p. 35)
testes) de teorias ou modelos prontos a um determinado objeto. Por
essa via, testou-se a validade do modelo de comunicação em duas Considemndo que a lntercom é um dos dois fóruns nacionais
etapas, das fónnulas de leiturabilidade, da eficácia de modelos de catalisadorcs dos pesquisadores em comunicação - o outro é a Com-
persuasão, etc. pós - , valeria ainda mencionar que o número 59 da RBC (1988) , con-
Por outro lado, as raras teses sobre comunicação popular traziam sagrado à Comunicação Rural, traz apenas três trabalhos sobre o
à cena conceitos como begemonia, contracultura, indústria cultu- tema: uma entrevista com o editor-chefe do programa "Globo Ru-
ral, cultura subalterna, alienaçâo e resistência, dominaçâo, ideo- ral", um estudo de caso sobre o mesmo programa na região su l de
logia , associados ao paradigma contlitual, e trd.balhavam com uma U- Minas Gemis, cujo objetivo era "explicitar a comunicação - via televi-
nha mais cultur-.tIista, vendo a comunicação como forma de expressão são - para o meio rur-.t.I como fator de integmção do empresariado
cultural e política das camadas populares. De resto, não se associava rural com o complexo agropecuário" e um estudo sobre "O novo
essa linha de pesquisa à problemática da sociedade camponesa, a perfil da comunicação rural brasileim". Ao todo, os tmbalhos ocu-
não ser pelo viés da cultura popular, numa perspcctiV"d., via de regra, pam 42 de suas 190 páginas, o que também é um dado a se conside-
folclorista . "u.
Os dados mais atuais sobre a pesquisa em comunicação ruml Tome mos outra publicação da Intercom, o livro Comunicação
conflffilam que a situação pouco se alterou, de 1988 para cá. No I Se- rural: discurso e prática (1993) , que sistematiza os trabalhos apre-
minário de Comunicação Rural da UFV, já mendonado e que data de sentados no congresso da sociedade em 1988, cujo tema central foi
julho de 1994, o presidente da Imercom - Sociedade Brasileira de "Comunic ação Ruml", Na introdução, uma das organizadoras afirma
Estudos Interdisciplinares em Comunicação - fez um balanço dos que
progressos nesse campo específico de pesquisa, que ele acreditava infe/izme"'e "O decurrer dos últimos a/los (a co mun icação rural) 11<10 mere-
estar refletido nas publicações especializadas da Intercom e em seus ceu, por parte das escolas de comunicação social, a atençào devida, /a1ll0 110
eventos regionais e nacionais. Deteve-se então no aprofundamell1o que se refere ao f!tlslPlo, qllalllo a uma me/bvrdefiniçã<.> das Unhas depcsqlli-
sa,Jicallt/o muito impregnada do exteusiouism<.>, d<.>futlciotlalismo e do difu<
dos estudos que lhe parecemm avançados e representativos da atua- siolllsmu de Inovaçóes, sob fu rte influência dos paradigmas importados,
lidade. Três, publicados na RBC - Revista Brasileira de Comunica- dts/allclados, portanto, da rea/ldmle brasileira. (Kul"L'lch: 7)
çâo, de jul ./dez. 1985, e um na mesma revista, de 1991. Este último
Não se pode ter uma concepção ingênua da pesquisa em comu-
. .. examiuou a nivel (sle) dos agriCll/tores as SUtIS principais fOf/tes de Infor-
nicação rur-.tI como que desvinculada das questões agrícola , econô-
mação, canais, llpos, qual/tidade e rdel·tU/cla local das i,ljormaç{Jes que re-
cebem e deixam de receber sobre sua produçM e comercialização agrlcvla. mica e política. Tal associação já ficou clara no que tange ao modelo
(Qudroz: 33) difusionista e agora pode-se perceber uma certa tendência a pensar
que, uma vez que se tem consciência crítica sobre as implicações p0-
lítico-ideológicas do modelo, fica mais fácil superá-Ias, como se a

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I"esila A.raújo

Tais estudos e pesquisas são decorrência lógica da visão desen- Os demais abordaram temas relacionados à disseminação de In·
volvimentista dos anos 60, que culminou com o currículo dos cursos fomlaçóes elou valores sociais, por meio do rádio e vídeos, propon-
de comunicação no início da década de 70. São também produto da do re flexões sobre a eficácia comparativa dos meios ou o papel dos
preocupação e prioridade dos organismos oficiais de extensão rural radialistas na difusão de valores urbanos para o meio rural. Ao lançar
com o processo da comunicação. Eles sistematizam e legitimam , sob um desafio à UFV quanto à instalação de um curso de rádio rural ,
o signo da cientificidade da pesquisa acadêmica, modelos de comu- pergunta:
nicação que, na sua origem histórica, foram constituídos para expli- Por que 11<10 fonuar aqui umll impor/allle base de graduaçã<.> e pesqlllsa sobrll
car realidades outras ou atender interesses especificos, Se olharmos as relações ,1<.> r(Úlio com os moradoresdazOtla rural, como empresários, pro·
dutores, callçÕ<!s em busca da tmllsforffluçd<.> do cidadão, que la11tO busca·
com mais atenção, as dissertações são aplicações (melhor dizendo,
/nOS? (p. 35)
testes) de teorias ou modelos prontos a um determinado objeto. Por
essa via, testou-se a validade do modelo de comunicação em duas Considemndo que a lntercom é um dos dois fóruns nacionais
etapas, das fónnulas de leiturabilidade, da eficácia de modelos de catalisadorcs dos pesquisadores em comunicação - o outro é a Com-
persuasão, etc. pós - , valeria ainda mencionar que o número 59 da RBC (1988) , con-
Por outro lado, as raras teses sobre comunicação popular traziam sagrado à Comunicação Rural, traz apenas três trabalhos sobre o
à cena conceitos como begemonia, contracultura, indústria cultu- tema: uma entrevista com o editor-chefe do programa "Globo Ru-
ral, cultura subalterna, alienaçâo e resistência, dominaçâo, ideo- ral", um estudo de caso sobre o mesmo programa na região su l de
logia , associados ao paradigma contlitual, e trd.balhavam com uma U- Minas Gemis, cujo objetivo era "explicitar a comunicação - via televi-
nha mais cultur-.tIista, vendo a comunicação como forma de expressão são - para o meio rur-.t.I como fator de integmção do empresariado
cultural e política das camadas populares. De resto, não se associava rural com o complexo agropecuário" e um estudo sobre "O novo
essa linha de pesquisa à problemática da sociedade camponesa, a perfil da comunicação rural brasileim". Ao todo, os tmbalhos ocu-
não ser pelo viés da cultura popular, numa perspcctiV"d., via de regra, pam 42 de suas 190 páginas, o que também é um dado a se conside-
folclorista . "u.
Os dados mais atuais sobre a pesquisa em comunicação ruml Tome mos outra publicação da Intercom, o livro Comunicação
conflffilam que a situação pouco se alterou, de 1988 para cá. No I Se- rural: discurso e prática (1993) , que sistematiza os trabalhos apre-
minário de Comunicação Rural da UFV, já mendonado e que data de sentados no congresso da sociedade em 1988, cujo tema central foi
julho de 1994, o presidente da Imercom - Sociedade Brasileira de "Comunic ação Ruml", Na introdução, uma das organizadoras afirma
Estudos Interdisciplinares em Comunicação - fez um balanço dos que
progressos nesse campo específico de pesquisa, que ele acreditava infe/izme"'e "O decurrer dos últimos a/los (a co mun icação rural) 11<10 mere-
estar refletido nas publicações especializadas da Intercom e em seus ceu, por parte das escolas de comunicação social, a atençào devida, /a1ll0 110
eventos regionais e nacionais. Deteve-se então no aprofundamell1o que se refere ao f!tlslPlo, qllalllo a uma me/bvrdefiniçã<.> das Unhas depcsqlli-
sa,Jicallt/o muito impregnada do exteusiouism<.>, d<.>futlciotlalismo e do difu<
dos estudos que lhe parecemm avançados e representativos da atua- siolllsmu de Inovaçóes, sob fu rte influência dos paradigmas importados,
lidade. Três, publicados na RBC - Revista Brasileira de Comunica- dts/allclados, portanto, da rea/ldmle brasileira. (Kul"L'lch: 7)
çâo, de jul ./dez. 1985, e um na mesma revista, de 1991. Este último
Não se pode ter uma concepção ingênua da pesquisa em comu-
. .. examiuou a nivel (sle) dos agriCll/tores as SUtIS principais fOf/tes de Infor-
nicação rur-.tI como que desvinculada das questões agrícola , econô-
mação, canais, llpos, qual/tidade e rdel·tU/cla local das i,ljormaç{Jes que re-
cebem e deixam de receber sobre sua produçM e comercialização agrlcvla. mica e política. Tal associação já ficou clara no que tange ao modelo
(Qudroz: 33) difusionista e agora pode-se perceber uma certa tendência a pensar
que, uma vez que se tem consciência crítica sobre as implicações p0-
lítico-ideológicas do modelo, fica mais fácil superá-Ias, como se a

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"
(n ....i/a Araujo A .-eco.wersOO da ulbur

consciência pudesse dissolveras condições de produção da pesquisa dos recursos naturAiS do planeta com uma situação de mais justiça
científica , num passe de mágica. social.
É assim que gostaria de mencionar, entre outras relações, a rt:- Relomando o fio da meada, para entretccé-lo novamente com
presentada pelos modelos agrícolas adotados, tomando como exem- meu perc urso dentro desse cenário: as pesquisas que eu bavia iden-
plar o da sustentabilidade. que ainda ensaia os seus primeiros tificado fiO levantamento bibliográfico, tanto as de investigadores es-
passos. E por que o da s ustentabilidade? Porque carrega consigo a trangeiros como as d e bmsileiros, procuravam verificar, em última
ilusão do novo, do revolucionário, d o "politic;unente correto", sen- análise , a adequação dos códigos aos receplOres ou as variáveis que
do defendido por todas as instâncias da prática discursiva no meio criaJ"iam obstáculos o u fac ilitariam a realização do ideal da comun i-
rural. cação, viSlO como a perfeita correspondência elllre a m e nsagem emi-
O modelo da sustentabilidade resulta do fracasso da Revoluçáo tida e sua decodificação. A pesquisa que coordenei - agora é possível
Verde e seu vetor "aumento de produtividade" como fator de desen- perceber - , ainda que questio nando a prerrogatiV""J. do emissor na
volvimento e e1iminador da pobreza no mundo. EmborA sem aban- produção do sentido e a preocupaç ão exclusiva com o njvel semânti-
donar a preo<.:upação com a produção, põe em cena a necessidade co das mensagens, funcionou sob a égide d o mesmo modelo básico
d e preservação dos recursos naturais, que se dariam atrAvés de um d e com unicação. Mas o fato de adotar alguns princípios do mé todo
novo padrão agrícola. O componente ecológico do modelo é cen- d e pesquisa-ação, o ler incluído o modo de recepção como obje to de
trAI , mas não exclusivo, uma vez que leva em Conta a dimensão ética, investigação e as categorias de rcaç iío eleitas para obscf"V""dção H1 per-
incluindo fatores sociais, econômicos, culturais e políticos. Nesse re- mitiram que emergissem do trAbalho de campo questões irrecusáveis
ferencial , fundamental se torna a utilização de recursos e conheci- que , ainda num plano intuitivo, apontavam noutra direção, além de
mentos locais, o que remete à panicipação dos agricultores, o confirmarem hipó teses que Cf"dm até então baseadas em suposições.
respeitO às suas tradições e cultura e à educação agroambiental (cf. As mais significativas foram :
c!Silveira: 45-7). • Que a produção do sentido se dava, de fato, em recepção e
Estamos , pois, confrontados com detemlinantes que estão ine- que e ra plural , isto ·é , havia infinitas possibilidades de decodificação
xoravelmente relacionados com a comunicação rural, apare ntemen- da mesma mensagem.
te na perspectiva dos modelos dialó gicos, e a pesquisa deve sofrer • Q ue o significado apreendido dependia mais das fomlas de
coerções desse novo cenário, como antes acontece u com a Revolu- c irculação e de uso do que do conteúdo ou da forma da mensagem.
ção Verde, adicionando aos parâmetros teóricos e metodológicos • Que a fo mla das mensagens - formato , cor, tipo e tamanho
outros condicionantes , que correspondem a interesses políticos c de letm, diagramação, formato de programas, ritmo, densidade, etc.
econômicos (para uma abordagem minuc iosa dessa relação, sugiro - produzia sentido tanto ou mais que o conteúdo.
consultar Silveira: 45-8). O que se pode indagar é se a dinâmica pró- • Que os receptores se percebiam representados pelo emissor
pria da pesquisa em Comuni<.:ação Rural conseguirá fazer face a essa nesses aspectos formais , e não apenas na representação pictórica.
nova conjuntura de modo mais eficaz d o que aquele com que se • Que o texto verbal predominava sobre as imagens, na produ-
houve com o modelo de modernização tecnológica e explorar sua
ção do sentido.
margem de independência, que certamente e felizmente existe. E, se
assim for, não se prender ao modelo dialógico-panicipativo até exau-
ri-lo, sem perceber suas conexões com os velhos paradigmas c com
interesses pouco defensáveis. O modelo da sustentabilidade não é 18 Foram pre:vis{<ls seis ca{egori:..s d e reação que , e: m prirn:ípio . comeriam os indi-
inocente nem humanista e ainda não se pode saber se vai conseguir cadores d a efetividade c efic áda d os meios e mens agens, interesse: (motivo..-
çiio), leitur~ (ou reconhccimenlO), compreen s:ío (arúlisc e inte rprela....o).
compatibilizar interesses dos países hegernônicos na consef"V""d.ção créd ito (ace itação ou confianç<l), assimilação (ou lncorpornção) e aplicação

.
(ação prálica) .

"
(n ....i/a Araujo A .-eco.wersOO da ulbur

consciência pudesse dissolveras condições de produção da pesquisa dos recursos naturAiS do planeta com uma situação de mais justiça
científica , num passe de mágica. social.
É assim que gostaria de mencionar, entre outras relações, a rt:- Relomando o fio da meada, para entretccé-lo novamente com
presentada pelos modelos agrícolas adotados, tomando como exem- meu perc urso dentro desse cenário: as pesquisas que eu bavia iden-
plar o da sustentabilidade. que ainda ensaia os seus primeiros tificado fiO levantamento bibliográfico, tanto as de investigadores es-
passos. E por que o da s ustentabilidade? Porque carrega consigo a trangeiros como as d e bmsileiros, procuravam verificar, em última
ilusão do novo, do revolucionário, d o "politic;unente correto", sen- análise , a adequação dos códigos aos receplOres ou as variáveis que
do defendido por todas as instâncias da prática discursiva no meio criaJ"iam obstáculos o u fac ilitariam a realização do ideal da comun i-
rural. cação, viSlO como a perfeita correspondência elllre a m e nsagem emi-
O modelo da sustentabilidade resulta do fracasso da Revoluçáo tida e sua decodificação. A pesquisa que coordenei - agora é possível
Verde e seu vetor "aumento de produtividade" como fator de desen- perceber - , ainda que questio nando a prerrogatiV""J. do emissor na
volvimento e e1iminador da pobreza no mundo. EmborA sem aban- produção do sentido e a preocupaç ão exclusiva com o njvel semânti-
donar a preo<.:upação com a produção, põe em cena a necessidade co das mensagens, funcionou sob a égide d o mesmo modelo básico
d e preservação dos recursos naturais, que se dariam atrAvés de um d e com unicação. Mas o fato de adotar alguns princípios do mé todo
novo padrão agrícola. O componente ecológico do modelo é cen- d e pesquisa-ação, o ler incluído o modo de recepção como obje to de
trAI , mas não exclusivo, uma vez que leva em Conta a dimensão ética, investigação e as categorias de rcaç iío eleitas para obscf"V""dção H1 per-
incluindo fatores sociais, econômicos, culturais e políticos. Nesse re- mitiram que emergissem do trAbalho de campo questões irrecusáveis
ferencial , fundamental se torna a utilização de recursos e conheci- que , ainda num plano intuitivo, apontavam noutra direção, além de
mentos locais, o que remete à panicipação dos agricultores, o confirmarem hipó teses que Cf"dm até então baseadas em suposições.
respeitO às suas tradições e cultura e à educação agroambiental (cf. As mais significativas foram :
c!Silveira: 45-7). • Que a produção do sentido se dava, de fato, em recepção e
Estamos , pois, confrontados com detemlinantes que estão ine- que e ra plural , isto ·é , havia infinitas possibilidades de decodificação
xoravelmente relacionados com a comunicação rural, apare ntemen- da mesma mensagem.
te na perspectiva dos modelos dialó gicos, e a pesquisa deve sofrer • Q ue o significado apreendido dependia mais das fomlas de
coerções desse novo cenário, como antes acontece u com a Revolu- c irculação e de uso do que do conteúdo ou da forma da mensagem.
ção Verde, adicionando aos parâmetros teóricos e metodológicos • Que a fo mla das mensagens - formato , cor, tipo e tamanho
outros condicionantes , que correspondem a interesses políticos c de letm, diagramação, formato de programas, ritmo, densidade, etc.
econômicos (para uma abordagem minuc iosa dessa relação, sugiro - produzia sentido tanto ou mais que o conteúdo.
consultar Silveira: 45-8). O que se pode indagar é se a dinâmica pró- • Que os receptores se percebiam representados pelo emissor
pria da pesquisa em Comuni<.:ação Rural conseguirá fazer face a essa nesses aspectos formais , e não apenas na representação pictórica.
nova conjuntura de modo mais eficaz d o que aquele com que se • Que o texto verbal predominava sobre as imagens, na produ-
houve com o modelo de modernização tecnológica e explorar sua
ção do sentido.
margem de independência, que certamente e felizmente existe. E, se
assim for, não se prender ao modelo dialógico-panicipativo até exau-
ri-lo, sem perceber suas conexões com os velhos paradigmas c com
interesses pouco defensáveis. O modelo da sustentabilidade não é 18 Foram pre:vis{<ls seis ca{egori:..s d e reação que , e: m prirn:ípio . comeriam os indi-
inocente nem humanista e ainda não se pode saber se vai conseguir cadores d a efetividade c efic áda d os meios e mens agens, interesse: (motivo..-
çiio), leitur~ (ou reconhccimenlO), compreen s:ío (arúlisc e inte rprela....o).
compatibilizar interesses dos países hegernônicos na consef"V""d.ção créd ito (ace itação ou confianç<l), assimilação (ou lncorpornção) e aplicação

.
(ação prálica) .

"
Inu/lDATQUjo

• Que a adequação do conteúdo aos interesses reais dos recep- que são e ntre nós os centros gerado res/repassadores d o conheci-
tores possibilitava a superação das dificuldades associadas à inade- me m o teórico con tempo rÂneo sobre comunicação.
quação dos códigos. As possibilidades ocorriam e m cinco cstados, com a oferta. dc
As d escobenas da pesquisa provocaram uma sensação de des- cursos em três universidades de São Paulo e o utr-d..S em Brasília, Sal-
confono, na medida em que o novo conhecimento não cabia mais vado r, Rio de jane iro e Recife.
nos parâmetros do modelo que percebia a comunicação como um A UFRPE - Universidade Federal Rural de Pe rnambuco - o ferecia
processo inte rativo detenninado por relações causa is. É importante o cu rso de mestrado em Administração Rural e Comunicação Rur-.I.l,
lembrar que não se raciocinaV:1 em termos de modelo o u paradigma . vinculado à área de administração. Era o único l.'lIrso especificamente
Sem víncu los com o universo acadêmico, nâo procurei enqua- direcio nado par.! o meio rural. As abordagens predominantes, até
drar-me em algum referencial teórico explíci to . Fo i uma pesquisa e m ão, eram a da Fo lkcomunicação, vertente de estudos que associa
empírica e seus resuh ados foram analisados de fonna também empí- :1 comunicação às manifestações culturais tradicionais das d :lsses p0-
rica: o objeto fo i circunscrito, investigado , descritO e analisado com pulares e a dos estudos sobre a prática comunicatiV""d das instituições
critérios advindos da prática . .Mas hoje é possível perceber tanto o (com ê nfase na e:'(te nsão rural oficial) , enfocada mais freqüentemen-
modelo d e comunicação que ali estava subjacente como o esforço te sob a mesma ó tica das pesquisas dos anos 70 mencionadas no tó-
para extrapolá·lo, na medida e m que a realidade se mostrava muito pico anterio r. Havia alguns esforços isolados no semido de análises
mais complexa . Foi esse esforço que me fez procurar uma pós-gradu- d e audiência e das implicaçocs ideológicas dos meios massivos, ou
ação, na tent:uiV""d de ampliar me us conbecimentos teó ricos. Sabia :tnálises das construçõcs simbólicas no processo da comuniC""J.çáo,
que para avançar não era mais possível ficar só com a prática. m as que não haviam se afirmado como linha de pesquisa. Arualmen-
te , poder-se-ia dizer que os interesses seguem duas grandes te ndên-
cias. Uma, predominame ainda, marcad amente ligada aos int eresses
A pós·graduaçào dos órgãos governamentais, voltada aos problemas do desenvolvimen-
tO regio nal e ancordda nas práticas transferenciais de comunicação. Ou-
tr.! , preocupada com os novos atores sociais, novas tecnologias, com
Abordar separ-.ldamente pesquisa e pós-graduação em comuni·
:lS implicações ideológicas da comunicação e apoiada nos modelos
cação pode causar estranheza, uma vez que são os cu rsos de mestra·
do e d o uto rndo a principal instância de produção cie ntífica nessa dialógicos.
área. Faço-o para caracterizar alguns pontos que me parecem re levan· O lMS - Ins tituto Mc todis ra de Ens ino Superior - manté m, des-
tes c que ralvC"".f. não pudcssem ser evidenciados numa abordagem uni_ de 1978, uma li nha d e pesquisas em comunicação rural , tendo sid o
ficada, como a importância relativa da disciplina no conjunto e a um d os principais pólos produtores de dissertações nessa ;írca nos
1100S 80. lnduída na área de concentração "Co municação Cie ntmca
comparação entre suas preocupações teóricas e as d as dema.is espe-
cializações. e Tecnológica"', objetiva fo rmar "profissionais pesqu isadores interes·
No ano d e 199 1, época em que decidi ingressar numa pós-gra. slu los ( ... ) na disseminação eficiente d e informações tecnológicas
duação em cornunicação, o panor.J.ma era bastante diversificado, ( o municaÇÍ-o empresarial e rural) , d e modo a contribuir para uma
oferecendo opções de cursos em nível de mest:r.tdo que diferiam democratização d os resultados da pesquisa e m ciê ncia e tecno logian
substancialmente em s ua abordagem teórica. Um hrcve resumo de ( :Irdoso: 1988 , p . 129) . Especificamente, a linha de pesquisa desen·
cada um pode ilustrnressa afinnação, além de traçar um quadro. ain- volve o "estudo d o processo de comunicação vo ltado às especialidades
4a que superficial, das principais linhas d e estudo c pesquisa que vi- do meio rur.t1. Comunicaç;10 e difusão de inowções. Comunicação e
nham (e em geral ainda pennaneccm) sendo p rivilegiadas nestcs eXI 'nsão rural. Comunicação e pesquisa agropecuária. A dimensão
"nclocultur-.I.l d a comunicação com o ho mem do campo" (catálogo

.. "
Inu/lDATQUjo

• Que a adequação do conteúdo aos interesses reais dos recep- que são e ntre nós os centros gerado res/repassadores d o conheci-
tores possibilitava a superação das dificuldades associadas à inade- me m o teórico con tempo rÂneo sobre comunicação.
quação dos códigos. As possibilidades ocorriam e m cinco cstados, com a oferta. dc
As d escobenas da pesquisa provocaram uma sensação de des- cursos em três universidades de São Paulo e o utr-d..S em Brasília, Sal-
confono, na medida em que o novo conhecimento não cabia mais vado r, Rio de jane iro e Recife.
nos parâmetros do modelo que percebia a comunicação como um A UFRPE - Universidade Federal Rural de Pe rnambuco - o ferecia
processo inte rativo detenninado por relações causa is. É importante o cu rso de mestrado em Administração Rural e Comunicação Rur-.I.l,
lembrar que não se raciocinaV:1 em termos de modelo o u paradigma . vinculado à área de administração. Era o único l.'lIrso especificamente
Sem víncu los com o universo acadêmico, nâo procurei enqua- direcio nado par.! o meio rural. As abordagens predominantes, até
drar-me em algum referencial teórico explíci to . Fo i uma pesquisa e m ão, eram a da Fo lkcomunicação, vertente de estudos que associa
empírica e seus resuh ados foram analisados de fonna também empí- :1 comunicação às manifestações culturais tradicionais das d :lsses p0-
rica: o objeto fo i circunscrito, investigado , descritO e analisado com pulares e a dos estudos sobre a prática comunicatiV""d das instituições
critérios advindos da prática . .Mas hoje é possível perceber tanto o (com ê nfase na e:'(te nsão rural oficial) , enfocada mais freqüentemen-
modelo d e comunicação que ali estava subjacente como o esforço te sob a mesma ó tica das pesquisas dos anos 70 mencionadas no tó-
para extrapolá·lo, na medida e m que a realidade se mostrava muito pico anterio r. Havia alguns esforços isolados no semido de análises
mais complexa . Foi esse esforço que me fez procurar uma pós-gradu- d e audiência e das implicaçocs ideológicas dos meios massivos, ou
ação, na tent:uiV""d de ampliar me us conbecimentos teó ricos. Sabia :tnálises das construçõcs simbólicas no processo da comuniC""J.çáo,
que para avançar não era mais possível ficar só com a prática. m as que não haviam se afirmado como linha de pesquisa. Arualmen-
te , poder-se-ia dizer que os interesses seguem duas grandes te ndên-
cias. Uma, predominame ainda, marcad amente ligada aos int eresses
A pós·graduaçào dos órgãos governamentais, voltada aos problemas do desenvolvimen-
tO regio nal e ancordda nas práticas transferenciais de comunicação. Ou-
tr.! , preocupada com os novos atores sociais, novas tecnologias, com
Abordar separ-.ldamente pesquisa e pós-graduação em comuni·
:lS implicações ideológicas da comunicação e apoiada nos modelos
cação pode causar estranheza, uma vez que são os cu rsos de mestra·
do e d o uto rndo a principal instância de produção cie ntífica nessa dialógicos.
área. Faço-o para caracterizar alguns pontos que me parecem re levan· O lMS - Ins tituto Mc todis ra de Ens ino Superior - manté m, des-
tes c que ralvC"".f. não pudcssem ser evidenciados numa abordagem uni_ de 1978, uma li nha d e pesquisas em comunicação rural , tendo sid o
ficada, como a importância relativa da disciplina no conjunto e a um d os principais pólos produtores de dissertações nessa ;írca nos
1100S 80. lnduída na área de concentração "Co municação Cie ntmca
comparação entre suas preocupações teóricas e as d as dema.is espe-
cializações. e Tecnológica"', objetiva fo rmar "profissionais pesqu isadores interes·
No ano d e 199 1, época em que decidi ingressar numa pós-gra. slu los ( ... ) na disseminação eficiente d e informações tecnológicas
duação em cornunicação, o panor.J.ma era bastante diversificado, ( o municaÇÍ-o empresarial e rural) , d e modo a contribuir para uma
oferecendo opções de cursos em nível de mest:r.tdo que diferiam democratização d os resultados da pesquisa e m ciê ncia e tecno logian
substancialmente em s ua abordagem teórica. Um hrcve resumo de ( :Irdoso: 1988 , p . 129) . Especificamente, a linha de pesquisa desen·
cada um pode ilustrnressa afinnação, além de traçar um quadro. ain- volve o "estudo d o processo de comunicação vo ltado às especialidades
4a que superficial, das principais linhas d e estudo c pesquisa que vi- do meio rur.t1. Comunicaç;10 e difusão de inowções. Comunicação e
nham (e em geral ainda pennaneccm) sendo p rivilegiadas nestcs eXI 'nsão rural. Comunicação e pesquisa agropecuária. A dimensão
"nclocultur-.I.l d a comunicação com o ho mem do campo" (catálogo

.. "
I_sita Araújo

de pós-gr.tduação do lMS: 54) . As outras linhas de pesquisa da área cesa (Porto, 1988: 138-45). Nos anos 70, porém, o curso eSICVC
são Divulgação Cientffica e Comunicação Empresarial. A área de con- forremente marcado pela linha de "Comunicação e Desenvolvimen_
centração "Teoria e Ensinoda Comunicação" é dirigida principalmen- to" . Mas, comando com professores que participavam ativamenre do
te a professores de comunicação que se interessem especialmente debate nacional sobre uma noV"d. ordem internacional de comunica-
pelo "estudo dos fenômenos da comunicação em sociedades depen- ção, sobre a dependência versus imperialismo e que se preocupa-
dentes", e desenvolve duas linhas de pesquisa: "Comunicação, Edu- vam com uma abordagem teórica Que privilegiasse as características
cação e Sociedade", voltada para a forrnaçao metodológica e teórica políticas, sociais e econômicas da América Latina, o mestrddo tentou
dos docentes e a de "Comunicação e Cultura", que "analisa e inter- se posicionar como uma reação às matrizes teóricas hegemônicas, de
preta culturas como sistema de comunicação. Pesquisa fOrmas de co- caráler difusionista. Talvez por isso tenham-se adiantado ao que viria
municação entre subsistemas culturais e fomlas e funções da cultura ocorrer mais tarde com outros cursos, incorporando a dimensão crí-
popular e urbana" (idem : 117). Há aparentemente uma desvincula- tica, ideológica e cultural em alguns estudos sobre comunicação
ção entre comunicação rurdl e cuhura popular, pois esta linha de rural, embora outros se alivessem às preocupações típicas do setor e
pesquisa da época. Que eram as de aperfeiçoar os processos de transferência
de infonnação tecnológica. No seu conjunto, não chegaram a diferir
visa a observação parttclpante das experiências populares, com a coleta (lral
de divulgação da produção cu/tural d"s gnlpoS subaflenlOs. espet;falmeme a dos colegas de outras pós-graduações, no que respeita ao modelo
realizaçãu artistica. asfonllas de lazer, a literatura urllf e escrila. a história básico de comunicação e à busca de sua otimização. Atualmente, o
de ddll. a ação retll/ndicatória, a m(mijes/ação religiosa. Buscar·se-á slgnifi- interesse pela comunicaçdo rural está "em baixa", se tomarmos
caçdo simbólica hltema e extema ao grupo, bem comu as funções sociais da
produção popular ( idem :119).
como indicador o catálogo de dissertações defendidas: a última so-
bre temas rurais data de 1979.
enquanto que a outra visa a otimização dos processos de difusão tec- O Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Se·
nológica, isto é, privilegia o pólo emissor. O recéptor, nesse caso, miótica, da PUC de São Paulo, Que data de 1978, privilegia, como o
não é visto como produtor de cultura popular, mas como parâmetro nome indica, a Semiótica,
da eficácia dos processos dirigidos pelo emissor. Difúsão é um con-
coluna dorsal da estrutura curricular. Isto slg'lifica: 11 fn!X!.<tfgaçãusemiõlicil
ceito inapelavelmente unilateral e difusão de inovações remete para é a principal f unte de UI,de sdu geradas as linhas de direcionamento das peso
o modelo desenvolvimentista de Everctt Rogers, ainda que se inscre- quisas (Draga. 1988: 110).
va nele a preocupação com os aspectos ideológicos da comunicação.
Além disso,
O curso de mestrado em comunicação da UnB - Universidade
de BrdSilia - tinha, como linhas prioritárias de pesquisa, as dt: "Políli- Semfólfca t percebl(la como cl~"cla capazde/undamemllra feitura e alld-
.0\

cas de Comunicação", "Comunicação e Cultura" e "Jornalismo Políti- /lse critica du /u"ciullamellto de todo e qualquer proc.essu de linguagem ( ... ).
(idc:m: 111 )
co". A partir do início da década de 80, os temas predominantes
foram os que possibilitaV"am "a análise critica do fenômeno do po- o mestrado não tém despertado a atenção dos interessados em
der, nas instituições, nas práticas e no veículo ", com um enfoque ge- comunicação rural, Que aparentemente desconhecem a validade dos
ralmeme marxista. As teorias da Escola de Frankfurt, a UNESCO, conhecimentos semiótioos para a compreensão dos fenômenos sociais
Matellart e outros teóricos da Dependência na América Latina sáo as que se processam no meio rum!.
matrizes preferenciais dessa linha de estudos. São incorporados, en- A UN ICAMP - Universidade Estadual de Campinas (SP) - im-
rre outros. autores btino-americanos (Barbero, Paulo Freire, Candi- plantara recentemente um Curso de Pós-graduação em MuJtimeios,
ni, Beltrán, etc) , a correnle ultrafrankfurtiana de Baudrillard , que se propunha a "formar e Qualificar pessoal para a utilização de
teóricos ingleses da vertente dos estudos culturais, além de abrir es- recursos de mu ltimeios na pesquisa de Artes e Comunicações" (fo-
paço para a Análise de Discursos, pela abordagem semiológica fTan- lheto do mestrado) . Suas áreas de pesquisa privilegiam a relação dos

.. ..
I_sita Araújo

de pós-gr.tduação do lMS: 54) . As outras linhas de pesquisa da área cesa (Porto, 1988: 138-45). Nos anos 70, porém, o curso eSICVC
são Divulgação Cientffica e Comunicação Empresarial. A área de con- forremente marcado pela linha de "Comunicação e Desenvolvimen_
centração "Teoria e Ensinoda Comunicação" é dirigida principalmen- to" . Mas, comando com professores que participavam ativamenre do
te a professores de comunicação que se interessem especialmente debate nacional sobre uma noV"d. ordem internacional de comunica-
pelo "estudo dos fenômenos da comunicação em sociedades depen- ção, sobre a dependência versus imperialismo e que se preocupa-
dentes", e desenvolve duas linhas de pesquisa: "Comunicação, Edu- vam com uma abordagem teórica Que privilegiasse as características
cação e Sociedade", voltada para a forrnaçao metodológica e teórica políticas, sociais e econômicas da América Latina, o mestrddo tentou
dos docentes e a de "Comunicação e Cultura", que "analisa e inter- se posicionar como uma reação às matrizes teóricas hegemônicas, de
preta culturas como sistema de comunicação. Pesquisa fOrmas de co- caráler difusionista. Talvez por isso tenham-se adiantado ao que viria
municação entre subsistemas culturais e fomlas e funções da cultura ocorrer mais tarde com outros cursos, incorporando a dimensão crí-
popular e urbana" (idem : 117). Há aparentemente uma desvincula- tica, ideológica e cultural em alguns estudos sobre comunicação
ção entre comunicação rurdl e cuhura popular, pois esta linha de rural, embora outros se alivessem às preocupações típicas do setor e
pesquisa da época. Que eram as de aperfeiçoar os processos de transferência
de infonnação tecnológica. No seu conjunto, não chegaram a diferir
visa a observação parttclpante das experiências populares, com a coleta (lral
de divulgação da produção cu/tural d"s gnlpoS subaflenlOs. espet;falmeme a dos colegas de outras pós-graduações, no que respeita ao modelo
realizaçãu artistica. asfonllas de lazer, a literatura urllf e escrila. a história básico de comunicação e à busca de sua otimização. Atualmente, o
de ddll. a ação retll/ndicatória, a m(mijes/ação religiosa. Buscar·se-á slgnifi- interesse pela comunicaçdo rural está "em baixa", se tomarmos
caçdo simbólica hltema e extema ao grupo, bem comu as funções sociais da
produção popular ( idem :119).
como indicador o catálogo de dissertações defendidas: a última so-
bre temas rurais data de 1979.
enquanto que a outra visa a otimização dos processos de difusão tec- O Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Se·
nológica, isto é, privilegia o pólo emissor. O recéptor, nesse caso, miótica, da PUC de São Paulo, Que data de 1978, privilegia, como o
não é visto como produtor de cultura popular, mas como parâmetro nome indica, a Semiótica,
da eficácia dos processos dirigidos pelo emissor. Difúsão é um con-
coluna dorsal da estrutura curricular. Isto slg'lifica: 11 fn!X!.<tfgaçãusemiõlicil
ceito inapelavelmente unilateral e difusão de inovações remete para é a principal f unte de UI,de sdu geradas as linhas de direcionamento das peso
o modelo desenvolvimentista de Everctt Rogers, ainda que se inscre- quisas (Draga. 1988: 110).
va nele a preocupação com os aspectos ideológicos da comunicação.
Além disso,
O curso de mestrado em comunicação da UnB - Universidade
de BrdSilia - tinha, como linhas prioritárias de pesquisa, as dt: "Políli- Semfólfca t percebl(la como cl~"cla capazde/undamemllra feitura e alld-
.0\

cas de Comunicação", "Comunicação e Cultura" e "Jornalismo Políti- /lse critica du /u"ciullamellto de todo e qualquer proc.essu de linguagem ( ... ).
(idc:m: 111 )
co". A partir do início da década de 80, os temas predominantes
foram os que possibilitaV"am "a análise critica do fenômeno do po- o mestrado não tém despertado a atenção dos interessados em
der, nas instituições, nas práticas e no veículo ", com um enfoque ge- comunicação rural, Que aparentemente desconhecem a validade dos
ralmeme marxista. As teorias da Escola de Frankfurt, a UNESCO, conhecimentos semiótioos para a compreensão dos fenômenos sociais
Matellart e outros teóricos da Dependência na América Latina sáo as que se processam no meio rum!.
matrizes preferenciais dessa linha de estudos. São incorporados, en- A UN ICAMP - Universidade Estadual de Campinas (SP) - im-
rre outros. autores btino-americanos (Barbero, Paulo Freire, Candi- plantara recentemente um Curso de Pós-graduação em MuJtimeios,
ni, Beltrán, etc) , a correnle ultrafrankfurtiana de Baudrillard , que se propunha a "formar e Qualificar pessoal para a utilização de
teóricos ingleses da vertente dos estudos culturais, além de abrir es- recursos de mu ltimeios na pesquisa de Artes e Comunicações" (fo-
paço para a Análise de Discursos, pela abordagem semiológica fTan- lheto do mestrado) . Suas áreas de pesquisa privilegiam a relação dos

.. ..
I nn /la Arn,ijo

multimcios com a ciência, processos de significação, comuniclção e tal no Orasil: a quamidade das mensagens e o seu significado em rc·
metodologia de pesquisa, além da abordagem de concepção e realiza- lação ao desenvolvimento sociar, de 1983, que não fugiam da matriz
çiio. Antropologia visual, produção simbólica e imaginário, a conver- paradigmática em vigor. Atualmente, algumas pesquisas e disserta-
gência da ane, ciência e tecnologia, fotografia, registros audiovisuais ções vêm sendo desenvolvidas na linha dos estudos de recepção,
da cuhura popular e tecnologias de comunicaçiio aplicadas são alguns dand()..se ênfase aos processos sociais e culturais de mediação. Em
temas contemplados nas lin has de pesquisa. O program,a procura comunicação rural, no âmbito das pós-graduações, é talvez o esforço
"criar condiçães para a pesquisa e o experimento de uma mctodol().. mais significativo para descartar a já clássica dicoromia entre os mode-
gia autônoma dos mullimeios, tendo como preocupação o seu de- los tr.losferenciais e d ialógicos. O programa de pós-graduação da USP,
sempenho na sociedade brasileira" (idem) . implantado em 1972 (mestrado) e 1980 (doutorado) , apresenta uma
O mestrado da UFBA - Universidade Fedeml da Oahia - era o grnnde diversid ade d e linhas de pesquisa e abordagens l'e6rito-me-
mais recenle de todos, implantado em 1990. Seu programa caracteri- tooológicas (Lopes, 1990: 67·76), sendo desnecessário listá-Ias.
z..'l-se como sendo de Pós-gr.lduação em Comunicação e Cu ltura Mencionaria, no entanto . pcla importância que poderia ter para os
Conremporlneas e busca uma abordagem interdisciplinar, como estudos da comunicaçiio rural, a influência gramsciana nos estudos
convém ao seu objeto de estudo. I'or outro lado, entende que optar voltados para a cu ltur.! popu lar, que procuram desenvolver metod()..
por "comu nicação e cultur'd" não é justapor dois campos de proble- lagias qualitativas e a rece nte linha direcionada para os esrudos de
mas, mas trabalhar sobre uma unidade, recepção, que vem incorporando os modelos e quadros conceituais
o nde o ",,;>rO ~ dado pela romp~eensdo de q.,e, 'lU rolllemporalleldlltfe lU tá elll de autores latino-americanos, cntre outros j esús Barhero, Nestor
I1lgur lima nova cuffura e qlle esta clllllI~a pode ser enlendilfll d e modo /ecl/II' Candini, Jorge González e Guillermo Orozco, que (,r'dZem à cena a
do tlpellas lellQ/ldQ-seem COllfa SI.1U essencial enlace com as "ovas/ormas, fi,, ·
vida colidiana, o consumo cuhur:.tI, as mediações institucio nais, as arti-
8 "08e"s e procl'!iSOS da comlmlcllçtJo.
culações entre os movimcntos sociais e as pr:âlicas de comunicação e
Ou se ja, seu objeto compreende "a culturA contempor.inea na- o utras instâncias até então re legadas. Influenciando rortemente seus
quilo que nela se explica pela presença abrangeme dos meios de c().. trabalhos estão não SÓ as teses gramscianas, como O conjunto de
municação" (manual de info rmação ao candidato de 1994). O idéias conhecido por Estudos Cu ltur'dis, originado no Comemporacy
programa d ispõe de duas linhas de pesquisa: "Comunicação, cu ltu- Cu lrural Srudics ar Binningham .
ra , poder e sociabilidade" e "Experiência e expressão", ambas bas- A UFRJ - Universidade Federal do Rio de j aneiro - dcsenvolve
tante abrangentes. um Programa de Pós-graduaçiio em Comunicação e Cu ltura, com o
O mestrado em comunicação da Escola de Comunicação e curso de Teorias da Comunicação e da Cultura nos níveis de Mestr'd-
AMes da USP - Universidade de São Pau lo - te\re, e m tempos p ;lSsa- do (desde 1972) e Doutorado (criado em 1983) . "O pressupostO fun-
do s - década de 70 - , uma linha d e estudos de comunicação ruraJ , damentai das atividades do programa é o de que a comunicação não
que produziu uma certa quantidade de dissertações em tomo dos chega a constituir um projeto especifico de uma ciência espedfica,
processos de difusão tecno lógica, adicionando, a partir d os anos 80, mas, ao contrário, constitui a própria força estruturante do campo
o enfoque de suas relações com a mudança social. Num artigo de humanístico" (d'Amaral, 1988: 122). Essa visão remete para o concei·
1988, onde analisa o "novo pcrfil da comunicação rural brasileira", tO que se afirmou como eixo do progr'dma, que é o da Iransdiscipli-
Bueno chama atenção para sete dissertações que, a seu ver, aponta- naridade, percebida como indispensável para compreender a
vam para um revigoramento da produção de conhecimento sobre a complexidade dos estudos da Comunicação. As quatro li nhas de pes-
Comunicação Rural. As duas mais recemes eram "O papel da comu- quisa : "Comunicação e Sociedade", "Comunicação e Discurso" (hoje
nicação interpessoal na difusão de inovações : o caso dos produtores Comunicação e Sistem,lS Simbólicos), "Comunicação e Sujeito" e
de soja no município de Cambé\ de 1982, e "A função do jornal ru- "Comunicação e Sistemas de Pensamento", visam

100 101
I nn /la Arn,ijo

multimcios com a ciência, processos de significação, comuniclção e tal no Orasil: a quamidade das mensagens e o seu significado em rc·
metodologia de pesquisa, além da abordagem de concepção e realiza- lação ao desenvolvimento sociar, de 1983, que não fugiam da matriz
çiio. Antropologia visual, produção simbólica e imaginário, a conver- paradigmática em vigor. Atualmente, algumas pesquisas e disserta-
gência da ane, ciência e tecnologia, fotografia, registros audiovisuais ções vêm sendo desenvolvidas na linha dos estudos de recepção,
da cuhura popular e tecnologias de comunicaçiio aplicadas são alguns dand()..se ênfase aos processos sociais e culturais de mediação. Em
temas contemplados nas lin has de pesquisa. O program,a procura comunicação rural, no âmbito das pós-graduações, é talvez o esforço
"criar condiçães para a pesquisa e o experimento de uma mctodol().. mais significativo para descartar a já clássica dicoromia entre os mode-
gia autônoma dos mullimeios, tendo como preocupação o seu de- los tr.losferenciais e d ialógicos. O programa de pós-graduação da USP,
sempenho na sociedade brasileira" (idem) . implantado em 1972 (mestrado) e 1980 (doutorado) , apresenta uma
O mestrado da UFBA - Universidade Fedeml da Oahia - era o grnnde diversid ade d e linhas de pesquisa e abordagens l'e6rito-me-
mais recenle de todos, implantado em 1990. Seu programa caracteri- tooológicas (Lopes, 1990: 67·76), sendo desnecessário listá-Ias.
z..'l-se como sendo de Pós-gr.lduação em Comunicação e Cu ltura Mencionaria, no entanto . pcla importância que poderia ter para os
Conremporlneas e busca uma abordagem interdisciplinar, como estudos da comunicaçiio rural, a influência gramsciana nos estudos
convém ao seu objeto de estudo. I'or outro lado, entende que optar voltados para a cu ltur.! popu lar, que procuram desenvolver metod()..
por "comu nicação e cultur'd" não é justapor dois campos de proble- lagias qualitativas e a rece nte linha direcionada para os esrudos de
mas, mas trabalhar sobre uma unidade, recepção, que vem incorporando os modelos e quadros conceituais
o nde o ",,;>rO ~ dado pela romp~eensdo de q.,e, 'lU rolllemporalleldlltfe lU tá elll de autores latino-americanos, cntre outros j esús Barhero, Nestor
I1lgur lima nova cuffura e qlle esta clllllI~a pode ser enlendilfll d e modo /ecl/II' Candini, Jorge González e Guillermo Orozco, que (,r'dZem à cena a
do tlpellas lellQ/ldQ-seem COllfa SI.1U essencial enlace com as "ovas/ormas, fi,, ·
vida colidiana, o consumo cuhur:.tI, as mediações institucio nais, as arti-
8 "08e"s e procl'!iSOS da comlmlcllçtJo.
culações entre os movimcntos sociais e as pr:âlicas de comunicação e
Ou se ja, seu objeto compreende "a culturA contempor.inea na- o utras instâncias até então re legadas. Influenciando rortemente seus
quilo que nela se explica pela presença abrangeme dos meios de c().. trabalhos estão não SÓ as teses gramscianas, como O conjunto de
municação" (manual de info rmação ao candidato de 1994). O idéias conhecido por Estudos Cu ltur'dis, originado no Comemporacy
programa d ispõe de duas linhas de pesquisa: "Comunicação, cu ltu- Cu lrural Srudics ar Binningham .
ra , poder e sociabilidade" e "Experiência e expressão", ambas bas- A UFRJ - Universidade Federal do Rio de j aneiro - dcsenvolve
tante abrangentes. um Programa de Pós-graduaçiio em Comunicação e Cu ltura, com o
O mestrado em comunicação da Escola de Comunicação e curso de Teorias da Comunicação e da Cultura nos níveis de Mestr'd-
AMes da USP - Universidade de São Pau lo - te\re, e m tempos p ;lSsa- do (desde 1972) e Doutorado (criado em 1983) . "O pressupostO fun-
do s - década de 70 - , uma linha d e estudos de comunicação ruraJ , damentai das atividades do programa é o de que a comunicação não
que produziu uma certa quantidade de dissertações em tomo dos chega a constituir um projeto especifico de uma ciência espedfica,
processos de difusão tecno lógica, adicionando, a partir d os anos 80, mas, ao contrário, constitui a própria força estruturante do campo
o enfoque de suas relações com a mudança social. Num artigo de humanístico" (d'Amaral, 1988: 122). Essa visão remete para o concei·
1988, onde analisa o "novo pcrfil da comunicação rural brasileira", tO que se afirmou como eixo do progr'dma, que é o da Iransdiscipli-
Bueno chama atenção para sete dissertações que, a seu ver, aponta- naridade, percebida como indispensável para compreender a
vam para um revigoramento da produção de conhecimento sobre a complexidade dos estudos da Comunicação. As quatro li nhas de pes-
Comunicação Rural. As duas mais recemes eram "O papel da comu- quisa : "Comunicação e Sociedade", "Comunicação e Discurso" (hoje
nicação interpessoal na difusão de inovações : o caso dos produtores Comunicação e Sistem,lS Simbólicos), "Comunicação e Sujeito" e
de soja no município de Cambé\ de 1982, e "A função do jornal ru- "Comunicação e Sistemas de Pensamento", visam

100 101
trabalhar tcorlcame>,te as eslrulllms SQCÍais, psíquicas e as lógicas de produç.Jo gia, e tnografia, lingüística, semiologia, psicanálise, entre o utros. Não
dos atuais "wdQS de prNerIÇa do SUjeilO no munda. A. lais lirrbas jntet1!S$Qm os t emos aqui apenas o problema da dt."Svinculaç:io conhecimento prá-
sl$lemas d e per,same,uo q"e col/fluíram para a presente mtJdenlldade; a pm.
dllfão do 1'('al e ben.s simbólicos pelas i,ullÍstrias do conhecimelllO; as n/llla, rico/conhetimento teórico, fe nômeno corriqueiro e já sobe jamente
~ .IOS sistemas ped~gfcas: as .-epercusWes das culturas poPlllores e enfOC"Ado, sob v.irias abordage ns. É na produção do con hecimento
arcaicas na cMade con(r.'mpord./ea; a ,wtllre:«l du 'W/lU espaço-tl!1l1/XJ urba. acad êmico , mesmo, que se observ'd essa dificuldade e m absorver e
no; as "OI'as teCIJ(;logl(ls (Ia imagf'11l; os modas de pmdllfiiu ecirclllaf<W (Iw
discur$O$ $i)CiaLf; a pmd"fâo da subjetividade; o COlidlan" sob a égl(le (Ia produzir novos modos de pensar. Avançou·se, sim , quando foi incor-
IIOlla soclalf::aç40 ()JH!rada pelos meios de comunicação, a quesldo da ética porada a preocupação com os aspectos ideo ló gicos da comunicação:
social/medima, «(olhc lo dc aprcsemaç:io do Progr.tma) :15 abordagens iniciais, apolíticas e a·históric.lS, passaram a conviver

Trabalhando com psicanálise, filosofia, lingüística, semiologia, com aquelas que comemplaV"dlll vari:ívcis relacionadas aos interesses
sociologia, antropologia e Outras disciplinas, mestrado e domorado políticos, econômicos e sociais, mais espccifiC".une nte das classes do-
trazem p:tr:l a comunicação os paradigmas respectivos, provocando minantes. Incorporou'se, no âmbil'O da reflexão e no de uma Teoria
uma reaniculaçáo dos modos de pensar e perceber o fenômeno co- Geral, alguns aspectos do paradigma conflitu al, mas náo se abando-
munic:uivo . Apesar disso, não costuma atrair estudantes inleressa- no u o positivista, na sua expressão mais funcionalista , no âmbito dos
dos na comunicaçáo rural (poucos na comunicaçáo popular) , o que modelos.
é compreensível, na medida em que estes buscam temas aparenle- Poder-se-ia levantar algumas hipóteses sobre tal imobilismo
mente mais vi nculad os à problemática rural, além d e uma aborda- teÓrico. A primeira delas seria o fato de que a maioria absoluta das
gem pragmática, postura que ternlina por alimentar o ciclo d e pessoas interessadas e m desenvolver estudos sobre a Comunicação
produção-reprodução dos paradigmas c modelos correntes na práti- Rural está vinculada a uma instituição que tem a necessidade de se
ca e na pesquisa. Foi teorando romper esse ciclo que escolhi o curso comunicar "bem " com os camponeses panl cumprir seus objetivos,
da ECOIl1FRj, com uma abordagem eminentemente teórica e rrans- quase sempre de divulgação ou transfen!ncia de u m d eterminad o
disciplinar, buscando um conhecimento que a pdtica e as tt!orias conhecimento. Estaríamos, então, diante de uma inexorável razão
tradicio nais específicas da comunicação não pareciam poder ofere- funcional. Indo mais além, essas pessoas seriam beneficiárias de um
cer. De tal escolha resultou o presente livro. programa de aperfeiçoamento de pessoal , e não de formação de pes-
quisadores. E aperfeiçoamento d e pessoal para quê? Para conferir
mais e ficácia à implantação o u gestão de modelos de intervenção s0-
Algumas reflCXÓl!s cial no me io ruraL As principais coordenadas para o d ese nvolvimen-
to de uma teoria e m Comunic lção Rur.l! seriam fornecidas não pelo
COn junto da d isciplina, nas suas v:írias dimensõcs, mas pelas exigên-
Desse resumo das pós-graduações em comunicação e me rgem
cias e interesses próprios de outros campos, como o agrícola, o d a
algumas constataçõcs e ques tões. Prime iro, a de que a comunicação
saúde e o econômico. A estreita correlação com o tema da tecnologia
rural é pensada de forma muito cOmpartime ntalizada. sem nenhuma
corrobora certamente a tendência a prioriz.:u o e nfoque dos meios,
interação com outros campos da atividade comunicativa, nem mes-
fazendo com Que se confunda evolução tecnológica dos meio s com
mo O da comunicação popular, além de vincular-se predominante-
evolução da Comunicação Rural. Emble mático dessa postura é um
mente à questãO agrícola, como se esta fo sse a única dimensão d a
dos trabalhos apresentados no I Seminário de Comunicação de Viço-
sociedade camponesa. Segu ndo, d e que nâo conseguiu beneficiar-se
sa (1994), onde podemos ler, num contexto de abordagem do "gran·
dos avanços teóricos da disci plina, permanecendo atrelada a velhos
de desenvolvimento d a comunicação rural de 1980 a 1989":
modelos. Não só as teorias da comunicação avançardm em direção:\
adequação à sociedade latino-americana, como incorporar.IJll contri- i bom lembrar. ..o c"talllo. que as prl"clpias bdslcos de tra"smissão de co'
IIhedmenlus ndo foram alterados. mas tljJetWS SlIafurma e (IS téctJfcas ~ra
buições das disciplinas de d o mínios conexos - sociologia. antropolo- se chegar ao receptor. S/ldl!s ai" da st'lu utilizados em I't'tm lUeS téc,,'cas. ,.,m,

102 lO'
trabalhar tcorlcame>,te as eslrulllms SQCÍais, psíquicas e as lógicas de produç.Jo gia, e tnografia, lingüística, semiologia, psicanálise, entre o utros. Não
dos atuais "wdQS de prNerIÇa do SUjeilO no munda. A. lais lirrbas jntet1!S$Qm os t emos aqui apenas o problema da dt."Svinculaç:io conhecimento prá-
sl$lemas d e per,same,uo q"e col/fluíram para a presente mtJdenlldade; a pm.
dllfão do 1'('al e ben.s simbólicos pelas i,ullÍstrias do conhecimelllO; as n/llla, rico/conhetimento teórico, fe nômeno corriqueiro e já sobe jamente
~ .IOS sistemas ped~gfcas: as .-epercusWes das culturas poPlllores e enfOC"Ado, sob v.irias abordage ns. É na produção do con hecimento
arcaicas na cMade con(r.'mpord./ea; a ,wtllre:«l du 'W/lU espaço-tl!1l1/XJ urba. acad êmico , mesmo, que se observ'd essa dificuldade e m absorver e
no; as "OI'as teCIJ(;logl(ls (Ia imagf'11l; os modas de pmdllfiiu ecirclllaf<W (Iw
discur$O$ $i)CiaLf; a pmd"fâo da subjetividade; o COlidlan" sob a égl(le (Ia produzir novos modos de pensar. Avançou·se, sim , quando foi incor-
IIOlla soclalf::aç40 ()JH!rada pelos meios de comunicação, a quesldo da ética porada a preocupação com os aspectos ideo ló gicos da comunicação:
social/medima, «(olhc lo dc aprcsemaç:io do Progr.tma) :15 abordagens iniciais, apolíticas e a·históric.lS, passaram a conviver

Trabalhando com psicanálise, filosofia, lingüística, semiologia, com aquelas que comemplaV"dlll vari:ívcis relacionadas aos interesses
sociologia, antropologia e Outras disciplinas, mestrado e domorado políticos, econômicos e sociais, mais espccifiC".une nte das classes do-
trazem p:tr:l a comunicação os paradigmas respectivos, provocando minantes. Incorporou'se, no âmbil'O da reflexão e no de uma Teoria
uma reaniculaçáo dos modos de pensar e perceber o fenômeno co- Geral, alguns aspectos do paradigma conflitu al, mas náo se abando-
munic:uivo . Apesar disso, não costuma atrair estudantes inleressa- no u o positivista, na sua expressão mais funcionalista , no âmbito dos
dos na comunicaçáo rural (poucos na comunicaçáo popular) , o que modelos.
é compreensível, na medida em que estes buscam temas aparenle- Poder-se-ia levantar algumas hipóteses sobre tal imobilismo
mente mais vi nculad os à problemática rural, além d e uma aborda- teÓrico. A primeira delas seria o fato de que a maioria absoluta das
gem pragmática, postura que ternlina por alimentar o ciclo d e pessoas interessadas e m desenvolver estudos sobre a Comunicação
produção-reprodução dos paradigmas c modelos correntes na práti- Rural está vinculada a uma instituição que tem a necessidade de se
ca e na pesquisa. Foi teorando romper esse ciclo que escolhi o curso comunicar "bem " com os camponeses panl cumprir seus objetivos,
da ECOIl1FRj, com uma abordagem eminentemente teórica e rrans- quase sempre de divulgação ou transfen!ncia de u m d eterminad o
disciplinar, buscando um conhecimento que a pdtica e as tt!orias conhecimento. Estaríamos, então, diante de uma inexorável razão
tradicio nais específicas da comunicação não pareciam poder ofere- funcional. Indo mais além, essas pessoas seriam beneficiárias de um
cer. De tal escolha resultou o presente livro. programa de aperfeiçoamento de pessoal , e não de formação de pes-
quisadores. E aperfeiçoamento d e pessoal para quê? Para conferir
mais e ficácia à implantação o u gestão de modelos de intervenção s0-
Algumas reflCXÓl!s cial no me io ruraL As principais coordenadas para o d ese nvolvimen-
to de uma teoria e m Comunic lção Rur.l! seriam fornecidas não pelo
COn junto da d isciplina, nas suas v:írias dimensõcs, mas pelas exigên-
Desse resumo das pós-graduações em comunicação e me rgem
cias e interesses próprios de outros campos, como o agrícola, o d a
algumas constataçõcs e ques tões. Prime iro, a de que a comunicação
saúde e o econômico. A estreita correlação com o tema da tecnologia
rural é pensada de forma muito cOmpartime ntalizada. sem nenhuma
corrobora certamente a tendência a prioriz.:u o e nfoque dos meios,
interação com outros campos da atividade comunicativa, nem mes-
fazendo com Que se confunda evolução tecnológica dos meio s com
mo O da comunicação popular, além de vincular-se predominante-
evolução da Comunicação Rural. Emble mático dessa postura é um
mente à questãO agrícola, como se esta fo sse a única dimensão d a
dos trabalhos apresentados no I Seminário de Comunicação de Viço-
sociedade camponesa. Segu ndo, d e que nâo conseguiu beneficiar-se
sa (1994), onde podemos ler, num contexto de abordagem do "gran·
dos avanços teóricos da disci plina, permanecendo atrelada a velhos
de desenvolvimento d a comunicação rural de 1980 a 1989":
modelos. Não só as teorias da comunicação avançardm em direção:\
adequação à sociedade latino-americana, como incorporar.IJll contri- i bom lembrar. ..o c"talllo. que as prl"clpias bdslcos de tra"smissão de co'
IIhedmenlus ndo foram alterados. mas tljJetWS SlIafurma e (IS téctJfcas ~ra
buições das disciplinas de d o mínios conexos - sociologia. antropolo- se chegar ao receptor. S/ldl!s ai" da st'lu utilizados em I't'tm lUeS téc,,'cas. ,.,m,

102 lO'
Ine$llu Ara,ljo

" fõcs grupals de flgrlcllltorn, ap.!/Ias COIII lima t'allfagem lte q .mlfdade em
lermos d e fotografia 0 11 de gráficos e quadros atualmellfe milito M m elabora. dão sustentação a essa venenre d e estudos; por e nquanlo, é neces..d.
llos em sistema de comp"taçâo gráfica; l ra'lS/JanJ"cias para retroprojetor rio destacar que as noções de linguage m e do seu papel nas rclll,Ocs
oom ,,"alldalle/au r, 011 em relmfUes 110 campo, Q velbodl/)u", serladQj)rudll' comunicativas são muito diversas daquelas pressupostas no pllrJdlgma
tido mam,almem e CQm alltalizaçâo em sl/afarma grdfica. (Sa flll>:i: 9 7)
info nnacio naJ e talvez seja este o di.ferendal que pennita supcr;tr os
Esse quadro , que com algumas exceções caracteriza-se pelo bai· modelos que inspiram hoje a prática de comunicação rural.
xo nível de investime nto crítico nos projetos de pesquisa, com a con· Ao conrr.írio d o que geralmeme ocorre nos trabalhos acadêml·
seqüente ausência de renovaçÃo de idé ias e produção de um cos, quando se opta por uma proble mática e mpírica que permira
conhecime nto novo e com a legiti mação do já estabelecido, roi o que operar satisfamriamente os conceitos d e uma detenninada tco ria,
se me afiguro u, ao decidir faze r uma pós·graduação . percorri o caminho inverso : com uma proble má tica empírica nas
mãos, tive acesso e o ptei por uma teoria que me pareceu ampliar for-
midavelmente os limites até e ntão est'reitos de exp licação dos fen 6-
o p esquisador e seu objeto encontram a su a teoria menos que me interessavllm . A Semio logia agregava naturalmente
conhecimentos de outras disci plin:1S, tr:lbalhav:.l a partir de um:l
perspec tiva histórica e cu ltur:d , conferia imponânda à pragmática
LL'vei para o curso de mestr.tdo um objeto de pesquisa pré-confi-
das relações comunicativas e pania li rígida espinha dorsal do mo<le·
gura.do : quc ri:l. cSlUdar os processos de reconhecime mo das me nsa·
lo info rruacional, ao instaurar a pluralidade de instâncias produmrJ.s
gens entre os camponeses, sob o enfoque da transd isciplinaridade.
O conceito de "recon heci mento", utilizado na pesquisa empírica. pa·
de sentido.
recia-me suficie me me me amplo para acolher todas as variá\"(!is - amro- Confrontada com o novo quadro conceitual , capitaneado pelas
pológicas, socio lógicas, psicológicas ou lingüísticas - que pudessem noções de "enunciação", "discu rso" e "pro<lução de sentido", que se
interferir na recepçiio d os materiais de comunicaç-do que as inSlitui· contrapunham à de "comunicação", fui pcrccbendo que, antes de es·
ções e ndereçavam a seu público e me davam a ilusão de ler avançlldo tudar os processos d e recepção - agora vislos como de "efeilos de
sentido" - teri:l que compreende r bem me lho r as implicações da
muitos anos·luz e m relação ao modo d e pensar corrente no me u uni-
construção d iscursiva d os núcleos institucionais. Em o Ul ras pala-
verso d e ação. As coisas não eram bem assim e logo descobri que
continuava presa ao velho paradigma. Já havia, porém , c riado ple nas vras, só seria produtivO abordar os e feilos de sentido quando com·
condições inte lectuais para razer a trans ição para um ourro refe re n · pree ndesse todas as inslâncias postas e m jogo pelos núcleos que se
cial teórico, cuja poss ibilidade me foi sendo desvelada na seqüência pre te ndem produlores de se mido .
de cursos o rerecidos de ntro da linha de pesquisas "Comunicação e Mas. se por um lado sabia que ainda havia muito o que estudar
Discu rso", mais especificamente pelo viés da Semiologia . sobre os processos de produção discursiva, por o utro tinha a convic·
ção de que o se ntido se produz efetivame nte em recepção , is[o é , no
A Semiologia pr:lticlda na ECO/llFR) estuda os fe nôme nos sociais
como fe nômenos de produção de sentido. Não bUSCA, poré m, at ri· consumo textual e que este é o ângu lo sobre o quaJ menos conhed·
buir um sentido aos discursos sociais , mas conhecer os mecanismos mento foi produzido . Tentei, e ntão, açambarcar num SÓ projeto de
pelos quais se põe em jogo um deternlinado processo d e produção e pesquisa todas as variáveis que p oderia m integrar um processo de
produção do sentido no meio rural , da produção ao consumo dis-
de efeitos de semido. Para essa semio logia, que confere relevo à no-
cursivo.
ção de "clluncia(; iio" , o mais importante é o disc urso, que se cons trói
Era um projeto excessivamente ambicioso. Mas o que me fez
e m inte ração social c sempre numa perspectiva diacrônica. Decor-
desistir foi perceber os riscos que comport:lva de retorno ao velho
rê ncia disso é o privilegiamenlo da AnáJise de Discursos como ins·
Inlll1entO melOdo lógico, e mbora não exclua outras possibilidades. paradigma, na medida em que levaria a confrontar o scmldo prelclt·
O capÍllllo seguinte será d edicado ao detaJhamemo das teorias que dido com O sentido produzido , o u seja, tr.lbal har nOV:UlleIllC - alnclu

lO' 10.
Ine$llu Ara,ljo

" fõcs grupals de flgrlcllltorn, ap.!/Ias COIII lima t'allfagem lte q .mlfdade em
lermos d e fotografia 0 11 de gráficos e quadros atualmellfe milito M m elabora. dão sustentação a essa venenre d e estudos; por e nquanlo, é neces..d.
llos em sistema de comp"taçâo gráfica; l ra'lS/JanJ"cias para retroprojetor rio destacar que as noções de linguage m e do seu papel nas rclll,Ocs
oom ,,"alldalle/au r, 011 em relmfUes 110 campo, Q velbodl/)u", serladQj)rudll' comunicativas são muito diversas daquelas pressupostas no pllrJdlgma
tido mam,almem e CQm alltalizaçâo em sl/afarma grdfica. (Sa flll>:i: 9 7)
info nnacio naJ e talvez seja este o di.ferendal que pennita supcr;tr os
Esse quadro , que com algumas exceções caracteriza-se pelo bai· modelos que inspiram hoje a prática de comunicação rural.
xo nível de investime nto crítico nos projetos de pesquisa, com a con· Ao conrr.írio d o que geralmeme ocorre nos trabalhos acadêml·
seqüente ausência de renovaçÃo de idé ias e produção de um cos, quando se opta por uma proble mática e mpírica que permira
conhecime nto novo e com a legiti mação do já estabelecido, roi o que operar satisfamriamente os conceitos d e uma detenninada tco ria,
se me afiguro u, ao decidir faze r uma pós·graduação . percorri o caminho inverso : com uma proble má tica empírica nas
mãos, tive acesso e o ptei por uma teoria que me pareceu ampliar for-
midavelmente os limites até e ntão est'reitos de exp licação dos fen 6-
o p esquisador e seu objeto encontram a su a teoria menos que me interessavllm . A Semio logia agregava naturalmente
conhecimentos de outras disci plin:1S, tr:lbalhav:.l a partir de um:l
perspec tiva histórica e cu ltur:d , conferia imponânda à pragmática
LL'vei para o curso de mestr.tdo um objeto de pesquisa pré-confi-
das relações comunicativas e pania li rígida espinha dorsal do mo<le·
gura.do : quc ri:l. cSlUdar os processos de reconhecime mo das me nsa·
lo info rruacional, ao instaurar a pluralidade de instâncias produmrJ.s
gens entre os camponeses, sob o enfoque da transd isciplinaridade.
O conceito de "recon heci mento", utilizado na pesquisa empírica. pa·
de sentido.
recia-me suficie me me me amplo para acolher todas as variá\"(!is - amro- Confrontada com o novo quadro conceitual , capitaneado pelas
pológicas, socio lógicas, psicológicas ou lingüísticas - que pudessem noções de "enunciação", "discu rso" e "pro<lução de sentido", que se
interferir na recepçiio d os materiais de comunicaç-do que as inSlitui· contrapunham à de "comunicação", fui pcrccbendo que, antes de es·
ções e ndereçavam a seu público e me davam a ilusão de ler avançlldo tudar os processos d e recepção - agora vislos como de "efeilos de
sentido" - teri:l que compreende r bem me lho r as implicações da
muitos anos·luz e m relação ao modo d e pensar corrente no me u uni-
construção d iscursiva d os núcleos institucionais. Em o Ul ras pala-
verso d e ação. As coisas não eram bem assim e logo descobri que
continuava presa ao velho paradigma. Já havia, porém , c riado ple nas vras, só seria produtivO abordar os e feilos de sentido quando com·
condições inte lectuais para razer a trans ição para um ourro refe re n · pree ndesse todas as inslâncias postas e m jogo pelos núcleos que se
cial teórico, cuja poss ibilidade me foi sendo desvelada na seqüência pre te ndem produlores de se mido .
de cursos o rerecidos de ntro da linha de pesquisas "Comunicação e Mas. se por um lado sabia que ainda havia muito o que estudar
Discu rso", mais especificamente pelo viés da Semiologia . sobre os processos de produção discursiva, por o utro tinha a convic·
ção de que o se ntido se produz efetivame nte em recepção , is[o é , no
A Semiologia pr:lticlda na ECO/llFR) estuda os fe nôme nos sociais
como fe nômenos de produção de sentido. Não bUSCA, poré m, at ri· consumo textual e que este é o ângu lo sobre o quaJ menos conhed·
buir um sentido aos discursos sociais , mas conhecer os mecanismos mento foi produzido . Tentei, e ntão, açambarcar num SÓ projeto de
pelos quais se põe em jogo um deternlinado processo d e produção e pesquisa todas as variáveis que p oderia m integrar um processo de
produção do sentido no meio rural , da produção ao consumo dis-
de efeitos de semido. Para essa semio logia, que confere relevo à no-
cursivo.
ção de "clluncia(; iio" , o mais importante é o disc urso, que se cons trói
Era um projeto excessivamente ambicioso. Mas o que me fez
e m inte ração social c sempre numa perspectiva diacrônica. Decor-
desistir foi perceber os riscos que comport:lva de retorno ao velho
rê ncia disso é o privilegiamenlo da AnáJise de Discursos como ins·
Inlll1entO melOdo lógico, e mbora não exclua outras possibilidades. paradigma, na medida em que levaria a confrontar o scmldo prelclt·
O capÍllllo seguinte será d edicado ao detaJhamemo das teorias que dido com O sentido produzido , o u seja, tr.lbal har nOV:UlleIllC - alnclu

lO' 10.
1."..lIla Araujo

que com o utro suporre teó rico - sobre a compatibilidade entre o Ponto de passagem
di to e o compreendido. O problema foi equacionado d a forma mais
prude nte , o ptando por exer-citac os novos parâmetros de análise em
um objeto mais restrito, confirmando a viabilidade e solidificando o . Ret?mando o lema d a introdução, épocas d e trJ.nsição par:tdlg.
ajustamento de uma linha teórica ampla à realidade empírica da co- máuca sao propícias a revisóes críticas, mas estas correm o risco de
municação rural . n:io consegu ir abacc:u todas as nuanças, os e ntreme ias, os indícios
Tomei emão as práticas d e comunicação que concretizam polí. de mudança. Creio que aqui ficaram car.tctcrizadas as linh as d o mi.
ticas dirigidas ao me io rural e deçidi analisi·las no seu aspecto de nantes d a tt."Oria e da ação prática da comunicação rur.tI que são, afio
construção d iscursivA, buscando emender como estão ali propostas nal, resu ltantes de uma série de her..tnças teó ricas que fordm
e pré--configuradas as relações sociais, que são, e m úhima instância, recebidas e processadas ao longo d as últimas d écadas c que ainda es.
relações de poder. Esta opção não me faz abrir Illão d o projeto mais tão submetidas a algu mas "camisas d e força" paradigmáticas. A gêne.
amplo , visto não como o estudo de um processo linear, mas dos pro- se da constitu ição d o meu o bjeto de pesquisa, que tem origem
cessos d e interlocução como loct4S privilegiado dos efeitos de sentido ness:tS he ranças. inclusive sob seus mecani smos coercitivos, mas ca.
que constituem os grupos e as relações sociais, que provavelmente racteriz:t·se como uma tentativa d e ruprura, torna·o emblemático do
virão no tempo adel:luado. momemo em que vivemos . Ele carrega dentro de si, tal qual um con.
Mas o que se apresentava tão simples na ve rdade não o era, na tador de histórias, os muitos percursos, as muitas vivências, erros e
medida em que para propor uma nova leitura da comunicação rural acertos, uto pias, desgastes, CAnsaços, certezas e inquietações, d esis.
é necessário explicitar seu caráter de novidade. Em o utras palavras, tências e persis tências que acompanham a todos que se dedicam à
antes de apontar para o OUIro é preciso caraClerizar o mesmo . E o comun icação nos processos d e interve nção social.
que parecia ser possfvel em poUC.lS páginas, no processo d e análise E fo i esse objeto, assim constituído, que me interpelo u t: me
foi se mostrando complexo, por me defrontar com um paroldigma confrOfllOu com a exigência de novas leituras, novas abordagens teó-
solidamente enraizado, com formas e âmbitos múltiplos de manifes- ricas e metodológic:ts que possam responder às questõcs que vão
taçõcS que se interpenetram e se condicio nam mutu:lluente . A decu. e mergindo da s ua an:Uise. Se os mode los aruais se mostram limitado-
pagem d essas fonnas e àmbitos, que resulto u neste capítulo, mais res do conhecimento sobre o objem, que outros se aprcsemam
que um início d e argumentação em fJ.vordo parad igma semio lógico, como opção? Que OUtros modos de ol har a prática comunicatiVA po-
permitiu delinear com maio r precisão que tipo de idé ias, concep· dem ser mo bil izados, no cenário da intervenção social no meio ruo
çôt:s e modelos desejo questionar, representando o p:ISSO linal na ral?
constnlção d o o bje to a ser esrudado . Uma primeira opção aparece clarJ. : ;t rransdiscipllnarldade
Por outro lado, nego u parcialmente a suspeita de divó rcio e n. perspectiva que permite trazer para o o bjeto mé todos e p ressupos:
tre teoria e prática, uma vez que deixou bem claro que, em comuni. tos teóricos de o utras áreas do saber humano , que façam avançar o
cação rural , a pesquisa emana d a prática e que esta se realimenta da conhecimento sobre os processos e as relações comunicativas. Na
teoria consolidada nas pesquisas, na medida em que os pesquisado- área mesmo da comunicação, é necessário quebrar as fronteir.lS de.
res são em geral agentes sociais da ação prática, que mome ntanea. marc.ttÓrias d as competências e considerar âmbito d a comunicação
mente se vinculam à academia. Este t, porém , um conhecimento rural todo e qualquer ganho teórico e met'odológico, como o que
circulare imobilista, que não facilita o avanço em termos de e labora. vem ocorrendo , por exemplo , 1.."111 relação aos estudos de recepção
çãode uma teo ria mais ajustada ao atual COntexto his tó rico, político, no conte.xto la tino·americano.
cultural e social d o pafs. Minha escolha baseia·se nessas duas premissas e recai sobre o
modo semiológico d e oU,ar. T:llvez seja precipitado fa lar agora em
"modelo" semio lógico; um "modo de o lharn é, porém, o primeiro e

'" 107
1."..lIla Araujo

que com o utro suporre teó rico - sobre a compatibilidade entre o Ponto de passagem
di to e o compreendido. O problema foi equacionado d a forma mais
prude nte , o ptando por exer-citac os novos parâmetros de análise em
um objeto mais restrito, confirmando a viabilidade e solidificando o . Ret?mando o lema d a introdução, épocas d e trJ.nsição par:tdlg.
ajustamento de uma linha teórica ampla à realidade empírica da co- máuca sao propícias a revisóes críticas, mas estas correm o risco de
municação rural . n:io consegu ir abacc:u todas as nuanças, os e ntreme ias, os indícios
Tomei emão as práticas d e comunicação que concretizam polí. de mudança. Creio que aqui ficaram car.tctcrizadas as linh as d o mi.
ticas dirigidas ao me io rural e deçidi analisi·las no seu aspecto de nantes d a tt."Oria e da ação prática da comunicação rur.tI que são, afio
construção d iscursivA, buscando emender como estão ali propostas nal, resu ltantes de uma série de her..tnças teó ricas que fordm
e pré--configuradas as relações sociais, que são, e m úhima instância, recebidas e processadas ao longo d as últimas d écadas c que ainda es.
relações de poder. Esta opção não me faz abrir Illão d o projeto mais tão submetidas a algu mas "camisas d e força" paradigmáticas. A gêne.
amplo , visto não como o estudo de um processo linear, mas dos pro- se da constitu ição d o meu o bjeto de pesquisa, que tem origem
cessos d e interlocução como loct4S privilegiado dos efeitos de sentido ness:tS he ranças. inclusive sob seus mecani smos coercitivos, mas ca.
que constituem os grupos e as relações sociais, que provavelmente racteriz:t·se como uma tentativa d e ruprura, torna·o emblemático do
virão no tempo adel:luado. momemo em que vivemos . Ele carrega dentro de si, tal qual um con.
Mas o que se apresentava tão simples na ve rdade não o era, na tador de histórias, os muitos percursos, as muitas vivências, erros e
medida em que para propor uma nova leitura da comunicação rural acertos, uto pias, desgastes, CAnsaços, certezas e inquietações, d esis.
é necessário explicitar seu caráter de novidade. Em o utras palavras, tências e persis tências que acompanham a todos que se dedicam à
antes de apontar para o OUIro é preciso caraClerizar o mesmo . E o comun icação nos processos d e interve nção social.
que parecia ser possfvel em poUC.lS páginas, no processo d e análise E fo i esse objeto, assim constituído, que me interpelo u t: me
foi se mostrando complexo, por me defrontar com um paroldigma confrOfllOu com a exigência de novas leituras, novas abordagens teó-
solidamente enraizado, com formas e âmbitos múltiplos de manifes- ricas e metodológic:ts que possam responder às questõcs que vão
taçõcS que se interpenetram e se condicio nam mutu:lluente . A decu. e mergindo da s ua an:Uise. Se os mode los aruais se mostram limitado-
pagem d essas fonnas e àmbitos, que resulto u neste capítulo, mais res do conhecimento sobre o objem, que outros se aprcsemam
que um início d e argumentação em fJ.vordo parad igma semio lógico, como opção? Que OUtros modos de ol har a prática comunicatiVA po-
permitiu delinear com maio r precisão que tipo de idé ias, concep· dem ser mo bil izados, no cenário da intervenção social no meio ruo
çôt:s e modelos desejo questionar, representando o p:ISSO linal na ral?
constnlção d o o bje to a ser esrudado . Uma primeira opção aparece clarJ. : ;t rransdiscipllnarldade
Por outro lado, nego u parcialmente a suspeita de divó rcio e n. perspectiva que permite trazer para o o bjeto mé todos e p ressupos:
tre teoria e prática, uma vez que deixou bem claro que, em comuni. tos teóricos de o utras áreas do saber humano , que façam avançar o
cação rural , a pesquisa emana d a prática e que esta se realimenta da conhecimento sobre os processos e as relações comunicativas. Na
teoria consolidada nas pesquisas, na medida em que os pesquisado- área mesmo da comunicação, é necessário quebrar as fronteir.lS de.
res são em geral agentes sociais da ação prática, que mome ntanea. marc.ttÓrias d as competências e considerar âmbito d a comunicação
mente se vinculam à academia. Este t, porém , um conhecimento rural todo e qualquer ganho teórico e met'odológico, como o que
circulare imobilista, que não facilita o avanço em termos de e labora. vem ocorrendo , por exemplo , 1.."111 relação aos estudos de recepção
çãode uma teo ria mais ajustada ao atual COntexto his tó rico, político, no conte.xto la tino·americano.
cultural e social d o pafs. Minha escolha baseia·se nessas duas premissas e recai sobre o
modo semiológico d e oU,ar. T:llvez seja precipitado fa lar agora em
"modelo" semio lógico; um "modo de o lharn é, porém, o primeiro e

'" 107
I n....lla Araújo

indis pensável passo, caso se queira chegar a um modelo transforma-


dorda pl1Ílica social, que seja ao mesmo Icmpo novo, libenodos an-
ligas vínculos e operacional, apropriável e aplicável pelos agenles
sociais.
O próximo capírulo dará acesso à fundamentação leórica do 11- O OLHAR SEMIOLÓGICO
paradigma semiológico e possibilitará uma comparação conçeituaJ e
melodoJógica com o informacional , que doravame será designado
aqui por comunicacional, em consider:.u;ão às multas agregações Pré-construções
leóricas que foram sendo feilas ao modelo inicial de Shannon & Wea-
ver, embora sem alred·lo na sua essência.
Não vou repetir aqui ;\s críticas ao mode lo info rmacional,
mas creio ser imponame voltar a aJguns de. seus limites epistemoló-
gicos, panicularmente os que dizem respeito aos problemas do sig-
nificado e da relação do sujeito com a língua.
A concepção de comunicação implkila no modelo é a de
Imnsferência de informação entre dois pólos, dcscarmndo a de
transformação de um código em oUlro eeliminando , em conseqüên-
cia, a preocupação com o significado. Por de, pode-se chegar ao es·
tudo das formas d e c."pressão, mas sob seu aspeCIO d e sinaJ físico .
Estudam-se canais e códigos, mas com O foco centrado na clareza das
mensagens, na eficácia da transmissão. A re lação entre os pólos
e missor e receptor, mediada pelo canal, é concebida, dessa forma,
como se pudesse ocorrer independentemente dos mecanismos de
construção do significado. Adicio nalmente, e missor e recep[Qr sâo
percebidos como entidades sem memória e imunes a quaisquer ou-
lros processos comuniCAtivos (Iexlos, mediações ... ), vistos estes
como "ru idoÇ, interferências nocivas a serem previstas e controla-
das.
A noção de "código" - siste ma si ntático, organizador d e uma
seqüênda de sinais (ou sistema organ izad or de sign ifican les) - traz
implícit'a uma idéia de re l:lçâo e ntre o sujeito e a língua. O s uje ito
e missor reco lhe na língua - sistcma pronto de códigos - aquilo que
convém aos seus objetivos imediatos, organiza-o segundo regras sin-
tMicas e gramaticais e envia/transfere ao sujeito-receptor, a quem
cabe a lareJ-a da decodificação - tradução literal da mensagem, que
deve ser facilitada pela elim inação dos ruídos. A ligação e ntre o sujei-
[Q emissor e o repenório de códigos faz·se , pois, pela intc nção de se
comunicar, caracterizando-se uma concepção instrumentalista da
re lação língua-sujeito.

'OI
I n....lla Araújo

indis pensável passo, caso se queira chegar a um modelo transforma-


dorda pl1Ílica social, que seja ao mesmo Icmpo novo, libenodos an-
ligas vínculos e operacional, apropriável e aplicável pelos agenles
sociais.
O próximo capírulo dará acesso à fundamentação leórica do 11- O OLHAR SEMIOLÓGICO
paradigma semiológico e possibilitará uma comparação conçeituaJ e
melodoJógica com o informacional , que doravame será designado
aqui por comunicacional, em consider:.u;ão às multas agregações Pré-construções
leóricas que foram sendo feilas ao modelo inicial de Shannon & Wea-
ver, embora sem alred·lo na sua essência.
Não vou repetir aqui ;\s críticas ao mode lo info rmacional,
mas creio ser imponame voltar a aJguns de. seus limites epistemoló-
gicos, panicularmente os que dizem respeito aos problemas do sig-
nificado e da relação do sujeito com a língua.
A concepção de comunicação implkila no modelo é a de
Imnsferência de informação entre dois pólos, dcscarmndo a de
transformação de um código em oUlro eeliminando , em conseqüên-
cia, a preocupação com o significado. Por de, pode-se chegar ao es·
tudo das formas d e c."pressão, mas sob seu aspeCIO d e sinaJ físico .
Estudam-se canais e códigos, mas com O foco centrado na clareza das
mensagens, na eficácia da transmissão. A re lação entre os pólos
e missor e receptor, mediada pelo canal, é concebida, dessa forma,
como se pudesse ocorrer independentemente dos mecanismos de
construção do significado. Adicio nalmente, e missor e recep[Qr sâo
percebidos como entidades sem memória e imunes a quaisquer ou-
lros processos comuniCAtivos (Iexlos, mediações ... ), vistos estes
como "ru idoÇ, interferências nocivas a serem previstas e controla-
das.
A noção de "código" - siste ma si ntático, organizador d e uma
seqüênda de sinais (ou sistema organ izad or de sign ifican les) - traz
implícit'a uma idéia de re l:lçâo e ntre o sujeito e a língua. O s uje ito
e missor reco lhe na língua - sistcma pronto de códigos - aquilo que
convém aos seus objetivos imediatos, organiza-o segundo regras sin-
tMicas e gramaticais e envia/transfere ao sujeito-receptor, a quem
cabe a lareJ-a da decodificação - tradução literal da mensagem, que
deve ser facilitada pela elim inação dos ruídos. A ligação e ntre o sujei-
[Q emissor e o repenório de códigos faz·se , pois, pela intc nção de se
comunicar, caracterizando-se uma concepção instrumentalista da
re lação língua-sujeito.

'OI
Considerando-sc esses e outros limites, pode-se contrapor lodológicas associam uma tcoria d o s ujeito e uma tcoria da produ-
um modo diverso de conceber a relação comunic:uiva, fund ado nas ção social do sentido, tornando-o bastante re presentativo da arual
tcorias semiológicas mais recentes. Um dos pomos de partida desl'e Semio logia.
trabalho é a convicção de que a comunicação rural, como conjunto De Banhes, semiólogo e mblemático da corrente france sa,
de conhecimentos e práticas, tcm multo a ganhar com a Semio logia recolho s ua ê.nfase na análise da "heterogeneidade constitutiva" do
dos Discursos Sociais, disciplina que não tem sido reputada como re· texto, vozes "em of[" da cultura . "Cadeia remissiva de significantes ~ e
lev-.lIue pelos técnicos e pesqu isado res do setor, o que é compreensí. "disseminação espadal do sentido " sâo algumas de suas id éias que
vel, um;a vez que trabalham sob a influê ncia de um modelo que não receberão acolhida especial.
ce ntr.a o foco na questão do significado, do sentido. Pois é exatame n· Bourdie u, SOCió logo, o ferece eleme ntos paca análise das
te isso que faz a Semiologia , ciênci a que estuda os fenômenos d a co- condições sociais de produção discursiva e das relações d e poder
municaç:lo como fenô menos d e produção de sen tido s. Que O discurso cOnstrói, por meio de seu s conceitos de "inte resse",
O o bjetivo des te capítulo é selecionar e ;apresentar teorias e "eslr:u égia" e "poder simbóJjco"_
conceitos semiológicos que formem as bases d e um Outro o lhar so- Banh es, Verón e Bourdieu, os d o is primeiros retrdbalhando
bre a comunicação runl.l e fu ndamemem uma me todolo gia d e análi- as idéias de Ben\'eniste , Bakthin e Foucauh numa perspectiva mais
se das práticas discursivas institucionais que circulam no campo . metodológica e o segundo o ferecendo a perspectiva de ou trd disci-
Muitos sao os auto res disponíveis e as nuanças entre eles plin a ao conhecime nto d o fun cio namento do mercado simbólico,
por vezes são s utis. O p rincípio scmio lógico da o; intcrtcxtualidade" fomlam o segundo eixo teórico. O prime iro eixo está na origem das
o per.a aí fo rtemente, faze ndo com que em cada um se percebam os mi nhas escolhas. O segundo, no centro. Há o utros Que, slruando-se
demais, por oposição ou afi nidade. O ptei por seis deles corno piCces n:t periferia, mas e m constante relação dialógica com o cenrro, exer-
de resisUltl cc: Émile 8enveniste , Michel Foucault e Mikhall 8akthin ; cer:l0 algum pode r so bre o rumo d as minhas anáJises . Serão me ncio-
Eliseo Verón, Roland B:lfIh es e Pierre Bourdieu. nados à medida que de les fizer recurso.
Bakthin , fil ósofo da linguagem , subverte as concepções mais Na seqüência, abordarei algumas condições que penniti-
aceitas sobre a língua e estabelece as noções irreversh'e is de "polifo- ram, num dado COntexto histó rico, a produção d as idéias que fo r·
nia" e "dialogismo··. mam a base do que hoje chamamos "Semio logia dos Discursos
Foucault , filósofo do discurso e das relações d e poder que se Sociais". Em seguida, to marei OS postu lados dessa Semio logia, iden-
instauram pela prática discurs iva. "Micropoder" e "centro-periferia" tificando as principais COncepções teóricas que estão ali compreen-
são seus conceitos que me illleress:un mais diretamente, alé.m d o d e didas c rclacionllndo-as com o meu objeto de estud o. Num terceiro
"discurso" e seus derivados. mo mento, d iScut irei os fundamemos d e uma metodo logia d e anâli-
Be nve niste, lingüista, fo rmul:!. a teo ria d:t enu nciação, passo St! a partir dessas concepções, e indicarei os procedimentos mais
fundam ental para 3.5 teorias semio lógicas do discurso. Chama alen- adequados à verificação d as h ipóteses empíricas, que deverão ser
ção para o "aparelho fo rmal da enunciação", IOrnando irrecusávcl a adotadas no exame do C01PUS selecionado.
abo rdagem lingüística na anáJjse discursiva.
Esses três :lUtOres fo rmam um primeiro eixo teó rico c se
const itue m e m condições d e p rodução paca os o utros três.
Condições d e prod u ção
Ver6 n, semió logo, Irabalha com o p ressu poslO da existência
de um "mercado si mbó lico", ao Qual aplica o mo de lo de sistema pro- A Semiologia tem su a histó ria estre imme me vincu lada à do
dUlivo. Suas análises comemplam a "heteroge neid ade discu rsiva", Estruturalismo. Bandeira da modernidade. contestação à hegemo nia
sobre tudo a constiruinre o u mostrada. Suas propostas teóricas e me-

li' .11
Considerando-sc esses e outros limites, pode-se contrapor lodológicas associam uma tcoria d o s ujeito e uma tcoria da produ-
um modo diverso de conceber a relação comunic:uiva, fund ado nas ção social do sentido, tornando-o bastante re presentativo da arual
tcorias semiológicas mais recentes. Um dos pomos de partida desl'e Semio logia.
trabalho é a convicção de que a comunicação rural, como conjunto De Banhes, semiólogo e mblemático da corrente france sa,
de conhecimentos e práticas, tcm multo a ganhar com a Semio logia recolho s ua ê.nfase na análise da "heterogeneidade constitutiva" do
dos Discursos Sociais, disciplina que não tem sido reputada como re· texto, vozes "em of[" da cultura . "Cadeia remissiva de significantes ~ e
lev-.lIue pelos técnicos e pesqu isado res do setor, o que é compreensí. "disseminação espadal do sentido " sâo algumas de suas id éias que
vel, um;a vez que trabalham sob a influê ncia de um modelo que não receberão acolhida especial.
ce ntr.a o foco na questão do significado, do sentido. Pois é exatame n· Bourdie u, SOCió logo, o ferece eleme ntos paca análise das
te isso que faz a Semiologia , ciênci a que estuda os fenômenos d a co- condições sociais de produção discursiva e das relações d e poder
municaç:lo como fenô menos d e produção de sen tido s. Que O discurso cOnstrói, por meio de seu s conceitos de "inte resse",
O o bjetivo des te capítulo é selecionar e ;apresentar teorias e "eslr:u égia" e "poder simbóJjco"_
conceitos semiológicos que formem as bases d e um Outro o lhar so- Banh es, Verón e Bourdieu, os d o is primeiros retrdbalhando
bre a comunicação runl.l e fu ndamemem uma me todolo gia d e análi- as idéias de Ben\'eniste , Bakthin e Foucauh numa perspectiva mais
se das práticas discursivas institucionais que circulam no campo . metodológica e o segundo o ferecendo a perspectiva de ou trd disci-
Muitos sao os auto res disponíveis e as nuanças entre eles plin a ao conhecime nto d o fun cio namento do mercado simbólico,
por vezes são s utis. O p rincípio scmio lógico da o; intcrtcxtualidade" fomlam o segundo eixo teórico. O prime iro eixo está na origem das
o per.a aí fo rtemente, faze ndo com que em cada um se percebam os mi nhas escolhas. O segundo, no centro. Há o utros Que, slruando-se
demais, por oposição ou afi nidade. O ptei por seis deles corno piCces n:t periferia, mas e m constante relação dialógica com o cenrro, exer-
de resisUltl cc: Émile 8enveniste , Michel Foucault e Mikhall 8akthin ; cer:l0 algum pode r so bre o rumo d as minhas anáJises . Serão me ncio-
Eliseo Verón, Roland B:lfIh es e Pierre Bourdieu. nados à medida que de les fizer recurso.
Bakthin , fil ósofo da linguagem , subverte as concepções mais Na seqüência, abordarei algumas condições que penniti-
aceitas sobre a língua e estabelece as noções irreversh'e is de "polifo- ram, num dado COntexto histó rico, a produção d as idéias que fo r·
nia" e "dialogismo··. mam a base do que hoje chamamos "Semio logia dos Discursos
Foucault , filósofo do discurso e das relações d e poder que se Sociais". Em seguida, to marei OS postu lados dessa Semio logia, iden-
instauram pela prática discurs iva. "Micropoder" e "centro-periferia" tificando as principais COncepções teóricas que estão ali compreen-
são seus conceitos que me illleress:un mais diretamente, alé.m d o d e didas c rclacionllndo-as com o meu objeto de estud o. Num terceiro
"discurso" e seus derivados. mo mento, d iScut irei os fundamemos d e uma metodo logia d e anâli-
Be nve niste, lingüista, fo rmul:!. a teo ria d:t enu nciação, passo St! a partir dessas concepções, e indicarei os procedimentos mais
fundam ental para 3.5 teorias semio lógicas do discurso. Chama alen- adequados à verificação d as h ipóteses empíricas, que deverão ser
ção para o "aparelho fo rmal da enunciação", IOrnando irrecusávcl a adotadas no exame do C01PUS selecionado.
abo rdagem lingüística na anáJjse discursiva.
Esses três :lUtOres fo rmam um primeiro eixo teó rico c se
const itue m e m condições d e p rodução paca os o utros três.
Condições d e prod u ção
Ver6 n, semió logo, Irabalha com o p ressu poslO da existência
de um "mercado si mbó lico", ao Qual aplica o mo de lo de sistema pro- A Semiologia tem su a histó ria estre imme me vincu lada à do
dUlivo. Suas análises comemplam a "heteroge neid ade discu rsiva", Estruturalismo. Bandeira da modernidade. contestação à hegemo nia
sobre tudo a constiruinre o u mostrada. Suas propostas teóricas e me-

li' .11
1,,~.11<l Armljo

das humanidades clássicas, o programa estnHuralistal9 aglutinou Saussure solidifica a noção de siSfema e , ao lado da interde-
em to rno de si mais de uma geração de intelectuais que viviam inten· pendência dos seus e lemenlos, a institui como um dos pilares da sua
samente o desenvo lvimento das Ciências Sociais e demonstravam reoria lingüística , que prima pelo alto grau de abst'f-:u;ão. Associada
sensibilidade para um tipo de saber considerndo marginal o u mes· intim amente a essa noção, está a oposição diacronia·sincronia. O s is-
mo proscrito. O Estruturalismo represemava também a senha para a tema, e m Saussure, exige como co ndição de análise a eliminação do
aquisição do estatuto de "científico", a inda negado:\s disciplina.s hu· lem po histórico . O corte sincrõnico é o utra fonnulação bás ica do es-
manas e sociais (apesar de a lguns irrecusáveis avanços e conquistas Ir ururalismo (e um de seus pOntos nevrálgicos) .
propiciados pelo positivismo) . Uma terceira tese a d estacar é a da ins ignificância do sujeito,
Certamente não se pode falar do estrutuF.t.!ismo como se fosse excl uído em prol do rigor c ie ntífico. Saussure distinguiu Iíngml (s0-
uno c homogcneo. Mú ltiplos o bjetos, múltiplas disciplinas, múlti· cial) c/ala (individual), sendo aquela o o bje to d a lingüística, o unico
pias abordage ns , múltiplas histórias o fe recem o risco de reducionis· que, a seu ver, poderia dar racionalidade científica à sua ciência. A
mo às Icntativas de e ncontrar matrizes comuns. Mas, se há uma base eliminação do sujeito falante, a expulsão d o indivíduo do horizonte
unificadora, e la se e ncontrn no âmbilO da Lingüística m oderna e c ie ntífico, como um estorvo, fo i tambi!lIl amplamente incorporada
p ara compreendê·la - e à Semiologia - é indispensáve l passar pela fi· pelo prognuna estruturalista e definiu por um tempo os rumos da
gura de ferd inand de Saussure. Semio logia. Mas, para compreender me lhor a relação e ntre a Lin-
lingüista, de nacionalidade suíça, Saussurc propôs uma Lin· güística de Sau~sure e a Serniologia, é preci~o falar da sua teoria do
güística Geral e uma nova ciê ncia, a Semio logia. Tendo nascido no signo .
século XIX e mo rrido em 1913, lançou suas teses no famoso "Curso Influenciado por lJurkhe im , primeiro sociólogo que eSlabe-
de Lingüística Geral" (depois çonvenido e m livro, por seus alunos) , lece u a prevalência do socia l sobre o individual, Saussure propõe
na Univer.tidade de Genebra, e ntre 1907 c 19 11. Esse final· início de uma teoria dos s ignos cuja idéia central é a divisão entre a fala , ob je-
.século era palco de inte nsos debalcs lingüísticos e , na questão "natu· tO real , c a língua, o bjem de estudo. Par" e le, d ever·se·ia abstrair do
ralismo versus convencionalis mo do signo", a última hipótese o bti· objeto real aquilo que é estável e controlável, que forma a estruturn,
n ha a preferência. Portanto , a descoberta do caráter arbitrário do isto é, a língua . A língua seria o social e a fala o individual e a ciência
signo - todo s igno seria regido por conve nções cu lturais _ não fo i a de\'eria ocupar·se do social.
maior comribuiç;i.o d e Saussurc, e s im o fato de lê-lo vinc ulado a Enquanto a fala é o domín io d o sinal, a língu :l i! o te rrirório
uma teoria do valo r, ou seja, atribuir·lhe um princípio semiológi- do signo , que resulta da som a dosigni/icante, - imagem acústica" do
co. 20 A língua seria um sistem:. constiruído pord iff' re.nça... puras, não signo, e do si?,lli/fcado, a contrJ.partida mental do conceito . Signifi·
por conteúdos; os signos teriam seu valor definido por oposição a cante e significado são indissociáveis e ambos são unidades Cu lturais.
outros e esra é uma das formulações de base do EstrutuF.t.!ismo. Com o primeiro , cla~sificamos os sinais da língua; COm o segundo , os
objeros t: pensame ntos reais.
Com a exclusão do referente , :I supressão da fu nção re feren-
D'ÚsSl.: apoma. dc:mro da d iversidade e ~ truturalisl.a. uma di5lÍn,,;tu que é, um·
" bém . um princíp io d ", dassi ficação: o ~tru tu ra.li.s.mo c ientífico. re presentado
p rincipal mel'lte por L6i·Su :r.uss, Gn:im.:r.s e Lacan '" e n voh'Cndo. por ~:Onsé·
cial e o conseqüe nte fechamento da língua sobre si mesma, Saussure
fez uma opção pelo signo, re me lendo O semido p:lr3 os domínios da
qliéncia. a al'luopologia. a semiÓtica c: a p:iiC;J.n;ó1isc:; o c5 U'UlUrali5mo$cmiol6- Metafisica e esta será uma das marcas do Estrururalismo. Por Outro
gito. "mais Oc:xivd. mili s ondubmc: ou f,.'lIm h iamc:~, no qual se des mcariam lado, s ua postura imanemista está na o rigem do paradigma li ngüís ti-
lJart hc$, Serre.s, Gc nc lle e Todorov; c um c:stru turallsmo h istori cl:t.ado, com
Allhosser, FouClIult, Dc:rrlda e Vernant ( t933: 16). co assimilado pc.la maioria d as Ciências Sociais até nossos dias, ao
(IUal me referi ame rionnente . As teses de Saussure levam a perceber
20 N~o hi COf1S('nso e m tomo dessa discussão. EsIOU aqu i assum indo o ponto de
' 1St:. de Cl:iudinc Nonnand , a presso em c: ntK\'Í5l:r. C(lO(c.."t.!id.a :li Dossc (op. a língua como repertório d e códigos com o s ignificado predet'cnni·
1.'11.: (8).

11 1 11 ]
1,,~.11<l Armljo

das humanidades clássicas, o programa estnHuralistal9 aglutinou Saussure solidifica a noção de siSfema e , ao lado da interde-
em to rno de si mais de uma geração de intelectuais que viviam inten· pendência dos seus e lemenlos, a institui como um dos pilares da sua
samente o desenvo lvimento das Ciências Sociais e demonstravam reoria lingüística , que prima pelo alto grau de abst'f-:u;ão. Associada
sensibilidade para um tipo de saber considerndo marginal o u mes· intim amente a essa noção, está a oposição diacronia·sincronia. O s is-
mo proscrito. O Estruturalismo represemava também a senha para a tema, e m Saussure, exige como co ndição de análise a eliminação do
aquisição do estatuto de "científico", a inda negado:\s disciplina.s hu· lem po histórico . O corte sincrõnico é o utra fonnulação bás ica do es-
manas e sociais (apesar de a lguns irrecusáveis avanços e conquistas Ir ururalismo (e um de seus pOntos nevrálgicos) .
propiciados pelo positivismo) . Uma terceira tese a d estacar é a da ins ignificância do sujeito,
Certamente não se pode falar do estrutuF.t.!ismo como se fosse excl uído em prol do rigor c ie ntífico. Saussure distinguiu Iíngml (s0-
uno c homogcneo. Mú ltiplos o bjetos, múltiplas disciplinas, múlti· cial) c/ala (individual), sendo aquela o o bje to d a lingüística, o unico
pias abordage ns , múltiplas histórias o fe recem o risco de reducionis· que, a seu ver, poderia dar racionalidade científica à sua ciência. A
mo às Icntativas de e ncontrar matrizes comuns. Mas, se há uma base eliminação do sujeito falante, a expulsão d o indivíduo do horizonte
unificadora, e la se e ncontrn no âmbilO da Lingüística m oderna e c ie ntífico, como um estorvo, fo i tambi!lIl amplamente incorporada
p ara compreendê·la - e à Semiologia - é indispensáve l passar pela fi· pelo prognuna estruturalista e definiu por um tempo os rumos da
gura de ferd inand de Saussure. Semio logia. Mas, para compreender me lhor a relação e ntre a Lin-
lingüista, de nacionalidade suíça, Saussurc propôs uma Lin· güística de Sau~sure e a Serniologia, é preci~o falar da sua teoria do
güística Geral e uma nova ciê ncia, a Semio logia. Tendo nascido no signo .
século XIX e mo rrido em 1913, lançou suas teses no famoso "Curso Influenciado por lJurkhe im , primeiro sociólogo que eSlabe-
de Lingüística Geral" (depois çonvenido e m livro, por seus alunos) , lece u a prevalência do socia l sobre o individual, Saussure propõe
na Univer.tidade de Genebra, e ntre 1907 c 19 11. Esse final· início de uma teoria dos s ignos cuja idéia central é a divisão entre a fala , ob je-
.século era palco de inte nsos debalcs lingüísticos e , na questão "natu· tO real , c a língua, o bjem de estudo. Par" e le, d ever·se·ia abstrair do
ralismo versus convencionalis mo do signo", a última hipótese o bti· objeto real aquilo que é estável e controlável, que forma a estruturn,
n ha a preferência. Portanto , a descoberta do caráter arbitrário do isto é, a língua . A língua seria o social e a fala o individual e a ciência
signo - todo s igno seria regido por conve nções cu lturais _ não fo i a de\'eria ocupar·se do social.
maior comribuiç;i.o d e Saussurc, e s im o fato de lê-lo vinc ulado a Enquanto a fala é o domín io d o sinal, a língu :l i! o te rrirório
uma teoria do valo r, ou seja, atribuir·lhe um princípio semiológi- do signo , que resulta da som a dosigni/icante, - imagem acústica" do
co. 20 A língua seria um sistem:. constiruído pord iff' re.nça... puras, não signo, e do si?,lli/fcado, a contrJ.partida mental do conceito . Signifi·
por conteúdos; os signos teriam seu valor definido por oposição a cante e significado são indissociáveis e ambos são unidades Cu lturais.
outros e esra é uma das formulações de base do EstrutuF.t.!ismo. Com o primeiro , cla~sificamos os sinais da língua; COm o segundo , os
objeros t: pensame ntos reais.
Com a exclusão do referente , :I supressão da fu nção re feren-
D'ÚsSl.: apoma. dc:mro da d iversidade e ~ truturalisl.a. uma di5lÍn,,;tu que é, um·
" bém . um princíp io d ", dassi ficação: o ~tru tu ra.li.s.mo c ientífico. re presentado
p rincipal mel'lte por L6i·Su :r.uss, Gn:im.:r.s e Lacan '" e n voh'Cndo. por ~:Onsé·
cial e o conseqüe nte fechamento da língua sobre si mesma, Saussure
fez uma opção pelo signo, re me lendo O semido p:lr3 os domínios da
qliéncia. a al'luopologia. a semiÓtica c: a p:iiC;J.n;ó1isc:; o c5 U'UlUrali5mo$cmiol6- Metafisica e esta será uma das marcas do Estrururalismo. Por Outro
gito. "mais Oc:xivd. mili s ondubmc: ou f,.'lIm h iamc:~, no qual se des mcariam lado, s ua postura imanemista está na o rigem do paradigma li ngüís ti-
lJart hc$, Serre.s, Gc nc lle e Todorov; c um c:stru turallsmo h istori cl:t.ado, com
Allhosser, FouClIult, Dc:rrlda e Vernant ( t933: 16). co assimilado pc.la maioria d as Ciências Sociais até nossos dias, ao
(IUal me referi ame rionnente . As teses de Saussure levam a perceber
20 N~o hi COf1S('nso e m tomo dessa discussão. EsIOU aqu i assum indo o ponto de
' 1St:. de Cl:iudinc Nonnand , a presso em c: ntK\'Í5l:r. C(lO(c.."t.!id.a :li Dossc (op. a língua como repertório d e códigos com o s ignificado predet'cnni·
1.'11.: (8).

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1.....$11« Armijc.o

nado (m esmo consid erando a natureza cultural da d eterminação para a arual Semiolo gia dos Discursos Sociais, indicadas por I' imo (0J'.
dos s ignificad os) , d is ponível para eventuais combina tó rias sintáticas cit.) .
e gr:lma ticais. Ances, porém , uma o bservação: o fa tO de Peirce e Saussure,
A panirdc su a teoria do sig no , Saussure pre ....ê a necessidade trabalhando em diferentes continentes e sem se conhecerem, tere lll
c propõe uma na \'3 ciê ncia, a Semio logia , que integrAria nãos6 a Lin· produzido na mesm.'1 época uma teoria dos s ig nos, e videncia a exis-
güístiC-A, mas todas as disciplinas interessadas no estudo d a "vida dos tê ncia de condições teó ricas d e prod ução que extrapolam os limites
signos no seio d a vida socia l" (op. cit.: 24) . Desde e ntão, a Semio lo · geográficos e os c írculos intelectuais de perte nça. A preocupação com
g ia percor re m ú ltiplos cam inhos, ganhando cores e rumos :lcordes o sig nificado (ou com o semido) re mete:\ Grécia antiga, com os sofis-
com O movime nto d as idé ias nas Ciê ncias Humanas, princi pal mc nre tas, co m Aristó teles e Platâo, d e pois com os céticos, Sro. Agostinho e
as Sociais . tantos o utros, e nunca abando no u o cenár io flI osófko. Mas o debate
O tcnno "Scmio logia", o riginá rio da me d icina, s ig nifica lire· sobre a linguagem data d a me mdc d o século XIX e to m a maior vulto
ralm e m e "estudo dos signos". Há hoje diversas definições : c iê ncia da no início do século XX; a conjunçio das duas q uestões resulta, entre
sig nlfl cação, dos s ignos, ciência ge rAI de todas as linguage ns, ciê ncia Outr.LS coisas, nas teorias d o signo . E nio são só Pe irce e Saussure que
que estuda os fe nô m e nos da c ultu nl como de comunicação ... Há inte gram esse ce nário. J.udwig Frege , lóg ico e mate mático alemão,
també m o te rmo "Sc rnió tica", que para uns e quiva le a Semio lo gia , propôs e m 1892, num anigo intirulado "Sobre refe rê ncia e sentido",
para o utro s desig na uma ciê ncia mais abrangente, com o r igem nos uma teoria dos signos, na qual d e fine "sentido" COmO O modo de apre·
postulad os d e Cha rle s Pe irce . Este é o caso d e Sanrae lla (199 1: 8 2) , sentar o o bjeto no mundo. O o bjeto não significaria aquilo que objeti·
que considerA a Sem iologia uma Semiót ica e special, com a função de vamente é, nâo haveria uma relaç:io d e imanê ncia entre o bjeto e
pree nche r os de talhes descritivos d a Semió tica geral, m ais a mpla e significado, que nio seria constante e sim mod ificar-se-ia segundo fa·
abstrata. Já Pinto ( 1994 : 1-2) não vê razões de peso para distingu ir, tores culturais e circunstancia is . O real seria c riado pelo s ig nificado,
como diSCiplinas d iferentes, a sem iologia france sa da linha pe ircea· visão que con{rMia o imane ntismo d os q ue afinnam q ue o significado
na. nasce do real . Esta IlOÇdO, a da natureza. contextual e cu ltural d o senti·
Peirce vive u na mesm a éPOC-A d e Saussure ( 1839 - 19 14). d o , i:. extremame nte atual, assim com o O uso d o t~ nno "scntido " que,
Com fo rmação e m c iê nc ias exa tas. era apaixo nado pela lógica e a como veremos mais adiante , contrapõe·se ao "significad o-, na mode ro
concebia com o intrinsecame nte vinculada a uma teoria geral dos s igo na Semiologia. Frege fo rmulo u uma teco" d o sig no e m uso, distinta
nos, a q ue ele de no mino u Se mió tica. Nas suas palavrAS, " ... d esde o d a de Saussure, teoria da língua e m estad o pote ncial, e da de Peirce,
dia e m que , na idade d e 12 o u 13 a nos, eu peg uei no quano d e me u teoria da aquisição da linguagem . Esta última afirmação nos reme te de
irmão mais \'c1ho uma cópia d a Lógica de Whatele}' e pergunte i a c1e volta às contribuições de I~irce para a Semio logia dos Discursos Sociais.
o que e ra a Lógica, ao receber uma resposta simples, jogue i-me no A primeirA, destacada por I'im o , re m carite r e pistemoló gico
assoalho e me e nte rre i no livro . Desde e ntão, nu nca esteve e m me us e d iz res pe ito à na tureza d o conhecimento , que seria se mpre "m e di-
poderes estuda r qua lq uer coisa - matemática, ética, metafísica, a na- ado por algum s iste ma d e representação", me diado , portantO, pela
to mia , termodinâmica , ótica, g ravila~":.lo , astrono mia, ps icologia , fo- c ulturA (c pela linguagem , j:í que toda re presc n ração ocorre por ai·
né tica, econo m ia, a h istória d a ciência, jogo de cartas, ho m e ns e g um s istema d e linguagem ). Ta l :ú'imlação conduz à idé ia da "semiO-
mulhe res. vinbo , m e tro lo gia , exceto como um e srudo de Semió tica" sis", que seria a capacidade d e um signo ge rar o utro sig no , fo rmando
(afJud S:mtae ll a, o p . cit .: 2i) . Tal d eclantçáo, alé m de fazer eme nde r uma cadeia d e "interpretanres" na me nte dos indivíduos, num pro-
as pre te nsões hc ge m ô nicas e e nglobadoras dos defenso re s da Semi6· cesso infinito , cujo lim ite e staria na cultu ra e na bistoric idadc que
tlca , d á piStas d a diflcu ldade que é resumir a teoria dos s ignos de Pe ir· nos impõe o que e co mo pensa r e m cad a tempo, lugar e circunstàn·
(:e . Po r isso, are nho-me às suas principais c importantes co ntribuições

li' 115
1.....$11« Armijc.o

nado (m esmo consid erando a natureza cultural da d eterminação para a arual Semiolo gia dos Discursos Sociais, indicadas por I' imo (0J'.
dos s ignificad os) , d is ponível para eventuais combina tó rias sintáticas cit.) .
e gr:lma ticais. Ances, porém , uma o bservação: o fa tO de Peirce e Saussure,
A panirdc su a teoria do sig no , Saussure pre ....ê a necessidade trabalhando em diferentes continentes e sem se conhecerem, tere lll
c propõe uma na \'3 ciê ncia, a Semio logia , que integrAria nãos6 a Lin· produzido na mesm.'1 época uma teoria dos s ig nos, e videncia a exis-
güístiC-A, mas todas as disciplinas interessadas no estudo d a "vida dos tê ncia de condições teó ricas d e prod ução que extrapolam os limites
signos no seio d a vida socia l" (op. cit.: 24) . Desde e ntão, a Semio lo · geográficos e os c írculos intelectuais de perte nça. A preocupação com
g ia percor re m ú ltiplos cam inhos, ganhando cores e rumos :lcordes o sig nificado (ou com o semido) re mete:\ Grécia antiga, com os sofis-
com O movime nto d as idé ias nas Ciê ncias Humanas, princi pal mc nre tas, co m Aristó teles e Platâo, d e pois com os céticos, Sro. Agostinho e
as Sociais . tantos o utros, e nunca abando no u o cenár io flI osófko. Mas o debate
O tcnno "Scmio logia", o riginá rio da me d icina, s ig nifica lire· sobre a linguagem data d a me mdc d o século XIX e to m a maior vulto
ralm e m e "estudo dos signos". Há hoje diversas definições : c iê ncia da no início do século XX; a conjunçio das duas q uestões resulta, entre
sig nlfl cação, dos s ignos, ciência ge rAI de todas as linguage ns, ciê ncia Outr.LS coisas, nas teorias d o signo . E nio são só Pe irce e Saussure que
que estuda os fe nô m e nos da c ultu nl como de comunicação ... Há inte gram esse ce nário. J.udwig Frege , lóg ico e mate mático alemão,
també m o te rmo "Sc rnió tica", que para uns e quiva le a Semio lo gia , propôs e m 1892, num anigo intirulado "Sobre refe rê ncia e sentido",
para o utro s desig na uma ciê ncia mais abrangente, com o r igem nos uma teoria dos signos, na qual d e fine "sentido" COmO O modo de apre·
postulad os d e Cha rle s Pe irce . Este é o caso d e Sanrae lla (199 1: 8 2) , sentar o o bjeto no mundo. O o bjeto não significaria aquilo que objeti·
que considerA a Sem iologia uma Semiót ica e special, com a função de vamente é, nâo haveria uma relaç:io d e imanê ncia entre o bjeto e
pree nche r os de talhes descritivos d a Semió tica geral, m ais a mpla e significado, que nio seria constante e sim mod ificar-se-ia segundo fa·
abstrata. Já Pinto ( 1994 : 1-2) não vê razões de peso para distingu ir, tores culturais e circunstancia is . O real seria c riado pelo s ig nificado,
como diSCiplinas d iferentes, a sem iologia france sa da linha pe ircea· visão que con{rMia o imane ntismo d os q ue afinnam q ue o significado
na. nasce do real . Esta IlOÇdO, a da natureza. contextual e cu ltural d o senti·
Peirce vive u na mesm a éPOC-A d e Saussure ( 1839 - 19 14). d o , i:. extremame nte atual, assim com o O uso d o t~ nno "scntido " que,
Com fo rmação e m c iê nc ias exa tas. era apaixo nado pela lógica e a como veremos mais adiante , contrapõe·se ao "significad o-, na mode ro
concebia com o intrinsecame nte vinculada a uma teoria geral dos s igo na Semiologia. Frege fo rmulo u uma teco" d o sig no e m uso, distinta
nos, a q ue ele de no mino u Se mió tica. Nas suas palavrAS, " ... d esde o d a de Saussure, teoria da língua e m estad o pote ncial, e da de Peirce,
dia e m que , na idade d e 12 o u 13 a nos, eu peg uei no quano d e me u teoria da aquisição da linguagem . Esta última afirmação nos reme te de
irmão mais \'c1ho uma cópia d a Lógica de Whatele}' e pergunte i a c1e volta às contribuições de I~irce para a Semio logia dos Discursos Sociais.
o que e ra a Lógica, ao receber uma resposta simples, jogue i-me no A primeirA, destacada por I'im o , re m carite r e pistemoló gico
assoalho e me e nte rre i no livro . Desde e ntão, nu nca esteve e m me us e d iz res pe ito à na tureza d o conhecimento , que seria se mpre "m e di-
poderes estuda r qua lq uer coisa - matemática, ética, metafísica, a na- ado por algum s iste ma d e representação", me diado , portantO, pela
to mia , termodinâmica , ótica, g ravila~":.lo , astrono mia, ps icologia , fo- c ulturA (c pela linguagem , j:í que toda re presc n ração ocorre por ai·
né tica, econo m ia, a h istória d a ciência, jogo de cartas, ho m e ns e g um s istema d e linguagem ). Ta l :ú'imlação conduz à idé ia da "semiO-
mulhe res. vinbo , m e tro lo gia , exceto como um e srudo de Semió tica" sis", que seria a capacidade d e um signo ge rar o utro sig no , fo rmando
(afJud S:mtae ll a, o p . cit .: 2i) . Tal d eclantçáo, alé m de fazer eme nde r uma cadeia d e "interpretanres" na me nte dos indivíduos, num pro-
as pre te nsões hc ge m ô nicas e e nglobadoras dos defenso re s da Semi6· cesso infinito , cujo lim ite e staria na cultu ra e na bistoric idadc que
tlca , d á piStas d a diflcu ldade que é resumir a teoria dos s ignos de Pe ir· nos impõe o que e co mo pensa r e m cad a tempo, lugar e circunstàn·
(:e . Po r isso, are nho-me às suas principais c importantes co ntribuições

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J "~dla "'mujo

cia . O conceito de "semio se infinita" é o cerne de um d os postulados Lingü ística Geral e dese java aplicar a noção d e "siste ma de s igno s"
d a mode rna scmiologia, como se verá mais adiante. às represenraçõcs cole tivas, visando à sua desmistificação. Foi o mo-
A 5eb'\Jnda contribuiç-I.o a rt.'"Ssalrar localiza·se na noção de que mento e m que se introduziu a Serniologia como modo d e acesso à
"o ho me m é um produto d a linguage m , q ue ele se constitui e m suje i. análise d os discu rsos. As in nuê ndas mais marcantes fo rd.m o marxis·
tO pela linguagem, antecipa ndoconcepçÕ<..-s d a psicanâlise lacaniana e mo fr.mkfurtiano, O estruturalis mo lingüístico saussuria no e a hipó-
dos teórico s da análise dos discursos" (p. 2) . tese antropológica d e que todo fe nô me no cuhuraJ é um fen ô me no
Mas há um ou tro aspt:CtO a destacarem Peirce, que é sua preo- de comunicação. A questão q ue nesse período tinha relevância é :
cupa':,"Íio co m :t pragmálica. A tcoria de S:m ssure era bidimc nsional, "qual é o significado?" e se associava à preocu pação com as ideologias
corre laciona ndo ape nas sintaxe (d o mínio da combinaçl0 d os sigo d omina ntes. A id(..'Ologia era e ntendida como fal sa consciê ncia d a rea·
nos) c semântica (d o m ínio d a significação). Ele não se punha a ques- lidade, imposta pelas classes d o min:lntes.
tâo do poder de tr.ms formação dos signos sobre a realidade , questão A segunda Sem/o lo gia to mo u corpo e m 1964 , com a pub lica-
que preocupava Peirce, herdeiro d a tradição utilita rista no n e·ame ri. ção, no nU 4 da revista Commzmicatlons, d e "Ele mentos de Semio lo-
cana., que o leva a fo mlular a pergunta: "como oser humano percebe gia", também d e Banhes, que ele pre te nde q ue seja o manifesto d e
as cois as?". Tal pe rgunta resul ta na fo mlUlação d a noçâo de cbnheci· uma nova ciê n cia, com bases finOldas em Saussure, Jak.o bson e
me nto me ncionada, mas também o faz p ro por a p ragmá tica como a Hjelmslev2 1 e que d e veria ser a ciê ncia por excelê ncia da socied ad e.
te rceira dinu;:n.são a .ser consid e r.tda no estud o dos signos, aspecro Nesse proje to, e le conta com o apoio de Greimas , seu pai intelectual
tão a tual na t'e oria scmio ló gica quanto os a nterio res. e ade pto de uma Semió lica Geral como ciê ncia englo bado ra . Em
Re to ma ndo o que seria uma disputa entre a Semiótica e a Se· "Ele me ntos", levanta a poSSi bilidade d e inve n e r a p roposta de Saus-
mio logia, que ro ci tar a d efini ção que San taella dá de Semiót'ica: " ... é s ure de qu e a Lingüística seria p arte da Semio logia, divide o livro se-
a ciê ncia que te m por o bjeto d e investiWlção todas as lingu agens pos· gundo ru bricas a traíd as da Lingüística Estrutural e afirma que seu
síveis, ou seja, que re m por o bjetivo o exame dos modos de constitu i- objeti vo é "t irar da Lingüístict os conceilOs analíticos a respeito dos
ção de todo e qualqu er fe nôme no co mo fe nôme no de produção d e quais se pe nsa a prior; serem suficienteme nte gerais para permitir a
significação e d e sentido " (op. cil. : 13) . Ora, tal de finição descreve preparação d a pesquisa se mio lógica" (197 1: 13) .
ta mbé m a Semio logi:l . Q uero crer que as o bjeçõcs que Santaella faz Esse "m a nifesto " conhece um sucesso e no mlt: e transfo r-
localizam·se na natureza do corte saussuria no c nas concepçóes d a ma-se e m referê ncia obrigató ria para todos o s estudos semio ló gicos
fase estrutur:liista da Semio lo gia. Mas como ciência e m constante dos anos 60·70 . São tempos e m que a pergunta central da Semiologia
tl'3nsfo rmação e co nSTruíd a historicame nte no bo jo de movime ntos passa a ser: "como o significad o é produzido?" Essa f.tSC semio lógica
de c ritica e com est:lção, Semiologia e semiólogos acompanharam convive hoje com a terceira, como veremos mais adiante, ma nte ndo
seu te m po e revisaram criticame nte seus postu lados. Fala-se, ho je, a im ponância d a indagaçáo c de alguns dos seus pressupostos estru-
e m prime ira, segunda e terceira semio logias, e mbora a idenrificaçáo turalist:\S.
d os traços e o br.lS marcantes desses mo me ntos variem d e acordo Os anos 60-70 foram extremamente vigorosos p:lf'a a vida inte-
com a abordage m do auto r. lectual européia e principalmente para a fi-.mcesa. vários estudos semio-
É d ificil demarcar os limites d as fases por q ue passou a Semio- lógicos são levad os a cabo, publica·se muito , as teorias da c nunci:lção e
logia, o ra su perpostas, o ra em ruptura. O que se segue é a pe nas uma
a proximação, o bje tivando carac te rizar e m grandes linhas o processo
d e construção d os obje tos de inte resse d a discip lina. A primeira cor- 21 Hjchnslc:v roi um IIngü iSI:I. di nam:l.n:ju ês que levou ~ õlbord~gcm estnllural às
responde ria aos anos 50 , cuja obra emble mática é Mitologias, d e Ro- úhimu conSC<lúê ncias. ch<..'ga ndo ;a scpõlraf (I que: Saussure c,;oru;ider...... Inse:·
la nd Barthes, publicada em 19 57. Ele ac.!ba ra d e ler O Curso d e p:lli,wl. o s ignifica nte - q uede dc nomlnouJonllu dO!O!XfJressdo- e: o significa-
do _ /o n llu de cOllteúdo. Ne:sse movimento, accntua a abSIrnç;lO c ~ buSl.."lI da
e:;tnJ tura t: ctia a "glossc:: m:itM.:lI", d lsclplin."1 com as p ira~õcs hcge mo nlc:l.s.

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J "~dla "'mujo

cia . O conceito de "semio se infinita" é o cerne de um d os postulados Lingü ística Geral e dese java aplicar a noção d e "siste ma de s igno s"
d a mode rna scmiologia, como se verá mais adiante. às represenraçõcs cole tivas, visando à sua desmistificação. Foi o mo-
A 5eb'\Jnda contribuiç-I.o a rt.'"Ssalrar localiza·se na noção de que mento e m que se introduziu a Serniologia como modo d e acesso à
"o ho me m é um produto d a linguage m , q ue ele se constitui e m suje i. análise d os discu rsos. As in nuê ndas mais marcantes fo rd.m o marxis·
tO pela linguagem, antecipa ndoconcepçÕ<..-s d a psicanâlise lacaniana e mo fr.mkfurtiano, O estruturalis mo lingüístico saussuria no e a hipó-
dos teórico s da análise dos discursos" (p. 2) . tese antropológica d e que todo fe nô me no cuhuraJ é um fen ô me no
Mas há um ou tro aspt:CtO a destacarem Peirce, que é sua preo- de comunicação. A questão q ue nesse período tinha relevância é :
cupa':,"Íio co m :t pragmálica. A tcoria de S:m ssure era bidimc nsional, "qual é o significado?" e se associava à preocu pação com as ideologias
corre laciona ndo ape nas sintaxe (d o mínio da combinaçl0 d os sigo d omina ntes. A id(..'Ologia era e ntendida como fal sa consciê ncia d a rea·
nos) c semântica (d o m ínio d a significação). Ele não se punha a ques- lidade, imposta pelas classes d o min:lntes.
tâo do poder de tr.ms formação dos signos sobre a realidade , questão A segunda Sem/o lo gia to mo u corpo e m 1964 , com a pub lica-
que preocupava Peirce, herdeiro d a tradição utilita rista no n e·ame ri. ção, no nU 4 da revista Commzmicatlons, d e "Ele mentos de Semio lo-
cana., que o leva a fo mlular a pergunta: "como oser humano percebe gia", também d e Banhes, que ele pre te nde q ue seja o manifesto d e
as cois as?". Tal pe rgunta resul ta na fo mlUlação d a noçâo de cbnheci· uma nova ciê n cia, com bases finOldas em Saussure, Jak.o bson e
me nto me ncionada, mas também o faz p ro por a p ragmá tica como a Hjelmslev2 1 e que d e veria ser a ciê ncia por excelê ncia da socied ad e.
te rceira dinu;:n.são a .ser consid e r.tda no estud o dos signos, aspecro Nesse proje to, e le conta com o apoio de Greimas , seu pai intelectual
tão a tual na t'e oria scmio ló gica quanto os a nterio res. e ade pto de uma Semió lica Geral como ciê ncia englo bado ra . Em
Re to ma ndo o que seria uma disputa entre a Semiótica e a Se· "Ele me ntos", levanta a poSSi bilidade d e inve n e r a p roposta de Saus-
mio logia, que ro ci tar a d efini ção que San taella dá de Semiót'ica: " ... é s ure de qu e a Lingüística seria p arte da Semio logia, divide o livro se-
a ciê ncia que te m por o bjeto d e investiWlção todas as lingu agens pos· gundo ru bricas a traíd as da Lingüística Estrutural e afirma que seu
síveis, ou seja, que re m por o bjetivo o exame dos modos de constitu i- objeti vo é "t irar da Lingüístict os conceilOs analíticos a respeito dos
ção de todo e qualqu er fe nôme no co mo fe nôme no de produção d e quais se pe nsa a prior; serem suficienteme nte gerais para permitir a
significação e d e sentido " (op. cil. : 13) . Ora, tal de finição descreve preparação d a pesquisa se mio lógica" (197 1: 13) .
ta mbé m a Semio logi:l . Q uero crer que as o bjeçõcs que Santaella faz Esse "m a nifesto " conhece um sucesso e no mlt: e transfo r-
localizam·se na natureza do corte saussuria no c nas concepçóes d a ma-se e m referê ncia obrigató ria para todos o s estudos semio ló gicos
fase estrutur:liista da Semio lo gia. Mas como ciência e m constante dos anos 60·70 . São tempos e m que a pergunta central da Semiologia
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de c ritica e com est:lção, Semiologia e semiólogos acompanharam convive hoje com a terceira, como veremos mais adiante, ma nte ndo
seu te m po e revisaram criticame nte seus postu lados. Fala-se, ho je, a im ponância d a indagaçáo c de alguns dos seus pressupostos estru-
e m prime ira, segunda e terceira semio logias, e mbora a idenrificaçáo turalist:\S.
d os traços e o br.lS marcantes desses mo me ntos variem d e acordo Os anos 60-70 foram extremamente vigorosos p:lf'a a vida inte-
com a abordage m do auto r. lectual européia e principalmente para a fi-.mcesa. vários estudos semio-
É d ificil demarcar os limites d as fases por q ue passou a Semio- lógicos são levad os a cabo, publica·se muito , as teorias da c nunci:lção e
logia, o ra su perpostas, o ra em ruptura. O que se segue é a pe nas uma
a proximação, o bje tivando carac te rizar e m grandes linhas o processo
d e construção d os obje tos de inte resse d a discip lina. A primeira cor- 21 Hjchnslc:v roi um IIngü iSI:I. di nam:l.n:ju ês que levou ~ õlbord~gcm estnllural às
responde ria aos anos 50 , cuja obra emble mática é Mitologias, d e Ro- úhimu conSC<lúê ncias. ch<..'ga ndo ;a scpõlraf (I que: Saussure c,;oru;ider...... Inse:·
la nd Barthes, publicada em 19 57. Ele ac.!ba ra d e ler O Curso d e p:lli,wl. o s ignifica nte - q uede dc nomlnouJonllu dO!O!XfJressdo- e: o significa-
do _ /o n llu de cOllteúdo. Ne:sse movimento, accntua a abSIrnç;lO c ~ buSl.."lI da
e:;tnJ tura t: ctia a "glossc:: m:itM.:lI", d lsclplin."1 com as p ira~õcs hcge mo nlc:l.s.

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do discurso entram em cena, Bakmin e l'eirce são tr.tduzidos e trazi- qüência) . Estava preparado o terreno para uma terceira rase, na qual
dos à luz, a Análise do Discurso constitu i-se como método preferenci- a pergunta bisica passaria a ser: "como O sentido circula e é consu-
al da Scmio logia. Corrcspondem, estes anos, ao apogeu e ao declínio mido?"' Contribuíram baslante para essa nova possib ilidade episte-
do Estruturalismo. mológica as idéias do 016sofo alemão Wittgenslein (Teoria dos Jogos
Banhes, em plena repercussão positiva de "Elementos ... ", c das Palavras) e as de Austin , filóso fo inglês, estas expressas no seu
deixa esse território para Greimas e sua Se:miótica e busca Outros ru- artigo "Qlland dire c'es/ faire". POstulavam eles que a análise semio-
mos , Influenciado pelas idéias de Derrida, filósofo desconslrutivista, lógica deveria panir do concreto, do cotidiano das pessoas, da manei-
ra de f,dar.23
mas também por BaJ..win, cujas teses ele conhecera alrJvés de uma
aluna sua no CoUege de France, )u lia Kristeva.22 Depois de ter s ido No atual mo mento, ainda em cons trução, :I preocupação é
discípu lo aplicado de Hjelmslev, em 1977 e le afinna, na sua "Aula ~. o com os processos de recepção como produrores de sentido , enquan-
que seria a síntese dos direcionamentos que havia imprimido aos tO que no segundo privilegiar.tm-se os processos de produção dis-
seus trabalhos semiológicos nos anos anteriores: cursiva. Os estudos de recepçio surgiram e se firmaram em o urros
domínios, o da Cúmnumicatlun researcb , e estiveram sempre associa-
A f)'emlologia seria aquele lrabalboquf! n!COlbe o Impuro (llIlingllU, o refll'
go da ItngiilstlCll, a corrupção Imerllata (Ia mfmsagll'm, nada me/los que
dos à pesquisa funcional none-americana e aos âmbitos da sociolOgia,
os desejos, os temores. as carriS, as Inrlmldações, as aproxlllwfÓeS. as ler- da psicologia e da ciência polítka. Relegados a um plano secundário
,,,,rus, (J$ pm/eslOs, as desculpas. lU agn:ssões, lIS mús icas de que ~feila a no contexto de reação à hegemo nia americana, ressu rgem agora e n-
língua 1Ilfva. (p. ~2)
tre nós em outro cenário, o da interdisciplinaridade e da reabilitação
Saía assim do rígido formalismo e do objclivis mo abstrato da do receptor como sujeitO ativo. Uma das ciências que vêm sendo
análiSt: estrutural e abria a Semio logia para um tipo de análise que, sem convocadas para dar conta d esse "novo" objeto é a Semiologia, justa-
perder o rigor científico, incorporavd os I:ldos humano e his tó rico da mente por ter dado e5St: s:llto na direção de incorporar uma pr:lgmiti-
linguagem, jus to aqueles que h:lviam s ido considerados espúrios pela ca do discurso ao seu corpo teó rico e constituir-se como uma ciência
lingüística estruturalista. I;ez o que recomendara no pref:kio à edição da comunicação.
brasileira dos "Elementos ... ": Mas antecipo-me à segunda pane deste capítulo , em que
pretendo apontar e comentar os postulados da Scmio logia que se pra-
Por olllras palllura$, cumpre passar por eSles ElE},fENTOS mas tUIo se de-
ler /leles. Cada leilor dew "eproduzir em si o mo/}I",e"l() '''s/drlco que, a
tica hOje, mais especificamente da Semiologia dos Discursos Soci:lis.
Imrt/r destas baSRS "ecessdrlas. le'JQII a Semlo/agia rulo someme a apro- Passemos cnrJ.o a eles.
fundar-se (o que é "ormal), mas também a d/wrstjtcar-sc.[rQgme,uur.se e
alé mesmo co,,'radlzer-se (etllrar tiO campo fccUlulo das cotrlrml/çues),
l"" Sllma, expor·se.
Pos tulados
É então que a Semio logia acolhe as idé ias d e "significado dis-
sem inado espadalrnente", de "polifonia" (ou he terogeneidade d is- As idéias e conceitos que compõem o núcleo cCIlI r:11 da Se-
cursiva) , de "semiose infinita", de "dialogismo", reabilita o su je ito miologia dos Discursos Sociais poderiam ser abordados de múltiphts
:lIr:lvés da teoria da enunciação e passa:t considerar a histó ria como maneiras. Escolhi a proposta po r !'imo ( 1994 : 13-20) , que o rgan iza e
constitutiva dos sem idos (Iodos estes temas serão u-J.tad os na se- s intetiza em três postulados os "princípios teórico-epistemológicos

A his tória de Roland B~nhc:~ t:onfum.lt:-sc com a da Semiologla . Sc:nsrvd às t,m-


" d ê ncias do mundo intdt:ctu~J (rJncCs, com um espírito etern:unt;ntt; renova-
dor, t:r:I um scmioclasta convicto e nas suas virias fascs IUlou scmp~ co ntr.l
23 A "Filosofia da tingua~i:m do uso cOlkli~no H. cujo mc,~trc maior roi Wingcnstein
ronheceu grande ~uccsso. SeUl> :tdcplos rc:jdtam:a an:lllse: fonnaJ das c:5truru~
10(.13 fonn:a de esterc:Ó'\ipos, vendo m:h:~ o Km:anlO perverso d:a n:uur.didade". lingüístias c criem que a ch:a,'c do signific:ado csd nos usos pr:hio,."()s c ratu:ais
sob o qual silo pc:rpc:ru:adas as d om in3ç{lcs klcotógias. d:a lingu:agcm.

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do discurso entram em cena, Bakmin e l'eirce são tr.tduzidos e trazi- qüência) . Estava preparado o terreno para uma terceira rase, na qual
dos à luz, a Análise do Discurso constitu i-se como método preferenci- a pergunta bisica passaria a ser: "como O sentido circula e é consu-
al da Scmio logia. Corrcspondem, estes anos, ao apogeu e ao declínio mido?"' Contribuíram baslante para essa nova possib ilidade episte-
do Estruturalismo. mológica as idéias do 016sofo alemão Wittgenslein (Teoria dos Jogos
Banhes, em plena repercussão positiva de "Elementos ... ", c das Palavras) e as de Austin , filóso fo inglês, estas expressas no seu
deixa esse território para Greimas e sua Se:miótica e busca Outros ru- artigo "Qlland dire c'es/ faire". POstulavam eles que a análise semio-
mos , Influenciado pelas idéias de Derrida, filósofo desconslrutivista, lógica deveria panir do concreto, do cotidiano das pessoas, da manei-
ra de f,dar.23
mas também por BaJ..win, cujas teses ele conhecera alrJvés de uma
aluna sua no CoUege de France, )u lia Kristeva.22 Depois de ter s ido No atual mo mento, ainda em cons trução, :I preocupação é
discípu lo aplicado de Hjelmslev, em 1977 e le afinna, na sua "Aula ~. o com os processos de recepção como produrores de sentido , enquan-
que seria a síntese dos direcionamentos que havia imprimido aos tO que no segundo privilegiar.tm-se os processos de produção dis-
seus trabalhos semiológicos nos anos anteriores: cursiva. Os estudos de recepçio surgiram e se firmaram em o urros
domínios, o da Cúmnumicatlun researcb , e estiveram sempre associa-
A f)'emlologia seria aquele lrabalboquf! n!COlbe o Impuro (llIlingllU, o refll'
go da ItngiilstlCll, a corrupção Imerllata (Ia mfmsagll'm, nada me/los que
dos à pesquisa funcional none-americana e aos âmbitos da sociolOgia,
os desejos, os temores. as carriS, as Inrlmldações, as aproxlllwfÓeS. as ler- da psicologia e da ciência polítka. Relegados a um plano secundário
,,,,rus, (J$ pm/eslOs, as desculpas. lU agn:ssões, lIS mús icas de que ~feila a no contexto de reação à hegemo nia americana, ressu rgem agora e n-
língua 1Ilfva. (p. ~2)
tre nós em outro cenário, o da interdisciplinaridade e da reabilitação
Saía assim do rígido formalismo e do objclivis mo abstrato da do receptor como sujeitO ativo. Uma das ciências que vêm sendo
análiSt: estrutural e abria a Semio logia para um tipo de análise que, sem convocadas para dar conta d esse "novo" objeto é a Semiologia, justa-
perder o rigor científico, incorporavd os I:ldos humano e his tó rico da mente por ter dado e5St: s:llto na direção de incorporar uma pr:lgmiti-
linguagem, jus to aqueles que h:lviam s ido considerados espúrios pela ca do discurso ao seu corpo teó rico e constituir-se como uma ciência
lingüística estruturalista. I;ez o que recomendara no pref:kio à edição da comunicação.
brasileira dos "Elementos ... ": Mas antecipo-me à segunda pane deste capítulo , em que
pretendo apontar e comentar os postulados da Scmio logia que se pra-
Por olllras palllura$, cumpre passar por eSles ElE},fENTOS mas tUIo se de-
ler /leles. Cada leilor dew "eproduzir em si o mo/}I",e"l() '''s/drlco que, a
tica hOje, mais especificamente da Semiologia dos Discursos Soci:lis.
Imrt/r destas baSRS "ecessdrlas. le'JQII a Semlo/agia rulo someme a apro- Passemos cnrJ.o a eles.
fundar-se (o que é "ormal), mas também a d/wrstjtcar-sc.[rQgme,uur.se e
alé mesmo co,,'radlzer-se (etllrar tiO campo fccUlulo das cotrlrml/çues),
l"" Sllma, expor·se.
Pos tulados
É então que a Semio logia acolhe as idé ias d e "significado dis-
sem inado espadalrnente", de "polifonia" (ou he terogeneidade d is- As idéias e conceitos que compõem o núcleo cCIlI r:11 da Se-
cursiva) , de "semiose infinita", de "dialogismo", reabilita o su je ito miologia dos Discursos Sociais poderiam ser abordados de múltiphts
:lIr:lvés da teoria da enunciação e passa:t considerar a histó ria como maneiras. Escolhi a proposta po r !'imo ( 1994 : 13-20) , que o rgan iza e
constitutiva dos sem idos (Iodos estes temas serão u-J.tad os na se- s intetiza em três postulados os "princípios teórico-epistemológicos

A his tória de Roland B~nhc:~ t:onfum.lt:-sc com a da Semiologla . Sc:nsrvd às t,m-


" d ê ncias do mundo intdt:ctu~J (rJncCs, com um espírito etern:unt;ntt; renova-
dor, t:r:I um scmioclasta convicto e nas suas virias fascs IUlou scmp~ co ntr.l
23 A "Filosofia da tingua~i:m do uso cOlkli~no H. cujo mc,~trc maior roi Wingcnstein
ronheceu grande ~uccsso. SeUl> :tdcplos rc:jdtam:a an:lllse: fonnaJ das c:5truru~
10(.13 fonn:a de esterc:Ó'\ipos, vendo m:h:~ o Km:anlO perverso d:a n:uur.didade". lingüístias c criem que a ch:a,'c do signific:ado csd nos usos pr:hio,."()s c ratu:ais
sob o qual silo pc:rpc:ru:adas as d om in3ç{lcs klcotógias. d:a lingu:agcm.

'li '19
Innfla Aruújo

básicos d csta linha do pensamento 5emiológico". Cada poslu lado t"rapartida, nada no funcionam ento de uma sociedade é estmnho ao
propiciam o acesso a consid e rações sobre a peninéncia de um ccnú sentido (Verón, 1980: 192).
quadro conceitual para o objeto aqui estudado, alé m de pcnnitir a O sentido não pode se r isolado, congelado (como se pensa
localizaçáo, nesse quadro, d o s autores que me empreSlam s uas IC· em rc1ação ao significado) e também não pode ser tomado como um
ses. Antes, porém , quero fazer algumas considerações sobre certos o bjeto integral: o Que se convencionou chamar de "imerpretaçáo" é
pressupostos dessa abordagem semio lógica, com o ob jetivo de esta· uma tentativa de imobilização do sentido, especulat"iva e fugaz , que
belecer uma base de emendime lllo dos po stulados. se realiza a partir de o utras interpretações e tão logo acontece desen-
A concepção de Semiologia que passo a adOlar é a de "ciên- cadeia outros efeitos d e sentido, náo havendo gar.mtias a seu respei-
cia que estuda os fenô me nos sociais como fenômenos d e produção to. O st:ntido não é algo p:tlpá"el ou concreto ; por isto, convém
de sentidos". Para emendê-Ia é preciso uma remissão aos cQncei[Os ul.ilizar a expressão efeOos d e sentido. Sentidos sáo cfe ilos de troca
desenlidoe deprodllçiio dc scnlido . Mencionei, no ló pico amenor, a de Linguagens.
preocupação milenar com O proble ma do significado, que ocupou O sentido manifesta-se nos textos, ou nos discursos, por
0:10 só a Filosofia, mas também o utras ciências, entre elas a lingü ísti- uma ação do sujeito. Nessa afirmaçii.o, estão contidos os dois núdeos
ca, a Antropologia, a Etno logia, a Psicanálise e, desde seu surgimen- que constituem o objelo de interesse d as teorias que compõem a
ro, a Semiologia . A noçáo de significado, porém , rraz ho je uma carga atual Semiologia, a rcoria do sujeito e ;t teoria dos discursos sociais.
semântica associada a teorias e métodos que se deseja superar, mais Esta última, que também é cham ada teoria da produçi"to social do
espcdfic-.lmeme o método esrnlluralista de análise, qut! vê O signifi- sentidO, tem sua o rigem na obm de Michel Foucault e a teo ria do su-
cado localizado nas estrunlms, isoladas e imobilizadas pelo analista. jeito baseia-se na teoria da enunciação de Émile Benvenist"e .
Significado, assi.m, carrega a idéi:l d e algo pramo, cris talizado e ima- A teoria dos discursos sociais trabalha com o s processos d e
neme, isto é, de que cada objeto possui um s ignificado estáve l, pró- cons tituição d o discurso, que pode ser definido como o lugar do tra.
prio , que indepcnde das circunstâncias. Essa idéia, como já se viu, é b:t1ho social de produção do sentido. O discurso não é um o bjeto,
herança da lingüística saussuriana, estando intimamente associada não se limita às possibilidades de articulaçáo de conceitos isolados
ao conceito de sigilo. A Se mio logia propõe o tennosetllido e preten- da língua, não é O reflexo de uma situaçÃO. Antes, configura-se como
de semantiz:.í-Lo com os arribulOS que percebe nos fen ômenos sociais: um:t prática: a pritlCll discurs iva. Nas pal:avr.ls de Fouc:lult,
a plur:llidade, o dinamismo e a propriedade de se constitu ir a cada gosta,.Ia de mO$/rtl,.f/11I! ()S "dlscllrs()s" ( ... ) 'II'U sdu 11111 /}IIm e simples e1l-
situação de comunicação. Na perspect iva. do sentido, o que realmen- /rec"aall/erllo decolsase/I<l/fw ras: Iram" ooscllru dus col$as. cadeia ma-
te importa é o processo. não a estrutura. Decorrentes d essa natureza rlife~fa, llisil!el e co/orltla das p u/m,ras; goSftlrlf' tlc m ()slrur lflle Q discl/r"$O
"ao é .ml(' e5lrellil slllJCrJ"fclctle C{JIlf(ltO, ou tleCOllfroll/O, el/tre rmm reall.
dinâmica do conceito são os re rmos produção de !ienlído e efcltos de dade c lima Ifn8ua. o IlIIrl'lCamlmlo ~lfre mn léxico e lima experiimcia;
sem/do. gostaria de mostrar, fJQr melo ,I" e:remplos precisos, que, mmllsando os
Os sentidos n:1o estão prontos nos objetos o u nas p:tlavr.ls, próprios discursus. Ilf!rIIOS se ,Iesfazvrem os laços upDrerltememe Itlo f ortes
e"lre as /XIlauras fi as coisas, e destacar-se 11m co,ljllmQ de regras, prOprias
repito. Mas também não nascem d o nada, espontaneamente. Eles da prdtica discursiva. Essas reJIrtls defiliem IldQ a exls/éllcl" mllda de
são produzidos em cada ato verbal , na co-presença dos sujcilOS, em- lima realMade, //Iio o uso ctlt/{mloo ,Ie 11m IJQCablllárlo, mas o reglmedm
bora a ele náo se restrinjam. As relaçóc::s sociais, que sâo o locus da objetos. "As pt)!twrase flS colsus" éo tftlllo _ sério _de um problema : e ti. °
til/O - ir(;lIioo - do traballJO lfl.e lhe modifica a/unlUl, lhe ,lesloco os da-
produção de sentido, ocorrem e m determinadas condiçõcs hislóri- dus e revela, afiliaI da CO II/US, lima larefa imelrnmellto1 difereme, qll"
cas, cu lturais e políticas e sáo mediadas po r instituições, umas e o u- COIIS/Sle em m"io mais tratar us tl/SCl/rsus rumo COlljmllO de SigilOS (e/e-
lr.IS exercendo coerções sobre o processo de significação. Pode-se memos sigrrljlcu"les f/lle remetem a c01lf"údus 011 "1"cscnlaçóes), mas
rumo práticas que formam s/Slemalicallletlle os obje/os de que falam.
dize r, então, Que o sentido é produto do "trabalho social". Em con- ( 1986: 56)

12. 'lO
Innfla Aruújo

básicos d csta linha do pensamento 5emiológico". Cada poslu lado t"rapartida, nada no funcionam ento de uma sociedade é estmnho ao
propiciam o acesso a consid e rações sobre a peninéncia de um ccnú sentido (Verón, 1980: 192).
quadro conceitual para o objeto aqui estudado, alé m de pcnnitir a O sentido não pode se r isolado, congelado (como se pensa
localizaçáo, nesse quadro, d o s autores que me empreSlam s uas IC· em rc1ação ao significado) e também não pode ser tomado como um
ses. Antes, porém , quero fazer algumas considerações sobre certos o bjeto integral: o Que se convencionou chamar de "imerpretaçáo" é
pressupostos dessa abordagem semio lógica, com o ob jetivo de esta· uma tentativa de imobilização do sentido, especulat"iva e fugaz , que
belecer uma base de emendime lllo dos po stulados. se realiza a partir de o utras interpretações e tão logo acontece desen-
A concepção de Semiologia que passo a adOlar é a de "ciên- cadeia outros efeitos d e sentido, náo havendo gar.mtias a seu respei-
cia que estuda os fenô me nos sociais como fenômenos d e produção to. O st:ntido não é algo p:tlpá"el ou concreto ; por isto, convém
de sentidos". Para emendê-Ia é preciso uma remissão aos cQncei[Os ul.ilizar a expressão efeOos d e sentido. Sentidos sáo cfe ilos de troca
desenlidoe deprodllçiio dc scnlido . Mencionei, no ló pico amenor, a de Linguagens.
preocupação milenar com O proble ma do significado, que ocupou O sentido manifesta-se nos textos, ou nos discursos, por
0:10 só a Filosofia, mas também o utras ciências, entre elas a lingü ísti- uma ação do sujeito. Nessa afirmaçii.o, estão contidos os dois núdeos
ca, a Antropologia, a Etno logia, a Psicanálise e, desde seu surgimen- que constituem o objelo de interesse d as teorias que compõem a
ro, a Semiologia . A noçáo de significado, porém , rraz ho je uma carga atual Semiologia, a rcoria do sujeito e ;t teoria dos discursos sociais.
semântica associada a teorias e métodos que se deseja superar, mais Esta última, que também é cham ada teoria da produçi"to social do
espcdfic-.lmeme o método esrnlluralista de análise, qut! vê O signifi- sentidO, tem sua o rigem na obm de Michel Foucault e a teo ria do su-
cado localizado nas estrunlms, isoladas e imobilizadas pelo analista. jeito baseia-se na teoria da enunciação de Émile Benvenist"e .
Significado, assi.m, carrega a idéi:l d e algo pramo, cris talizado e ima- A teoria dos discursos sociais trabalha com o s processos d e
neme, isto é, de que cada objeto possui um s ignificado estáve l, pró- cons tituição d o discurso, que pode ser definido como o lugar do tra.
prio , que indepcnde das circunstâncias. Essa idéia, como já se viu, é b:t1ho social de produção do sentido. O discurso não é um o bjeto,
herança da lingüística saussuriana, estando intimamente associada não se limita às possibilidades de articulaçáo de conceitos isolados
ao conceito de sigilo. A Se mio logia propõe o tennosetllido e preten- da língua, não é O reflexo de uma situaçÃO. Antes, configura-se como
de semantiz:.í-Lo com os arribulOS que percebe nos fen ômenos sociais: um:t prática: a pritlCll discurs iva. Nas pal:avr.ls de Fouc:lult,
a plur:llidade, o dinamismo e a propriedade de se constitu ir a cada gosta,.Ia de mO$/rtl,.f/11I! ()S "dlscllrs()s" ( ... ) 'II'U sdu 11111 /}IIm e simples e1l-
situação de comunicação. Na perspect iva. do sentido, o que realmen- /rec"aall/erllo decolsase/I<l/fw ras: Iram" ooscllru dus col$as. cadeia ma-
te importa é o processo. não a estrutura. Decorrentes d essa natureza rlife~fa, llisil!el e co/orltla das p u/m,ras; goSftlrlf' tlc m ()slrur lflle Q discl/r"$O
"ao é .ml(' e5lrellil slllJCrJ"fclctle C{JIlf(ltO, ou tleCOllfroll/O, el/tre rmm reall.
dinâmica do conceito são os re rmos produção de !ienlído e efcltos de dade c lima Ifn8ua. o IlIIrl'lCamlmlo ~lfre mn léxico e lima experiimcia;
sem/do. gostaria de mostrar, fJQr melo ,I" e:remplos precisos, que, mmllsando os
Os sentidos n:1o estão prontos nos objetos o u nas p:tlavr.ls, próprios discursus. Ilf!rIIOS se ,Iesfazvrem os laços upDrerltememe Itlo f ortes
e"lre as /XIlauras fi as coisas, e destacar-se 11m co,ljllmQ de regras, prOprias
repito. Mas também não nascem d o nada, espontaneamente. Eles da prdtica discursiva. Essas reJIrtls defiliem IldQ a exls/éllcl" mllda de
são produzidos em cada ato verbal , na co-presença dos sujcilOS, em- lima realMade, //Iio o uso ctlt/{mloo ,Ie 11m IJQCablllárlo, mas o reglmedm
bora a ele náo se restrinjam. As relaçóc::s sociais, que sâo o locus da objetos. "As pt)!twrase flS colsus" éo tftlllo _ sério _de um problema : e ti. °
til/O - ir(;lIioo - do traballJO lfl.e lhe modifica a/unlUl, lhe ,lesloco os da-
produção de sentido, ocorrem e m determinadas condiçõcs hislóri- dus e revela, afiliaI da CO II/US, lima larefa imelrnmellto1 difereme, qll"
cas, cu lturais e políticas e sáo mediadas po r instituições, umas e o u- COIIS/Sle em m"io mais tratar us tl/SCl/rsus rumo COlljmllO de SigilOS (e/e-
lr.IS exercendo coerções sobre o processo de significação. Pode-se memos sigrrljlcu"les f/lle remetem a c01lf"údus 011 "1"cscnlaçóes), mas
rumo práticas que formam s/Slemalicallletlle os obje/os de que falam.
dize r, então, Que o sentido é produto do "trabalho social". Em con- ( 1986: 56)

12. 'lO
Complexificando o conceito, Foucault afirma que a prática logia d os Disc ursos Sociais. O outro aspecto é o d a existê ncia de um
discursiV'd. é "aparelho formal d:1 enunciação", formas grdmat icais que revelam a
11", ronjwl/O (Ie regras mlúulmas, bistórlcas, sempre del ... mrllladas 1/0 rclaç:io d o locutor com a língua e com O seu dizer e marcam sua posi-
tempo e 110 I.'spaço, quc(lejlnlmlll, em 111110 dada época c para lima dele,.. ção d iscursiva . Essas marcas da enunciação são i"dividuos lingüís-
mil/ada óri.'u soda/. cwnõmica. seusrdfica ou /illgiiisllcu, as cOl/diçQes ticos: pronomes pessoais e demo ns trativos, tempos e modalidades
de excrdcio daflmção ellwrciatil-'a. (idem : 136)
ve rbais, formas de im imação, interrogação, advé rbios de modo, as-
Percebe·se aqui claramente q ue o discurso depende das re- serçõcs que só adq uirem sentido no momento da enunciação, a cada
des d e memó ria e das suas condições histó ricas de produção, mas enunciação e sempre em re lação ao "aqui e agora" d o locutor.
cada ato d iscursivo é ú nico e desestabiliza em certa medida tais coer- O aro de dizer, então. é individual, mas o processo é social. É
ções, en tre outras razões, pela ação que nele exerce o sujeito . Daí a impossível ao suje iro desvencilhar-se das coerções, sejam e las histó-
Semio logia ter, como sua o utra verte nte , uma teoria do sujeito , mais ricas. culturais o u sociais, porque só h:i sentido dentro d essa ord e m.
precisamente a teoria d a e nunciação, fo mlUlada o riginalme nte por Nenhuma enunciação ocorre d esvinculada do jogo social, constata-
Benveniste. ção que leva Verón a afirmar:
Vimos com Foucault que o discurso fo nna os objetos que t."rltrekJçadfJ por toda pa rte às opcraç()es (liscur.duas, afetando a f(}(/o i'ls-
f,d a, significando isto que o sentido d os o bjetos é constituído pe lo lall/e o próprio tI/(lfer/allexical, o dfsj><JI/llvo de elllmclaçãu é essu rede
de traçus pela q/lal o jmagimírio da JUstúria uem e,L.ertar-se em estrutu-
discurso. Mas ele fonna também os sujeitos e essa é uma idéia que se rações delermlnadas da ordem slmb6l1ca. ( 1!mO: 204)
choca com a concepção d e que é osujeito que d etermina od iscurso.
Pêche u.x refere-se à ilusáo da autonomia do s uje ito como um efeito Podcr-se-ia dizer, então, que a Semio logia opera com uma
ideológico, que e le deno mina efeito -sujeitO. Atra\""és desse m<.-canis- t"eoria não-subjeriva do sujeito. 24 Um o ut"ro pressupoS(Q da aborda-
mo, o sujeito imagina-se fonte d o se ntid o do que diz, e mbo ra esteja gem semiológica diz res peito à concepção de linguagem . Confonne
apenas retomando sentidos preexlstemes (Orlandi, 1993: 69) . argumentei antes, os modelos corre ntes de comun icação vêem a lin-
Já a pragmát ica do discurso concede ao sujeito a preeminên- guagem como o espaço d e comunhão, d e interação , idé ia que está
cia na produção do sentido, ao localizá-lo no ajuste da interpretação associada à da possibilidade de ajuste harmônico e dur.tdo uro e ntre
e ntre imerlocutores e dar ao sujeito o estatuto de ce nrro dos proro- emissor e receptor e d e controle exercido pelo e missor sobre seu
colos d iscurs ivos. discu rso. A Semio logia opera com o utro par-ddigma, com o rigem na
A teoria da e nunciação, tal como ho je é aceita e praticada, filosofia d e Mikhail Bakthin , que emende a língua como o espaço
lenla uma concillação entre as duas pOSnH"l.lS. De rato. como esclare- ond e se d ão os e mbates de sentido . F.m b:lI"t"", sim , pois a linguagem é
ceu Benveni stc, o único modo de fazer o discurso funcionar é pel:! resu ltante de uma disputa permanente de sentido entre os atores so-
intervenção do suj cit"o, que nele investe sua subjetividade. Ele defin e ciais, construindo-se no uso social , culrural e historicamcm e deter-
:t e nunciaçÃO como O "colocar em fundonamemo a língua por um minado . Os d iscu rsos seriam , então, espaços de conrronto, noção
atO individual d e utiliz'lÇão" (1989: 82) , mas deixa claro que é no atu extre mamente importante para este trabalho , pois está na base d e
enunciativo que o sujeito secons tirui, e não apenas a s i, sujeito locu- uma de suas hi póteses centrais, a da existê ncia de discu rsos concor-
tor, mas também ao su jcito-alocut:irio . Em outras pala\'ras, define rentes no meio rural .
não só a pOsição do Eu , mas também a do Tu. "Toda e nunci:tção é,
cxplicita ou im p licitamente uma alocução, ela postu la um alocutá-
rio" (idem:84) . Par:I Benvcniste , "o que e m geral caracteriza a enun- 24 ... d iscussão sobre :I. n:l.lureza do ~ulel lo envol\'e cemmenle multíSlSlmo mais
collslderaçÔC$quc as que loram aqui arregimcllIadu. P;tr1l um aprofundamc:nto
ciação é a acenruação da relação discursiva com o parceiro" (idem: no iimbito da teoria do discul'5O, Jl>(Xk-.St: consult:&f" Paul H enry, no ~rtlgo 11ltru-
87), e este é um dos aspectos de sua {c::oria que sio retidos pela Semio- dUlÓrio do li\'l"O Por uma a'lóliseaulo"uJtlru do discurso _ Uma lmroduçio 2
obra d e Mlchd r k heux ( 1990).

'22 '"
Complexificando o conceito, Foucault afirma que a prática logia d os Disc ursos Sociais. O outro aspecto é o d a existê ncia de um
discursiV'd. é "aparelho formal d:1 enunciação", formas grdmat icais que revelam a
11", ronjwl/O (Ie regras mlúulmas, bistórlcas, sempre del ... mrllladas 1/0 rclaç:io d o locutor com a língua e com O seu dizer e marcam sua posi-
tempo e 110 I.'spaço, quc(lejlnlmlll, em 111110 dada época c para lima dele,.. ção d iscursiva . Essas marcas da enunciação são i"dividuos lingüís-
mil/ada óri.'u soda/. cwnõmica. seusrdfica ou /illgiiisllcu, as cOl/diçQes ticos: pronomes pessoais e demo ns trativos, tempos e modalidades
de excrdcio daflmção ellwrciatil-'a. (idem : 136)
ve rbais, formas de im imação, interrogação, advé rbios de modo, as-
Percebe·se aqui claramente q ue o discurso depende das re- serçõcs que só adq uirem sentido no momento da enunciação, a cada
des d e memó ria e das suas condições histó ricas de produção, mas enunciação e sempre em re lação ao "aqui e agora" d o locutor.
cada ato d iscursivo é ú nico e desestabiliza em certa medida tais coer- O aro de dizer, então. é individual, mas o processo é social. É
ções, en tre outras razões, pela ação que nele exerce o sujeito . Daí a impossível ao suje iro desvencilhar-se das coerções, sejam e las histó-
Semio logia ter, como sua o utra verte nte , uma teoria do sujeito , mais ricas. culturais o u sociais, porque só h:i sentido dentro d essa ord e m.
precisamente a teoria d a e nunciação, fo mlUlada o riginalme nte por Nenhuma enunciação ocorre d esvinculada do jogo social, constata-
Benveniste. ção que leva Verón a afirmar:
Vimos com Foucault que o discurso fo nna os objetos que t."rltrekJçadfJ por toda pa rte às opcraç()es (liscur.duas, afetando a f(}(/o i'ls-
f,d a, significando isto que o sentido d os o bjetos é constituído pe lo lall/e o próprio tI/(lfer/allexical, o dfsj><JI/llvo de elllmclaçãu é essu rede
de traçus pela q/lal o jmagimírio da JUstúria uem e,L.ertar-se em estrutu-
discurso. Mas ele fonna também os sujeitos e essa é uma idéia que se rações delermlnadas da ordem slmb6l1ca. ( 1!mO: 204)
choca com a concepção d e que é osujeito que d etermina od iscurso.
Pêche u.x refere-se à ilusáo da autonomia do s uje ito como um efeito Podcr-se-ia dizer, então, que a Semio logia opera com uma
ideológico, que e le deno mina efeito -sujeitO. Atra\""és desse m<.-canis- t"eoria não-subjeriva do sujeito. 24 Um o ut"ro pressupoS(Q da aborda-
mo, o sujeito imagina-se fonte d o se ntid o do que diz, e mbo ra esteja gem semiológica diz res peito à concepção de linguagem . Confonne
apenas retomando sentidos preexlstemes (Orlandi, 1993: 69) . argumentei antes, os modelos corre ntes de comun icação vêem a lin-
Já a pragmát ica do discurso concede ao sujeito a preeminên- guagem como o espaço d e comunhão, d e interação , idé ia que está
cia na produção do sentido, ao localizá-lo no ajuste da interpretação associada à da possibilidade de ajuste harmônico e dur.tdo uro e ntre
e ntre imerlocutores e dar ao sujeito o estatuto de ce nrro dos proro- emissor e receptor e d e controle exercido pelo e missor sobre seu
colos d iscurs ivos. discu rso. A Semio logia opera com o utro par-ddigma, com o rigem na
A teoria da e nunciação, tal como ho je é aceita e praticada, filosofia d e Mikhail Bakthin , que emende a língua como o espaço
lenla uma concillação entre as duas pOSnH"l.lS. De rato. como esclare- ond e se d ão os e mbates de sentido . F.m b:lI"t"", sim , pois a linguagem é
ceu Benveni stc, o único modo de fazer o discurso funcionar é pel:! resu ltante de uma disputa permanente de sentido entre os atores so-
intervenção do suj cit"o, que nele investe sua subjetividade. Ele defin e ciais, construindo-se no uso social , culrural e historicamcm e deter-
:t e nunciaçÃO como O "colocar em fundonamemo a língua por um minado . Os d iscu rsos seriam , então, espaços de conrronto, noção
atO individual d e utiliz'lÇão" (1989: 82) , mas deixa claro que é no atu extre mamente importante para este trabalho , pois está na base d e
enunciativo que o sujeito secons tirui, e não apenas a s i, sujeito locu- uma de suas hi póteses centrais, a da existê ncia de discu rsos concor-
tor, mas também ao su jcito-alocut:irio . Em outras pala\'ras, define rentes no meio rural .
não só a pOsição do Eu , mas também a do Tu. "Toda e nunci:tção é,
cxplicita ou im p licitamente uma alocução, ela postu la um alocutá-
rio" (idem:84) . Par:I Benvcniste , "o que e m geral caracteriza a enun- 24 ... d iscussão sobre :I. n:l.lureza do ~ulel lo envol\'e cemmenle multíSlSlmo mais
collslderaçÔC$quc as que loram aqui arregimcllIadu. P;tr1l um aprofundamc:nto
ciação é a acenruação da relação discursiva com o parceiro" (idem: no iimbito da teoria do discul'5O, Jl>(Xk-.St: consult:&f" Paul H enry, no ~rtlgo 11ltru-
87), e este é um dos aspectos de sua {c::oria que sio retidos pela Semio- dUlÓrio do li\'l"O Por uma a'lóliseaulo"uJtlru do discurso _ Uma lmroduçio 2
obra d e Mlchd r k heux ( 1990).

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Por out'ro lado , assume-se que a linguagem também condido- ·'mostrada". A constitutivo. designaria as \--ozes implícitas no discurso,
na a visão de mundo, o u seja, produz o real, idéia que se contrapõe à aquelas que se o riginam na história, na culrur.J. e que podem ser
mais comumente ado tada, de que ela ape nas a expressa. Esta última identificadas pelo estudo das condições d e produção discu rsiva. A
é uma concepção utilitarista da língua, que a percebe como exterior consthuinte se riam as vozes explíci tas, que se "mostram" na. supem-
ao sujeito, quando sujeito e linguagem encontram-se nUTna comple- cie lexrual. "Heterogeneidade const irutiva d o d iscurso e heterogenei-
xa re laÇio cxterior/inrcrior. A hipótese da narurcz.1 culrur.ll da lin- dade mostmda do discurso representam duas ordens de realidade
guagem, associada à da sua função modeladora da visão d e mundo, diferentes: a d os pr<x:essos reais de constituição de um discurso e a
que fOi ado tada amplamente por Barthes e todos os demais sem iólo- dos p rocessos n:l0 menos reais, de representação, num discurso , de
gos d e segunda e terceira ger.lções, esrá fundada nos trabalhos de sua constitu ição" (idem : 32). A const itutiVoI exerceria uma força d esa.
EdW'.trd Sapir e Benj:lrnln Lee Whorf. Segundo eles, a estrutura da gregadora na ilusão de a uto nomia do sujeiro sobre o discurso e man-
linguagem d e uma cultura detennina o comportame nto e os hábitos teria um processo d e "negociação- com as form a.s mostroldas da
de pe nsame ntO nessa cu ltura . hetero geneidade, estas exercendo a função de "proteção" do efeito
Po r fim , considemr a linguagem como locus de construçáo de unidade e de subjetividade. .
do real também impl ica colocá·la no cerne da teoria d o poder s imbó- Considerarei aqui os termos "polifo nia" e "he teroge neida-
lico, cUja prem issa é a de que os agentes soc iais disputam o poder de de" como equivalentes, ambos referindo-se à pluralidade de vozes
estabelecer as catego rias de percepção e de no meação das coisas do que constiruem os discursos, à revelia ou não dos locutores. A abor-
mundo, ou se ja, de cons truir o real. dage m possibilit:tda pe lo modelo comunicacional remete para a aná-
Passemos, entre tanto, aos postu lados da Semio logia dos lise das intenções de comunicação versus o e feito provocado . A idéia
Discursos Sociais. de polifonia conduz ao exame das vozes que constituem os discursos
circulantes no meio rural e como s ua articulação produz sentidos. O
mapeamento das vozes constitutivas pen nite sair da análise de certa
A beterogeneidade elllwciativa fomla maniqu eíst:l, que vê manipu lação ideo lógica o u adesão solidá.
ria à cau sa dos receptores nas pniLicas discursivas, e perceber que
A questão de fundo deste postu lado é a da natureza d o sujei- cada discurso trn: e m s i as marcas do já vivido , já dilO, já escrito: que
to, cu ja u nicidade e auto nomia d iscursiva a Semiologia põe em cau- histó ria, quI.! cu ltura ali se expressam e que tipo de coerções exer-
sa. Comr... a id éia ainda dominanle de que a pessoa que fala é cem sobre o o utro conjunto de vozes, aquelas visíveis na s uperficie
totalmenre responsáve l pelas re presenrac;6es du seu d iscurso, a Se· do texto . Por sua \"ez, a análi.st: da he teroge neidade cons tituinte pos-
miologia propõe um a OUtm, a de que o discurso é composto por d i- sibilita entender a pluralidade d e s ujeitos (Iue habitam e cons uoem
versas vozes, cujos consciência e co ntrole escapam em parte ao cada ato d iscursivo, pcrspectiV'.J. bem mais rica do que aquela basea-
locuto r e que se manifestam em cada atO enunciativo. Aessa caracte· da nos moldes clássicos da comu n icação, que reduze m os s ujeitOS à
rística discursiva Bakthin deno mino u polifonia: cada fala, cada figura d o emissor I.! estabelecem uma reJaç"io ins trume ntalista e "me-
dnica entre ele c a língua .
e nunciação, é palco de expressão de uma mu ltiplicidade d e vozes,
algumas arregimentadas intencionalmente pelo IOCUlor e o utras das A categoria qut! está no cerne do conceito d e polifonia é a al-
quais e le não se d á conta . teridade, a figu rol do Outro, que é cons titutiva do sujei to . A relação
Po r divergências quanto ao es tatuto do su jeito nas teses do Eu com o O utra é profunda e indissoci:ivcl. Bakthin propôs O ter.
baklhin ianas, Auth ier-Revuz prop6s o termo "heterogeneidade enun· mo dtll/ogismo para dar coma dessa rdaçiio, em que o Eu SÓ se cons·
datiV'.J." para designara polifonia discursiva, distinguindo entre:1 hete- titul pela existê ncia d o Ou tro, em diálogo com o O utro. !)ar.l ele,
rogeneidade constirutiva e a constituinte, esta também chamada de aquela é uma catego ria ontológica: ou se é dialógico, ou não .st: é. O

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Por out'ro lado , assume-se que a linguagem também condido- ·'mostrada". A constitutivo. designaria as \--ozes implícitas no discurso,
na a visão de mundo, o u seja, produz o real, idéia que se contrapõe à aquelas que se o riginam na história, na culrur.J. e que podem ser
mais comumente ado tada, de que ela ape nas a expressa. Esta última identificadas pelo estudo das condições d e produção discu rsiva. A
é uma concepção utilitarista da língua, que a percebe como exterior consthuinte se riam as vozes explíci tas, que se "mostram" na. supem-
ao sujeito, quando sujeito e linguagem encontram-se nUTna comple- cie lexrual. "Heterogeneidade const irutiva d o d iscurso e heterogenei-
xa re laÇio cxterior/inrcrior. A hipótese da narurcz.1 culrur.ll da lin- dade mostmda do discurso representam duas ordens de realidade
guagem, associada à da sua função modeladora da visão d e mundo, diferentes: a d os pr<x:essos reais de constituição de um discurso e a
que fOi ado tada amplamente por Barthes e todos os demais sem iólo- dos p rocessos n:l0 menos reais, de representação, num discurso , de
gos d e segunda e terceira ger.lções, esrá fundada nos trabalhos de sua constitu ição" (idem : 32). A const itutiVoI exerceria uma força d esa.
EdW'.trd Sapir e Benj:lrnln Lee Whorf. Segundo eles, a estrutura da gregadora na ilusão de a uto nomia do sujeiro sobre o discurso e man-
linguagem d e uma cultura detennina o comportame nto e os hábitos teria um processo d e "negociação- com as form a.s mostroldas da
de pe nsame ntO nessa cu ltura . hetero geneidade, estas exercendo a função de "proteção" do efeito
Po r fim , considemr a linguagem como locus de construçáo de unidade e de subjetividade. .
do real também impl ica colocá·la no cerne da teoria d o poder s imbó- Considerarei aqui os termos "polifo nia" e "he teroge neida-
lico, cUja prem issa é a de que os agentes soc iais disputam o poder de de" como equivalentes, ambos referindo-se à pluralidade de vozes
estabelecer as catego rias de percepção e de no meação das coisas do que constiruem os discursos, à revelia ou não dos locutores. A abor-
mundo, ou se ja, de cons truir o real. dage m possibilit:tda pe lo modelo comunicacional remete para a aná-
Passemos, entre tanto, aos postu lados da Semio logia dos lise das intenções de comunicação versus o e feito provocado . A idéia
Discursos Sociais. de polifonia conduz ao exame das vozes que constituem os discursos
circulantes no meio rural e como s ua articulação produz sentidos. O
mapeamento das vozes constitutivas pen nite sair da análise de certa
A beterogeneidade elllwciativa fomla maniqu eíst:l, que vê manipu lação ideo lógica o u adesão solidá.
ria à cau sa dos receptores nas pniLicas discursivas, e perceber que
A questão de fundo deste postu lado é a da natureza d o sujei- cada discurso trn: e m s i as marcas do já vivido , já dilO, já escrito: que
to, cu ja u nicidade e auto nomia d iscursiva a Semiologia põe em cau- histó ria, quI.! cu ltura ali se expressam e que tipo de coerções exer-
sa. Comr... a id éia ainda dominanle de que a pessoa que fala é cem sobre o o utro conjunto de vozes, aquelas visíveis na s uperficie
totalmenre responsáve l pelas re presenrac;6es du seu d iscurso, a Se· do texto . Por sua \"ez, a análi.st: da he teroge neidade cons tituinte pos-
miologia propõe um a OUtm, a de que o discurso é composto por d i- sibilita entender a pluralidade d e s ujeitos (Iue habitam e cons uoem
versas vozes, cujos consciência e co ntrole escapam em parte ao cada ato d iscursivo, pcrspectiV'.J. bem mais rica do que aquela basea-
locuto r e que se manifestam em cada atO enunciativo. Aessa caracte· da nos moldes clássicos da comu n icação, que reduze m os s ujeitOS à
rística discursiva Bakthin deno mino u polifonia: cada fala, cada figura d o emissor I.! estabelecem uma reJaç"io ins trume ntalista e "me-
dnica entre ele c a língua .
e nunciação, é palco de expressão de uma mu ltiplicidade d e vozes,
algumas arregimentadas intencionalmente pelo IOCUlor e o utras das A categoria qut! está no cerne do conceito d e polifonia é a al-
quais e le não se d á conta . teridade, a figu rol do Outro, que é cons titutiva do sujei to . A relação
Po r divergências quanto ao es tatuto do su jeito nas teses do Eu com o O utra é profunda e indissoci:ivcl. Bakthin propôs O ter.
baklhin ianas, Auth ier-Revuz prop6s o termo "heterogeneidade enun· mo dtll/ogismo para dar coma dessa rdaçiio, em que o Eu SÓ se cons·
datiV'.J." para designara polifonia discursiva, distinguindo entre:1 hete- titul pela existê ncia d o Ou tro, em diálogo com o O utro. !)ar.l ele,
rogeneidade constirutiva e a constituinte, esta também chamada de aquela é uma catego ria ontológica: ou se é dialógico, ou não .st: é. O

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'"
["e~if.. Armijo A tVeQ"versdo do olbar

dialogismo é a rede interativa q ue articula as vozt:S de um discu rso, é enunciação um locutor t: um enunciador. O locutor seria aquele que
o jogo das diferenças e d as relações: emre sujeitos do mesmo texto. se a presenta como responsável pelo enunciado, categoria que elt:
M

emre enunciados, cnLre textos, enue [e.'Cto e COntexto e assim por dian- sulxlivide em "falante e -' Iocuto r", ainda admitindo que o locumr
le. pode apresentar-se como "locutor propriamente dito" e "locutor en-
Os modelos dialó gicos e m voga na prática comunicativa no quanto pessoa no mundo ".
m e io rural e nte nde m o diálogo - que também ocupa lugar centrdl - Assumirei aqui a seguinte classificação, quanto aos sujeitos
de uma forma dife rente , no sentido comum do tenno: duas ou m:lis que constituem o discurso:26
pessoas em processo de [roca ou interlocução. O diálogo é provoca- • sujeitada enunciaçáo - é a imagem daquele que se apre."ema
do pelos su jeitos, que preexistem ao discurso e seu desenrolar pode como emissor, como responsável pelo discurso . No nível da prd[ica
ser controbdo. Ser dialógico é uma opção política e supõe critérios discursiva no meio rural. em muitos casos este sujeito coincide com
de equanimidade . Para nossa Semiologia o dialógico estabelece-se o emissor real, Que nem sempre é o que produz o suporte discursi-
em outra instância, a da estrururação dos discursos. E - diferença vo, mas aquele que o faz circular ou imemlcdeia o consumo. Esta
fundamemal cnt're as duas abordagens - é por meio do dialogismo distinçao tem sido feita intuitivame nte por agentes da prática socia l,
que os sujeitos se constituem. isto é, constituem-se no discurso. 25 manejando-a de acordo com a conveniência de assumir ou náo de-
Tal proposiç.io apresenta-se darl.lmeme na teoria da enunci:l- terminados pontos de vista expressos nos textos.
ção de Benveniste, que desvela não só as fo nn as pelas quais o Eu se • sujeito do enunciado - é a imagem daque le a quem se fala .
constitui t: se posidona discursivamente , mas também o Tu , ou seja, que corresponde ao receptor idealizado. Em (Coxtos cuja característi-
o interlocutor. Benveniste, que tinha o sujeito como centro de refe- ca é a impessoalidade, este sujeito passa a ser aquele de Quem se fala,
rência do aparelboformal da cllIwciação, distinguiu entre sujeito embora continue sendo a segunda pessoa do discurso (o sujeito do
da emmcíação e slIJeito do enunciado. O primeiro é o lug:lr ideali- enunciado corresponde ao "sujeito falado").
z.1.do do Eu, a imagem do Eu, e não o sujeito real. É a maneira pela • cnunciadores - são todas as demais vozes a rregimentadas
qual O Eu se define no pró prio discurso. Jâ os sujeitos do enunciado pelo emissor, para compore legitimar s ua própria imagem, de forma
são aqueles que aparecem como personagens do texto. Essa classifi- implícita o u explícita : discurso direto ou indireto, uso de aspas ou
cação náo atende mais às atuais necessidades de análise dos discur- itálico, provérbios e ditados populares, argumen(:lção polêmica,
sos. Pinto (1994 : iO) acrescenta o suJeifof~,lado , que corresponde:\ pressuposiçôes, todas as fonnas dedenegaç'J.o e indeterminação gra-
imagem d o Tu construída discursivamente pelo Eu , quando aceita matical, etc.
pelos destinatários. Em cstudos de recepção este conceito t pan.ic u- Mas Qual seria a vamagf'm fil"~' rrnb:l lhar com essa muhipli_
lannente útil, porque fala da imagem que os receptores assumem ao cidade de sujeitos, no quadro de uma teoria da enunciação?
se reconhecerem nos e nunciadorcs a eles atribuídos pelo emissor. E Sem prejulzo de o utra.s considerações, uma grande vanta-
que são e"mlciado,.es? Sáo as vozes presentes na enunciação cujas gem para o analista é perceber como se formam as precondiçõcs de
palavras náo são explícitas (é o caso, por exemplo, do discurso indi- produçao do sentido, no plano intratextual. As image ns construídas
reto) . " Enundadores" faz parte da dassificaçáo p roposta por Duerot , e nunciativd.mente serão propostas no processo de circulaçáo e con-
que declaril s6 haver polifonia q uando se pode distinguir numa sumo e sua aceitaçáo ou rt:jt:içiiu pelo receptor conformar.lo o senti-

25 Qua l'110 a esse aspc:ctO - os ~u j eilos conslituem·se 1'10 discul!óO -. há con(oronn- 26 Sei que esto u usando uma dassi fi c:l\·:i.o n50 mullO "nnndox:t~. no sentido de
cJn enue os virlos aUlOrCll . J~ o COl1(elto de dialógico admile nuam.:lS. Bcn\'enls- que me aproprio dos le rm os de: Ebklhin. l.Io:n\'enISle: e Ducrm, all'm de }>inlO.
le, por exemplo. u"dbalha com ~ n~-;;o, mas pc:n:ebc: apenas um~ CSlrutura mas n:io os ulillzo rigoronrncnte de acordo com qualq\ler um delc:s. Parto de
di~lóglca nn e nuncJ:u;:io. (onfonnada por dUõlS f1gur"J.S que se ren:zam . um~ tcntatiV'olS ameriord de razo:>.los funclonal' n~ anáJi.~ dc corpus diM.'1.II'!!iI.vs seme-
origem e outra fim da enunciação. Em Baklhin. por~m . o (onceito i: maiS lfiscc- lhantes aos que aqui serão onjc:tO do: ~l\ldo. que me ber.tm vo:r il dificuldilde de
r:.d. t!lando no cerne (,I;a sua lcorla. se trabalhar com classiflClçõcs d .::llllhildas e l'Om nu~nças qu:,l.'\C impcrcepcí~"Cis.

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["e~if.. Armijo A tVeQ"versdo do olbar

dialogismo é a rede interativa q ue articula as vozt:S de um discu rso, é enunciação um locutor t: um enunciador. O locutor seria aquele que
o jogo das diferenças e d as relações: emre sujeitos do mesmo texto. se a presenta como responsável pelo enunciado, categoria que elt:
M

emre enunciados, cnLre textos, enue [e.'Cto e COntexto e assim por dian- sulxlivide em "falante e -' Iocuto r", ainda admitindo que o locumr
le. pode apresentar-se como "locutor propriamente dito" e "locutor en-
Os modelos dialó gicos e m voga na prática comunicativa no quanto pessoa no mundo ".
m e io rural e nte nde m o diálogo - que também ocupa lugar centrdl - Assumirei aqui a seguinte classificação, quanto aos sujeitos
de uma forma dife rente , no sentido comum do tenno: duas ou m:lis que constituem o discurso:26
pessoas em processo de [roca ou interlocução. O diálogo é provoca- • sujeitada enunciaçáo - é a imagem daquele que se apre."ema
do pelos su jeitos, que preexistem ao discurso e seu desenrolar pode como emissor, como responsável pelo discurso . No nível da prd[ica
ser controbdo. Ser dialógico é uma opção política e supõe critérios discursiva no meio rural. em muitos casos este sujeito coincide com
de equanimidade . Para nossa Semiologia o dialógico estabelece-se o emissor real, Que nem sempre é o que produz o suporte discursi-
em outra instância, a da estrururação dos discursos. E - diferença vo, mas aquele que o faz circular ou imemlcdeia o consumo. Esta
fundamemal cnt're as duas abordagens - é por meio do dialogismo distinçao tem sido feita intuitivame nte por agentes da prática socia l,
que os sujeitos se constituem. isto é, constituem-se no discurso. 25 manejando-a de acordo com a conveniência de assumir ou náo de-
Tal proposiç.io apresenta-se darl.lmeme na teoria da enunci:l- terminados pontos de vista expressos nos textos.
ção de Benveniste, que desvela não só as fo nn as pelas quais o Eu se • sujeito do enunciado - é a imagem daque le a quem se fala .
constitui t: se posidona discursivamente , mas também o Tu , ou seja, que corresponde ao receptor idealizado. Em (Coxtos cuja característi-
o interlocutor. Benveniste, que tinha o sujeito como centro de refe- ca é a impessoalidade, este sujeito passa a ser aquele de Quem se fala,
rência do aparelboformal da cllIwciação, distinguiu entre sujeito embora continue sendo a segunda pessoa do discurso (o sujeito do
da emmcíação e slIJeito do enunciado. O primeiro é o lug:lr ideali- enunciado corresponde ao "sujeito falado").
z.1.do do Eu, a imagem do Eu, e não o sujeito real. É a maneira pela • cnunciadores - são todas as demais vozes a rregimentadas
qual O Eu se define no pró prio discurso. Jâ os sujeitos do enunciado pelo emissor, para compore legitimar s ua própria imagem, de forma
são aqueles que aparecem como personagens do texto. Essa classifi- implícita o u explícita : discurso direto ou indireto, uso de aspas ou
cação náo atende mais às atuais necessidades de análise dos discur- itálico, provérbios e ditados populares, argumen(:lção polêmica,
sos. Pinto (1994 : iO) acrescenta o suJeifof~,lado , que corresponde:\ pressuposiçôes, todas as fonnas dedenegaç'J.o e indeterminação gra-
imagem d o Tu construída discursivamente pelo Eu , quando aceita matical, etc.
pelos destinatários. Em cstudos de recepção este conceito t pan.ic u- Mas Qual seria a vamagf'm fil"~' rrnb:l lhar com essa muhipli_
lannente útil, porque fala da imagem que os receptores assumem ao cidade de sujeitos, no quadro de uma teoria da enunciação?
se reconhecerem nos e nunciadorcs a eles atribuídos pelo emissor. E Sem prejulzo de o utra.s considerações, uma grande vanta-
que são e"mlciado,.es? Sáo as vozes presentes na enunciação cujas gem para o analista é perceber como se formam as precondiçõcs de
palavras náo são explícitas (é o caso, por exemplo, do discurso indi- produçao do sentido, no plano intratextual. As image ns construídas
reto) . " Enundadores" faz parte da dassificaçáo p roposta por Duerot , e nunciativd.mente serão propostas no processo de circulaçáo e con-
que declaril s6 haver polifonia q uando se pode distinguir numa sumo e sua aceitaçáo ou rt:jt:içiiu pelo receptor conformar.lo o senti-

25 Qua l'110 a esse aspc:ctO - os ~u j eilos conslituem·se 1'10 discul!óO -. há con(oronn- 26 Sei que esto u usando uma dassi fi c:l\·:i.o n50 mullO "nnndox:t~. no sentido de
cJn enue os virlos aUlOrCll . J~ o COl1(elto de dialógico admile nuam.:lS. Bcn\'enls- que me aproprio dos le rm os de: Ebklhin. l.Io:n\'enISle: e Ducrm, all'm de }>inlO.
le, por exemplo. u"dbalha com ~ n~-;;o, mas pc:n:ebc: apenas um~ CSlrutura mas n:io os ulillzo rigoronrncnte de acordo com qualq\ler um delc:s. Parto de
di~lóglca nn e nuncJ:u;:io. (onfonnada por dUõlS f1gur"J.S que se ren:zam . um~ tcntatiV'olS ameriord de razo:>.los funclonal' n~ anáJi.~ dc corpus diM.'1.II'!!iI.vs seme-
origem e outra fim da enunciação. Em Baklhin. por~m . o (onceito i: maiS lfiscc- lhantes aos que aqui serão onjc:tO do: ~l\ldo. que me ber.tm vo:r il dificuldilde de
r:.d. t!lando no cerne (,I;a sua lcorla. se trabalhar com classiflClçõcs d .::llllhildas e l'Om nu~nças qu:,l.'\C impcrcepcí~"Cis.

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1"~fllaAraújo

do produzido, ao lado de outr:.lS condições. Certamente, esta é uma eretos que a vida penetra na língua", afirmo u ele (p. 282) . SU:l abor-
instância analítica que pennite sair dos limites eSI'rcitos da compati- dagem é bastant'e profunda e estrutura-se em torno do tema ccntml
bi lização de códigos como condição de "sucesso" da comunicação, d e toda s ua obrd - a polifo nia e O diaJogisl1lo -e com e la temos mui-
que t: o próprio dos modelos em voga. Como instrumento de crítica to que aprender c refletir. Mas vo u tomar aqu i, como transição defi-
e autocrítica, o conceito de polifo nia fornece elementos para romper nitiva entre os postulados da heterogeneidade e nunciariva e o da
a ilusâo de unicidade do sujeitO e de sua autonomia sobre o discur- semiose infinita, <Iue conte mpla a inlcncxtuaJidade, um trecllo de
so, possibilit::mdo a avaliação e revisão das estratégias diSCllrsims. No Arqueologia d o saber, e m que Fo ucauh fala do enunciado, que ele
postu lado três retomarei esta discussão, ao abordar o modo como as conside.-a uma unidade do discurso.
relações de poder se constituem discursivamente, a partir das figums Por mais banal que seia, por mCI/os ;mpor'a"l/~ que {I Imagl"e/llOs em
dos sujeitos da enunciação, do enunciado e dos e nunciadores. No Sllas collscqüêllClus, por mais f ad lmeme esqllecid o que possa ser "p6s slla
mo mento, dese jo discutir um outro ângulo do rema da enunciação, aparição,/JQr memu cnte"dirlo ou mal decifrado que o Sflponhu",os, um
emUle/Lido IÍ Sl!m!He 11111 acolltec/mentv que l/em a fíllgullnem o Se/llido
que servirá também como po ntO de passagem para o segundo poSTU- podem ('S8<JllIr Inteiramente. Trala·se de um acvmeclmenlo estranho. por
lado: o ângulo dos e nunciados. certo: inlclalmelfle porque está ligado, de fim Illdo, n Im, gestl/ de f!jit:ritll
Alguns teóricos do discurso considerdm que enunciado é ou à ortlt:ulação de IImil pulaura, mas, /JOrOfflro lado, abre para si mes-
m o Ilflla e;l"Ístê1lcla romallescentl! no campo de uma m emória, 011 lia ma-
um conceito a ser ultrapassado em favor do de discurso . "Enuncia· lerialidude dos mfllmscrllos, d os livros e de q"alquer fo rma L/e r"ejlstro:
do" guardaria ranços de uma semiologi:1 saussuriana, referi ndo-se a em ses'lida, /XJrtl'l{! ff líll ico COIIIO ludo acomecimento, mos eSlá aberto ti
uma mem combinação de conteúdos preexistentes na língua. O "dis- repetição, ti transfo rmaçâo, ti reolit>ação:/i"al",entl1, porqUI1 está ligado
não apenas a silfluÇ(ks tJue o !JroIJocam, e u co"seqfiellclas /XJrele OCasiv.
curso", emend ido como o lugar de produção sodal do sentido, seria nadas, /lias ao mesm o tempo, e sl!8"IIdu lima modul/llude illtelramellle
o único objeto de interesse do analista . dlfl1fi!ntl1, a ellum:lados {Iue o prt'Cedem e o st'guem. (p. 32)
Creio Que há um certo sectarismo nessa perspectiva . Ou me-
lhor, não me parece pertinente a equivalência dos dois termos em Pela im(XIrtância de SU:lS p:tla\'r:ls e pertin€ncia pard meus
quadros teóricos distintos. Discursos são formados , e ntre OUtros ele· objetivos, persisto na citação:
me ntOS, por conjuntos de enunciados. De fala , o enunciado reme- Mll5 J4! lrolamos, em reluçlJo I) /ir,gua e ao IXlllsalllelflO, a fl/srâ,rela do
re-nos ao domínio das palavras e o discurso ao do sentido, mas ocontl1cillllmlo e"'ltIclalivo. mro é parll tlissemillur ImW IJOeiro Ifefalos e
sim !)lIrtl estarmos seguros tlc 111'10 rolaClouá·!t1 com O/X.,.IIdures r/c sinfes'!
"enunciado" está vincu lado às teorias da enu nci:lção, é uma unidade que sejam purmmmle psicológicos (lI IlIlelll"tlo 110 (mlor, afUnl/lI de sell es·
pr,l,gmática, isto é , a linguagem em enunciação. A disrlnção que a pírito, o rigor de SI:II pe'lsal/l(mlu, os /el/ms '//le o obct'Cllm. o proieto que
me u ver poderia ser feita ê em n:lação 3. "senrença" (011 fra-.c, ou ora- alrulJf!SSll SI'" e.xisrêncl" e lhe IM slgnlflcoçl1o) e potlenllos Ufln-errdcr ou.
trus JIH>l/aS de rf!glllundade, outros tipos (141 reltlçO<.'S. 1«:/lIçÜ<.~· '!mo: ....
çÃo) , esta s im objeto da lingüística, mera combinação de conteúdos emulC/atlos (mesmo que escapum Il rol/selO" d u tio IlfItor; mesmo qlle se
lingüísticos predetenninados. A sentença é [mosfonnada e m enuncia- Irate d I) efllltu:itllfus lJue "tio liJm o mesmo aflfUr; llleSmu 'I"e os rlu/ures
do pelos mecanismos da enunciação, que confo nnam uma situação ,Ido se a:mbeçam) ; relliç6es efllf1! gn.pus tle (.,lIme/tulos Imlm estuhek'Cidos
(lIlesJll0 que euesgnlpos não remetum II()S mesmos tlom lll los nem" domí.
d e comunicação. O atO de produzir os enu nciados faz parte dos estu- Illos Il#zinl1US; m esmo que Ir/iO I/,,,,Imm o mesmo " ;''1.>/ fun llal: mesmo que
°
dos do discurso, e não seu texto, é que já nos advenia Bakthin "tio CU/lSflllfam o lugar de trocas (/I.e /XXlllm ser 11(l1(lf"mllwtlas): rduçiJes
( 1992: capoV) . O fil ósofo ruSSO vinculou a questão dos enunciados à Crllre cml"e/ad(u (m g rupos lle emmcltlllos c aCO/lleclllll!mos de lima or-
dem illlt!lramellfe difenmte ( Irollc" . ('C'Qlfumlca, social. política). F=er
dos gêneros do discurso, que pard ele se constituem a partir de um apalVCer, em slla Pllrf!Zn, o esptlço CIII IJIICse lfen'rll'fllflcm os acolI/rximerl-
ce no núme ro de enunciados estáveis . Entendia O enunciado como los disC/usioos 11110 ~ telllar reswbl!l«{õ·/o (11/1 11m ISo/limemo quellada p0-
uma unidade de comunicação verbal, diferentemenle da oração, deria sllperar; "til) é/t'CM./o em si mesmo: é tomar·SI! livre para (k'screIJer,
,/ele e fo ra lIele,jugos de relaç(Jes. (p. 33)
unidade da língua. "A língua penetra n:l vida :1fr:lVt:S dos e nunciados
concretos que a realizam, e ê também através dos enunciados con·

'" '"
1"~fllaAraújo

do produzido, ao lado de outr:.lS condições. Certamente, esta é uma eretos que a vida penetra na língua", afirmo u ele (p. 282) . SU:l abor-
instância analítica que pennite sair dos limites eSI'rcitos da compati- dagem é bastant'e profunda e estrutura-se em torno do tema ccntml
bi lização de códigos como condição de "sucesso" da comunicação, d e toda s ua obrd - a polifo nia e O diaJogisl1lo -e com e la temos mui-
que t: o próprio dos modelos em voga. Como instrumento de crítica to que aprender c refletir. Mas vo u tomar aqu i, como transição defi-
e autocrítica, o conceito de polifo nia fornece elementos para romper nitiva entre os postulados da heterogeneidade e nunciariva e o da
a ilusâo de unicidade do sujeitO e de sua autonomia sobre o discur- semiose infinita, <Iue conte mpla a inlcncxtuaJidade, um trecllo de
so, possibilit::mdo a avaliação e revisão das estratégias diSCllrsims. No Arqueologia d o saber, e m que Fo ucauh fala do enunciado, que ele
postu lado três retomarei esta discussão, ao abordar o modo como as conside.-a uma unidade do discurso.
relações de poder se constituem discursivamente, a partir das figums Por mais banal que seia, por mCI/os ;mpor'a"l/~ que {I Imagl"e/llOs em
dos sujeitos da enunciação, do enunciado e dos e nunciadores. No Sllas collscqüêllClus, por mais f ad lmeme esqllecid o que possa ser "p6s slla
mo mento, dese jo discutir um outro ângulo do rema da enunciação, aparição,/JQr memu cnte"dirlo ou mal decifrado que o Sflponhu",os, um
emUle/Lido IÍ Sl!m!He 11111 acolltec/mentv que l/em a fíllgullnem o Se/llido
que servirá também como po ntO de passagem para o segundo poSTU- podem ('S8<JllIr Inteiramente. Trala·se de um acvmeclmenlo estranho. por
lado: o ângulo dos e nunciados. certo: inlclalmelfle porque está ligado, de fim Illdo, n Im, gestl/ de f!jit:ritll
Alguns teóricos do discurso considerdm que enunciado é ou à ortlt:ulação de IImil pulaura, mas, /JOrOfflro lado, abre para si mes-
m o Ilflla e;l"Ístê1lcla romallescentl! no campo de uma m emória, 011 lia ma-
um conceito a ser ultrapassado em favor do de discurso . "Enuncia· lerialidude dos mfllmscrllos, d os livros e de q"alquer fo rma L/e r"ejlstro:
do" guardaria ranços de uma semiologi:1 saussuriana, referi ndo-se a em ses'lida, /XJrtl'l{! ff líll ico COIIIO ludo acomecimento, mos eSlá aberto ti
uma mem combinação de conteúdos preexistentes na língua. O "dis- repetição, ti transfo rmaçâo, ti reolit>ação:/i"al",entl1, porqUI1 está ligado
não apenas a silfluÇ(ks tJue o !JroIJocam, e u co"seqfiellclas /XJrele OCasiv.
curso", emend ido como o lugar de produção sodal do sentido, seria nadas, /lias ao mesm o tempo, e sl!8"IIdu lima modul/llude illtelramellle
o único objeto de interesse do analista . dlfl1fi!ntl1, a ellum:lados {Iue o prt'Cedem e o st'guem. (p. 32)
Creio Que há um certo sectarismo nessa perspectiva . Ou me-
lhor, não me parece pertinente a equivalência dos dois termos em Pela im(XIrtância de SU:lS p:tla\'r:ls e pertin€ncia pard meus
quadros teóricos distintos. Discursos são formados , e ntre OUtros ele· objetivos, persisto na citação:
me ntOS, por conjuntos de enunciados. De fala , o enunciado reme- Mll5 J4! lrolamos, em reluçlJo I) /ir,gua e ao IXlllsalllelflO, a fl/srâ,rela do
re-nos ao domínio das palavras e o discurso ao do sentido, mas ocontl1cillllmlo e"'ltIclalivo. mro é parll tlissemillur ImW IJOeiro Ifefalos e
sim !)lIrtl estarmos seguros tlc 111'10 rolaClouá·!t1 com O/X.,.IIdures r/c sinfes'!
"enunciado" está vincu lado às teorias da enu nci:lção, é uma unidade que sejam purmmmle psicológicos (lI IlIlelll"tlo 110 (mlor, afUnl/lI de sell es·
pr,l,gmática, isto é , a linguagem em enunciação. A disrlnção que a pírito, o rigor de SI:II pe'lsal/l(mlu, os /el/ms '//le o obct'Cllm. o proieto que
me u ver poderia ser feita ê em n:lação 3. "senrença" (011 fra-.c, ou ora- alrulJf!SSll SI'" e.xisrêncl" e lhe IM slgnlflcoçl1o) e potlenllos Ufln-errdcr ou.
trus JIH>l/aS de rf!glllundade, outros tipos (141 reltlçO<.'S. 1«:/lIçÜ<.~· '!mo: ....
çÃo) , esta s im objeto da lingüística, mera combinação de conteúdos emulC/atlos (mesmo que escapum Il rol/selO" d u tio IlfItor; mesmo qlle se
lingüísticos predetenninados. A sentença é [mosfonnada e m enuncia- Irate d I) efllltu:itllfus lJue "tio liJm o mesmo aflfUr; llleSmu 'I"e os rlu/ures
do pelos mecanismos da enunciação, que confo nnam uma situação ,Ido se a:mbeçam) ; relliç6es efllf1! gn.pus tle (.,lIme/tulos Imlm estuhek'Cidos
(lIlesJll0 que euesgnlpos não remetum II()S mesmos tlom lll los nem" domí.
d e comunicação. O atO de produzir os enu nciados faz parte dos estu- Illos Il#zinl1US; m esmo que Ir/iO I/,,,,Imm o mesmo " ;''1.>/ fun llal: mesmo que
°
dos do discurso, e não seu texto, é que já nos advenia Bakthin "tio CU/lSflllfam o lugar de trocas (/I.e /XXlllm ser 11(l1(lf"mllwtlas): rduçiJes
( 1992: capoV) . O fil ósofo ruSSO vinculou a questão dos enunciados à Crllre cml"e/ad(u (m g rupos lle emmcltlllos c aCO/lleclllll!mos de lima or-
dem illlt!lramellfe difenmte ( Irollc" . ('C'Qlfumlca, social. política). F=er
dos gêneros do discurso, que pard ele se constituem a partir de um apalVCer, em slla Pllrf!Zn, o esptlço CIII IJIICse lfen'rll'fllflcm os acolI/rximerl-
ce no núme ro de enunciados estáveis . Entendia O enunciado como los disC/usioos 11110 ~ telllar reswbl!l«{õ·/o (11/1 11m ISo/limemo quellada p0-
uma unidade de comunicação verbal, diferentemenle da oração, deria sllperar; "til) é/t'CM./o em si mesmo: é tomar·SI! livre para (k'screIJer,
,/ele e fo ra lIele,jugos de relaç(Jes. (p. 33)
unidade da língua. "A língua penetra n:l vida :1fr:lVt:S dos e nunciados
concretos que a realizam, e ê também através dos enunciados con·

'" '"
Muitas das maneiras correntes de abordar o texto são incom-
É d esses jogos de relaçõcs que passarei a trata r, num segun· patíveis com a Semiologia dos Discursos Sociais, que considera in·
do postulado da Serniolo gia dos Discursos Sociais, o postulado da dispensável o enfoque da il1lerle.'-'tualidade, jogo de relaçóes eorre
semiose infinita. textos, essência d o postulado da semiose infinita. O conceito em
Dakthin e exemplar nesse sentido. Para ele, texto é tudo aqui lo que
A semiose ;'Ifinita diz respeito a produçócs culturais fundadas na linguagem , Como
Bak1hin não admite produção c ulturaJ fora da linguagem, essa defi·
niçãoapaga adi(erença entre "fora ·· e "dentro" do tcxtoe ins tala uma
As considerações de FouC:.lU1t sobre o enunciado tr.LZcrn à luz noção englobadora do textual, do intenextual e d o contextual
:t essência do postulado da semiose infinita. Como vimos em Pcirce, a (Stam, op. cit. : 13) .
semiosis consiste numa rede infinim de remissivas de reprcsema· Trabalhare i aqui com o seguinte ente ndimento:
çóes na mente dos indivíduos: cada significante rcme te para ou- ,. um texto é um conjunto de enunciados, algo que pode ser
tro(s) s ignificante(s), n:l 0 se c hegando a um sentido está,,'el, a não delimitado. Não se restringe, poré m, aos escritos: uma mús ica, por
ser muito provisoriame nte, Essa concepção de como se dá a produ· e xe mplo , pode ser consider:tda um to1:o.
ção do semido recusa não s6 aquelas o urtaS, que supõem o significa· ,. um disc urso, mais do que um conjunto de te..xtoS, é uma prá-
d o imane nte aos objetos (inclusive os lingüísticos) , mas também as tica , e seus limites precisos não podem se r estabelecidos, a não ser
que estabelecem um sujeito transcendc mal, causa, explicaçáo e sen- por uma decisão a rbitrária d o a nalista, para fins d e estudo , <Iuando
tido último de todos os renô menos sodais (por exe mplo , a His tó ria, então se delimita um corpus discursivo , fomlado por um detennina-
o Inconscieme, a EstrulUr:t, o Sistema, Deus, a Luta d e Classes e tc.) . do número de textos,
Essa rede de re mi ssivas ocorre não só em relação a uma pala- O conceito de dialogism o de Bakthi n engloba o processo de
vra (os tbesounlS e a técnica de criação conhecida por bralrlstor- semiose InfInita, ao se definir como a forma de articu lação das diver·
ming valem·se desse princ ípio) , m as qualquer tipo o u tamanho de sas ....ozes presentes nos textOS e ao considerar essa articu lação como
texto o u de e nunciado. E aqui, antes d e mais nada, é necessário f.lZe r condição de produção dos sentidos, Mas o te rmo arualme nte mais
uma distinção tem1ino ló gica . :Idotado é interle.>.'lIIoUdade , proposto por Julia Kristcva, em 1966,
Os autores untam diferente me nte os conceitos de texto e com o fim de realçar essa propriedade dos textos de se relacio narem
discurso. De um modo geral , é aceita a equivalência e ntre os dois , com outros textos, anteriores, conrempor-1neos ou subseqüentes,
m as Yerón estabelece uma distinçáo metodológica iml)Ortante . Para o u com acontecime nros de o u tra ordem, O termo vem sendo usado
de, o lexto é o objeto empírico d e estudo, que e le prefere cha mar de como si nô nimo d e ilJterdiscursividade, até mesmo porque se refe-
'·fe ixes textuais", uma vez que são compostos d e uma "pluralidade re m :10 mesmo fen ô meno, o d ;1 semiose infinita . A semiose ocorre
de maté rias signifi cantes" (1980: 105) : esses fe ixes n ão se restringe m co m enunciados, com textos ou com discursos. Os limites para o
à escrita, são conjuntos como escrim·imagem, imagem·som etc, Por processo de associação de representações que ela provoca são esta-
discurso ele emende um ripo detenninado de abordagem dos tex· belecidos pela história, pela cult ura e pelo mo memo que se vive,
tos, o u seja, "um certo e nfoque te ó rico de um dado conju nto signifi- conjunto de par-lmetros a que I;oucault deno minou dcprá lica dis·
cante" (ide m). O textO não teria unidade própria, constituindo-se Cllrsilltl , COmo visro antes.
em "alguma coisa que explode numa pluralidade de direções" Alguns auto res denominam fonlla ção discursiva a esse lu·
(1983: 2) . Um objeto he terogêneo, ":lO mesmo tempo m~ l tidele~ml­ Wlr d e construção do sentido, utilizando-se de um termo também
nado e multideterminante" (idem : 3) . O discurso, conceito teÓriCO, pro posto por Fo ucault, que assim designava mais exatame nte o prin·
"designa o o bjeto que resulta de uma certa visada de textOS , d e uma Ilplo de dispersão e de repartição dos e nunciados (regulõll"idade dos
certa m a neir:t de abordar o textual" (ide m),

'lO '"
Muitas das maneiras correntes de abordar o texto são incom-
É d esses jogos de relaçõcs que passarei a trata r, num segun· patíveis com a Semiologia dos Discursos Sociais, que considera in·
do postulado da Serniolo gia dos Discursos Sociais, o postulado da dispensável o enfoque da il1lerle.'-'tualidade, jogo de relaçóes eorre
semiose infinita. textos, essência d o postulado da semiose infinita. O conceito em
Dakthin e exemplar nesse sentido. Para ele, texto é tudo aqui lo que
A semiose ;'Ifinita diz respeito a produçócs culturais fundadas na linguagem , Como
Bak1hin não admite produção c ulturaJ fora da linguagem, essa defi·
niçãoapaga adi(erença entre "fora ·· e "dentro" do tcxtoe ins tala uma
As considerações de FouC:.lU1t sobre o enunciado tr.LZcrn à luz noção englobadora do textual, do intenextual e d o contextual
:t essência do postulado da semiose infinita. Como vimos em Pcirce, a (Stam, op. cit. : 13) .
semiosis consiste numa rede infinim de remissivas de reprcsema· Trabalhare i aqui com o seguinte ente ndimento:
çóes na mente dos indivíduos: cada significante rcme te para ou- ,. um texto é um conjunto de enunciados, algo que pode ser
tro(s) s ignificante(s), n:l 0 se c hegando a um sentido está,,'el, a não delimitado. Não se restringe, poré m, aos escritos: uma mús ica, por
ser muito provisoriame nte, Essa concepção de como se dá a produ· e xe mplo , pode ser consider:tda um to1:o.
ção do semido recusa não s6 aquelas o urtaS, que supõem o significa· ,. um disc urso, mais do que um conjunto de te..xtoS, é uma prá-
d o imane nte aos objetos (inclusive os lingüísticos) , mas também as tica , e seus limites precisos não podem se r estabelecidos, a não ser
que estabelecem um sujeito transcendc mal, causa, explicaçáo e sen- por uma decisão a rbitrária d o a nalista, para fins d e estudo , <Iuando
tido último de todos os renô menos sodais (por exe mplo , a His tó ria, então se delimita um corpus discursivo , fomlado por um detennina-
o Inconscieme, a EstrulUr:t, o Sistema, Deus, a Luta d e Classes e tc.) . do número de textos,
Essa rede de re mi ssivas ocorre não só em relação a uma pala- O conceito de dialogism o de Bakthi n engloba o processo de
vra (os tbesounlS e a técnica de criação conhecida por bralrlstor- semiose InfInita, ao se definir como a forma de articu lação das diver·
ming valem·se desse princ ípio) , m as qualquer tipo o u tamanho de sas ....ozes presentes nos textOS e ao considerar essa articu lação como
texto o u de e nunciado. E aqui, antes d e mais nada, é necessário f.lZe r condição de produção dos sentidos, Mas o te rmo arualme nte mais
uma distinção tem1ino ló gica . :Idotado é interle.>.'lIIoUdade , proposto por Julia Kristcva, em 1966,
Os autores untam diferente me nte os conceitos de texto e com o fim de realçar essa propriedade dos textos de se relacio narem
discurso. De um modo geral , é aceita a equivalência e ntre os dois , com outros textos, anteriores, conrempor-1neos ou subseqüentes,
m as Yerón estabelece uma distinçáo metodológica iml)Ortante . Para o u com acontecime nros de o u tra ordem, O termo vem sendo usado
de, o lexto é o objeto empírico d e estudo, que e le prefere cha mar de como si nô nimo d e ilJterdiscursividade, até mesmo porque se refe-
'·fe ixes textuais", uma vez que são compostos d e uma "pluralidade re m :10 mesmo fen ô meno, o d ;1 semiose infinita . A semiose ocorre
de maté rias signifi cantes" (1980: 105) : esses fe ixes n ão se restringe m co m enunciados, com textos ou com discursos. Os limites para o
à escrita, são conjuntos como escrim·imagem, imagem·som etc, Por processo de associação de representações que ela provoca são esta-
discurso ele emende um ripo detenninado de abordagem dos tex· belecidos pela história, pela cult ura e pelo mo memo que se vive,
tos, o u seja, "um certo e nfoque te ó rico de um dado conju nto signifi- conjunto de par-lmetros a que I;oucault deno minou dcprá lica dis·
cante" (ide m). O textO não teria unidade própria, constituindo-se Cllrsilltl , COmo visro antes.
em "alguma coisa que explode numa pluralidade de direções" Alguns auto res denominam fonlla ção discursiva a esse lu·
(1983: 2) . Um objeto he terogêneo, ":lO mesmo tempo m~ l tidele~ml­ Wlr d e construção do sentido, utilizando-se de um termo também
nado e multideterminante" (idem : 3) . O discurso, conceito teÓriCO, pro posto por Fo ucault, que assim designava mais exatame nte o prin·
"designa o o bjeto que resulta de uma certa visada de textOS , d e uma Ilplo de dispersão e de repartição dos e nunciados (regulõll"idade dos
certa m a neir:t de abordar o textual" (ide m),

'lO '"
conceitos, dos tipos de enunciação, das escolhas temáticas etc.). ~ o Ro land Barthes, e m Sarrazirle , trabalha a idéia da cadeia de
e lso de Maingueneau (1993), ou de O rl:mdi (1993: l OS) . esta afirman- re missivas cuhur.:tis de s ignific:U1tc a s ignificante, descartando de fini-
do que "é a fOl1l1ação discursiva que determina o que JX>de e o que tivame mc a ex istência de um Significado último e demonstrando
d eve ser ditO, a p:U1lr de uma posiç.:io dada numa conjunturA dada H
• como o sentido se espraia pelo texto, sem ordem nem amarras for-
O que d eve ser dito implica o que nâo dc.:ve ser dilO, isto é, mais. MTudo significa sem cessar e várias vezes, mas sem delegação a
uma determinada formação discursiva, ao demarcar os limites do dito um grande conjunto final , a uma estrmura d erradeira" (1992 : 45).
e do dizer, auto maticamente estabelece critérios de exclusão, o que Contra :tlinearidade d o signific-.lOte ele opõe um significado espacial-
nos reme te par.l a noç-.io bakthini:ma d e linguagem como arena dos mente d isseminaf.io, cuja cris mHzação só pode ser e me ndida como
embatcs sociais. Formação discursiva, sob este ângulo, pode ser com- um mo mento fugaz , po mo de cruzamen to de uma rede de remissi-
preendid:1 como as forças sociais que se exprimem num discurso e é vas intertexruais.27 Com Banhes , percebe-se com clareza o domínio
por e;se p risma <Iue se pode emender que um mesmo dist.'Urso possa da memó ria no imeruiscurso. Os dois o unos d o mínios são o da atua-
ser palco de \~árias fom1açõcs discursivas, e mbor::l o efeiTO de unidade lidade , a que j,i me referi, e o da alllecipação, que caracteriza o ro r-
que o s ujeito le nta produzir fAça uma predo minar sobre as o utr:IS. nar-se, na atualidade, a me mó ria dos discursos que se seguido.
Fico com a noção defomwçdo discursiva que pode, talvez, A 00(;-:'\0 de "texto" e seu lugar como unidade d e análise
ser sintetizad a como "condições d e exercício da função enuncialiva", s ubstirui , na Semiologia dos Discursos Sociais, a de ·· me nsagem", ca-
reservando o tenno prática discursiva para d esignar a pr:itica con- racterística d os modelos comunicacio nais. A repercussão dis to nos
crera dessa função, que se traduz em discursos . O conceito de p rá tica estudos d as prátkas discursivas em processos de i.ntervenção social é
d iscu rsiva também designa a reve rsibilidade das faces social e textual considcr:lvel.
dos discursos (Maingueneau , 1993: 56) . MMensagcm·· conduz:'i análise d e três e lemen tos: o emissor,
Eu dizia antes, a respeit'O dos discursos, que não se pode es- produto r d:J. mensagem , numa relação de auto ria e inte ncio nalida-
tabelecer seus limites. A razão disro localiza-se no fenô meno da in- de: a m ensagem e m si , nos seus aspeCtOS de forma e conteúdo ; e o
le rdiscursividade , que faz com que, por um lado , cada discu rso traga receptor, numa perspectiva da capacidade f.i e decodificação (ou
e m si, constituriv:unente , a história de todos os discursos que pode- compree nsão d o significado) e utilização d as info rmações contidas
ria ter sido e a d e todos seus "a ncestrais"; po r ourro, é o mesmo pro- na mensagem . Avalia-se a adequação entre o ditO, a forma de dizer e
cesso semió tico que fAZ com que o discurso só se concretize na o compreendido , tomada como medida da eficlÍci:J.. Como fo i mos-
prática discursiva, o que o torna singular e imprevisível: no instante trado antes, est:l tem sid o a te ndência, embora possa se apresentar
da interlocução , há uma combinação única com os outros discursos com justificativas Ideológicas diStintas, o u operar e m campos temáti-
circ ulantes, a começar pelado recepto r, ao qual se juntam expectati- cos os mais di\·crsos.
v:.tS, posição social dos interloclltores, os ritos e lugares institucionais, Já a abordagem semiológicl do "texto", com a insepará,'e1
elc. Um texto escrito reproduzido em 10 situações diferentes p rodu- noção de interre;\."lUalidade, pro move OUtra forma de acercamento
zir.t 10 discursos diferentes. Daí os limites do discurso serem instáveis, do pro ble ma. Gerar um texto é ger'M umaes tnuégia, sem dúvida, e a
serem os limites dos efeitos d e sentido que produz. roda estratégia corresponde uma intenção de produzir semidos; no
Mas, corno esse ú ltimo aspecto será melho r desenvolvido no entanto , um texro e se us efeitos de sentido só nodem ser compreen·
postulado [rês, voltemos à intertextualidade como jogo relacio nal didos arr... vés d e meCAnismos que des"ende rn e m que malha, em (Iue
das diversas vozes presentes e ausentes nos textoS, como uma das rede d e outros textos e le se e ncontra e como se manifestam naquela
chaves mCStras da imeligibilidade dos mecanismos de prod ução do materi alidade discursiva . Os se ntidos d e um te.'I(fO não podem ser en-
sentido.
27 Para um~ :ln ~lisc c um exemplo da pm~ibi l ld3de de aplicu,.-:1o dt"~ corn:cpçlo
c do método decorrente , pO<..!c-s.e oonsullu Pinto ( 1992).

'" I))
conceitos, dos tipos de enunciação, das escolhas temáticas etc.). ~ o Ro land Barthes, e m Sarrazirle , trabalha a idéia da cadeia de
e lso de Maingueneau (1993), ou de O rl:mdi (1993: l OS) . esta afirman- re missivas cuhur.:tis de s ignific:U1tc a s ignificante, descartando de fini-
do que "é a fOl1l1ação discursiva que determina o que JX>de e o que tivame mc a ex istência de um Significado último e demonstrando
d eve ser ditO, a p:U1lr de uma posiç.:io dada numa conjunturA dada H
• como o sentido se espraia pelo texto, sem ordem nem amarras for-
O que d eve ser dito implica o que nâo dc.:ve ser dilO, isto é, mais. MTudo significa sem cessar e várias vezes, mas sem delegação a
uma determinada formação discursiva, ao demarcar os limites do dito um grande conjunto final , a uma estrmura d erradeira" (1992 : 45).
e do dizer, auto maticamente estabelece critérios de exclusão, o que Contra :tlinearidade d o signific-.lOte ele opõe um significado espacial-
nos reme te par.l a noç-.io bakthini:ma d e linguagem como arena dos mente d isseminaf.io, cuja cris mHzação só pode ser e me ndida como
embatcs sociais. Formação discursiva, sob este ângulo, pode ser com- um mo mento fugaz , po mo de cruzamen to de uma rede de remissi-
preendid:1 como as forças sociais que se exprimem num discurso e é vas intertexruais.27 Com Banhes , percebe-se com clareza o domínio
por e;se p risma <Iue se pode emender que um mesmo dist.'Urso possa da memó ria no imeruiscurso. Os dois o unos d o mínios são o da atua-
ser palco de \~árias fom1açõcs discursivas, e mbor::l o efeiTO de unidade lidade , a que j,i me referi, e o da alllecipação, que caracteriza o ro r-
que o s ujeito le nta produzir fAça uma predo minar sobre as o utr:IS. nar-se, na atualidade, a me mó ria dos discursos que se seguido.
Fico com a noção defomwçdo discursiva que pode, talvez, A 00(;-:'\0 de "texto" e seu lugar como unidade d e análise
ser sintetizad a como "condições d e exercício da função enuncialiva", s ubstirui , na Semiologia dos Discursos Sociais, a de ·· me nsagem", ca-
reservando o tenno prática discursiva para d esignar a pr:itica con- racterística d os modelos comunicacio nais. A repercussão dis to nos
crera dessa função, que se traduz em discursos . O conceito de p rá tica estudos d as prátkas discursivas em processos de i.ntervenção social é
d iscu rsiva também designa a reve rsibilidade das faces social e textual considcr:lvel.
dos discursos (Maingueneau , 1993: 56) . MMensagcm·· conduz:'i análise d e três e lemen tos: o emissor,
Eu dizia antes, a respeit'O dos discursos, que não se pode es- produto r d:J. mensagem , numa relação de auto ria e inte ncio nalida-
tabelecer seus limites. A razão disro localiza-se no fenô meno da in- de: a m ensagem e m si , nos seus aspeCtOS de forma e conteúdo ; e o
le rdiscursividade , que faz com que, por um lado , cada discu rso traga receptor, numa perspectiva da capacidade f.i e decodificação (ou
e m si, constituriv:unente , a história de todos os discursos que pode- compree nsão d o significado) e utilização d as info rmações contidas
ria ter sido e a d e todos seus "a ncestrais"; po r ourro, é o mesmo pro- na mensagem . Avalia-se a adequação entre o ditO, a forma de dizer e
cesso semió tico que fAZ com que o discurso só se concretize na o compreendido , tomada como medida da eficlÍci:J.. Como fo i mos-
prática discursiva, o que o torna singular e imprevisível: no instante trado antes, est:l tem sid o a te ndência, embora possa se apresentar
da interlocução , há uma combinação única com os outros discursos com justificativas Ideológicas diStintas, o u operar e m campos temáti-
circ ulantes, a começar pelado recepto r, ao qual se juntam expectati- cos os mais di\·crsos.
v:.tS, posição social dos interloclltores, os ritos e lugares institucionais, Já a abordagem semiológicl do "texto", com a insepará,'e1
elc. Um texto escrito reproduzido em 10 situações diferentes p rodu- noção de interre;\."lUalidade, pro move OUtra forma de acercamento
zir.t 10 discursos diferentes. Daí os limites do discurso serem instáveis, do pro ble ma. Gerar um texto é ger'M umaes tnuégia, sem dúvida, e a
serem os limites dos efeitos d e sentido que produz. roda estratégia corresponde uma intenção de produzir semidos; no
Mas, corno esse ú ltimo aspecto será melho r desenvolvido no entanto , um texro e se us efeitos de sentido só nodem ser compreen·
postulado [rês, voltemos à intertextualidade como jogo relacio nal didos arr... vés d e meCAnismos que des"ende rn e m que malha, em (Iue
das diversas vozes presentes e ausentes nos textoS, como uma das rede d e outros textos e le se e ncontra e como se manifestam naquela
chaves mCStras da imeligibilidade dos mecanismos de prod ução do materi alidade discursiva . Os se ntidos d e um te.'I(fO não podem ser en-
sentido.
27 Para um~ :ln ~lisc c um exemplo da pm~ibi l ld3de de aplicu,.-:1o dt"~ corn:cpçlo
c do método decorrente , pO<..!c-s.e oonsullu Pinto ( 1992).

'" I))
contrados nas suas cade ias verbais, eSludad as na fonua como estão gia d os Discu rsos Sociais incorporou o ens iname n tO da AntrOpolo-
o rganizadas. Como diz Mainguencau, gia de que os fen ômenos culrurais funcio nam sob uma lógica d e
... o texto mio é um f!"51<XJ lle / PlI!rtl! qUI! basta segmePltar para dele ~xlmir
mercado - a lógica d a produção, circu laç:io e consumo dos seus pro-
uma imetpretaflJo. mas Inscrew·S(> II/,ma ce,/ll elllmclallva c lljos fllga res dUlos.
de pfT)(./IIÇtJ/J I! d I! imetprclafão NliiQ lIlraL-essndos por tl/ltmpafÕes, re· Trazendo isso para o plano dos discursos - o d o mínio do
C/Jllsln,çi'ws de SUQ5 respectil'l/S imagens, imagells estas Impostas pelos /i .
mi/es tl(l/ormação disc:ursllJu. ( 1993: 9 1)
s imbólico - , afirma que o espaço d a comun icaf,.""áo cons titui um mer-
cadosim bólico, que opera segundo as reg'-"-s d e qualquer o utro mer-
o conce ito de texto põe d e lado os d e signo, cQdigo, me nsa- cado: é s6 através do processo de produção, circulação e consumo
gem, tão familiare s aos modelos comunicacionais, e lraz à cena a preo- que os objetos adquirem a condiç:"io de significante . É esta premissa
cupação com as marcas do Outro, alteridade constitutiva do sen tido e seus desdobramentos que fomlam o postulado da econo mia políti-
a p:lnir mesmo da estrururação textual num contexto d iscu rsivo . c.'l do s ignificante e é também uma lese central na proposta teóri-
Ide mificar a adequação d e uma me nsage m a seu público o u co-metodológica de veiÓn. Nas suas palavras,
os e fe itos que nele produz abre algumas portas para a geração de es- lrala-se, para uós. de Ctmceber /JS I lmlÍmellos de M!.uido como te.ufo. de
tratégias na comunicação, mas certamente fica muilo aqué m da com- "'" ladu, $(,,,,prO!aJumw de InwsllmelllO "OS C:0 1lglomerutlustlo! mmlfrlas
preensão dos mecanis mos intenexluais que faze m funcionar os slgll lJlcantesl! com o remetem/o, dco/lrro latiu. au/""ciU1/ameIlfO da rede
sc",iórica COllc(1)/,wli:ada cu"", siste",a prudul 11.'0. Esses Im!l!sl/men/u?
processos d e semiose social, scmiose que é dinamizada pelos confli- wo sW;Ci!I(vefs de sI!rem descritos COII/O CO'Vfll/los de prucessos prodllli-
tOS sociais, os quais se expressam claramente nos lextos prOduzidos I.\OS. Um a abordagem q ll e se propollhtl U aplicar. aos/ellónumos de senti·
pelos agemes, d esde que sejam mirados sob a ó tica discu rsiva. do, o mrx/do de um sistema prodmfvo, deve postulllr roluçiies
$Ístem tltlctl$ O!tltre amjlllllos signifiCiJlltn dados, por um Indu e os aspec-
Do ponto de vis ta da recepção, o fato de alguém se expor a tos jíw dame,ltais de lodo sistema pf"f)(lutllJQ. de uutro: produçlJo, d n:ula-
uma mensagem - ler uma canilha, poraemplo - não é detenninan- çdo, CO'lSflmo. ( 1980: 190)
te da sua prática s ubseqüente e s im o mo do pelo qual esta pessoa se
re laciona cOm o textO, que o utros textos são postos em cena, assu- Nesse me rcado, as relações d ;io-se entre discu rsos c é atnl-
mindo im pon:i.ncia a história daquele texto, a d e suas leiturdS e a do vés d eles que os sujeitos negociam su as trocas, tendo C0l110 o bjetivo
leito r; em o utras pab.vras, o modo de le ilura e o sujeito-leitor que a disputa d os scntidos, o u melhor, a supremacia na consl"rução d os
lhe corresponde . sentidOS d o minantes.
O terceiro posrulado permitirá perceber as difere nças nm- Q uero lembrar que o sujeito, tal como aqui é percebido, não
damenr:tis enrre as ~horcl~gt': ns c:omunicacional e semiológica. ao tem controle tOtal sobre seu d iscurso, nem conscii:nda ple na das vozes
Ir.lzer à cena o conceito de m ercado simbólico , no qu al instiruições que ne le se manifes tam . A conccpçfto de "negoc.iaçáo d e sentido",
e indivíduos posicionam-se discursivOlmente, po r intemlédio de seus por exigir pelo me nos dois sujeitos e duas estratégias discursivas,
dispositivos d e e nunciação, na disputa pela prerrogativa da constnJ- pode levar a esquecer ou camuflar essas premissas, fundam entais
ção do sentido d o minante. para a Semiologi:t: a da poüssemia incontrolável do texlO e a do fun-
cioname nto discursivo a partir de dife re ntes matrizes.
Retornando ao mercado s imbólico: a e,"'(emplo d o que ocor-
A economia polltica do significante re nos Outros mercados, o nde osistcm:t produtivo d etermina e deixa
m:trcas nos o bjetos produzidos, também o s discu rsos são d etenuina-
d os pelo s istema de produção, circu l:tç:"io c consumo, que neles d ei-
Discip lina plural e receptiva , :tcolhendo ao longo de s ua
constiruição aportes de diversas dc::ndas e teorias e rctrabaUlando
s uas premissas sob a perspectiva d a produção do se ntido, a Semiolo- Z8 tn"CO\I;mcmQ (de scm ido). põlr.! Vemn , ~ign mCil cotOC2l" sentido no CSpõlÇQ e
no lempo, sob õl (o mla de proct:SliO~ dj~cu rsj\"O!l .

'34
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contrados nas suas cade ias verbais, eSludad as na fonua como estão gia d os Discu rsos Sociais incorporou o ens iname n tO da AntrOpolo-
o rganizadas. Como diz Mainguencau, gia de que os fen ômenos culrurais funcio nam sob uma lógica d e
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cadosim bólico, que opera segundo as reg'-"-s d e qualquer o utro mer-
o conce ito de texto põe d e lado os d e signo, cQdigo, me nsa- cado: é s6 através do processo de produção, circulação e consumo
gem, tão familiare s aos modelos comunicacionais, e lraz à cena a preo- que os objetos adquirem a condiç:"io de significante . É esta premissa
cupação com as marcas do Outro, alteridade constitutiva do sen tido e seus desdobramentos que fomlam o postulado da econo mia políti-
a p:lnir mesmo da estrururação textual num contexto d iscu rsivo . c.'l do s ignificante e é também uma lese central na proposta teóri-
Ide mificar a adequação d e uma me nsage m a seu público o u co-metodológica de veiÓn. Nas suas palavras,
os e fe itos que nele produz abre algumas portas para a geração de es- lrala-se, para uós. de Ctmceber /JS I lmlÍmellos de M!.uido como te.ufo. de
tratégias na comunicação, mas certamente fica muilo aqué m da com- "'" ladu, $(,,,,prO!aJumw de InwsllmelllO "OS C:0 1lglomerutlustlo! mmlfrlas
preensão dos mecanis mos intenexluais que faze m funcionar os slgll lJlcantesl! com o remetem/o, dco/lrro latiu. au/""ciU1/ameIlfO da rede
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processos d e semiose social, scmiose que é dinamizada pelos confli- wo sW;Ci!I(vefs de sI!rem descritos COII/O CO'Vfll/los de prucessos prodllli-
tOS sociais, os quais se expressam claramente nos lextos prOduzidos I.\OS. Um a abordagem q ll e se propollhtl U aplicar. aos/ellónumos de senti·
pelos agemes, d esde que sejam mirados sob a ó tica discu rsiva. do, o mrx/do de um sistema prodmfvo, deve postulllr roluçiies
$Ístem tltlctl$ O!tltre amjlllllos signifiCiJlltn dados, por um Indu e os aspec-
Do ponto de vis ta da recepção, o fato de alguém se expor a tos jíw dame,ltais de lodo sistema pf"f)(lutllJQ. de uutro: produçlJo, d n:ula-
uma mensagem - ler uma canilha, poraemplo - não é detenninan- çdo, CO'lSflmo. ( 1980: 190)
te da sua prática s ubseqüente e s im o mo do pelo qual esta pessoa se
re laciona cOm o textO, que o utros textos são postos em cena, assu- Nesse me rcado, as relações d ;io-se entre discu rsos c é atnl-
mindo im pon:i.ncia a história daquele texto, a d e suas leiturdS e a do vés d eles que os sujeitos negociam su as trocas, tendo C0l110 o bjetivo
leito r; em o utras pab.vras, o modo de le ilura e o sujeito-leitor que a disputa d os scntidos, o u melhor, a supremacia na consl"rução d os
lhe corresponde . sentidOS d o minantes.
O terceiro posrulado permitirá perceber as difere nças nm- Q uero lembrar que o sujeito, tal como aqui é percebido, não
damenr:tis enrre as ~horcl~gt': ns c:omunicacional e semiológica. ao tem controle tOtal sobre seu d iscurso, nem conscii:nda ple na das vozes
Ir.lzer à cena o conceito de m ercado simbólico , no qu al instiruições que ne le se manifes tam . A conccpçfto de "negoc.iaçáo d e sentido",
e indivíduos posicionam-se discursivOlmente, po r intemlédio de seus por exigir pelo me nos dois sujeitos e duas estratégias discursivas,
dispositivos d e e nunciação, na disputa pela prerrogativa da constnJ- pode levar a esquecer ou camuflar essas premissas, fundam entais
ção do sentido d o minante. para a Semiologi:t: a da poüssemia incontrolável do texlO e a do fun-
cioname nto discursivo a partir de dife re ntes matrizes.
Retornando ao mercado s imbólico: a e,"'(emplo d o que ocor-
A economia polltica do significante re nos Outros mercados, o nde osistcm:t produtivo d etermina e deixa
m:trcas nos o bjetos produzidos, também o s discu rsos são d etenuina-
d os pelo s istema de produção, circu l:tç:"io c consumo, que neles d ei-
Discip lina plural e receptiva , :tcolhendo ao longo de s ua
constiruição aportes de diversas dc::ndas e teorias e rctrabaUlando
s uas premissas sob a perspectiva d a produção do se ntido, a Semiolo- Z8 tn"CO\I;mcmQ (de scm ido). põlr.! Vemn , ~ign mCil cotOC2l" sentido no CSpõlÇQ e
no lempo, sob õl (o mla de proct:SliO~ dj~cu rsj\"O!l .

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'"
I ".-slta AFtlujo

xa s uas ll1 ól1"G l S. É nesta hi pótese que se baseia Veróo, para propor Também inte gram o dispositivo os discursos que fo .....un ex-
como m étodo d e análise o percurso inve rso : a partir d as pistas forn e- cl uídos . A (orma m a is radical d e negação, que é a exclusão, participa
c idas pelas marcas do discu rso, reconstruir as operações que leva- de modo conrundente da imagem d o sUjeito da enunciação. AHás, ã.
ram ao seu c ngendrame nto e e ntão compreender os m ecanismos de a ná lise do não-dit"o , doexduído, é fundame ntal na compn:ensão d as
base d o funcio name m o social. "Analisando produtos visamos pro- d eterminações d e cada discurso: po rque não poderia ser Outro, por-
cessosn (ide m: 180), processos que são cu lturais, sociais e políticos. que (o i ele o produzido, entre tantOS discursos possíveis naquela e
Tal proposta inclui tacitam e nle uma teoria da e nunciação, e m o utras formações discu rsivas. O lugar que um disc urso ocupa e
associada a uma pragmát ica d a comuni cação. Vejamos o que isso os e feitos de sentid o que produz são d e terminados lambém pelos
significa. "fantasmas " d os discursos que foram excl uídos em seu (avor.
A e nunciação é a paJavra no merC""ddo . E, par.J. estar no merca- Os disposilh'os de enunciação a travessam, pois, lodo o dis-
d o , d esen" o l\'e estratégias d e concorrência, que pode m ser in(eridas c u rso e ao (azê-Io d eixam marcas, como já m encione i a propósito d o
pelo dispositivo de ellunciação, CJue é a (arma particular pe la qual seu s is te m a produtivo. São essas marcas que pennitem ao recepto r
os v;.\rios suje itos (ou as vozes) se organizam e dialo gam nos discur- refazer as o perações do emissor e p:ln'icipar d a negociação de senti-
sos. Forma particubr, porque se constró i difert!ntemente em cad a d o e m que consiste a prática discu rsiva . E isso ele faz com seu pró-
discurso, pelas modalidades do dizer, que depende m da si tuaçáo de prio dispositivo, que difici lmente coinc ide com o d o e missor, uma
comunicação, que é sempre singular. É atrJ.vés d o dispositivo de vez que dispositivo s são condic io nados, e ntre o utros fulores, pela
e nunciaç:.io que o su je ito e missor constrói a sua própria imagem e a culrura, posição social e interesses d e classe e institucionais dos sujei-
d o receptor, e propõe um modo d e relaç:i o e ntre eles. Verón adora o tOS e nunciadores. No caso específico das pr.í.ticas discu rsivas no
[e nno "COntr.J.to d e leitura~ para se referir aOS dis positivos de enuncia- me io rural , essa def.lsage m é acentuada não só pela estrurur.J. con-
ção d os discursos escritos. Creio, po ré m , que seria mais uma propos- cc mradora do direito de fa lar, como pela distância temporal emrc a
ta d e contmto , que o receptor assinaria apenas no mOmento da produção e consumo discursivos. Como a lerta Verón,
recepção. No caso dos ó rgãos da imprensa, que têm consu mo regular ( ... ) para QS dlsCII1'slJS cuja clrculaçliQ.r;o,uum o é diferida 0 /1 , por assim
por um público habiru al , pode-se taJvez falar em contrato , já que o re- dizer. existe a fungo prazo, "lio se potlc e$l/ltl!Cer li ma dlss/m etrla entclul
cepto r Lu: suas escolhas ao idt:nti6car-se o u n.'io com aque le d i... positi- e,llre c:undlÇÓ(!S l/eprrxil.çdu enm dfçóes l/e rccepçdo, 11m" ve.:prudu..-idu U
díscllr.F.J. em cm ltlições dClenlljlladas, ('StUf pe""allf!Cem e pcrml.mecemo
vo. O vínculo e orre as panes é mais dur:h·d . Mas no caso do tipo de semp~e as m esmas. A rn:epçiio, ou [) CQllsumo, pelo comrárlo, estli "conde-
discurso escrito que c ircula no me io rur.t.l, que não tem regularidade, "mio " a modiftca~'$e I"de/i"idameme. ( ...) Esse descompasso lIOda mais
ncm de circulação ncm dos modos d e dizer, carla aro de recepção ad- é do ql/eo prillçiplo lle cr.msll/ulçdo da história dos textos. O qlle é Impor-
tante reteréqllll a bls/6ria de 11111 Il'XfCJ OI' lle 11m cUlljullt(J lJe textos cmlSis-
mi te a dupla possibilidade da aceitação o u da rejeição d o contrato pro- te ,,"m processo de alterações sistemáticas. ao 10llRO do Ill/llfXJ blst6ricu.
posto. Por isto , fico mesmo com O lermo "dispositivO de e nuncia\--:lo". do sist e/lla de ~el(/ç6eselllre "gramática "deprudllçüu e "grlJ/IIálica" de re-
Fazem parte do dispositivO não só a organização textuaJ, in- collbeclml!'llu.~ ( 1980: 1(9)
cl ui.ndo imagens, cores, diagramação e o te.x tO escrito , mas também
Os diSpoSitivOs de enunciação con sisfe m , certam e nte , numa
O meio d e comun.icação escolhido , o (o nnato do material e o modo
te ntativa de estabilização d o sentido e nis to o sujeito e missor investe
de c irculação. Assim , uma canilha constrói imagens dis tintas d e uma
sua competê n cia discursiva, m as a n:llurcz:.1 d os discursos (poli fô ni-
apostii:J., a escolha do rádio produz sentidos difereOles da de um au-
diovisual , a distribuição de um jornal através do sindicato denota
concepções das re lações e papéis sociais diversas da e ntrega pelas
mãos d o re presentante da organização que o produziu .
29 Vc:ron US3 o Icrmogramárica como 1;!(luiYlIolcnlt::I di.~posil i\"o. Por OUtro b.do.
diSlinguc "wtY;a d e traço, o segundo ~ignHic:mdo:l marca qU:lndo illll;! rprC:l:lda
ocn tro d o disolrso.

IJ. ll7
I ".-slta AFtlujo

xa s uas ll1 ól1"G l S. É nesta hi pótese que se baseia Veróo, para propor Também inte gram o dispositivo os discursos que fo .....un ex-
como m étodo d e análise o percurso inve rso : a partir d as pistas forn e- cl uídos . A (orma m a is radical d e negação, que é a exclusão, participa
c idas pelas marcas do discu rso, reconstruir as operações que leva- de modo conrundente da imagem d o sUjeito da enunciação. AHás, ã.
ram ao seu c ngendrame nto e e ntão compreender os m ecanismos de a ná lise do não-dit"o , doexduído, é fundame ntal na compn:ensão d as
base d o funcio name m o social. "Analisando produtos visamos pro- d eterminações d e cada discurso: po rque não poderia ser Outro, por-
cessosn (ide m: 180), processos que são cu lturais, sociais e políticos. que (o i ele o produzido, entre tantOS discursos possíveis naquela e
Tal proposta inclui tacitam e nle uma teoria da e nunciação, e m o utras formações discu rsivas. O lugar que um disc urso ocupa e
associada a uma pragmát ica d a comuni cação. Vejamos o que isso os e feitos de sentid o que produz são d e terminados lambém pelos
significa. "fantasmas " d os discursos que foram excl uídos em seu (avor.
A e nunciação é a paJavra no merC""ddo . E, par.J. estar no merca- Os disposilh'os de enunciação a travessam, pois, lodo o dis-
d o , d esen" o l\'e estratégias d e concorrência, que pode m ser in(eridas c u rso e ao (azê-Io d eixam marcas, como já m encione i a propósito d o
pelo dispositivo de ellunciação, CJue é a (arma particular pe la qual seu s is te m a produtivo. São essas marcas que pennitem ao recepto r
os v;.\rios suje itos (ou as vozes) se organizam e dialo gam nos discur- refazer as o perações do emissor e p:ln'icipar d a negociação de senti-
sos. Forma particubr, porque se constró i difert!ntemente em cad a d o e m que consiste a prática discu rsiva . E isso ele faz com seu pró-
discurso, pelas modalidades do dizer, que depende m da si tuaçáo de prio dispositivo, que difici lmente coinc ide com o d o e missor, uma
comunicação, que é sempre singular. É atrJ.vés d o dispositivo de vez que dispositivo s são condic io nados, e ntre o utros fulores, pela
e nunciaç:.io que o su je ito e missor constrói a sua própria imagem e a culrura, posição social e interesses d e classe e institucionais dos sujei-
d o receptor, e propõe um modo d e relaç:i o e ntre eles. Verón adora o tOS e nunciadores. No caso específico das pr.í.ticas discu rsivas no
[e nno "COntr.J.to d e leitura~ para se referir aOS dis positivos de enuncia- me io rural , essa def.lsage m é acentuada não só pela estrurur.J. con-
ção d os discursos escritos. Creio, po ré m , que seria mais uma propos- cc mradora do direito de fa lar, como pela distância temporal emrc a
ta d e contmto , que o receptor assinaria apenas no mOmento da produção e consumo discursivos. Como a lerta Verón,
recepção. No caso dos ó rgãos da imprensa, que têm consu mo regular ( ... ) para QS dlsCII1'slJS cuja clrculaçliQ.r;o,uum o é diferida 0 /1 , por assim
por um público habiru al , pode-se taJvez falar em contrato , já que o re- dizer. existe a fungo prazo, "lio se potlc e$l/ltl!Cer li ma dlss/m etrla entclul
cepto r Lu: suas escolhas ao idt:nti6car-se o u n.'io com aque le d i... positi- e,llre c:undlÇÓ(!S l/eprrxil.çdu enm dfçóes l/e rccepçdo, 11m" ve.:prudu..-idu U
díscllr.F.J. em cm ltlições dClenlljlladas, ('StUf pe""allf!Cem e pcrml.mecemo
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discurso escrito que c ircula no me io rur.t.l, que não tem regularidade, "mio " a modiftca~'$e I"de/i"idameme. ( ...) Esse descompasso lIOda mais
ncm de circulação ncm dos modos d e dizer, carla aro de recepção ad- é do ql/eo prillçiplo lle cr.msll/ulçdo da história dos textos. O qlle é Impor-
tante reteréqllll a bls/6ria de 11111 Il'XfCJ OI' lle 11m cUlljullt(J lJe textos cmlSis-
mi te a dupla possibilidade da aceitação o u da rejeição d o contrato pro- te ,,"m processo de alterações sistemáticas. ao 10llRO do Ill/llfXJ blst6ricu.
posto. Por isto , fico mesmo com O lermo "dispositivO de e nuncia\--:lo". do sist e/lla de ~el(/ç6eselllre "gramática "deprudllçüu e "grlJ/IIálica" de re-
Fazem parte do dispositivO não só a organização textuaJ, in- collbeclml!'llu.~ ( 1980: 1(9)
cl ui.ndo imagens, cores, diagramação e o te.x tO escrito , mas também
Os diSpoSitivOs de enunciação con sisfe m , certam e nte , numa
O meio d e comun.icação escolhido , o (o nnato do material e o modo
te ntativa de estabilização d o sentido e nis to o sujeito e missor investe
de c irculação. Assim , uma canilha constrói imagens dis tintas d e uma
sua competê n cia discursiva, m as a n:llurcz:.1 d os discursos (poli fô ni-
apostii:J., a escolha do rádio produz sentidos difereOles da de um au-
diovisual , a distribuição de um jornal através do sindicato denota
concepções das re lações e papéis sociais diversas da e ntrega pelas
mãos d o re presentante da organização que o produziu .
29 Vc:ron US3 o Icrmogramárica como 1;!(luiYlIolcnlt::I di.~posil i\"o. Por OUtro b.do.
diSlinguc "wtY;a d e traço, o segundo ~ignHic:mdo:l marca qU:lndo illll;! rprC:l:lda
ocn tro d o disolrso.

IJ. ll7
l ..c~lIa Araujo A ""'Il>wersdo ,I" ulbt.r

0 , intertextual) e do p róprio sentido (abissal) faze m com que não impõe uma imagem de si , que v-di se refl etir no dispositivo de enunci-
haja qualquer garantia em relação a isso. ação, na cons tnlÇ"..Io do sujeito do enunciado.
Da noção d c palavr.l no mercado e da natureza singular dos , No momento do consumo discursivo, essa image m proposta
dispositivos de e nunciação decorre uma conseqüência metodológica. s:ra elemento relevante das cond ições de recepção. Daf decorre que
Trata-se do sentido diferencial dos discursos, o u seja: um texto ou dis- nao se pode p roced e r a um estudo d e recepção sem passar pela a ná-
curso não {'cm p ropriedades em si , e le se c,U'acteriz:t por aqui lo que o lise do dispositivO de enuncia~-ão d o emissor, sob pena de não se
diferenda de outros textos o u discursos que disputam o mesmo mer- compreender em profundidade alguns efeitos de sentido, limitan-
cado simbólico. Portanto , uma regra básica de um mélOdo que adote do-se a ver uma relação de causalidade entre fomla/conteúdo e rea-
esta premissa é confrontar e comparar: enu nciados, textos, discursos. ções d o receptor.
O princípio de explicação da diferença poderá ser e ncontrado nas for- . Das condições de recepçiio fdZCm pane também a posição so-
mações discursivas, sim , mas também ml posição social e na vincula- CI.al do recepto r, suas relações formais com a instituição que produz O
ção institucional dos emissores e dos receptores, nas estruturas dISCUrso e seus membros, a história d e suas leiruras anteriores elc.
organizacionais, nas idealiza«>Cs, nos processos de mediação, enfim , _ Sobre a p roduçio e a recepção exercem coerções as condi-
nas condições de produçâo, drculaçiio e consumo. çocs de circulação dos discursos, que poderiam ser tratadas como
Se quisemlOs escapar de uma semio logia imanentista, que processos de met.liação.3 1 As med iações são sociais dizem respeito
b ' .
se limita às fronteirAS materiais de um conjunto de textos, e praticar 50 retudo, a relações, mas e nvolvem também aspCCt·o s materiais
uma semio logia dos discursos sociais , temos que ter critérios de aná- como o tipo de transporte e distribuição. Adquirem relevo 3<lui ~
lise externos ao corpus, referentes a o uttas instâncias d o funciona- f~ml as de uso , de cerra forma inseparáveis d os processos de recep-
mento social . çao. O mesmo discurso, produzido origi nalme nte por um núcleo
Aos dementos extratextuais denominamos cond içócs de e~lissor , i~corpora sucessivos su jeitos enunciadores à medida que
produção, circulação ou consu mo , a depender do mo mento do pro- Circula . Nao é mais o mesmo discurso, funci o nando numa reun ião
cesso produtivo a que se refiram . Observe-se que '"extratCX"tual" não de um grupo d e mulheres, numa le itur:t solitária, num programa de
equivale a '"cxtradiscursivo", uma vez que os discursos, com preendi- rádio ou num evento de capacitação. Um d iscurso, múltiplas formas
dos como prátiC""d, englobam suas condições p rodutivas. Só há dis- de uso, mú ltiplos efeiros de sentido, múltiplos discursos. O conceito
cursos situados e essa é uma condição o nto lógica. A relação dos de circu lação d efine e descreve, então, o modo de relação corre os
discursos com a situação e m que e le ocorre é constitutiva dos efeitoS dispositivos de e nunciação do emissor e do receptor, fazendo parte
de sentJdo que polIc prot.luzir. d e u m t= de OUlro.
Das condições de produÇ""do fazem paJ"te o lugar social do Temos, pois, que a diferenças nos d ispositivos de enuncia-
emissor, as estruturas e riruais institucionais, a n:Hureza e as caracte- ção d os di.scursos correspondem diferenças na:; suas condições pro-
rísticas tec nológicas dos meios que veicubm os discursos, os recur- dutl~ . E remos, também, um pri ncípio teórico-metodológico:
sos disponíveis, a qualificação profissionaJ dos produtores, as relaCIOnar processos de produçiio a condições de produção. É a :ISSO-
relações políticas e sociais com os núcleos concorrentes, o momentO ciação desses d ois fatore:; , inseparáveis na prática semiológica, que
histórico ... Mas faz parte também a figura do receptor-modelo,30 isto definem o modo de produçáo do sentido .
é, o receptor idealizado pelo emissor. Essa idealiz..'ção não é sóespe· Eu dizia que a proposta metodológica de Verón implica
culativa, ou teórica, mas funda-se na história d:ls relações entre os numa teoria d a enunciação e uma pragmática da comunicação. De
dois pólos, mediatizadas por discursos anteriores, o nde o receptor
,. · .Medi .. çõcs~ é um concejlQ .. ind~ e m conSlru~-ão, adm ilindo mú ltipl2s poI&sibi-
,o Sobre o lc:iloroll l"et:eptOr-moddo, ver Umbcno Ec o , em LeClvr l"labll/a c em hdadl:S. O I:ofoquI: das ~ mt:dI3çõcs" e51:1. 00 ceOlm de loda uma correme d e
eSludos de rt:i.:~pç;io oa Amério lalioa.
IrIf~rpretaçiJQ ~ sllpcrim~rprcIQfii().

IJ' '"
l ..c~lIa Araujo A ""'Il>wersdo ,I" ulbt.r

0 , intertextual) e do p róprio sentido (abissal) faze m com que não impõe uma imagem de si , que v-di se refl etir no dispositivo de enunci-
haja qualquer garantia em relação a isso. ação, na cons tnlÇ"..Io do sujeito do enunciado.
Da noção d c palavr.l no mercado e da natureza singular dos , No momento do consumo discursivo, essa image m proposta
dispositivos de e nunciação decorre uma conseqüência metodológica. s:ra elemento relevante das cond ições de recepção. Daf decorre que
Trata-se do sentido diferencial dos discursos, o u seja: um texto ou dis- nao se pode p roced e r a um estudo d e recepção sem passar pela a ná-
curso não {'cm p ropriedades em si , e le se c,U'acteriz:t por aqui lo que o lise do dispositivO de enuncia~-ão d o emissor, sob pena de não se
diferenda de outros textos o u discursos que disputam o mesmo mer- compreender em profundidade alguns efeitos de sentido, limitan-
cado simbólico. Portanto , uma regra básica de um mélOdo que adote do-se a ver uma relação de causalidade entre fomla/conteúdo e rea-
esta premissa é confrontar e comparar: enu nciados, textos, discursos. ções d o receptor.
O princípio de explicação da diferença poderá ser e ncontrado nas for- . Das condições de recepçiio fdZCm pane também a posição so-
mações discursivas, sim , mas também ml posição social e na vincula- CI.al do recepto r, suas relações formais com a instituição que produz O
ção institucional dos emissores e dos receptores, nas estruturas dISCUrso e seus membros, a história d e suas leiruras anteriores elc.
organizacionais, nas idealiza«>Cs, nos processos de mediação, enfim , _ Sobre a p roduçio e a recepção exercem coerções as condi-
nas condições de produçâo, drculaçiio e consumo. çocs de circulação dos discursos, que poderiam ser tratadas como
Se quisemlOs escapar de uma semio logia imanentista, que processos de met.liação.3 1 As med iações são sociais dizem respeito
b ' .
se limita às fronteirAS materiais de um conjunto de textos, e praticar 50 retudo, a relações, mas e nvolvem também aspCCt·o s materiais
uma semio logia dos discursos sociais , temos que ter critérios de aná- como o tipo de transporte e distribuição. Adquirem relevo 3<lui ~
lise externos ao corpus, referentes a o uttas instâncias d o funciona- f~ml as de uso , de cerra forma inseparáveis d os processos de recep-
mento social . çao. O mesmo discurso, produzido origi nalme nte por um núcleo
Aos dementos extratextuais denominamos cond içócs de e~lissor , i~corpora sucessivos su jeitos enunciadores à medida que
produção, circulação ou consu mo , a depender do mo mento do pro- Circula . Nao é mais o mesmo discurso, funci o nando numa reun ião
cesso produtivo a que se refiram . Observe-se que '"extratCX"tual" não de um grupo d e mulheres, numa le itur:t solitária, num programa de
equivale a '"cxtradiscursivo", uma vez que os discursos, com preendi- rádio ou num evento de capacitação. Um d iscurso, múltiplas formas
dos como prátiC""d, englobam suas condições p rodutivas. Só há dis- de uso, mú ltiplos efeiros de sentido, múltiplos discursos. O conceito
cursos situados e essa é uma condição o nto lógica. A relação dos de circu lação d efine e descreve, então, o modo de relação corre os
discursos com a situação e m que e le ocorre é constitutiva dos efeitoS dispositivos de e nunciação do emissor e do receptor, fazendo parte
de sentJdo que polIc prot.luzir. d e u m t= de OUlro.
Das condições de produÇ""do fazem paJ"te o lugar social do Temos, pois, que a diferenças nos d ispositivos de enuncia-
emissor, as estruturas e riruais institucionais, a n:Hureza e as caracte- ção d os di.scursos correspondem diferenças na:; suas condições pro-
rísticas tec nológicas dos meios que veicubm os discursos, os recur- dutl~ . E remos, também, um pri ncípio teórico-metodológico:
sos disponíveis, a qualificação profissionaJ dos produtores, as relaCIOnar processos de produçiio a condições de produção. É a :ISSO-
relações políticas e sociais com os núcleos concorrentes, o momentO ciação desses d ois fatore:; , inseparáveis na prática semiológica, que
histórico ... Mas faz parte também a figura do receptor-modelo,30 isto definem o modo de produçáo do sentido .
é, o receptor idealizado pelo emissor. Essa idealiz..'ção não é sóespe· Eu dizia que a proposta metodológica de Verón implica
culativa, ou teórica, mas funda-se na história d:ls relações entre os numa teoria d a enunciação e uma pragmática da comunicação. De
dois pólos, mediatizadas por discursos anteriores, o nde o receptor
,. · .Medi .. çõcs~ é um concejlQ .. ind~ e m conSlru~-ão, adm ilindo mú ltipl2s poI&sibi-
,o Sobre o lc:iloroll l"et:eptOr-moddo, ver Umbcno Ec o , em LeClvr l"labll/a c em hdadl:S. O I:ofoquI: das ~ mt:dI3çõcs" e51:1. 00 ceOlm de loda uma correme d e
eSludos de rt:i.:~pç;io oa Amério lalioa.
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certa fo mla isto c! uma redundâ ncia, uma vezqueo enfoquecnuncia- Há vários tipos d e contcxrualizaçôes e não se deveria descar-
tivo pode se r visto como produto de uma "atitude pragmática". O ta r nenhum . O conceito "condiçócs d e produção" parece-me incluir
que e u estava que re ndo acentua r é a existê ncia de duas dime nsões um razoável elenco :
cooctcrminantes, a d o COlexto e a do contexto. Mas, par.!. uma me- • o contex to textual - o u COlexto - c O intertextual, já discuti-
lho r com p recnsão do funcio name nto do me rcado s imbólico, funda- d os nos posrulados a nte rio res: o diaJogismo e nt re os e nunciados de
me ntai nas tCl:ies d e Vemn e essência d o posrulado da economia um mesmo texto , e n tre textOS de um mesmo discurso, de uma mes-
política d o s ignifica nte, será necessário estende r-me sobre o lem a da ma formação o u d e o utras formações discu rsivas. Essas relaçôes são
prdgmá tica. mais que co-referenciais, são constitu tiv-AS da rede semiológica d e
produção d o sentid O e podem ser in fcridas peja análise d a po lifon ia;
• o contexto e:'dstemcial dos inrerlocut'Ores , s ua pos ição como
Á p.-tJgmúlictJ Cl,mw r e/af/lo de carwMIf/20 dos disclI.-sos
pessoas no mundo , s itu ados no tempO e no es paço e suas re lações
com o referente. Tr::msparece nos disposit ivos referenciais, tem pomis
fa la r de uma atitude pragmática me parece melhor do que e aspecruais (Pinto , 1994: cap o2 e 3) ;
falar de Pr'Jgmátka, tantO po r este termo des ignar uma p lunlidaJe • o contex to sifuaciolla /, ou seja, a posição social e instirucio-
d e abordagens (Pcirce , MorriS, Cllrnap, Wingenstein , Austin , Scarl e, na! dos interlocutores, o lugar social do qual e no qual eles participam
pant cil~lr alguns) como por estar semantizado negativame nte por da disputa de sentidos. O direilo de fa lar e a legitimidade do falar são
uma associação com s ubj e tivismos que, em tese, o põcm-se aos pos- determinados institucionalme nte e são ind issoci;lvcis da prática dis-
rulàdos d a interrexrualidade e da heterogeneidade discursivas, es- cu rsiva. Locutores inscrevem-se numa lopogr:lfia social que determi-
senciais â Semiolo gla d os DiscuCl:ioS Sociais . na seu d ispositivO d e enunciação, ao mesmo tempo e m que é por ele
Não vou aqui abordar as d iversas correntes pragmáticas. so· determinada_ O contexto siruacional estabelece o modo de relação
bre isso muito j:I se escrevcu .32 Pretendo apenas reter aquilo que me entre emissor e receptor e pode ser infe rido pela análise dos dispasici-
parece m:lis relevante e p:lSsível d e diálogo com a Teoria dos Discur- ,·os de modaliz:tção da e nunciação (Pinto, o p . cit. : C"dp . 4) ;
sos, na busca de compree nsão dos mecanismos de prooução dos • o cmltexto da ação d iscursiva ,,,li
buscar e m Austin e na teo-
sentidos nos p rocessos de intervenção social. ria d os "atos de raJa" a s ua justific ltiva: discu rso s não expressam
O discu rso é siruad o - isto é uma premissa - e seu s iste ma açôes - sáo açôes; o ato de discursar é cons titutivo dos efeitos de
produtivo é constitutivo d os efeitos que produz - is to é um princípio sentido . Por is to , a prática d iscursiv;1 pode ser e ntcndid:t como con-
teórico. Ao siSle ma produtivo pod e-se também d enominar co1/lex to , textO dos discu rsos. Oito dcss:1 fo nnõl , p:l rece muiro :Ibs rraro . Então,
termo caríssimo e fundam e ntal pam os defensores da Pragmálic:l, procuremos especi fi car melho r: ;1noção d e aiOS d e fala - o u d iscu rso
mas não enrendend o cal/text o como um conjunto de v.triávcis aUlô- como ação - s upõe interlocu tores e um con junto d e regras ou estra-
no mas moddizad oras dos discursos: os COnle"'1:OS são dinãmicos e tégias.33 Imp lanta, pois , a figura docon l.ratOc su põe um processo de
ao mcsmo tem po que mo ldam a fala por ela são moldados. ISlo é , os negociação . Nesse processo, entram em ccn:l :15 pressuposiçõcs: a
contextos d epende m da cons trução do sentido enlre os interlocuto- comunicação só é pOssível por meio de um jogo e m espiral d e pres-
res, do mesmo modo que os sentidos sofre m as coerçõcs d os cOnlex-
tos. Da í ser mais adequado fa lar em "contexrualizaçõcs" do que e m
"conlextO" (Parrel, 1988: 209).
33 Vou eonsider.lr aqui Ürcgn " 001110 equ lv-J. lt:l1tc ~ "cnr:ué gia"' , embora cie ntc de
que mui tOS autores faze m disti nção entre os doi~ tCmlOS: estratégl(/ teria uma
conotaç2o bem mais s\JbJellv-~ tio que r eg ra . No t:ntan«) , õlS rt'gms que podem
Uma abordagem lnlcl:l l c )ucintil. mas csduece dor-J. , pode ser enconlrad~ em ~cr JXrcc bidas co mo rcgul:irldadc5 discunlv-Js d o, no mcu cn tcnder. tr.ldu-
P:lrn:1 ( 1988). ç&s lingliís llcas de cstrJ.t':gias d05 sujeltOli Ind ividuais nu coletivos.

140 141
certa fo mla isto c! uma redundâ ncia, uma vezqueo enfoquecnuncia- Há vários tipos d e contcxrualizaçôes e não se deveria descar-
tivo pode se r visto como produto de uma "atitude pragmática". O ta r nenhum . O conceito "condiçócs d e produção" parece-me incluir
que e u estava que re ndo acentua r é a existê ncia de duas dime nsões um razoável elenco :
cooctcrminantes, a d o COlexto e a do contexto. Mas, par.!. uma me- • o contex to textual - o u COlexto - c O intertextual, já discuti-
lho r com p recnsão do funcio name nto do me rcado s imbólico, funda- d os nos posrulados a nte rio res: o diaJogismo e nt re os e nunciados de
me ntai nas tCl:ies d e Vemn e essência d o posrulado da economia um mesmo texto , e n tre textOS de um mesmo discurso, de uma mes-
política d o s ignifica nte, será necessário estende r-me sobre o lem a da ma formação o u d e o utras formações discu rsivas. Essas relaçôes são
prdgmá tica. mais que co-referenciais, são constitu tiv-AS da rede semiológica d e
produção d o sentid O e podem ser in fcridas peja análise d a po lifon ia;
• o contexto e:'dstemcial dos inrerlocut'Ores , s ua pos ição como
Á p.-tJgmúlictJ Cl,mw r e/af/lo de carwMIf/20 dos disclI.-sos
pessoas no mundo , s itu ados no tempO e no es paço e suas re lações
com o referente. Tr::msparece nos disposit ivos referenciais, tem pomis
fa la r de uma atitude pragmática me parece melhor do que e aspecruais (Pinto , 1994: cap o2 e 3) ;
falar de Pr'Jgmátka, tantO po r este termo des ignar uma p lunlidaJe • o contex to sifuaciolla /, ou seja, a posição social e instirucio-
d e abordagens (Pcirce , MorriS, Cllrnap, Wingenstein , Austin , Scarl e, na! dos interlocutores, o lugar social do qual e no qual eles participam
pant cil~lr alguns) como por estar semantizado negativame nte por da disputa de sentidos. O direilo de fa lar e a legitimidade do falar são
uma associação com s ubj e tivismos que, em tese, o põcm-se aos pos- determinados institucionalme nte e são ind issoci;lvcis da prática dis-
rulàdos d a interrexrualidade e da heterogeneidade discursivas, es- cu rsiva. Locutores inscrevem-se numa lopogr:lfia social que determi-
senciais â Semiolo gla d os DiscuCl:ioS Sociais . na seu d ispositivO d e enunciação, ao mesmo tempo e m que é por ele
Não vou aqui abordar as d iversas correntes pragmáticas. so· determinada_ O contexto siruacional estabelece o modo de relação
bre isso muito j:I se escrevcu .32 Pretendo apenas reter aquilo que me entre emissor e receptor e pode ser infe rido pela análise dos dispasici-
parece m:lis relevante e p:lSsível d e diálogo com a Teoria dos Discur- ,·os de modaliz:tção da e nunciação (Pinto, o p . cit. : C"dp . 4) ;
sos, na busca de compree nsão dos mecanismos de prooução dos • o cmltexto da ação d iscursiva ,,,li
buscar e m Austin e na teo-
sentidos nos p rocessos de intervenção social. ria d os "atos de raJa" a s ua justific ltiva: discu rso s não expressam
O discu rso é siruad o - isto é uma premissa - e seu s iste ma açôes - sáo açôes; o ato de discursar é cons titutivo dos efeitos de
produtivo é constitutivo d os efeitos que produz - is to é um princípio sentido . Por is to , a prática d iscursiv;1 pode ser e ntcndid:t como con-
teórico. Ao siSle ma produtivo pod e-se também d enominar co1/lex to , textO dos discu rsos. Oito dcss:1 fo nnõl , p:l rece muiro :Ibs rraro . Então,
termo caríssimo e fundam e ntal pam os defensores da Pragmálic:l, procuremos especi fi car melho r: ;1noção d e aiOS d e fala - o u d iscu rso
mas não enrendend o cal/text o como um conjunto de v.triávcis aUlô- como ação - s upõe interlocu tores e um con junto d e regras ou estra-
no mas moddizad oras dos discursos: os COnle"'1:OS são dinãmicos e tégias.33 Imp lanta, pois , a figura docon l.ratOc su põe um processo de
ao mcsmo tem po que mo ldam a fala por ela são moldados. ISlo é , os negociação . Nesse processo, entram em ccn:l :15 pressuposiçõcs: a
contextos d epende m da cons trução do sentido enlre os interlocuto- comunicação só é pOssível por meio de um jogo e m espiral d e pres-
res, do mesmo modo que os sentidos sofre m as coerçõcs d os cOnlex-
tos. Da í ser mais adequado fa lar em "contexrualizaçõcs" do que e m
"conlextO" (Parrel, 1988: 209).
33 Vou eonsider.lr aqui Ürcgn " 001110 equ lv-J. lt:l1tc ~ "cnr:ué gia"' , embora cie ntc de
que mui tOS autores faze m disti nção entre os doi~ tCmlOS: estratégl(/ teria uma
conotaç2o bem mais s\JbJellv-~ tio que r eg ra . No t:ntan«) , õlS rt'gms que podem
Uma abordagem lnlcl:l l c )ucintil. mas csduece dor-J. , pode ser enconlrad~ em ~cr JXrcc bidas co mo rcgul:irldadc5 discunlv-Js d o, no mcu cn tcnder. tr.ldu-
P:lrn:1 ( 1988). ç&s lingliís llcas de cstrJ.t':gias d05 sujeltOli Ind ividuais nu coletivos.

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I ,,,'sita Araujo A rocm,,,,,r;U!n li.. flIIH'"

suposiçóes - que se confirmarão ou não - entre os interlocutores e é a b ase da práxis discursiva. Ce,ra dlSCllrsllJ(l nomeia as posições
que remetem para os O UITOS tipos de contexto. que os atores ocupam no plano do discurso, por meio dos disJXlSitivos
A averiguação e explicitação dos pressupostos contextuais de cnundação" (1995: 177) . As duas instâncias cênicas estão profun-
d a enunciação, <tue consliruem o sentido intencional e ntre do is in· da e inevita\'elmente interligadas c separá·las seria uma arbitrarieda-
terlocuto res. compõem a prngmática da comunicação. de, só justificada num primeiro mo me nto da a nálise discursiva, para
Isso nos leva a pen:eber o fenômeno da compreensão - ccn· uma melhor compreensão dos componemes d e uma d ada prntica de
tr.LI par.!. todos que t'ê m inte resse nas práticas discur,sivas - como linguagem. Lugares sociais só existe m po r e alr.lvés de lugarcs dis-
um:! habilidad e de cont'extualizar, ou de faze r contextualizações, rursh'os. I'or outro lado. quando um falante e nuncia, inscn::"e-se s0-
quando nos modelos mldicionais ele está ligado à capacidade de de· bre uma ordenação social já existente . "Cada um alcança sua identida-
codi ficaç ao. de a partir e no inte rior de um s istema de lugares que o ultnlpassa"
F:tlci em sentido inte ncional. Existe, sim, o nível imencion a l (Maingueneau,1993: 32-33). Ames de fa la r, o ralante já encomnl um
do discurso, a inte nção de comunicar alguma coisa a alguém . Mas lugar institucional, mas esse lugar é definido pela pr.ítica discursiva.
isso não d eve ser confundido com uma abordagem subjetivista dos Em outras pahtvras: o lugar discursivo preexiste ao ala de fala, mas a
discursos. A<; regras que regem nosso comportamento aparenreme n- e nunciação nde intervém, através de sua confinnaçâo, negação, alte ra-
le intencio nal pressupõem insthuições a lhes dar sentido , como nos çã.o, ou mesmo modificando radicalmente seu estatuto.
ensino u Searle . Há um ritual institucional, preestabelecido, implíci- Esta premissa teórica é fundamenta l para a análise das práti-
tO e m todos os :1I0S de rala. A tomada da paJavr.t é um rirual insritucio- cas discursivas na inreIVenção socia l, devido ao fato de os núcleos
nal e está inidahncntc dct'crnlinada pela nossa posição na ropogmfia concorrenles tentarem construir, no nível mais consciente da retóri-
social, o que nos remete d e volta ao contexto situacional, pard reto- ca, uma image m dos papéis e das relaçõcs sociais que nem sempre
mar uma idéia aqui apenas introd u:.dda : a de cena social e ce"a correspondem à eslruOJr:t social. No nível mais inconscie nte, que a
enunciativa. análise e m profundidade do dispositivo de e nunciação faz emergir, os
A palavra "cena", a Semiologia foi buscá-Ia nos domínios da lugares tendem a se confirmar (tal asscruva SÓ é possível aqui pelo res-
dramaturgia, uma d as referências da Pragmática (as o utras sã.o o re- paldo de U'3.balhos d c..."Scn\'olvidos por mim anterionnente) . Ambos os
gistro jurldico e o d o jogo) . Pre tendo utilizá-Ia aqui sem me sentir níve is rnzem pane das condições de recepção d os discursos e é ali,
o brigada a admitir que a prática discur.:;iva é uma encenaç-.Io, no sen - por intermédio d os efeitos d e sentido que produzem , que se dá o
tido que os atores apenas re presenta riam papéis estabelecidos pe los io~o de podcc que permeia e move a socied :lde .
textoS ou pressupor que a e ncenação discursiva seja apenas uma re- As relações entre discurso e poder são cruciais para o pre-
presentação da realidade, que já estaria dada. Antes, mantenho a no- sem e estudo . Po r isto. mes mo considerando que cI:tS integram o
ção de negociação e de disputa social do sentido através d os conjunto de Idéias que confo rmam o postulado d a econo mia políti-
discursos, mais próxima da idé ia de jogo (ou de combate) . Ocorre. ca do s ignificante, abro a seguir um tÓpico especial para algumas re-
porém, que a opção terminológica pela "cena" permite perceber flexões em torno do tema, que c ulminarão com uma síntese d os trés
com mais clareza a CodCternl inação dos lugares sociais (cena social postulados.
ou siluacional) e das posições emUlciativas (cena cnunciativa) dos
agentes, mostrando como as práticas de linguagem são ao mes mo Discurso >li potlcr
tempo constituídas pelos c constitutivdS dos grupos sociais.
Como já afimlci em OUIro espaço, "cena social ê a topogra-
fia social , d esigna os lugares ocupados pelos atores sociais, lugares Conciliar a postum pr.lgmática que privilegia a inte ncion ali-
que são definidos histó rica , cu ltural e discursivamente. A cena social dade nacomunicação com o descentramemo dos sujeitOS derendido

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I ,,,'sita Araujo A rocm,,,,,r;U!n li.. flIIH'"

suposiçóes - que se confirmarão ou não - entre os interlocutores e é a b ase da práxis discursiva. Ce,ra dlSCllrsllJ(l nomeia as posições
que remetem para os O UITOS tipos de contexto. que os atores ocupam no plano do discurso, por meio dos disJXlSitivos
A averiguação e explicitação dos pressupostos contextuais de cnundação" (1995: 177) . As duas instâncias cênicas estão profun-
d a enunciação, <tue consliruem o sentido intencional e ntre do is in· da e inevita\'elmente interligadas c separá·las seria uma arbitrarieda-
terlocuto res. compõem a prngmática da comunicação. de, só justificada num primeiro mo me nto da a nálise discursiva, para
Isso nos leva a pen:eber o fenômeno da compreensão - ccn· uma melhor compreensão dos componemes d e uma d ada prntica de
tr.LI par.!. todos que t'ê m inte resse nas práticas discur,sivas - como linguagem. Lugares sociais só existe m po r e alr.lvés de lugarcs dis-
um:! habilidad e de cont'extualizar, ou de faze r contextualizações, rursh'os. I'or outro lado. quando um falante e nuncia, inscn::"e-se s0-
quando nos modelos mldicionais ele está ligado à capacidade de de· bre uma ordenação social já existente . "Cada um alcança sua identida-
codi ficaç ao. de a partir e no inte rior de um s istema de lugares que o ultnlpassa"
F:tlci em sentido inte ncional. Existe, sim, o nível imencion a l (Maingueneau,1993: 32-33). Ames de fa la r, o ralante já encomnl um
do discurso, a inte nção de comunicar alguma coisa a alguém . Mas lugar institucional, mas esse lugar é definido pela pr.ítica discursiva.
isso não d eve ser confundido com uma abordagem subjetivista dos Em outras pahtvras: o lugar discursivo preexiste ao ala de fala, mas a
discursos. A<; regras que regem nosso comportamento aparenreme n- e nunciação nde intervém, através de sua confinnaçâo, negação, alte ra-
le intencio nal pressupõem insthuições a lhes dar sentido , como nos çã.o, ou mesmo modificando radicalmente seu estatuto.
ensino u Searle . Há um ritual institucional, preestabelecido, implíci- Esta premissa teórica é fundamenta l para a análise das práti-
tO e m todos os :1I0S de rala. A tomada da paJavr.t é um rirual insritucio- cas discursivas na inreIVenção socia l, devido ao fato de os núcleos
nal e está inidahncntc dct'crnlinada pela nossa posição na ropogmfia concorrenles tentarem construir, no nível mais consciente da retóri-
social, o que nos remete d e volta ao contexto situacional, pard reto- ca, uma image m dos papéis e das relaçõcs sociais que nem sempre
mar uma idéia aqui apenas introd u:.dda : a de cena social e ce"a correspondem à eslruOJr:t social. No nível mais inconscie nte, que a
enunciativa. análise e m profundidade do dispositivo de e nunciação faz emergir, os
A palavra "cena", a Semiologia foi buscá-Ia nos domínios da lugares tendem a se confirmar (tal asscruva SÓ é possível aqui pelo res-
dramaturgia, uma d as referências da Pragmática (as o utras sã.o o re- paldo de U'3.balhos d c..."Scn\'olvidos por mim anterionnente) . Ambos os
gistro jurldico e o d o jogo) . Pre tendo utilizá-Ia aqui sem me sentir níve is rnzem pane das condições de recepção d os discursos e é ali,
o brigada a admitir que a prática discur.:;iva é uma encenaç-.Io, no sen - por intermédio d os efeitos d e sentido que produzem , que se dá o
tido que os atores apenas re presenta riam papéis estabelecidos pe los io~o de podcc que permeia e move a socied :lde .
textoS ou pressupor que a e ncenação discursiva seja apenas uma re- As relações entre discurso e poder são cruciais para o pre-
presentação da realidade, que já estaria dada. Antes, mantenho a no- sem e estudo . Po r isto. mes mo considerando que cI:tS integram o
ção de negociação e de disputa social do sentido através d os conjunto de Idéias que confo rmam o postulado d a econo mia políti-
discursos, mais próxima da idé ia de jogo (ou de combate) . Ocorre. ca do s ignificante, abro a seguir um tÓpico especial para algumas re-
porém, que a opção terminológica pela "cena" permite perceber flexões em torno do tema, que c ulminarão com uma síntese d os trés
com mais clareza a CodCternl inação dos lugares sociais (cena social postulados.
ou siluacional) e das posições emUlciativas (cena cnunciativa) dos
agentes, mostrando como as práticas de linguagem são ao mes mo Discurso >li potlcr
tempo constituídas pelos c constitutivdS dos grupos sociais.
Como já afimlci em OUIro espaço, "cena social ê a topogra-
fia social , d esigna os lugares ocupados pelos atores sociais, lugares Conciliar a postum pr.lgmática que privilegia a inte ncion ali-
que são definidos histó rica , cu ltural e discursivamente. A cena social dade nacomunicação com o descentramemo dos sujeitOS derendido

'<2 '"
-
1.."s/taANlújo

pelas teorias do dLo;curso requer, como tentei mostrar, que se consi- do capital simbólico dos agemes34 e inst.ituições envolvidos. E o capi-
derem as instiruiçôes e seus rituais como elementos-chave na consti- tal simbólico nada mais é que o capital econômico, o cultural e o so-
tuição do sentido. cial quando recoMeodos como legítimos.35 Estamos, então,
Por um lado, a enunciação submete o falante às suas regras, falando do Poder Simbólico, poder dos discursos de mamer o u sub-
ela o assujeita, coloca-o numa posição. POr outro, lhe dá legitimida- verter a o rdem, poder que é produzido pela "crença na legitimidade
de ao lhe conferir uma autoridade vinculada a esse lugar. Por outro, das palavr.tS e daqueles que a pronunciam " (Bourdje u , 1989: 15) .
ai~da, as regras são detemlinadas socialmeme peja posição instirudo- Mas um poder que não pode sercons idel.ldo de fo rma desvincu lada
nal do falante , Q que torna pertinentes as questões de Foucau lt: das e stnlturas materiais e insti tucionais da sociedade.
Foucault, na citação anterior, menciona o direito "juridica-
Q uem fala? Quem , no "mjrm lO de todoy os sujei/os falantes, tem boas
razóes para terena espécie de UII8uageml Q uem é seul /lular? Qu em re-
mente d e finido ou espontaneamente aceito" de enunciar um dado
cehe dela sua sing ula ridade. seus encantos, e de quem , em troca, rece- discu rso. O que está em jogo aqui é o binômio legalidadcJ1egitimida-
be, sellão sua garantia, pelo me/lOs Q presullçilo de que é verdadeira? de, ambos p re se ntes nas instâncias discursivas. A posição institucio-
Qual li o 5taIUS dos indivídu os que têm -e apenas eles - (.I direito regula-
m(mtar ()" tradicional, j uridicam ente definido O I( espontaneamente
nal do agenre por vezes lhe confere o direito legal de falar. É o caso,
aceito de pmferir seme/hallte discurso' ( 1986: 57). por exemplo , do representante da agência estatal responsável por
um programa de crédito o u de um bispo da Igreja Católic a, cujos ca-
ConsidelJ.ndo a tese bakthiniana de que as relações ideoló- pitais cu ltur.t.l e social são consideráveis. Mas essa fala não é necessa-
gicas e d e poder se dão no centro vivo do discurso, a questão passa a riamente legitimada por seu s inte rlocutores, ela depende do capital
ser: que instâncias institucionais e relações sociais legitimam uma s imbólico. A legitimidade discursiva é determinada por o utros fato-
fala e conferem poder ao seu titular? O discurso de um camponês res alé m da posição social e institucional e do poder econômico e so-
nao tem a mesma import:lncia - e não exerce os m esmos efeitos de cial dos falante s. Passa por interesses individuais, grupais e de classe
sentido -que o de um empresário, que, por sua vez, difere do d e u m (contexto existencial) , pela história das relações institucionais ante-
po lítico ou de um professor. A mesma palavra, dita por cada um des- riores e pela forma de m ediação discursiva (contexto situacional) ,
ses atores, nao é mais a mesma palavra. A essas diferentes lingua- pela concorrência de outr.tS falas (contexto interrextual) ... É o reco-
gens, que emanam de pessoas d e diferentes classes, gerAções, nhecimento d e um discurso como legítimo, pelos receptores, que
gênero, lugares e em difere ntes posições institucionais, Bakthin de- instaura as relações de poder que lhe são inerentes.
nominou be/erogloss;a vozes que competem pelo predomínio dis- Verón trabalha com essa perspectiva, ao distinguir poder de
cursivo. Ao conj unto de regras que rege m a intcfl.lçao desses vários ideologia . Entende e le que , na medida em que os e fe itos de sentido
discursos, e le chamou ta/o , conceito que evoca as relaçóes implícitas produzidos pelos discursos sofrem coerções da prática social, não se
de poder entre os interlocutores, uma vez que tomar a palavra é par- pode fugir às questócs rdativas ao ideológico e ao poder. No entan-
ticipar auto maticamente do jogo de poder. to, estas duas categorias são para de dimensões de análise, ind ispen-
Há muitas maneiras de se trataras rel.;lçõcs entre d iscurso e p0- sáveis à compreensão da produção e reprodução do fundona.mento
der, instâncias cu ja indissociaç-do parece consensual no meio dos se-
miólogos: p:ml uns, as instâncias discursivas são prodUIO, para outros
34 80rdicu não apreci a o tenno "sujeitO" por lhe parcccr c\'ocar u m nivc l de
C"d.usa e para outros são a própria essência constitutiva do pod e r. Nesse eonsciê neia que d c rt:c us~. "Agente é a palavra que lh e soa mais adcquada ~
último grupo, incluo-me , embora tal concepção necessite ser mais ex- sua visão inMitu cional das rdações sociais. Aqui utilizo ambos como .~inÕni_
plicitada, pois traz o risco de ser interpretada como uma postur.t radical m os, assim co mo "ator". O tcrmo " sujeito~ obté m exclusividad e quando no
quadro do aparelho fo nnal d:.. enunciaçâo.
que reduz as relações de força na sociedade a relações de comunicação
(ou discursivas). Com Bourdieu, penso que relações de comunicação 35 O capital cu ttural apresent:I'J;C na ro nna d e lindos ou bens culturais, ou como
disposiçÕ0e5 duráveis, induindo Ou t:ncia verbal, gos{Q, boas maneiras, Ungua·
são, de m odo inseparável, relações de poder, sim, mas que dependem gem etc. O social refere·se i.~ rclaçôcs soc;~ is .

144 14S
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1.."s/taANlújo

pelas teorias do dLo;curso requer, como tentei mostrar, que se consi- do capital simbólico dos agemes34 e inst.ituições envolvidos. E o capi-
derem as instiruiçôes e seus rituais como elementos-chave na consti- tal simbólico nada mais é que o capital econômico, o cultural e o so-
tuição do sentido. cial quando recoMeodos como legítimos.35 Estamos, então,
Por um lado, a enunciação submete o falante às suas regras, falando do Poder Simbólico, poder dos discursos de mamer o u sub-
ela o assujeita, coloca-o numa posição. POr outro, lhe dá legitimida- verter a o rdem, poder que é produzido pela "crença na legitimidade
de ao lhe conferir uma autoridade vinculada a esse lugar. Por outro, das palavr.tS e daqueles que a pronunciam " (Bourdje u , 1989: 15) .
ai~da, as regras são detemlinadas socialmeme peja posição instirudo- Mas um poder que não pode sercons idel.ldo de fo rma desvincu lada
nal do falante , Q que torna pertinentes as questões de Foucau lt: das e stnlturas materiais e insti tucionais da sociedade.
Foucault, na citação anterior, menciona o direito "juridica-
Q uem fala? Quem , no "mjrm lO de todoy os sujei/os falantes, tem boas
razóes para terena espécie de UII8uageml Q uem é seul /lular? Qu em re-
mente d e finido ou espontaneamente aceito" de enunciar um dado
cehe dela sua sing ula ridade. seus encantos, e de quem , em troca, rece- discu rso. O que está em jogo aqui é o binômio legalidadcJ1egitimida-
be, sellão sua garantia, pelo me/lOs Q presullçilo de que é verdadeira? de, ambos p re se ntes nas instâncias discursivas. A posição institucio-
Qual li o 5taIUS dos indivídu os que têm -e apenas eles - (.I direito regula-
m(mtar ()" tradicional, j uridicam ente definido O I( espontaneamente
nal do agenre por vezes lhe confere o direito legal de falar. É o caso,
aceito de pmferir seme/hallte discurso' ( 1986: 57). por exemplo , do representante da agência estatal responsável por
um programa de crédito o u de um bispo da Igreja Católic a, cujos ca-
ConsidelJ.ndo a tese bakthiniana de que as relações ideoló- pitais cu ltur.t.l e social são consideráveis. Mas essa fala não é necessa-
gicas e d e poder se dão no centro vivo do discurso, a questão passa a riamente legitimada por seu s inte rlocutores, ela depende do capital
ser: que instâncias institucionais e relações sociais legitimam uma s imbólico. A legitimidade discursiva é determinada por o utros fato-
fala e conferem poder ao seu titular? O discurso de um camponês res alé m da posição social e institucional e do poder econômico e so-
nao tem a mesma import:lncia - e não exerce os m esmos efeitos de cial dos falante s. Passa por interesses individuais, grupais e de classe
sentido -que o de um empresário, que, por sua vez, difere do d e u m (contexto existencial) , pela história das relações institucionais ante-
po lítico ou de um professor. A mesma palavra, dita por cada um des- riores e pela forma de m ediação discursiva (contexto situacional) ,
ses atores, nao é mais a mesma palavra. A essas diferentes lingua- pela concorrência de outr.tS falas (contexto interrextual) ... É o reco-
gens, que emanam de pessoas d e diferentes classes, gerAções, nhecimento d e um discurso como legítimo, pelos receptores, que
gênero, lugares e em difere ntes posições institucionais, Bakthin de- instaura as relações de poder que lhe são inerentes.
nominou be/erogloss;a vozes que competem pelo predomínio dis- Verón trabalha com essa perspectiva, ao distinguir poder de
cursivo. Ao conj unto de regras que rege m a intcfl.lçao desses vários ideologia . Entende e le que , na medida em que os e fe itos de sentido
discursos, e le chamou ta/o , conceito que evoca as relaçóes implícitas produzidos pelos discursos sofrem coerções da prática social, não se
de poder entre os interlocutores, uma vez que tomar a palavra é par- pode fugir às questócs rdativas ao ideológico e ao poder. No entan-
ticipar auto maticamente do jogo de poder. to, estas duas categorias são para de dimensões de análise, ind ispen-
Há muitas maneiras de se trataras rel.;lçõcs entre d iscurso e p0- sáveis à compreensão da produção e reprodução do fundona.mento
der, instâncias cu ja indissociaç-do parece consensual no meio dos se-
miólogos: p:ml uns, as instâncias discursivas são prodUIO, para outros
34 80rdicu não apreci a o tenno "sujeitO" por lhe parcccr c\'ocar u m nivc l de
C"d.usa e para outros são a própria essência constitutiva do pod e r. Nesse eonsciê neia que d c rt:c us~. "Agente é a palavra que lh e soa mais adcquada ~
último grupo, incluo-me , embora tal concepção necessite ser mais ex- sua visão inMitu cional das rdações sociais. Aqui utilizo ambos como .~inÕni_
plicitada, pois traz o risco de ser interpretada como uma postur.t radical m os, assim co mo "ator". O tcrmo " sujeito~ obté m exclusividad e quando no
quadro do aparelho fo nnal d:.. enunciaçâo.
que reduz as relações de força na sociedade a relações de comunicação
(ou discursivas). Com Bourdieu, penso que relações de comunicação 35 O capital cu ttural apresent:I'J;C na ro nna d e lindos ou bens culturais, ou como
disposiçÕ0e5 duráveis, induindo Ou t:ncia verbal, gos{Q, boas maneiras, Ungua·
são, de m odo inseparável, relações de poder, sim, mas que dependem gem etc. O social refere·se i.~ rclaçôcs soc;~ is .

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lndllaA~aújo

de uma sociedade. Esta é uma visada que exclui aquelas outras que o u de transformar a visão do mundo e , deste modo, a ação sobre o
percebem o id eológico e o poder como coisas ou instâncias com um mundo, portanto o m undo ~ . (1989: 14)
lugar determinado na "topografia social", como um repenório de É po.- esta característica d e constituir o real por meio de
conteúdos, ocuhação/deformação d o real, ou como no me d e um princípios de classificação d esse real que se pode fal ar em poder do
tipo de con junto significa llle. Em conseqüência, re jeita as idéias d e texto. Observe-se que esta mos aqui tratando de uma forma transfigu-
"discu rso ideo lógico" e "prática ideológica". rada de outras fo rmas de poder e, por isto, muito mais eficaz. Como
Considerá-los dimensões de análise significa dizer que todo afirmei antes , no domínio do sim bólico os alaS de força conver-
fenômeno social é suscetível de ser "lido" em relação ao ideológico e tem-se em atos d e forma e revestem-se de uma aparência d e naturali-
ao pode r, mas não que se possa reduzir tudo ã dinâmic-.t do poclerou d ade, do que já nos advertia Banhes, preocupado com a pcrperuação
afirma.-que tudo é ideológico. O ideológico, de fe nde Veron , re lacio- da "inconsciência d os seres falantes com relação às suas verdadeiras
na-se às "condições de produç-:io" dos d iscursos sociais. Configu- condições de fa la" ( 1992 : 58) . Sistemas de classificação, que no fun -
ra-se como "um sistema de re lações e ntre um con junto significante do são políticos, apresentam-se sob outras formas, acei tas como na-
dado e suas condições sociais de produção". O poder concerne aos turais (como a fil osofi a, a religião, o direito, a educação). Dessa
"efeitos discursivos", diz respeito às gramáticas de reconhecime nto, fo rm a, "os sis temas simbólicos devem sua força ao fato das relações
ao "consu mo discursivo". Um pode ser apreendido na análise da de força que n ele se exprime m s6 se manifestarem nelas e m forma ir-
produção, outro na anáJ ise dos processos d e recepção dos discursos. reconbecível de relações de sentido" (Bourdieu , op . cit.: 14) .
O nde houver um sentido produzido, no qual as condições sociais de Entrelanto, não se deve confu ndir a "relação de poder como
produção ou recepção tenham de ixado traços, aí estará o domínio relação de sentido" (efe ito ideológico a que se refere Bourdieu) com
do ideológico e do poder. a "relação de sentido como relação de poder~. A primeira perspecti-
As relações d e poder e ntre inte rlocutores são, assim, deter- va reduz o afrontamento social à "fo rma apaziguada e platônica da
minadas pela fomla como os d ispositivos de e nunciação são reco- linguagem e do diálogo" e nâo permite dar conta da "imeligibilidade
nhecidos e consumidos. Ao reconhecer-se no sujeito do enunciado intrinseca dos confrontos", to mando as palavras de FouC"J.ult (1982:
o u nos en unciadores de um texto, ao sentir-se idenrificado com a 75). Esta só pode ser entendida na ótica de uma semio logia rigida-
cultura ali expressa, ao acatar as imagens que o emissor lhe propõe, mente estruturalista e na concepção de linguagem como espaço de
o receptor aceita as regras do logo e fica sob o poder do texto. Isto interação. A segunda pers pectiva parte da concepção de linguage m
ocorre na razão direta do capital si mbólico do emissor.
como arena d e confrontos sociais e cons idera que as relações de sen-
O que significa, e". u amcn te, estar soh o poder d e um texto?
tido s:l.o pane essencial na COnStituição das relaçóes de poder.
Segu ndo Bourdieu , a luta pelo poder é a luta pela imposiçio das ca-
Este último modo de pensar a relação discurso-pode.- traz
tego rias de percepção dest'e mundo. Isto se faz, naruralmente, pela
s ubjacente duas concepções. Uma, a do espaço social como um es-
via dos discursos. Entende ele que formas de classificação são formas
sociais arbitrária e socialmente determinadas. As dasses 36 disputam paço multidime ns ional de relações, organ izados em campos relati-
entre si o direito de prevalê ncia de suas próprias ta.xionom ias, dispu- vamente autônomos, cujos limites d evem ser entendidos como o
tam o poder s imbólico, que é , em ú lti ma análise, "o poder de consti- limite dos seu s efeitos, uma vez que os agentes sociais (indivíduos
tuir o dado pela e nu nciação, de fazer ver e fol2er c.-er, de confirmar ou instituições) faze m parte de um campo (ou de vários) se nele pro-
duzem o u sofrem efeitos (Bourdie u, 1989: 152-3) .
Outra, a que caracleriza o poder como uma "rede produtiva"
que penneia todo o corpo social e que não se mantém pela repres-
Classes são aqui e:nteodld:u como conluntos de age:mes que: companllha rn :u são, mas por produzir coisas, saber e prazer. Nos tCmlOS de Foucault,
rnc:smas condiçôa t:}[1e:rn:lli de: \'id~ e: ;I,lj rncsmõlS n::pn:scnuçõcs quantO ~ 5U;l
posiçio social

... ."
lndllaA~aújo

de uma sociedade. Esta é uma visada que exclui aquelas outras que o u de transformar a visão do mundo e , deste modo, a ação sobre o
percebem o id eológico e o poder como coisas ou instâncias com um mundo, portanto o m undo ~ . (1989: 14)
lugar determinado na "topografia social", como um repenório de É po.- esta característica d e constituir o real por meio de
conteúdos, ocuhação/deformação d o real, ou como no me d e um princípios de classificação d esse real que se pode fal ar em poder do
tipo de con junto significa llle. Em conseqüência, re jeita as idéias d e texto. Observe-se que esta mos aqui tratando de uma forma transfigu-
"discu rso ideo lógico" e "prática ideológica". rada de outras fo rmas de poder e, por isto, muito mais eficaz. Como
Considerá-los dimensões de análise significa dizer que todo afirmei antes , no domínio do sim bólico os alaS de força conver-
fenômeno social é suscetível de ser "lido" em relação ao ideológico e tem-se em atos d e forma e revestem-se de uma aparência d e naturali-
ao pode r, mas não que se possa reduzir tudo ã dinâmic-.t do poclerou d ade, do que já nos advertia Banhes, preocupado com a pcrperuação
afirma.-que tudo é ideológico. O ideológico, de fe nde Veron , re lacio- da "inconsciência d os seres falantes com relação às suas verdadeiras
na-se às "condições de produç-:io" dos d iscursos sociais. Configu- condições de fa la" ( 1992 : 58) . Sistemas de classificação, que no fun -
ra-se como "um sistema de re lações e ntre um con junto significante do são políticos, apresentam-se sob outras formas, acei tas como na-
dado e suas condições sociais de produção". O poder concerne aos turais (como a fil osofi a, a religião, o direito, a educação). Dessa
"efeitos discursivos", diz respeito às gramáticas de reconhecime nto, fo rm a, "os sis temas simbólicos devem sua força ao fato das relações
ao "consu mo discursivo". Um pode ser apreendido na análise da de força que n ele se exprime m s6 se manifestarem nelas e m forma ir-
produção, outro na anáJ ise dos processos d e recepção dos discursos. reconbecível de relações de sentido" (Bourdieu , op . cit.: 14) .
O nde houver um sentido produzido, no qual as condições sociais de Entrelanto, não se deve confu ndir a "relação de poder como
produção ou recepção tenham de ixado traços, aí estará o domínio relação de sentido" (efe ito ideológico a que se refere Bourdieu) com
do ideológico e do poder. a "relação de sentido como relação de poder~. A primeira perspecti-
As relações d e poder e ntre inte rlocutores são, assim, deter- va reduz o afrontamento social à "fo rma apaziguada e platônica da
minadas pela fomla como os d ispositivos de e nunciação são reco- linguagem e do diálogo" e nâo permite dar conta da "imeligibilidade
nhecidos e consumidos. Ao reconhecer-se no sujeito do enunciado intrinseca dos confrontos", to mando as palavras de FouC"J.ult (1982:
o u nos en unciadores de um texto, ao sentir-se idenrificado com a 75). Esta só pode ser entendida na ótica de uma semio logia rigida-
cultura ali expressa, ao acatar as imagens que o emissor lhe propõe, mente estruturalista e na concepção de linguagem como espaço de
o receptor aceita as regras do logo e fica sob o poder do texto. Isto interação. A segunda pers pectiva parte da concepção de linguage m
ocorre na razão direta do capital si mbólico do emissor.
como arena d e confrontos sociais e cons idera que as relações de sen-
O que significa, e". u amcn te, estar soh o poder d e um texto?
tido s:l.o pane essencial na COnStituição das relaçóes de poder.
Segu ndo Bourdieu , a luta pelo poder é a luta pela imposiçio das ca-
Este último modo de pensar a relação discurso-pode.- traz
tego rias de percepção dest'e mundo. Isto se faz, naruralmente, pela
s ubjacente duas concepções. Uma, a do espaço social como um es-
via dos discursos. Entende ele que formas de classificação são formas
sociais arbitrária e socialmente determinadas. As dasses 36 disputam paço multidime ns ional de relações, organ izados em campos relati-
entre si o direito de prevalê ncia de suas próprias ta.xionom ias, dispu- vamente autônomos, cujos limites d evem ser entendidos como o
tam o poder s imbólico, que é , em ú lti ma análise, "o poder de consti- limite dos seu s efeitos, uma vez que os agentes sociais (indivíduos
tuir o dado pela e nu nciação, de fazer ver e fol2er c.-er, de confirmar ou instituições) faze m parte de um campo (ou de vários) se nele pro-
duzem o u sofrem efeitos (Bourdie u, 1989: 152-3) .
Outra, a que caracleriza o poder como uma "rede produtiva"
que penneia todo o corpo social e que não se mantém pela repres-
Classes são aqui e:nteodld:u como conluntos de age:mes que: companllha rn :u são, mas por produzir coisas, saber e prazer. Nos tCmlOS de Foucault,
rnc:smas condiçôa t:}[1e:rn:lli de: \'id~ e: ;I,lj rncsmõlS n::pn:scnuçõcs quantO ~ 5U;l
posiçio social

... ."
"essa coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e invisível, pre- ç:l0 de uma confederação de trabalhadores. Um dirigente de uma
sente e oculla, investida por toda pane , que se c hama poder" (op . ONG , centro em relação aos seus subordinados, integra o núcleo pe-
eit.: 75) . Até Foucauh fo rmulá-lo assim, a tendê ncia dominante per- riférico quando as relações são entre ONGs e agências internacionais
cebia o poder localizado numa instância central, o Esrado, e associa- de coopcmção.
va-o à dominação de classes, entendidas estas através de um modelo Por outro lado, Centro e Periferia não são lugares de exclu-
bipolar (infra/superestrururd , dominante/dominado etc.) e depen- são, d e paderou não poder. Há poder em todo lugar, fOrtaJecid o ou
dente exclusivamente do econômico. De um modo geral. tais abor- enfraquecido pelas relações estratégicas, sendo a principal delas a
dage ns não consideram a dinâmica, as contradições e a pluralidade discursiva. A própria origem etimológica da palavra "centro" nega a
d as mediações sociais; as ins lituições são vistas como pontO de pas- exclusividade de seu sentido mais estabilizado, de pontO catalisador
sage m, correias de Transmissão ideológica e não fontes de sentido ; e dispe ns:tdor de coesão e coerência . Mic he l Serres lembra-nos que
a ideologia é tratada como categoria invariante atem poral, um sujei- ela prové m do grego Kêtltron , que tmduz-sc em latim por ce"tão,
to abrangente, em c ujo interio r se movimenta impotente o indiví- poema fei to dt! pedaços de várias [ontes, decl amado nas praças pú-
du o. blicas. O u por cento, pano feito de pedaços remendados. "A palavrA
A pergunta-chave de Fo ucault sobre O poder é : "quais são, centro por si SÓ descreve ao mesmo tempo o um c o mú ltiplo, o um
em seus m ecanismos, em seus e feitos , e m suas relações, os diversos por seu sentido espacial paten te, interseção, e o outro, reunião, pc-
dispositivos d e poder que se exen::em a níveis dife rentes da socieda- I:lS raizes lingüísticas ocultas; os dois, enfim , em geometria" (1991 :
de, em domínio e com extensócs tão variáveiS?M(idem : 174). Para se 50) . Ce ntro e Periferia , pe lo efeito da inrerdiscursividade. são posi-
responder a isto, é necessário partir dos rnicromecanismos de poder ções mutuamente constitUlivas.
que se enCOntram na o rigem e permeiam a produção dos saberes lo· Os agentes sociais são forças relacionais que o ra estão no
cais, específicos c , numa análise ascendente, ir traçando uma rede centro , ora na periferia dos processos históricos . Os poderes são
capilar que articule os diversos focos de saber/poder até chegar, se mais fortes ou mais fracos em função não só do capital que possuem
for o caso, às suas relações com o poder mais central , o do Estado. e de sUõlcomposição, mas da re lação estratégica que os move . Corno
TaJ método subente nde uma distinção b:ísica entre duas p0- as relações sociais se dão por meio de discursos, o campo das políti-
sições matrl(:iais de poder, o Centro e a Periferia e d o is níveis de cas e práticas discursivas , ou seja, O mercado sim bólico, :tdquire im-
e.xercício, o macro c o micro. Esses níveis e posições se articulam e port:lncia vital para a compreensão do equi líbrio de forças entre
obedecem a princípios de subordinação que só podem ser entendi- esses agentes.
dos a partir da análi~ de cada caso, em que se leve em conta a cena Os núcleos centrais detêm a prerrogativa d e produzir e fazer
social e a discursivTI e as coerçõcs de que são objeto os agentes sociais circular conhecimentos, ou seja, de impor SU:1 visão de mundo. Eles
ne la envolvidos. detenninam as poHticas, produzem as pr.íticOls e especificam não só
Apesar de bipolar e de aparente mente designar posições es· o seu lugar e O lugar do Outro, como estabelecem as rcgras d e reco-
táveis ou cristalizadas, a concepção de Centro-Periferia encerra uma nhecimento da divisão de lugares proposta por eles.
extrema dinamicidade, pois é baseada e m "relações", em "fluxos ", e Os núcleos periféricos sofrem coerções dos centrais e da
tem como referente "efeitos de sentido". CentrO e Perife ria são posi- conjulllura histórica, mas têm uma especificidade, se ja para respon-
ções relativas, que se reproduzem em cada campo, em cada núcleo der ao que lhes é pedido, seja para construir outras formas de se rela-
ou comunidade discu rsiv-d, e m cada grupo social por menor que cionar com os núcleos centrais . É fato que os agentes estão
seja . Ningué m pertence só aos núcleos centrais ou só aos periféricos. desaparel hados de modo desigual nessa luta. Os camponeses, por
Um pres idente de s indicato rural, que ocupa posição central em re- exemplo, na maioria dos casos, SÓ podem contar com o capital social:
lação aos agricultores sindicalizados, é periférico em relação à dirc· na medida em que são a razão da existência e objeto de disputa dos

'41 14'
"essa coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e invisível, pre- ç:l0 de uma confederação de trabalhadores. Um dirigente de uma
sente e oculla, investida por toda pane , que se c hama poder" (op . ONG , centro em relação aos seus subordinados, integra o núcleo pe-
eit.: 75) . Até Foucauh fo rmulá-lo assim, a tendê ncia dominante per- riférico quando as relações são entre ONGs e agências internacionais
cebia o poder localizado numa instância central, o Esrado, e associa- de coopcmção.
va-o à dominação de classes, entendidas estas através de um modelo Por outro lado, Centro e Periferia não são lugares de exclu-
bipolar (infra/superestrururd , dominante/dominado etc.) e depen- são, d e paderou não poder. Há poder em todo lugar, fOrtaJecid o ou
dente exclusivamente do econômico. De um modo geral. tais abor- enfraquecido pelas relações estratégicas, sendo a principal delas a
dage ns não consideram a dinâmica, as contradições e a pluralidade discursiva. A própria origem etimológica da palavra "centro" nega a
d as mediações sociais; as ins lituições são vistas como pontO de pas- exclusividade de seu sentido mais estabilizado, de pontO catalisador
sage m, correias de Transmissão ideológica e não fontes de sentido ; e dispe ns:tdor de coesão e coerência . Mic he l Serres lembra-nos que
a ideologia é tratada como categoria invariante atem poral, um sujei- ela prové m do grego Kêtltron , que tmduz-sc em latim por ce"tão,
to abrangente, em c ujo interio r se movimenta impotente o indiví- poema fei to dt! pedaços de várias [ontes, decl amado nas praças pú-
du o. blicas. O u por cento, pano feito de pedaços remendados. "A palavrA
A pergunta-chave de Fo ucault sobre O poder é : "quais são, centro por si SÓ descreve ao mesmo tempo o um c o mú ltiplo, o um
em seus m ecanismos, em seus e feitos , e m suas relações, os diversos por seu sentido espacial paten te, interseção, e o outro, reunião, pc-
dispositivos d e poder que se exen::em a níveis dife rentes da socieda- I:lS raizes lingüísticas ocultas; os dois, enfim , em geometria" (1991 :
de, em domínio e com extensócs tão variáveiS?M(idem : 174). Para se 50) . Ce ntro e Periferia , pe lo efeito da inrerdiscursividade. são posi-
responder a isto, é necessário partir dos rnicromecanismos de poder ções mutuamente constitUlivas.
que se enCOntram na o rigem e permeiam a produção dos saberes lo· Os agentes sociais são forças relacionais que o ra estão no
cais, específicos c , numa análise ascendente, ir traçando uma rede centro , ora na periferia dos processos históricos . Os poderes são
capilar que articule os diversos focos de saber/poder até chegar, se mais fortes ou mais fracos em função não só do capital que possuem
for o caso, às suas relações com o poder mais central , o do Estado. e de sUõlcomposição, mas da re lação estratégica que os move . Corno
TaJ método subente nde uma distinção b:ísica entre duas p0- as relações sociais se dão por meio de discursos, o campo das políti-
sições matrl(:iais de poder, o Centro e a Periferia e d o is níveis de cas e práticas discursivas , ou seja, O mercado sim bólico, :tdquire im-
e.xercício, o macro c o micro. Esses níveis e posições se articulam e port:lncia vital para a compreensão do equi líbrio de forças entre
obedecem a princípios de subordinação que só podem ser entendi- esses agentes.
dos a partir da análi~ de cada caso, em que se leve em conta a cena Os núcleos centrais detêm a prerrogativa d e produzir e fazer
social e a discursivTI e as coerçõcs de que são objeto os agentes sociais circular conhecimentos, ou seja, de impor SU:1 visão de mundo. Eles
ne la envolvidos. detenninam as poHticas, produzem as pr.íticOls e especificam não só
Apesar de bipolar e de aparente mente designar posições es· o seu lugar e O lugar do Outro, como estabelecem as rcgras d e reco-
táveis ou cristalizadas, a concepção de Centro-Periferia encerra uma nhecimento da divisão de lugares proposta por eles.
extrema dinamicidade, pois é baseada e m "relações", em "fluxos ", e Os núcleos periféricos sofrem coerções dos centrais e da
tem como referente "efeitos de sentido". CentrO e Perife ria são posi- conjulllura histórica, mas têm uma especificidade, se ja para respon-
ções relativas, que se reproduzem em cada campo, em cada núcleo der ao que lhes é pedido, seja para construir outras formas de se rela-
ou comunidade discu rsiv-d, e m cada grupo social por menor que cionar com os núcleos centrais . É fato que os agentes estão
seja . Ningué m pertence só aos núcleos centrais ou só aos periféricos. desaparel hados de modo desigual nessa luta. Os camponeses, por
Um pres idente de s indicato rural, que ocupa posição central em re- exemplo, na maioria dos casos, SÓ podem contar com o capital social:
lação aos agricultores sindicalizados, é periférico em relação à dirc· na medida em que são a razão da existência e objeto de disputa dos

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t\ I'I'COn ......sdo do olbar

d emais cam pos em questão, conseguem em certa medida fazer valer Nesse contexto, é im eressame reto mar o conceito de estra-
seus interesses, principalmente no plano dos discursos e d as estraté- tégia desviante, proposto por Umherto Eco, que designa a maneira
gias d e inte rve nção, quando s uas especificidades são considerad as de os recepto res - núcleo periférico d e uma situação d e comunica-
pelos núcleos centr:lis. É evidente que não se pode fal ar em sobred e- ção - reagirem ao dispositivo de e nunciação d os e missores - núcleo
te rminação absoluta d o Centro em relação à Perife ria, porque o po- central recusaDdo-o sem entrar aberramenre e m conrro mo verbal .
der é um jogo de relações, portanto sujeito a interesses e eSlr.uégias Tais estratégias assumem inúmeras formas , desde o silêncio até
diversas. Mas h:\ que levar em conta que os núcleos centrais têm um aque las que se enquadrariam na idéia bakthiniana de "carnavaliza-
dis pOSit ivo de enunciação exacerbado, além de se constitu írem em ção", como é o casada paródia. !)ara Bakt:hin, a linguagem é inerente-
palavra auto rizada (por legalidade o u legitimidade) , podendo dimi- mente anarquizante e milita contra toda tent'ativa de s istematização
nu ir a c:tpacidade de contraposiçáo dos núcleos periféricos, num rígida (caso dos d ispositivos do emissor). A paródia é exemplar dessa
d ado mo memo, t: assim , exercer o poder simbólico em maior escala característica, pois por intennédio d ela os perifé ricos se apropriam do
e com mais inte nsidade. discu rso d ominante e usam sua força contra ele própriO. Em o utras
Se o Ce nrro é hegem6 nico, n ão é o nipotente, tanto pela ca- palavrds, exercem poder, o brigando os núcleos centr-dis a reverem
pacidade d e reação e estratégias da Pe riferia, como pela Ima interna su as propoStas. Um exemplo simples d essas estr:ltégias ocorre u com
que se dese nvo lve dentro d e cada núcleo. A luta é motivad a pela dis- o slogan "Plante que o Joao garante" , amplamente d ifundido no go-
puta d o poder simbólico e se verifica entre campos; dentro de G l(la verno do general Figueiredo para criar confi ança no programa de
campo (de cada núcleo, in stituiçáo, comunidade discursiva), e ntre preços mínimos. A fra se foi transmudada pela população nlral em
os de tenlo res d o capi tal econô mico e os d o ca pitaJ cultural (os pro- "p lante e coma, senão o governo la ma", produzi ndo e fe itos inversos
fi ssio nais da produção simbólica) ; e e ntre as fr-.lçóes destes. A fração aos desejados.
periférica dos núcleos centrais recorre freqüentemente, como arma O mercado simbólico, essência do postu lado da econo mia
d e luta, à esrratégia de apoio aos núcleos periféricos, que são os que po lítica do s ignificante, funcio na, assim, segundo as lógicas de pro-
possibilitam e/ou ratificam seu poder s imbólico. Verifica-se aí o que duçã<;", circulação e cons umo d e seus p rodutos, que são os discur-
Bourdie u d eno mina "ho mo logia de posição". Quero lembrar, p0- sos. E um espaço p ré-cons truído, por um lado, pois as posições
ré m , que estratégias são produto d o habillls,37 portanto nâo podem sociais estão previame nte d ctemlinadas. Por o utro, um espaço em
scrde bitad as a um maquiavelis mo dos agentes, alé m do que há cam- construção, na medida em que através de suas práticas discursivas os
pos cuja lógica de funcio namc nt'o favorece ou mesmo impõe a supe- agentes sociais definem s ua posição, no me iam , descrc\'em, fuzem ""Cr
r.tÇ'lo d o inle resse pt':sSQal ("m (avor do coletivo. e, deste modo, produzem a realidad e social . Nesse espaço e minente-
Mas, apesar d e perifé ricos e em situação de desvantagem no mente relacional, o poder circula e é exercido por fluxos de interações
equilíbrio de poderes, os camponeses não são apenas o bjeto passivo simbólicas corre os agentes, que ocup:un posj(,"ÓCS difen:ndadas, ora
d as disputas discursivas e muito me nos imunes à luta simbólica no ccntr.tis, o m periféricas, de acordo com seu :lmbito de aruação, a conjun-
interior dos seus próprios núcleos . Também eles medem forças , de- rur-.l histórica e po(ítica, a vincul:lção instirucionaJ e a propriedade e
senvolvem estratégias para fazer valer sua percepção de mundo e das composição d as várias espécies de capital.
relações sociais enflm, exercem poder. Para se compreender como funci ona tal mercado, é necessá-
rio procurar desvendar os mecanis mos sociais que permitem que,
numa dada circ unstância, esse o u aquele locuto r (ou conjunto de lo-
31 O hablll/$ i: um conceito ce m r.l! na o bra de Bourdieu , acr.lvés do qu;!.1 ele ten·
to u superar a dicotomia e o antagonismo recorrem e e ntre as visõc~ obje tivis· cutores) te nha o dire ito d e falar e sua palavra ser reconhecida como
tas (clue reme tem ~ Inconsciência) e ~ ubjetivistas (que prh'lkgiam a auto rizada por seus interlocuto res; que vozes com põem seu discur-
cons<:lêncla do sujei to) de classe: social, reunindo num só conCellO:l5 con di · so, que posição ocúpam e quais 5:io exclu ídas; os limites e condicio-
\~ objetivas da exbtê ncla dos agemes e suas reprc:sc:n taÇÓ(:S. If(lbill/$ t ~a
nalUre7.a XlCialmeme (;onStlluida~. ou o SOCial incorpDndo biologicameme.

15. ' SI
t\ I'I'COn ......sdo do olbar

d emais cam pos em questão, conseguem em certa medida fazer valer Nesse contexto, é im eressame reto mar o conceito de estra-
seus interesses, principalmente no plano dos discursos e d as estraté- tégia desviante, proposto por Umherto Eco, que designa a maneira
gias d e inte rve nção, quando s uas especificidades são considerad as de os recepto res - núcleo periférico d e uma situação d e comunica-
pelos núcleos centr:lis. É evidente que não se pode fal ar em sobred e- ção - reagirem ao dispositivo de e nunciação d os e missores - núcleo
te rminação absoluta d o Centro em relação à Perife ria, porque o po- central recusaDdo-o sem entrar aberramenre e m conrro mo verbal .
der é um jogo de relações, portanto sujeito a interesses e eSlr.uégias Tais estratégias assumem inúmeras formas , desde o silêncio até
diversas. Mas h:\ que levar em conta que os núcleos centrais têm um aque las que se enquadrariam na idéia bakthiniana de "carnavaliza-
dis pOSit ivo de enunciação exacerbado, além de se constitu írem em ção", como é o casada paródia. !)ara Bakt:hin, a linguagem é inerente-
palavra auto rizada (por legalidade o u legitimidade) , podendo dimi- mente anarquizante e milita contra toda tent'ativa de s istematização
nu ir a c:tpacidade de contraposiçáo dos núcleos periféricos, num rígida (caso dos d ispositivos do emissor). A paródia é exemplar dessa
d ado mo memo, t: assim , exercer o poder simbólico em maior escala característica, pois por intennédio d ela os perifé ricos se apropriam do
e com mais inte nsidade. discu rso d ominante e usam sua força contra ele própriO. Em o utras
Se o Ce nrro é hegem6 nico, n ão é o nipotente, tanto pela ca- palavrds, exercem poder, o brigando os núcleos centr-dis a reverem
pacidade d e reação e estratégias da Pe riferia, como pela Ima interna su as propoStas. Um exemplo simples d essas estr:ltégias ocorre u com
que se dese nvo lve dentro d e cada núcleo. A luta é motivad a pela dis- o slogan "Plante que o Joao garante" , amplamente d ifundido no go-
puta d o poder simbólico e se verifica entre campos; dentro de G l(la verno do general Figueiredo para criar confi ança no programa de
campo (de cada núcleo, in stituiçáo, comunidade discursiva), e ntre preços mínimos. A fra se foi transmudada pela população nlral em
os de tenlo res d o capi tal econô mico e os d o ca pitaJ cultural (os pro- "p lante e coma, senão o governo la ma", produzi ndo e fe itos inversos
fi ssio nais da produção simbólica) ; e e ntre as fr-.lçóes destes. A fração aos desejados.
periférica dos núcleos centrais recorre freqüentemente, como arma O mercado simbólico, essência do postu lado da econo mia
d e luta, à esrratégia de apoio aos núcleos periféricos, que são os que po lítica do s ignificante, funcio na, assim, segundo as lógicas de pro-
possibilitam e/ou ratificam seu poder s imbólico. Verifica-se aí o que duçã<;", circulação e cons umo d e seus p rodutos, que são os discur-
Bourdie u d eno mina "ho mo logia de posição". Quero lembrar, p0- sos. E um espaço p ré-cons truído, por um lado, pois as posições
ré m , que estratégias são produto d o habillls,37 portanto nâo podem sociais estão previame nte d ctemlinadas. Por o utro, um espaço em
scrde bitad as a um maquiavelis mo dos agentes, alé m do que há cam- construção, na medida em que através de suas práticas discursivas os
pos cuja lógica de funcio namc nt'o favorece ou mesmo impõe a supe- agentes sociais definem s ua posição, no me iam , descrc\'em, fuzem ""Cr
r.tÇ'lo d o inle resse pt':sSQal ("m (avor do coletivo. e, deste modo, produzem a realidad e social . Nesse espaço e minente-
Mas, apesar d e perifé ricos e em situação de desvantagem no mente relacional, o poder circula e é exercido por fluxos de interações
equilíbrio de poderes, os camponeses não são apenas o bjeto passivo simbólicas corre os agentes, que ocup:un posj(,"ÓCS difen:ndadas, ora
d as disputas discursivas e muito me nos imunes à luta simbólica no ccntr.tis, o m periféricas, de acordo com seu :lmbito de aruação, a conjun-
interior dos seus próprios núcleos . Também eles medem forças , de- rur-.l histórica e po(ítica, a vincul:lção instirucionaJ e a propriedade e
senvolvem estratégias para fazer valer sua percepção de mundo e das composição d as várias espécies de capital.
relações sociais enflm, exercem poder. Para se compreender como funci ona tal mercado, é necessá-
rio procurar desvendar os mecanis mos sociais que permitem que,
numa dada circ unstância, esse o u aquele locuto r (ou conjunto de lo-
31 O hablll/$ i: um conceito ce m r.l! na o bra de Bourdieu , acr.lvés do qu;!.1 ele ten·
to u superar a dicotomia e o antagonismo recorrem e e ntre as visõc~ obje tivis· cutores) te nha o dire ito d e falar e sua palavra ser reconhecida como
tas (clue reme tem ~ Inconsciência) e ~ ubjetivistas (que prh'lkgiam a auto rizada por seus interlocuto res; que vozes com põem seu discur-
cons<:lêncla do sujei to) de classe: social, reunindo num só conCellO:l5 con di · so, que posição ocúpam e quais 5:io exclu ídas; os limites e condicio-
\~ objetivas da exbtê ncla dos agemes e suas reprc:sc:n taÇÓ(:S. If(lbill/$ t ~a
nalUre7.a XlCialmeme (;onStlluida~. ou o SOCial incorpDndo biologicameme.

15. ' SI
IIIesll" Araujo

nantt!s de sua fomlaçio discu rsiva, isto é , o que pode e não pode ser Francesa, que foi o nde mais se solidificou e se desenvolveu o méto-
dito . Pela análise das condições sociais de produção d e um discurso, do, há d iscordãncias. Pierre Achard, por exemplo , considera a AO
evidenciar seu papel nas relações d e poder; pela análise intrínseca como um "quadro conce itual comum às teorias d o uso da Iingua-'
d o d iscurso, entender O processo de configuração d o eSpaço social. gem " (em MaingUt:ne au , 1993 : 12-I3) .Já Eni O rlandi (no Brasil , u ma
Isto é o que nos permite fazer a Análist! de Discursos, mélOdo analíti- eminente represen tante d essa escola) d efende que a AO é uma disci-
co preferencial da Semiologia dos Discursos Sociais, que passo a en- plina com u m aparato teórico t: metodológico pró prio, cons tituída
focar, antes, porém, apresentando o quadro a seguir, que procura no e ntremeio de Outr.lS disciplinas, mais especificamente, no lugar
sintt!tizar as principais variáveis dessa Semio logia e algumas de suas produzido pelas relações contraditó rias de outras disciplinas. Main-
impliOlções, relacio nando-as com os posm lados aqui çome ntados. gueneau também a cons ide ra uma disciplina, e mre OutrdS que estu-
dam o Discurso . O mras concepções tratam a AO como um aspecto
- - - - SEM10LOGlA DOS DISCURSOS SOCWS panicu lar da \jngüística. como pane de uma ciência ger.tl da ideolo-
gia, como m étodo eSlruturali sta de crítica literária. e rc.
Enunciação + Pragm:itica (contexto) + IlU ertcxtu~lidade Ao assumira concepção de "método d e análise", n áo me o bri-
J, .j, J, go, porém, a d escanar as contribuições d e Maingueneau e O rlandi,
defensores do estatutO de "disci p lina", quantO às etractensticas teó ri-
TextO Instituição História e Cult ura
cas e possibilidades me tod o lógicas da AO, multas delas equivalentes
cena discursiva cena social às propriedades que aqui são atribuídas à Semiologia. Po r o utro
i t i lado , apesar de incorpor::lr a maio ria d :tS proposições d:\ escola fran-
IIF.Tf.ROGENEIDADF. + ECONOMIA POLÍTICA 00 S IGNIFICANTE + SEMIOSE INFINITA cesa dcAD, a e las não me restrinjo , pela p rópria naturez:1 da Semio-
logia que aqui se busc:\ pr:tticar, que inclui dimensões pragmáticas
que aquela escola não conside ra.
Princípios m et o d o lógicos Mas o que é "AnáJise de Discursos"? Seguindo o princípio da
afirmação da idenridade 1X!la diferença , poderia responder a essa
quesrão faland o do que ela niio é , para ranto tom'lOdo como ponto
A Semiologia dos Discursos Sociais é uma disciplina que se- de panida a Análise de Conteúdo (AC) . Certamente a AO não é uma
gue rigorosamente seus princípios de intertextualidade e heteroge- cvo luç:l0 da AC, são métodos d istintos e coexislentcs . Mas a primeira
neid ade, constimindo-se na interseção de diversas cit?:ncias, embora fase da AO guardava muil:lS se me lhanças com o modo de abordagem
construa um tipo específico d e conhecimento. Em assim sendo , nes- textual da AC e até ho je encontram-se trabalhos (Iue , an:t1isando con-
St: lugar pró prio admite muiras dimensões, de acordo com a narure- teúdos, apresentam-se como pertinentes à área dos estudos dos dis-
:ta do inreresse do semió logo e do a porte de conheci mentos de cursos.
o urrosdomínios. A mim interessam particularmente su as d ime n5ÕeS A AC surgiu nos Estados Unidos, nos anos 40, desenvolvida
de crítica política, possívd pelo desvelame nto dos mecanismos do por Lasswell, no comexw d a Ciência Po lítica , e te'·e sempre como
funcionamento social e constituição das relações d e poder, através objew precípuo os remas políticos. Segundo Derclson , "'u AC é uma
do métod o de análise d os discursos circulantes na sociedade . técnica de investigação para a d escrição objetiva , sistemática e quan-
Mas a perspcctiV:1 da Análise dt! Discursos como um método titativa do conteúdo manifeSTO da comunicação" (ap lld Wolf. 1987:
scm io lógico entre outros não é consensual. Há todo um de bate epis- 137). Segundo Wolf. consiste na decomposição da me nsagem em
temológico sobre o estatutO desse conjunto de procedimentos que elementos mais simples e a a plicação sobre estes de um conjunto de
se conve ncionou chamar "Análise de Discursos" (para simplit1car, regras explícitas de procedime ntos. Escolhem-se e definem-se as ca-
passo a designá-lo por suas iniciais, AO) . Mesmo d e ntro da Escola

152 '"
IIIesll" Araujo

nantt!s de sua fomlaçio discu rsiva, isto é , o que pode e não pode ser Francesa, que foi o nde mais se solidificou e se desenvolveu o méto-
dito . Pela análise das condições sociais de produção d e um discurso, do, há d iscordãncias. Pierre Achard, por exemplo , considera a AO
evidenciar seu papel nas relações d e poder; pela análise intrínseca como um "quadro conce itual comum às teorias d o uso da Iingua-'
d o d iscurso, entender O processo de configuração d o eSpaço social. gem " (em MaingUt:ne au , 1993 : 12-I3) .Já Eni O rlandi (no Brasil , u ma
Isto é o que nos permite fazer a Análist! de Discursos, mélOdo analíti- eminente represen tante d essa escola) d efende que a AO é uma disci-
co preferencial da Semiologia dos Discursos Sociais, que passo a en- plina com u m aparato teórico t: metodológico pró prio, cons tituída
focar, antes, porém, apresentando o quadro a seguir, que procura no e ntremeio de Outr.lS disciplinas, mais especificamente, no lugar
sintt!tizar as principais variáveis dessa Semio logia e algumas de suas produzido pelas relações contraditó rias de outras disciplinas. Main-
impliOlções, relacio nando-as com os posm lados aqui çome ntados. gueneau também a cons ide ra uma disciplina, e mre OutrdS que estu-
dam o Discurso . O mras concepções tratam a AO como um aspecto
- - - - SEM10LOGlA DOS DISCURSOS SOCWS panicu lar da \jngüística. como pane de uma ciência ger.tl da ideolo-
gia, como m étodo eSlruturali sta de crítica literária. e rc.
Enunciação + Pragm:itica (contexto) + IlU ertcxtu~lidade Ao assumira concepção de "método d e análise", n áo me o bri-
J, .j, J, go, porém, a d escanar as contribuições d e Maingueneau e O rlandi,
defensores do estatutO de "disci p lina", quantO às etractensticas teó ri-
TextO Instituição História e Cult ura
cas e possibilidades me tod o lógicas da AO, multas delas equivalentes
cena discursiva cena social às propriedades que aqui são atribuídas à Semiologia. Po r o utro
i t i lado , apesar de incorpor::lr a maio ria d :tS proposições d:\ escola fran-
IIF.Tf.ROGENEIDADF. + ECONOMIA POLÍTICA 00 S IGNIFICANTE + SEMIOSE INFINITA cesa dcAD, a e las não me restrinjo , pela p rópria naturez:1 da Semio-
logia que aqui se busc:\ pr:tticar, que inclui dimensões pragmáticas
que aquela escola não conside ra.
Princípios m et o d o lógicos Mas o que é "AnáJise de Discursos"? Seguindo o princípio da
afirmação da idenridade 1X!la diferença , poderia responder a essa
quesrão faland o do que ela niio é , para ranto tom'lOdo como ponto
A Semiologia dos Discursos Sociais é uma disciplina que se- de panida a Análise de Conteúdo (AC) . Certamente a AO não é uma
gue rigorosamente seus princípios de intertextualidade e heteroge- cvo luç:l0 da AC, são métodos d istintos e coexislentcs . Mas a primeira
neid ade, constimindo-se na interseção de diversas cit?:ncias, embora fase da AO guardava muil:lS se me lhanças com o modo de abordagem
construa um tipo específico d e conhecimento. Em assim sendo , nes- textual da AC e até ho je encontram-se trabalhos (Iue , an:t1isando con-
St: lugar pró prio admite muiras dimensões, de acordo com a narure- teúdos, apresentam-se como pertinentes à área dos estudos dos dis-
:ta do inreresse do semió logo e do a porte de conheci mentos de cursos.
o urrosdomínios. A mim interessam particularmente su as d ime n5ÕeS A AC surgiu nos Estados Unidos, nos anos 40, desenvolvida
de crítica política, possívd pelo desvelame nto dos mecanismos do por Lasswell, no comexw d a Ciência Po lítica , e te'·e sempre como
funcionamento social e constituição das relações d e poder, através objew precípuo os remas políticos. Segundo Derclson , "'u AC é uma
do métod o de análise d os discursos circulantes na sociedade . técnica de investigação para a d escrição objetiva , sistemática e quan-
Mas a perspcctiV:1 da Análise dt! Discursos como um método titativa do conteúdo manifeSTO da comunicação" (ap lld Wolf. 1987:
scm io lógico entre outros não é consensual. Há todo um de bate epis- 137). Segundo Wolf. consiste na decomposição da me nsagem em
temológico sobre o estatutO desse conjunto de procedimentos que elementos mais simples e a a plicação sobre estes de um conjunto de
se conve ncionou chamar "Análise de Discursos" (para simplit1car, regras explícitas de procedime ntos. Escolhem-se e definem-se as ca-
passo a designá-lo por suas iniciais, AO) . Mesmo d e ntro da Escola

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simbiose das duas posturas é o ideal teórico da AO - na modalidade
tegorias de conteúdo que se que r utilizar, em ~elação às hi~leses
que interessa a este cstudo - que emende o discurso como objeto si-
que se quer verificar (o que lennina por p~uzlrAu~ con ~leclmenlO
multaneamente lingüísl'iCO e histórico. A rede.! d e semiose social
circular) . "AAC é utilizada para levar a cabo mferenclas c mle r?reta-
ocorre não só no espaço-tempo das matérias significantes, mas tam-
ções sobre a orientação de quem produziu os lextOS subme tidos ~
bêm no espaço e no tempo da História.
estudo" (idem) . Há, então, três proced imentos básicos: u ma recodl'
A concepção de "processo de produção" engloba as noções
fi cação do texto através de temas, uma quantificação est:ttística e
de ideologia e puder, como visto anteriormente. Uma das possibili-
urna interpretação. I

dades abertas pela AD é desmistificar a ideologia, mostrar que não é


. O discurso, aqui, é percebido como homogêneo (d.u se fu lar
:llgo abstrato, sem subst'ânda. pelo contrário , as ideologias podem
TIO discurso neoliberal , TIO discurso religioso etc) , o sentido como
ser encontradas nas marcas formais d os discursos, é algo mape:ível e
imanente às unidades lexicais e a ideologia confinada aos domínios
analis:ível. Mas é necessário incorporar o utra dimensão, a pragmáti-
semãnticos. A AO segue por caminhos be.m diversos, resumidos por
ca, que leva em conta que os sujeitos estão inscritos em comeXlOS
Orlandi: institucionais, ocupam posiçõcs sociais e desenvolvem estratégias
A Qlltlllsll de dlscllrso ndu I um método de I,lferprr:/açdo, mio atr/b,,' ue. de imerlocução que visam re:lfi rn13r ou modificar tais posiçõcs. Sem
"Imm seutldo ao te.• to. O quu e/tlfaz é prQblemali.zar as relll çoos do tl!;!!:t?
procurando apellllJ exp/lcllar os processos de signif,icuçdo qllc nll/c cstao essa dimensão, as duas o urras caem no vazio, operando com níveis
configurados. os me«lIIismos tle produçiJo de se"t.dos que IIS/iJ~ fI/lido- multo altos de abstração e tendendo para macrocategorias (como
IUmdo. eomprr:elltler. na [lllrI{lCctll!a discursiva, /Uio é. pois. atnbllir um "classes sociais") que perdem de vista apráxis social e a concrctude
selll;,lo. mas n)1/becero$ m llC(lII;sm OJ pc/osl/uals Sll põe emjoso UIII deter-
"';'lOdo processo de s/g"ljfctlçdQ. ( 19933: (1 7)
de seus agentes e das situações vividas.
Passando a outro nível de definição, os obje tos da AO são as
Esta assertiva põe em dest:tque o objetivo de explicitação práticas discursivas, que se concretizam em discursos, cuja materiali·
d os processos de s ignificação e a nature.za produriva do processo e dade é expressa nos textos circulames. A AO opera, então, sobre tex-
lembra o caráter não-est:Ítico da noção de processo, ao falar em "me- tos. Se o analista tem interesse nos processos orais de inte rlocução,
C".Inismos de funcionamento da produção de sentido", Mas , mesmo as falas tt:m que ser gravadas e convertidas em textos escrilOS ou ou·
aceitando,se esta definição como consensual, a AO varia em função tro material semiÓtico. Não há outro modo, porque são as marcas
da concepção de discurso , do que se julga pertinente co.m o ob jet? delectáveis nos textos com algum modo de registro que permitirão
de análise, das disciplinas que fornecem o quadro conceituai cxph- saber por que , em d :lda situação, um conjunto textual foi investido
cat'ivo do momento histórico e das filiaçõcs do analiSta, que derer- por certas operações de sentido e não o utras, realizando-se assi m a
mina~ sua posição principalmentc e m relação ã História, ao SuJdtu dimensão explicativa da Sem io logia.
e à Linguagem . . Os estudos de recepção passam fortemente por essa injun-
Fiorin ( 1990) aponta dois momemos básicos da AO no Brasil, ção: caso se deseje analisar a recepção através do prisma discursivo,
correspondendo a "interditOS" ideológico-académicos. O pri~eiro fl1'- há que obtcr discursos dos receptores sobre o referente e m questão,
mou-se no período do regime militar, quando qualquer veleidade de por inremlédio de algum registro textual. Esta afinnação remete
análise fonn al era malvista nos meios universitários, entendida como para um dos princípios metodo lógicos daAD, que se apóia no postu-
atitude direitista_Desprezava-se e ntão o esrudo do funcionamento in- lado da Semiose Infinita: o que estabelece ser toda análise de proces-
terno do texto, privilegiando·se suas determinações sociais. O segun- sos de recepção uma análise de produção discursiva e vice-versa:
do localiza-se no bojo do movimento neoliberal , do fracasso dos roda análise de produção é também um fenômeno de reconheci-
socialismos e da moda do "fim da História", e faz com que os estudos mento. Este princípio é imponante, por determinar Outros pacime.
historicistas sejam considerados desatualizados. A ênfase recai endo (ros para as condições de produção dos discursos, que ficariam
na pesquisa dos mecanismos intratextuais de fonnação dosent'ido. A

,.. '"
simbiose das duas posturas é o ideal teórico da AO - na modalidade
tegorias de conteúdo que se que r utilizar, em ~elação às hi~leses
que interessa a este cstudo - que emende o discurso como objeto si-
que se quer verificar (o que lennina por p~uzlrAu~ con ~leclmenlO
multaneamente lingüísl'iCO e histórico. A rede.! d e semiose social
circular) . "AAC é utilizada para levar a cabo mferenclas c mle r?reta-
ocorre não só no espaço-tempo das matérias significantes, mas tam-
ções sobre a orientação de quem produziu os lextOS subme tidos ~
bêm no espaço e no tempo da História.
estudo" (idem) . Há, então, três proced imentos básicos: u ma recodl'
A concepção de "processo de produção" engloba as noções
fi cação do texto através de temas, uma quantificação est:ttística e
de ideologia e puder, como visto anteriormente. Uma das possibili-
urna interpretação. I

dades abertas pela AD é desmistificar a ideologia, mostrar que não é


. O discurso, aqui, é percebido como homogêneo (d.u se fu lar
:llgo abstrato, sem subst'ânda. pelo contrário , as ideologias podem
TIO discurso neoliberal , TIO discurso religioso etc) , o sentido como
ser encontradas nas marcas formais d os discursos, é algo mape:ível e
imanente às unidades lexicais e a ideologia confinada aos domínios
analis:ível. Mas é necessário incorporar o utra dimensão, a pragmáti-
semãnticos. A AO segue por caminhos be.m diversos, resumidos por
ca, que leva em conta que os sujeitos estão inscritos em comeXlOS
Orlandi: institucionais, ocupam posiçõcs sociais e desenvolvem estratégias
A Qlltlllsll de dlscllrso ndu I um método de I,lferprr:/açdo, mio atr/b,,' ue. de imerlocução que visam re:lfi rn13r ou modificar tais posiçõcs. Sem
"Imm seutldo ao te.• to. O quu e/tlfaz é prQblemali.zar as relll çoos do tl!;!!:t?
procurando apellllJ exp/lcllar os processos de signif,icuçdo qllc nll/c cstao essa dimensão, as duas o urras caem no vazio, operando com níveis
configurados. os me«lIIismos tle produçiJo de se"t.dos que IIS/iJ~ fI/lido- multo altos de abstração e tendendo para macrocategorias (como
IUmdo. eomprr:elltler. na [lllrI{lCctll!a discursiva, /Uio é. pois. atnbllir um "classes sociais") que perdem de vista apráxis social e a concrctude
selll;,lo. mas n)1/becero$ m llC(lII;sm OJ pc/osl/uals Sll põe emjoso UIII deter-
"';'lOdo processo de s/g"ljfctlçdQ. ( 19933: (1 7)
de seus agentes e das situações vividas.
Passando a outro nível de definição, os obje tos da AO são as
Esta assertiva põe em dest:tque o objetivo de explicitação práticas discursivas, que se concretizam em discursos, cuja materiali·
d os processos de s ignificação e a nature.za produriva do processo e dade é expressa nos textos circulames. A AO opera, então, sobre tex-
lembra o caráter não-est:Ítico da noção de processo, ao falar em "me- tos. Se o analista tem interesse nos processos orais de inte rlocução,
C".Inismos de funcionamento da produção de sentido", Mas , mesmo as falas tt:m que ser gravadas e convertidas em textos escrilOS ou ou·
aceitando,se esta definição como consensual, a AO varia em função tro material semiÓtico. Não há outro modo, porque são as marcas
da concepção de discurso , do que se julga pertinente co.m o ob jet? delectáveis nos textos com algum modo de registro que permitirão
de análise, das disciplinas que fornecem o quadro conceituai cxph- saber por que , em d :lda situação, um conjunto textual foi investido
cat'ivo do momento histórico e das filiaçõcs do analiSta, que derer- por certas operações de sentido e não o utras, realizando-se assi m a
mina~ sua posição principalmentc e m relação ã História, ao SuJdtu dimensão explicativa da Sem io logia.
e à Linguagem . . Os estudos de recepção passam fortemente por essa injun-
Fiorin ( 1990) aponta dois momemos básicos da AO no Brasil, ção: caso se deseje analisar a recepção através do prisma discursivo,
correspondendo a "interditOS" ideológico-académicos. O pri~eiro fl1'- há que obtcr discursos dos receptores sobre o referente e m questão,
mou-se no período do regime militar, quando qualquer veleidade de por inremlédio de algum registro textual. Esta afinnação remete
análise fonn al era malvista nos meios universitários, entendida como para um dos princípios metodo lógicos daAD, que se apóia no postu-
atitude direitista_Desprezava-se e ntão o esrudo do funcionamento in- lado da Semiose Infinita: o que estabelece ser toda análise de proces-
terno do texto, privilegiando·se suas determinações sociais. O segun- sos de recepção uma análise de produção discursiva e vice-versa:
do localiza-se no bojo do movimento neoliberal , do fracasso dos roda análise de produção é também um fenômeno de reconheci-
socialismos e da moda do "fim da História", e faz com que os estudos mento. Este princípio é imponante, por determinar Outros pacime.
historicistas sejam considerados desatualizados. A ênfase recai endo (ros para as condições de produção dos discursos, que ficariam
na pesquisa dos mecanismos intratextuais de fonnação dosent'ido. A

,.. '"
J"es/raAra';)" A ,""co",,,...sdo .10 oIlJ11r

esquecidos caso se percebesse cada uma das instâncias como consciência das pessoas. A semantização dessas palavras é tecida
auto-suficientes. pela História e pcla Cultura, além de serem elas o testemunho vivo
Para Verón, um texto é "um lugar de manifestação de uma de lutas simbólicas anterio res. E aqui se está falando de palavras -
multiplicidade de traços decorrentes de diferentes ordens de deter- são exemplos "solidariedade", "desenvolvimento", "coletivo", etc. - ,
minação" (1980: 107), ordens que podem ser englobadas no concei- mas também d e ditados, provérbios e expressões. Através de uns e
tO amplo de condições de produção. No entanto, "u m fenômeno outros, \'ozes não explíCitas manifestam-se no discurso.
cxtratextual (inclusive outros textos) merece o nome d e condições É bom repisar, a esta altura , que as pa.lavras consolidam ou
de produção de um discurso se e somente se deixou trAços no dis- não seu sentido no contexto pragmático da comunicação , o u seja,
curso" (idem: 106). em situação de interlocuçao, quando em pleno funcionamento do
A habilidade do analista está justamente em conseguirdetec- mercado simbólico. Teoricamente, tal junção pode ser feita se consi-
tar no teA.1:O esses traços e procurar sua fonte de origem, chegando às derannos que formação discursiva é "um domínio inconsistente,
condições de produção e conseqüentemente desvelando os meca- abertO C instável, e não a projeção, a expressão estabi lizada de uma
nismos discursivos de funcionamento social. A tentação do caminho 'visão de mundo' de um grupo social" (Maingueneau, op. cit .: 113).
inverso é grande, por sua familiaridade com os procedimentOS tradi- Seus limites são ~ fronteiras que se deslocam em função dos embates
cionais das Ciências Sociais: a partir do conhecimento do universo na luta ideológica". Já em relação ao sentido pleno dessas palavras
social, estabelecer hipóteses sobre um dado discurso e buscar confir- estar inscrito na consciência das pessoas, pode.se evocar o conceito
mação nos seus traços. bakthiniano de "consciência" como um fenô meno lingüístico (e,
Não nos encontramos, porém, no grau zero da AO. Esforços portanto, social) . Bakthin chegou a afirmar que a consciê ncia é uma
anteriores já apontaram um elenco de marcas textuais que prenunciam ficção , para enfatizar que ela só existe sob uma forma semiótica que,
a existencia de traços . Ou se ja, já existe um mapa com pistas para o para ele, é a forma dos discursos , atrJ.vés do qual se atua sobre o
rastreamento do "tesouro". Cada analista faz sua opção por um con- mundo.
junto de marcas a seguir, muito embora a AD se ja um processo reple- O método barthesiano de identwcar o plural dos textoS ba-
to de surpresas: quando se "abre" um texto, peque nas trilhas são seia-se nesse ti po de marca, ali deno minada "código" . O método con-
mapeadas e podem revelar descobertas valiosas ; daí ser indispensá- siste e m "estrelar" o texto, parrindo-o em fragmentos sem qualquer
vel o espírito de aventura. compromisso com suas divisócs naturais . Interrompido, "maltrata-
Sem necessariamente me comprometer com elas, relaciono, do", cortado e m sua palavra, o texto é negado em sua "naturalidade".
a se~uir , algumas marcas possíveis e algumas de suas implicações Desta forma , fazendo o corte no significante, estabelecem-se "zonas
conceituais. Comecemos pelas unidades lexicais - , palavras ou ex- de leitura", nas quais se descobre'm os códigos, vozes em surdina,
pressócs - , seguindo a divisão propoSta por Maingueneau (1993: rastros do que já foi lido, feito , vivido, registrado, enfim , no Livro da
130) entre palavras plenas e instrumentais, mas ampliando ~c~­ Cultura. AO lermos um texto descobrindo os códigos que nele aflo-
mente seus conceitos . Lembro que não se deve ver aqui uma Identi- ram , estamos ao mesmo tempo nos remetendo "ao universo de tO-
dade de métodos com a AC, uma vez que as unidades lexicais só dos os textos possíveis dentro de uma detenninada época" (Pinto,
fazem sentido para a AO enquanto indivíduos lingüísticos membros 1992 : 82).
da rede intenextual que conecta aquele texto com uma série (pala- Os códigos de Banhes são cinco: o hennenêutico, Voz da
vras plenas) ou como estratégias de enunciação, dentro do conceito Verdade; o código de açôes, ou Voz da Empiria ; o código sêmico, o u
de mercado simbólico (palavras instrumentais). Voz da Pessoa; o código simbólico , ou Voz do Símbolo; e o código
Palavras plenas são aquelas c ujo sentido depende da for- cultural, Voz da Ciência. A mim me parecem mais imeressantes, parJ.
mação discursiva em que o texto se inscreve e que já está formado na o o bjetivo deste estudo, os códigos sêmico e cultural. O primeiro

I" IH
J"es/raAra';)" A ,""co",,,...sdo .10 oIlJ11r

esquecidos caso se percebesse cada uma das instâncias como consciência das pessoas. A semantização dessas palavras é tecida
auto-suficientes. pela História e pcla Cultura, além de serem elas o testemunho vivo
Para Verón, um texto é "um lugar de manifestação de uma de lutas simbólicas anterio res. E aqui se está falando de palavras -
multiplicidade de traços decorrentes de diferentes ordens de deter- são exemplos "solidariedade", "desenvolvimento", "coletivo", etc. - ,
minação" (1980: 107), ordens que podem ser englobadas no concei- mas também d e ditados, provérbios e expressões. Através de uns e
tO amplo de condições de produção. No entanto, "u m fenômeno outros, \'ozes não explíCitas manifestam-se no discurso.
cxtratextual (inclusive outros textos) merece o nome d e condições É bom repisar, a esta altura , que as pa.lavras consolidam ou
de produção de um discurso se e somente se deixou trAços no dis- não seu sentido no contexto pragmático da comunicação , o u seja,
curso" (idem: 106). em situação de interlocuçao, quando em pleno funcionamento do
A habilidade do analista está justamente em conseguirdetec- mercado simbólico. Teoricamente, tal junção pode ser feita se consi-
tar no teA.1:O esses traços e procurar sua fonte de origem, chegando às derannos que formação discursiva é "um domínio inconsistente,
condições de produção e conseqüentemente desvelando os meca- abertO C instável, e não a projeção, a expressão estabi lizada de uma
nismos discursivos de funcionamento social. A tentação do caminho 'visão de mundo' de um grupo social" (Maingueneau, op. cit .: 113).
inverso é grande, por sua familiaridade com os procedimentOS tradi- Seus limites são ~ fronteiras que se deslocam em função dos embates
cionais das Ciências Sociais: a partir do conhecimento do universo na luta ideológica". Já em relação ao sentido pleno dessas palavras
social, estabelecer hipóteses sobre um dado discurso e buscar confir- estar inscrito na consciência das pessoas, pode.se evocar o conceito
mação nos seus traços. bakthiniano de "consciência" como um fenô meno lingüístico (e,
Não nos encontramos, porém, no grau zero da AO. Esforços portanto, social) . Bakthin chegou a afirmar que a consciê ncia é uma
anteriores já apontaram um elenco de marcas textuais que prenunciam ficção , para enfatizar que ela só existe sob uma forma semiótica que,
a existencia de traços . Ou se ja, já existe um mapa com pistas para o para ele, é a forma dos discursos , atrJ.vés do qual se atua sobre o
rastreamento do "tesouro". Cada analista faz sua opção por um con- mundo.
junto de marcas a seguir, muito embora a AD se ja um processo reple- O método barthesiano de identwcar o plural dos textoS ba-
to de surpresas: quando se "abre" um texto, peque nas trilhas são seia-se nesse ti po de marca, ali deno minada "código" . O método con-
mapeadas e podem revelar descobertas valiosas ; daí ser indispensá- siste e m "estrelar" o texto, parrindo-o em fragmentos sem qualquer
vel o espírito de aventura. compromisso com suas divisócs naturais . Interrompido, "maltrata-
Sem necessariamente me comprometer com elas, relaciono, do", cortado e m sua palavra, o texto é negado em sua "naturalidade".
a se~uir , algumas marcas possíveis e algumas de suas implicações Desta forma , fazendo o corte no significante, estabelecem-se "zonas
conceituais. Comecemos pelas unidades lexicais - , palavras ou ex- de leitura", nas quais se descobre'm os códigos, vozes em surdina,
pressócs - , seguindo a divisão propoSta por Maingueneau (1993: rastros do que já foi lido, feito , vivido, registrado, enfim , no Livro da
130) entre palavras plenas e instrumentais, mas ampliando ~c~­ Cultura. AO lermos um texto descobrindo os códigos que nele aflo-
mente seus conceitos . Lembro que não se deve ver aqui uma Identi- ram , estamos ao mesmo tempo nos remetendo "ao universo de tO-
dade de métodos com a AC, uma vez que as unidades lexicais só dos os textos possíveis dentro de uma detenninada época" (Pinto,
fazem sentido para a AO enquanto indivíduos lingüísticos membros 1992 : 82).
da rede intenextual que conecta aquele texto com uma série (pala- Os códigos de Banhes são cinco: o hennenêutico, Voz da
vras plenas) ou como estratégias de enunciação, dentro do conceito Verdade; o código de açôes, ou Voz da Empiria ; o código sêmico, o u
de mercado simbólico (palavras instrumentais). Voz da Pessoa; o código simbólico , ou Voz do Símbolo; e o código
Palavras plenas são aquelas c ujo sentido depende da for- cultural, Voz da Ciência. A mim me parecem mais imeressantes, parJ.
mação discursiva em que o texto se inscreve e que já está formado na o o bjetivo deste estudo, os códigos sêmico e cultural. O primeiro

I" IH
constrói O VMor semântico dos refe re ntes. Concentra·se na adjetiva- ção. E.xcmplos: SÓ, somente , apenas, jamais, de fonn:J. alguma, t0-
ção e pode vir de vários sujeitos. É um código definitório e seu valo r dos, até, sempre, finalmente, praticame nte elC.
par.t análise d as relaçóes discursivas de poder está nessa característi- Os tempos verbais são ins trumentos na cons trução das ima·
ca. Definir é enquad rar, classificar, catego rizar, dar qualidade a um gens e d as relaçõcs po lcmicas discu rsivas. Como exemplo , cons ide·
nome . Faz a definição "quem pode" c "quem sabe", O segundo , tam- remos a diferença que estabelece o uso d e um verbo de ação no
bém cha mado d e código referencial, dá ao enunciado a autoridade fu turo do preseme (fará , designará, no meará... ) e no fu turo do pre-
científica o u morotl, atr-,l\·és d e ciraçõcs (de p rové rbios, por exem- té rito (faria, d esign aria, no mearia) , implicando diretamcme a credi-
plo). "O e nunciado é proferido por uma voz anônima , cuja origem é bilidade do actame.
a sabedoria humana" (Barthes, 1992 : 52) . Conectivos e operadores sâo, porém , ape nas um dos modos
Aspa/auras IlIslrumentais não d ependem d o contexto situa- de acessar as formas lingüísticas da e nunciação. Pinto (1994) propõe
cional e do intertextuaJ, seu valor pragmático é mais estável, mas do uma classificação que, em princípio , abrange todas as possibilidades
pomo d e vista da AO são e nfocadas como estruturanres d e estratégias na língua portuguesa, extrapolando o uso de palavras e e nglobando
e nunCiativas, o u se ja, seu sentido SÓ pode ser avaJiado em um dado a própria estrutur.tção frási ca o u, nos termos da Scmio logia, os mo-
co·texto . Podem ser d e vários tipos, mas d e um modo geral cu m- dos de dizer. Eis aqui um resumo esquemático de sua taxionomia:
prem a fun ção de coadjuvantes da ce na enunciativa, participando da Operaçôes e nunciativas : de atualizaçao
construção das imagens do eu , do tu , de terceiros, do modo de rela- de d etemlinação
ção entre eles c dos suje itos com O refere nte. de anCOr.lgem temporal
Um dos modos de abo rdá-Ias é como componentes das re la- aspcctuais
ções polêmicAS entre os discursos. De fo rma abrangente, rodo d is· O perações de modalização: da enunciação
curso pole miza com Outros, na medida e m que é pela negação o u d o enunciado
afirmação da diferença com O Outro que se const.itui a própria ide n- da me nsagem
tidade. A disputa s imbólica ins taura-se:: aí, nesse princípio e, de mod o
mais o u menos explícito, cada discurso co nvoca aUados, nega a legi. As operaçõcs e nunciativas visam
timidade dos opositorcs, si lencia algum:ts vozes e dá espaço a O Ut'r'olS, criar Iml~rsos dI! roferêll (;la a serl!m compartilhados com" receptor (in-
argumenta. Nesse movi me nto polifônico, utiliza-se de operadores e d llsi/Jl! o d.)(lIIulllo "mmulo rt'af", esta mls/u m (lI! crenças e llmlosob/idos
conectivos, palavras que podem passar despercebidas como conStru- por perC4!l' fila dlro/a e que u cufmra orgalll;:o), es/r u/ural/dQ e pondo em
rolaçdQ objetos I! propriedades dl!sses m';ver$OS, visando au estaóclecl·
toras d e sentido, residindo aí a sua eficácia . m ln,fod o fI"n~/{) ~/., ca iu>$.
Os conectioos ligam dois enunciados e dcles depende o en ·
c.\deamento argumentativo. São exemplos: no e ntanto , mas, porém o tempo e aspecto dos verbos são determinantes dessas
(refutação) ; assim , pois, enlão (d edução); finalmente , de qualque r oper.lçães, assim como os aMigos, as fo rmas de singular e plural e
modo (conclusão) ; além disso, aliás (suplementação); por que, o ut.ros quantificadores, pronomes pessoais, demo nstrativos, posses-
como (intc rrogação) ; porque, isto é, que, dois pontOS, travessão (ex- sivos e relativos, advérbios - principalmente os d êiticos,38 como ago-
pUcação) ; ainda que (concessão); se (condição) ; e (coordenação); rA , :lqui, hoje, o ntem , e tc . - e formas de adjetivação.
o nde , cujo, quantos, que m, quais (relacio nad ores). As operaçóes de mod ali~lção
Os operadores aplicam·se a um só enunciado , pote ncializan-
do sua capacidade argumentati,,·d.. São, principalmente, advérbios de
~ Dêi tkos da 1000S os individuas lingüísticos qu e e5labeln'em uma referência
modo, quantidad e o u l'c mpo, ou expressões que acentuam a nega-
:lÚ"qui c lIgora do luculOr. S:io principalmcme pronomt!S , :.d,·érbl os e albouns
U50ll de: lempos .'Crbai5 e: ccn os ,·crbos d e: mO\i mcnlO, como ir, lra:tC:r, Ic:v;u-
CIC. (pinlo: 50)

ISS IS'
constrói O VMor semântico dos refe re ntes. Concentra·se na adjetiva- ção. E.xcmplos: SÓ, somente , apenas, jamais, de fonn:J. alguma, t0-
ção e pode vir de vários sujeitos. É um código definitório e seu valo r dos, até, sempre, finalmente, praticame nte elC.
par.t análise d as relaçóes discursivas de poder está nessa característi- Os tempos verbais são ins trumentos na cons trução das ima·
ca. Definir é enquad rar, classificar, catego rizar, dar qualidade a um gens e d as relaçõcs po lcmicas discu rsivas. Como exemplo , cons ide·
nome . Faz a definição "quem pode" c "quem sabe", O segundo , tam- remos a diferença que estabelece o uso d e um verbo de ação no
bém cha mado d e código referencial, dá ao enunciado a autoridade fu turo do preseme (fará , designará, no meará... ) e no fu turo do pre-
científica o u morotl, atr-,l\·és d e ciraçõcs (de p rové rbios, por exem- té rito (faria, d esign aria, no mearia) , implicando diretamcme a credi-
plo). "O e nunciado é proferido por uma voz anônima , cuja origem é bilidade do actame.
a sabedoria humana" (Barthes, 1992 : 52) . Conectivos e operadores sâo, porém , ape nas um dos modos
Aspa/auras IlIslrumentais não d ependem d o contexto situa- de acessar as formas lingüísticas da e nunciação. Pinto (1994) propõe
cional e do intertextuaJ, seu valor pragmático é mais estável, mas do uma classificação que, em princípio , abrange todas as possibilidades
pomo d e vista da AO são e nfocadas como estruturanres d e estratégias na língua portuguesa, extrapolando o uso de palavras e e nglobando
e nunCiativas, o u se ja, seu sentido SÓ pode ser avaJiado em um dado a própria estrutur.tção frási ca o u, nos termos da Scmio logia, os mo-
co·texto . Podem ser d e vários tipos, mas d e um modo geral cu m- dos de dizer. Eis aqui um resumo esquemático de sua taxionomia:
prem a fun ção de coadjuvantes da ce na enunciativa, participando da Operaçôes e nunciativas : de atualizaçao
construção das imagens do eu , do tu , de terceiros, do modo de rela- de d etemlinação
ção entre eles c dos suje itos com O refere nte. de anCOr.lgem temporal
Um dos modos de abo rdá-Ias é como componentes das re la- aspcctuais
ções polêmicAS entre os discursos. De fo rma abrangente, rodo d is· O perações de modalização: da enunciação
curso pole miza com Outros, na medida e m que é pela negação o u d o enunciado
afirmação da diferença com O Outro que se const.itui a própria ide n- da me nsagem
tidade. A disputa s imbólica ins taura-se:: aí, nesse princípio e, de mod o
mais o u menos explícito, cada discurso co nvoca aUados, nega a legi. As operaçõcs e nunciativas visam
timidade dos opositorcs, si lencia algum:ts vozes e dá espaço a O Ut'r'olS, criar Iml~rsos dI! roferêll (;la a serl!m compartilhados com" receptor (in-
argumenta. Nesse movi me nto polifônico, utiliza-se de operadores e d llsi/Jl! o d.)(lIIulllo "mmulo rt'af", esta mls/u m (lI! crenças e llmlosob/idos
conectivos, palavras que podem passar despercebidas como conStru- por perC4!l' fila dlro/a e que u cufmra orgalll;:o), es/r u/ural/dQ e pondo em
rolaçdQ objetos I! propriedades dl!sses m';ver$OS, visando au estaóclecl·
toras d e sentido, residindo aí a sua eficácia . m ln,fod o fI"n~/{) ~/., ca iu>$.
Os conectioos ligam dois enunciados e dcles depende o en ·
c.\deamento argumentativo. São exemplos: no e ntanto , mas, porém o tempo e aspecto dos verbos são determinantes dessas
(refutação) ; assim , pois, enlão (d edução); finalmente , de qualque r oper.lçães, assim como os aMigos, as fo rmas de singular e plural e
modo (conclusão) ; além disso, aliás (suplementação); por que, o ut.ros quantificadores, pronomes pessoais, demo nstrativos, posses-
como (intc rrogação) ; porque, isto é, que, dois pontOS, travessão (ex- sivos e relativos, advérbios - principalmente os d êiticos,38 como ago-
pUcação) ; ainda que (concessão); se (condição) ; e (coordenação); rA , :lqui, hoje, o ntem , e tc . - e formas de adjetivação.
o nde , cujo, quantos, que m, quais (relacio nad ores). As operaçóes de mod ali~lção
Os operadores aplicam·se a um só enunciado , pote ncializan-
do sua capacidade argumentati,,·d.. São, principalmente, advérbios de
~ Dêi tkos da 1000S os individuas lingüísticos qu e e5labeln'em uma referência
modo, quantidad e o u l'c mpo, ou expressões que acentuam a nega-
:lÚ"qui c lIgora do luculOr. S:io principalmcme pronomt!S , :.d,·érbl os e albouns
U50ll de: lempos .'Crbai5 e: ccn os ,·crbos d e: mO\i mcnlO, como ir, lra:tC:r, Ic:v;u-
CIC. (pinlo: 50)

ISS IS'
In""ta Araújo

criam dVIl reproduzem (... ) diferenças de sabere puder e/llre emissvre re- de fonua mais ou menos direta, um conjunto de textos a uma região
ceptor, IOnlmu!o [N}ssivef ao emtssor (a) p rojetar v tipo de ill(eraçl1o que definida da sociedade. pensada em termos de classes ou subeJasses
desej a estabelecer CO/ll o receplOr e, por seu fnle"uédio , sobre O mUI/do
(modalmlçdo da emmciação) ; (O) fomar públicas po$içi>es sobro os eMa- sociais", procedimento que apaga aqueles "que produzem. que fa-
dos d e coisas descrit(Js em seus e",mciados, relativamente a cri/ér/vs de zem com que o discurso circule, que se reúnem em seu nome e nele
verdade Oll valur (modafizaçiiv dQ enunciado) ; 11 (c) criar seqiiímc/as de se reconhecem " (1993 : 54) ; ou seja, considem as instâncias media-
e",mciados (Iextos) ellcade(u!(Js adaptados aos objetillOs (a) e (b) (motla-
fj;UlçAO da tl/e1lSage/ll). ( p . !:lI)
doras do d iscurso como simples pontos de passagem desprovidos da
capacidade d e produzir sentidos,
Essas operações constitue m-se em est['",uégias de enunciação Não é assim, porém , Os efeitos de sel1lido que um discurso
e , apesar de comporem a heterogeneidade mostrJ.da do texto, só es-. pode produzir não são apenas condicionados pelas fonnações discur-
tão visíveis aos nossos o lhos pelo uso de um dado aparelho concei- SiV'AS a que penence, ou pelas estratégias enunciativas utilizadas, mas
tual. que neste caso particular é fo rnecido pcla Semiologia dos também por ser prodUzido e circu lar peJas mãos de um conjunto de
Discursos Sociais. pessoas que pode ser camcterizado do ponto de vista sociológico - a
Saindo, porém, d o plano das unidades lexicais, podemos comunidade discursiva. Mais do que L..to: as fonnaçõcs discursivas
identificar outros tipos possíveis de marcas discursivas. Um deles lo- concorrentes - e os discursos que delas decorrem - opõem-se e distin-
caliza-se nos aspectos formais dos suportes discursivos_A expressão guem-se, entre outros f.J.tores, pelo modo de funcionamento dos gru-
"aspectos formais " designa um conjunto de valiáveis que costuma pos que com elas se associam_ Não há relação de exterioridade e ntre
ser relegado a um plano secundário nas análises da produção dos umas e outros , eles se remetem indefinida e mutuamente.
sentidos, mas são essenciais para a compreensão dos dispositivos de Quando falo de "modo de funcionamento" , refiro-me ao
enunciação_ fato de que a estrutura material, funcional e re lacional da comunida-
Falo dos gêneros e das formas que lhe correspondem, mas d e deve ser considerada como constitutiva dos disc ursos. Esses gru-
também do tipo e tamanho de letras, da distribuição espacial do tex- pos encarregados da produção e gest:i.o textual possuem uma
to escrito e das ilustrações, pelo uso de legendas, dos títulos , do esti- hierarquia interna (instâncias de decisão e poder, um centro e uma
lo de ilustração, do número de páginas, para os impressos; ritmo, periferia) e uma organização de trabalho; desenvolvem relações com
duração, densidade textual, uso de música e vin hctas, para rádio e outros que dividem o mesmo espaço discursivo, sejam de antagonis-
meios audiovisuais; qualidade de reprodução, para todos , mo ou cooperaçáo; dispõem de mais ou menos recursos financeiros
A forma tem que ser analisada juntamente com o conteúdo, e dependem de modo diferenciado das fontes geradoras desses re-
além do planejamento dos modos de circulação e uso. O sentido cursos; seus membros possuem uma histó ria e uma motiV'.J.ção para
atravessa os níveis Sintáticos, sem:'intico e pragmático. O estatuto do estar ali e desenvolver aquele trabalho. Esses fatores afetam os dis-
sujeito enunciador e dos seus destinatálios é insepar.í.vd dos gê ne- cursos produzidos e as estratégias de circ ulação. Não são, pois, me-
ros utilizados e da maneim de organizar e apresentar o conteúdo ros porta-vozes de um discurso que lhes tr-J.llscende, mesmo que
graficamente. Essas opções sáo feitas de acordo com a imagem que assim se julguem , sejam técnicos, religiosos ou militantes.
se tem de um e de outro e de suas re lações, daí se constituírem em Metodologicamente, o conceito tem implicações, como tor-
marcas no discurso e marcas extremamente relevantes no quadro nar obrigató ria, na análise das condições de produção, a associação
das comunidades discursivas. das coerções da formação d iscursiva com as que tornam possível e
"Comunidade discursiva" é um conceito rdativo à face social derivam do grupo, ou po r modificar a abordagem institucional, tor-
dos discursos , Junto com "formação discursiva" - a f.J.ce textual- ele nando-a mais operacionalizável. Por Outro lado, facilita a análise das
integm o de "prática discursiV'A". Veio em socorro do que Maingue- relações de poder nos moldes aqui propostos, dentro da acepção de
neau aponta como insuficiência das análises de discurso mais con- "micropoderes",
vencionais, "cujo procedimento mais freqüente consiste em associar,

161
16'
In""ta Araújo

criam dVIl reproduzem (... ) diferenças de sabere puder e/llre emissvre re- de fonua mais ou menos direta, um conjunto de textos a uma região
ceptor, IOnlmu!o [N}ssivef ao emtssor (a) p rojetar v tipo de ill(eraçl1o que definida da sociedade. pensada em termos de classes ou subeJasses
desej a estabelecer CO/ll o receplOr e, por seu fnle"uédio , sobre O mUI/do
(modalmlçdo da emmciação) ; (O) fomar públicas po$içi>es sobro os eMa- sociais", procedimento que apaga aqueles "que produzem. que fa-
dos d e coisas descrit(Js em seus e",mciados, relativamente a cri/ér/vs de zem com que o discurso circule, que se reúnem em seu nome e nele
verdade Oll valur (modafizaçiiv dQ enunciado) ; 11 (c) criar seqiiímc/as de se reconhecem " (1993 : 54) ; ou seja, considem as instâncias media-
e",mciados (Iextos) ellcade(u!(Js adaptados aos objetillOs (a) e (b) (motla-
fj;UlçAO da tl/e1lSage/ll). ( p . !:lI)
doras do d iscurso como simples pontos de passagem desprovidos da
capacidade d e produzir sentidos,
Essas operações constitue m-se em est['",uégias de enunciação Não é assim, porém , Os efeitos de sel1lido que um discurso
e , apesar de comporem a heterogeneidade mostrJ.da do texto, só es-. pode produzir não são apenas condicionados pelas fonnações discur-
tão visíveis aos nossos o lhos pelo uso de um dado aparelho concei- SiV'AS a que penence, ou pelas estratégias enunciativas utilizadas, mas
tual. que neste caso particular é fo rnecido pcla Semiologia dos também por ser prodUzido e circu lar peJas mãos de um conjunto de
Discursos Sociais. pessoas que pode ser camcterizado do ponto de vista sociológico - a
Saindo, porém, d o plano das unidades lexicais, podemos comunidade discursiva. Mais do que L..to: as fonnaçõcs discursivas
identificar outros tipos possíveis de marcas discursivas. Um deles lo- concorrentes - e os discursos que delas decorrem - opõem-se e distin-
caliza-se nos aspectos formais dos suportes discursivos_A expressão guem-se, entre outros f.J.tores, pelo modo de funcionamento dos gru-
"aspectos formais " designa um conjunto de valiáveis que costuma pos que com elas se associam_ Não há relação de exterioridade e ntre
ser relegado a um plano secundário nas análises da produção dos umas e outros , eles se remetem indefinida e mutuamente.
sentidos, mas são essenciais para a compreensão dos dispositivos de Quando falo de "modo de funcionamento" , refiro-me ao
enunciação_ fato de que a estrutura material, funcional e re lacional da comunida-
Falo dos gêneros e das formas que lhe correspondem, mas d e deve ser considerada como constitutiva dos disc ursos. Esses gru-
também do tipo e tamanho de letras, da distribuição espacial do tex- pos encarregados da produção e gest:i.o textual possuem uma
to escrito e das ilustrações, pelo uso de legendas, dos títulos , do esti- hierarquia interna (instâncias de decisão e poder, um centro e uma
lo de ilustração, do número de páginas, para os impressos; ritmo, periferia) e uma organização de trabalho; desenvolvem relações com
duração, densidade textual, uso de música e vin hctas, para rádio e outros que dividem o mesmo espaço discursivo, sejam de antagonis-
meios audiovisuais; qualidade de reprodução, para todos , mo ou cooperaçáo; dispõem de mais ou menos recursos financeiros
A forma tem que ser analisada juntamente com o conteúdo, e dependem de modo diferenciado das fontes geradoras desses re-
além do planejamento dos modos de circulação e uso. O sentido cursos; seus membros possuem uma histó ria e uma motiV'.J.ção para
atravessa os níveis Sintáticos, sem:'intico e pragmático. O estatuto do estar ali e desenvolver aquele trabalho. Esses fatores afetam os dis-
sujeito enunciador e dos seus destinatálios é insepar.í.vd dos gê ne- cursos produzidos e as estratégias de circ ulação. Não são, pois, me-
ros utilizados e da maneim de organizar e apresentar o conteúdo ros porta-vozes de um discurso que lhes tr-J.llscende, mesmo que
graficamente. Essas opções sáo feitas de acordo com a imagem que assim se julguem , sejam técnicos, religiosos ou militantes.
se tem de um e de outro e de suas re lações, daí se constituírem em Metodologicamente, o conceito tem implicações, como tor-
marcas no discurso e marcas extremamente relevantes no quadro nar obrigató ria, na análise das condições de produção, a associação
das comunidades discursivas. das coerções da formação d iscursiva com as que tornam possível e
"Comunidade discursiva" é um conceito rdativo à face social derivam do grupo, ou po r modificar a abordagem institucional, tor-
dos discursos , Junto com "formação discursiva" - a f.J.ce textual- ele nando-a mais operacionalizável. Por Outro lado, facilita a análise das
integm o de "prática discursiV'A". Veio em socorro do que Maingue- relações de poder nos moldes aqui propostos, dentro da acepção de
neau aponta como insuficiência das análises de discurso mais con- "micropoderes",
vencionais, "cujo procedimento mais freqüente consiste em associar,

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16'
Por não haver ainda um bom desenvolvime nto Ic6rico do Faço uma primeira distinção e ntre/on"as de silêncio e/or-
conceito de comunidade discursiv:t, a lguns impasses operAcionais mas d~ sileuclamemo,39 divisão arbitrária, pois na pdtica e las se
podem estabelecer-se no cu rso de uma análise. Refiro-me , por exem- permelam. Mas as formas de s ilenciame nto estão ligadas mais incisi-
plo . à dificuldade de separar (no papel) a instituição da comunidade. vamen t ~ à concorrência discursiva, porque colocam em cena (mes-
em caso de grupos independentes muito pequenos e sem ramifica- mo ao tirar d e cena) o O Utro, para negá-lo e assim se afinnar. As
ções, bastante comuns no cenário discursivo d o meio rural. ou no fo rmas de silêncio dizem respeito mais às estruturas internas do
caso de ONGs que constituem uma espécie de "fe d e ração" scm um enun c~a do que reforçam de modo mais sutil a argumentação, crian-
eixo institucional comum . do efe itos de sentido com aparências m e nos polêmicas.
As fo nuas discu rsivas de que fala\>a, ao mesmo te mpo que Entre as lo rmasde s ilenciam e nro, reco nheço tris tipos: a de-
"denunc iam" as comunidades de o rigem, pa nicipam da produ- ne~a.çã? , o inte rdito e a exclusão. A d e"egaçiio consiste em negar a
ção/cristalização/modificaç:'io de sua imagem perante os receptores, legmm,da4e dos outros discursos, aqueles que disput:l1l1 o mesmo
o s concorrentes e elas mesmas. espaço discursivo , desqualiftcando-os o u tentando subordiná-lo s ao
Passando a omro tipO de marca, falem os das "fonuas do si- d.o e missor, eSlabelecendo uma hierarquia. Isto pode ser fe ito cxpli-
lêncio", expressão tomada emprestada de Orlandi (1993b) . Os dis- c uame me, por me io da c ritica, da ironia (e aqu i se incluam as aspas
c ursos estão plenos de s ilê ncios significantes. Mais do que isso, o como recurso) , a acusação, a negação aberta, a adjetivação, enlre ou-
s ilê ncio é constirulivo d os d iscursos , na m edida em que todo dizer é tro ~ . Mas pode realizar-se de uma forma m ais SUlil, implfcita, por
também um sile nciar. Quando se fala a lgo, deixa-se outro MalgO" de meiO do uso do discurso relatado, que é um modo de não conceder
fora . na perife ria dos sentidos. É por isso que O rlandi aftnna que o di~eit~ de expressão aos concorrentes, guardando, porém, uma
"compreend er ( ...) é saber que o se ntido poderia ser OUlro" (1993a: aparcnCIa democrática. A aparência democrática também car.acteriza
116) . aque les discursos que constroem um simulacro do discurso do re-
Para se proceder a uma anáJise discu rsiv:t. porém, é preciso ceplOr. Os tCXIOS que se propõem pe dagó gicos o u questionadores
sair deste níve l de consider::lções teó ricas e passar a conceitos mais fre~ü~ nteme nte estrururam-se em forma de perguntas e respoSlas,
operacio nalizáveis . É aí que nos depara mos com uma polêmica, sem delimitando a fJrlorl aquilo que pode ser dito, É o que chamo de
que se possa ne la perceber um fio comum , a não ser a recorrCnlc dis- "do mesticação da fala do outro" . Cerros USOs do discurso direto tam-
cussão sobre a concepção d e linguage m, d e s uje ito e de sua relação bém podem enquadrar-se nessa categoda. Penso especialme nte na.
com a língua. Assumo minha dific uldade (de diversas ordens) para que les ~extos (escritos, radio fô nicos o u audiovis u:lis) que mo bilizam
incorporar tal d e bate c justificar leo ricamente minhas opções. As ra- o depoimento d e terceiros que supoSlamente seriam represe ntati-
ZÕt!s Que me m ovem decorre m d e experiência amcrior de aná lise de vos d os destinatários, roru lando-o, emoldura ndo, d espindo-os de
discursos, sendo, portamo, de ordem pragmática, Regis[ro, porém, seu COntexto c impondo.lhes arbitrariamente um sentido.
Que não desconheço os principais lances de tal confronto . Assim, es- O illterdilo re fere·se a uma fo rma de ce ns ura não assumida
tOu consciente de que o conceito de implídlo que escolhi refere-se ~ndo praticada com freqü ê ncia por comunidades disc ursiV:IS qu~
ao proposto por Ducrot em s uas primeiras formu lações (Dlre et ne tem por princípio ideo lógico:t liberdade de expressão. São "interdi-
pas di re) , que j:í se opunha ao de Austin e que foi refumdo por Paul tadas" aos f-d.lan tes palavras, expressões e temas in teiros considera-
Henry (A ferramenta imperfeita) e revisto por Duc rot mes mo "O di- dos caractens ticos dos d iscursos concorremes. É uma autocens ura,
zer c o dito". Também sei que Orlandi n:'io ace ita que o implícito seja
considerado uma forma de silê ncio , sendo antes um seu epifenõme-
39 E.mbor~ olcj~ me ~proprian d o d os tcnnos de O rland l (ro nnas de silêncio e d e
no (As fonnas do s i.li ncio) . s,lenciam e nIO), não i assim que cb. 1"lIa o assumo. SU:I abordagc:". t Ix:m ili.
rcrem e, tr.Iha lhll noutro nin :1 de lIbstr.l.ç'io c qucslionll tiS fund~ menlO!i do
c:on cc!to de 5 i1~ndO na~ teorias d:l linguagem.

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Por não haver ainda um bom desenvolvime nto Ic6rico do Faço uma primeira distinção e ntre/on"as de silêncio e/or-
conceito de comunidade discursiv:t, a lguns impasses operAcionais mas d~ sileuclamemo,39 divisão arbitrária, pois na pdtica e las se
podem estabelecer-se no cu rso de uma análise. Refiro-me , por exem- permelam. Mas as formas de s ilenciame nto estão ligadas mais incisi-
plo . à dificuldade de separar (no papel) a instituição da comunidade. vamen t ~ à concorrência discursiva, porque colocam em cena (mes-
em caso de grupos independentes muito pequenos e sem ramifica- mo ao tirar d e cena) o O Utro, para negá-lo e assim se afinnar. As
ções, bastante comuns no cenário discursivo d o meio rural. ou no fo rmas de silêncio dizem respeito mais às estruturas internas do
caso de ONGs que constituem uma espécie de "fe d e ração" scm um enun c~a do que reforçam de modo mais sutil a argumentação, crian-
eixo institucional comum . do efe itos de sentido com aparências m e nos polêmicas.
As fo nuas discu rsivas de que fala\>a, ao mesmo te mpo que Entre as lo rmasde s ilenciam e nro, reco nheço tris tipos: a de-
"denunc iam" as comunidades de o rigem, pa nicipam da produ- ne~a.çã? , o inte rdito e a exclusão. A d e"egaçiio consiste em negar a
ção/cristalização/modificaç:'io de sua imagem perante os receptores, legmm,da4e dos outros discursos, aqueles que disput:l1l1 o mesmo
o s concorrentes e elas mesmas. espaço discursivo , desqualiftcando-os o u tentando subordiná-lo s ao
Passando a omro tipO de marca, falem os das "fonuas do si- d.o e missor, eSlabelecendo uma hierarquia. Isto pode ser fe ito cxpli-
lêncio", expressão tomada emprestada de Orlandi (1993b) . Os dis- c uame me, por me io da c ritica, da ironia (e aqu i se incluam as aspas
c ursos estão plenos de s ilê ncios significantes. Mais do que isso, o como recurso) , a acusação, a negação aberta, a adjetivação, enlre ou-
s ilê ncio é constirulivo d os d iscursos , na m edida em que todo dizer é tro ~ . Mas pode realizar-se de uma forma m ais SUlil, implfcita, por
também um sile nciar. Quando se fala a lgo, deixa-se outro MalgO" de meiO do uso do discurso relatado, que é um modo de não conceder
fora . na perife ria dos sentidos. É por isso que O rlandi aftnna que o di~eit~ de expressão aos concorrentes, guardando, porém, uma
"compreend er ( ...) é saber que o se ntido poderia ser OUlro" (1993a: aparcnCIa democrática. A aparência democrática também car.acteriza
116) . aque les discursos que constroem um simulacro do discurso do re-
Para se proceder a uma anáJise discu rsiv:t. porém, é preciso ceplOr. Os tCXIOS que se propõem pe dagó gicos o u questionadores
sair deste níve l de consider::lções teó ricas e passar a conceitos mais fre~ü~ nteme nte estrururam-se em forma de perguntas e respoSlas,
operacio nalizáveis . É aí que nos depara mos com uma polêmica, sem delimitando a fJrlorl aquilo que pode ser dito, É o que chamo de
que se possa ne la perceber um fio comum , a não ser a recorrCnlc dis- "do mesticação da fala do outro" . Cerros USOs do discurso direto tam-
cussão sobre a concepção d e linguage m, d e s uje ito e de sua relação bém podem enquadrar-se nessa categoda. Penso especialme nte na.
com a língua. Assumo minha dific uldade (de diversas ordens) para que les ~extos (escritos, radio fô nicos o u audiovis u:lis) que mo bilizam
incorporar tal d e bate c justificar leo ricamente minhas opções. As ra- o depoimento d e terceiros que supoSlamente seriam represe ntati-
ZÕt!s Que me m ovem decorre m d e experiência amcrior de aná lise de vos d os destinatários, roru lando-o, emoldura ndo, d espindo-os de
discursos, sendo, portamo, de ordem pragmática, Regis[ro, porém, seu COntexto c impondo.lhes arbitrariamente um sentido.
Que não desconheço os principais lances de tal confronto . Assim, es- O illterdilo re fere·se a uma fo rma de ce ns ura não assumida
tOu consciente de que o conceito de implídlo que escolhi refere-se ~ndo praticada com freqü ê ncia por comunidades disc ursiV:IS qu~
ao proposto por Ducrot em s uas primeiras formu lações (Dlre et ne tem por princípio ideo lógico:t liberdade de expressão. São "interdi-
pas di re) , que j:í se opunha ao de Austin e que foi refumdo por Paul tadas" aos f-d.lan tes palavras, expressões e temas in teiros considera-
Henry (A ferramenta imperfeita) e revisto por Duc rot mes mo "O di- dos caractens ticos dos d iscursos concorremes. É uma autocens ura,
zer c o dito". Também sei que Orlandi n:'io ace ita que o implícito seja
considerado uma forma de silê ncio , sendo antes um seu epifenõme-
39 E.mbor~ olcj~ me ~proprian d o d os tcnnos de O rland l (ro nnas de silêncio e d e
no (As fonnas do s i.li ncio) . s,lenciam e nIO), não i assim que cb. 1"lIa o assumo. SU:I abordagc:". t Ix:m ili.
rcrem e, tr.Iha lhll noutro nin :1 de lIbstr.l.ç'io c qucslionll tiS fund~ menlO!i do
c:on cc!to de 5 i1~ndO na~ teorias d:l linguagem.

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interio rizada, que pensa estar suprimindo sentidos possíveis ao im- gimos que sejam criadas as condições", o u "hoje ninguém pode ser
pedir palavras que supos tamente seriam seus suportes. Exemplos atendido", ou "a simação d o povo vai de mal a pior" . )á apressuposi-
clássicos são os das expressões "transferência de conhecime nto", ção lem suporte no próprio enunciado. Segundo Pinto, "pressuposi-
"promoção social", o u das palavras "difusão" e "descnvohimemo", ção é o nome que se dá a cada uma das infert:ncias ou conclusões
No entanto, a própria composição etimológica de "hnerd!to" desvela que podem ser riradas de um enunciado c que se mantêm inaltera-
sua capacidade de expor, através do não dito, um OUtro possível di· das quando o negamos" (1994 : 103). Por exemplo, no enunciado:
zer; desvela a inexorável natureza inft:nextual d o discurso.40 "o s cidadãos não conhecem d e modo pleno seus direitos", pressu.
A e:l:clllsdo é a fo noa mais radical de s ilenciamento. Simples- põe-se que os cidadãos possuem direitos, mesmo que alguém dis-
mente se o mite no plano visível a existência de outros discursos. O corde da situação de desinformação. As pressuposições também
interdito é também uma forma de exclusão, mas caracteriza·se por podem ser vistas como pré-cOllstruídos, principalmente numa rela-
substituir os tennos por o utros, d eixando a nu sua estratégia. Os ção discursiva contínua, na qual as referências aos textos preceden-
sentidos S.10 compostos por memó ria e por atualidade , e a s ubstitui- tes são freqüemes .
ção dentro do mesmo C'Ampo d iscursivo não tira o Outro de cena, O prê-conslruído caracteriza·secamo o já dito, e por isso au-
apenas propõe novas regras para o mesmo jogo.J:í;! exclusão pu r:! e sente, mas um já dito capaz de significar de OU tro modo. Os objetos
simples remove da cena discursiva outras falas e , po rtanto, outrOS das formações discursivas encontram sua estabilidade nos e nuncia-
atores soci:lis. dos sob a forma d e prt-conslruídos. Embor.! sejam inferidos na aná-
Por seu turno , as formas do silê ncio apresentam-se como lise sinc rô nica , devem ser pesquisados na diacrônica. São as vozes da
pré-construídos o u como implícitos. Deixemos o pré-construído Cultura e da H istória que ali comparecem sutilme nte representadas,
p:tra o final. Nas pabvr.J.s de Ducro t, muito eficazes como construtoras de sentido, por se apresentarem
lJá n/<.Xlos de e.'1m:ssdo fmplfclta q/lu permitem deLwu u.uender sem ,,,.
como naturais e por isso mesmo serem aceitas se m quesr:io, como
fOrrer lia resfJfJ"sabflfd(lde de ler dito ( .. .) . Ora, se lem jn"ll'irml/!mel/le fie- nos adverte Bourdieu : nA força do pré-construído esr:í em que,
ccssfd(llle de (fiZilr ccrt(lS coisas f! 0 0 mesm o telllfJfJ dc ~/erja..""f!r com o " achando·se inscrito ao mesmo rempo nas COiS:lS e nos cérebros, e le
mio as /i/.>é~mQS dltfJ, de dL~/as mas lle modo UlI ql/iI se possa rCC/lSt,r
sI/a resfJfJllsab/lldalle. (apud O rlandi, 1993b: 67~)
se apresenta com as aparê ncias da evidência, que passa despercebi-
da porque é perfeitamente natuml " (1984: 49) .
Essa fo rmulação leva, numa primeira visada, a se pensar que As "nomeações" são típicas do pré-construído. Assim tam.
eSlamos tratando a fala no p lano exclusivo do illlcllcional. Mas o im- bém a memória d e disc ursos anterio res do próprio emissor, quando
plícito diz respeito:l lima dimensão essencial da atividade discursiva, inscritos numa perspectiva seqüencial, incluindo as imagens cons.
que pode independer da consciência do falame , esta ndo o enuncia- truídas dos sujeitos. As citações da cultura, sem aspas e sem referên-
dor coagido pe las condiçôes de produção discursivas. Ele atua no cias explícitas à s ua apropriação, também são e..'Cem plos dessa fonna
plano do contexto e das "normas" de funcionament o social c discur- de silêncio que trabalha no domínio da memória, inclusive na me-
sivo. mória dos silenciamentos.
O implícito apresenta·se sob as formas de subentendido e de Enfim , estas são marcas possíveis d e serem detec tadas nos
pressuposição, O subente"dido miO te m materialidade discursiva, a discursos. Embora d e modo algum esgotem as possibilidades, co-
interprelação decorre da situação de e nunciação. Um exemplo seria: b rem uma certa ga/ml de fenô me nos associados com o objetivo d cste
"o posto de saúde está sem condições de funcio name nto". Depen- estudo, dentro da perspectiva aqui assumida d e Análise de Discur-
dendo da situação de enunciação, poderia estar subcnte ndido: "exi- sos .

40 Fo i Orl,mdi qu~m me eh~ mO\.l alençio p:&nll.'SSc: asP(:ctO, ao coment:lr t:m um


{Q:to a pal:l\"r.t fr.\nccsa III/erillre.

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interio rizada, que pensa estar suprimindo sentidos possíveis ao im- gimos que sejam criadas as condições", o u "hoje ninguém pode ser
pedir palavras que supos tamente seriam seus suportes. Exemplos atendido", ou "a simação d o povo vai de mal a pior" . )á apressuposi-
clássicos são os das expressões "transferência de conhecime nto", ção lem suporte no próprio enunciado. Segundo Pinto, "pressuposi-
"promoção social", o u das palavras "difusão" e "descnvohimemo", ção é o nome que se dá a cada uma das infert:ncias ou conclusões
No entanto, a própria composição etimológica de "hnerd!to" desvela que podem ser riradas de um enunciado c que se mantêm inaltera-
sua capacidade de expor, através do não dito, um OUtro possível di· das quando o negamos" (1994 : 103). Por exemplo, no enunciado:
zer; desvela a inexorável natureza inft:nextual d o discurso.40 "o s cidadãos não conhecem d e modo pleno seus direitos", pressu.
A e:l:clllsdo é a fo noa mais radical de s ilenciamento. Simples- põe-se que os cidadãos possuem direitos, mesmo que alguém dis-
mente se o mite no plano visível a existência de outros discursos. O corde da situação de desinformação. As pressuposições também
interdito é também uma forma de exclusão, mas caracteriza·se por podem ser vistas como pré-cOllstruídos, principalmente numa rela-
substituir os tennos por o utros, d eixando a nu sua estratégia. Os ção discursiva contínua, na qual as referências aos textos preceden-
sentidos S.10 compostos por memó ria e por atualidade , e a s ubstitui- tes são freqüemes .
ção dentro do mesmo C'Ampo d iscursivo não tira o Outro de cena, O prê-conslruído caracteriza·secamo o já dito, e por isso au-
apenas propõe novas regras para o mesmo jogo.J:í;! exclusão pu r:! e sente, mas um já dito capaz de significar de OU tro modo. Os objetos
simples remove da cena discursiva outras falas e , po rtanto, outrOS das formações discursivas encontram sua estabilidade nos e nuncia-
atores soci:lis. dos sob a forma d e prt-conslruídos. Embor.! sejam inferidos na aná-
Por seu turno , as formas do silê ncio apresentam-se como lise sinc rô nica , devem ser pesquisados na diacrônica. São as vozes da
pré-construídos o u como implícitos. Deixemos o pré-construído Cultura e da H istória que ali comparecem sutilme nte representadas,
p:tra o final. Nas pabvr.J.s de Ducro t, muito eficazes como construtoras de sentido, por se apresentarem
lJá n/<.Xlos de e.'1m:ssdo fmplfclta q/lu permitem deLwu u.uender sem ,,,.
como naturais e por isso mesmo serem aceitas se m quesr:io, como
fOrrer lia resfJfJ"sabflfd(lde de ler dito ( .. .) . Ora, se lem jn"ll'irml/!mel/le fie- nos adverte Bourdieu : nA força do pré-construído esr:í em que,
ccssfd(llle de (fiZilr ccrt(lS coisas f! 0 0 mesm o telllfJfJ dc ~/erja..""f!r com o " achando·se inscrito ao mesmo rempo nas COiS:lS e nos cérebros, e le
mio as /i/.>é~mQS dltfJ, de dL~/as mas lle modo UlI ql/iI se possa rCC/lSt,r
sI/a resfJfJllsab/lldalle. (apud O rlandi, 1993b: 67~)
se apresenta com as aparê ncias da evidência, que passa despercebi-
da porque é perfeitamente natuml " (1984: 49) .
Essa fo rmulação leva, numa primeira visada, a se pensar que As "nomeações" são típicas do pré-construído. Assim tam.
eSlamos tratando a fala no p lano exclusivo do illlcllcional. Mas o im- bém a memória d e disc ursos anterio res do próprio emissor, quando
plícito diz respeito:l lima dimensão essencial da atividade discursiva, inscritos numa perspectiva seqüencial, incluindo as imagens cons.
que pode independer da consciência do falame , esta ndo o enuncia- truídas dos sujeitos. As citações da cultura, sem aspas e sem referên-
dor coagido pe las condiçôes de produção discursivas. Ele atua no cias explícitas à s ua apropriação, também são e..'Cem plos dessa fonna
plano do contexto e das "normas" de funcionament o social c discur- de silêncio que trabalha no domínio da memória, inclusive na me-
sivo. mória dos silenciamentos.
O implícito apresenta·se sob as formas de subentendido e de Enfim , estas são marcas possíveis d e serem detec tadas nos
pressuposição, O subente"dido miO te m materialidade discursiva, a discursos. Embora d e modo algum esgotem as possibilidades, co-
interprelação decorre da situação de e nunciação. Um exemplo seria: b rem uma certa ga/ml de fenô me nos associados com o objetivo d cste
"o posto de saúde está sem condições de funcio name nto". Depen- estudo, dentro da perspectiva aqui assumida d e Análise de Discur-
dendo da situação de enunciação, poderia estar subcnte ndido: "exi- sos .

40 Fo i Orl,mdi qu~m me eh~ mO\.l alençio p:&nll.'SSc: asP(:ctO, ao coment:lr t:m um


{Q:to a pal:l\"r.t fr.\nccsa III/erillre.

164 165
l"eslta Araújo

Ponto de passagem nexões com outros cam pos matriciais discursivos" (f austo Neto,
199L 19).
Quanto â natureza d os sentidos, eles não estão d ados, mas
o que se segue poderia ser chamado de "conclusão". No en- são constilUídos no processo das relações sociais, no processo d is-
tanto, concluir algo é sempre uma tentativa de estabilizar ou de fe- cursivo. Essas relações d ;"i.o-se em con textos institucionais que, como
char sentidos. É, pois, um gesto inadequado para um texto que tem todo COntextO, não funcionam apenas como pano de fundo , m as são
como eixo a idéia de que o sentido é produzido, negociado, dialógi- modeladores do sentido. Os su jeitos que participam da teia d e semio-
co, relativo, plural e instável. Mas tais características não negam o se social não estão soltos no tempo e no espaço . Têm uma história e
fato de que um locutor tem sempre a intenção de produzir efeitos fazem parte de instituições, por meio da qual ocupam uma dada p0-
sobre o destinatário de seu discu rso e para isso desenvolve estratégias s ição na sociedade, posição que é determinante do modo como e le
de diversas ordens, entre e las a estratégia da reafirmação do dito, vai participar d a correlação de forças e da dis puta de poder que se
uma das funções das conclusõeS. Outras funções não são ainda cabí- processa no cenário discursivo. Por outro lado, as posições não são
veis, dependendo do desenvolvimento do próximo capítulo. Po r c ristalizadas, porque também são modelad as pe lo discurso, m ovi-
iSIO , chamei este tópico de "pom o de passagem", como o fiz no capí- mento dialé tico que caracteriza a dupla face discursiva: a social e a
tulo anterior, pois o que pretendo nele é retomar e reafinnar os pon- textual. Nisto tam bém reside uma dife rença importante com O m o-
tos que me pareceram centrais no "oLhar semiológico" aqui proposto, delo dominante, q ue vê as relações econômic;ls e sociais como sepa-
de modo a estabelecer uma ponte entre o dito e o por dizer. radas e su perpostas :à linguagem, quando esta é uma dimensão
O o lhar semiológico diFere essencialmente do outro o lliar, o constitutiva daquelas relações, que, por sua vez, sobre ela exercem
dominante, que chamei de "comunicacional", pois partem de posi- coerções.
ções divergentes e mesmo antagônicas sobre a relação entre o sujei- Ao considerar que o fenômeno de produção dos sentidos se
to e a língua e sobre a natureza dos sentidos. A visão dominante dá pelos discursos , a ~emio logia impõe aos seu s adeptos a condição
percebe o sujeito como ativo sobre a língua, combinando palavras e de analistas de discursos e Ines pede que façam "falar" aos discursos.
produzindo s ignificados que atendam seus interesses , mas cujas Ou seja: mapear e desmontar pontos de sua tcssitura aparente, rela-
possibilid ades s:1o d efinidas pelo significado que cada palavra traz cioná-los com uma rede in terte.xtual e e nfim compreende r suas es-
em si, de forma imanente. A visão semio lógica também entende que tratégias 'de produção. Este é um dos níveis de análise requerido, o
o suje ito é aquele que trabalha sobre a matéria significante para pro- nível descritivo, no qual se identificam as operações discursivas a
duzir enunciados, mas que esse trabalho sofre coerções de duas or- partir de superficies significantes. O o utro é o nível explicativo, que
dens; uma, a de suas singularidades e outra, a do campo histórico. permite "compreender por que, nesse ponto particular d a rede social
Nas marcas singulares, está presente o O u tro, de forma inalie- da se miose, tais operações foram acionadas, definindo um campo
nável. O Outro atr.lVessa e constitui o Eu, é sua condição de existên- detemlinado d e efeitos ( ...)" (Verón, 1980; 206) . Para atendê-lo, a
cia. Nas m arcas do sujeito (heterogeneidade discursiva) , estão Semiologia faz recurso de con hecime n tos de outras disciplinas , que
representadas as imagens que o e m issor tem de si mesmo (ou quer possibilitem interpretar as condições de produção de um dado dis-
fazer crer), do destinatirio de seu discurso , dos demais a tores sociais curso. Mas os dois níveis não se p rocessam de modo seqüe ncial e
e das relações que unem uns aos o u tros. As marcas da História (inter- nesta ordem . A escolha de um corpus de análise , por exemplo , não
textualidade) trazem consigo a dupla constatação de que o sujeito se dá de modo a leatório e sim direcionado por hipóteses que são
não controla inteiramente seu discurso, uma vez que é lugar de uma produto d e um modo teórico e specífi co d e o lhar a cena social.
ordem de disputas s imbólicas que ul trapassa su a consciência; e a de O arcabouço deste modo de ol har definiu-se para mim a par-
que "todo discurso se constrói à base de out ros discursos e todo dis- tir da escolha d as propostas teóricas de Bourdicu sobre as relações
curso, embora pertencendo a um campo matricial distinto, tem co-

lO. 167
l"eslta Araújo

Ponto de passagem nexões com outros cam pos matriciais discursivos" (f austo Neto,
199L 19).
Quanto â natureza d os sentidos, eles não estão d ados, mas
o que se segue poderia ser chamado de "conclusão". No en- são constilUídos no processo das relações sociais, no processo d is-
tanto, concluir algo é sempre uma tentativa de estabilizar ou de fe- cursivo. Essas relações d ;"i.o-se em con textos institucionais que, como
char sentidos. É, pois, um gesto inadequado para um texto que tem todo COntextO, não funcionam apenas como pano de fundo , m as são
como eixo a idéia de que o sentido é produzido, negociado, dialógi- modeladores do sentido. Os su jeitos que participam da teia d e semio-
co, relativo, plural e instável. Mas tais características não negam o se social não estão soltos no tempo e no espaço . Têm uma história e
fato de que um locutor tem sempre a intenção de produzir efeitos fazem parte de instituições, por meio da qual ocupam uma dada p0-
sobre o destinatário de seu discu rso e para isso desenvolve estratégias s ição na sociedade, posição que é determinante do modo como e le
de diversas ordens, entre e las a estratégia da reafirmação do dito, vai participar d a correlação de forças e da dis puta de poder que se
uma das funções das conclusõeS. Outras funções não são ainda cabí- processa no cenário discursivo. Por outro lado, as posições não são
veis, dependendo do desenvolvimento do próximo capítulo. Po r c ristalizadas, porque também são modelad as pe lo discurso, m ovi-
iSIO , chamei este tópico de "pom o de passagem", como o fiz no capí- mento dialé tico que caracteriza a dupla face discursiva: a social e a
tulo anterior, pois o que pretendo nele é retomar e reafinnar os pon- textual. Nisto tam bém reside uma dife rença importante com O m o-
tos que me pareceram centrais no "oLhar semiológico" aqui proposto, delo dominante, q ue vê as relações econômic;ls e sociais como sepa-
de modo a estabelecer uma ponte entre o dito e o por dizer. radas e su perpostas :à linguagem, quando esta é uma dimensão
O o lhar semiológico diFere essencialmente do outro o lliar, o constitutiva daquelas relações, que, por sua vez, sobre ela exercem
dominante, que chamei de "comunicacional", pois partem de posi- coerções.
ções divergentes e mesmo antagônicas sobre a relação entre o sujei- Ao considerar que o fenômeno de produção dos sentidos se
to e a língua e sobre a natureza dos sentidos. A visão dominante dá pelos discursos , a ~emio logia impõe aos seu s adeptos a condição
percebe o sujeito como ativo sobre a língua, combinando palavras e de analistas de discursos e Ines pede que façam "falar" aos discursos.
produzindo s ignificados que atendam seus interesses , mas cujas Ou seja: mapear e desmontar pontos de sua tcssitura aparente, rela-
possibilid ades s:1o d efinidas pelo significado que cada palavra traz cioná-los com uma rede in terte.xtual e e nfim compreende r suas es-
em si, de forma imanente. A visão semio lógica também entende que tratégias 'de produção. Este é um dos níveis de análise requerido, o
o suje ito é aquele que trabalha sobre a matéria significante para pro- nível descritivo, no qual se identificam as operações discursivas a
duzir enunciados, mas que esse trabalho sofre coerções de duas or- partir de superficies significantes. O o utro é o nível explicativo, que
dens; uma, a de suas singularidades e outra, a do campo histórico. permite "compreender por que, nesse ponto particular d a rede social
Nas marcas singulares, está presente o O u tro, de forma inalie- da se miose, tais operações foram acionadas, definindo um campo
nável. O Outro atr.lVessa e constitui o Eu, é sua condição de existên- detemlinado d e efeitos ( ...)" (Verón, 1980; 206) . Para atendê-lo, a
cia. Nas m arcas do sujeito (heterogeneidade discursiva) , estão Semiologia faz recurso de con hecime n tos de outras disciplinas , que
representadas as imagens que o e m issor tem de si mesmo (ou quer possibilitem interpretar as condições de produção de um dado dis-
fazer crer), do destinatirio de seu discurso , dos demais a tores sociais curso. Mas os dois níveis não se p rocessam de modo seqüe ncial e
e das relações que unem uns aos o u tros. As marcas da História (inter- nesta ordem . A escolha de um corpus de análise , por exemplo , não
textualidade) trazem consigo a dupla constatação de que o sujeito se dá de modo a leatório e sim direcionado por hipóteses que são
não controla inteiramente seu discurso, uma vez que é lugar de uma produto d e um modo teórico e specífi co d e o lhar a cena social.
ordem de disputas s imbólicas que ul trapassa su a consciência; e a de O arcabouço deste modo de ol har definiu-se para mim a par-
que "todo discurso se constrói à base de out ros discursos e todo dis- tir da escolha d as propostas teóricas de Bourdicu sobre as relações
curso, embora pertencendo a um campo matricial distinto, tem co-

lO. 167
I·u.'$llaAralljQ

em sociedade, que localizam na disputa do poder simbólico o eixo OI.HAR DOMINANTE OLHAR SEMIOLÓGICO
que o rganiza os interesses e estratégias dos agentes, às quais acres-
Significado Sentido
centei a noção fo ucaultiana de rede produtiva d e micropoderes e a
de Centro-Periferia. Mas, para se compreender o cenário específico Mcn~agem Discurso
da imervenção social no meio rur-.tI do Nordeste brasileiro, é preciso
Decodificação Atribuição de sentido
mais. E é esse "mais" que a primeir-.l parte do próximo capítulo pre-
tende dar conta, convocando outros "companheiros de viagem" c, Sl.lbjo.:tividade Intcrsubjetivklade
na seqüência, avaliar a viabilidade e a adequação da aplicação do en· Men:ado simbólico
Interação ..... ........ .... .
foque semiológico às prâticas institucionais de comunicação no
meio rural, comparando-o com o enfoque ora dominame. Antes, po- Sentido podc scr control.ulo ... Sentido abissal
rém , gostaria de sintetizar a comparação dos dois o lhares no quadro Comunicação como u-ansferÍ':nda de ço- Comunicaç:io como negociação de
a seguir: nhcrimentos ou estímulos a atitudes ... sentidos

Sentido t: imanentc às palavras . Sentido l: eOntextualizado

Receptores são decodificadorcs .. Receptores s:io interlocutores

Comunicação deve superar ruídos ...... "Ruídos" são vozes const itu tivas do
sentido

Cena social reduzida il rdação emis· Considera a plur.Llidade dos atores


sor·receptor ...

Objetivo principal do analista, avaliar Objetivo princIpal do analista: co--


comunicação ..... .. . nhcce r os mecanismos de produ·
ção tios sentidos

Permite avaliar o d ito X o compreendi· Permite compree nd e r mecanismos


do. .......... .............. . ............... . de base do funcionamento social

Avalia exposição do leitor 11 mensagem A\-alia relação do leitor com o texto

Tende 3 sincronia, e llmina dimcnsão Conduz 3 an:illse diacrônica


histórica ... ...... ........... .

Privilegia aspecto semintko ....... . Considera semântica, sintática e


pragmátka

Ideologia centrada no conteúdo ......... . Ideologia COIllO processo difuso (con·


teúdo , fomla , circulação)

línguagem cxpn!ssa o real ..... ..... . Linguagem produz o real

168
'"
I·u.'$llaAralljQ

em sociedade, que localizam na disputa do poder simbólico o eixo OI.HAR DOMINANTE OLHAR SEMIOLÓGICO
que o rganiza os interesses e estratégias dos agentes, às quais acres-
Significado Sentido
centei a noção fo ucaultiana de rede produtiva d e micropoderes e a
de Centro-Periferia. Mas, para se compreender o cenário específico Mcn~agem Discurso
da imervenção social no meio rur-.tI do Nordeste brasileiro, é preciso
Decodificação Atribuição de sentido
mais. E é esse "mais" que a primeir-.l parte do próximo capítulo pre-
tende dar conta, convocando outros "companheiros de viagem" c, Sl.lbjo.:tividade Intcrsubjetivklade
na seqüência, avaliar a viabilidade e a adequação da aplicação do en· Men:ado simbólico
Interação ..... ........ .... .
foque semiológico às prâticas institucionais de comunicação no
meio rural, comparando-o com o enfoque ora dominame. Antes, po- Sentido podc scr control.ulo ... Sentido abissal
rém , gostaria de sintetizar a comparação dos dois o lhares no quadro Comunicação como u-ansferÍ':nda de ço- Comunicaç:io como negociação de
a seguir: nhcrimentos ou estímulos a atitudes ... sentidos

Sentido t: imanentc às palavras . Sentido l: eOntextualizado

Receptores são decodificadorcs .. Receptores s:io interlocutores

Comunicação deve superar ruídos ...... "Ruídos" são vozes const itu tivas do
sentido

Cena social reduzida il rdação emis· Considera a plur.Llidade dos atores


sor·receptor ...

Objetivo principal do analista, avaliar Objetivo princIpal do analista: co--


comunicação ..... .. . nhcce r os mecanismos de produ·
ção tios sentidos

Permite avaliar o d ito X o compreendi· Permite compree nd e r mecanismos


do. .......... .............. . ............... . de base do funcionamento social

Avalia exposição do leitor 11 mensagem A\-alia relação do leitor com o texto

Tende 3 sincronia, e llmina dimcnsão Conduz 3 an:illse diacrônica


histórica ... ...... ........... .

Privilegia aspecto semintko ....... . Considera semântica, sintática e


pragmátka

Ideologia centrada no conteúdo ......... . Ideologia COIllO processo difuso (con·


teúdo , fomla , circulação)

línguagem cxpn!ssa o real ..... ..... . Linguagem produz o real

168
'"
lU - AJUSTE DE FOCO

Um ajuste de foco , eis o objetivo do capítulo que aqui se inicia.


A Semiologia dos Discursos Sociais é um grande campo de possibili-
dades. A proposfa deste trabalho é fazer com que uma delas seja sua
aplicação à pdtica comunicativa das organizaçõcs que procuram in-
tervir no meio rural. E isto pode ser feiro de muitas maneiras c por
muitas vias. Aponr-.mdo temas de pesquisa, por exemplo; ou redire-
donando os estudos de recepção; ou oferecendo novas categorias
para repensar os modelos de comunicação; ou abrindo outras pers-
pectivas para a compreensão do fun cionamento social, através da
análise da pr.i.tica discursiva, EmborA tangenciando a amerior, é esta
última opção a minha, através da qual buscarei 3v-J.liar se as idéias teó-
ricas c metodo lógicas que foram apresentadas no capítulo anterior
mostralll-se operacionais t: válldas quando confrontadas com a reali-
dade empírica das práticas de comunicação para a intervenção social.
Um objetivo decorrente d este é precisar melhor as diferenças com a
análise que nos é peml itida pelo modo de olhar dominante, já explici-
tadas no plano teórico.
Tracl-st:, pois, de um ajuste de foco do olhar semiológiro, cen-
trando-o sobre uma fraçáo mínima da realidade que nos em1)lve e re·
suJando sua nitide-L. A empreitada será dividida t:m duas etapas. Na
primeira, será "(."Onstruído" um cenário, isto é, serÁ caracreriz:.ldo aquilo
qut: chamei na Introdução de "Nordeste das pr-.iticas discursivas", do
qual alguns fragmentos já (oram adiantados, mas que agora serão vistos
°
sob o ângulo específico da discussão sobre imaginário da articu lação
social peja solidariedade. A segunda parte será dedicada à verificaç,10 de
hipóteses, por meio da an:Uise dos discursos veiculados num corpus
fonnado por seis impressos destinados aos ClJllponeses.
O conceito de "discurso concorreme" (ou polêmico) é cemraJ
neste capítulo, por isso desejo acrescelllaJ' algumas reflexões às do ca-
pítulo anterior. antes de passar à cena que nos imeressa. Freqüente-
mellle a e."Cpressão "discurso polêmico" re fere-se a textos que buscam
polemizar com outros no plano da doutrina. Nesse caso, pode-se
lU - AJUSTE DE FOCO

Um ajuste de foco , eis o objetivo do capítulo que aqui se inicia.


A Semiologia dos Discursos Sociais é um grande campo de possibili-
dades. A proposfa deste trabalho é fazer com que uma delas seja sua
aplicação à pdtica comunicativa das organizaçõcs que procuram in-
tervir no meio rural. E isto pode ser feiro de muitas maneiras c por
muitas vias. Aponr-.mdo temas de pesquisa, por exemplo; ou redire-
donando os estudos de recepção; ou oferecendo novas categorias
para repensar os modelos de comunicação; ou abrindo outras pers-
pectivas para a compreensão do fun cionamento social, através da
análise da pr.i.tica discursiva, EmborA tangenciando a amerior, é esta
última opção a minha, através da qual buscarei 3v-J.liar se as idéias teó-
ricas c metodo lógicas que foram apresentadas no capítulo anterior
mostralll-se operacionais t: válldas quando confrontadas com a reali-
dade empírica das práticas de comunicação para a intervenção social.
Um objetivo decorrente d este é precisar melhor as diferenças com a
análise que nos é peml itida pelo modo de olhar dominante, já explici-
tadas no plano teórico.
Tracl-st:, pois, de um ajuste de foco do olhar semiológiro, cen-
trando-o sobre uma fraçáo mínima da realidade que nos em1)lve e re·
suJando sua nitide-L. A empreitada será dividida t:m duas etapas. Na
primeira, será "(."Onstruído" um cenário, isto é, serÁ caracreriz:.ldo aquilo
qut: chamei na Introdução de "Nordeste das pr-.iticas discursivas", do
qual alguns fragmentos já (oram adiantados, mas que agora serão vistos
°
sob o ângulo específico da discussão sobre imaginário da articu lação
social peja solidariedade. A segunda parte será dedicada à verificaç,10 de
hipóteses, por meio da an:Uise dos discursos veiculados num corpus
fonnado por seis impressos destinados aos ClJllponeses.
O conceito de "discurso concorreme" (ou polêmico) é cemraJ
neste capítulo, por isso desejo acrescelllaJ' algumas reflexões às do ca-
pítulo anterior. antes de passar à cena que nos imeressa. Freqüente-
mellle a e."Cpressão "discurso polêmico" re fere-se a textos que buscam
polemizar com outros no plano da doutrina. Nesse caso, pode-se
opor discursos a favo r o u contra qualquer tema, por exemplo a Refor- c u rso excluído fo i compar:tdo, por Fo ucault, às ma rgens do rio que,
ma Agrária, a Teologia da libertação etc. Não é disso que se trata se m estarem d entro d ele, o cons tituem .
aqui, embora os antagonismos doutrinários explícilos detr.lm ser in- Entre os muito s ângulos sub os quais se pode examinar as rela·
cluídos na análise da concorrência discursiva. ções d iscursiv:ts polêmicas, chamaria atenção para o fato de que o
As relaçõcs polêmicas são, e m primeiro lugar, constitutivas dos núcleo e missor que const rói essas relações sempre supõe (ou pelo
discursos, faze m pane da sua natureza, na medida e m que é recusan· menos tenta fazer su por) a existência de uma instância s uperior de
do as Cltegorias de sentido propoStas pelo Outro e repropond o as ju lgamemo (um "tribunal supremo", nos tennos d e ~f:Jingueneau) ,
suas próprias categorias que cada um afirma sua individualidade e diame da qual se apresentam os adversários . Esse "código transcen·
participa da disputa simbólica , Is to pode ser observado na oposição d e nte" assume variadas ide ntidades - a Moral , aJustiça, a SoLidarie·
d o utriná ria , nível mais explícilO, ó bvio e superficial da po lê mica, dade, a Fraternidade, a Ciê ncia, os inte resses de classe e tc. - , de
mas principalme nte nas m:lrcas formais do discurso, d estle aspec- acordo com a (o nnaçáo discursiV'd e os interesses e m cena. Não cabe
toS propriamente s intáticos e gram aticais até o s recu rsos de edit.o- llO an:rnsta julga r se cad a discurso é bom ou mau , JUStO ou injusto,
ração (topografia, construção de legendas, títulos , tamanhos e tipos ceno o u e rrado. Nem em procurar identificar um sent ido verdadeiro
d e le tra, uso da cor e de ilustrações e tc.), o nde os m ecanismos de e um falso . Seu interesse é , antes, perceber qual O sentido imposto,
concorrê ncia são m ais sutis e , po r isso mesmo, mais eOcazes. qual o aceito e qual O recu sado. Como diz O rlandi , "é pela relação de
Aqui , porém, o significado da expressão é mais visceral ainda, forças (man::ando os semldos pela posição dos que os produzem)
sendo a essenc ia de uma d as hi póteses centrais, a de que os vários que se inSlala o confron to e nâo pela s incerid ade, o u falsidade d os
núcleos institucio nais que inte rvê m no me io rural concorrem discur· que os produzem" (1993 : 11 2) .
sivamen l'e e ntre si, visando à hegemo nia s imbólica sobre O núclt."O re· É dentro do contexto de relações de força que será examinada
cepto r, fo rmado pelos camponeses. A concorrência, n:1 maio ria d os aqui a concorrê ncia discursil..., e ntre os núcleos selecio nados,41 pois é
casos, ocorre com um s imulacro do O O[ro . que cad a discurso cons- pel:l intervençiio discursiV'd que as instituições atual izam e c ristalizam
u'Ói a seu modo. sendo a fo rma desse si mulacro um d os recursos p0- relações de poder p ré-confi guradas na cena social . tugares SOCiais e
lê micos m ais fo nes. institucionais definem O poder d e fa lar, que, por sua vez, busca a le-
Devido 1) ao imbricamento das cenas social e discursiva; 2) ao gitimid ade por meio do d ispoSitivo de enunciação, construido em
m o me nto de crise e indefinição de papéis a que venho aludindo des- to rno de algu ns eixos, e ntre e les o da relação de concorrê ncia com
de a Introdução; e 3) ao movime nto de trans ição paradigm:ítica que o utros discursos.
se o bserva nos campos eSTudados, exacerba·se o movimento d e des·
locam e nto das linhas de pani lh a da m em ó ria polêmica , Illcctnism o
que habitualmente segue coorde nadas ditadas pelos inte resses e m
Os discursos solidários no Nordeste rural
jo go. Complexifica-se, pois, a análise da concorri:ncia discursiva.
Ainda é preciso considerar que ne m sempre um discurso que O discurso da ação solidá ria não é novo no Brasil. ONGs, igrejas
não a prese nte marcas d e re lações polêmicas na s uperfic ie textual é e panidos políticos de esquerda vem exercitanda.o de lo nga d a ta,
imune o u indiferente a elas. A exclusiio do Outro é uma fo rma bas-
tante contundente de concorrência . Nas palavras de Malngue neau,
';se um discurso parece indifere rHe à p resença d e OUlros, é porque, 41 O confronto SOCial. ao lado d o debate politiL"O. é uma das carnCle rísti C<l5 qu e
semanticamente, lhe é c rucial denegar o cam po do qual d epende e fouL-~ ult a ponta co mo imponanu:s n~ "eL'Onomia polltlca" da Verdade. As ou·
não porque poderia d esenvolver·se farol dele" (op . cit.: 122). O dis- são: sua conc;e rllr;U;;10 na fo nna d o d iscurso clentífico c nas i nstit\l i~'ÓCs que
tr.1S
o pnxluzcm; li constlOtc Inci(ll~'iio«OflÔmica e pol ít ica; a intensa d ifus iioe con·
sumo; e o controle da d ifusão por algu ll.5 grandes aparelhos, entn: os qua is ele:
conside r.l a unin ::rsid:ld e, ~ escriN r.l e os meios de comunicação ( 198Z: 13).

172 l7J
opor discursos a favo r o u contra qualquer tema, por exemplo a Refor- c u rso excluído fo i compar:tdo, por Fo ucault, às ma rgens do rio que,
ma Agrária, a Teologia da libertação etc. Não é disso que se trata se m estarem d entro d ele, o cons tituem .
aqui, embora os antagonismos doutrinários explícilos detr.lm ser in- Entre os muito s ângulos sub os quais se pode examinar as rela·
cluídos na análise da concorrência discursiva. ções d iscursiv:ts polêmicas, chamaria atenção para o fato de que o
As relaçõcs polêmicas são, e m primeiro lugar, constitutivas dos núcleo e missor que const rói essas relações sempre supõe (ou pelo
discursos, faze m pane da sua natureza, na medida e m que é recusan· menos tenta fazer su por) a existência de uma instância s uperior de
do as Cltegorias de sentido propoStas pelo Outro e repropond o as ju lgamemo (um "tribunal supremo", nos tennos d e ~f:Jingueneau) ,
suas próprias categorias que cada um afirma sua individualidade e diame da qual se apresentam os adversários . Esse "código transcen·
participa da disputa simbólica , Is to pode ser observado na oposição d e nte" assume variadas ide ntidades - a Moral , aJustiça, a SoLidarie·
d o utriná ria , nível mais explícilO, ó bvio e superficial da po lê mica, dade, a Fraternidade, a Ciê ncia, os inte resses de classe e tc. - , de
mas principalme nte nas m:lrcas formais do discurso, d estle aspec- acordo com a (o nnaçáo discursiV'd e os interesses e m cena. Não cabe
toS propriamente s intáticos e gram aticais até o s recu rsos de edit.o- llO an:rnsta julga r se cad a discurso é bom ou mau , JUStO ou injusto,
ração (topografia, construção de legendas, títulos , tamanhos e tipos ceno o u e rrado. Nem em procurar identificar um sent ido verdadeiro
d e le tra, uso da cor e de ilustrações e tc.), o nde os m ecanismos de e um falso . Seu interesse é , antes, perceber qual O sentido imposto,
concorrê ncia são m ais sutis e , po r isso mesmo, mais eOcazes. qual o aceito e qual O recu sado. Como diz O rlandi , "é pela relação de
Aqui , porém, o significado da expressão é mais visceral ainda, forças (man::ando os semldos pela posição dos que os produzem)
sendo a essenc ia de uma d as hi póteses centrais, a de que os vários que se inSlala o confron to e nâo pela s incerid ade, o u falsidade d os
núcleos institucio nais que inte rvê m no me io rural concorrem discur· que os produzem" (1993 : 11 2) .
sivamen l'e e ntre si, visando à hegemo nia s imbólica sobre O núclt."O re· É dentro do contexto de relações de força que será examinada
cepto r, fo rmado pelos camponeses. A concorrência, n:1 maio ria d os aqui a concorrê ncia discursil..., e ntre os núcleos selecio nados,41 pois é
casos, ocorre com um s imulacro do O O[ro . que cad a discurso cons- pel:l intervençiio discursiV'd que as instituições atual izam e c ristalizam
u'Ói a seu modo. sendo a fo rma desse si mulacro um d os recursos p0- relações de poder p ré-confi guradas na cena social . tugares SOCiais e
lê micos m ais fo nes. institucionais definem O poder d e fa lar, que, por sua vez, busca a le-
Devido 1) ao imbricamento das cenas social e discursiva; 2) ao gitimid ade por meio do d ispoSitivo de enunciação, construido em
m o me nto de crise e indefinição de papéis a que venho aludindo des- to rno de algu ns eixos, e ntre e les o da relação de concorrê ncia com
de a Introdução; e 3) ao movime nto de trans ição paradigm:ítica que o utros discursos.
se o bserva nos campos eSTudados, exacerba·se o movimento d e des·
locam e nto das linhas de pani lh a da m em ó ria polêmica , Illcctnism o
que habitualmente segue coorde nadas ditadas pelos inte resses e m
Os discursos solidários no Nordeste rural
jo go. Complexifica-se, pois, a análise da concorri:ncia discursiva.
Ainda é preciso considerar que ne m sempre um discurso que O discurso da ação solidá ria não é novo no Brasil. ONGs, igrejas
não a prese nte marcas d e re lações polêmicas na s uperfic ie textual é e panidos políticos de esquerda vem exercitanda.o de lo nga d a ta,
imune o u indiferente a elas. A exclusiio do Outro é uma fo rma bas-
tante contundente de concorrência . Nas palavras de Malngue neau,
';se um discurso parece indifere rHe à p resença d e OUlros, é porque, 41 O confronto SOCial. ao lado d o debate politiL"O. é uma das carnCle rísti C<l5 qu e
semanticamente, lhe é c rucial denegar o cam po do qual d epende e fouL-~ ult a ponta co mo imponanu:s n~ "eL'Onomia polltlca" da Verdade. As ou·
não porque poderia d esenvolver·se farol dele" (op . cit.: 122). O dis- são: sua conc;e rllr;U;;10 na fo nna d o d iscurso clentífico c nas i nstit\l i~'ÓCs que
tr.1S
o pnxluzcm; li constlOtc Inci(ll~'iio«OflÔmica e pol ít ica; a intensa d ifus iioe con·
sumo; e o controle da d ifusão por algu ll.5 grandes aparelhos, entn: os qua is ele:
conside r.l a unin ::rsid:ld e, ~ escriN r.l e os meios de comunicação ( 198Z: 13).

172 l7J
cad a núcleo dentro d e seus p ró prios p ressupostos, sejam os da defe- Outros níveis govername ntais também aderiram ao discurso d o
sa de i.nteresses coletivos, ação fr.Herna o u como princípio organiza- comunitário e da SOlidariedade, Inúme ras prefeituras adotam s/o-
tivo da sociedade. O cooperativi.s mo também não é novidade, tendo gans como "governo solidário" e apresentam projetos de ação social
sido por muito tempo a única solução apontada para a viabilização com d enominações s imilares a ~ Proje to Mutirão". Os governos esta-
d as atividades produtivas no me io rural. duais seguem na mesma linha, sendo que poderíamos citar d o is dos
O d ado novo é que esse d iscurso, na última (lécada, vem con- que se tornarAm mais conhecidos, no período de 1995 a 1998: o de
quistando rapidamente Outros espaços e aprofu ndando os antigos, de Cris tóvam Buarque (DF, do Pl), cuja eixo esrruturador (e palavra d e
tal sorte que t'emlOS como "comunidade" e "solidariedade" passaram ordem) fo i a ação comunitária, e o de Miguel Armes (PE, do PSB),
a fazer"parte da impre nsa diária, dos noticiários da 1V, da conversa co- cuja proposta de recuperação social foi embasada no estímulo às co-
tidiana. Naruralizou-se o agir coletivo e os d iscursos circulam como se operJ.tiv-As e associaçõcs comunitárias. Consolidando essa tendên-
o "ser comunidade" fosse um fdto narural e indiscutível. cia, a Constiruição de 1988 conté m vários artigos refere ntes ao
Espelho anamórfico d esse cen:írio é o Estado (capra e refrata a estímulo e favorecimento das ativid ades econômicas o rganizadas
imagem transfommda a partir d e sua estrutura) , que após o regime sob a forma d e cooperativas o u associações.
militar apropriou-se d o discurso comunitário que os o utros núcleos A e ntrada desse novo e ativo elemento no mercado s imbólico
faziam circu lar pelo movimento popul.:tr, na esperança de trdZCr juntO que negocia o sentido circulante no meio ruml exace rbou os meca-
a credibilidade que e les desfrutavam (e qu içá a e ficácia na ação sodal nismos d e concorrência discursiva. Os campo neses, por cujo reco-
e política) . J\bis recentemente, o at\lal governo federal transfonno u nhecimento e adesâo os núcleos institucionais entram em d isputa,
esse discu rso no eixo ce ntr.tl da sua imervenç:1o social, criando o passar.!m a ser , mais que nunca, bombardeados com discu rsos sobre
programa "Comunidade SoLidária que o rganiza as atividades assis-
M
, a ação comunitária e sobre o 1mbalho cooperativo, e ntremeado nos
tenciais do Estado . O programa tem também a atribuição d e incenti- temas os mais diversos e assumindo colo rações várias, a d epender
\f"Ar e, às vezes, coordenar ações de organizações da socic..-dade civil e do núcleo emissor. Capas , títulos e intenítulos, ilustraçôcs, como
dos vários ministérios cuja alçada com preende áreas par:l ele prioritá- texto explícito ou em pré-construídos, as marcas estão va.stamente
rias, como a refo rma agrári a e a geração d e e mpregos. De ta! fo nna, disse minadas. Como exemplo , alguns títulos dos impressos que
confere a estas atividades um caráter d e responsabilidade coletiva e compõem o corpus d e análise: "De compadre a compadre: depoi-
e nvolve-as com a mística do acordo social, esvaziando-as de o utros mento de um coope rativado"; "Cooperação entre fo rmigas: um
possíveis sentidos.42 exemplo a ser seguido "; "Q uando as mulheres se encomram"; M A fer-
O nome do programa é e mblemático da posturA q ue e le traduz: rdmenta do conselho comunitário"; "Murirão"j "Cooperativismo :
pelo "comunidade", termo que tem a capacid ade de apagar as diferen- um instrumento importante na lu ta" ~ "Ningu ém vive nem faz nada
ças e as desigualdades, constrói-se a idéia da unificação de interesses e sozi nho"; ··Cooperativa e trabalho comunitário ".
pressupõem-se condições dadas de um esforço coletivo; pelo "solidá- Nesse novo cenário, o cooperativismo ressurge como alvo de
ria" caracteriza-se O o b jetivo : quem tem, deve solidarizar-se com atenção prioritária de rodas as instâncias em'olvidas. Po r muito tem-
quem não tem, mas numa relação de doação. O slogan d e campanha- po, o fo mento a esse tipo de organiz::lção social, por natureza próprio
Todos por Todos - fecha o sentido, acentuando as duas d imensões. da iniciativa privada, ficou circunscrito à esfern governamental. As de-
mais perceb iam-no como ratificador do status quo, contrário aos inte-
42 Exc mplifl c~ndo com a Rcfonna Agrária: ~o =nsfonn:í-l~ em \Ima de suas priori- resses de transfonnação esrrutural . Apes,lr de a Constituição de 1988
dades. o KCom unldade Solidária" InSl;!re-a num conu:xtO de rr:u ernidade, dt'
:lpoio ans Kext:luído5", e apaga sua l:"oIr:lI:terÍ)tlca mais marcante, <tUI: f a d t:Se5-
~tur:u;:io do esque ma oIig:írquico de poder. P~"",.sc: assim" cs~rur:o. 50-
d ai I: l;onSllÓl-sc: um3 imagem dos sc:m-ICrr:::I comO bcndlcl:irios dc um2 2~"'30
sotid.ári2 d Oll " induídos~.

Ir, ITS
cad a núcleo dentro d e seus p ró prios p ressupostos, sejam os da defe- Outros níveis govername ntais também aderiram ao discurso d o
sa de i.nteresses coletivos, ação fr.Herna o u como princípio organiza- comunitário e da SOlidariedade, Inúme ras prefeituras adotam s/o-
tivo da sociedade. O cooperativi.s mo também não é novidade, tendo gans como "governo solidário" e apresentam projetos de ação social
sido por muito tempo a única solução apontada para a viabilização com d enominações s imilares a ~ Proje to Mutirão". Os governos esta-
d as atividades produtivas no me io rural. duais seguem na mesma linha, sendo que poderíamos citar d o is dos
O d ado novo é que esse d iscurso, na última (lécada, vem con- que se tornarAm mais conhecidos, no período de 1995 a 1998: o de
quistando rapidamente Outros espaços e aprofu ndando os antigos, de Cris tóvam Buarque (DF, do Pl), cuja eixo esrruturador (e palavra d e
tal sorte que t'emlOS como "comunidade" e "solidariedade" passaram ordem) fo i a ação comunitária, e o de Miguel Armes (PE, do PSB),
a fazer"parte da impre nsa diária, dos noticiários da 1V, da conversa co- cuja proposta de recuperação social foi embasada no estímulo às co-
tidiana. Naruralizou-se o agir coletivo e os d iscursos circulam como se operJ.tiv-As e associaçõcs comunitárias. Consolidando essa tendên-
o "ser comunidade" fosse um fdto narural e indiscutível. cia, a Constiruição de 1988 conté m vários artigos refere ntes ao
Espelho anamórfico d esse cen:írio é o Estado (capra e refrata a estímulo e favorecimento das ativid ades econômicas o rganizadas
imagem transfommda a partir d e sua estrutura) , que após o regime sob a forma d e cooperativas o u associações.
militar apropriou-se d o discurso comunitário que os o utros núcleos A e ntrada desse novo e ativo elemento no mercado s imbólico
faziam circu lar pelo movimento popul.:tr, na esperança de trdZCr juntO que negocia o sentido circulante no meio ruml exace rbou os meca-
a credibilidade que e les desfrutavam (e qu içá a e ficácia na ação sodal nismos d e concorrência discursiva. Os campo neses, por cujo reco-
e política) . J\bis recentemente, o at\lal governo federal transfonno u nhecimento e adesâo os núcleos institucionais entram em d isputa,
esse discu rso no eixo ce ntr.tl da sua imervenç:1o social, criando o passar.!m a ser , mais que nunca, bombardeados com discu rsos sobre
programa "Comunidade SoLidária que o rganiza as atividades assis-
M
, a ação comunitária e sobre o 1mbalho cooperativo, e ntremeado nos
tenciais do Estado . O programa tem também a atribuição d e incenti- temas os mais diversos e assumindo colo rações várias, a d epender
\f"Ar e, às vezes, coordenar ações de organizações da socic..-dade civil e do núcleo emissor. Capas , títulos e intenítulos, ilustraçôcs, como
dos vários ministérios cuja alçada com preende áreas par:l ele prioritá- texto explícito ou em pré-construídos, as marcas estão va.stamente
rias, como a refo rma agrári a e a geração d e e mpregos. De ta! fo nna, disse minadas. Como exemplo , alguns títulos dos impressos que
confere a estas atividades um caráter d e responsabilidade coletiva e compõem o corpus d e análise: "De compadre a compadre: depoi-
e nvolve-as com a mística do acordo social, esvaziando-as de o utros mento de um coope rativado"; "Cooperação entre fo rmigas: um
possíveis sentidos.42 exemplo a ser seguido "; "Q uando as mulheres se encomram"; M A fer-
O nome do programa é e mblemático da posturA q ue e le traduz: rdmenta do conselho comunitário"; "Murirão"j "Cooperativismo :
pelo "comunidade", termo que tem a capacid ade de apagar as diferen- um instrumento importante na lu ta" ~ "Ningu ém vive nem faz nada
ças e as desigualdades, constrói-se a idéia da unificação de interesses e sozi nho"; ··Cooperativa e trabalho comunitário ".
pressupõem-se condições dadas de um esforço coletivo; pelo "solidá- Nesse novo cenário, o cooperativismo ressurge como alvo de
ria" caracteriza-se O o b jetivo : quem tem, deve solidarizar-se com atenção prioritária de rodas as instâncias em'olvidas. Po r muito tem-
quem não tem, mas numa relação de doação. O slogan d e campanha- po, o fo mento a esse tipo de organiz::lção social, por natureza próprio
Todos por Todos - fecha o sentido, acentuando as duas d imensões. da iniciativa privada, ficou circunscrito à esfern governamental. As de-
mais perceb iam-no como ratificador do status quo, contrário aos inte-
42 Exc mplifl c~ndo com a Rcfonna Agrária: ~o =nsfonn:í-l~ em \Ima de suas priori- resses de transfonnação esrrutural . Apes,lr de a Constituição de 1988
dades. o KCom unldade Solidária" InSl;!re-a num conu:xtO de rr:u ernidade, dt'
:lpoio ans Kext:luído5", e apaga sua l:"oIr:lI:terÍ)tlca mais marcante, <tUI: f a d t:Se5-
~tur:u;:io do esque ma oIig:írquico de poder. P~"",.sc: assim" cs~rur:o. 50-
d ai I: l;onSllÓl-sc: um3 imagem dos sc:m-ICrr:::I comO bcndlcl:irios dc um2 2~"'30
sotid.ári2 d Oll " induídos~.

Ir, ITS
tê-lo liberado d as amarras fonnai s do Esudo,'H não houve mudanças em que o discurso emitido pelos núcleos centrais retoma com pou·
substanciais no sistema , até porque, no caso do cooperativismo ru- c.tS alterações percebÍ\"eis a o lho nu. Os camponeses desenvolvem
r:tI , :t maio r parecia dos recursos financeiros do setor é fo rnecida estr-d.tégias de superação dos d esequi líbrios, que incluem a reprodu-
pelo próprio Est'a do, por intemlédio do DENACOOP - Depanamen- çÃo dos discursos recebidos, por perceberem que há uma expectati-
tO Nacional de Apoio ao Cooperativismo, órgão do Ministério da ' '"d de que isso seja feito . Isso faz pane de seus dispositivos de
Agricultura, Abastecimento e ReformaAgrária _Mesmo assim , igrejas, e nu nciação.
ONGs c até movimentos sociais radicais como o MST encamparam a Odiscur5ocomunit5.rio passa por esse mecanismo , o que leva o
idéia e passar.un a difundire favorecer a formação de cooperativas.H observador desavisado a pensar num grande consenso social a pro-
O recente boom do cooperativismo vem aliado a novos (ou a renova- pÓSitO do modo de vi"er em sociedade e de o rganizar a atividade
dos) conceitos, como o de autogestão, o de qualidade [oral, o de reen- econÓmiC'".J.. Nãoé bem assim . A idé ia do agir solidariamente nãoé es-
genharia e o urros, cuja ênfase varia de acordo com o núcleo emissor, tranha à sociedade camponesa. Mas a da "comunidade", tal qual os
que trazem para dentro d o velho discurso do agir cooperativo e soli- núcleos centrais a concebem, esta Ihcs é imposta. A comunidade
dário as novas injunçõcs da l.uncorrência empresarial pelo mercado e como espaço social que supera as d csigu:tldatles, ;\$ difercnças e os
da sobrevivi:ncia no mundo moderno e na sociedade capitalista . interesses individuais é uma fi cção, principalmente quando aplicada
O utra fo n e tendi:ncia (Iue se verifica é o estímu lo à criaç'do dos ao meio rural nordestino.
"bancos de semenre", iniciativa essencialmente coletiva, cujo pressu- Entre os campone~es , principa lmentc entre os pequenos agri-
posto é "a união faz a força". Os bancos destinam-se à guarda e comer- cultores, 3; unidade básica de organização d a produção é a família e
cializaç-."io comum das sementes, e seu funcionamento condidona-se seus interesses são prioritários . Por outro lado , grande pane dos nú-
à formação de instâncias de gestão comunitária. A proposta [em sido cleos rurais (povoados, s ítios) é fomuda por pessoas que descen-
encampada por praticamente todos os núcleos estudados e boa par- dem de um só tronco genealógico, assemelhando·se mais a grandes
te dos textoS em circulação são relativos ao tema. famílias que funcionam sob uma lógica familiar, do que a comunida·
Os campo neses - e suas organizaçóes - ocupam uma posição des nos moldes nane-americanos, uma d as matrizes do conceito que
periférica nesse cenário, na medida em que seu lugar é o de destina- aqui se procura impor. O trabalho solidário é fortemente presente
rários dos discursos ou, em Outros lernlOS, de beneficiários d as polí. nessas sociedades, mas como um recu rso nos ma memos de apeno
ticas sociais que esses discursos traduzem. Por essa posição, têm o de um de seus membros, qu:mdo se "crificam os mutirões (U adjUl6-
poder d e exercer um tipo específico de coerção sobre o discurso dos rios~, "trabalho adjunto") . Segundo um:. versão corrente, "mUlirão"
núcleos centrais, que é a projeção de sua imagem sobre aqueles dis- é um termo de origem indígena c significa wtr.tbaJhar na terra que
positivos de enunciação. Mas, também como decorrência da posi- não tem dono". Traz consigo. portanto, uma recusa à propriedade
ção, essa coerç-Ão ocorre por uma espécie de efeito "bumerangue", da terr.t, que seria mais própria da cultura indígena . Por esse prisma
é possível compree nder o sucesso dos grandes mutirões par:l ocupa-
ção das terras improdutivas . Mas a cultura camponesa não c.': feita só
43 Até enclo. as coopçr.nl\"..t..S só poderiam ~er constituídas com o :1"'.11do E51ado e de herdnças indígenas e em alguns lugares esta prat.icamente não
c5 tnvnm ~ubmct id u ao seu poder fiS(.".Ilizado r. Pelo an o S" da Con~ titui ~-.io.
item XVIII. " ~ eriação de as soc iaçÓC:5 c. na forma d~ Lei. a de coo~r.uilr.lS Inde·
existe, sendo auU"Qs os condicionantes histó ricos da fo rmação social.
pçnde de :l\Jtorb:aç!io. sendo vedada ~ in terfel"tnciJ estatal em seu fu ncio na· Se recorrennos, por exemplo, à literatura popu lar, principalmente à
mento". de cordel c às histórias de Trancoso, \leremos que a idéia da socieda-
44 Não me (: possivd. neste trabalho , pesquisar ~ fundo a$ CaUS3$ do fe nÔme no. de de confrontos eSlá ali expressa : ne las as relações sociais são de
ApçnllS Jc"'~ nlO a hipótese de ser fn.no do cenário de indefin ição de papeis e de competição ou de con ni to entre os mais fracos e os mais fortes.
mlll\la apropria çio dos discunos. ~ par com a pressão dos organis mos imerna·
cionals de cooperação que. por ~ua ,.cz, scguem diretrizes dos pai'>C5 ccolt;lls
para 05 periféricos.

176 171
tê-lo liberado d as amarras fonnai s do Esudo,'H não houve mudanças em que o discurso emitido pelos núcleos centrais retoma com pou·
substanciais no sistema , até porque, no caso do cooperativismo ru- c.tS alterações percebÍ\"eis a o lho nu. Os camponeses desenvolvem
r:tI , :t maio r parecia dos recursos financeiros do setor é fo rnecida estr-d.tégias de superação dos d esequi líbrios, que incluem a reprodu-
pelo próprio Est'a do, por intemlédio do DENACOOP - Depanamen- çÃo dos discursos recebidos, por perceberem que há uma expectati-
tO Nacional de Apoio ao Cooperativismo, órgão do Ministério da ' '"d de que isso seja feito . Isso faz pane de seus dispositivos de
Agricultura, Abastecimento e ReformaAgrária _Mesmo assim , igrejas, e nu nciação.
ONGs c até movimentos sociais radicais como o MST encamparam a Odiscur5ocomunit5.rio passa por esse mecanismo , o que leva o
idéia e passar.un a difundire favorecer a formação de cooperativas.H observador desavisado a pensar num grande consenso social a pro-
O recente boom do cooperativismo vem aliado a novos (ou a renova- pÓSitO do modo de vi"er em sociedade e de o rganizar a atividade
dos) conceitos, como o de autogestão, o de qualidade [oral, o de reen- econÓmiC'".J.. Nãoé bem assim . A idé ia do agir solidariamente nãoé es-
genharia e o urros, cuja ênfase varia de acordo com o núcleo emissor, tranha à sociedade camponesa. Mas a da "comunidade", tal qual os
que trazem para dentro d o velho discurso do agir cooperativo e soli- núcleos centrais a concebem, esta Ihcs é imposta. A comunidade
dário as novas injunçõcs da l.uncorrência empresarial pelo mercado e como espaço social que supera as d csigu:tldatles, ;\$ difercnças e os
da sobrevivi:ncia no mundo moderno e na sociedade capitalista . interesses individuais é uma fi cção, principalmente quando aplicada
O utra fo n e tendi:ncia (Iue se verifica é o estímu lo à criaç'do dos ao meio rural nordestino.
"bancos de semenre", iniciativa essencialmente coletiva, cujo pressu- Entre os campone~es , principa lmentc entre os pequenos agri-
posto é "a união faz a força". Os bancos destinam-se à guarda e comer- cultores, 3; unidade básica de organização d a produção é a família e
cializaç-."io comum das sementes, e seu funcionamento condidona-se seus interesses são prioritários . Por outro lado , grande pane dos nú-
à formação de instâncias de gestão comunitária. A proposta [em sido cleos rurais (povoados, s ítios) é fomuda por pessoas que descen-
encampada por praticamente todos os núcleos estudados e boa par- dem de um só tronco genealógico, assemelhando·se mais a grandes
te dos textoS em circulação são relativos ao tema. famílias que funcionam sob uma lógica familiar, do que a comunida·
Os campo neses - e suas organizaçóes - ocupam uma posição des nos moldes nane-americanos, uma d as matrizes do conceito que
periférica nesse cenário, na medida em que seu lugar é o de destina- aqui se procura impor. O trabalho solidário é fortemente presente
rários dos discursos ou, em Outros lernlOS, de beneficiários d as polí. nessas sociedades, mas como um recu rso nos ma memos de apeno
ticas sociais que esses discursos traduzem. Por essa posição, têm o de um de seus membros, qu:mdo se "crificam os mutirões (U adjUl6-
poder d e exercer um tipo específico de coerção sobre o discurso dos rios~, "trabalho adjunto") . Segundo um:. versão corrente, "mUlirão"
núcleos centrais, que é a projeção de sua imagem sobre aqueles dis- é um termo de origem indígena c significa wtr.tbaJhar na terra que
positivos de enunciação. Mas, também como decorrência da posi- não tem dono". Traz consigo. portanto, uma recusa à propriedade
ção, essa coerç-Ão ocorre por uma espécie de efeito "bumerangue", da terr.t, que seria mais própria da cultura indígena . Por esse prisma
é possível compree nder o sucesso dos grandes mutirões par:l ocupa-
ção das terras improdutivas . Mas a cultura camponesa não c.': feita só
43 Até enclo. as coopçr.nl\"..t..S só poderiam ~er constituídas com o :1"'.11do E51ado e de herdnças indígenas e em alguns lugares esta prat.icamente não
c5 tnvnm ~ubmct id u ao seu poder fiS(.".Ilizado r. Pelo an o S" da Con~ titui ~-.io.
item XVIII. " ~ eriação de as soc iaçÓC:5 c. na forma d~ Lei. a de coo~r.uilr.lS Inde·
existe, sendo auU"Qs os condicionantes histó ricos da fo rmação social.
pçnde de :l\Jtorb:aç!io. sendo vedada ~ in terfel"tnciJ estatal em seu fu ncio na· Se recorrennos, por exemplo, à literatura popu lar, principalmente à
mento". de cordel c às histórias de Trancoso, \leremos que a idéia da socieda-
44 Não me (: possivd. neste trabalho , pesquisar ~ fundo a$ CaUS3$ do fe nÔme no. de de confrontos eSlá ali expressa : ne las as relações sociais são de
ApçnllS Jc"'~ nlO a hipótese de ser fn.no do cenário de indefin ição de papeis e de competição ou de con ni to entre os mais fracos e os mais fortes.
mlll\la apropria çio dos discunos. ~ par com a pressão dos organis mos imerna·
cionals de cooperação que. por ~ua ,.cz, scguem diretrizes dos pai'>C5 ccolt;lls
para 05 periféricos.

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I 'Infla i4r"újo

Nâo obstante, nenhum discurso se apresema em esrado "puro- pressuposto de que difusão de infomlação é promoção da eqüidade
nem é imune aos demais e o dos camponeses não foge à regr.t, quan- e cidadania. O seguinte trecho , extraído de uma cartilha e m circula-
to mais por serem estes perifé ricos na estrutura social e na d istribui- ção, é exemplar dessa poslurd :
ção d o poder de fa lar. Po de-se considerar aí no mínimo duas o exercício da c/tlmlml/(' proSSllp6e a democratlzaçâo da /l/fonllafdo, p rillcl-
variáveis. Primeiro, a grande legitimidade de alguns d os discursoS palmellfe quando relalllllJ (lO df"beiro p,iblico. A In/c/allllO de procurar /.ifo r .
°
circulantes, principalme nte religioso, que institui a "comunidade mar a o cldaddo de rmde l/fIm , W "IO 11 ollde li gasto. sem d,lllldfl aprl!senru-se
«mm umu manifestaç40 com:re/a de qru!m esta compromelltl o com o pruces·
fraterna" como espaço social desejável (as Comunidades Eclcsiais de w d e 1'lIar pela c/umla rr la do nossa poL'O { ..., (;ltp-r-csema\';iu) ; U (wercfcfo de
Base solidificaram muito o conceito , inOuenciando inclusive o utros rmla cidfldal/ia mll-'D mater-Ialtza·se fltrfll)/!S dfl partlcfpt1f dQ !JQIfUca, mos.
núcleos cemrais) . Segundo , os interesses camjX>neses <Iue estão em ptlrfl exercê·lo d e malll!fratlmpltl.a i ' ifonl'lflção, em todos se//s "íveis, lem
que ser dernl)Crotizada e isto significa difUlu/i·la /X)r meios q //e tmluersfllizem
jogo e as estratégias que lhes corrcspondem. entre elas a de incorporar as oporr",II,lades de flCesSO (imrodução)."
as imagens propostas pelos núc!t.- os centrais. Assim , passam a auto-
denominar-se comunidade, assumindo discursiv.tme nte essa identi- Outro exemplo , eXlraído d a revista de uma ONG , :u:cntuando o
dade. tal como ocorre com outras referências que lhes são aspecto da solidariedade:
imputadas : "produtores", "us uários" (do sistema público de saúde) , Nosso objctiVl) {: e:;{IOIu lar a so lid ariedad e" e"ntn: ~ Ime:grames da rede, aU"av6
"companheiros" etc. Este efeito , que chamei de "bumerangue", é de: infonnaçÕl's sobre" ~ u J..S t:Xpcriê ncias. soluçócs e" in()"a~,-Õt!~ {\:cnológlcas. óG
acenluado pela atuação das cham:\das "lideranças", porção central
d os núcleos periféricos , que desenvo lve extrema habilidade no traiO No entanto, essa mercadoria traz em si as marcas de uma pro-
com os discursos dominantes, além da prática dos progr:101ílS oficiais dução desigu al e antidemocrdlica, reproduzindo assim as relações
de apoio ao desenvolvime nto , que condicionam os recursos aos nú- sociais que lhe dão o rigem . Em COntextos cuja histo ricidade está fol'-
c!c.!OS que estejam constituídos fo rmal e coletiV:lmente. Es te é , jX>r leme nte vinculada a relações patriarcais, o ligárquicas e c1.ientelísti-
exemplo , o caso do PAPP - Programa de Apoio ao Pequeno Produtor cas, como é o nordestino , esta característica acentua·se e adquire
- , o maior atualmenre na região Nordes te, no seu gêne ro , que só s uma imjX>rtância. Não se pode esquecer que o mercado é uma das
aprova projetos de cooperativas ou associações. dctenninações d o modo dt: ser de qualquer sociedade (cf. c/Martins,
'993"57-164) _ -
Só um pacieme trabalho d e análise de discursos poderia identi-
ficar O que, no discu rso camponês, ê próprio ou o riginal e o que é Não obstante, a aUla -imagem dos núcleos centrais como atores
fruto d essa participação al iv:\ no mercado simbólico. Diante d o im- sociais movidos basicame nte pelo sentimento de solidariedade e de
pacto de culturas estr:mhas, a tendê ncia dos ma.is fracos é de , nos conjugação de esforços é real e não pode absolutamente ser descon-
processos de negociação de sentidos, c1andestinizar discursivamen- siderada como um dos vetores dos mais imjX>n'a mes na construção
te su as concepções culturais, valores c regras próprias. do sentido 110 meio rural . O que compete ao analis ta é buscar as mar-
Estamos, pois, diante de uma s ituação que se caraClc riza clara- cas discu rsivas do funcionamento desse mercado, comprovando o u
mente como uma negociação de sentidos. Mas não é o me rC'.Id o ideal negando s uas hi póteses. Uma hipótese part.iculardestc trabalho é de
do discuS"SO neolibera1 que temos :Iqui, aquele que parte d o pressu- que os discursos dos núcleos centrais trazem as marcas d o cenário
posto da sociedade de Iguais. O universo em questão é bas ic:amente configurado, que oporia uma retó rica (e um d esejo) de ação coope-
desigual e só pessoas iguais po deriam negociar em condições de
igualdadc . Muitos entende m que a circulação e disscminação da
45 Canaxo Filho, Joaquim, e Ferl':l.Z. Durv~l . Parfl emelldero orçamento . Fortale-
mercadoria - no caso os discursos informativos o u educativOS - con- za, Câman. Mun icipa l. 1995. Interessame l:: obscrvdr q ue e5se l(:J(tO vem de um
tribui para a democratização do saber (e conseqüente superação das parlame mar c su ~ ass...s.sorla. que também penene... ao quadro dirigeme de
u m~ ONG.
desigualdades) . In úmeros t'e..'Ctos circuJantes ju stificam-se:1 partir do
'6 Ret'úla tlJOlO/ugias flltl.'nta t lt'fu, nO 3 . Forull-"Zl, F-S PlAR, o U!. 1988.

"8 ".
I 'Infla i4r"újo

Nâo obstante, nenhum discurso se apresema em esrado "puro- pressuposto de que difusão de infomlação é promoção da eqüidade
nem é imune aos demais e o dos camponeses não foge à regr.t, quan- e cidadania. O seguinte trecho , extraído de uma cartilha e m circula-
to mais por serem estes perifé ricos na estrutura social e na d istribui- ção, é exemplar dessa poslurd :
ção d o poder de fa lar. Po de-se considerar aí no mínimo duas o exercício da c/tlmlml/(' proSSllp6e a democratlzaçâo da /l/fonllafdo, p rillcl-
variáveis. Primeiro, a grande legitimidade de alguns d os discursoS palmellfe quando relalllllJ (lO df"beiro p,iblico. A In/c/allllO de procurar /.ifo r .
°
circulantes, principalme nte religioso, que institui a "comunidade mar a o cldaddo de rmde l/fIm , W "IO 11 ollde li gasto. sem d,lllldfl aprl!senru-se
«mm umu manifestaç40 com:re/a de qru!m esta compromelltl o com o pruces·
fraterna" como espaço social desejável (as Comunidades Eclcsiais de w d e 1'lIar pela c/umla rr la do nossa poL'O { ..., (;ltp-r-csema\';iu) ; U (wercfcfo de
Base solidificaram muito o conceito , inOuenciando inclusive o utros rmla cidfldal/ia mll-'D mater-Ialtza·se fltrfll)/!S dfl partlcfpt1f dQ !JQIfUca, mos.
núcleos cemrais) . Segundo , os interesses camjX>neses <Iue estão em ptlrfl exercê·lo d e malll!fratlmpltl.a i ' ifonl'lflção, em todos se//s "íveis, lem
que ser dernl)Crotizada e isto significa difUlu/i·la /X)r meios q //e tmluersfllizem
jogo e as estratégias que lhes corrcspondem. entre elas a de incorporar as oporr",II,lades de flCesSO (imrodução)."
as imagens propostas pelos núc!t.- os centrais. Assim , passam a auto-
denominar-se comunidade, assumindo discursiv.tme nte essa identi- Outro exemplo , eXlraído d a revista de uma ONG , :u:cntuando o
dade. tal como ocorre com outras referências que lhes são aspecto da solidariedade:
imputadas : "produtores", "us uários" (do sistema público de saúde) , Nosso objctiVl) {: e:;{IOIu lar a so lid ariedad e" e"ntn: ~ Ime:grames da rede, aU"av6
"companheiros" etc. Este efeito , que chamei de "bumerangue", é de: infonnaçÕl's sobre" ~ u J..S t:Xpcriê ncias. soluçócs e" in()"a~,-Õt!~ {\:cnológlcas. óG
acenluado pela atuação das cham:\das "lideranças", porção central
d os núcleos periféricos , que desenvo lve extrema habilidade no traiO No entanto, essa mercadoria traz em si as marcas de uma pro-
com os discursos dominantes, além da prática dos progr:101ílS oficiais dução desigu al e antidemocrdlica, reproduzindo assim as relações
de apoio ao desenvolvime nto , que condicionam os recursos aos nú- sociais que lhe dão o rigem . Em COntextos cuja histo ricidade está fol'-
c!c.!OS que estejam constituídos fo rmal e coletiV:lmente. Es te é , jX>r leme nte vinculada a relações patriarcais, o ligárquicas e c1.ientelísti-
exemplo , o caso do PAPP - Programa de Apoio ao Pequeno Produtor cas, como é o nordestino , esta característica acentua·se e adquire
- , o maior atualmenre na região Nordes te, no seu gêne ro , que só s uma imjX>rtância. Não se pode esquecer que o mercado é uma das
aprova projetos de cooperativas ou associações. dctenninações d o modo dt: ser de qualquer sociedade (cf. c/Martins,
'993"57-164) _ -
Só um pacieme trabalho d e análise de discursos poderia identi-
ficar O que, no discu rso camponês, ê próprio ou o riginal e o que é Não obstante, a aUla -imagem dos núcleos centrais como atores
fruto d essa participação al iv:\ no mercado simbólico. Diante d o im- sociais movidos basicame nte pelo sentimento de solidariedade e de
pacto de culturas estr:mhas, a tendê ncia dos ma.is fracos é de , nos conjugação de esforços é real e não pode absolutamente ser descon-
processos de negociação de sentidos, c1andestinizar discursivamen- siderada como um dos vetores dos mais imjX>n'a mes na construção
te su as concepções culturais, valores c regras próprias. do sentido 110 meio rural . O que compete ao analis ta é buscar as mar-
Estamos, pois, diante de uma s ituação que se caraClc riza clara- cas discu rsivas do funcionamento desse mercado, comprovando o u
mente como uma negociação de sentidos. Mas não é o me rC'.Id o ideal negando s uas hi póteses. Uma hipótese part.iculardestc trabalho é de
do discuS"SO neolibera1 que temos :Iqui, aquele que parte d o pressu- que os discursos dos núcleos centrais trazem as marcas d o cenário
posto da sociedade de Iguais. O universo em questão é bas ic:amente configurado, que oporia uma retó rica (e um d esejo) de ação coope-
desigual e só pessoas iguais po deriam negociar em condições de
igualdadc . Muitos entende m que a circulação e disscminação da
45 Canaxo Filho, Joaquim, e Ferl':l.Z. Durv~l . Parfl emelldero orçamento . Fortale-
mercadoria - no caso os discursos informativos o u educativOS - con- za, Câman. Mun icipa l. 1995. Interessame l:: obscrvdr q ue e5se l(:J(tO vem de um
tribui para a democratização do saber (e conseqüente superação das parlame mar c su ~ ass...s.sorla. que também penene... ao quadro dirigeme de
u m~ ONG.
desigualdades) . In úmeros t'e..'Ctos circuJantes ju stificam-se:1 partir do
'6 Ret'úla tlJOlO/ugias flltl.'nta t lt'fu, nO 3 . Forull-"Zl, F-S PlAR, o U!. 1988.

"8 ".
J,.~slla ",mijo

rativa e solidária a urna prática discursiva autoritária e reprodutora populares e agências de cooperaç:10) .47 Mas também se pode obser·
d e relações sociais d e competição e dominação. var disputas acirradas no próprio âmbito governamental, em [orno
Algumas evidências são como fraruras e.'Cposta5 e podem ser de- das ações do "Comunidade Solidária n , contr:lpondo instâncias fede-
tectadas fora dos textos escritos circu la ntes. A disputa acirrada pela rais. esraduais e municipais .
direção dos vários conselhos e comissões criados par.t favorecer a Po r intermédio dos discu rsos d esses n úcleos, muito mais pode
participação democririca de toda a sociedade é um exemplo . Em ge· ser percebido. O que se segue é o resultado do exame de um con jun-
ral, o Estado esmbelece seu direito legal de dominância. Isso vem t O de textos escritOS sobrc a ação solidária, quc foram dirigidos aos
ocorrendo em v;írios setores, um exemplo sendo o que se p assa no camponeses nos ú ltimos 25 a nos, e m bora a ênfase recaia nos que dr·
amplo programa de distribuição de sementes em cu rso nos vários es- cu laram de 1985 para d, por razões de contempor.tneidade. Para a
tados, que j:í é fnllO de uma derrora de alguns setores não·governa- análise textual, propriamente, foram selecionados seis impressos,
mentais pela prevalência dos seus critérios genéticos, defendidos em o riginários de alguns dos principais núcleos componenles do uni·
inúmeros textos . No programa, estruturado para funcionar através verso estudado. A exposição começa pelas condições g lobais de pro-
de comitês municipais e ser monitorado po r entidades civis, os orga- dução d os discursos, em seguida p:lrticula riza a aná lise par:l cada
nismos oficiais vê m d esenvolvendo cstr.J.tégias de exclusão dos o u- uma das unidades discursivas, par:l cnlão traçar conclusões.
tros agentes, como a Igreja e ONGs , incluindo a lgumas no plano
discursivo, como a soncgaç:io de dados em relatórios e a exclusão do
nome dessas instituições 110S créditos constantes das cartilh as que Discurso, discursos
produzem e fazem circular.
Um OUlro exemplo é o do próprio "Comunidade Solid:iria",
Não há aqui intenção de se proceder a um estudo sobre o dis-
cujo modo de proceder é paradoxalmente competitivo. O programa
curso do agir comun itário, até mesmo porque a orientação teórica se·
cooptou para o poder centrJ.I (trd.Zcndo de voLta o grande poder
guida náo :mtoriza esse tipo de abordagem I'otalizante, que identifica
controlador, regulador) instrumemos de organização solidária da
grandes tem:ts, e m torno dos quais se o rg:tnizaria um tipo ho mogê-
população que haviam sido desenvolvidos pelas ONGs e pela Ig reja,
neo d e discurso (exemplo : o discurso crist:lo, o disCl..lrso jornalistico
e m outro momen to his tórico. A Igreja te m seu próprio espaço e o u-
etc.). O conceito de p r.ttica discursiva apont3, antes, para infinitas
tras prioritlades, mas as ONGs, vivendo uma siruaçãocronica (e c riti·
possibilidades de produç l0 dc discursos que podem, eve ntualme n·
ca) de falta de sUSlcntabilidade, cederam seu território e em parte se
te, ter o mesmo invariante refercncial. É jus(amente na qualidade de
incorpordr:lnl ao projcw coletivo nacional de ação solidária. A práti-
inv3.riante referencial que o tema do comunitário aqui comparece,
ca de fL-distribuição d e espaços e poderes tem seguido , porém , os
no comcxto de um estudo sobre dispositivos de enunciação (como
velhos mode los que opõem ant:rgonicamente Estado e Sociedade . O
poderi3 ter s ido "saúde popular", Mtecnologi:ts apropri3das", "vio-
programa de alimentos vem sendo palco constante desses connitos,
lência no c-.unpo.' ou qualquer outro) . É bem verdade que o tema
sendo um exemplo a falta de articulação e a discrepância total de mé·
condiciona a ~tbordagem e exerce coerções sobre os dispositivos e
todos e pressupostos políticoS e educativos entre o programa e o
isso será considerdd o , através da análise das fomlaçõcs discursivas e
PAT - Programa Alimento por Tr:tbalho, Que congrega o rganizações
d as condiçõcs de produçáo de cad a discurso. Alguns termos vêm
da sociedade civil de todos os níveis (ONGs, igrejas, organizaçõcs
se ndo e continuario a ser usados como equivalentes. Algumas possi·

47 o PAT, progr-.l.In~ bo;m·succ:dldo Inclusive nn rduç;l.o t:usIOI'bt:ndkio, não s6


n;io teVe apoio do ··Comunidade So lid ~rl :l " , I.:omo SU~ aç:io foi obstruída ror
~ ut:es~jvos damandos e burocnllsmo:; d:L\i ~l!:':nclas 0&la15 no pouco que de·
tas do.:pcndiól, sendo obrig'ldo ~ interromper SU:l.S :l.tivlcl:l.cles.

"O ,ao
J,.~slla ",mijo

rativa e solidária a urna prática discursiva autoritária e reprodutora populares e agências de cooperaç:10) .47 Mas também se pode obser·
d e relações sociais d e competição e dominação. var disputas acirradas no próprio âmbito governamental, em [orno
Algumas evidências são como fraruras e.'Cposta5 e podem ser de- das ações do "Comunidade Solidária n , contr:lpondo instâncias fede-
tectadas fora dos textos escritos circu la ntes. A disputa acirrada pela rais. esraduais e municipais .
direção dos vários conselhos e comissões criados par.t favorecer a Po r intermédio dos discu rsos d esses n úcleos, muito mais pode
participação democririca de toda a sociedade é um exemplo . Em ge· ser percebido. O que se segue é o resultado do exame de um con jun-
ral, o Estado esmbelece seu direito legal de dominância. Isso vem t O de textos escritOS sobrc a ação solidária, quc foram dirigidos aos
ocorrendo em v;írios setores, um exemplo sendo o que se p assa no camponeses nos ú ltimos 25 a nos, e m bora a ênfase recaia nos que dr·
amplo programa de distribuição de sementes em cu rso nos vários es- cu laram de 1985 para d, por razões de contempor.tneidade. Para a
tados, que j:í é fnllO de uma derrora de alguns setores não·governa- análise textual, propriamente, foram selecionados seis impressos,
mentais pela prevalência dos seus critérios genéticos, defendidos em o riginários de alguns dos principais núcleos componenles do uni·
inúmeros textos . No programa, estruturado para funcionar através verso estudado. A exposição começa pelas condições g lobais de pro-
de comitês municipais e ser monitorado po r entidades civis, os orga- dução d os discursos, em seguida p:lrticula riza a aná lise par:l cada
nismos oficiais vê m d esenvolvendo cstr.J.tégias de exclusão dos o u- uma das unidades discursivas, par:l cnlão traçar conclusões.
tros agentes, como a Igreja e ONGs , incluindo a lgumas no plano
discursivo, como a soncgaç:io de dados em relatórios e a exclusão do
nome dessas instituições 110S créditos constantes das cartilh as que Discurso, discursos
produzem e fazem circular.
Um OUlro exemplo é o do próprio "Comunidade Solid:iria",
Não há aqui intenção de se proceder a um estudo sobre o dis-
cujo modo de proceder é paradoxalmente competitivo. O programa
curso do agir comun itário, até mesmo porque a orientação teórica se·
cooptou para o poder centrJ.I (trd.Zcndo de voLta o grande poder
guida náo :mtoriza esse tipo de abordagem I'otalizante, que identifica
controlador, regulador) instrumemos de organização solidária da
grandes tem:ts, e m torno dos quais se o rg:tnizaria um tipo ho mogê-
população que haviam sido desenvolvidos pelas ONGs e pela Ig reja,
neo d e discurso (exemplo : o discurso crist:lo, o disCl..lrso jornalistico
e m outro momen to his tórico. A Igreja te m seu próprio espaço e o u-
etc.). O conceito de p r.ttica discursiva apont3, antes, para infinitas
tras prioritlades, mas as ONGs, vivendo uma siruaçãocronica (e c riti·
possibilidades de produç l0 dc discursos que podem, eve ntualme n·
ca) de falta de sUSlcntabilidade, cederam seu território e em parte se
te, ter o mesmo invariante refercncial. É jus(amente na qualidade de
incorpordr:lnl ao projcw coletivo nacional de ação solidária. A práti-
inv3.riante referencial que o tema do comunitário aqui comparece,
ca de fL-distribuição d e espaços e poderes tem seguido , porém , os
no comcxto de um estudo sobre dispositivos de enunciação (como
velhos mode los que opõem ant:rgonicamente Estado e Sociedade . O
poderi3 ter s ido "saúde popular", Mtecnologi:ts apropri3das", "vio-
programa de alimentos vem sendo palco constante desses connitos,
lência no c-.unpo.' ou qualquer outro) . É bem verdade que o tema
sendo um exemplo a falta de articulação e a discrepância total de mé·
condiciona a ~tbordagem e exerce coerções sobre os dispositivos e
todos e pressupostos políticoS e educativos entre o programa e o
isso será considerdd o , através da análise das fomlaçõcs discursivas e
PAT - Programa Alimento por Tr:tbalho, Que congrega o rganizações
d as condiçõcs de produçáo de cad a discurso. Alguns termos vêm
da sociedade civil de todos os níveis (ONGs, igrejas, organizaçõcs
se ndo e continuario a ser usados como equivalentes. Algumas possi·

47 o PAT, progr-.l.In~ bo;m·succ:dldo Inclusive nn rduç;l.o t:usIOI'bt:ndkio, não s6


n;io teVe apoio do ··Comunidade So lid ~rl :l " , I.:omo SU~ aç:io foi obstruída ror
~ ut:es~jvos damandos e burocnllsmo:; d:L\i ~l!:':nclas 0&la15 no pouco que de·
tas do.:pcndiól, sendo obrig'ldo ~ interromper SU:l.S :l.tivlcl:l.cles.

"O ,ao
I "O'$//a Araujo _\ _,>WS60do olbar

bilidad es são: agir solidá rio , ação solidária, agir e ação comuni tários, canilhas sobre o orçamemo, gestão municipal e :lssuntos congêne-
:t~ir e ação cooperativos, agir e ação coletivos e cooperação. res . Já o cooperativismo estimula uma fo n e produção de materiais
De um con junto fomlad o :d eatoriamente por 50 impressos (re- info nnativos e do utrin:írios. Há que se considerar, nesse quadro, a
lação e m anexo), foram sl!ledonados três para análise texlUal: questão dos recursos disponíveis. pois , de cena mooo , os temas
mmbém são condicionados pe las p rioridades dos organismos doa-
• cooperativis mo: uma alternativa pam os pequ enos. dores de recursos.
CPT, Ceias, Cáriras. Piauí, 1995 . Dos núdeos discu rsivos considerados, a Universidade não foi
• progmma de Desenvolvimento Comunitário . conte mplada na seleção do corpus de análise, pejo fato d e que não
Prefeitura municipal. Afogados da Ingazeira, Pe rnambuco, foram localizados impressos pertinentes (o que não quer dize r que
1995. não existam , uma vez que o levantamento não fo i ex:tuslivo). As ar-
• nOtícias d a Gente (n O 10) . g:m izaçõcs representativas participam largamente do corpus, mas
PATAC. Campina G rande, Par:tíba, 199 1. se us t1iscursos não foram se lecionad os para a análise textual detalha-
da. po r sua característica de serem ao mesmo tempo fo nte e destina-
Outros três também recebe..un ate nção especial, na qualidade tario d os discursos, O que acrescenta Outros elementos COnSlnltOres
de contraponto dos ameriores, por perrnltirem uma com par.tção den- de sentido que não podem ser considerados neste mo me nto. Já os
tro da mesma inSlãncia institucional, procedime nto que leva e m conca Impressos das ONGs s:io crono lo gicamente anteriores :IOS d e mais.
e a fundo a rccomendaçao metod ológica de VCn)n sobre a necessida- -\ razâo está em que é justamente este núcleo que m:lis caracteriza a
de de fnervariar as condições d e produção. Segundo nosso semió lo- s nuação desc rita, d e subslituiç'.io de temas. O agir solidário entra
go, é confrontando vários textos produzidos em condições distintas hOje e m seus discursos fundamentalmente como um pré-construído.
que se encontmm os invariantcs discursh'os que caracte riz:ull um cer- A exposição da análise foi dividida e m duas fases. Na primeira,
tO tipo de funcionamentO social . Os textos complementares são: . busquei as o rige ns dos discursos sobre o comunit:irio e as condições
his tó ricas de sua consolidação recente no Bras il, dando n]:lis ê nfase
• Terra prometida . ao último aspecto. Como afimlei, este não é um estud o sobre o tema
CN BB Nordeste. Recife, 1982. cio comunitário. daí as grandes matrizes do pe nsamento cole tivista
• Pereiras - Uma história de cooperação. Sere m apenas me nclo nadas . Optei por fazer uma a nálise global d es-
Go\'erno do Estado da Par.tíba. 1989. s:ts condições motivada por algumas conclusões Iniciais d o exame
• Histórias da Roça. do corpus.
Centro Josué d e Castro. Recife, 1991. Uma del as é o contexto de crise de ide ntidade e indefinição de
papéis que configura O universo estudado e que mencionei a nterior-
O leva ntamento d os impressos circulantes aponto u uma situa- me nte , contexto que faz com que os deslocame ntos das linhas de
ção de certa forma previsível : publica-se menos ho je que no passado partilha discursivas seja m incessantes e mescle m os dispositivos, al-
recente. Excetuando-se o tema d o cooperativis mo, há um movime n- terando algumas características estabilizadas e m outros mo mentos
tO decrescente na produç:'io de impressos para o meio ruf"'J.1. Em con" hist'Óricos. Essa desestabilização d os clissicos dispositivos de e nun-
trapa rtida, c resce o volume de vídeos, numa clara substituição dI ciação é acenruada pelo invariante escolhido: tal como na Imprensa,
meios de comunicação. Po r o utro lado, há um número gr:tndc de im n:l qual um faro pode desmont'are unificar temporariame nte os con-
pressos voltados ao público urbano, sobretudo sobre os ('c mas: púL tratos de leitura p articulares, na prática discurs iva da intervenção so-
ticas públicas, criança C gê.nero . Mesmo entidades que até pouco cial alguns te mas tê m esse atributo. Parece-me que este é um bom
tempú privilegiavam os temaS nlr:tis, agora aplicam seus recursos e m Il ltlicador da força d os par:ltligmas dominantes. Tais f:nores , aliados

'" 183
I "O'$//a Araujo _\ _,>WS60do olbar

bilidad es são: agir solidá rio , ação solidária, agir e ação comuni tários, canilhas sobre o orçamemo, gestão municipal e :lssuntos congêne-
:t~ir e ação cooperativos, agir e ação coletivos e cooperação. res . Já o cooperativismo estimula uma fo n e produção de materiais
De um con junto fomlad o :d eatoriamente por 50 impressos (re- info nnativos e do utrin:írios. Há que se considerar, nesse quadro, a
lação e m anexo), foram sl!ledonados três para análise texlUal: questão dos recursos disponíveis. pois , de cena mooo , os temas
mmbém são condicionados pe las p rioridades dos organismos doa-
• cooperativis mo: uma alternativa pam os pequ enos. dores de recursos.
CPT, Ceias, Cáriras. Piauí, 1995 . Dos núdeos discu rsivos considerados, a Universidade não foi
• progmma de Desenvolvimento Comunitário . conte mplada na seleção do corpus de análise, pejo fato d e que não
Prefeitura municipal. Afogados da Ingazeira, Pe rnambuco, foram localizados impressos pertinentes (o que não quer dize r que
1995. não existam , uma vez que o levantamento não fo i ex:tuslivo). As ar-
• nOtícias d a Gente (n O 10) . g:m izaçõcs representativas participam largamente do corpus, mas
PATAC. Campina G rande, Par:tíba, 199 1. se us t1iscursos não foram se lecionad os para a análise textual detalha-
da. po r sua característica de serem ao mesmo tempo fo nte e destina-
Outros três também recebe..un ate nção especial, na qualidade tario d os discursos, O que acrescenta Outros elementos COnSlnltOres
de contraponto dos ameriores, por perrnltirem uma com par.tção den- de sentido que não podem ser considerados neste mo me nto. Já os
tro da mesma inSlãncia institucional, procedime nto que leva e m conca Impressos das ONGs s:io crono lo gicamente anteriores :IOS d e mais.
e a fundo a rccomendaçao metod ológica de VCn)n sobre a necessida- -\ razâo está em que é justamente este núcleo que m:lis caracteriza a
de de fnervariar as condições d e produção. Segundo nosso semió lo- s nuação desc rita, d e subslituiç'.io de temas. O agir solidário entra
go, é confrontando vários textos produzidos em condições distintas hOje e m seus discursos fundamentalmente como um pré-construído.
que se encontmm os invariantcs discursh'os que caracte riz:ull um cer- A exposição da análise foi dividida e m duas fases. Na primeira,
tO tipo de funcionamentO social . Os textos complementares são: . busquei as o rige ns dos discursos sobre o comunit:irio e as condições
his tó ricas de sua consolidação recente no Bras il, dando n]:lis ê nfase
• Terra prometida . ao último aspecto. Como afimlei, este não é um estud o sobre o tema
CN BB Nordeste. Recife, 1982. cio comunitário. daí as grandes matrizes do pe nsamento cole tivista
• Pereiras - Uma história de cooperação. Sere m apenas me nclo nadas . Optei por fazer uma a nálise global d es-
Go\'erno do Estado da Par.tíba. 1989. s:ts condições motivada por algumas conclusões Iniciais d o exame
• Histórias da Roça. do corpus.
Centro Josué d e Castro. Recife, 1991. Uma del as é o contexto de crise de ide ntidade e indefinição de
papéis que configura O universo estudado e que mencionei a nterior-
O leva ntamento d os impressos circulantes aponto u uma situa- me nte , contexto que faz com que os deslocame ntos das linhas de
ção de certa forma previsível : publica-se menos ho je que no passado partilha discursivas seja m incessantes e mescle m os dispositivos, al-
recente. Excetuando-se o tema d o cooperativis mo, há um movime n- terando algumas características estabilizadas e m outros mo mentos
tO decrescente na produç:'io de impressos para o meio ruf"'J.1. Em con" hist'Óricos. Essa desestabilização d os clissicos dispositivos de e nun-
trapa rtida, c resce o volume de vídeos, numa clara substituição dI ciação é acenruada pelo invariante escolhido: tal como na Imprensa,
meios de comunicação. Po r o utro lado, há um número gr:tndc de im n:l qual um faro pode desmont'are unificar temporariame nte os con-
pressos voltados ao público urbano, sobretudo sobre os ('c mas: púL tratos de leitura p articulares, na prática discurs iva da intervenção so-
ticas públicas, criança C gê.nero . Mesmo entidades que até pouco cial alguns te mas tê m esse atributo. Parece-me que este é um bom
tempú privilegiavam os temaS nlr:tis, agora aplicam seus recursos e m Il ltlicador da força d os par:ltligmas dominantes. Tais f:nores , aliados

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In ..stta Aroolj" A rn:vnwrsdo do ollmr

à constante migração dos agentes individuais entre os n úcleos dis- te Sociologia e Serviço Social) , que hoje parecem estar "fora de
cursivos, exacerbam a intertextualidade. Temos, então, raízes co- moda'·, não significando isto que se tenha atingido um patamar co-
muns aos discursos, que se diferenciam nos casos particulares por mum . Pelo contrário , tais tennos adquirimm o estatuto de pré-cons-
razões históricas e circunstanciais. rruído sem serem objeto de maiores reflexócs sobre suas implicações
Mas o global não existe por s i mesmo, com o algo abstrato o u ideológicas e pragmáticas. Alguns núdt.'OS ainda desenvolvem tímidas
superestrutural, independentemenre da concretude de cada casO discussões sobre a natureza e o âmbitO da ação coletiva, muito mais na
particular. A segunda fase da análise apóia-se nesse pressupOsto e perspectiva de superar dificuldades o peracionais de sua prática de in-
busca entender como as rd.ÍZes comuns aos discursos diferenciam-se tervenção do que propriamenre pôr em causa seus fundamentos his-
no palco de cada comunidade discursiva, por que razões históricas, tóricos e políticos (é o caso d e algumas ONGs, de alguns grupos
circunstanciais o u estruturais. A descrição das condições de produ- religiosos e de organizações populares, como o MS1) .
ção dcper si dá lugar, por sua vez, à análise comparativa dos disposi- Pode-se identificarquauo grandes matrizes nos disc ursos circu-
tivos de enunciação, uma vez que o real singu lar de u m núcleo se lantes no meio ruml sobre o agir coletivo : o cristianismo, o socialis-
afirma na rdação com os outros. mo , o capitaJismo e o funcionalismo norte-americano, esta última
Embora expostas separadamente e em ordem crono lógica, as bem mais recente que as demais, mas não menos sólida.
duas fases analíticas processamm-se de forma simultânea. O objeto l:
o interdiscurso e nele é impossível separM formações e enunciados.
O q ue se apreende l: a rede de relações entre formações, só possibili- o Cristianismo
tada pelos enunciados, mmbém articulad o s em rede e inscritos num a
materi..Uidade institucional. Não se se pard., num espaço discursivo, de A fraternidade é um dos princípios constitutivos da doutrina
um lado, formações e, de outro, enunciados, mas rodos os e le men- cristã e o amor ao próximo ob jeto do 10 mandamento da le i divina.
tos são retirados da interdiscursividade . Como diz Maingueneau, Frarernidade e amor ao próximo são valores básicos no sentido cris-
um ..mil/dado d I! uma jonllação (liscur.çiua pod.. ser lido em 5efl "llireiro " e tão de "com unidade". Os núcleos dos p rimi tivos c ristãos, organiza-
em seu "a ut'$So ", em lI1/taface, sigllijica que pertence uo se.. p r6prio discurso. dos em funçao da perscguiçao religiosa de que eram vítim as, são
..a "utra. marca a distâllda constitutiva que o sefHJrll de 11111 ou !.'árlos dls·
cursos. Nesta perspectiva, as eternas !m lêmlcas em qU ft f ormaçiies d iscursi/Jas apresentados co m o exemplos parddigmáticos da perfeita comunida-
estão ..'>!volvldas lIão surgem d e jonna oolltillJw"te (lo exterior, mas são a (llua· de . A palavm ·'comunhão", sem anticamenre inequívoca no ocidente,
liulção de 11m processo l/e delimitaçãu recfJ)rocn localizada 1/(1. p r6prla ra iz traduz o espírito cristão do comunitário : pessoas innanadas por uma
dm discursos COllsiderados. (1993 : 120)
fé comum . Esse espírito, cujo componente principal é a partilh:1 de
uma c rença, l: o elememo mais singular a destacar e pode ser perce-
Origens bido nos vários momentos e nas diversas correntes encontradas na
Igreja. Assim, está p resente nas encíclicas papais de modo difuso e ,
de modo mais explícito, naquelas q ue recomendam a adoção de for-
Os discursos sobre o agir coletivo articulam-se em torno de algu- mas coletivistas de aç;i.o;48 é ineren te à concepção das Comunidades
mas palavras-chavc, sendo as p rincipais comunidade, organização e Eclesiais de Base (CEBs) ; infonnou a m ística dos primeiros s indica-
participação, às quais se acrescentOu contempomne:U11ente o de au- tos d e trabalhadores rurais no Nordeste e justificou a criação e o fo-
togestão. Embord se possa dizer que sobre seu sentido náo há consen- mento a inúmeros Cenrros Sociais Comunirários; inspira programas
so, também é verdad e que não se verifica nenhuma discussáo sobre
isso. Há o registro de bons debates acadêmicos sobre o tema, e m dé-
cadas passadas, localizado na área das ciências sociais (principalme n- 48 Po r excmplo , a M(l/er M(lgistra Uoão XXIII). que reco menda a o rganização d e
eoopo:r.ui V"olS (OrnO ro rm:.!. prdcre nciaJ de eSlruNr.lção da produção.

"4
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In ..stta Aroolj" A rn:vnwrsdo do ollmr

à constante migração dos agentes individuais entre os n úcleos dis- te Sociologia e Serviço Social) , que hoje parecem estar "fora de
cursivos, exacerbam a intertextualidade. Temos, então, raízes co- moda'·, não significando isto que se tenha atingido um patamar co-
muns aos discursos, que se diferenciam nos casos particulares por mum . Pelo contrário , tais tennos adquirimm o estatuto de pré-cons-
razões históricas e circunstanciais. rruído sem serem objeto de maiores reflexócs sobre suas implicações
Mas o global não existe por s i mesmo, com o algo abstrato o u ideológicas e pragmáticas. Alguns núdt.'OS ainda desenvolvem tímidas
superestrutural, independentemenre da concretude de cada casO discussões sobre a natureza e o âmbitO da ação coletiva, muito mais na
particular. A segunda fase da análise apóia-se nesse pressupOsto e perspectiva de superar dificuldades o peracionais de sua prática de in-
busca entender como as rd.ÍZes comuns aos discursos diferenciam-se tervenção do que propriamenre pôr em causa seus fundamentos his-
no palco de cada comunidade discursiva, por que razões históricas, tóricos e políticos (é o caso d e algumas ONGs, de alguns grupos
circunstanciais o u estruturais. A descrição das condições de produ- religiosos e de organizações populares, como o MS1) .
ção dcper si dá lugar, por sua vez, à análise comparativa dos disposi- Pode-se identificarquauo grandes matrizes nos disc ursos circu-
tivos de enunciação, uma vez que o real singu lar de u m núcleo se lantes no meio ruml sobre o agir coletivo : o cristianismo, o socialis-
afirma na rdação com os outros. mo , o capitaJismo e o funcionalismo norte-americano, esta última
Embora expostas separadamente e em ordem crono lógica, as bem mais recente que as demais, mas não menos sólida.
duas fases analíticas processamm-se de forma simultânea. O objeto l:
o interdiscurso e nele é impossível separM formações e enunciados.
O q ue se apreende l: a rede de relações entre formações, só possibili- o Cristianismo
tada pelos enunciados, mmbém articulad o s em rede e inscritos num a
materi..Uidade institucional. Não se se pard., num espaço discursivo, de A fraternidade é um dos princípios constitutivos da doutrina
um lado, formações e, de outro, enunciados, mas rodos os e le men- cristã e o amor ao próximo ob jeto do 10 mandamento da le i divina.
tos são retirados da interdiscursividade . Como diz Maingueneau, Frarernidade e amor ao próximo são valores básicos no sentido cris-
um ..mil/dado d I! uma jonllação (liscur.çiua pod.. ser lido em 5efl "llireiro " e tão de "com unidade". Os núcleos dos p rimi tivos c ristãos, organiza-
em seu "a ut'$So ", em lI1/taface, sigllijica que pertence uo se.. p r6prio discurso. dos em funçao da perscguiçao religiosa de que eram vítim as, são
..a "utra. marca a distâllda constitutiva que o sefHJrll de 11111 ou !.'árlos dls·
cursos. Nesta perspectiva, as eternas !m lêmlcas em qU ft f ormaçiies d iscursi/Jas apresentados co m o exemplos parddigmáticos da perfeita comunida-
estão ..'>!volvldas lIão surgem d e jonna oolltillJw"te (lo exterior, mas são a (llua· de . A palavm ·'comunhão", sem anticamenre inequívoca no ocidente,
liulção de 11m processo l/e delimitaçãu recfJ)rocn localizada 1/(1. p r6prla ra iz traduz o espírito cristão do comunitário : pessoas innanadas por uma
dm discursos COllsiderados. (1993 : 120)
fé comum . Esse espírito, cujo componente principal é a partilh:1 de
uma c rença, l: o elememo mais singular a destacar e pode ser perce-
Origens bido nos vários momentos e nas diversas correntes encontradas na
Igreja. Assim, está p resente nas encíclicas papais de modo difuso e ,
de modo mais explícito, naquelas q ue recomendam a adoção de for-
Os discursos sobre o agir coletivo articulam-se em torno de algu- mas coletivistas de aç;i.o;48 é ineren te à concepção das Comunidades
mas palavras-chavc, sendo as p rincipais comunidade, organização e Eclesiais de Base (CEBs) ; infonnou a m ística dos primeiros s indica-
participação, às quais se acrescentOu contempomne:U11ente o de au- tos d e trabalhadores rurais no Nordeste e justificou a criação e o fo-
togestão. Embord se possa dizer que sobre seu sentido náo há consen- mento a inúmeros Cenrros Sociais Comunirários; inspira programas
so, também é verdad e que não se verifica nenhuma discussáo sobre
isso. Há o registro de bons debates acadêmicos sobre o tema, e m dé-
cadas passadas, localizado na área das ciências sociais (principalme n- 48 Po r excmplo , a M(l/er M(lgistra Uoão XXIII). que reco menda a o rganização d e
eoopo:r.ui V"olS (OrnO ro rm:.!. prdcre nciaJ de eSlruNr.lção da produção.

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A .-n;o,,..erS<lo do olhar

de o rientação tecnológica a núcleos rurais, de dioceses, paróquias No texto do livro, "comunidade" refere o conjunto dos habitan·
ou ordens religiosas. tes de um sítio c ujos limites silo demarcados fisicamente , inclus ive
A linha 1 da CNBB, uma d as seis adotadas como quadro refe- através de croquis .
rencial da Ação Pastoral , tr.na da "Dimensão Comunitária e Participa- A ambigüidade acima exemplificada me faz reafinnar que a sin-
tiva", que "é a diJTlensão que revela a natureza íntima da Igreja, a sua gularidade da matriz cristã no pe nsamento sobre o comunitário é
ide ntidade básica. A Igreja é convocada para ser comunhilo pela par- composta po r esses dois fatores: a fraternidade e a partilba d e uma
ticipação de todos e cada um dos se us membros no mistério da co- crença , como iluslra o trecho a seguir, CJ<o."1:núdo da apresentação de
munhão trinitária. IncofJx )fados a Cristo, todos se tornam filhos de uma canilha, intitulada "Queremos fa cilitar a partilha":
De us, pelo Espírito Santo , e irm ãos para viverem entre s i uma pro- (. .. ) É a partir deSSI!5 peque'los :finais que "ós vamos etlleudlff melbar a socil'da -
funda co munhão fr.ttema " (CNBB, Igreja no Brasil - Diretório Litúr- de /lova que estamos cOnstmlndu. Cunscientes da nossa missão de crlstdos. os
ProjetosAlfematiliOS e o Cecapas ro l/esejam uma roisa: que o objetivo propos-
gico. 1992 , p. 10). to seja alcançado. No mais, desejamus Ilma boa sorte a todos e a descoberta,
As CEBs mIo s6 refletiram essa concepção, mas contribuíram aula Iló!Z mais profllnda. da unldu e sulillarledade ent re imuios."
para solidificar o conceito d e comunidade, influenciando profunda-
mente a prática social dos setores não-governamentais, a panir da O utros sentidos encontráveis nos textos emanados desse nú-
década de 70. Associando aos valores cristãos uma análise mantista cleo seriam produto da intertextualidade e da intensa disputa de
d e sociedade, o movimento produziu um farto material de reflexão sentidos que se verifica nesse universo.
sobre si mesmo, o que náo evitou ambigüidades e falta de ho moge-
neidade sobre o que vem a ser uma comunidade . Se está muito claro o Socialismo
que "CEB" designa um grupo de pessoas que se reúnem e se a rticu-
lam e m torno de objetivos definidos (em geral refletir sobre suas vidas
e suas lutas a partir do Evangelho), os textos também deno minam Seria mais correto f.lIar aqui e m socialismos, no plural, uma vez
"comunidade" a um sítio, um assentamento, um rxwo ado o u o utro que são as múltiplas experiências de inspimção socialista que for-
agrupamento físico cujo c rité rio demarcatório é o geográfico, incor- mam uma das matrizes dos disc ursos d o comunitário , e não apenas
por.mdo parâme tros de o utros núcleos discursivos. Cito como uma do utrina . També m não seria correto falarem marxismo , porque
exemplo trechos da apresentação que faz d . Aloísio lorscheider, e n· algumas dessas experiências - os socialismos utópicos, por exemplo
tão arcebispo d e FOrtaleza, do livro Mlldallça social fia comunidade - n ão eram tidos por Marx como dignos de consideração . No enlan·
rural, da coleção "Pastoral e Comunidade", que contempla estudos to, é a teoria marxista que info rma aquilo que me parece ser singular
sobre as CEBs: nessa matriz, o u seja, a vinculação da organização coletiva com a ati·
( ... ) o presente estlldo sobm a mudança social n~ com unidade rur.l~ ten(lu vidade econômica produtiva, e sua concepção como fonna po lítica
r:vmu ubjl!fu Ilma comunidade da Arq"idlacese de Fortaleza. trabalhada bâ de e nfre ntamento das classes dominad as contra as dominantes. São
uâdus anos pelo MO/l;mrm lo d e Educação de Base (MEB) . é to" " realmldo em dássicas as formulações do tipo "povo unido jamais se rá vencido".
bases IIIU;to ubjetivas. com resultados milito ;'Iteressant es para quem se iute·
ressa sobre a cmn/nbada que, hoje. se faz IIU Brasil em termos r:v,mm itárlos Os versos seguintes dão uma idéia dessas dime nsões. Foram extraí-
( ...) . O estlldo abre·se para a perspectiva de I/lIIa IIOl-'a esperança. No momeu- dos de um foUl eto de cordel cujo texto é recitado também num audio-
to em que as pessous entendem o sentido c afurça da ".dão. mllitos proble- visual:51
mas deixam (Ie ser problemas ....

50 Cecapas. Criaç.:lo de cabras, Recife, 1988. 57 p .


Rezende, M' VaJ ~ria. Ganbar produtillidade é uma fllla de valia . SEDUP c
49 O llveir.t. Mari~ C .Mudança srxial .ut romunidadl' mral- Esmdo sociológ;L'O a
pa rtir de uma comunidad e o.:lcsi al de ba."L'. Caxias doSul. P:lulina.s. 1982, 59 p. " Ce ntro Josut'c d e Castro. Recife, 1987.

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A .-n;o,,..erS<lo do olhar

de o rientação tecnológica a núcleos rurais, de dioceses, paróquias No texto do livro, "comunidade" refere o conjunto dos habitan·
ou ordens religiosas. tes de um sítio c ujos limites silo demarcados fisicamente , inclus ive
A linha 1 da CNBB, uma d as seis adotadas como quadro refe- através de croquis .
rencial da Ação Pastoral , tr.na da "Dimensão Comunitária e Participa- A ambigüidade acima exemplificada me faz reafinnar que a sin-
tiva", que "é a diJTlensão que revela a natureza íntima da Igreja, a sua gularidade da matriz cristã no pe nsamento sobre o comunitário é
ide ntidade básica. A Igreja é convocada para ser comunhilo pela par- composta po r esses dois fatores: a fraternidade e a partilba d e uma
ticipação de todos e cada um dos se us membros no mistério da co- crença , como iluslra o trecho a seguir, CJ<o."1:núdo da apresentação de
munhão trinitária. IncofJx )fados a Cristo, todos se tornam filhos de uma canilha, intitulada "Queremos fa cilitar a partilha":
De us, pelo Espírito Santo , e irm ãos para viverem entre s i uma pro- (. .. ) É a partir deSSI!5 peque'los :finais que "ós vamos etlleudlff melbar a socil'da -
funda co munhão fr.ttema " (CNBB, Igreja no Brasil - Diretório Litúr- de /lova que estamos cOnstmlndu. Cunscientes da nossa missão de crlstdos. os
ProjetosAlfematiliOS e o Cecapas ro l/esejam uma roisa: que o objetivo propos-
gico. 1992 , p. 10). to seja alcançado. No mais, desejamus Ilma boa sorte a todos e a descoberta,
As CEBs mIo s6 refletiram essa concepção, mas contribuíram aula Iló!Z mais profllnda. da unldu e sulillarledade ent re imuios."
para solidificar o conceito d e comunidade, influenciando profunda-
mente a prática social dos setores não-governamentais, a panir da O utros sentidos encontráveis nos textos emanados desse nú-
década de 70. Associando aos valores cristãos uma análise mantista cleo seriam produto da intertextualidade e da intensa disputa de
d e sociedade, o movimento produziu um farto material de reflexão sentidos que se verifica nesse universo.
sobre si mesmo, o que náo evitou ambigüidades e falta de ho moge-
neidade sobre o que vem a ser uma comunidade . Se está muito claro o Socialismo
que "CEB" designa um grupo de pessoas que se reúnem e se a rticu-
lam e m torno de objetivos definidos (em geral refletir sobre suas vidas
e suas lutas a partir do Evangelho), os textos também deno minam Seria mais correto f.lIar aqui e m socialismos, no plural, uma vez
"comunidade" a um sítio, um assentamento, um rxwo ado o u o utro que são as múltiplas experiências de inspimção socialista que for-
agrupamento físico cujo c rité rio demarcatório é o geográfico, incor- mam uma das matrizes dos disc ursos d o comunitário , e não apenas
por.mdo parâme tros de o utros núcleos discursivos. Cito como uma do utrina . També m não seria correto falarem marxismo , porque
exemplo trechos da apresentação que faz d . Aloísio lorscheider, e n· algumas dessas experiências - os socialismos utópicos, por exemplo
tão arcebispo d e FOrtaleza, do livro Mlldallça social fia comunidade - n ão eram tidos por Marx como dignos de consideração . No enlan·
rural, da coleção "Pastoral e Comunidade", que contempla estudos to, é a teoria marxista que info rma aquilo que me parece ser singular
sobre as CEBs: nessa matriz, o u seja, a vinculação da organização coletiva com a ati·
( ... ) o presente estlldo sobm a mudança social n~ com unidade rur.l~ ten(lu vidade econômica produtiva, e sua concepção como fonna po lítica
r:vmu ubjl!fu Ilma comunidade da Arq"idlacese de Fortaleza. trabalhada bâ de e nfre ntamento das classes dominad as contra as dominantes. São
uâdus anos pelo MO/l;mrm lo d e Educação de Base (MEB) . é to" " realmldo em dássicas as formulações do tipo "povo unido jamais se rá vencido".
bases IIIU;to ubjetivas. com resultados milito ;'Iteressant es para quem se iute·
ressa sobre a cmn/nbada que, hoje. se faz IIU Brasil em termos r:v,mm itárlos Os versos seguintes dão uma idéia dessas dime nsões. Foram extraí-
( ...) . O estlldo abre·se para a perspectiva de I/lIIa IIOl-'a esperança. No momeu- dos de um foUl eto de cordel cujo texto é recitado também num audio-
to em que as pessous entendem o sentido c afurça da ".dão. mllitos proble- visual:51
mas deixam (Ie ser problemas ....

50 Cecapas. Criaç.:lo de cabras, Recife, 1988. 57 p .


Rezende, M' VaJ ~ria. Ganbar produtillidade é uma fllla de valia . SEDUP c
49 O llveir.t. Mari~ C .Mudança srxial .ut romunidadl' mral- Esmdo sociológ;L'O a
pa rtir de uma comunidad e o.:lcsi al de ba."L'. Caxias doSul. P:lulina.s. 1982, 59 p. " Ce ntro Josut'c d e Castro. Recife, 1987.

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Obsl'rv<' a orper/ência Se a gem ., se orgallizar o que Sozillho é difícil Essa matriz ve m sofrendo modificaçôcs desde o início do fim
(lI! militas co''''midades se IIIIlr efL'"er um plallO Com Q Ulffl$ dd para f 4rer do socialismo real, com a qued a dos regimes d e o rientação socialis-
sej'mU.rum .,fizeram com 1I{:/"bus e amlgtn Melborar a protluçtlo
ta, que obrigou seus defensores a repensarem algumas de suas pre-
me/bar/as de l!t'rdtllIO!; é certo que ptl m U allU fazll r a Icrra reml!!r
jt1 tfim casa defaritlha já me/bura algfllllQ coisa emqllafl/" ferra maior missas básicas. No enmntO, está se falando aqu i d e paradigmas, que
co,,,,mltd ria U IJufl tad., É s/lgl.ro, eu mio me e,,· a/lida não se /X)ll., wr. não se constroem d a noite p:tra o d ia e também não são destruídos
gwlO rapidamente , como um muro. A crise do socialismo provavelmente
dá mais pe rmeabilid:ldc aos discursos que nele se Inspiram, mas não
I'ra glmle ficar IIU terra 1:.' "'fia lula de ,." ,lia faz com que se possa d esconsiderar sua jnfluê ncia nas formações d is-
pru mlu ulrarbóia f ria prtl W flcer u lubardo
cu n;iv.lS cons ideradas.
e ",io ir pm cidade que eSlá de olho esper<lJIdo
wfre lia periferia o {X)bre ".20 Il!r prodliçiiO
ga"bar prvtlllUviL/<ule pra "lrrompra r "UI te rra
dllma IlIla de '.' alia jHIgmulo qualquer tostão
o capitalismo

Os socialismos, e ntendidos como conquistas o u viló ri as da As fo rmas socialistas de o rganização da produção apresen-
classe [í.lbalhadora, não admitem fissuras , pressupo ndo um com- tam-se em oposição ao capitalismo. Uma outr.t proposta também
portamento ho mogêneo. As discordâncias são tradldonahm:nte en- parte daí: é a d o cooperativismo, que em seus primó rdios pode ser
tendidas como "desvios", en trando e m cena um compo ne nte vis to também como um socialismo utó pico, te ndo sido inclusive
moralista que atribui a fato res d e pen;onalidade ou de çar.íte r a acei- cons iderad o , num primeiro momento, como "instrumc llto de eman-
tação Ou recusa de fonnas cole tiv:1S de trabalho e p nxtuç:io. No socia- cipação da classe prolct:\ria". São duas as razôcs que me fazem d esta-
lismo , a unidad e sodal bãs ic:1 ê o coletivo, sendo o individualismo d-Io do conjunto maior e apresemá-Io sob a matriz d o t::tpilaJismo,
um v-.t1o r negativo a ser comhatido. o u me lho r, como a expressão da noção de cooper.lção no siste ma ca-
É nesse conte,,1:O que se localiza o acirrado debate sobre "os co- pitalista: o fato de ele te r adquirido dime nsõcs suficientes para se
le tivistas versus os individuais", sempre presente nos asse ntamentos transformar num s istema fo mlal autônomo e o de não se apresentar
coorde n:ldos pelo MST52 e nos assessorAdos pela c lyr, tensãu dico- (no Brasil) como um:t proposta revolucion:tria o u d e transfo rmação
tô mica que pode ser apreciada neste trecho de um impresso : das estruturas çapitalistas , o u como um modo d e o rgan ização com
ti urga/lizaçdo dos · cu/I!/IlJls/as" gart""c o tWUfI ÇO I! a conquista fie (/fal m e- base na produção social, mas como uma forma inte ligente l' mais hu-
lhores. Os probll!"ws q ..e su rgem siio c ..frtmladus CQm lima certa IU/tlirallda- mana d e com pctiç:io econô mica no sistema capi talist'a, alternativa
(11.' ruiS us~mbléÚll. ( ... ) A forra da urgafl izaçAo dos "colt'/illfslas" com CfO a <Iue se aprcsc nta aos m:tis fracos .54 O cooperativismo , apesar de ser
colllag iar. Os "i,,(/lulrluo " (liic) pera1x'''' o/rual$su deles 11 que só seoo llsegue
fa;er alguma coisa através da Assoollção. Daí os "üu/iI:ü!utll" já e$140 pell- uma fo rma coletiva de ação, faz a o pção pelo respeitO (e direito) à
umdQ "'mla AsMJciação "d us Itu/illfdual". Por outro latlo, OS "co/elivistos" propriedad e privada individuaJ . Po r tudo isso, a m:llriz discursiva é, a
percebem quI' ofraca ssodus ";/Idi"idllaf" é roim. pulsos "/"di/lidu(J1" (I('$iml· meu ver, o capitalis mo , mesmo que seja o fe n.:ccndo argumentação
mam e elllregam as parcl'la s. 'J polê mica, e o cooperativismo a sua fo mla prdcrencial d e ação soli-
d ária, afirm ação que n:io sc :ther::! pelo fato dt:: alguns núcleos se
apro priarem da so lução fo mml c rr.tZcrcm para seu bo jo o utras for-
52 A Id é ia d e: açao cO()pcr~liv9 do MST modclôl-sc na cxperiê ncj ~ sovl;,;ti<;:l dos mações discursivas; isso apenas confi rma a hi pótese da intertextuali-
KolkIJOZf!s. fõl7.t:nd;l.~ colc tiv as que se: co nstituem como emprtsôlS :lutú nomu. A
maioria daqucb.~ r:lZcnd~s s u rgi u entre 1929 e 1930, :t no~ do gnndc esforço
5~ Mesm o quando ."C tr.. u d e u m~ L"OOpcn l Í\-a de grand es p ropri>: láriOll rurus , é
d e: (;()lctiv~çio da Uniio So,~él ica.
uma inkiath'3 de um setor que se :l.IItopc:rcdx: como o m~ i~ dt::lflrh~ IL1;i.:I dod3
53 Thorlby. Tillgo. Gmjali: oso1lOO quase realtzado. lkcifc, CPT Nordestc, 1995. (-conom;a nacional.

li. lO'
Obsl'rv<' a orper/ência Se a gem ., se orgallizar o que Sozillho é difícil Essa matriz ve m sofrendo modificaçôcs desde o início do fim
(lI! militas co''''midades se IIIIlr efL'"er um plallO Com Q Ulffl$ dd para f 4rer do socialismo real, com a qued a dos regimes d e o rientação socialis-
sej'mU.rum .,fizeram com 1I{:/"bus e amlgtn Melborar a protluçtlo
ta, que obrigou seus defensores a repensarem algumas de suas pre-
me/bar/as de l!t'rdtllIO!; é certo que ptl m U allU fazll r a Icrra reml!!r
jt1 tfim casa defaritlha já me/bura algfllllQ coisa emqllafl/" ferra maior missas básicas. No enmntO, está se falando aqu i d e paradigmas, que
co,,,,mltd ria U IJufl tad., É s/lgl.ro, eu mio me e,,· a/lida não se /X)ll., wr. não se constroem d a noite p:tra o d ia e também não são destruídos
gwlO rapidamente , como um muro. A crise do socialismo provavelmente
dá mais pe rmeabilid:ldc aos discursos que nele se Inspiram, mas não
I'ra glmle ficar IIU terra 1:.' "'fia lula de ,." ,lia faz com que se possa d esconsiderar sua jnfluê ncia nas formações d is-
pru mlu ulrarbóia f ria prtl W flcer u lubardo
cu n;iv.lS cons ideradas.
e ",io ir pm cidade que eSlá de olho esper<lJIdo
wfre lia periferia o {X)bre ".20 Il!r prodliçiiO
ga"bar prvtlllUviL/<ule pra "lrrompra r "UI te rra
dllma IlIla de '.' alia jHIgmulo qualquer tostão
o capitalismo

Os socialismos, e ntendidos como conquistas o u viló ri as da As fo rmas socialistas de o rganização da produção apresen-
classe [í.lbalhadora, não admitem fissuras , pressupo ndo um com- tam-se em oposição ao capitalismo. Uma outr.t proposta também
portamento ho mogêneo. As discordâncias são tradldonahm:nte en- parte daí: é a d o cooperativismo, que em seus primó rdios pode ser
tendidas como "desvios", en trando e m cena um compo ne nte vis to também como um socialismo utó pico, te ndo sido inclusive
moralista que atribui a fato res d e pen;onalidade ou de çar.íte r a acei- cons iderad o , num primeiro momento, como "instrumc llto de eman-
tação Ou recusa de fonnas cole tiv:1S de trabalho e p nxtuç:io. No socia- cipação da classe prolct:\ria". São duas as razôcs que me fazem d esta-
lismo , a unidad e sodal bãs ic:1 ê o coletivo, sendo o individualismo d-Io do conjunto maior e apresemá-Io sob a matriz d o t::tpilaJismo,
um v-.t1o r negativo a ser comhatido. o u me lho r, como a expressão da noção de cooper.lção no siste ma ca-
É nesse conte,,1:O que se localiza o acirrado debate sobre "os co- pitalista: o fato de ele te r adquirido dime nsõcs suficientes para se
le tivistas versus os individuais", sempre presente nos asse ntamentos transformar num s istema fo mlal autônomo e o de não se apresentar
coorde n:ldos pelo MST52 e nos assessorAdos pela c lyr, tensãu dico- (no Brasil) como um:t proposta revolucion:tria o u d e transfo rmação
tô mica que pode ser apreciada neste trecho de um impresso : das estruturas çapitalistas , o u como um modo d e o rgan ização com
ti urga/lizaçdo dos · cu/I!/IlJls/as" gart""c o tWUfI ÇO I! a conquista fie (/fal m e- base na produção social, mas como uma forma inte ligente l' mais hu-
lhores. Os probll!"ws q ..e su rgem siio c ..frtmladus CQm lima certa IU/tlirallda- mana d e com pctiç:io econô mica no sistema capi talist'a, alternativa
(11.' ruiS us~mbléÚll. ( ... ) A forra da urgafl izaçAo dos "colt'/illfslas" com CfO a <Iue se aprcsc nta aos m:tis fracos .54 O cooperativismo , apesar de ser
colllag iar. Os "i,,(/lulrluo " (liic) pera1x'''' o/rual$su deles 11 que só seoo llsegue
fa;er alguma coisa através da Assoollção. Daí os "üu/iI:ü!utll" já e$140 pell- uma fo rma coletiva de ação, faz a o pção pelo respeitO (e direito) à
umdQ "'mla AsMJciação "d us Itu/illfdual". Por outro latlo, OS "co/elivistos" propriedad e privada individuaJ . Po r tudo isso, a m:llriz discursiva é, a
percebem quI' ofraca ssodus ";/Idi"idllaf" é roim. pulsos "/"di/lidu(J1" (I('$iml· meu ver, o capitalis mo , mesmo que seja o fe n.:ccndo argumentação
mam e elllregam as parcl'la s. 'J polê mica, e o cooperativismo a sua fo mla prdcrencial d e ação soli-
d ária, afirm ação que n:io sc :ther::! pelo fato dt:: alguns núcleos se
apro priarem da so lução fo mml c rr.tZcrcm para seu bo jo o utras for-
52 A Id é ia d e: açao cO()pcr~liv9 do MST modclôl-sc na cxperiê ncj ~ sovl;,;ti<;:l dos mações discursivas; isso apenas confi rma a hi pótese da intertextuali-
KolkIJOZf!s. fõl7.t:nd;l.~ colc tiv as que se: co nstituem como emprtsôlS :lutú nomu. A
maioria daqucb.~ r:lZcnd~s s u rgi u entre 1929 e 1930, :t no~ do gnndc esforço
5~ Mesm o quando ."C tr.. u d e u m~ L"OOpcn l Í\-a de grand es p ropri>: láriOll rurus , é
d e: (;()lctiv~çio da Uniio So,~él ica.
uma inkiath'3 de um setor que se :l.IItopc:rcdx: como o m~ i~ dt::lflrh~ IL1;i.:I dod3
53 Thorlby. Tillgo. Gmjali: oso1lOO quase realtzado. lkcifc, CPT Nordestc, 1995. (-conom;a nacional.

li. lO'
]nesllaAmújo

dade e do seu papel no cenário de indefinições institucionais . O discurso anterior sustenta-se, sobretudo, nos princípios e no
Temos então que a singularidade dessa matriz discursiva é conside- símbolo cooper.llivistas. Os princípios, que têm caráter de dourrina,
rar a organização coopemtiva como um recurso alternativo de con- são : controle democrático (cada pessoa um voto) , livre adesão, neu-
corrência no mercado. tralidade política, mcial e religiosa, educação permanente, juros li-
O cooperativismo nasceu oficialmente, como empresa socioe- mitados ao capital e cooperação entre cooper,uivas. O s ímbolo do
conômica, em 1844, na cidade industrial de Rochdale, na Inglate rra, cooperativismo é formado por dois pinheiros verdes, num fundo
com a constituição da "Sociedade dos eqüitativos pioneiros de Roch- amarelo, rodeados por um círcu lo . Os pinheiros simboliz:ull a imor-
dale" '. por um grupo de 28 tecelões, num cenário de greve e demis- tal idade c a fertilidade e , sendo dois, representam a união de iguais e
sões em massa. Vivia_se a emergência do movimento operário e a ajuda mútua. O círculo significa a ausência d e começo e fim. O ver-
talvez a primeira grande crise do capitalismo. A cooperativa dos pio- de evoca a natureza e o amarelo, o sol. Temos então "um símbolo
ne iros erd primordialmente de consumo, mas tinha objetivos de que representa a união e a coesão do movime nto; a imortalidade e a
montagem de uma linha de produção, compra ou arrendamento de eternidade de seus princípios ; a energia e o vigor de seus adeptos"
terrenos par.! cultivo, educação e construção de moradias. Arualmen- (/\BC do Cooperativismo , INCRA, 1978).
te, o cooper-.ltivismo estende-se às áreas de produção e distribuição O novo discurso busca sua força no X Congresso Brasileiro d e
de mercadorias, agricultura e pecuária, comercialização e crédito, Cooperativismo (1987) c apóia-se na Constiruição Brasileira de
transporte, educação, indústria, habitação, bancos e seguros, pesca e 1988, que libertou o sistema da tutela do Estado. Depois desses
serviços. Dispõe de um amplo sistema de representação: Aliança Co- eventos, as palavras de ordem passaram a ser aurogest:l.o e compeliti-
operativa Internacional, Organização das Cooperativas da América, vidade.
Organização das Cooperativas Brasileiras e Organizações das Coope- A Constituição de 88 é também o divisor de águas quanto à re-
rativas Estaduais . lação discursiva entre o Estado e o Sistema Cooperathrista. Antes , o
De ntro do próprio sistema, há dois djscursos dominantes . Um, discurso cooperativista era náo só patrocinado, mas assumido pelo
original c marcado pela mística da solidariedade e da eqüidade, que Estado . É lípico d essa fase o trecho da apresentação da cartilha
:>ode ser representado por este trecho de uma palesrr.l, proferida no "Princípios CooperJ.tivistas", de Renato Pimentel , ed itada pelo
I Congresso Cooperativista Potiguar (1995): INCRA :
A cooperativa visa, defun1/a livre. sulidárla e (mtõlloma, pTl!s(ar serviços a Estimulado pelu (iulienw, o C(J{)JN!ra/lvlsmu, 110 elltalltu, depende, ptlraforta-
seus associados. Para lall/o, a cooperalilJQ, rmqualllu associação de pessoas. lecer·se, du esfiJrço cunsdellle de lodos os que se (lispóem a praticá-lu. O
precisa ser demUCrtitica, ptlrticlpati,iU. mutualista e eqüitativa. (p. 22 dos lNCJ{A, a/ravés do Dl'partamellto de Dese.wulvimelllU Rural, tem feito o qlle
Anais) lhe compete para apoiar, assistir e pN.mwver o cooperativismu; tod(wla, mui.
to menos se realizará, >!essa área. se não buuver lima cumpree>!sAo relll de
O outro, recentíssimo, vem adquirindo rapidamente prevalên- seu sigllificado.
cia sobre o primeiro e pode ser ilustrado pelo trecho inicial do texto
A fase atual fica bem representada no texto do folheiO "Autoges-
de capa do nO de jul./ago. 95 do Jornal da Ocepe (Organização das
tão", da OCB:
Cooperativas do Estado de Pernambuco) , O Ação Cooperativista de
Pernambuco. O título da matéria é "Cooperativas a caminho do ter- o fim (Ia ;"terfen"Ilcia estatal fui "ma das exlg{}llcias du Cooperati"lsnw. de-
ceiro mi lênio". fi.lida cum clare:m tiO X COllgressu Brasileiro de C()(Jpermlvlslllo e defelld/(/a
com denooo jumo li Assembléia Naciullal COllstitulme. AsOfO somos lIures. 1.1-
As C()()peratillas de PemambllCQ Rumu au Ano 2(}{)(J. Este é o temo do Ellcun - vres, mas respollsá/Jels.
tro 1:.s tadual (. ..). O evenl" tem como ubjeti,lO refletir sobre as perspectivas (lu
crescimellto do cooperativlsmu e1ll1l0SSU Estado, em cunsemãncia com as nu--
vus e:>.:igêndas do mercado globaUzado. competitivo e alltu"Ultizadu.

19' 19'
]nesllaAmújo

dade e do seu papel no cenário de indefinições institucionais . O discurso anterior sustenta-se, sobretudo, nos princípios e no
Temos então que a singularidade dessa matriz discursiva é conside- símbolo cooper.llivistas. Os princípios, que têm caráter de dourrina,
rar a organização coopemtiva como um recurso alternativo de con- são : controle democrático (cada pessoa um voto) , livre adesão, neu-
corrência no mercado. tralidade política, mcial e religiosa, educação permanente, juros li-
O cooperativismo nasceu oficialmente, como empresa socioe- mitados ao capital e cooperação entre cooper,uivas. O s ímbolo do
conômica, em 1844, na cidade industrial de Rochdale, na Inglate rra, cooperativismo é formado por dois pinheiros verdes, num fundo
com a constituição da "Sociedade dos eqüitativos pioneiros de Roch- amarelo, rodeados por um círcu lo . Os pinheiros simboliz:ull a imor-
dale" '. por um grupo de 28 tecelões, num cenário de greve e demis- tal idade c a fertilidade e , sendo dois, representam a união de iguais e
sões em massa. Vivia_se a emergência do movimento operário e a ajuda mútua. O círculo significa a ausência d e começo e fim. O ver-
talvez a primeira grande crise do capitalismo. A cooperativa dos pio- de evoca a natureza e o amarelo, o sol. Temos então "um símbolo
ne iros erd primordialmente de consumo, mas tinha objetivos de que representa a união e a coesão do movime nto; a imortalidade e a
montagem de uma linha de produção, compra ou arrendamento de eternidade de seus princípios ; a energia e o vigor de seus adeptos"
terrenos par.! cultivo, educação e construção de moradias. Arualmen- (/\BC do Cooperativismo , INCRA, 1978).
te, o cooper-.ltivismo estende-se às áreas de produção e distribuição O novo discurso busca sua força no X Congresso Brasileiro d e
de mercadorias, agricultura e pecuária, comercialização e crédito, Cooperativismo (1987) c apóia-se na Constiruição Brasileira de
transporte, educação, indústria, habitação, bancos e seguros, pesca e 1988, que libertou o sistema da tutela do Estado. Depois desses
serviços. Dispõe de um amplo sistema de representação: Aliança Co- eventos, as palavras de ordem passaram a ser aurogest:l.o e compeliti-
operativa Internacional, Organização das Cooperativas da América, vidade.
Organização das Cooperativas Brasileiras e Organizações das Coope- A Constituição de 88 é também o divisor de águas quanto à re-
rativas Estaduais . lação discursiva entre o Estado e o Sistema Cooperathrista. Antes , o
De ntro do próprio sistema, há dois djscursos dominantes . Um, discurso cooperativista era náo só patrocinado, mas assumido pelo
original c marcado pela mística da solidariedade e da eqüidade, que Estado . É lípico d essa fase o trecho da apresentação da cartilha
:>ode ser representado por este trecho de uma palesrr.l, proferida no "Princípios CooperJ.tivistas", de Renato Pimentel , ed itada pelo
I Congresso Cooperativista Potiguar (1995): INCRA :
A cooperativa visa, defun1/a livre. sulidárla e (mtõlloma, pTl!s(ar serviços a Estimulado pelu (iulienw, o C(J{)JN!ra/lvlsmu, 110 elltalltu, depende, ptlraforta-
seus associados. Para lall/o, a cooperalilJQ, rmqualllu associação de pessoas. lecer·se, du esfiJrço cunsdellle de lodos os que se (lispóem a praticá-lu. O
precisa ser demUCrtitica, ptlrticlpati,iU. mutualista e eqüitativa. (p. 22 dos lNCJ{A, a/ravés do Dl'partamellto de Dese.wulvimelllU Rural, tem feito o qlle
Anais) lhe compete para apoiar, assistir e pN.mwver o cooperativismu; tod(wla, mui.
to menos se realizará, >!essa área. se não buuver lima cumpree>!sAo relll de
O outro, recentíssimo, vem adquirindo rapidamente prevalên- seu sigllificado.
cia sobre o primeiro e pode ser ilustrado pelo trecho inicial do texto
A fase atual fica bem representada no texto do folheiO "Autoges-
de capa do nO de jul./ago. 95 do Jornal da Ocepe (Organização das
tão", da OCB:
Cooperativas do Estado de Pernambuco) , O Ação Cooperativista de
Pernambuco. O título da matéria é "Cooperativas a caminho do ter- o fim (Ia ;"terfen"Ilcia estatal fui "ma das exlg{}llcias du Cooperati"lsnw. de-
ceiro mi lênio". fi.lida cum clare:m tiO X COllgressu Brasileiro de C()(Jpermlvlslllo e defelld/(/a
com denooo jumo li Assembléia Naciullal COllstitulme. AsOfO somos lIures. 1.1-
As C()()peratillas de PemambllCQ Rumu au Ano 2(}{)(J. Este é o temo do Ellcun - vres, mas respollsá/Jels.
tro 1:.s tadual (. ..). O evenl" tem como ubjeti,lO refletir sobre as perspectivas (lu
crescimellto do cooperativlsmu e1ll1l0SSU Estado, em cunsemãncia com as nu--
vus e:>.:igêndas do mercado globaUzado. competitivo e alltu"Ultizadu.

19' 19'
!"oltaAratljo

o fimciollalismo aquelas co nseqüências observadas que diminuem a adaptação o u (J


ajusrame mo d o sistema" (apud Aromann: o p . cit.: 86).
A Teoria da Modernização , de Dan iel temer, "indica os padrões
De natureza diversa d as m:lt'r1zes anterio res, por constituir uma culturais e as condições psicossociais como causas necessárias c até
corrente teórica, o fundonalismo roi aqui inclu ído nas principais suficie ntes para o desenvolvime nto" (idem : 130). A sociedade mo-
ro ntes d os discursos sobre o comunitário por cu perceber que ele, derna é participante, funciona por conse nso e apresenta mobilida-
principalmente na SU:l \'crteme estrutural, fo i o maior inspirado r do de . As trad icionais, não participantes, isoladas e sem mecanismos
conceito de Desenvolvimento de Comunidade - do ravanle DC - que para atingir o consenso. As qualidades essenciais às pessoas moder-
liderou a discussão acadêmica e direcio nou as estratégias d e inter- nas seriam a "e mpatia" (Lerner fa la em "personalidade e mpática·) e
venção no meio rural por décad as a fio . a capacidade de se adaptar às solicitações e mudanças . A educação e
Nas Ciê ncias Sociais, há muitas contribuiçõcs teóricas p ara o a comunicação le riam a atribuição de d ifund ir nas comunidades tradi-
e ntendimento dos conceitOs im plicados na organização da socieda- cionais uma personalidadc empática, f.lvort."Cendo :t modernizaç:io.
de (pri ncipalmenle na sociologia, o nde Max Weber se desraca) . Mas É possível distinguir três f.tSCS na construção d o conceitO de
parece que elas não roram levadas muil'O em coma pe los agentes da DC, que, embora crono lógicas, não são mutuamente excl udentes. A
prática social, porque seguiu-se usando indiscriminadamente o rer- p rimeira caracteriza-se por se concebê-lo como um instrumento de
mo "comunidade", em que pesem algumas discussões paralelas so- desobstrução d os caminhos d o desenvo lvimento, entendendo como
bre :1 existÍ!ncia o u não dessa categoria no Brasil.
No e ntanto, como se sabe, os conceitos e a pr-dtica que lhes cor-
obstáculos o analfabetis mo, o ··atraso", a "ignorância" das popu la- I
ções rurais. Esse período. que vai de 1945 ao fim da d écada de 50, é
respondem nunca são d esvinculados de alguma teoria c:t concepção
do minante de ação comunitária ro i info rmada de modo marcante
marcado pe las campan has de alfabetização, pe los programas d e edu-
c:u;.1o dc adultos e pela criação de um:l cstrutur:, ro noa.! para d ar su-
I
por autores fun cionalistas, como Parso ns (teoria d o equilíbrio e da porte a tais atividades. O pOntO d e partida ro i um acord o sobre
integração) , Men o n c Lemer (teoria da modernização) , embora por educação rural e ntre os governos brasileiro e norte-ame ricano, crian-
um breve período as teses de Paulo Freire e d e Gramsci te nham fe Ílo do a ··Comissão Brasileiro-Americana de Educação d as I'o pulações I
tímidas aparições . Rurais'.. Que contava com um corpo d e especialisras em educação e
A teoria parsoniana d o equilíbrio e da intcgrdção afirma que a
sociedade traZ em si uma estrutura integradora que tOrna possíve l o
extensão rural. cuja estratégia e ra com posta por missões rurais vo-
lantes, associadas à exibição d e filme s, bibliotecas móveis e uso do
I
autocon trole d a compe tição e dos conflitos. A participação é u m dos r:ídio. Em 1949, o Seminário Interamericano d e Educação de Adul-
métodos d e integração e a rorma de legitimar o poder, legitimação
necessária pelo fato de e le exercer um papel (necessário) no rmativo
tos: recomenda a adoção d a filosofia de DC e indica a extensão uni- I
versitária e agrícola, as cooperativJ..S, os sindicatos e as missões rurais
e de coordenador externo d o processo integrativo. Em o utros rer- como estr:uégia.
mos, embora a sociedade possua mecanismos internos de cont role e
integração, esta s6 sç realiza mediante a imervenção coercitiva do
Nos anos 50, :1 ONU difunde largamente o OC, como fo rma de I
inregrar a ação d a população :lOS programas go\'c rnamenrais. ·· Plasma-
aparato do Estado (Ammann , 1985: 12 4-5) . Nesse contexto, cidada· do sobre um esquema conceptual societário que se rege pelos supos-
nia e participação são duas faces da mesma moeda, vital na preserva- tos da harmo nia e d o equilíbrio, o DC é então d efinido como
ção d o s istema social. ·processo arravés do qual os esforços do próprio povo se unem aos
O DesenvolvimentO d e Comunidade é percebido , por essa li- d as auto ridades governamentais, com o fim de melhorar as condições
nha, como uma função do equi líbrio social. Segu ndo Menon, "fun- econô micas, sociais e culturais das comunidad es, integrar essas c0-
ções siio aquelas conseqüê ncias o bservadas que propiciam a munidades na vida nacional e capacitá·.1:l5 a conrribuir plenamente
adaptação o u o ajustamento d e um dado sistema e dis runções são

'" '"
!"oltaAratljo

o fimciollalismo aquelas co nseqüências observadas que diminuem a adaptação o u (J


ajusrame mo d o sistema" (apud Aromann: o p . cit.: 86).
A Teoria da Modernização , de Dan iel temer, "indica os padrões
De natureza diversa d as m:lt'r1zes anterio res, por constituir uma culturais e as condições psicossociais como causas necessárias c até
corrente teórica, o fundonalismo roi aqui inclu ído nas principais suficie ntes para o desenvolvime nto" (idem : 130). A sociedade mo-
ro ntes d os discursos sobre o comunitário por cu perceber que ele, derna é participante, funciona por conse nso e apresenta mobilida-
principalmente na SU:l \'crteme estrutural, fo i o maior inspirado r do de . As trad icionais, não participantes, isoladas e sem mecanismos
conceito de Desenvolvimento de Comunidade - do ravanle DC - que para atingir o consenso. As qualidades essenciais às pessoas moder-
liderou a discussão acadêmica e direcio nou as estratégias d e inter- nas seriam a "e mpatia" (Lerner fa la em "personalidade e mpática·) e
venção no meio rural por décad as a fio . a capacidade de se adaptar às solicitações e mudanças . A educação e
Nas Ciê ncias Sociais, há muitas contribuiçõcs teóricas p ara o a comunicação le riam a atribuição de d ifund ir nas comunidades tradi-
e ntendimento dos conceitOs im plicados na organização da socieda- cionais uma personalidadc empática, f.lvort."Cendo :t modernizaç:io.
de (pri ncipalmenle na sociologia, o nde Max Weber se desraca) . Mas É possível distinguir três f.tSCS na construção d o conceitO de
parece que elas não roram levadas muil'O em coma pe los agentes da DC, que, embora crono lógicas, não são mutuamente excl udentes. A
prática social, porque seguiu-se usando indiscriminadamente o rer- p rimeira caracteriza-se por se concebê-lo como um instrumento de
mo "comunidade", em que pesem algumas discussões paralelas so- desobstrução d os caminhos d o desenvo lvimento, entendendo como
bre :1 existÍ!ncia o u não dessa categoria no Brasil.
No e ntanto, como se sabe, os conceitos e a pr-dtica que lhes cor-
obstáculos o analfabetis mo, o ··atraso", a "ignorância" das popu la- I
ções rurais. Esse período. que vai de 1945 ao fim da d écada de 50, é
respondem nunca são d esvinculados de alguma teoria c:t concepção
do minante de ação comunitária ro i info rmada de modo marcante
marcado pe las campan has de alfabetização, pe los programas d e edu-
c:u;.1o dc adultos e pela criação de um:l cstrutur:, ro noa.! para d ar su-
I
por autores fun cionalistas, como Parso ns (teoria d o equilíbrio e da porte a tais atividades. O pOntO d e partida ro i um acord o sobre
integração) , Men o n c Lemer (teoria da modernização) , embora por educação rural e ntre os governos brasileiro e norte-ame ricano, crian-
um breve período as teses de Paulo Freire e d e Gramsci te nham fe Ílo do a ··Comissão Brasileiro-Americana de Educação d as I'o pulações I
tímidas aparições . Rurais'.. Que contava com um corpo d e especialisras em educação e
A teoria parsoniana d o equilíbrio e da intcgrdção afirma que a
sociedade traZ em si uma estrutura integradora que tOrna possíve l o
extensão rural. cuja estratégia e ra com posta por missões rurais vo-
lantes, associadas à exibição d e filme s, bibliotecas móveis e uso do
I
autocon trole d a compe tição e dos conflitos. A participação é u m dos r:ídio. Em 1949, o Seminário Interamericano d e Educação de Adul-
métodos d e integração e a rorma de legitimar o poder, legitimação
necessária pelo fato de e le exercer um papel (necessário) no rmativo
tos: recomenda a adoção d a filosofia de DC e indica a extensão uni- I
versitária e agrícola, as cooperativJ..S, os sindicatos e as missões rurais
e de coordenador externo d o processo integrativo. Em o utros rer- como estr:uégia.
mos, embora a sociedade possua mecanismos internos de cont role e
integração, esta s6 sç realiza mediante a imervenção coercitiva do
Nos anos 50, :1 ONU difunde largamente o OC, como fo rma de I
inregrar a ação d a população :lOS programas go\'c rnamenrais. ·· Plasma-
aparato do Estado (Ammann , 1985: 12 4-5) . Nesse contexto, cidada· do sobre um esquema conceptual societário que se rege pelos supos-
nia e participação são duas faces da mesma moeda, vital na preserva- tos da harmo nia e d o equilíbrio, o DC é então d efinido como
ção d o s istema social. ·processo arravés do qual os esforços do próprio povo se unem aos
O DesenvolvimentO d e Comunidade é percebido , por essa li- d as auto ridades governamentais, com o fim de melhorar as condições
nha, como uma função do equi líbrio social. Segu ndo Menon, "fun- econô micas, sociais e culturais das comunidad es, integrar essas c0-
ções siio aquelas conseqüê ncias o bservadas que propiciam a munidades na vida nacional e capacitá·.1:l5 a conrribuir plenamente
adaptação o u o ajustamento d e um dado sistema e dis runções são

'" '"
Ines/Ia Maujo A recom .. rJao do oIlwr

para O progresso do país'" (op . cit.: 32) . Articuladamente, a Assem- A terceira fdSC corresponde aos regi mes militares e sua polítiCA
bléia da Comissão Social do ConseU10 Econô mico recomenda, em inte grac.ionista. É o tempo do Pro je to Rondo n, dos CRUTACs, dos
1957, a adoção ~lIll arga eSCIla do uC no meio ruraL Em 1959, cria-se c sus , da adoção do DC como prio ridade das Su perintendências Re-
o Serviço Socia l Rural, que se define COmO um programa de OC. gionais de Desem'o lvim ento, como a Sude ne . O Ro ndo n tinha como
Nessa fase, reconhece·se a importância da participação, limi- objetivo " criar uma mentalidade nac io na l de participação comunitá.
ta-se o DC às (romeiras locais e Obje tiva·se "guiar a comunidade para ria" e seus docume ntos faJ avam e m "supcração de falsos conflitos"
que e la que ira e apre nda a se o rg:tniz:lr ( ...) " (p. 51). entre os diversos atores sociais. Em 1970, é criada a Coordenação de
A segunda fase foi de curta duraçao , mas bastante imensa e cor- Programas d e Dese nvolvimemo de Comunidades - CPDC, c ujo con-
r:espondcu :tO fim do período Kubitsche k até o início do regime mili- ceito de De é ··instrumento de participação popular e s istema de tra-
tar. Nela, part'e dos profissionais ligados ao De incorporou-se d e balho d estinado a facilitar a conjugação dos recu rsos da população e
corpo c alma ao projeto nacional de rdonnas estruturais, tentando do gove rno , e o bter ma io r re ntabilidade destes".55 A participação
extrapolar a visão localista e operar numa perspectiva de adcsão às lu- COntinua a ser entendida com o a incorporação d a população, princi-
ras populares por lr-.tJlsfommções sociais. As inspirações v:io dcsde o palmente de seus líderes. aos p lanos d o gove rno .
humanismo cristão e Paulo Freire até as correntes marxisTas mais radi- Em 75 , textos oficiais definem o DC como "uma tOmada de
cais. "A educação de adultos ( .. .) pretende formar indivíduos conscien- consciência pelo indivíduo, da possibilidade e necessidade de sua
tcs da sua posição no mundo e da rdcvlncia de sua contribuição à participaçáo no cquacionamenro de problemas e definição de o bjeti-
mudança das eSlrururas socioeconô micas d o pais e \rincula-se à culrura vos que atentam pard as necessidades d o con junto da população e
popular" (idem : 6 1) . A Igreja Cató lica e ntra. nessa cena de modo incisi- para o c rescimento harmô nico do m e io e m Que vive·' (p. 121). É uma
\'0 , criando o MEB - Movime nro de Educação d e Base - c orientando a definição bastante pró xima à que parece o rie ntar a concepção atual,
implantação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais . sobre a qual não existe um traba lho sistematizado com o este de
Não o b stante toda essa e fervescê ncia, o conceito e a pr.ítica de Ammann, cujo período abordado e n c~ rra·se e m 1977. No entanto ,
OC conservam resíduos do período anterior. Apesar de o disc urso pela a nálise dos mate riais, associad:1 ao conheci mento empirico da
indicar uma \'isão global da sociedade, entende-se que o dese nvo lvi- realidade estudada, é possível transferir para nossos dias a o bserva-
memoé um proble m a ma iscultuml d o quees truruml, um "p rocesso ção daquela pesquisadora sobre as experiências de OC de cunho
de mudança cultural dirigida". Daí O surgime nto, nessa é poca, dos funcionalisra, que abordam "a comunidade como um todo regido
CPCs e d o MCP (Cem ros Populares de Cultum e Movime11l0 de Cul- pelo consenso, com pro blemas e illleresses t:o muns. Em nome desse
turA Popular) . E, apesar de perceber o DC mais autônomo e m re la- consenso, todos, e e m panicular os ' líderes' são mo bilizados para a
Ç-dO ao gov~rno. nâo se abre m ão da idéia da inte rvenção dos solução de seus problemas, medianle uriliz.1ção de lé cnicas coopera-
técnicos no processo: a estes caberia sempre o estimulo à mudança, t.ivas (ajuda múrua, murir-lo e tc.) o u de o rganizações 'capazes de
para a qual seria imprescindíve l a participação popular. Amm:lI1n vê conduzir as mudanças para os fins desejados': Celllros d e Demons-
ainda o utra limitação daquele mo me mo, que ê a persistência em ver tração, Extensão Rural , Centros Sociais , Associações , Conselhos de
a sociedade co mo "um bloco constituído de partes, onde jamais O Comunidades etc. " (p . 85) .
antago nismo d e classes vem :i tona. A única cisão admitida é :1 dos Para inferir a pertinência dessa afinnação, avaliar o modo pelo
'do is brasls', típica iOlerpre tação dualista, que analisa o subdesen· qual as matrizes discursivas se e ntrecruzam e as condições gerais de
volvimento como fo nnação histórico-econômica s ingular, decorren·
te da oposiç:io fo rmal de seto res 'atrasados' e 'modernos'" (p. 83) . A
participaç:'i.o, aí, e mbora extrapole a dimensão local, é ainda supOSta 55 Nãu é possível esl~ndcr'me aqulliUbre os objelivos c as !usli fi cati va.) d" CPDC,
m aS eles ~c :l.S!\Cmelham cXlrllordlnariamenu: a05 do a tu ,,1 '·Colllun id<lth.: Suli·
como fun ção d e integração do campo aos selOres modernos. dári3 ~, comO;l "nicubção dos v:\.rios órs~os dos divel'liOs esclôes ofici;l~ c
dos particulan..-s. c a priori.taç:1o de um d~do númc::ro lk municípios.

19' '95
Ines/Ia Maujo A recom .. rJao do oIlwr

para O progresso do país'" (op . cit.: 32) . Articuladamente, a Assem- A terceira fdSC corresponde aos regi mes militares e sua polítiCA
bléia da Comissão Social do ConseU10 Econô mico recomenda, em inte grac.ionista. É o tempo do Pro je to Rondo n, dos CRUTACs, dos
1957, a adoção ~lIll arga eSCIla do uC no meio ruraL Em 1959, cria-se c sus , da adoção do DC como prio ridade das Su perintendências Re-
o Serviço Socia l Rural, que se define COmO um programa de OC. gionais de Desem'o lvim ento, como a Sude ne . O Ro ndo n tinha como
Nessa fase, reconhece·se a importância da participação, limi- objetivo " criar uma mentalidade nac io na l de participação comunitá.
ta-se o DC às (romeiras locais e Obje tiva·se "guiar a comunidade para ria" e seus docume ntos faJ avam e m "supcração de falsos conflitos"
que e la que ira e apre nda a se o rg:tniz:lr ( ...) " (p. 51). entre os diversos atores sociais. Em 1970, é criada a Coordenação de
A segunda fase foi de curta duraçao , mas bastante imensa e cor- Programas d e Dese nvolvimemo de Comunidades - CPDC, c ujo con-
r:espondcu :tO fim do período Kubitsche k até o início do regime mili- ceito de De é ··instrumento de participação popular e s istema de tra-
tar. Nela, part'e dos profissionais ligados ao De incorporou-se d e balho d estinado a facilitar a conjugação dos recu rsos da população e
corpo c alma ao projeto nacional de rdonnas estruturais, tentando do gove rno , e o bter ma io r re ntabilidade destes".55 A participação
extrapolar a visão localista e operar numa perspectiva de adcsão às lu- COntinua a ser entendida com o a incorporação d a população, princi-
ras populares por lr-.tJlsfommções sociais. As inspirações v:io dcsde o palmente de seus líderes. aos p lanos d o gove rno .
humanismo cristão e Paulo Freire até as correntes marxisTas mais radi- Em 75 , textos oficiais definem o DC como "uma tOmada de
cais. "A educação de adultos ( .. .) pretende formar indivíduos conscien- consciência pelo indivíduo, da possibilidade e necessidade de sua
tcs da sua posição no mundo e da rdcvlncia de sua contribuição à participaçáo no cquacionamenro de problemas e definição de o bjeti-
mudança das eSlrururas socioeconô micas d o pais e \rincula-se à culrura vos que atentam pard as necessidades d o con junto da população e
popular" (idem : 6 1) . A Igreja Cató lica e ntra. nessa cena de modo incisi- para o c rescimento harmô nico do m e io e m Que vive·' (p. 121). É uma
\'0 , criando o MEB - Movime nro de Educação d e Base - c orientando a definição bastante pró xima à que parece o rie ntar a concepção atual,
implantação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais . sobre a qual não existe um traba lho sistematizado com o este de
Não o b stante toda essa e fervescê ncia, o conceito e a pr.ítica de Ammann, cujo período abordado e n c~ rra·se e m 1977. No entanto ,
OC conservam resíduos do período anterior. Apesar de o disc urso pela a nálise dos mate riais, associad:1 ao conheci mento empirico da
indicar uma \'isão global da sociedade, entende-se que o dese nvo lvi- realidade estudada, é possível transferir para nossos dias a o bserva-
memoé um proble m a ma iscultuml d o quees truruml, um "p rocesso ção daquela pesquisadora sobre as experiências de OC de cunho
de mudança cultural dirigida". Daí O surgime nto, nessa é poca, dos funcionalisra, que abordam "a comunidade como um todo regido
CPCs e d o MCP (Cem ros Populares de Cultum e Movime11l0 de Cul- pelo consenso, com pro blemas e illleresses t:o muns. Em nome desse
turA Popular) . E, apesar de perceber o DC mais autônomo e m re la- consenso, todos, e e m panicular os ' líderes' são mo bilizados para a
Ç-dO ao gov~rno. nâo se abre m ão da idéia da inte rvenção dos solução de seus problemas, medianle uriliz.1ção de lé cnicas coopera-
técnicos no processo: a estes caberia sempre o estimulo à mudança, t.ivas (ajuda múrua, murir-lo e tc.) o u de o rganizações 'capazes de
para a qual seria imprescindíve l a participação popular. Amm:lI1n vê conduzir as mudanças para os fins desejados': Celllros d e Demons-
ainda o utra limitação daquele mo me mo, que ê a persistência em ver tração, Extensão Rural , Centros Sociais , Associações , Conselhos de
a sociedade co mo "um bloco constituído de partes, onde jamais O Comunidades etc. " (p . 85) .
antago nismo d e classes vem :i tona. A única cisão admitida é :1 dos Para inferir a pertinência dessa afinnação, avaliar o modo pelo
'do is brasls', típica iOlerpre tação dualista, que analisa o subdesen· qual as matrizes discursivas se e ntrecruzam e as condições gerais de
volvimento como fo nnação histórico-econômica s ingular, decorren·
te da oposiç:io fo rmal de seto res 'atrasados' e 'modernos'" (p. 83) . A
participaç:'i.o, aí, e mbora extrapole a dimensão local, é ainda supOSta 55 Nãu é possível esl~ndcr'me aqulliUbre os objelivos c as !usli fi cati va.) d" CPDC,
m aS eles ~c :l.S!\Cmelham cXlrllordlnariamenu: a05 do a tu ,,1 '·Colllun id<lth.: Suli·
como fun ção d e integração do campo aos selOres modernos. dári3 ~, comO;l "nicubção dos v:\.rios órs~os dos divel'liOs esclôes ofici;l~ c
dos particulan..-s. c a priori.taç:1o de um d~do númc::ro lk municípios.

19' '95
I "n/Ia Araujo

produção condicionam o discur.;o alual e, desse modo, abrir cam i- sult"ados de uma ação socia l, direcio nada à transformação estrutura l.
n ho pa1"3 ;1 verificação das OUlras hi pótese s, passemos à a nálise dos Buscam favorecer e forta lece r a organizaç:"io sindical e po lítica da po-
textos selecionad os. Antes, porém, duas o bservaçóes fin ais. pulação .
Na primeird, reafirmo o car,Íter não-e..'Ccludentc das posições típi-
cas de cada fase no meada. A divisão proposta é apenas uma fo rma d e
perceber tal realidade . Na pcitica, :lS atitudes e pciticas corresponden- Análise textual
tes for.un sofrendo um processo cumu lath'o e , em a lgumas institui-
ções q ue historiçamente permitem (ou permitir.l.m) um maio r espaço
Singularidades
de negociação interna (caso da Sude ne) , foi e é possível o bservar a co-
existencia de programas com orientações diferenc iadas, o u presentes
até no mesmo programa e nos discu rsos que Ul e dão concretude . Os seis impressos analisados apresentam as seguintes caracte-
Assim, posições desenvolvimentistas, refo rmistas, imegrdc ionistas rísticas fiSicas:
ou de outrd natureza mesclam-se e disputam a he ge mo nia, e s uas
chances são d e te rminadas e só pode m ser avaliadas na perspectiva NÚCLEO DISCU H.sIVO: IGREJA
do movimento da Histó ria. I. TfTULO: "Coopcrativismo - uma alternativa para os pequenos"
Em segu id a, proponho uma r.í pida síntese d as principais acep- FO"'TE: CPT - Com issão l'asto raJ da Terra - PI ; C EI'J\S _ Centro
ções de " panicipação" que foram se formando ao lo ngo desse perío- Educacional São Francisco de Assis ; Cáritas _ PI
d o e que correspondem provavelm e nte àquelas que hoje e m dia são LOCAL: Teresina - PI
o bje to de dispUl;t de sentidos .~6 DATA: Maio de 1994
Uma localiza a panicipação nos microuniversos sociais , sem FORMATO: Uvreto , com 53 páginas. Dimensões: 2 1 X 15,5cm.
vinculações com a sociedade global e seus problemas macroestruru- Capa e m papel crm cbé em três cores (\"t:rde, ocre e preto) . Contracapa
l"3is. PriOr1za os pro grdmas de melho ria de vida de car:ítcr imediato, e em branco. Miolo e m o.IJ-set branco com le t:r:1S pretas. Tipos e m corpo 12
e nfoca a panicipação como a contribuição da população à implanta- (aproximado). UustraÇÕC5 e m todas as páginas (desenhos e fotos) . Dese-
ção d esses programas, via de regra por meio das lide r:mças locais e nhos predominante me nte figurativos , estilo bico de pena (uma xilogra-
das formas associativas de organização. VlU-d). Títu los e intenirulos inte rnos e m negrito, corpo ampliado.
Outra expande os limites de sua preocupação, preconizando TítulOS e m caixa alta.
muda nças no p la no nacional. Idealiza a sociedade como solidária e Diagramação sem padrdo único .
eqüitativa, e:l pan.ici pação é entendida como forma de superação d o
conflito, q ue seria circu nstanci:1i e transitório. As esrrat'égl as de parti-
cipação localizam -se freqüente m e nt"e no çampo cu ltural.
Uma te rceira e ntende a panicipação como adesão aos planos
o ferec idos à po pu lação pda sociedade civil o u pelo Estado. Discursi-
vamente, funcionam como mecanismo d e legitimação. Também pri-
vilegia as lideranças e o associativismo.
Po r fim , a lguns localizam a participação no contextO histórico
da realidade g lo b a l e a p e rcebe m como controle d os meios, fi ns e re-

56 Ainda ulilb;o. p:1r.1 esse n:.5umo . OS suhsjdi~ do livro de Safin Am mann.

196 197
I "n/Ia Araujo

produção condicionam o discur.;o alual e, desse modo, abrir cam i- sult"ados de uma ação socia l, direcio nada à transformação estrutura l.
n ho pa1"3 ;1 verificação das OUlras hi pótese s, passemos à a nálise dos Buscam favorecer e forta lece r a organizaç:"io sindical e po lítica da po-
textos selecionad os. Antes, porém, duas o bservaçóes fin ais. pulação .
Na primeird, reafirmo o car,Íter não-e..'Ccludentc das posições típi-
cas de cada fase no meada. A divisão proposta é apenas uma fo rma d e
perceber tal realidade . Na pcitica, :lS atitudes e pciticas corresponden- Análise textual
tes for.un sofrendo um processo cumu lath'o e , em a lgumas institui-
ções q ue historiçamente permitem (ou permitir.l.m) um maio r espaço
Singularidades
de negociação interna (caso da Sude ne) , foi e é possível o bservar a co-
existencia de programas com orientações diferenc iadas, o u presentes
até no mesmo programa e nos discu rsos que Ul e dão concretude . Os seis impressos analisados apresentam as seguintes caracte-
Assim, posições desenvolvimentistas, refo rmistas, imegrdc ionistas rísticas fiSicas:
ou de outrd natureza mesclam-se e disputam a he ge mo nia, e s uas
chances são d e te rminadas e só pode m ser avaliadas na perspectiva NÚCLEO DISCU H.sIVO: IGREJA
do movimento da Histó ria. I. TfTULO: "Coopcrativismo - uma alternativa para os pequenos"
Em segu id a, proponho uma r.í pida síntese d as principais acep- FO"'TE: CPT - Com issão l'asto raJ da Terra - PI ; C EI'J\S _ Centro
ções de " panicipação" que foram se formando ao lo ngo desse perío- Educacional São Francisco de Assis ; Cáritas _ PI
d o e que correspondem provavelm e nte àquelas que hoje e m dia são LOCAL: Teresina - PI
o bje to de dispUl;t de sentidos .~6 DATA: Maio de 1994
Uma localiza a panicipação nos microuniversos sociais , sem FORMATO: Uvreto , com 53 páginas. Dimensões: 2 1 X 15,5cm.
vinculações com a sociedade global e seus problemas macroestruru- Capa e m papel crm cbé em três cores (\"t:rde, ocre e preto) . Contracapa
l"3is. PriOr1za os pro grdmas de melho ria de vida de car:ítcr imediato, e em branco. Miolo e m o.IJ-set branco com le t:r:1S pretas. Tipos e m corpo 12
e nfoca a panicipação como a contribuição da população à implanta- (aproximado). UustraÇÕC5 e m todas as páginas (desenhos e fotos) . Dese-
ção d esses programas, via de regra por meio das lide r:mças locais e nhos predominante me nte figurativos , estilo bico de pena (uma xilogra-
das formas associativas de organização. VlU-d). Títu los e intenirulos inte rnos e m negrito, corpo ampliado.
Outra expande os limites de sua preocupação, preconizando TítulOS e m caixa alta.
muda nças no p la no nacional. Idealiza a sociedade como solidária e Diagramação sem padrdo único .
eqüitativa, e:l pan.ici pação é entendida como forma de superação d o
conflito, q ue seria circu nstanci:1i e transitório. As esrrat'égl as de parti-
cipação localizam -se freqüente m e nt"e no çampo cu ltural.
Uma te rceira e ntende a panicipação como adesão aos planos
o ferec idos à po pu lação pda sociedade civil o u pelo Estado. Discursi-
vamente, funcionam como mecanismo d e legitimação. Também pri-
vilegia as lideranças e o associativismo.
Po r fim , a lguns localizam a participação no contextO histórico
da realidade g lo b a l e a p e rcebe m como controle d os meios, fi ns e re-

56 Ainda ulilb;o. p:1r.1 esse n:.5umo . OS suhsjdi~ do livro de Safin Am mann.

196 197
r"esiltlArtlújo A ,..,..."",,,,"soo do olbur

Modelo reduzido da capa: NÚCLEO DISCURSIVO: IGREJA


Texto contraponto:
2. TfTULO: ·'Terra Prometida - Comunicado c proposições do Se·
minário sobre o Homem e a Seca no Nordeste".
FONTE: CNI3I3- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Re·
gional NE 11
LOCAL: Recife - PE
DATA: 1982
FORMATO: Livro com 126 páginas. Dimensões: 20X 15cm. Capa
em canolina rosa, impressa em prelO. Miolo o.ffset com letras pretas,
corpo 14. Contr::tcapacom texto e créditos. Títulos e intenítu los inter·
nos e m negrilo em caixa alta. llustraçõcs em a lgum as páginas em estio
lo diversificado. Muitos recursos gráficos de destaque de textos.
Diagram ação padronizada.
Modelo rcdU7.ido da capa:

TERRA PROMETIDA

UMA ALTERNATIVA
PARA OS PEQUENOS

Co""-'nicado e
Propos,ço:Mos do
Sem"',;" sobr .. o Homem
e .. Seca no Nordesle

lO. lO'
r"esiltlArtlújo A ,..,..."",,,,"soo do olbur

Modelo reduzido da capa: NÚCLEO DISCURSIVO: IGREJA


Texto contraponto:
2. TfTULO: ·'Terra Prometida - Comunicado c proposições do Se·
minário sobre o Homem e a Seca no Nordeste".
FONTE: CNI3I3- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Re·
gional NE 11
LOCAL: Recife - PE
DATA: 1982
FORMATO: Livro com 126 páginas. Dimensões: 20X 15cm. Capa
em canolina rosa, impressa em prelO. Miolo o.ffset com letras pretas,
corpo 14. Contr::tcapacom texto e créditos. Títulos e intenítu los inter·
nos e m negrilo em caixa alta. llustraçõcs em a lgum as páginas em estio
lo diversificado. Muitos recursos gráficos de destaque de textos.
Diagram ação padronizada.
Modelo rcdU7.ido da capa:

TERRA PROMETIDA

UMA ALTERNATIVA
PARA OS PEQUENOS

Co""-'nicado e
Propos,ço:Mos do
Sem"',;" sobr .. o Homem
e .. Seca no Nordesle

lO. lO'
1'<n1l1l AfflújO

NÚCI.EO DISCURSIVO: ESTADO NÚCLEO DISCURSIVO: ESTADO


3. TÍTULO: u"rograma de desenvolvimenro comunitário" Texlo l:onu-aponto:
FONTE: Prefe irura M.unicipal de Afogados da Ingazeira 4. TíTUl.O: "Pereiros - uma história de cooperaçâo~
LOCAL: Afogados da (ngazeira - fiE FONTE: IDEME - Instituto de DesenvolvimeOlo Municipal e
DATA: 1995 Estadual.
FORMA"lU: Folheto com J 2 páginas. Dimensões: 22 X 16cm. D:uilo- Gabinete do PlanejameOlo e Aç.lO Governamental. Governo do
grafudo e reproduzido por xerografia. Todo t:ITI paf.M!loficio, inclusive a Estado da Paraiba.
capa e contrdCapa. Fundo branco e letras pretas. TiplS em corpo 10. Ti- I.OCAL: João Pessoa - PB
tulas internos e m caixa aha e sublinhados. Desenhos em todas as pági- DATA: 1989
nas, estilizados ou figurativos. Diagramação sem padrdO. FORMATO; U vr o com 93 p áginas. Dimensões; 2 1 X 14cm. Capa
Modelo reduzido da ca pa: em papel coucbé impresso em duas cores (vermelho e preto). Uma
foto só cobre a capa e a contracapa. Miolo e m olf-sct com letras pre-
tas, corpo 10. Fotos nas abenuras de seções. Títulos inrernos em ne-
grito. Diagramação padronizada.
Modelo reduzido da capa:

f!.QE.!!~.!!~
.Q !
~!!!!!!~!'!!!!!!!.Q
f;~ !,!:!,!!! ! !!!.Q

A'o~"". d.. Ingu. ' "./H


1995
~I vnsio

200 201
1'<n1l1l AfflújO

NÚCI.EO DISCURSIVO: ESTADO NÚCLEO DISCURSIVO: ESTADO


3. TÍTULO: u"rograma de desenvolvimenro comunitário" Texlo l:onu-aponto:
FONTE: Prefe irura M.unicipal de Afogados da Ingazeira 4. TíTUl.O: "Pereiros - uma história de cooperaçâo~
LOCAL: Afogados da (ngazeira - fiE FONTE: IDEME - Instituto de DesenvolvimeOlo Municipal e
DATA: 1995 Estadual.
FORMA"lU: Folheto com J 2 páginas. Dimensões: 22 X 16cm. D:uilo- Gabinete do PlanejameOlo e Aç.lO Governamental. Governo do
grafudo e reproduzido por xerografia. Todo t:ITI paf.M!loficio, inclusive a Estado da Paraiba.
capa e contrdCapa. Fundo branco e letras pretas. TiplS em corpo 10. Ti- I.OCAL: João Pessoa - PB
tulas internos e m caixa aha e sublinhados. Desenhos em todas as pági- DATA: 1989
nas, estilizados ou figurativos. Diagramação sem padrdO. FORMATO; U vr o com 93 p áginas. Dimensões; 2 1 X 14cm. Capa
Modelo reduzido da ca pa: em papel coucbé impresso em duas cores (vermelho e preto). Uma
foto só cobre a capa e a contracapa. Miolo e m olf-sct com letras pre-
tas, corpo 10. Fotos nas abenuras de seções. Títulos inrernos em ne-
grito. Diagramação padronizada.
Modelo reduzido da capa:

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A'o~"". d.. Ingu. ' "./H


1995
~I vnsio

200 201
NÚCLEO DISCURSIVO: ONGs NÚCLEO DISCURS IVO: ONGs
5. TíTULO: "Notícias da Geme" nO 10 Texto contraponlO:
FONTE : PATAC - Programa de Aplicação de Técnicas Ada pradas à 6 . TíTULO; "H istó rias da roça"
Comunidade FONTE; PTA - Projcto Tecnologias Alternativas - Centro Josué
l OCAL: Campina Grande - PB de Castro
DATA: 1991 l OCAL: Recife - PE
FORM~TO : Cartaz dobrado e m quatro, formand o folheto, com DATA: Dezembro d e 1991
aproveitamento de todas as faces: capa, contracdpa, du as páginas in- FOKMATO: LiVTcto com 28 páginas . Dimensões : 15 X 19 cm . Da·
te rnas e o verso, com o cartaz. Dime nsões: Aberto - 44 X 62cm; fe- tilografado e reproduzido mecanicamente e gr.tmpeado exte rna·
c hado- 3 1 X 22cm. Papel olfsct , impressão em duas cores (verde e me nte . Capa e contr.tcapa em papel cartão pardo , im pressas e m
preto; a programação da série p revê uma cor para cada núme ro) . Ti- preto. Miolo em papel-oficio com letras pretas, corpo 10. UustrdÇÕCS
pos em corpo 10. Fotos em tod:ls as maté rias. Cartaz dese nhad o no e m todas as páginas, estilo fi gurativo ou xilogravuras. Tírulos inter-
estilo figurativo. Títulos internos e m corpo ampliado e caixa alta. Dia- nos em corpo ampliado, negrito e caixa alra. Diagramação padroni-
grmnação não padronizada. zada.
Modelo reduzido da ca pa : Reprodução da capa:

Projeto
Tu ~ol o; las
~ l t e '~at l v~ s

CADERNO 1

HISTÓRIAS DA ROÇA

101 lO]
NÚCLEO DISCURSIVO: ONGs NÚCLEO DISCURS IVO: ONGs
5. TíTULO: "Notícias da Geme" nO 10 Texto contraponlO:
FONTE : PATAC - Programa de Aplicação de Técnicas Ada pradas à 6 . TíTULO; "H istó rias da roça"
Comunidade FONTE; PTA - Projcto Tecnologias Alternativas - Centro Josué
l OCAL: Campina Grande - PB de Castro
DATA: 1991 l OCAL: Recife - PE
FORM~TO : Cartaz dobrado e m quatro, formand o folheto, com DATA: Dezembro d e 1991
aproveitamento de todas as faces: capa, contracdpa, du as páginas in- FOKMATO: LiVTcto com 28 páginas . Dimensões : 15 X 19 cm . Da·
te rnas e o verso, com o cartaz. Dime nsões: Aberto - 44 X 62cm; fe- tilografado e reproduzido mecanicamente e gr.tmpeado exte rna·
c hado- 3 1 X 22cm. Papel olfsct , impressão em duas cores (verde e me nte . Capa e contr.tcapa em papel cartão pardo , im pressas e m
preto; a programação da série p revê uma cor para cada núme ro) . Ti- preto. Miolo em papel-oficio com letras pretas, corpo 10. UustrdÇÕCS
pos em corpo 10. Fotos em tod:ls as maté rias. Cartaz dese nhad o no e m todas as páginas, estilo fi gurativo ou xilogravuras. Tírulos inter-
estilo figurativo. Títulos internos e m corpo ampliado e caixa alta. Dia- nos em corpo ampliado, negrito e caixa alra. Diagramação padroni-
grmnação não padronizada. zada.
Modelo reduzido da ca pa : Reprodução da capa:

Projeto
Tu ~ol o; las
~ l t e '~at l v~ s

CADERNO 1

HISTÓRIAS DA ROÇA

101 lO]
In<,slluA~u"jv A recotw",rWu da afba~

Passo a dcscn...'Vcr as condiçócs materiais e institucion:lis de da fé ca ló lica é absoluto . Comprometeu-se, d esde seu início, com a
produção desses impressos, procurando traze r à luz aquelas que a luta pela Reforma Agr.íria e contra a violência no campo, emprestan.
meu ver exercem coerções decisivas sobre os dispositivos de e nuncia- do seu peso institudonal às lUlas atinentes às questões agrárias e tra.
ção, além d e pem1itirem ao le itor um melhor e nte ndimento destes. balhando no se ntido de apoiar a organização e o fortalecimento dos
A numemção corresponder.í :J. atribuída anteriormente grupos populares. É nessa perspectiva que e m muitos estados pas·
sou a apoiar o m ovimento sindical rural, como também a participar
do esforço para criar condições d e sucesso d os assentamentos que
fora m res ultados de lUlas populares.
No Piauí, a CPT, e ntre outras atividades, integra um coletivo de
Im presso 1 o rgan izaçócs que m antém a Escola de Formação Paulo d e Tarso, que
CPT e da. - o discurso da Igreja produzido de um o u tro Lugar se dedica a formar lidemnças d os 1mbalhadorcs. Até os primeiros
As igrejas ocupam lugar discursivo p rivilegiado no cenário ana· a nos desta década, a Escola o bjetivava a formação de lideranças sin-
lisado, pois não precisam construi r sua legitimidade , talvez a mais dicais. Os membros da CPT não só eram professores nos cursos da
garantida e pem1anetUe de todas, porque não é imposta pela lei dos Esco la , como panicipavam d o seu planejam en to e coordenação
homens e sim por lei divin:l. Seu lug:lr central de produtores da pala- (hOje ainda participam , mas co m menos investimento). A linha teóri-
vr:l é inequívoco e reafirmado continuame n te nos textos escritos, ca e ideo ló gica ad otada então erA marcadame nte marxista, repassan-
desde as tábuas d e Moisés. A Igre ja Católica Ro mana está mais pre- do aos alunos e capacitando-os a reprodu zir a análise da sociedad e
sen te que as o u tras, por diversas razões. e ntre as quais o uso mais en- baseada no confronto de interesses de classe, nas relações de produ.
fático d o seu poder discu rsivo, que exerce com razoável e fe ito de ção e na crítica ao capitalismo, procumndo adaptá-Ia às condições
unidade, obtido através de um rígido controle da fa la de seus mem- específicas d o Brasil e d o Piauí.
bros. Q uando este lrabalho estava sendo escrito, a equipe da CPT era
Mas alguns grupos religiosos, ligados o u não à hierarqui:l for.. fomlada por oito pessoas ftxas , mais um número variável de voluntá.
maI , produzem um outro lugar discursivo, não desvincu l:ldo, mas rios. Três delas participaram da elaboração da cartilha, incluindo a
distinto do lugar de orige m . São aqueles que, aliando-se às C:lUsas e diagrd.illado ra, responsável pela produção g ráfica. A C PT não conta
movimentos sociais, passam a configurar um núcleo de produção com especial istas e m comunicação n:l sua equipe e as decisões relati-
discursiva com características p róprias. De certa forma , estes abano vas a esse setor d e atividades são tomadas coletivamente pelos dire-
danam seu lugar privilegiado e incorporam-st; à construção contí· tores e assessores , que formam um secre tariad o. As alianças da CPT
nua d e uma legitimidade baseada no antagonismo ao m odelo social, têm sid o, no Piauí, com o Partid o dos Trabalhadores, a CUT, o MST,
econômico e político dominante, mais próprio das ONGs e dos par· algumas ONGs e com outros núcleos da própria Igreja.
tidos de oposição. Entre esses e ncontrd.ill-se os três co-editores da A Cáritas é um órgão "anexo" da CNfiB (tal como o Conselho
cartilha sobre cooperativismo. Indigenisla Missionário e o MEB - Movimento d e Educação de Base,
A CPT é um dos grupos mais re presentativos dessas comunida- entre outros) , vinculado à "linha 6" , caracterizando-se como um ser-
des discursivas. É considemdo pela Igreja Católica como um organis- viço . Porém, rem vida institucional independente, estando filiada a
m o da CNBB, na categori;l de "relacionado" (estatuto semelhante ao uma rede internacio nal de entidades similares ( 15 5 países). A Cáritas
da Comissão dc Justiça e Paz e da Com issão Pastoral Opcr.íria). O rga- Brasileira existe apenas e m alguns estados , dependendo da aquies-
niza·se e m núcleos regionais o u estaduais e e m um secretariado na- cência dos bispos para se instalar. Criada em 1956, constitui-se como
cional. Cada n úcleo cobre uma ampla área geográfica. A CPT é uma' eOl idade ci\'il com fins filantrópicos . Sua e strutura é de secretariados
entidad e ccumé nica, m as no Nordeste o predomínio d os me mbro:, region ais. articulados por um Secretariad o Nacional. O Piau í abriga a

104 lOS
In<,slluA~u"jv A recotw",rWu da afba~

Passo a dcscn...'Vcr as condiçócs materiais e institucion:lis de da fé ca ló lica é absoluto . Comprometeu-se, d esde seu início, com a
produção desses impressos, procurando traze r à luz aquelas que a luta pela Reforma Agr.íria e contra a violência no campo, emprestan.
meu ver exercem coerções decisivas sobre os dispositivos de e nuncia- do seu peso institudonal às lUlas atinentes às questões agrárias e tra.
ção, além d e pem1itirem ao le itor um melhor e nte ndimento destes. balhando no se ntido de apoiar a organização e o fortalecimento dos
A numemção corresponder.í :J. atribuída anteriormente grupos populares. É nessa perspectiva que e m muitos estados pas·
sou a apoiar o m ovimento sindical rural, como também a participar
do esforço para criar condições d e sucesso d os assentamentos que
fora m res ultados de lUlas populares.
No Piauí, a CPT, e ntre outras atividades, integra um coletivo de
Im presso 1 o rgan izaçócs que m antém a Escola de Formação Paulo d e Tarso, que
CPT e da. - o discurso da Igreja produzido de um o u tro Lugar se dedica a formar lidemnças d os 1mbalhadorcs. Até os primeiros
As igrejas ocupam lugar discursivo p rivilegiado no cenário ana· a nos desta década, a Escola o bjetivava a formação de lideranças sin-
lisado, pois não precisam construi r sua legitimidade , talvez a mais dicais. Os membros da CPT não só eram professores nos cursos da
garantida e pem1anetUe de todas, porque não é imposta pela lei dos Esco la , como panicipavam d o seu planejam en to e coordenação
homens e sim por lei divin:l. Seu lug:lr central de produtores da pala- (hOje ainda participam , mas co m menos investimento). A linha teóri-
vr:l é inequívoco e reafirmado continuame n te nos textos escritos, ca e ideo ló gica ad otada então erA marcadame nte marxista, repassan-
desde as tábuas d e Moisés. A Igre ja Católica Ro mana está mais pre- do aos alunos e capacitando-os a reprodu zir a análise da sociedad e
sen te que as o u tras, por diversas razões. e ntre as quais o uso mais en- baseada no confronto de interesses de classe, nas relações de produ.
fático d o seu poder discu rsivo, que exerce com razoável e fe ito de ção e na crítica ao capitalismo, procumndo adaptá-Ia às condições
unidade, obtido através de um rígido controle da fa la de seus mem- específicas d o Brasil e d o Piauí.
bros. Q uando este lrabalho estava sendo escrito, a equipe da CPT era
Mas alguns grupos religiosos, ligados o u não à hierarqui:l for.. fomlada por oito pessoas ftxas , mais um número variável de voluntá.
maI , produzem um outro lugar discursivo, não desvincu l:ldo, mas rios. Três delas participaram da elaboração da cartilha, incluindo a
distinto do lugar de orige m . São aqueles que, aliando-se às C:lUsas e diagrd.illado ra, responsável pela produção g ráfica. A C PT não conta
movimentos sociais, passam a configurar um núcleo de produção com especial istas e m comunicação n:l sua equipe e as decisões relati-
discursiva com características p róprias. De certa forma , estes abano vas a esse setor d e atividades são tomadas coletivamente pelos dire-
danam seu lugar privilegiado e incorporam-st; à construção contí· tores e assessores , que formam um secre tariad o. As alianças da CPT
nua d e uma legitimidade baseada no antagonismo ao m odelo social, têm sid o, no Piauí, com o Partid o dos Trabalhadores, a CUT, o MST,
econômico e político dominante, mais próprio das ONGs e dos par· algumas ONGs e com outros núcleos da própria Igreja.
tidos de oposição. Entre esses e ncontrd.ill-se os três co-editores da A Cáritas é um órgão "anexo" da CNfiB (tal como o Conselho
cartilha sobre cooperativismo. Indigenisla Missionário e o MEB - Movimento d e Educação de Base,
A CPT é um dos grupos mais re presentativos dessas comunida- entre outros) , vinculado à "linha 6" , caracterizando-se como um ser-
des discursivas. É considemdo pela Igreja Católica como um organis- viço . Porém, rem vida institucional independente, estando filiada a
m o da CNBB, na categori;l de "relacionado" (estatuto semelhante ao uma rede internacio nal de entidades similares ( 15 5 países). A Cáritas
da Comissão dc Justiça e Paz e da Com issão Pastoral Opcr.íria). O rga- Brasileira existe apenas e m alguns estados , dependendo da aquies-
niza·se e m núcleos regionais o u estaduais e e m um secretariado na- cência dos bispos para se instalar. Criada em 1956, constitui-se como
cional. Cada n úcleo cobre uma ampla área geográfica. A CPT é uma' eOl idade ci\'il com fins filantrópicos . Sua e strutura é de secretariados
entidad e ccumé nica, m as no Nordeste o predomínio d os me mbro:, region ais. articulados por um Secretariad o Nacional. O Piau í abriga a

104 lOS
sede de um regio nal , que conta com uma equipe de 10 pesso as , que paradigmas que se constituem há 2.000 anos. Mas também n:lO se
desenvo lvem um trabalho de financ ia mento e acompanhame nto a p<Xle esquecer que a Igreja Católica no Norde ste te m uma u-ddição
pequenos "projetos a herna(ivos ~.57 alé m de algumas atividades dc de sai r à frente nos movimentos sociais que visam (ou visaram) à
fo rmação política e, recentemenle, fo rmação pard o associativismo. transformação estru tural. O MEB e o SAR- Serviço de Assistênci a Ru-
Como a poio às suas atividades , utiliza impressos como folhetos, car - ra l - são bons exemplos disso, assim como o fone invcstime;:nto na
tilhas e pequenos jo rnais, tanto de sua produção como de terceiros. criação de sindicatos rurais. Em Pe rnambuco, sob o manto pluralista
Dois me mbros da Cáritas participaram da elabora\'ão da canilha. As e huma nista d e d . Hdder Câmara, proliferaram as iniciativas de fo-
decisões relativas à comunicação da instituição são to madas pelo seu mento e assessoria ao movime nto d e organização dos trab:tlhadores
secreta/iado, formado por diretores e assessores . rurais , como a ACR - Animação Cristã no Meio RuraL A Ig reja tam-
O CEFAS é uma pequena organização vinculada à Diocese de bém fo i a marriz de inúmems ONGs, principalme nte em Pernambu-
Oeiras-Flo riano (PI) , constituída para a te nder às necessidades de as- co, Paraíba, Rio Grande do Non e e Ceará, o nde os ocupantes da
sistência técnica e fonnação agropecuária das populações rurais do hier.lrquia eram fa voráveis a mudanças.
Piauí e Ma ranhão que ma ntêm algum tipo d e víncu lo com a Igreja Com a nova con juntura inte rnacional e nacional, que atingiu e
Católica. Trdbalha na linha da "agricu ltu ra alte rnat iva", oferecendo desmobilizou os movimentos populares , principalmente o sindical
cursos de roça comunir;iria, avicultura, c riaç;i.o de cabras, a limenta- rur.tI, que dcscstabilizou as organizações d e assessoria a esses movi-
ção alternati va etc .. incluindo nesse elenco, m ais recenleme nte , O me ntos e pôs e m ccna soluçõcs sociais típicas do neo libcralismo, a
cooperativismo . Sua equipe era, na<lue le mome nto , formada por C PT e suas associadas tentam se ressi ruar. Estão deslocando a a tc n-
oito pessoas e, ui como as anteriores, cedeu du as delas para partic i- ção' prioritária para o coope r.ttivismo, que aparece como solução
parem da e laboração da cartilha. Também com o na CPT e na Cáritas, para os problem as que o sindicalismo não atende, os d a e sfe ra eco-.
as decisões sobre a comunicação competem à direção e as atividades nôm ica, que a tingem diretamente a possibilidade de sobrevivência.
costumam e nvolver a produção de apostilas, c arti lhas e outros im-
pressos simples. lmpresso 2
A maio r pane dos recursos dessas comunidades discursivas CNBB. O d iscurso da hicr.trqula pelo viés de um pai
vem d a coopernção de organizações católicas ou evangélicas, quase A CNBB, como se s abe , é a instância de congregaç ão d os bis·
sempre de o utros países. pos ç ató licos bras ileiros. Seu d iscurso é , pois, O da hierarquia cató-
As relações desses núcleos religiosos progressistas com a hie- lica, no plano nacio nal. Mas essa hicmrquia não é um bloco
rarquia da Ig reja nem se mpre foram fáceis , flutu ando ao sabor d a homoge neo e uníssono : há bispos conservadores, moderados. p ro-
corrente d o minante, o ra mais à esque rda, ora mais à direita. Discur- gressistas, bispos que e ndOSSam as diretrizes de Roma e o utros que
s ivame nte , tendem a se aproximar mais de um modelo humanista priorizam o com p romisso com as lutas e m ovimem os populares.
cristão d e esquerda do que da d o utrina social católica, de ca r:iter Daí ser impossível fa lar em "um discurso da CN BB\ variando este
mais conservador, muito embora não se ja possívd estabelecer uma em função da o rientação particular de c ada seção reg ional c da li-
d e marcação rígida ent.re um e outro. Não se pode esquecer que os be rdade que os d irigentes concedem à palavra daqueles quc lhes
me mbros desses núcleos e m sua m aioria são padres, freiras ou religio- estão s ubo rdinad os.
sos leigos, que trazem e m sua formação toda a carga dos mode los e O Regional Nordeste 11 tem sua sede em Recife e compreende
os estados d e Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Hio Grande d o Norte.
Em 1982, estava em mãos frAn camente pro gressis tas e a Secretaria
57 Os Projetos A1tc rnativos foram uma iniçlatlw. do Regio nal NE li da CN88. no Executiva estava a cargo de um ex-padre com uma lo nga histó ria jun-
COntCXIO da necessidade de convivência con. a realid ad e d;u~, poste riur·
mentC tendo.se expand ldo:l OU ltOS regionais. Cons isu::m no financiamento a
tO aos camponeses, tendo participado ativamente da fundação de
fundo perd ido dI.' pequc nos projetos comu n iciri05. sindicalOs e cooperativas d e trabalhadores rurais, com OS quais de-

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sede de um regio nal , que conta com uma equipe de 10 pesso as , que paradigmas que se constituem há 2.000 anos. Mas também n:lO se
desenvo lvem um trabalho de financ ia mento e acompanhame nto a p<Xle esquecer que a Igreja Católica no Norde ste te m uma u-ddição
pequenos "projetos a herna(ivos ~.57 alé m de algumas atividades dc de sai r à frente nos movimentos sociais que visam (ou visaram) à
fo rmação política e, recentemenle, fo rmação pard o associativismo. transformação estru tural. O MEB e o SAR- Serviço de Assistênci a Ru-
Como a poio às suas atividades , utiliza impressos como folhetos, car - ra l - são bons exemplos disso, assim como o fone invcstime;:nto na
tilhas e pequenos jo rnais, tanto de sua produção como de terceiros. criação de sindicatos rurais. Em Pe rnambuco, sob o manto pluralista
Dois me mbros da Cáritas participaram da elabora\'ão da canilha. As e huma nista d e d . Hdder Câmara, proliferaram as iniciativas de fo-
decisões relativas à comunicação da instituição são to madas pelo seu mento e assessoria ao movime nto d e organização dos trab:tlhadores
secreta/iado, formado por diretores e assessores . rurais , como a ACR - Animação Cristã no Meio RuraL A Ig reja tam-
O CEFAS é uma pequena organização vinculada à Diocese de bém fo i a marriz de inúmems ONGs, principalme nte em Pernambu-
Oeiras-Flo riano (PI) , constituída para a te nder às necessidades de as- co, Paraíba, Rio Grande do Non e e Ceará, o nde os ocupantes da
sistência técnica e fonnação agropecuária das populações rurais do hier.lrquia eram fa voráveis a mudanças.
Piauí e Ma ranhão que ma ntêm algum tipo d e víncu lo com a Igreja Com a nova con juntura inte rnacional e nacional, que atingiu e
Católica. Trdbalha na linha da "agricu ltu ra alte rnat iva", oferecendo desmobilizou os movimentos populares , principalmente o sindical
cursos de roça comunir;iria, avicultura, c riaç;i.o de cabras, a limenta- rur.tI, que dcscstabilizou as organizações d e assessoria a esses movi-
ção alternati va etc .. incluindo nesse elenco, m ais recenleme nte , O me ntos e pôs e m ccna soluçõcs sociais típicas do neo libcralismo, a
cooperativismo . Sua equipe era, na<lue le mome nto , formada por C PT e suas associadas tentam se ressi ruar. Estão deslocando a a tc n-
oito pessoas e, ui como as anteriores, cedeu du as delas para partic i- ção' prioritária para o coope r.ttivismo, que aparece como solução
parem da e laboração da cartilha. Também com o na CPT e na Cáritas, para os problem as que o sindicalismo não atende, os d a e sfe ra eco-.
as decisões sobre a comunicação competem à direção e as atividades nôm ica, que a tingem diretamente a possibilidade de sobrevivência.
costumam e nvolver a produção de apostilas, c arti lhas e outros im-
pressos simples. lmpresso 2
A maio r pane dos recursos dessas comunidades discursivas CNBB. O d iscurso da hicr.trqula pelo viés de um pai
vem d a coopernção de organizações católicas ou evangélicas, quase A CNBB, como se s abe , é a instância de congregaç ão d os bis·
sempre de o utros países. pos ç ató licos bras ileiros. Seu d iscurso é , pois, O da hierarquia cató-
As relações desses núcleos religiosos progressistas com a hie- lica, no plano nacio nal. Mas essa hicmrquia não é um bloco
rarquia da Ig reja nem se mpre foram fáceis , flutu ando ao sabor d a homoge neo e uníssono : há bispos conservadores, moderados. p ro-
corrente d o minante, o ra mais à esque rda, ora mais à direita. Discur- gressistas, bispos que e ndOSSam as diretrizes de Roma e o utros que
s ivame nte , tendem a se aproximar mais de um modelo humanista priorizam o com p romisso com as lutas e m ovimem os populares.
cristão d e esquerda do que da d o utrina social católica, de ca r:iter Daí ser impossível fa lar em "um discurso da CN BB\ variando este
mais conservador, muito embora não se ja possívd estabelecer uma em função da o rientação particular de c ada seção reg ional c da li-
d e marcação rígida ent.re um e outro. Não se pode esquecer que os be rdade que os d irigentes concedem à palavra daqueles quc lhes
me mbros desses núcleos e m sua m aioria são padres, freiras ou religio- estão s ubo rdinad os.
sos leigos, que trazem e m sua formação toda a carga dos mode los e O Regional Nordeste 11 tem sua sede em Recife e compreende
os estados d e Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Hio Grande d o Norte.
Em 1982, estava em mãos frAn camente pro gressis tas e a Secretaria
57 Os Projetos A1tc rnativos foram uma iniçlatlw. do Regio nal NE li da CN88. no Executiva estava a cargo de um ex-padre com uma lo nga histó ria jun-
COntCXIO da necessidade de convivência con. a realid ad e d;u~, poste riur·
mentC tendo.se expand ldo:l OU ltOS regionais. Cons isu::m no financiamento a
tO aos camponeses, tendo participado ativamente da fundação de
fundo perd ido dI.' pequc nos projetos comu n iciri05. sindicalOs e cooperativas d e trabalhadores rurais, com OS quais de-

206
senvolvia uma relação paternal, mas que não desvinculava absoluta· um técnico responsável pela comunicação institucional, que está
mente essa atividade do objetivo de evangelização o u aJimento da fé mais próxima da linha de publicização dos atos governamentais , não
cristã. Essa secretaria coordenava as iniciativas de co municação do tcndo participado da e laboração da cartilha) . Sua distribu ição foi fei-
Regional. ta, no meio rural , através da cooper.ttiva, d o sindicato e em reuniões
Naquele ano, oitavo de uma seca que produzia conseqüências da Secretaria de Agricultura com as comunidades.
trágicas para a população, a CNBB - Regionais do NE realizou um Se·
minário , par.t discutir a posição da Igreja fre nte à situação. O Regio- Impresso 4
nal [( produziu então o livro e m questão, com O objetivo explícito de Intelecluais orgânicos sob o pauocínio do Estado
levar à população rural as discU!'isões e decisões do Seminário. Utili· No período de 1987 a 199 1, TarcÍ5io Buriti, d o PMDB, gover-
zou o esquema habirual de editoração, que consistia e m valer-se do nou a Paraíba. Ele expressava a intenção d e orientar sua administra·
trabalho de edição do Sedipo - Serviço de Educação e lnfornlação ção pela demanda identificada através de um processo de consu lta à
Popular, órgão do Regional, e entregar a redação ao próprio secretá· população, que foi denominado "Plano do PovO~.S8 Trazia assim,
rio executivo. auxiliado por uma assist'e nte. AJguns desenhos foram pard O Estado , alguns postulados próprios das esquerdas e muitos
aproveitados de a ntigas p ublicações; outros , tr.tçados rusticamente imelectuais que se sentiam comprometidos com os imeresses popu-
pelos n::d:t1ores. lares aderiram ao seu projeto .
O discurso analisado traz as marcas daquele período e circuns· Nessa époça, a Assocene -órgão do siste ma cooper-.Itivista - se-
tâncias, que não podem ser tra.nsferidas para os dias e disO,usos atuais, guia uma orientação própria da educação popu lar e , entre outras ati·
c ujo COntextO é absolutamente distinto. vidades, oferecia um c u rso de " Formas econômicas e políticas de
cooperação/participação no Nordeste". 59 O coordenador do curso
era t:ambém assessor do IDEME - Imaituto de Dcsenvolvimemo Mu-
Ntidoo diSCllrsllltJ: Es/ml"
nicipal e Estadual , órgão do Gabinete de Planejamento e Ação Go-
vernamental do Governo da Paraíba, que pat.rocinou o curso para
Impresso 3 diversos técnicos seus.
PI\W : o discurso da oposição que virou governo Três desses tr.tvaram cOntalO, por meio das atividades do Plano
O PSB - Partido Socialista Brasileiro - assumiu e m 1993 a prefei- do 1'0\'0, com um grupo de 25 famílias de agricultOres d e Pereiros,
rura de Afogados da Ingazeir:.t, pequena cidade do sertão pernambu- um sítio localizado no sertão paraibano. Desejosos d e pôr em prática
cano, que tem importância cons iderável no cenário político da o aprendido no curso e estimulados pelo seu coordenador, fizeram
região e que a té então registrava uma história de prevalência dos par- um trabalho de levantame nto da história do processo de organiza-
tidos conservad ores. O 1)58, como se sabe, ocupou mais freqüente· ção do grupo, sob a perspectiva da cooperação. Publicado em livro,
mente o lugar de oposição do que dt! governo, prod uzindo um definiu·se como "contribuição pa.ra a avaliação do povo", mas objeti·
discurso identificado com as esquerdas . No momento da redação vou tomar pública a "experiência que merece ser divulgada e conhe-
H

deste, detinha o governo do Estado e Afogados era um dos lugares cida por outros u-:lbalhadores •

consider.tdos "menina dos o lhos" do governador, Miguel Arraes,


sendo palco dt! investime ntos dos programas governamentais de de-
senvolvimento. 58 Fo ram cdit."d:a.s virias publiclI"''Õe5 dc:nominadu KPI:mo do Povo - Reivindica·
ç~s Comunit:irl:i5 - 1987·1991 ~, um p:u a cada micrOITt:gião administntlva. M
O folheto analisado foi uma produção conjunla das Secretarias boas lnte: nçôcJ não tlvt:r.ulI vida lo nga e o plano foi :iOS pouCO!! desativ-.ldo.
de Agricultura e de Ação Social. O texto foi elabor.tdo pelos próprios
59 O grupo que miniStra\~ o cuno posterionn e:nte sa iu d3 Assoa:ne: e: l'undou
secretá rios e ilustrado por um funcionário (a prefeitura dispõe de um3 ONG. onde aprofundou a tinha de: aÇjode: possibi litar i popul3ç;\o OIn3is
e formas d e: O'presli. io.

20.
senvolvia uma relação paternal, mas que não desvinculava absoluta· um técnico responsável pela comunicação institucional, que está
mente essa atividade do objetivo de evangelização o u aJimento da fé mais próxima da linha de publicização dos atos governamentais , não
cristã. Essa secretaria coordenava as iniciativas de co municação do tcndo participado da e laboração da cartilha) . Sua distribu ição foi fei-
Regional. ta, no meio rural , através da cooper.ttiva, d o sindicato e em reuniões
Naquele ano, oitavo de uma seca que produzia conseqüências da Secretaria de Agricultura com as comunidades.
trágicas para a população, a CNBB - Regionais do NE realizou um Se·
minário , par.t discutir a posição da Igreja fre nte à situação. O Regio- Impresso 4
nal [( produziu então o livro e m questão, com O objetivo explícito de Intelecluais orgânicos sob o pauocínio do Estado
levar à população rural as discU!'isões e decisões do Seminário. Utili· No período de 1987 a 199 1, TarcÍ5io Buriti, d o PMDB, gover-
zou o esquema habirual de editoração, que consistia e m valer-se do nou a Paraíba. Ele expressava a intenção d e orientar sua administra·
trabalho de edição do Sedipo - Serviço de Educação e lnfornlação ção pela demanda identificada através de um processo de consu lta à
Popular, órgão do Regional, e entregar a redação ao próprio secretá· população, que foi denominado "Plano do PovO~.S8 Trazia assim,
rio executivo. auxiliado por uma assist'e nte. AJguns desenhos foram pard O Estado , alguns postulados próprios das esquerdas e muitos
aproveitados de a ntigas p ublicações; outros , tr.tçados rusticamente imelectuais que se sentiam comprometidos com os imeresses popu-
pelos n::d:t1ores. lares aderiram ao seu projeto .
O discurso analisado traz as marcas daquele período e circuns· Nessa époça, a Assocene -órgão do siste ma cooper-.Itivista - se-
tâncias, que não podem ser tra.nsferidas para os dias e disO,usos atuais, guia uma orientação própria da educação popu lar e , entre outras ati·
c ujo COntextO é absolutamente distinto. vidades, oferecia um c u rso de " Formas econômicas e políticas de
cooperação/participação no Nordeste". 59 O coordenador do curso
era t:ambém assessor do IDEME - Imaituto de Dcsenvolvimemo Mu-
Ntidoo diSCllrsllltJ: Es/ml"
nicipal e Estadual , órgão do Gabinete de Planejamento e Ação Go-
vernamental do Governo da Paraíba, que pat.rocinou o curso para
Impresso 3 diversos técnicos seus.
PI\W : o discurso da oposição que virou governo Três desses tr.tvaram cOntalO, por meio das atividades do Plano
O PSB - Partido Socialista Brasileiro - assumiu e m 1993 a prefei- do 1'0\'0, com um grupo de 25 famílias de agricultOres d e Pereiros,
rura de Afogados da Ingazeir:.t, pequena cidade do sertão pernambu- um sítio localizado no sertão paraibano. Desejosos d e pôr em prática
cano, que tem importância cons iderável no cenário político da o aprendido no curso e estimulados pelo seu coordenador, fizeram
região e que a té então registrava uma história de prevalência dos par- um trabalho de levantame nto da história do processo de organiza-
tidos conservad ores. O 1)58, como se sabe, ocupou mais freqüente· ção do grupo, sob a perspectiva da cooperação. Publicado em livro,
mente o lugar de oposição do que dt! governo, prod uzindo um definiu·se como "contribuição pa.ra a avaliação do povo", mas objeti·
discurso identificado com as esquerdas . No momento da redação vou tomar pública a "experiência que merece ser divulgada e conhe-
H

deste, detinha o governo do Estado e Afogados era um dos lugares cida por outros u-:lbalhadores •

consider.tdos "menina dos o lhos" do governador, Miguel Arraes,


sendo palco dt! investime ntos dos programas governamentais de de-
senvolvimento. 58 Fo ram cdit."d:a.s virias publiclI"''Õe5 dc:nominadu KPI:mo do Povo - Reivindica·
ç~s Comunit:irl:i5 - 1987·1991 ~, um p:u a cada micrOITt:gião administntlva. M
O folheto analisado foi uma produção conjunla das Secretarias boas lnte: nçôcJ não tlvt:r.ulI vida lo nga e o plano foi :iOS pouCO!! desativ-.ldo.
de Agricultura e de Ação Social. O texto foi elabor.tdo pelos próprios
59 O grupo que miniStra\~ o cuno posterionn e:nte sa iu d3 Assoa:ne: e: l'undou
secretá rios e ilustrado por um funcionário (a prefeitura dispõe de um3 ONG. onde aprofundou a tinha de: aÇjode: possibi litar i popul3ç;\o OIn3is
e formas d e: O'presli. io.

20.
A ~11.'t'r'S<fo do olhar

Núcleo discursivo: ONGs jetivo era fortalecer a o~ção e a cooperação solidária em tomo das
atividades propostaS.60
O periódico era pautado e p roduzido pe los técnicos especiali·
Lmpresso 5 zados, m as toda a e quipe d e e ducadores partic ipava, le vant'J.ndo
PATAC -A missão de fuzer crer na força do comunitário com os campo neses interessados os remas, colhe ndo os depoimen.
A comunidade d iscu rsiva que produz oNol ícias da Ge" te - o tOS e faze ndo as entrevistas. A c irculação e ra interna aos sítios c as·
PATAC - é uma ONG bastante antiga - 25 a nos - e com uma histó- sentame ntos q ue recebiam o rie ntação direta do PATAC.
r ia de p io neiris mos n a prática d e intervenção n o meio ru ra l. Foi Em 1990, a o rganização começou a passar por uma fJ.SC de tran·
quem p rimeiro introduziu no Brasil a d ifu são de tecnologias sição, le ndo se desligado da congregação redentorista e se constituí·
adaptadas à condição soc ioeco nômica da popu lação ca mponesa e do fo nnaJmenre como ONG, e m bora de fa ro já o fosse de lo nga data.
d as periferias das cid ades e saiu na fren te na adoção dos princípios Seus recursos vêm da cooperação inte rnacional e , com O escassea·
ecológicos de agric ultura. f o i pioneira também no questionamen- me nta destes, o jo maJ passou a sair com dificuldades, tendo dimi nuí·
to dos processos e estratégias comunicat ivas e n a definição e im- d o aos poucos s ua freqü ê nc ia , no iníciO trimestral ; mas a estrutura
pla ntação de uma política de comunicação . Nesses dois temas - de produção e circulação, até a data de pubUcação do numero anali·
tecnolo gia apropriada e comun icação - tornou-se ponto de refe- sado, ainda e ra a o riginal.
rê ncia para organizações de todo o Nordeste e m esm o de o utras Há mais um dado sobre o PATAC que é relevante para a análise
regiões. discursiva: a ONG sempre fo i palco de uma exacerbada e pemlanen -
Mas as causas dessa característica não devem ser buscadas numa te negociação de sentidos. Embora seja possível identificar nos seus
esh1..lturn ins titucio nal, o u numa funura de recursos, nem no dinamis- discursos a prevalê ncia deste o u daquele agente, tal jogo produziu
mo o u qualificação de um eventual q uadro d e profissionais e s im es- u ma espécie d e inde finição cronica sobre sua prupria identidade,
sencialmente na figura do seu fundado r e coordenador por mais de 20 que se refl ete constante mente sobre o modo de relação com os cam -
anos, um religioso da Congregação Rede ntorist l Nordestina. Os reden- poneses. Tal s ituação não se re pete no PTA, comunidade discursiva
to ristaS são o riginários da lio landa e dedicaram·se priorit'.uiamente a escolhida como contrnponto do PATAC.
tarefas missio nárias. As "missõcs" são eventOS progrnmados em que
um dos membros da congregação vai a um de t'e nninado local (pO\"Oa. Impresso 6
d o, sítio e lc.) e ali passa alguns dias cumprindo tarefas religiosas, PTA - A lecno!ogm redenlora peJas máos iluminadas dos técnicos
como pregar, batizar, casar e o u traS. Modemamenle, o conceito ex· No in ício da d écada d e 80, com a volta dos exilados politicos,
pandiu-se para serviços diversos prestados à socie d:lde , se mpr~ que ho uve um boom de fundação de ONGs, muitas objetivando a inter·
se considerava que havia aJguma carência a sanar. Nessa perspectiva, venção no m eio rural e , com o bem come nta Manins (s/i), julgando
surgiu o PATAC, como um serviço missionário p ropoStO por um ir· sua análise e ação im prescindíveis às mudanças da socie dade, sem se
mão com espírito de pesquiSador e identificado com os proble m as ruo d ar conta d e o qua nto esta havia avançado na década anterio r, por
rais. su as próprias pernas. Típico d essa época foi o IYfA - Projeto Tecno-
A partir de 1986, o PATAC passou a re r nos seus quadros, pcrnla· logias Alte rnativas, que se constituiu em forma de uma red e de pe·
ne ntcmente , profissionais d a área de comunicação, que experiment'd. que nas equi pes locais, abrigada sob o m anto de alguma instituição.
varo fonnatos d e impressos mais adequados à cu ltura camponesa,
como os cale ndários, almanaques e o jo rnaJ Notícias da Genre, este se
propondo a ser simu ltaneamente jornal comunitário e cartaZ e rujo 01>- 60 Os outros impR:SS05 ti nham objetivos di.o;tinlOS, n-mr:mdo fogo no ensin ... men·
10 de tttniClS c...pecineu (can il h:lS) , ou trnbalh ando a tecnologi~ no con(~o
da vida f3miliu c do conju n w de interesses dos agricu ltores (alman aques), ou
liC:n.~ibilizando pal";l a adOÇio d:l tecnologia proposla.

210
",
A ~11.'t'r'S<fo do olhar

Núcleo discursivo: ONGs jetivo era fortalecer a o~ção e a cooperação solidária em tomo das
atividades propostaS.60
O periódico era pautado e p roduzido pe los técnicos especiali·
Lmpresso 5 zados, m as toda a e quipe d e e ducadores partic ipava, le vant'J.ndo
PATAC -A missão de fuzer crer na força do comunitário com os campo neses interessados os remas, colhe ndo os depoimen.
A comunidade d iscu rsiva que produz oNol ícias da Ge" te - o tOS e faze ndo as entrevistas. A c irculação e ra interna aos sítios c as·
PATAC - é uma ONG bastante antiga - 25 a nos - e com uma histó- sentame ntos q ue recebiam o rie ntação direta do PATAC.
r ia de p io neiris mos n a prática d e intervenção n o meio ru ra l. Foi Em 1990, a o rganização começou a passar por uma fJ.SC de tran·
quem p rimeiro introduziu no Brasil a d ifu são de tecnologias sição, le ndo se desligado da congregação redentorista e se constituí·
adaptadas à condição soc ioeco nômica da popu lação ca mponesa e do fo nnaJmenre como ONG, e m bora de fa ro já o fosse de lo nga data.
d as periferias das cid ades e saiu na fren te na adoção dos princípios Seus recursos vêm da cooperação inte rnacional e , com O escassea·
ecológicos de agric ultura. f o i pioneira também no questionamen- me nta destes, o jo maJ passou a sair com dificuldades, tendo dimi nuí·
to dos processos e estratégias comunicat ivas e n a definição e im- d o aos poucos s ua freqü ê nc ia , no iníciO trimestral ; mas a estrutura
pla ntação de uma política de comunicação . Nesses dois temas - de produção e circulação, até a data de pubUcação do numero anali·
tecnolo gia apropriada e comun icação - tornou-se ponto de refe- sado, ainda e ra a o riginal.
rê ncia para organizações de todo o Nordeste e m esm o de o utras Há mais um dado sobre o PATAC que é relevante para a análise
regiões. discursiva: a ONG sempre fo i palco de uma exacerbada e pemlanen -
Mas as causas dessa característica não devem ser buscadas numa te negociação de sentidos. Embora seja possível identificar nos seus
esh1..lturn ins titucio nal, o u numa funura de recursos, nem no dinamis- discursos a prevalê ncia deste o u daquele agente, tal jogo produziu
mo o u qualificação de um eventual q uadro d e profissionais e s im es- u ma espécie d e inde finição cronica sobre sua prupria identidade,
sencialmente na figura do seu fundado r e coordenador por mais de 20 que se refl ete constante mente sobre o modo de relação com os cam -
anos, um religioso da Congregação Rede ntorist l Nordestina. Os reden- poneses. Tal s ituação não se re pete no PTA, comunidade discursiva
to ristaS são o riginários da lio landa e dedicaram·se priorit'.uiamente a escolhida como contrnponto do PATAC.
tarefas missio nárias. As "missõcs" são eventOS progrnmados em que
um dos membros da congregação vai a um de t'e nninado local (pO\"Oa. Impresso 6
d o, sítio e lc.) e ali passa alguns dias cumprindo tarefas religiosas, PTA - A lecno!ogm redenlora peJas máos iluminadas dos técnicos
como pregar, batizar, casar e o u traS. Modemamenle, o conceito ex· No in ício da d écada d e 80, com a volta dos exilados politicos,
pandiu-se para serviços diversos prestados à socie d:lde , se mpr~ que ho uve um boom de fundação de ONGs, muitas objetivando a inter·
se considerava que havia aJguma carência a sanar. Nessa perspectiva, venção no m eio rural e , com o bem come nta Manins (s/i), julgando
surgiu o PATAC, como um serviço missionário p ropoStO por um ir· sua análise e ação im prescindíveis às mudanças da socie dade, sem se
mão com espírito de pesquiSador e identificado com os proble m as ruo d ar conta d e o qua nto esta havia avançado na década anterio r, por
rais. su as próprias pernas. Típico d essa época foi o IYfA - Projeto Tecno-
A partir de 1986, o PATAC passou a re r nos seus quadros, pcrnla· logias Alte rnativas, que se constituiu em forma de uma red e de pe·
ne ntcmente , profissionais d a área de comunicação, que experiment'd. que nas equi pes locais, abrigada sob o m anto de alguma instituição.
varo fonnatos d e impressos mais adequados à cu ltura camponesa,
como os cale ndários, almanaques e o jo rnaJ Notícias da Genre, este se
propondo a ser simu ltaneamente jornal comunitário e cartaZ e rujo 01>- 60 Os outros impR:SS05 ti nham objetivos di.o;tinlOS, n-mr:mdo fogo no ensin ... men·
10 de tttniClS c...pecineu (can il h:lS) , ou trnbalh ando a tecnologi~ no con(~o
da vida f3miliu c do conju n w de interesses dos agricu ltores (alman aques), ou
liC:n.~ibilizando pal";l a adOÇio d:l tecnologia proposla.

210
",
I " ..slla Armljo

Em Recife, a organização que o acolheu foi o Centro Josué de Castro, 3. Relações de concorrência:
uma ONG dedicada prioritariamente a estudos e pesquisas sociais. O Formas de silêncio e s ilenciamento.
PTA, no entantO, gozava de grande amonomia, por não depender fi· Concorrências e alianças explicitas.
nanceiramente dOjosué de Castro e sim de sua matriz, no Rio deJa.
neiro. Na prátit.-a de análise, estes e lemeOlOs se c ..uzam e se relacio-
OPTA dedicou·se à difusão de tecnologias alternativas, e mbo· nam . Por isso, são apenas indicativos de um campo de poSSibilidades
ra tivesse por princípio o resgate de técnicas ancestrais de culth'o e de um ins trumental analítico a ser aplicado, o que necessa..iamen-
que ai nda marcavam a memória camponesa. Um outro prindpio te nlio ocorre de rorma seqüencial e companimentada. É sempre
era a aniculação com outras e ntidades com propósitos semelhan- imponante lembrar que o método proposto por Yel'Ón su põe uma
tes. Como proposta politica , objetivava um novo modelo agrícola , [ran.wersalidade de construção do sentido entre as várias instâncias
enquanto fazia a crítica ao modelo modernizante e à "revolução constitutivas do texto, e que e le (; completado pejo princípio banhe-
verde" . siano de disseminação do sentido, sem amarras rormais e locais.
Investiu bastante na produção de impressos e de vídeos, como Para apresentação dos resultados da análise adorarei uma OUtr.t
apoio à difusão. Em seus quadros, mantinha um profissional de co· classificação, que considera a transversalidade e a disseminação do
municação e contratava outros para eventuais serviços, prinCipalmen· sentido e que está relacionada diretamente com as hi póteses que eu
te os de produção gráfica. O livrelO analisado foi produzido e circulou buscava verificar:
quando o núcleo do PTA já se preparJ.V'd para constituir-se como ONG • a construção do emissor (eu), do destinatário (tu) e de suas
independente, a exemplo dos demais núcleos da antiga rede . relações;
• as relações de concorrência emre rormações discursivas e
cnt..e discursos;
Allálise comparativa
• a construção do conce ito de "comunidade",
Simplificando a designaç::to, chamarei de Cooperativismo a carti-
A anáJise foi direcio nada no se ntido de cobrir as seguintes pos- lha da CPT e associados; Programa o rolheto da prereitura de Afoga.
sibilidades: dos da Ingazeirn; Notfdas o periódico do PATACô Terra PromeUda
I . AspectOS fonnais: o livro da CNBB; Perefros o livro do governo paraibano e Histórias o
gênero, apresentação gráfica, diagramação, ilustra· livreto do PTA.
ções e capa.
2 . COntextos: A - A construção da imagem do emissor: o eu
/lItertextllal. Heterogeneidade constitutiva. Cruzam en- Todos os textos analisados construíram a imagem d e um emis-
todas ronnaçõcs discursivas. Códigos culturais e simi- sor rone, onipresente e diretivo. Mas, como seria previsível, por
cos (palavras plenas) . meio de estrntégias diferenciadas .
Cotextual. Helerogeneidade mostrada. Sujeitos. Ope-
r:IÇõeS enunciativas (palavras instrumentais) .
A I greju e a trtlllgem tIo emflS$or
Situaci01lal. Cena social x cena discursiva. Estratégias de
construção das imagens de emissor e receptor. Disposi·
ti ....os de mod:t1iz:lção da enundação e do enunciado. Cooperativismo não procura escamotear sua existência e papel
E:xlstCllcial. DispositiVOS temporais, referenciais e as- direrenciado em relação :10 destinat:í.rio, o que a meu ver é um traço
pcctuais. , marcante e constante em todos os discursos produzidos pela Igreja

'" 213
I " ..slla Armljo

Em Recife, a organização que o acolheu foi o Centro Josué de Castro, 3. Relações de concorrência:
uma ONG dedicada prioritariamente a estudos e pesquisas sociais. O Formas de silêncio e s ilenciamento.
PTA, no entantO, gozava de grande amonomia, por não depender fi· Concorrências e alianças explicitas.
nanceiramente dOjosué de Castro e sim de sua matriz, no Rio deJa.
neiro. Na prátit.-a de análise, estes e lemeOlOs se c ..uzam e se relacio-
OPTA dedicou·se à difusão de tecnologias alternativas, e mbo· nam . Por isso, são apenas indicativos de um campo de poSSibilidades
ra tivesse por princípio o resgate de técnicas ancestrais de culth'o e de um ins trumental analítico a ser aplicado, o que necessa..iamen-
que ai nda marcavam a memória camponesa. Um outro prindpio te nlio ocorre de rorma seqüencial e companimentada. É sempre
era a aniculação com outras e ntidades com propósitos semelhan- imponante lembrar que o método proposto por Yel'Ón su põe uma
tes. Como proposta politica , objetivava um novo modelo agrícola , [ran.wersalidade de construção do sentido entre as várias instâncias
enquanto fazia a crítica ao modelo modernizante e à "revolução constitutivas do texto, e que e le (; completado pejo princípio banhe-
verde" . siano de disseminação do sentido, sem amarras rormais e locais.
Investiu bastante na produção de impressos e de vídeos, como Para apresentação dos resultados da análise adorarei uma OUtr.t
apoio à difusão. Em seus quadros, mantinha um profissional de co· classificação, que considera a transversalidade e a disseminação do
municação e contratava outros para eventuais serviços, prinCipalmen· sentido e que está relacionada diretamente com as hi póteses que eu
te os de produção gráfica. O livrelO analisado foi produzido e circulou buscava verificar:
quando o núcleo do PTA já se preparJ.V'd para constituir-se como ONG • a construção do emissor (eu), do destinatário (tu) e de suas
independente, a exemplo dos demais núcleos da antiga rede . relações;
• as relações de concorrência emre rormações discursivas e
cnt..e discursos;
Allálise comparativa
• a construção do conce ito de "comunidade",
Simplificando a designaç::to, chamarei de Cooperativismo a carti-
A anáJise foi direcio nada no se ntido de cobrir as seguintes pos- lha da CPT e associados; Programa o rolheto da prereitura de Afoga.
sibilidades: dos da Ingazeirn; Notfdas o periódico do PATACô Terra PromeUda
I . AspectOS fonnais: o livro da CNBB; Perefros o livro do governo paraibano e Histórias o
gênero, apresentação gráfica, diagramação, ilustra· livreto do PTA.
ções e capa.
2 . COntextos: A - A construção da imagem do emissor: o eu
/lItertextllal. Heterogeneidade constitutiva. Cruzam en- Todos os textos analisados construíram a imagem d e um emis-
todas ronnaçõcs discursivas. Códigos culturais e simi- sor rone, onipresente e diretivo. Mas, como seria previsível, por
cos (palavras plenas) . meio de estrntégias diferenciadas .
Cotextual. Helerogeneidade mostrada. Sujeitos. Ope-
r:IÇõeS enunciativas (palavras instrumentais) .
A I greju e a trtlllgem tIo emflS$or
Situaci01lal. Cena social x cena discursiva. Estratégias de
construção das imagens de emissor e receptor. Disposi·
ti ....os de mod:t1iz:lção da enundação e do enunciado. Cooperativismo não procura escamotear sua existência e papel
E:xlstCllcial. DispositiVOS temporais, referenciais e as- direrenciado em relação :10 destinat:í.rio, o que a meu ver é um traço
pcctuais. , marcante e constante em todos os discursos produzidos pela Igreja

'" 213
Católica, se jam quais rorem o lema e o objetivo. A capa traz e m desta- A bis/õria do COOfJf!ralivismo pllJulell!;~ foi maraulu por fragi/idutles e crises.
NII1IUl~lImsjsU!tlUllorll!..• (p. 43)." .. . qUlfsllr8'!emlHMMlesJado. (p. 5 1)
que o nome (siglas com valor de nome) das três com unid ades d iscur-
sivas co-editoras, confirmados no seu reve~, por extenso e com E está presente a té e m pequenos detaJhes, como na ilustração
endereços (estratégia de dar existência concreta aos e missores: "não de uma reunião de agricultores, num recinto e m cu ja pared e se per-
somos uma sigla abslrata, temos um no me e um endereço, se você cebe um cartaz que evoca os u tiLizados pela Igreja (p. 36).
quiser pode nos e ncontrar lá") . A última página completa o processo, Temos aqui um e missor cuja característica p rincipaJ p arece ser
personalizando o emissor: há nomes dos autores do texto e da d iagra- a de se apresentar como sábio, sabido e solidário . É sábio, porque In.
mação. terpreta os d esejos das com u nidad es e reconhece os sinais da m u-
Na Introdução, o em issor d eixa claro q ue ele é o su jeira da dança dos te m pos:
enunciação, apresenta-se como responsável pelo textO q ue se se- Es/ut/IQS observamlo que a le/ldêuclQ maior é para. .. (p. 49)
gue , ao mesmo tempo em q ue afi rma seu pa pel indispensável no
ce nário q ue e le mesmo construiu : há uma c rise no s indicalismo , as É sa.b~do porque tem conhecimentos sobre as leis e pr incípios
associações e cooperativas sáo um a resposta à crise, a existê ncia de cooperatiVistas e sabe explicá-los :
um interesse e uma carê ncia d e info rmaçóes sobre o cooperativismo . São m uitos os tipos de COOJlftrmlVlr. VQmos conh,'Cer (J/lJ:.UJlS. as mais C011l1lllS
O efeito d e veracidade desse conrexro é buscad o através de cstraté· do grande plit>/ico. (p. 22) Cumo fimdar ulI/u c()(Jpe,·QIi/IQ. (p. 36)
gias delocutiv:ts, como a inde te rm inação gramatical e as rorm as
Por~~ e alerta contra os possíveis desvios de inre rp re tação do
passivas de ação: c?operanVlsmo. Porque conhece a fundo as experiê ncias bem suce-
É CQ/lbecldo ofmo de que... ; Nos Ii/timos tempus ti!m suryldu... ; Tem sltlu des- dId as de organ ização:
perf(l(lu .. m IfIlQfflle Imerosslf...
Vamos ugorQ uprese"tur duas experiéncias. «(l. 44)
Subit:tmcnle, O emissor enrra em cena, assumindo o papel de
Ê sábio e sabido, porque romlula perguntas e sabe respondê. las:
q uem pode ajudar a resolver o problema identificado: vai fazer u ma
cartilha_Esta, por u m momenro , assume vid a pró pria e prot:1goniza a Como sllrglu a I" cooperalivaJ Essa é uma bistórlQ multo bfmita. (p. s)
mudança d e rormas gramaticais: É solidário porque tenta resolver um proble ma q ue náo é seu é
Jo:StQ cartllbu qUff ser mn IlIstnlllreIlfO... ; Por isso apn!Sf!1ltfJ.... ~deles", dos peque nos agricu ltores. Baseado nesse tripé d e virtud~,
prescrC\Te regras de com port'.tme nto ou de condução das iniciarivas:
Finalizando, o e missor reassume seu lugar:
O quel melhor para U11l gmpu d e JHqIlNIOS produtores rurais( ... )? ... quanda
... ucn:dltfJmw ser pwsírw/... (p. ~-6) ~ Iralu de ( ... ) o Ideul é a AssoclQçdo; ql/aomo se aL'Il"f Q {...} emúu u coupera -
frua pode ser a mais uamst'lhá/lel. (p . 3 1)
Ao longo do texto, O sujeilo da e nunciação continu a p resente de
modo inequívoco. Em prega a ) 3 pessoa do p lural, que se refere sem- °
Além de sábio, sabido e solidário, emissor é professor. Cons-
pre aos emissores e nunca ao con junto ide ntificadoemissor-rccepror. trói sua "aula" na forma de perguntas e respostas.

1'101$0 carlllba é dlrlgit/a as comwlit/ades rurais; Iremos trubillhar... ; Vamos


o que fsto q uer dizer? Vamos tlmtur explicar.
llpres •.m/lIr...
Conduz o leitor-aluno com segu rança:
A única ide ntifi cação q ue permhe é a geográfica, todos são do Vejamos, Rcssaltamos, I'umos !lcr.
Piauí:

61 Este:! todos os Outros grifos s:i.o meus. chamando alC:nçio para as palavras
q ue ,tustram :iIIi ;Úinn;u;ões.

ZI' ZI'
Católica, se jam quais rorem o lema e o objetivo. A capa traz e m desta- A bis/õria do COOfJf!ralivismo pllJulell!;~ foi maraulu por fragi/idutles e crises.
NII1IUl~lImsjsU!tlUllorll!..• (p. 43)." .. . qUlfsllr8'!emlHMMlesJado. (p. 5 1)
que o nome (siglas com valor de nome) das três com unid ades d iscur-
sivas co-editoras, confirmados no seu reve~, por extenso e com E está presente a té e m pequenos detaJhes, como na ilustração
endereços (estratégia de dar existência concreta aos e missores: "não de uma reunião de agricultores, num recinto e m cu ja pared e se per-
somos uma sigla abslrata, temos um no me e um endereço, se você cebe um cartaz que evoca os u tiLizados pela Igreja (p. 36).
quiser pode nos e ncontrar lá") . A última página completa o processo, Temos aqui um e missor cuja característica p rincipaJ p arece ser
personalizando o emissor: há nomes dos autores do texto e da d iagra- a de se apresentar como sábio, sabido e solidário . É sábio, porque In.
mação. terpreta os d esejos das com u nidad es e reconhece os sinais da m u-
Na Introdução, o em issor d eixa claro q ue ele é o su jeira da dança dos te m pos:
enunciação, apresenta-se como responsável pelo textO q ue se se- Es/ut/IQS observamlo que a le/ldêuclQ maior é para. .. (p. 49)
gue , ao mesmo tempo em q ue afi rma seu pa pel indispensável no
ce nário q ue e le mesmo construiu : há uma c rise no s indicalismo , as É sa.b~do porque tem conhecimentos sobre as leis e pr incípios
associações e cooperativas sáo um a resposta à crise, a existê ncia de cooperatiVistas e sabe explicá-los :
um interesse e uma carê ncia d e info rmaçóes sobre o cooperativismo . São m uitos os tipos de COOJlftrmlVlr. VQmos conh,'Cer (J/lJ:.UJlS. as mais C011l1lllS
O efeito d e veracidade desse conrexro é buscad o através de cstraté· do grande plit>/ico. (p. 22) Cumo fimdar ulI/u c()(Jpe,·QIi/IQ. (p. 36)
gias delocutiv:ts, como a inde te rm inação gramatical e as rorm as
Por~~ e alerta contra os possíveis desvios de inre rp re tação do
passivas de ação: c?operanVlsmo. Porque conhece a fundo as experiê ncias bem suce-
É CQ/lbecldo ofmo de que... ; Nos Ii/timos tempus ti!m suryldu... ; Tem sltlu des- dId as de organ ização:
perf(l(lu .. m IfIlQfflle Imerosslf...
Vamos ugorQ uprese"tur duas experiéncias. «(l. 44)
Subit:tmcnle, O emissor enrra em cena, assumindo o papel de
Ê sábio e sabido, porque romlula perguntas e sabe respondê. las:
q uem pode ajudar a resolver o problema identificado: vai fazer u ma
cartilha_Esta, por u m momenro , assume vid a pró pria e prot:1goniza a Como sllrglu a I" cooperalivaJ Essa é uma bistórlQ multo bfmita. (p. s)
mudança d e rormas gramaticais: É solidário porque tenta resolver um proble ma q ue náo é seu é
Jo:StQ cartllbu qUff ser mn IlIstnlllreIlfO... ; Por isso apn!Sf!1ltfJ.... ~deles", dos peque nos agricu ltores. Baseado nesse tripé d e virtud~,
prescrC\Te regras de com port'.tme nto ou de condução das iniciarivas:
Finalizando, o e missor reassume seu lugar:
O quel melhor para U11l gmpu d e JHqIlNIOS produtores rurais( ... )? ... quanda
... ucn:dltfJmw ser pwsírw/... (p. ~-6) ~ Iralu de ( ... ) o Ideul é a AssoclQçdo; ql/aomo se aL'Il"f Q {...} emúu u coupera -
frua pode ser a mais uamst'lhá/lel. (p . 3 1)
Ao longo do texto, O sujeilo da e nunciação continu a p resente de
modo inequívoco. Em prega a ) 3 pessoa do p lural, que se refere sem- °
Além de sábio, sabido e solidário, emissor é professor. Cons-
pre aos emissores e nunca ao con junto ide ntificadoemissor-rccepror. trói sua "aula" na forma de perguntas e respostas.

1'101$0 carlllba é dlrlgit/a as comwlit/ades rurais; Iremos trubillhar... ; Vamos


o que fsto q uer dizer? Vamos tlmtur explicar.
llpres •.m/lIr...
Conduz o leitor-aluno com segu rança:
A única ide ntifi cação q ue permhe é a geográfica, todos são do Vejamos, Rcssaltamos, I'umos !lcr.
Piauí:

61 Este:! todos os Outros grifos s:i.o meus. chamando alC:nçio para as palavras
q ue ,tustram :iIIi ;Úinn;u;ões.

ZI' ZI'
Outra estratégia de reaftrm ação de sua presença, essa a lo ngo Açreditava-se - e havia razões para isso - que os fIlhos reconheceriam a
prazo, é a associação d os assessores (uma das identidades dos emis- voz do pai, daí náo haver necessidade de autono meações. Além disso, o
sores) com as condições de su cesso do "novo" cooperativismo, esse processo de tradução das vozes da hief'.J.rquia (enunciadores) para OS
que a cartilha d efende. Esse sentido perpassa todo o texto, mas pode leitores- traço marcante dorexro - implicava dara.mentea presença de
ser claramente visualizado no seguinte (techo: um tradutor, o sujeitO da enu nciação. E é por essa via, fuzendo-se por-
Essns C!."perll"das uhn carregadas d~ Imlfort~ di,umrfsmo, /1DiJ. $do articula· ta·voz do centro discursivo, que o sujeito da enunciação, além de pai,
das e acompmrbadas jJur mtltltulcs sindicais, e"lidades de asseSSQria e da constrói uma outra imagem, a de solidário com o povo d e Deus.
19r~ja. (p. '(4) A postur.J. d e solidariedade é uma das espinhas dorsais da Igreja
Quero agora comparar a construção d o emissor de Cooperati- que fez a opção preferencial pelos pobres. E construir essa auro-ima-
vismo com O de Ten-a Prometida, um discurso também da Igreja Ca· gem é tarefa que tantO um como outro e mpreenderam , cada qual a
tó lica, porém produzido e m condições muito diversas, além de seu modo e sofrendo coerções d iferentes, para tanto sendo necessá·
serem de o utra comunidade discursiva. ri:l a imagem correlata, a do pobre ou injustiçado que precisa de soli·
No Terra Prometida. o emissor apresenta·se t;10 fone e nítido dariedade, como se poderá conStatar m:tis adiante .
quanto no Cooperativismo, porém com diferenças fundamentais . Passemos, entrc memes, à construção da imagem do emissor
Aqu i temos o e missor-pai, que se iden tifica com seus filhos (agente) , pelo segundo núcleo discu rsivo estudado, o Estado.
mas que como todo pai sabe mais e deve ensinar à prole. Então expli-
ca, traduz, simpltfica o que é difícil , medeia a relaçãoçom o mundo:
o Eslado e a imagem do emissor
Ning,oI:m se e$fJa"te com esta palmn"a, SEM/l'/ÁRIa. Uma palavra tem muitos
selllúl/Jl$. Uma Q)t"jXURÇÕO: IJamoslembrar os sePII/dos da palaura MANGA (p. 9)
O discurso de Programa constfQl um sUJeltu da e nu nciação
e a com os enunciadores :
ambíguo, que não consegue definir o lugar de o nde fala . É interessan-
Os bispos esclltam (J clumur(lo j)Q11(J: q/ler (Iizer, os bispos tomam as ,tores da te relacionar isto (um suas condições de produçáo: tendo sido oposi-
ge,lIe. (p, 23)
ção (periferia discursiva) e ocupado Outl"".J.S posições noque respeita às
O sentido de identificação, que cria a idéia de "corpo",62 é pro- relações com a popul:u;ão, agora tem dificuldade para assumir-se como
postO incisivamente na imagem de "pc)\'o de Deus", governo (centro discursivo) . Daí o paradoxo aparente que o leva ora a
povo conrpostQ de 100m " ós juntos: c:ampollés, popa, operário, bispo. mot,,· impor explicitamente sua figura de emissor, Ol""d recuar e ficar na som·
rlsta, freira, fHutre, adultos. jovens, c:rlall fas ~ mulheres. (p. 17) bra. Assume o lugar definido d e gOverno e tema encobrir sua respon-
sabilidade no p rocesso de intervenção que o folheto propõe. A seguir,
Aparentemente, o suje ito da e nunciação ocu lta·se por trás de alguns dos traços desse dilema que emergiram da análise ,
um emissor institucional (CNSS NE 11) e dos enunciadores, a quem Na capa, predo mina o logotipo da prefeitura sobre as o utras in-
continuamente concede voz. Mas é apenas uma 1" impressão, enga·
fo n naçõcs, inclusive sobre o título . Mas, o slogan "Trabal hando
nosa. Se cons iderarmos a cena social na qual este texto se inscreve,
por amor", com p letado por um coraçÃo, é emblemático da dificul·
poderemos entender que a ide ntificação do sujeito da enunciação
d :.de de reconhecer o jogo político de interesses que tem como ex·
esta\'a dada previamente (cena fundadora) , produt"O de uma longa
pressão de vitóri a o ser governo . O emissor que ali está é desinte-
pr.hica discursiva, efeito corrobof'J.do pelo circuito de distribuição.
ressado, solid ário . O "Estamos na luta", reiterado intern:uncnte, é a
rcafinnação desse espíritO. Na comracapa, dá uma recuada estratégi-
62 Sabc·s~ que quanto llI<1is sentir·se identlflodo com um di!i cu rso, mais o recep-
tor dcscnvoh·cr.i ~tr.uégia!j .,k coope ração paIOl sua lcitur~ e ~ccitaç,io. A
ca e posido na-se como "apoio", deixando o papel de emissor para
identifie:lI;io passa iX'1o sentir-se pane de um corpo, pdo K' lu ime: nlo d e: per-
lenÇol..

'lO '"
Outra estratégia de reaftrm ação de sua presença, essa a lo ngo Açreditava-se - e havia razões para isso - que os fIlhos reconheceriam a
prazo, é a associação d os assessores (uma das identidades dos emis- voz do pai, daí náo haver necessidade de autono meações. Além disso, o
sores) com as condições de su cesso do "novo" cooperativismo, esse processo de tradução das vozes da hief'.J.rquia (enunciadores) para OS
que a cartilha d efende. Esse sentido perpassa todo o texto, mas pode leitores- traço marcante dorexro - implicava dara.mentea presença de
ser claramente visualizado no seguinte (techo: um tradutor, o sujeitO da enu nciação. E é por essa via, fuzendo-se por-
Essns C!."perll"das uhn carregadas d~ Imlfort~ di,umrfsmo, /1DiJ. $do articula· ta·voz do centro discursivo, que o sujeito da enunciação, além de pai,
das e acompmrbadas jJur mtltltulcs sindicais, e"lidades de asseSSQria e da constrói uma outra imagem, a de solidário com o povo d e Deus.
19r~ja. (p. '(4) A postur.J. d e solidariedade é uma das espinhas dorsais da Igreja
Quero agora comparar a construção d o emissor de Cooperati- que fez a opção preferencial pelos pobres. E construir essa auro-ima-
vismo com O de Ten-a Prometida, um discurso também da Igreja Ca· gem é tarefa que tantO um como outro e mpreenderam , cada qual a
tó lica, porém produzido e m condições muito diversas, além de seu modo e sofrendo coerções d iferentes, para tanto sendo necessá·
serem de o utra comunidade discursiva. ri:l a imagem correlata, a do pobre ou injustiçado que precisa de soli·
No Terra Prometida. o emissor apresenta·se t;10 fone e nítido dariedade, como se poderá conStatar m:tis adiante .
quanto no Cooperativismo, porém com diferenças fundamentais . Passemos, entrc memes, à construção da imagem do emissor
Aqu i temos o e missor-pai, que se iden tifica com seus filhos (agente) , pelo segundo núcleo discu rsivo estudado, o Estado.
mas que como todo pai sabe mais e deve ensinar à prole. Então expli-
ca, traduz, simpltfica o que é difícil , medeia a relaçãoçom o mundo:
o Eslado e a imagem do emissor
Ning,oI:m se e$fJa"te com esta palmn"a, SEM/l'/ÁRIa. Uma palavra tem muitos
selllúl/Jl$. Uma Q)t"jXURÇÕO: IJamoslembrar os sePII/dos da palaura MANGA (p. 9)
O discurso de Programa constfQl um sUJeltu da e nu nciação
e a com os enunciadores :
ambíguo, que não consegue definir o lugar de o nde fala . É interessan-
Os bispos esclltam (J clumur(lo j)Q11(J: q/ler (Iizer, os bispos tomam as ,tores da te relacionar isto (um suas condições de produçáo: tendo sido oposi-
ge,lIe. (p, 23)
ção (periferia discursiva) e ocupado Outl"".J.S posições noque respeita às
O sentido de identificação, que cria a idéia de "corpo",62 é pro- relações com a popul:u;ão, agora tem dificuldade para assumir-se como
postO incisivamente na imagem de "pc)\'o de Deus", governo (centro discursivo) . Daí o paradoxo aparente que o leva ora a
povo conrpostQ de 100m " ós juntos: c:ampollés, popa, operário, bispo. mot,,· impor explicitamente sua figura de emissor, Ol""d recuar e ficar na som·
rlsta, freira, fHutre, adultos. jovens, c:rlall fas ~ mulheres. (p. 17) bra. Assume o lugar definido d e gOverno e tema encobrir sua respon-
sabilidade no p rocesso de intervenção que o folheto propõe. A seguir,
Aparentemente, o suje ito da e nunciação ocu lta·se por trás de alguns dos traços desse dilema que emergiram da análise ,
um emissor institucional (CNSS NE 11) e dos enunciadores, a quem Na capa, predo mina o logotipo da prefeitura sobre as o utras in-
continuamente concede voz. Mas é apenas uma 1" impressão, enga·
fo n naçõcs, inclusive sobre o título . Mas, o slogan "Trabal hando
nosa. Se cons iderarmos a cena social na qual este texto se inscreve,
por amor", com p letado por um coraçÃo, é emblemático da dificul·
poderemos entender que a ide ntificação do sujeito da enunciação
d :.de de reconhecer o jogo político de interesses que tem como ex·
esta\'a dada previamente (cena fundadora) , produt"O de uma longa
pressão de vitóri a o ser governo . O emissor que ali está é desinte-
pr.hica discursiva, efeito corrobof'J.do pelo circuito de distribuição.
ressado, solid ário . O "Estamos na luta", reiterado intern:uncnte, é a
rcafinnação desse espíritO. Na comracapa, dá uma recuada estratégi-
62 Sabc·s~ que quanto llI<1is sentir·se identlflodo com um di!i cu rso, mais o recep-
tor dcscnvoh·cr.i ~tr.uégia!j .,k coope ração paIOl sua lcitur~ e ~ccitaç,io. A
ca e posido na-se como "apoio", deixando o papel de emissor para
identifie:lI;io passa iX'1o sentir-se pane de um corpo, pdo K' lu ime: nlo d e: per-
lenÇol..

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l nes/ta Ara,ljo A re<:D.wers,u, do olhar

uma "equipe de elaboração", sem identificação institucional (que, o cU"sellm c:omulIitário-púlo é formadu por dois represefltalttes( ... ). (p. 6)
como sabemos, é formada por pessoas do 10 escal;ío administrativo) . Poder-Soe-ia levantar a hipótese de que a dificuldade de se assu-
No texto interno, tenta reforçar a "estratégia desviante" de fa- mir como centro discursivo estaria presente nos lextos produzidos
lar de outro lugar, pondo em cena o discurso militante de oposição: pelos governos que se pretendem democráticos, populares, identifi-
Companheiros, estamos >ta luta pela u.ganWçtlu efurtalecimento da >tOJJa cados com o povo ou qualquer coisa semelhante, cuja incidência
comunidade. (p. I ) vem aumentando da década de 80 para os dias atuais. A escolha de
AI" pessoa do plural é usada nas palavras iniciais, como estraté- Pereiros apostava nessa possi bilidade, que não se confinnou .
gia de identificação e homogeneização dos atores sociais envolvidos, Pereiros é também ponto de cruzamento de discursos produzj·
"comunidade" e governo: dos de lugares distintos : o de assessores de organização representa-
tiva da popu lação e dos políticos no governo . Mas não há di lemas
... como cada um de "ós poderá participar (p. 1)
nem subterfúgios, o dispositivo é cristaJino: um emissor forre e bem
caracterizado açambarca o s ujcito da e nunciação c , por princípios
...poderemos lIellcer os desafias. (p. 3) políticos, serve de canal de expressão popular, atI".wés da f.tla de
camponeses, que são os enunciadores do discurso, faJa disciplinada
Logo em seguida, assume um tom impessoal , produzido pela e comrolada pelo sujeito da enunciação.
indeterminaçáo gramatical, que só é rompido numa frase , para usar É interessante registrar a seqüência de afirmação do emissor e
o "nós" de outra fonna, o "nós" que estabelece a clivagem entre "vo- sujeito da enunciação, 'cuidadosamente definidos antes que se pas-
cês" e "nós".
se a paJavra aos enunciadores . Na capa, eSlão o nome dos organiza.
Nós também vamQs ajudar. (p. 4) dores, mais O logOtipo do "Plano do Povo", evocativo visual do
governo Buriti. Ala fo lha de rosto traz o título, di screto, encimado
Q uando lista as funções do governo no programa, produz outra
clivagem, dessa vez com ele mesmo, ao relacionar a função de inte· pela hierarquia administr-.ttiva dos órgãos responsáveis , por exten-
grar o trabalho das Secretarias Municipais e dos Conselhos Comuni· so e com a s igla. A 2" fo lha de rosto repete as siglas , acompanhadas
tários (p. 11) . Ou então quando escreve o nós também vamos de Local e data (local do emissor, a capital do estadO e data do dis-
ajudar, que se refere a ajudar seus próprios agentes . curso do emisso r) . No verso, a ficha catalográfica destaca os organi-
É, porém , um emissor que não abre mão do seu espaço, por es· zadores, o fotógrafo, local e data. A 3" folha traz duas citações (o
tratégias sutis ou contundentes. Entre as sutis mencionaria o provér- poder de saber citar, cita quem sabe e pode), uma de Marx e oUlra
bio modificado: A uniâofaz mesmo aforça! (p. 11), no qual avaliza de um livro do grupo que assessorou o trabalho e cujo coordenador
a sabedoria popu lar. E a mais contundente de todas, que é arrogar-se também comparece como enunciador. A 4~ fo lha traz uma apresen·
o direito de determinar as regras de funcionamento da sociedade. O tação ass inada, do "Secretário Chefe do Gabinete de Planejamento
modo de apresentar a propost.a não admite outra possibilidade: só e Ação Governamemal". A 5" fo lha é ocupada pelo Sumário, que sa·
se poderá vencer o isolamento aderindo ao modo concebido de or- bemos ser um ato explícitO d e afirmação do poder do sujeito da
ganização social (que, aliás, é típico da estrururaçáo de partidos polí- enunciação de classificare nomear os fatos expoStOS ou a realidade
ticos). A estrutura gramatical por vezes pode ser identificada com a tratada. A 6" folha abre uma apresentação assinada pelo assessor,
dos emissores que se prete ndem pedagógicos: construída na 1" pessoa do s ingular, que ocupa seis páginas . Este
Cumu sefa:;: a integraçãu dw cUl/selhos c:omtlttildrlw (p . 9). actante ocupa um lugar dúbio, tanto podendo ser considerado
enunciador, uma vez que não se responsabiliza pelo texto como
mas o cotexto nega essa possibilidade . As funções estão lodas um todo, como sujeitO da enunciação , pois identifica·se como as-
definidas, O uso dos verbos de ação no presente não deixa dúvidas: sessor do ó rg:io de governo que é o emissor. Em seguida , vem

lIB
'"
l nes/ta Ara,ljo A re<:D.wers,u, do olhar

uma "equipe de elaboração", sem identificação institucional (que, o cU"sellm c:omulIitário-púlo é formadu por dois represefltalttes( ... ). (p. 6)
como sabemos, é formada por pessoas do 10 escal;ío administrativo) . Poder-Soe-ia levantar a hipótese de que a dificuldade de se assu-
No texto interno, tenta reforçar a "estratégia desviante" de fa- mir como centro discursivo estaria presente nos lextos produzidos
lar de outro lugar, pondo em cena o discurso militante de oposição: pelos governos que se pretendem democráticos, populares, identifi-
Companheiros, estamos >ta luta pela u.ganWçtlu efurtalecimento da >tOJJa cados com o povo ou qualquer coisa semelhante, cuja incidência
comunidade. (p. I ) vem aumentando da década de 80 para os dias atuais. A escolha de
AI" pessoa do plural é usada nas palavras iniciais, como estraté- Pereiros apostava nessa possi bilidade, que não se confinnou .
gia de identificação e homogeneização dos atores sociais envolvidos, Pereiros é também ponto de cruzamento de discursos produzj·
"comunidade" e governo: dos de lugares distintos : o de assessores de organização representa-
tiva da popu lação e dos políticos no governo . Mas não há di lemas
... como cada um de "ós poderá participar (p. 1)
nem subterfúgios, o dispositivo é cristaJino: um emissor forre e bem
caracterizado açambarca o s ujcito da e nunciação c , por princípios
...poderemos lIellcer os desafias. (p. 3) políticos, serve de canal de expressão popular, atI".wés da f.tla de
camponeses, que são os enunciadores do discurso, faJa disciplinada
Logo em seguida, assume um tom impessoal , produzido pela e comrolada pelo sujeito da enunciação.
indeterminaçáo gramatical, que só é rompido numa frase , para usar É interessante registrar a seqüência de afirmação do emissor e
o "nós" de outra fonna, o "nós" que estabelece a clivagem entre "vo- sujeito da enunciação, 'cuidadosamente definidos antes que se pas-
cês" e "nós".
se a paJavra aos enunciadores . Na capa, eSlão o nome dos organiza.
Nós também vamQs ajudar. (p. 4) dores, mais O logOtipo do "Plano do Povo", evocativo visual do
governo Buriti. Ala fo lha de rosto traz o título, di screto, encimado
Q uando lista as funções do governo no programa, produz outra
clivagem, dessa vez com ele mesmo, ao relacionar a função de inte· pela hierarquia administr-.ttiva dos órgãos responsáveis , por exten-
grar o trabalho das Secretarias Municipais e dos Conselhos Comuni· so e com a s igla. A 2" fo lha de rosto repete as siglas , acompanhadas
tários (p. 11) . Ou então quando escreve o nós também vamos de Local e data (local do emissor, a capital do estadO e data do dis-
ajudar, que se refere a ajudar seus próprios agentes . curso do emisso r) . No verso, a ficha catalográfica destaca os organi-
É, porém , um emissor que não abre mão do seu espaço, por es· zadores, o fotógrafo, local e data. A 3" folha traz duas citações (o
tratégias sutis ou contundentes. Entre as sutis mencionaria o provér- poder de saber citar, cita quem sabe e pode), uma de Marx e oUlra
bio modificado: A uniâofaz mesmo aforça! (p. 11), no qual avaliza de um livro do grupo que assessorou o trabalho e cujo coordenador
a sabedoria popu lar. E a mais contundente de todas, que é arrogar-se também comparece como enunciador. A 4~ fo lha traz uma apresen·
o direito de determinar as regras de funcionamento da sociedade. O tação ass inada, do "Secretário Chefe do Gabinete de Planejamento
modo de apresentar a propost.a não admite outra possibilidade: só e Ação Governamemal". A 5" fo lha é ocupada pelo Sumário, que sa·
se poderá vencer o isolamento aderindo ao modo concebido de or- bemos ser um ato explícitO d e afirmação do poder do sujeito da
ganização social (que, aliás, é típico da estrururaçáo de partidos polí- enunciação de classificare nomear os fatos expoStOS ou a realidade
ticos). A estrutura gramatical por vezes pode ser identificada com a tratada. A 6" folha abre uma apresentação assinada pelo assessor,
dos emissores que se prete ndem pedagógicos: construída na 1" pessoa do s ingular, que ocupa seis páginas . Este
Cumu sefa:;: a integraçãu dw cUl/selhos c:omtlttildrlw (p . 9). actante ocupa um lugar dúbio, tanto podendo ser considerado
enunciador, uma vez que não se responsabiliza pelo texto como
mas o cotexto nega essa possibilidade . As funções estão lodas um todo, como sujeitO da enunciação , pois identifica·se como as-
definidas, O uso dos verbos de ação no presente não deixa dúvidas: sessor do ó rg:io de governo que é o emissor. Em seguida , vem

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IIICsllaAraújo A rectJm.'<!!r.wo do olbar

uma introdução de sete páginas dos organizadores, também assi- Vejamos o próprio título : o I do "Gente" lembra uma cruz, o
nada, na qual definem o objetivo, relatam o processo e apresen- emissor se faz presente desde aí. 63 A seguir, vem a identificação, cla-
tam o livro . ~ó entao, na página 26, é aberta uma seqüência de ra : Publicação do PATAC A página da frente traz uma espécie de edi-
pequenas falas dos habitantes de Pereiros, não-ass inadas nem torial-apresentação. não-assinado, no qual :
identificadas . Estas se estendem até a página 89 (há grandes espa- 1) expõe-se uma situação sem sujeito, construída com verbos
ços em branco) , quando dão lugar a uma fa la fina l do emissor, so- na 3~ pessoa do singular, presente do indicativo, caracrerizando-se
bre Perei ros: Outras indicações de Pereiras. uma situação concreta, já dada, inconrestável:
É certo que não se pode deixar de considerar que o nível de re- No Brasil flão há ill cellliuo ao peql/eno agriCllftor, ( ..•) A tecrlOlogla do país
cursos humanos e financeiros das duas comunidades discursivas é Ilão é adapto(lo para pequfmos agricultores;
d esigual e que isso pode refletir na opção textual. Creio, porém, que
2) registra-se uma (re)açio em curso, usando veroos no gerúndio:
a diferença de dispositivos ocorre muito mais pela capacidade de se
deixar permear por outros discursos. O texto d o programa aponta já estão se orgallizolldo ( ...) trocaI/do sI/as experiê"ctas de fllla;
para um emissor às voltas consigo mesmo , com seus discursos ante- 3) afirma-se a intenção do Notícias da Gente (sujeito explícito
riore atual. Não há Outros ali . já Pereiras fala de um emissor que traz da e nunciação) de ampliar o conhecimemo dessa ação. Os verbos
para dentro de si o Outro, incorpom uma certa pluralidade social, constroem um tempo presenre imediato, o tempo do agora. Há um
muito embom de forma não polêmica e s im integrada (o Outro, ali , gerúndio, também, masque implanta uma relação de causa e efeito:
finda por ser e le mesmo).
Uma diferença e ntre Pereiros e os outros textos analisados é o No/feias da Geme traz agora df'poimelltos ( ...)fiL.""T!7ldo cvm que a IJUZ del es
vá mais longe.
que ali não temos um emissor solidário, mas comprometido politica-
mente com o povo. O discurso é sobre a cooperação solidária d o O sentido objetivado é claro: "há uma situação-problema (eu
povo, mas Q emissor se posiciona politicamente sobre essa cooper.t- sei identificar) , há uma temativa de superação (eu reconheço) e eu
ção. Relatar essa "história" é um ato político do emissor. não um ges- vou servir de canal de ampHação (aqui e agora, eu sou o presente e o
to solidário. futuro imediato)".
O problema de como dar voz à periferia discursiva é essencial As três páginas trazem três depoimentos e três entrevistas dos
nos discursos das ONGs, como se segue. agricuhores. Eles são os enunciadores, lhes é permitida a expressão.
Mas é uma expressão monitorada pelo sujeito da enunciação, por
modos diversos . A primeira delas é o processo de produção do jor-
As ONGs e a imagem do emissor nal : seleciona-se quem vai falar, sobre o que , em que tempo. Cor-
ta-se . edita-se , corrige-se. Segundo. atribui-se um título, que define
o sentido principal a ser extraído. Em seguida. faz anteceder os de-
A característica do PATAC de falta de nitidez sobre sua identida-
poimentos por uma voz sem dono, que localiza a fala seguime num
de e função , associada à sua origem missionária, reflete sobre a cons- contexto e a apresenta. Um texto impessoal, sem sujeito, mas cujo
trução do emissor que se pode obseIllar no Noticias. autor sabe e conhece sobre o lugar, a experiência e o depoeme. As
O título d o jornal estabelece logo uma ambigüidade: Noticias entrevistas são feitas por pessoas do PATAC, que na cena social são
da Gente. Esta é reflexo da duplicidade da proposta do pe riódico, ln- muito conhecidas e ocupam a posição de centro discursivo. Uma
deciso entre o o bjetivo de ser um jornal comunitário, que serve de
canal de expressão dos camponeses, e ser uma estratégia de afirma-
63 Ess~ ~cmz" não foi pl;lnejad~ e eneorm:ndada. foi produto de um -efeito de
ção dos valores defendidos e difundidos pela instiruição. Aparenre-
semido" d .. imagcm do COnUatamC sobre o desenhista eO nlnnado. que assim
mente a disputa é ganha pela segunda opção. imaginou agradar ao c1ieme. DiscUlida a conveniência da associaçâo de idéias,
o PATAC aaitou as conseqüências.

211
IIICsllaAraújo A rectJm.'<!!r.wo do olbar

uma introdução de sete páginas dos organizadores, também assi- Vejamos o próprio título : o I do "Gente" lembra uma cruz, o
nada, na qual definem o objetivo, relatam o processo e apresen- emissor se faz presente desde aí. 63 A seguir, vem a identificação, cla-
tam o livro . ~ó entao, na página 26, é aberta uma seqüência de ra : Publicação do PATAC A página da frente traz uma espécie de edi-
pequenas falas dos habitantes de Pereiros, não-ass inadas nem torial-apresentação. não-assinado, no qual :
identificadas . Estas se estendem até a página 89 (há grandes espa- 1) expõe-se uma situação sem sujeito, construída com verbos
ços em branco) , quando dão lugar a uma fa la fina l do emissor, so- na 3~ pessoa do singular, presente do indicativo, caracrerizando-se
bre Perei ros: Outras indicações de Pereiras. uma situação concreta, já dada, inconrestável:
É certo que não se pode deixar de considerar que o nível de re- No Brasil flão há ill cellliuo ao peql/eno agriCllftor, ( ..•) A tecrlOlogla do país
cursos humanos e financeiros das duas comunidades discursivas é Ilão é adapto(lo para pequfmos agricultores;
d esigual e que isso pode refletir na opção textual. Creio, porém, que
2) registra-se uma (re)açio em curso, usando veroos no gerúndio:
a diferença de dispositivos ocorre muito mais pela capacidade de se
deixar permear por outros discursos. O texto d o programa aponta já estão se orgallizolldo ( ...) trocaI/do sI/as experiê"ctas de fllla;
para um emissor às voltas consigo mesmo , com seus discursos ante- 3) afirma-se a intenção do Notícias da Gente (sujeito explícito
riore atual. Não há Outros ali . já Pereiras fala de um emissor que traz da e nunciação) de ampliar o conhecimemo dessa ação. Os verbos
para dentro de si o Outro, incorpom uma certa pluralidade social, constroem um tempo presenre imediato, o tempo do agora. Há um
muito embom de forma não polêmica e s im integrada (o Outro, ali , gerúndio, também, masque implanta uma relação de causa e efeito:
finda por ser e le mesmo).
Uma diferença e ntre Pereiros e os outros textos analisados é o No/feias da Geme traz agora df'poimelltos ( ...)fiL.""T!7ldo cvm que a IJUZ del es
vá mais longe.
que ali não temos um emissor solidário, mas comprometido politica-
mente com o povo. O discurso é sobre a cooperação solidária d o O sentido objetivado é claro: "há uma situação-problema (eu
povo, mas Q emissor se posiciona politicamente sobre essa cooper.t- sei identificar) , há uma temativa de superação (eu reconheço) e eu
ção. Relatar essa "história" é um ato político do emissor. não um ges- vou servir de canal de ampHação (aqui e agora, eu sou o presente e o
to solidário. futuro imediato)".
O problema de como dar voz à periferia discursiva é essencial As três páginas trazem três depoimentos e três entrevistas dos
nos discursos das ONGs, como se segue. agricuhores. Eles são os enunciadores, lhes é permitida a expressão.
Mas é uma expressão monitorada pelo sujeito da enunciação, por
modos diversos . A primeira delas é o processo de produção do jor-
As ONGs e a imagem do emissor nal : seleciona-se quem vai falar, sobre o que , em que tempo. Cor-
ta-se . edita-se , corrige-se. Segundo. atribui-se um título, que define
o sentido principal a ser extraído. Em seguida. faz anteceder os de-
A característica do PATAC de falta de nitidez sobre sua identida-
poimentos por uma voz sem dono, que localiza a fala seguime num
de e função , associada à sua origem missionária, reflete sobre a cons- contexto e a apresenta. Um texto impessoal, sem sujeito, mas cujo
trução do emissor que se pode obseIllar no Noticias. autor sabe e conhece sobre o lugar, a experiência e o depoeme. As
O título d o jornal estabelece logo uma ambigüidade: Noticias entrevistas são feitas por pessoas do PATAC, que na cena social são
da Gente. Esta é reflexo da duplicidade da proposta do pe riódico, ln- muito conhecidas e ocupam a posição de centro discursivo. Uma
deciso entre o o bjetivo de ser um jornal comunitário, que serve de
canal de expressão dos camponeses, e ser uma estratégia de afirma-
63 Ess~ ~cmz" não foi pl;lnejad~ e eneorm:ndada. foi produto de um -efeito de
ção dos valores defendidos e difundidos pela instiruição. Aparenre-
semido" d .. imagcm do COnUatamC sobre o desenhista eO nlnnado. que assim
mente a disputa é ganha pela segunda opção. imaginou agradar ao c1ieme. DiscUlida a conveniência da associaçâo de idéias,
o PATAC aaitou as conseqüências.

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In.... /taAra"}.>

das entrevistas é concluída po r uma complementação da ''veteriná- As histórias são contadas como exemplares, seus protago nistas
ria do PATAC", que "informa" aquilo que ficou fA ltando o e ntrevis- são modelos de atitude positiV'd. frente aos problemas que a natureza
tad o falar: e la sabe mais . Por fim , uma faixa no pé da página d e trás lhes põe:
identifica os "autores" do jornal, embora com letra muito pequena, Ma/luel é aquele ugrfcultor que gOMa tle eXperinllmtar ludu que apNmdcu tias
apenas cumprindo-se formalidad es. O cartaz interno traz uma gi- rClmlócs. (p. 6)
gantesca palavra de ordem , no melho r estilo militante: Indepen-
dentes sempre, isolados nunca. Mas todos os casos têm a mesma estrutura : a comunidade vive
Percebe-se que o e missor finda por construir um d ispositivo u m problema, então chega um It::cnico (ou os agricultof"CS vão fazer
preciso e m relação a si mesmo. "Há um problema, e m vias d e solu- um curso sobre técnicas em alguma o rganização), propõe urna solu-
ção pe la ação de pessoas c gru pos, solidárias entre si e e m relação a ção, a comunidade aceita, executa e o problema é resolvido.
outras cOmunidad es. Por isso, vão relatar su as experiências. Nós, O uivei A e.~ selj=I!!', aprendi Id 110 PATAC (p. 13).
PATAC, oferecemos as condições para que essa solidariedade seja
exercida. Nós também somos solidârios". Eles s6 sabiam platUar murro (lbalxo, causando mais cN>$llu. Um belu dia
apol'eCeu um ugró,/o"w alemâo cbamadoMtlgrlus, doS04C1ES ( ... ) Ele profJÓs
Esse emissor não pretende d e fato faJar a linguagem do povo, tér::,lIcas( ... ) . (p . 18)
mas valorizar sua prática, mesmo que seja para viabil izar os objetivos
institu cionais. A com unidade discursiva não se disfarça de povo ncm Os técnicos e as instituiçôcs que oferecem o curso são enuncia-
se apropria de sua fala . Define claramente os espaços . O missionário dores convocados para legitimar a proposta do e missor, dublam seu
sobrepõe-se aos militantes e aos educadores popu lares basistas. discurso. O saber técnico do emissor sobrepõe-se ao do recepto r. Os
Seu dispositivo de enunciaçÃO pode ser melho r compree ndido dcscnhosdas p áginas 24 e 25 (reproduzidos, a seguir, em tamanho re-
quando contraposto ao do Hist6rias da raça, cu jo emissor tenta nt!- duzido) ilustram esse tom do discu rso: um técnico bem-vestido fala
gar seu lugar na ct!na social e identificar-se com o destinatário, atr:lVés para :tgricultores malvestidos e depois mostra no quadro negro ...
da apropriação da sua cu ltura e prindpalmemedo seu modo de falar.
Não é preciso esforço para perceber os u-aços dessa tentativa . O
títu lo (Histórias da Roça, são "causos" que se coma); o material da
capa (papel canão pardo) e o modo rústico de produção gráfica
(evocam materiais popu lares, feitos pelo povo) ; a xilogravura da
capa, que se repete pequena em to das as páginas; as letras, todas em
caixa alta (pró pria de quem não tem prÁtica de escrita); o modo de
falar a comunidade do SÍTio Tamboril faz gOSto a geme ver. "Êta, co-
mun idade organizada!" (p.23) .
Quando um emissor assim procede, pode-se levantar algumas
hipótescs sobre sua mo tivação para aparentemente sair de cena e
apagar sua iden[jdade discursiva. Legitimação? Busca de um código
ma is acesslvcl aos destinatários? Valo rização do modo d e ser p0-
pular? Estratégia d e persu asão? Para se e ncontrar uma res posta , é
necessário rastrea r outros trAços do emissor. Neste caso, encon-
t ramos s in ais de que o I'TA nega sua cultura e sua p resença oste n-
s iva para aJ] rmar seu saber. Não fosse por isso, a "Aprese ntação" - se há uma apresentação,
há um apresentador-comenta que os lr.lbaJhado res rêm acumulado
conhecimentos, e avisa:

m 22J
In.... /taAra"}.>

das entrevistas é concluída po r uma complementação da ''veteriná- As histórias são contadas como exemplares, seus protago nistas
ria do PATAC", que "informa" aquilo que ficou fA ltando o e ntrevis- são modelos de atitude positiV'd. frente aos problemas que a natureza
tad o falar: e la sabe mais . Por fim , uma faixa no pé da página d e trás lhes põe:
identifica os "autores" do jornal, embora com letra muito pequena, Ma/luel é aquele ugrfcultor que gOMa tle eXperinllmtar ludu que apNmdcu tias
apenas cumprindo-se formalidad es. O cartaz interno traz uma gi- rClmlócs. (p. 6)
gantesca palavra de ordem , no melho r estilo militante: Indepen-
dentes sempre, isolados nunca. Mas todos os casos têm a mesma estrutura : a comunidade vive
Percebe-se que o e missor finda por construir um d ispositivo u m problema, então chega um It::cnico (ou os agricultof"CS vão fazer
preciso e m relação a si mesmo. "Há um problema, e m vias d e solu- um curso sobre técnicas em alguma o rganização), propõe urna solu-
ção pe la ação de pessoas c gru pos, solidárias entre si e e m relação a ção, a comunidade aceita, executa e o problema é resolvido.
outras cOmunidad es. Por isso, vão relatar su as experiências. Nós, O uivei A e.~ selj=I!!', aprendi Id 110 PATAC (p. 13).
PATAC, oferecemos as condições para que essa solidariedade seja
exercida. Nós também somos solidârios". Eles s6 sabiam platUar murro (lbalxo, causando mais cN>$llu. Um belu dia
apol'eCeu um ugró,/o"w alemâo cbamadoMtlgrlus, doS04C1ES ( ... ) Ele profJÓs
Esse emissor não pretende d e fato faJar a linguagem do povo, tér::,lIcas( ... ) . (p . 18)
mas valorizar sua prática, mesmo que seja para viabil izar os objetivos
institu cionais. A com unidade discursiva não se disfarça de povo ncm Os técnicos e as instituiçôcs que oferecem o curso são enuncia-
se apropria de sua fala . Define claramente os espaços . O missionário dores convocados para legitimar a proposta do e missor, dublam seu
sobrepõe-se aos militantes e aos educadores popu lares basistas. discurso. O saber técnico do emissor sobrepõe-se ao do recepto r. Os
Seu dispositivo de enunciaçÃO pode ser melho r compree ndido dcscnhosdas p áginas 24 e 25 (reproduzidos, a seguir, em tamanho re-
quando contraposto ao do Hist6rias da raça, cu jo emissor tenta nt!- duzido) ilustram esse tom do discu rso: um técnico bem-vestido fala
gar seu lugar na ct!na social e identificar-se com o destinatário, atr:lVés para :tgricultores malvestidos e depois mostra no quadro negro ...
da apropriação da sua cu ltura e prindpalmemedo seu modo de falar.
Não é preciso esforço para perceber os u-aços dessa tentativa . O
títu lo (Histórias da Roça, são "causos" que se coma); o material da
capa (papel canão pardo) e o modo rústico de produção gráfica
(evocam materiais popu lares, feitos pelo povo) ; a xilogravura da
capa, que se repete pequena em to das as páginas; as letras, todas em
caixa alta (pró pria de quem não tem prÁtica de escrita); o modo de
falar a comunidade do SÍTio Tamboril faz gOSto a geme ver. "Êta, co-
mun idade organizada!" (p.23) .
Quando um emissor assim procede, pode-se levantar algumas
hipótescs sobre sua mo tivação para aparentemente sair de cena e
apagar sua iden[jdade discursiva. Legitimação? Busca de um código
ma is acesslvcl aos destinatários? Valo rização do modo d e ser p0-
pular? Estratégia d e persu asão? Para se e ncontrar uma res posta , é
necessário rastrea r outros trAços do emissor. Neste caso, encon-
t ramos s in ais de que o I'TA nega sua cultura e sua p resença oste n-
s iva para aJ] rmar seu saber. Não fosse por isso, a "Aprese ntação" - se há uma apresentação,
há um apresentador-comenta que os lr.lbaJhado res rêm acumulado
conhecimentos, e avisa:

m 22J
I ",.slta Armíjo

o ProjelQ T/XI/Q/ogias A111~nlalifXIS tem registrado várias dessas experié/lcias e este vivencia. Também forma o arcabouço da proposta de solução e
agora eslá tal/foI/do o "Histórias da Roça ~, 11m cademoque mostra caros ( ...).
dos V'alores que se quer difundir. Destaco de início o papel daspala-
Na página seguinte , abre o texto com uras plenas nessa construção. E, em Cooperativismo e em Ten'a Pro-
Nós llamos comar para voces...
metida, os pequenos cactos salpicados ao longo do texto são tam-
bém semas a se considerar, assim como as minirreproduçõcs da
Depois, retira-se de cena. xilogravura da capa, em Histórias.
Por o utro lado, o nome do emissor está estampado na capa, Veja-se o quadro comparativo adiante. A ordem de registro im-
embora pequeno e na contracapa, completo, com d e talhamento de plica uma ordem decrescente de freqüência. Foram registradas as
créditos e vinculação instirucional. Temos, então, um emissor que se palavras que pelo conjunto das fomlaçõcs discursivas podem ser
assume como sujeito da enunciação, mas quer identificar-se com a consideradas plenas, mas só as que tiveram uma incidência significa-
cultura e o modo de falar do receptor. Um emissor essencialmente th'3. O número de menções a cada uma não é relevante em si, por-
diferente do que se apresenta no Notícias, que põe em cena uma que sua freqüência tem que ser correlacionada com O tamanho do
disputa de se ntidos da própria comunidade discursiva , mas termi- texto. Assim , uma palavra mencionada cinco vezes no Programa
na por afirmar com clareza sua idenridade e seu objetivo. O emis- pode ser arrolada na rede de semas, enquanto que em Terra Prome-
sor de Histórias é h omogêneo, não aparenta indecisões nem tida é irrele\'3nte .
negociaçõcs internas de se ntidos e tem uma estratégia que busca
criar o efeito de igualdade e idemificação. É uma estratégia para COO PERAll- PROGRAMA NOTícIAS TERRA PEREIRaS HISTÓRIAS
VISMO PROMETIDA
obter receptividade e aceitação, é estratégia, não convicção. O que
poderia ser valorização da cu ltura e saber popu lares é rigo rosa- Pequ enos Comunidade Comunidade Povo Coopc:r.lç:lO Pequeno
menre negado pelo dispositivo de enunciação. Agricu ltOr
No fundo , não poderia ser diferente, devido às distintas cenas Comunidade P:uticipação Grupo Pobre: Organiza ..-ão Com unida-
fundadoras . O PTA foi constituído no contexto mencio nado dos téc- de
nicos de esquerda que decidiram intervir no modelo agrícola do Aniculaçio ImcgnçiQ Experiência Filhos de Tr-Abalh~dor Tn.balhador
país. Mistura a valorização acentuada do saber técnico com a mística Deus
do discurso das esq uerdas sobre o saber popu lar. O PATAC é de o ri- Tr-.. balhador Organiz:lção Organiu<;ão Realidad e História Trabalho
gem missionária, sua intervenção social parte da fraternidade e amor Associação Cooper.lção Pro blcma Nordestino Reunião Expc:riencia
ao próximo, mas como bom missionário n:"io se confunde com o No= llio lamcmo Organização Comunidade Resulr.tdo
povo. Antes, é seu guia e seu apoio. No fundo, talvez a grande diferença Tod~ Mutirão Estudo Luta Problema
quanto à construção da imagem do emissor entre as duas comunida- Problema Un ião JuntoS
des discursivas, ambas com o objetivo de difundircxperiências comu- FerrAmenta SufrimentO Experiência
nitárias de tecnologia, é que o PATAC é, enquanto o PTA tenta ser. Coopen.çi.o PalavrA Político
I'anicipaçio Idéias Processo
B - A construção da imagem do destinatário: o ru JuntOS Jusli .... Mutirão
Organização Oprimido
Este é O ângu lo no qual as várias comunidades discursivas ana- Melhoria Pequeno
lisadas mais se assemelham : a imagem do destinatário, ou recep- Uniiio lnnão
tor-modelo, e o modo de construí-Ia . A rede sêmica jamais está SOlu ção
relacionada com o e missor, a não ser de forma muito indireta. Ela Ahcrnalivo
diz respei[Q, sobretudo, ao destinatário e à situação-problema que

'24 225
I ",.slta Armíjo

o ProjelQ T/XI/Q/ogias A111~nlalifXIS tem registrado várias dessas experié/lcias e este vivencia. Também forma o arcabouço da proposta de solução e
agora eslá tal/foI/do o "Histórias da Roça ~, 11m cademoque mostra caros ( ...).
dos V'alores que se quer difundir. Destaco de início o papel daspala-
Na página seguinte , abre o texto com uras plenas nessa construção. E, em Cooperativismo e em Ten'a Pro-
Nós llamos comar para voces...
metida, os pequenos cactos salpicados ao longo do texto são tam-
bém semas a se considerar, assim como as minirreproduçõcs da
Depois, retira-se de cena. xilogravura da capa, em Histórias.
Por o utro lado, o nome do emissor está estampado na capa, Veja-se o quadro comparativo adiante. A ordem de registro im-
embora pequeno e na contracapa, completo, com d e talhamento de plica uma ordem decrescente de freqüência. Foram registradas as
créditos e vinculação instirucional. Temos, então, um emissor que se palavras que pelo conjunto das fomlaçõcs discursivas podem ser
assume como sujeito da enunciação, mas quer identificar-se com a consideradas plenas, mas só as que tiveram uma incidência significa-
cultura e o modo de falar do receptor. Um emissor essencialmente th'3. O número de menções a cada uma não é relevante em si, por-
diferente do que se apresenta no Notícias, que põe em cena uma que sua freqüência tem que ser correlacionada com O tamanho do
disputa de se ntidos da própria comunidade discursiva , mas termi- texto. Assim , uma palavra mencionada cinco vezes no Programa
na por afirmar com clareza sua idenridade e seu objetivo. O emis- pode ser arrolada na rede de semas, enquanto que em Terra Prome-
sor de Histórias é h omogêneo, não aparenta indecisões nem tida é irrele\'3nte .
negociaçõcs internas de se ntidos e tem uma estratégia que busca
criar o efeito de igualdade e idemificação. É uma estratégia para COO PERAll- PROGRAMA NOTícIAS TERRA PEREIRaS HISTÓRIAS
VISMO PROMETIDA
obter receptividade e aceitação, é estratégia, não convicção. O que
poderia ser valorização da cu ltura e saber popu lares é rigo rosa- Pequ enos Comunidade Comunidade Povo Coopc:r.lç:lO Pequeno
menre negado pelo dispositivo de enunciação. Agricu ltOr
No fundo , não poderia ser diferente, devido às distintas cenas Comunidade P:uticipação Grupo Pobre: Organiza ..-ão Com unida-
fundadoras . O PTA foi constituído no contexto mencio nado dos téc- de
nicos de esquerda que decidiram intervir no modelo agrícola do Aniculaçio ImcgnçiQ Experiência Filhos de Tr-Abalh~dor Tn.balhador
país. Mistura a valorização acentuada do saber técnico com a mística Deus
do discurso das esq uerdas sobre o saber popu lar. O PATAC é de o ri- Tr-.. balhador Organiz:lção Organiu<;ão Realidad e História Trabalho
gem missionária, sua intervenção social parte da fraternidade e amor Associação Cooper.lção Pro blcma Nordestino Reunião Expc:riencia
ao próximo, mas como bom missionário n:"io se confunde com o No= llio lamcmo Organização Comunidade Resulr.tdo
povo. Antes, é seu guia e seu apoio. No fundo, talvez a grande diferença Tod~ Mutirão Estudo Luta Problema
quanto à construção da imagem do emissor entre as duas comunida- Problema Un ião JuntoS
des discursivas, ambas com o objetivo de difundircxperiências comu- FerrAmenta SufrimentO Experiência
nitárias de tecnologia, é que o PATAC é, enquanto o PTA tenta ser. Coopen.çi.o PalavrA Político
I'anicipaçio Idéias Processo
B - A construção da imagem do destinatário: o ru JuntOS Jusli .... Mutirão
Organização Oprimido
Este é O ângu lo no qual as várias comunidades discursivas ana- Melhoria Pequeno
lisadas mais se assemelham : a imagem do destinatário, ou recep- Uniiio lnnão
tor-modelo, e o modo de construí-Ia . A rede sêmica jamais está SOlu ção
relacionada com o e missor, a não ser de forma muito indireta. Ela Ahcrnalivo
diz respei[Q, sobretudo, ao destinatário e à situação-problema que

'24 225
I ""sita Araujo

ti. /,g reja e a /m,'sem do receptor o receptor ideal da CPT é ho mogeneizado. Os semas comuni-
dade , lodos epequf!nos são generalizantes, englobadores. Ele é tam-
bém careme de info nnaçóes e precisa de estimulas e apolo para
Cooperalivismo põe em cena um destinatário caracterizado
empreender a tarefa de melhorar suas condições de vida. Contradi-
como comunidades habitadas ou formadas por pequenos trabalha-
dores, asquais se articulam e tém ullla história de organização em as- toriamente, teria conhecime ntos suficientes para ler quadros, tabelas
sociações_Essas comunidades t'êm um problema a enfrentar. Há que e compreendera sentido de palavras como "cronológico", "falimen-
lembrar que ··pequenos" tem uma v:l1oração altamente positiva para tar", "prevaricaç'do" , "subscrever", ·'esquema organizacional", para
a Igreja, designando uma qualidade dos escolhidos de Deus. Mais citar ruguns. Também já passou pelos cursos de formação si ndical, a
que Isto, adquiriu valor político: ser pequeno é ser potencialmente julgar pela quamidade de ciraçóes e pré-<:onstruídos do discurso veicu-
revolucionário, receptivo a propostas de transfonnac;ão estrutural . lado nesses cursos (o sentido negativo atribuído a "capitalista", por
Além dos semas j>eqm!rlo, comunidade e Irabalhador, o desti- exemplo, é típico daquele discurso) .
natário é construído pelas fotos e i1uStr.tções: todos os de~nhos (al- I)ara suprir a carência de infonnação, o que é que se lhes ofere-
guns reproduzidos abaixo. em tamanho reduzido) representam ce? Uma cartilha, um gênero de discurso que implanta a imagem de
:tgricultores pobres, sempre em atividades cole tivas : reuniões, muti- um lei tor infantilizado, que necessita aprender o bê-a·bá de algo e a
rões j as duas fotos dão realidade a essa imagem : são nordestinos, po- de um emissor adu lto, qualificado, que sabe e sabe ensinar. Pela im-
bres, mas cooperativos. portância do gênero na construção do sentido, pcrmito-me um pa-
rêntese para comentá·la.
De acordo com Ba.kthin, gêneros do discurso sáo "tipos relari-
V"..Ime nre estáveis de enunciados". Um textO não comport:l só um gê-
nero; ames, é pontO de imerseção de dive rsos deles. Por isso, definir
um gênero é rarcfa arriscada. pois supõe uma unidade que não exis-
te. Maingueneau afirma que se pode fa lar em gênero quando "vários
textos se submetem a um conjunto de coerções comuns" (L993 : 35).
É baseada nessas proposições que classifico a cartilha como gt:nero,
por cons iderar que e la adquiriu um modo de existência semiológico
próprio e está.vel. Na prática discursiva, os emissores autodenomi-
nam freqüentemen te seus textos impressos de "cartilli as ~ , havendo
uma certa confusão entre fonna e conteúdo. "Cartilha" designa um
gênero cuja definição não se separa das imagens de emissor (o que
sabe e ensina) , de recepto r (o que não sabe e aprende) , das relações
entre os dois pólos (aluno-professor) e do objetivo do emissor: ensi-
nar os rudimentos de um conhecimento qualquer, de (orma pedagó-
gica. O fato de um ('missar supor ou determinar que seu produto
discursivo é uma canilha, mesmo que não seja, produz um sentido
definido e indica concepções de sociedade e dos atores sociais em
cena desse emissor. O gênero é elemento de definição ou reafirma-
ção da legitimidade discursiva. Como já falei em outro lugar, recor-

221
I ""sita Araujo

ti. /,g reja e a /m,'sem do receptor o receptor ideal da CPT é ho mogeneizado. Os semas comuni-
dade , lodos epequf!nos são generalizantes, englobadores. Ele é tam-
bém careme de info nnaçóes e precisa de estimulas e apolo para
Cooperalivismo põe em cena um destinatário caracterizado
empreender a tarefa de melhorar suas condições de vida. Contradi-
como comunidades habitadas ou formadas por pequenos trabalha-
dores, asquais se articulam e tém ullla história de organização em as- toriamente, teria conhecime ntos suficientes para ler quadros, tabelas
sociações_Essas comunidades t'êm um problema a enfrentar. Há que e compreendera sentido de palavras como "cronológico", "falimen-
lembrar que ··pequenos" tem uma v:l1oração altamente positiva para tar", "prevaricaç'do" , "subscrever", ·'esquema organizacional", para
a Igreja, designando uma qualidade dos escolhidos de Deus. Mais citar ruguns. Também já passou pelos cursos de formação si ndical, a
que Isto, adquiriu valor político: ser pequeno é ser potencialmente julgar pela quamidade de ciraçóes e pré-<:onstruídos do discurso veicu-
revolucionário, receptivo a propostas de transfonnac;ão estrutural . lado nesses cursos (o sentido negativo atribuído a "capitalista", por
Além dos semas j>eqm!rlo, comunidade e Irabalhador, o desti- exemplo, é típico daquele discurso) .
natário é construído pelas fotos e i1uStr.tções: todos os de~nhos (al- I)ara suprir a carência de infonnação, o que é que se lhes ofere-
guns reproduzidos abaixo. em tamanho reduzido) representam ce? Uma cartilha, um gênero de discurso que implanta a imagem de
:tgricultores pobres, sempre em atividades cole tivas : reuniões, muti- um lei tor infantilizado, que necessita aprender o bê-a·bá de algo e a
rões j as duas fotos dão realidade a essa imagem : são nordestinos, po- de um emissor adu lto, qualificado, que sabe e sabe ensinar. Pela im-
bres, mas cooperativos. portância do gênero na construção do sentido, pcrmito-me um pa-
rêntese para comentá·la.
De acordo com Ba.kthin, gêneros do discurso sáo "tipos relari-
V"..Ime nre estáveis de enunciados". Um textO não comport:l só um gê-
nero; ames, é pontO de imerseção de dive rsos deles. Por isso, definir
um gênero é rarcfa arriscada. pois supõe uma unidade que não exis-
te. Maingueneau afirma que se pode fa lar em gênero quando "vários
textos se submetem a um conjunto de coerções comuns" (L993 : 35).
É baseada nessas proposições que classifico a cartilha como gt:nero,
por cons iderar que e la adquiriu um modo de existência semiológico
próprio e está.vel. Na prática discursiva, os emissores autodenomi-
nam freqüentemen te seus textos impressos de "cartilli as ~ , havendo
uma certa confusão entre fonna e conteúdo. "Cartilha" designa um
gênero cuja definição não se separa das imagens de emissor (o que
sabe e ensina) , de recepto r (o que não sabe e aprende) , das relações
entre os dois pólos (aluno-professor) e do objetivo do emissor: ensi-
nar os rudimentos de um conhecimento qualquer, de (orma pedagó-
gica. O fato de um ('missar supor ou determinar que seu produto
discursivo é uma canilha, mesmo que não seja, produz um sentido
definido e indica concepções de sociedade e dos atores sociais em
cena desse emissor. O gênero é elemento de definição ou reafirma-
ção da legitimidade discursiva. Como já falei em outro lugar, recor-

221
llle,i/a AralÍjo A rec:om!eTsão do alha r

rer a um gênero e não a o utro é constitutivo d o discurso, assim como do profe ssor e e m roda, de mãos dadas (a seguir, reproduzidos em
O modo de fazê-lo , daí a importância de considerá-lo nesta análise. tamanho reduzido).
Outra característica dos receptores de Cooperativismo é serem
espectadores e não interlocutores. A cartilha fala deles, não com UMI.ta
PA~TICIPAÇ ~a
eles. Cria 0 mundo "deles". Além disso, a insistência em classificá-los a RCA MI lAç.to
D[CIS;!;O
como "pcquenos"" funda uma comunidade (imaginária) que tem
como contrapartida a exclusão de quem não é pequeno. É, então,
um conceito excludente. Receptores são personagens que pe rten-
cem e devem construir um mundo à parte: o mundo d os periféricos
ao sistema, o mundo d o alternativo . O mundo solidário dos excluí-
dos.
Na posição de contraponto, e ncontramos um texto cujas condi-
ções d e produção d istintas pouco modificam a construç:ío do recep-
tor. O Terra Prometida põe em cena o povo nordestino, filhos de
Deus (filhos q ue são feitos à imagem e semelhança do pai, como defi-
ne o desenho da capa) . Filhos pequenos, oprimidos, sofredores e in-
justiçados. Que despertam a compaixâo e a solidariedade d os bispos.
E que podem se libertar desse sofrimento se lerem a palavra de Deus e
viverem segu ndo as nonnas presentes na canilha : fraterna e solidaria-
mente. O interessante é que, contrastando com essa imagem fortíssi-
ma, não se autodenomina "canilha". Fala e m "livro", que supõe um
leitor habitual , que por sua vez contrasta com as enonnes letras e com
a diagramação facilitadora da leirura. OUtrO co ntraste - e grande di-
fere nciai e m relação aos de mais textos - é tratar o receptor como
interlocutor, dirigindo-se a ele . A linguagem é colo quial, direta, per-
sonalizada: inclui cartinhas ma nuscritas na contraca pa e no miolo e Esse recepto r é interpelado diretameme, num primeiro mo-
sem pre propõe : Vamos conversar. mento: Companheiros, estamos na lutal Porém , imediatamente é
convertido em "todos", "comunidade", e passa a ocupar o papel de
personagem, como no discurso analisado acima. De companh eiro a
o Est(ulo e a imagem do receptor beneficiário do programa, uma fulminante trajetória. O que d everia
ser um sujeitado enunciado, fica sendo um "objeto do e nunciado".
O destinatário dessa com unidade discursiva é desunido, isola-
As o utras comunidades discursivas constroem sentidos seme-
do e p recisa aprende r a se organizar e m torno de seus pró prios inte-
lhantes a esse. Assim, o destinatário do Programa é também objeto
resses. Só o que ele tem a fazer é le r a cartilha e aprender.
de uma cartilha. A rede sêmica é tach ariva: ele n ão existe como indi-
Po r su a vez, Pereiros traz como única defini ção explícita do des-
víduo, é "comunidade", em que pese o desenho da p ãgina 1, de uma
tinatário a apresentação do chefe de gabinete do governador, quan-
pessoa sentada lendo o folheto . Os outros desenhos mostram pessoas
do diz que o li vro se d estina a divulgar a experiência de Pereiros a
e m du;t.s siruaçÕt:s clássicas d o mundo infantil : na sala de aula, diante
Outros trabalhado res. Se é possível tomar essa equivalência, então o

228
'"
llle,i/a AralÍjo A rec:om!eTsão do alha r

rer a um gênero e não a o utro é constitutivo d o discurso, assim como do profe ssor e e m roda, de mãos dadas (a seguir, reproduzidos em
O modo de fazê-lo , daí a importância de considerá-lo nesta análise. tamanho reduzido).
Outra característica dos receptores de Cooperativismo é serem
espectadores e não interlocutores. A cartilha fala deles, não com UMI.ta
PA~TICIPAÇ ~a
eles. Cria 0 mundo "deles". Além disso, a insistência em classificá-los a RCA MI lAç.to
D[CIS;!;O
como "pcquenos"" funda uma comunidade (imaginária) que tem
como contrapartida a exclusão de quem não é pequeno. É, então,
um conceito excludente. Receptores são personagens que pe rten-
cem e devem construir um mundo à parte: o mundo d os periféricos
ao sistema, o mundo d o alternativo . O mundo solidário dos excluí-
dos.
Na posição de contraponto, e ncontramos um texto cujas condi-
ções d e produção d istintas pouco modificam a construç:ío do recep-
tor. O Terra Prometida põe em cena o povo nordestino, filhos de
Deus (filhos q ue são feitos à imagem e semelhança do pai, como defi-
ne o desenho da capa) . Filhos pequenos, oprimidos, sofredores e in-
justiçados. Que despertam a compaixâo e a solidariedade d os bispos.
E que podem se libertar desse sofrimento se lerem a palavra de Deus e
viverem segu ndo as nonnas presentes na canilha : fraterna e solidaria-
mente. O interessante é que, contrastando com essa imagem fortíssi-
ma, não se autodenomina "canilha". Fala e m "livro", que supõe um
leitor habitual , que por sua vez contrasta com as enonnes letras e com
a diagramação facilitadora da leirura. OUtrO co ntraste - e grande di-
fere nciai e m relação aos de mais textos - é tratar o receptor como
interlocutor, dirigindo-se a ele . A linguagem é colo quial, direta, per-
sonalizada: inclui cartinhas ma nuscritas na contraca pa e no miolo e Esse recepto r é interpelado diretameme, num primeiro mo-
sem pre propõe : Vamos conversar. mento: Companheiros, estamos na lutal Porém , imediatamente é
convertido em "todos", "comunidade", e passa a ocupar o papel de
personagem, como no discurso analisado acima. De companh eiro a
o Est(ulo e a imagem do receptor beneficiário do programa, uma fulminante trajetória. O que d everia
ser um sujeitado enunciado, fica sendo um "objeto do e nunciado".
O destinatário dessa com unidade discursiva é desunido, isola-
As o utras comunidades discursivas constroem sentidos seme-
do e p recisa aprende r a se organizar e m torno de seus pró prios inte-
lhantes a esse. Assim, o destinatário do Programa é também objeto
resses. Só o que ele tem a fazer é le r a cartilha e aprender.
de uma cartilha. A rede sêmica é tach ariva: ele n ão existe como indi-
Po r su a vez, Pereiros traz como única defini ção explícita do des-
víduo, é "comunidade", em que pese o desenho da p ãgina 1, de uma
tinatário a apresentação do chefe de gabinete do governador, quan-
pessoa sentada lendo o folheto . Os outros desenhos mostram pessoas
do diz que o li vro se d estina a divulgar a experiência de Pereiros a
e m du;t.s siruaçÕt:s clássicas d o mundo infantil : na sala de aula, diante
Outros trabalhado res. Se é possível tomar essa equivalência, então o

228
'"
l n<'I//a Arnújo

d esti natário é amorflZad o pejo sema trabalbadores e coletivizad o do também em d esenhos (agriculto res pobres e em situação sempre
pelo comlmidade. O dispositivo, tal como ode Cooperativismo. cria coletiva) . A linguagem, apesar d e coloquiaJ, não é pessoaJ : depois da
o muntlo <.lo "d es", cuja histó ria é: registrada e intermediada pelo frd!ie iniciaJ Nós vamos contar para vocês, não se dirige mais ao lei-
emissor. O gê nero "relato" acentu a essa cLivagem. tor, excluído em favor d as comunidades protagonistas das histó rias.
Valem para todos os textos os d ispositivOS às observações feitas
e m Cooperativismo sobre o efeito de exclusão q ue produzem os se-
As ONGs e II Imflgem do recep'o ,.
mas construtores da ide ntidade do des tinatário .
Com esses traços identificad os, toma·se mais f.ki l perceber as
O recepto r-modelo do PATAC não foge à regra. Mesmo identifica. relações propostas nos textos entre e miSSOres e destinatários, possi-
do como indivíduo nas fOIOS e na personalização da fa la, a red e sêmi. bilitando a posterior compardção e ntre a cena social e a discursiva.
ca coletiviza o sujeito do enunciado, transforma-o em "comunidade"
ou e m "grupo·'. As pessoas que estão aJj representadas são mu itO c - As relações discursivas e ntre emiSSOr e d estinatário
mais e nunciad ores do que sujeitos d o enunciado. Eles são represen.
tativos da caracterização social do destinatário, mas ocupam a posi· Os dispositivos de enunciação expressa m, todos, um d esequilí-
ção de exemplos, modelos a serem imitados: são cooperativos, brio entre emissor e destinatário, d e modos e graus diferentes. De
e mpree ndedores, solidários, para eles há esperança. Os o utras po_ certa fo rma, isso é inevitável, uma vez que o fatO de estar produzindo
dem ser como e les, se quiserem, mas por enquanto são isolados. e d irigindo um discurso impresso a um público já significa e implan-
marginalizados, excluíd os do sistema, pobres , prejudicados. São ta a prio ri o sentido de que o emissor é o centro e o receptor a peri-
também "pequenos", mas este é um valo r positivo (valor cristão , assi- feria do jogo d iscursivo.
milado e reproduzido pelo movimento d e agricultu ra alternatiV"d) . A análise textual permite avançar nessa constatação e perceber
Sua caracte rização física , além das fotos, é figurada nos desenhos do as particularidades de como cada emissor propõe as relações entre s i
cartaz. e seus d estinatários, lembrando sempre que se está falando de ima·
O gênero "jo rnal" é o que melhor d escreve o Notícias, apesar gens, d e representações, que poder:.io o u n âo produzir e fe itos equi.
d o fo mlatasui gelleris . É um no ticioso, é periódico, faJa de atua.Hda. vale ntes no processo de recepção e consu mo .
des. E o jo rnaJ, no contexto da educaçáo popular, implanta a ima. Vou tomar como eixo a classificação de modaJização d a enuncia-
gem d e um receptor interessado em se info rmar, em sa.ber o que há ção p roposta por Pinto e aí buscar reconhecer os dispositivos singu-
de novo; e a de um emissor qualificado O suficiente pa.ra atender ta.l lares anaJisados. Pinto discrimina seis modalidades e advene que
necessidade, que está presente e m muitos lugares e toma conheci- dificilme nte um texto opera com uma delas isoladame nte. Mesmo
mento de mui tas coisas, que conhece a realidade e m que vive o re- um só enunciado pode aprese ntar várias modalidades, conforme o
ceptor. número d e enunciadores. Pode-se, porém, perceber a d o minância
Seu texto contraponto. Histó rias, constrói inequivoca.me nte d e uma sob re as o utras , oque termina pordar o "to m" do discurso.
um rece ptor-modelo atrasado, tradicio nal e igno rante , mas aberto A modalidade diretiva tem "como objetivo tentar que o recep-
para apre nde r e experimentar o novo. Essa é a imagem dos enuncia- tor tenha, no futuro , o comportamento expresso pelo estado de cai.
d o res, "peque nos agriculto res-modelos·' cuja experiência é relatada. sas ao qual nele se faz alusão" (1 993: 92) . Sua eficácia depende
O PTA de no mina seu impresso de "caderno", no me que tradicional- muito das relações ante riores entre emissor e rece ptor, o u seja, de-
mente d es igna um objeto escolar d e escrita. não d e leitura. Q uanto pendem da cena social concreta c próxima em que se inscrevem.
ao gênero, enquadra·se no da cartilha, embora tenha tentado aproxi- Está afeta, pois, à legitimidade diSCUrs iva p ré.cons truída. Perguntas,
mar-se dos gêneros populares de relato. Seu receptor é representa·

'" 211
l n<'I//a Arnújo

d esti natário é amorflZad o pejo sema trabalbadores e coletivizad o do também em d esenhos (agriculto res pobres e em situação sempre
pelo comlmidade. O dispositivo, tal como ode Cooperativismo. cria coletiva) . A linguagem, apesar d e coloquiaJ, não é pessoaJ : depois da
o muntlo <.lo "d es", cuja histó ria é: registrada e intermediada pelo frd!ie iniciaJ Nós vamos contar para vocês, não se dirige mais ao lei-
emissor. O gê nero "relato" acentu a essa cLivagem. tor, excluído em favor d as comunidades protagonistas das histó rias.
Valem para todos os textos os d ispositivOS às observações feitas
e m Cooperativismo sobre o efeito de exclusão q ue produzem os se-
As ONGs e II Imflgem do recep'o ,.
mas construtores da ide ntidade do des tinatário .
Com esses traços identificad os, toma·se mais f.ki l perceber as
O recepto r-modelo do PATAC não foge à regra. Mesmo identifica. relações propostas nos textos entre e miSSOres e destinatários, possi-
do como indivíduo nas fOIOS e na personalização da fa la, a red e sêmi. bilitando a posterior compardção e ntre a cena social e a discursiva.
ca coletiviza o sujeito do enunciado, transforma-o em "comunidade"
ou e m "grupo·'. As pessoas que estão aJj representadas são mu itO c - As relações discursivas e ntre emiSSOr e d estinatário
mais e nunciad ores do que sujeitos d o enunciado. Eles são represen.
tativos da caracterização social do destinatário, mas ocupam a posi· Os dispositivos de enunciação expressa m, todos, um d esequilí-
ção de exemplos, modelos a serem imitados: são cooperativos, brio entre emissor e destinatário, d e modos e graus diferentes. De
e mpree ndedores, solidários, para eles há esperança. Os o utras po_ certa fo rma, isso é inevitável, uma vez que o fatO de estar produzindo
dem ser como e les, se quiserem, mas por enquanto são isolados. e d irigindo um discurso impresso a um público já significa e implan-
marginalizados, excluíd os do sistema, pobres , prejudicados. São ta a prio ri o sentido de que o emissor é o centro e o receptor a peri-
também "pequenos", mas este é um valo r positivo (valor cristão , assi- feria do jogo d iscursivo.
milado e reproduzido pelo movimento d e agricultu ra alternatiV"d) . A análise textual permite avançar nessa constatação e perceber
Sua caracte rização física , além das fotos, é figurada nos desenhos do as particularidades de como cada emissor propõe as relações entre s i
cartaz. e seus d estinatários, lembrando sempre que se está falando de ima·
O gênero "jo rnal" é o que melhor d escreve o Notícias, apesar gens, d e representações, que poder:.io o u n âo produzir e fe itos equi.
d o fo mlatasui gelleris . É um no ticioso, é periódico, faJa de atua.Hda. vale ntes no processo de recepção e consu mo .
des. E o jo rnaJ, no contexto da educaçáo popular, implanta a ima. Vou tomar como eixo a classificação de modaJização d a enuncia-
gem d e um receptor interessado em se info rmar, em sa.ber o que há ção p roposta por Pinto e aí buscar reconhecer os dispositivos singu-
de novo; e a de um emissor qualificado O suficiente pa.ra atender ta.l lares anaJisados. Pinto discrimina seis modalidades e advene que
necessidade, que está presente e m muitos lugares e toma conheci- dificilme nte um texto opera com uma delas isoladame nte. Mesmo
mento de mui tas coisas, que conhece a realidade e m que vive o re- um só enunciado pode aprese ntar várias modalidades, conforme o
ceptor. número d e enunciadores. Pode-se, porém, perceber a d o minância
Seu texto contraponto. Histó rias, constrói inequivoca.me nte d e uma sob re as o utras , oque termina pordar o "to m" do discurso.
um rece ptor-modelo atrasado, tradicio nal e igno rante , mas aberto A modalidade diretiva tem "como objetivo tentar que o recep-
para apre nde r e experimentar o novo. Essa é a imagem dos enuncia- tor tenha, no futuro , o comportamento expresso pelo estado de cai.
d o res, "peque nos agriculto res-modelos·' cuja experiência é relatada. sas ao qual nele se faz alusão" (1 993: 92) . Sua eficácia depende
O PTA de no mina seu impresso de "caderno", no me que tradicional- muito das relações ante riores entre emissor e rece ptor, o u seja, de-
mente d es igna um objeto escolar d e escrita. não d e leitura. Q uanto pendem da cena social concreta c próxima em que se inscrevem.
ao gênero, enquadra·se no da cartilha, embora tenha tentado aproxi- Está afeta, pois, à legitimidade diSCUrs iva p ré.cons truída. Perguntas,
mar-se dos gêneros populares de relato. Seu receptor é representa·

'" 211
interpelaçõcs, vocativos, o uso das 2a e 3" pessoas da conjugação ver- quele momento, r!.-"Con hecido seu poder de produzir enunciados que
bal (ru e ,-ocê) são marcas possÍ\'eis dessa modalidade. são a expressão d:1 realidade, negando esse JXKIcr ao inreriocutor" (p.
A modalidade declarativa , ao COntrário, diz respeito à autori- 101). A impessoaliz:tção é caracte rís tica desse modo de enunciar, as-
dade discursiva . Um discurso autorizado é aquele produzido por sim como os disçur.iOS relarados c as perguntas que não criam um es-
pessoas cuja posição social lhes confere o direito e o poder de pro- paço de respostas .
duzir textOS que são aceitos como reprodução fiel da realidade. O lu-
g:u discursivo (central, sempre) do e missor é fundamental nessa
A Igreja e as relaçóes diSCllrsivas co", o roceplur
modalidade.
A mod:didade representativa "consiste em assumir, perante o
receptor, a responsabilid:lde sobre a provável verdade dos estados Cooperativismo é um texto típico da mescla de modalidades, o
de coisas descritas nos cnundados" (p. 85) . O emissor avaliza o que que é narural, dado às suas condições de produção: seus emissores,
esd dize ndo (e de novo ganha importância sua legitimidade para tendo a autoridade discursiva da Igreja, associam-se a .núcleos c te-
isso), mas não reivindica O poder d e estar dizendo a verdade, ou de máticas que necessitam construir continuamente sua legitimidade.
ter a palavra final. Reconhece, por conseguinte, o direito do outro de Daí pode.- Scr classificado como declarativo , se conectarmos o uso
contestá-lo, compartilhando um pouco seu poder discursivo. intenso de expressões afim1ativas (verbos no presente do indicativo,
A modalidade compromissiva é marcada pelo compromisso do principalmenre o "ser") ao seu poder discursivo que emana da cena
emiSSor em tomar verdadeiro no fururo aquilo que afirma. "Um tex- social.
to compromissivo é a tradução dos vários graus de poder e controle A C(l()pcra lit'O é 11111 Inslru/lle/llo ... O ubfrlivo d e II/IIil CQQpcra/ilJtlll/Ju é... ( p .
que o e miSSOr pretende ter sobre a determinação do estado de coi- 28)
sas futuro " (p. 105). O texto compromissivo está sempre, mais que
os outros, buscando a adesão do receplor e o emissor se obriga a No entanto, é também declaralivo-represen/ativo: os em isso-
ho nrar compromissos, sob pena de sanções. O uso da 1" pessoa e d e res usam sua auroridade para aV:lliZ:lr O que estão expondo - tantO a
verbos no fururo ou que expressam compromissos ou oferecimen- "análise de conjuntura" como a proposta de ação -, mas não conce-
tos são algumas das possibilidades de conslJ'uls-ão dessa modalidade . dem o direito de interlocução aos d estinatários. As perguntas já têm
A modalidade expressiva implica a intençao de expressar afeto respostas, os d iscursos são relatados, os e missores são intérpretes
o u juízos de valor sobre um estado de coisas, discursos ou mes mo d os anseios e de sejos dos receptores. O recurso à l a pessoa é típico
sobre os atores sociais. O emissor esperd que o receptor ratifique (e da declarativa, a intensa argumenração polí:mi"'"a (que serJ. trdtada
amentique) o expresso, condição de validade do seu e nunciado . mais adiante) é própria da modalidade represem3tiva.
Substantivos, adjetivos, .verbos ou advé rbios que expressam afetivi· Também pode ser identificada uma diretlvldac/e , no semido
dade ou valores são marcas possívcis . As dicotomias colocadas e m que se quer induzir os receptores a adotarem determinado procedi-
cena em geral o são por meio dessa modalidade (novo/1.·elho, peque- mento. Aliás, toda a abordagem da canilha é persuasiva, embom se
no/grande , etc .). proponha apenas a info rmar. Mas mio usa recursos lingüís ticos quc
A última d as modalidades aqui cons ideradas é uma associação ampli:lri,un suas chances, como o uso de interpelaçõcs e de uma Iin·
de duas o utras : é adeclaraUvo-representaliva. ·' POresse tipo de mo- guagem coloquial direta com o receptor. Pelo COntrário, fala d ele e
d alização enunciativa, o emissor, enquanro represenra o papel de não com e le.
quem procura explicitamente assumir a responsabilidade sobre a Cooperativismo mOStm-se também sumamente e~pressivo , lan-
verdade d os estados de coisas que dcscreve, utiliza essa explicitação to pelo uso de adjetivos iforte,juslo) como de substantivos cuja cono-
como uma forma estratégica de ter a última palavra, isto é , te .-, na- tação mor.ll t! pré-conSlntída (altenUJlilXl, il/lennediário) . A rede
sêmica é. fundamcnt:11 nessa construção. É por meio dessa modalida·

m 2ll
interpelaçõcs, vocativos, o uso das 2a e 3" pessoas da conjugação ver- quele momento, r!.-"Con hecido seu poder de produzir enunciados que
bal (ru e ,-ocê) são marcas possÍ\'eis dessa modalidade. são a expressão d:1 realidade, negando esse JXKIcr ao inreriocutor" (p.
A modalidade declarativa , ao COntrário, diz respeito à autori- 101). A impessoaliz:tção é caracte rís tica desse modo de enunciar, as-
dade discursiva . Um discurso autorizado é aquele produzido por sim como os disçur.iOS relarados c as perguntas que não criam um es-
pessoas cuja posição social lhes confere o direito e o poder de pro- paço de respostas .
duzir textOS que são aceitos como reprodução fiel da realidade. O lu-
g:u discursivo (central, sempre) do e missor é fundamental nessa
A Igreja e as relaçóes diSCllrsivas co", o roceplur
modalidade.
A mod:didade representativa "consiste em assumir, perante o
receptor, a responsabilid:lde sobre a provável verdade dos estados Cooperativismo é um texto típico da mescla de modalidades, o
de coisas descritas nos cnundados" (p. 85) . O emissor avaliza o que que é narural, dado às suas condições de produção: seus emissores,
esd dize ndo (e de novo ganha importância sua legitimidade para tendo a autoridade discursiva da Igreja, associam-se a .núcleos c te-
isso), mas não reivindica O poder d e estar dizendo a verdade, ou de máticas que necessitam construir continuamente sua legitimidade.
ter a palavra final. Reconhece, por conseguinte, o direito do outro de Daí pode.- Scr classificado como declarativo , se conectarmos o uso
contestá-lo, compartilhando um pouco seu poder discursivo. intenso de expressões afim1ativas (verbos no presente do indicativo,
A modalidade compromissiva é marcada pelo compromisso do principalmenre o "ser") ao seu poder discursivo que emana da cena
emiSSor em tomar verdadeiro no fururo aquilo que afirma. "Um tex- social.
to compromissivo é a tradução dos vários graus de poder e controle A C(l()pcra lit'O é 11111 Inslru/lle/llo ... O ubfrlivo d e II/IIil CQQpcra/ilJtlll/Ju é... ( p .
que o e miSSOr pretende ter sobre a determinação do estado de coi- 28)
sas futuro " (p. 105). O texto compromissivo está sempre, mais que
os outros, buscando a adesão do receplor e o emissor se obriga a No entanto, é também declaralivo-represen/ativo: os em isso-
ho nrar compromissos, sob pena de sanções. O uso da 1" pessoa e d e res usam sua auroridade para aV:lliZ:lr O que estão expondo - tantO a
verbos no fururo ou que expressam compromissos ou oferecimen- "análise de conjuntura" como a proposta de ação -, mas não conce-
tos são algumas das possibilidades de conslJ'uls-ão dessa modalidade . dem o direito de interlocução aos d estinatários. As perguntas já têm
A modalidade expressiva implica a intençao de expressar afeto respostas, os d iscursos são relatados, os e missores são intérpretes
o u juízos de valor sobre um estado de coisas, discursos ou mes mo d os anseios e de sejos dos receptores. O recurso à l a pessoa é típico
sobre os atores sociais. O emissor esperd que o receptor ratifique (e da declarativa, a intensa argumenração polí:mi"'"a (que serJ. trdtada
amentique) o expresso, condição de validade do seu e nunciado . mais adiante) é própria da modalidade represem3tiva.
Substantivos, adjetivos, .verbos ou advé rbios que expressam afetivi· Também pode ser identificada uma diretlvldac/e , no semido
dade ou valores são marcas possívcis . As dicotomias colocadas e m que se quer induzir os receptores a adotarem determinado procedi-
cena em geral o são por meio dessa modalidade (novo/1.·elho, peque- mento. Aliás, toda a abordagem da canilha é persuasiva, embom se
no/grande , etc .). proponha apenas a info rmar. Mas mio usa recursos lingüís ticos quc
A última d as modalidades aqui cons ideradas é uma associação ampli:lri,un suas chances, como o uso de interpelaçõcs e de uma Iin·
de duas o utras : é adeclaraUvo-representaliva. ·' POresse tipo de mo- guagem coloquial direta com o receptor. Pelo COntrário, fala d ele e
d alização enunciativa, o emissor, enquanro represenra o papel de não com e le.
quem procura explicitamente assumir a responsabilidade sobre a Cooperativismo mOStm-se também sumamente e~pressivo , lan-
verdade d os estados de coisas que dcscreve, utiliza essa explicitação to pelo uso de adjetivos iforte,juslo) como de substantivos cuja cono-
como uma forma estratégica de ter a última palavra, isto é , te .-, na- tação mor.ll t! pré-conSlntída (altenUJlilXl, il/lennediário) . A rede
sêmica é. fundamcnt:11 nessa construção. É por meio dessa modalida·

m 2ll
I"n/IU A .... lijo A _Vl't"Ui(o do olhar

de que são colocadas em cena as dicotomias que funcionam como eixo cursiva atual, confundindo·a com a anterior; 2) se o tema fosse ou-
axiológico da argumentação: lucro;bem-estar comum, individuaJicole- tro, que implicasse vantagens ou sanções concretas e não apenas de
tiva, sistema/alternativo, crise/solução, dominaçãoJindepe ndência, ca- o rdem ética ou mOml. Esse é o texto mais monolítico dos analisados
pitalismo/cooperativismo cristão . no que toca às modalidades da enunciação. Ele é tão diretivo que
Tomemos seu texto contraponto, o Terra Prometida . Por um não se deixa pemlear por outras modalidades . O receptor deve se-
lado, ele é mais declarativo ; é em si um discurso da hierarquia cat6- guir suas prescrições e par:t tanto , convoca:
IiC;I , é a palavra dos bispos e d eixa isso bem claro, mio h:i o que discu-
Companheiros, vam os ti lUla! (p. I ),
t.ir. Mas abre espaços de interlocução, no momento em que propõe
questões a serem discutidas nos grupos de leitura, o que me faz c1as- prescreve:
sificá·lo como representativo. I'or o utro lado, se não fosse seu poder Cumo se faz a fl1'gQ"izaçtfo oon flmilárla: (p. 4) ,
decl:arativo, diria que ele é um texto basicamente cOrllfJromissivo.
faJade um futuro . assume compromissos, é como se dissesse "as coi· delemlina:
sas vão mudar, os bispos garantem e Deus assim o quer". Mas a dire· Quem ViL'!' so..-i"bo lUiQ ajuda. nem lxx/e Sff ajtultulo! (p . 2).
tividade entra logo em cena: kpar.t que isso se concretize é preciso
que você, receplor, viva solidariamente" . Mesmo assim, ainda se pode encontrar alguns enunciados com·
promissivos. que são justamente aqueles onde o emissor e o sujeito
~"$ é u[itu!u,-que garamedarcertQ todo Q bem que age/ltc scjullla parafa·
:xr (r. 92). da enunciação se bipartem , expondo sua ambigüidade identitária,
como este :
Quem quiser eme"der melbor com o ti ge"te defJe vifler de llcQrdQoom o q/lerer
de Deus. procure adquirir o IifJrl..lx,. (... ) (p. 93) Nós tamWm f/Um os ajuf/ar. (p. 4)

Para culminar, é um texto fundament.tlmeme expressiuo, apeian· Pereiras também não é um tt=Xto plural, mas num sentido dia·
do-se em juÍ7.os de valor pré-construídos, mas reforçados rigorosa· metralmente opoStO ao a nterior. Fora a modalidade expressiva, que
meme por toda a rede sêmica e pela reiterada "análise de conjunrura" . está presente em todos (à exceção de Programa), ele se enquadra
A pobreza é apresentada como valor positivo, a democracia é idealiza· melhor no modo representativo de ser. Os grandes espaços em
da como frate rnidade e assim por diante. branco que habitam O te xtO, o recurso à fala d os enunciadores (dis-
É possível que, nesse caso, as c-.tractensticas das pessoas que faziam curso direto) e :1 própria eSlrutura de reflexão e questionamento
a comunidade discursiva respons;ívd pelo re.."to tenham lhe dado esse com que os sujeitos da enunciação conduzem sua fala me levam a
caráter p lural, quando seu destino poderia ser o dos textos fechados e afirmar isso. A construção de um emissor fortíssimo , do minante em
tacllati"Qs como os que emanam d e fontes autorizadas. Em (.'OIUr'.Iparti· todos os .st:ntidos, é assim contraposta a uma partilha potenci::tl do
d'l, Cooperativismo, mesmo sendo um texto que negocia mais o senti- poder discursh·o. Não se impõe. não direciona, náo se compromete:
do e cujo emiSSOf" goza de menos autoridade discursiva (se comparado apt!nas relata.
à CNBB), não resistiu à tent".tçio de produzir um texto no qual predo-
minam OS recursos de afinnaçio dessa aUloridade.
As ONGs e as relflçOOs dhcfU3;it:as ao desU"atdr/o

o EstadQ t' a s rt'laç6es dlscur$llJ{lS com o recepwr


o Notícias também me parece um textO represe,uativo, mas
não exclusivamente. Tal como o anterior, joga com os espaços em
Programa poderia scr considerado um discurso declarativo se: branco (espaços de inte rlocução) e utiliza a voz dos e nunciadores
I) o emissor não tivcsscdescaracterizado sua própria identidade dis- pelo discurso di.reto. Mas também é, de certa fonna, declarativo. A

n. 215
I"n/IU A .... lijo A _Vl't"Ui(o do olhar

de que são colocadas em cena as dicotomias que funcionam como eixo cursiva atual, confundindo·a com a anterior; 2) se o tema fosse ou-
axiológico da argumentação: lucro;bem-estar comum, individuaJicole- tro, que implicasse vantagens ou sanções concretas e não apenas de
tiva, sistema/alternativo, crise/solução, dominaçãoJindepe ndência, ca- o rdem ética ou mOml. Esse é o texto mais monolítico dos analisados
pitalismo/cooperativismo cristão . no que toca às modalidades da enunciação. Ele é tão diretivo que
Tomemos seu texto contraponto, o Terra Prometida . Por um não se deixa pemlear por outras modalidades . O receptor deve se-
lado, ele é mais declarativo ; é em si um discurso da hierarquia cat6- guir suas prescrições e par:t tanto , convoca:
IiC;I , é a palavra dos bispos e d eixa isso bem claro, mio h:i o que discu-
Companheiros, vam os ti lUla! (p. I ),
t.ir. Mas abre espaços de interlocução, no momento em que propõe
questões a serem discutidas nos grupos de leitura, o que me faz c1as- prescreve:
sificá·lo como representativo. I'or o utro lado, se não fosse seu poder Cumo se faz a fl1'gQ"izaçtfo oon flmilárla: (p. 4) ,
decl:arativo, diria que ele é um texto basicamente cOrllfJromissivo.
faJade um futuro . assume compromissos, é como se dissesse "as coi· delemlina:
sas vão mudar, os bispos garantem e Deus assim o quer". Mas a dire· Quem ViL'!' so..-i"bo lUiQ ajuda. nem lxx/e Sff ajtultulo! (p . 2).
tividade entra logo em cena: kpar.t que isso se concretize é preciso
que você, receplor, viva solidariamente" . Mesmo assim, ainda se pode encontrar alguns enunciados com·
promissivos. que são justamente aqueles onde o emissor e o sujeito
~"$ é u[itu!u,-que garamedarcertQ todo Q bem que age/ltc scjullla parafa·
:xr (r. 92). da enunciação se bipartem , expondo sua ambigüidade identitária,
como este :
Quem quiser eme"der melbor com o ti ge"te defJe vifler de llcQrdQoom o q/lerer
de Deus. procure adquirir o IifJrl..lx,. (... ) (p. 93) Nós tamWm f/Um os ajuf/ar. (p. 4)

Para culminar, é um texto fundament.tlmeme expressiuo, apeian· Pereiras também não é um tt=Xto plural, mas num sentido dia·
do-se em juÍ7.os de valor pré-construídos, mas reforçados rigorosa· metralmente opoStO ao a nterior. Fora a modalidade expressiva, que
meme por toda a rede sêmica e pela reiterada "análise de conjunrura" . está presente em todos (à exceção de Programa), ele se enquadra
A pobreza é apresentada como valor positivo, a democracia é idealiza· melhor no modo representativo de ser. Os grandes espaços em
da como frate rnidade e assim por diante. branco que habitam O te xtO, o recurso à fala d os enunciadores (dis-
É possível que, nesse caso, as c-.tractensticas das pessoas que faziam curso direto) e :1 própria eSlrutura de reflexão e questionamento
a comunidade discursiva respons;ívd pelo re.."to tenham lhe dado esse com que os sujeitos da enunciação conduzem sua fala me levam a
caráter p lural, quando seu destino poderia ser o dos textos fechados e afirmar isso. A construção de um emissor fortíssimo , do minante em
tacllati"Qs como os que emanam d e fontes autorizadas. Em (.'OIUr'.Iparti· todos os .st:ntidos, é assim contraposta a uma partilha potenci::tl do
d'l, Cooperativismo, mesmo sendo um texto que negocia mais o senti- poder discursh·o. Não se impõe. não direciona, náo se compromete:
do e cujo emiSSOf" goza de menos autoridade discursiva (se comparado apt!nas relata.
à CNBB), não resistiu à tent".tçio de produzir um texto no qual predo-
minam OS recursos de afinnaçio dessa aUloridade.
As ONGs e as relflçOOs dhcfU3;it:as ao desU"atdr/o

o EstadQ t' a s rt'laç6es dlscur$llJ{lS com o recepwr


o Notícias também me parece um textO represe,uativo, mas
não exclusivamente. Tal como o anterior, joga com os espaços em
Programa poderia scr considerado um discurso declarativo se: branco (espaços de inte rlocução) e utiliza a voz dos e nunciadores
I) o emissor não tivcsscdescaracterizado sua própria identidade dis- pelo discurso di.reto. Mas também é, de certa fonna, declarativo. A

n. 215
lm'lUa Araújo

autoridade discursiva foi conquistada pela continuidade, por anos a supemcie [exrual ou se es[abelecerem pelo mecanismo da intertex-
fio , de uma prática comunicativa que incluía a circulação permanen- tualidade. As estratégias de concorrência podem ser classificadas em
te de impressos. O próprio Notícias da Gente analisado é o nO 10, e duas espécies : a afi rmação e legitimação de si mesmo e a relação com
seus receptores desenvolveram um h ábito de consumo. Por outro os concorremes, que na prática podem confundir-se, dado o princí-
lado , o PATAC tem legitimidade discursiva na área temática do perió- p io da constituição da identidade pela diferença e numa rede de re-
dico. Disso tudo decorre uma forte possibilidade de o conteúdo do lações . Algumas dessas já foram identificadas nos procedimentos de
seu discurso ser percebldo como a própri:t realidade. Notícias é tam- construção da imagem do emissor e na análise das relaçõcs entre o
bém um texto e.'\pressivo, pela proposta que lhe dá vida: divulgar, eu e o tu discursivos e não serão aqui reromadas explicitamente.
como exemplo , o bom, o louvável, o sadio; mas a rede sêmica partici-
pa dessa modalização, construindo as dicotOmias problema/solução,
Coo peratilJl.çmo _ A polifonia e o dialogislllo em ce/IO
isolamento/ participação, individualismo/cooperação, sistema/altero
nativo, preseme/fururo , que são comuns ao texto do seu contrapon·
to, o Histórias. Sem dúvida, dos textos aqu i analisados Cooperativismo é o
Esse, a meu ver, e nquadra-se na modalidade expressiva e direti- mais polifônico e o que mais polemiza com outros. Ele a rgumema,
va, mas, sobretudo, na dec1arath-o-ret>resentativa. É expressivo, por- mostra, defende, acusa, convoca vários d iscursos para legitimar-se,
que trabalha basicamente sobre juízos de valor. Como o PATAC, seu enfim reconhece e expõe a pluralidade social e assume a concorrên-
objetivo é axio16gico, o que o (Orna um texto inerentemente expres- cia discursiva. Seus principais concorrentes são os discursos capita-
sivo. É diretivo , porque joga todos seus recursos estratégicos no sen- lista e socialista sobre o cooperativismo, aos quais ele contra põe o
tido de obter dos receptores a atitude de considerar os atos que do cooperativismo c ristão. Seus principais aliados são o discurso da
preconiza como adequados e interessantes. Mas é declarativo.repre- hierarquia ca[ólica e o seu próprio discurso anterior, supostamente
sentativo porque nega o interlocutor, apropria·se de sua fA la para já legitimado pelos destinatários . Vejamos como ele articula essa po-
dela construir um simulacro, e por não compart ilhara poder discur· lêmica.
sivo que detém nessa relação. A palavra final é sua, ou dos enuncia· Cooperativismo não exclui nem silencia os discursos concorren-
dores que põe e m cena e que são uma repres~ntação de si mesmo. tes: ele os desqualifica. Está assim a dizer: "o lhem o inimigo , a repre-
sentação do Mal , cuidado com ele !"" As páginas 12 a 15 descrevem e
o - As relações de concorrência discursiva comentam as duas visões recusadas : a socialista e a capitalista. A rela-
ção com e las é diferenciada, o que pode ser explicado pelo passado
Há muitos modos de se concorrer no me rcado simbólico e os receme , no qual se defendia e se reivindicava a bandeira do socialis-
discursos trazem as marcas das opçóes mais características das co- mo. Na nova conjuntura "pós-muro de Berlim ", há que ir com pru-
munidades que os produzem. Em cada espaço discursivo64 estabele- dência na trans ição de ideologias. Então, adjetiva com cuidado:
ce-se uma concorrência pela supremacia discursiva em relação a um OI socialistas IIt6plcw, atl",de.<'1"e sunha vam muito alto; 011 . .. um projeto
público detenninado, que implanta relações polêmicas e ntre os dis- imaginário de lima flova sociedade;
cursos em questão. Essas relações podem estar nas marcas visíveis da
ou ainda
1:"55a era a opillião de afguIII social/stas. (p. 12)
64 Adoto o co nceito d e "es paço di Sl."U rs ivo" proposto por Malngu e neau ( 1993,
116-7), que o define l.vm o um reco rte de um dado Clmpo di scursi~'o que con- O "alguns" deixa a brecha para admitir que há "outros", que se
s idera as fonna~tlCs tliSC ursi vas que mantê", retaçõe5 privilegiada5 para a deve considerar (temos aqui um implícito, muito freqüente nesse
compreensã o dos d l5Cllr5ru consüleraflo5. O u mpo (;. o conjunto mai o r da s
formaçõcs que se encomrnm em relação de concorrência. texto). Esses outros são convocados para criticar os anteriores e a ler-

231
'"
lm'lUa Araújo

autoridade discursiva foi conquistada pela continuidade, por anos a supemcie [exrual ou se es[abelecerem pelo mecanismo da intertex-
fio , de uma prática comunicativa que incluía a circulação permanen- tualidade. As estratégias de concorrência podem ser classificadas em
te de impressos. O próprio Notícias da Gente analisado é o nO 10, e duas espécies : a afi rmação e legitimação de si mesmo e a relação com
seus receptores desenvolveram um h ábito de consumo. Por outro os concorremes, que na prática podem confundir-se, dado o princí-
lado , o PATAC tem legitimidade discursiva na área temática do perió- p io da constituição da identidade pela diferença e numa rede de re-
dico. Disso tudo decorre uma forte possibilidade de o conteúdo do lações . Algumas dessas já foram identificadas nos procedimentos de
seu discurso ser percebldo como a própri:t realidade. Notícias é tam- construção da imagem do emissor e na análise das relaçõcs entre o
bém um texto e.'\pressivo, pela proposta que lhe dá vida: divulgar, eu e o tu discursivos e não serão aqui reromadas explicitamente.
como exemplo , o bom, o louvável, o sadio; mas a rede sêmica partici-
pa dessa modalização, construindo as dicotOmias problema/solução,
Coo peratilJl.çmo _ A polifonia e o dialogislllo em ce/IO
isolamento/ participação, individualismo/cooperação, sistema/altero
nativo, preseme/fururo , que são comuns ao texto do seu contrapon·
to, o Histórias. Sem dúvida, dos textos aqu i analisados Cooperativismo é o
Esse, a meu ver, e nquadra-se na modalidade expressiva e direti- mais polifônico e o que mais polemiza com outros. Ele a rgumema,
va, mas, sobretudo, na dec1arath-o-ret>resentativa. É expressivo, por- mostra, defende, acusa, convoca vários d iscursos para legitimar-se,
que trabalha basicamente sobre juízos de valor. Como o PATAC, seu enfim reconhece e expõe a pluralidade social e assume a concorrên-
objetivo é axio16gico, o que o (Orna um texto inerentemente expres- cia discursiva. Seus principais concorrentes são os discursos capita-
sivo. É diretivo , porque joga todos seus recursos estratégicos no sen- lista e socialista sobre o cooperativismo, aos quais ele contra põe o
tido de obter dos receptores a atitude de considerar os atos que do cooperativismo c ristão. Seus principais aliados são o discurso da
preconiza como adequados e interessantes. Mas é declarativo.repre- hierarquia ca[ólica e o seu próprio discurso anterior, supostamente
sentativo porque nega o interlocutor, apropria·se de sua fA la para já legitimado pelos destinatários . Vejamos como ele articula essa po-
dela construir um simulacro, e por não compart ilhara poder discur· lêmica.
sivo que detém nessa relação. A palavra final é sua, ou dos enuncia· Cooperativismo não exclui nem silencia os discursos concorren-
dores que põe e m cena e que são uma repres~ntação de si mesmo. tes: ele os desqualifica. Está assim a dizer: "o lhem o inimigo , a repre-
sentação do Mal , cuidado com ele !"" As páginas 12 a 15 descrevem e
o - As relações de concorrência discursiva comentam as duas visões recusadas : a socialista e a capitalista. A rela-
ção com e las é diferenciada, o que pode ser explicado pelo passado
Há muitos modos de se concorrer no me rcado simbólico e os receme , no qual se defendia e se reivindicava a bandeira do socialis-
discursos trazem as marcas das opçóes mais características das co- mo. Na nova conjuntura "pós-muro de Berlim ", há que ir com pru-
munidades que os produzem. Em cada espaço discursivo64 estabele- dência na trans ição de ideologias. Então, adjetiva com cuidado:
ce-se uma concorrência pela supremacia discursiva em relação a um OI socialistas IIt6plcw, atl",de.<'1"e sunha vam muito alto; 011 . .. um projeto
público detenninado, que implanta relações polêmicas e ntre os dis- imaginário de lima flova sociedade;
cursos em questão. Essas relações podem estar nas marcas visíveis da
ou ainda
1:"55a era a opillião de afguIII social/stas. (p. 12)
64 Adoto o co nceito d e "es paço di Sl."U rs ivo" proposto por Malngu e neau ( 1993,
116-7), que o define l.vm o um reco rte de um dado Clmpo di scursi~'o que con- O "alguns" deixa a brecha para admitir que há "outros", que se
s idera as fonna~tlCs tliSC ursi vas que mantê", retaçõe5 privilegiada5 para a deve considerar (temos aqui um implícito, muito freqüente nesse
compreensã o dos d l5Cllr5ru consüleraflo5. O u mpo (;. o conjunto mai o r da s
formaçõcs que se encomrnm em relação de concorrência. texto). Esses outros são convocados para criticar os anteriores e a ler-

231
'"
I ....~i(a Araüjt:>

tar para O risco de o cooperativismo apresentar sintomas do capita- O quadro da página 15 associa o capitalis mo a um saco com di-
lismo. Sua palavra é, no c ntanto, rdat'a da e explicada pelO sujeito da nheiro e às paJavr.tS "dominaçao" e "'exploração". O emissor está li ,
enunciação: firm e, protegendo o leitor:
SegU IU/O clf!~, () cooperatllll$ll/(J tem fml(l cQ/Ilradlçiio (... ) O que 's/o quer di· Sabemos que... Vejamos ....
zer? (p. 13)
O último parágrafo é exemplar das estratégias:
Q uem ganha direito a voz é Karl Marx, até agorol acima de qu:Ll-
Do /1O"to de vfsta dus (apitalisuu. fi t;uufWrati,rlslI/o mIo :;ig"ifica a supera·
quer detr.llação: o que se passou de errado não teria s ido por sua rdo desse sIstema. Elllretalllo (espere1o cooper.lli\ismo n:.u é assim ,:l,o mau).
culpa, mas por desvios de alguns seguidores. o cooperativismo twm organizado e cum a jmrticlpaft'Jo dos trabalhadores
tonla's" rmta II/(melm mai:;jusla d g vfwr"o (oplwllsmu. (p. 16)
Por oull'f) lado (conlrap(H:·se. pois). o grlwde est"dio:;o c penStU/or (valores
posillvo~) Karl Marx IJ(I/ dizer (aqui c agora. de {, atuaV () segui"t".
Esses concorrentes vão ser mencionados explicitame nte ainda
Mas O e missor ainda intervém nessa rala: e m ouu'as ocasiõcs . Uma delas, no comexto da explicação sobre a
" 3~ via". Servindo-se da autorid:lde discursiva do papa, afimla que
Marx quer d/amar a alellf(lo de quc o cuuperatilli:;mo W. é IJiállf!1 H. (condi·
çôa d e) eXISllr fmr grande ",u/irôo dOSlrolwlbadOrf!S eq ..e tQf/ruportlcfpem
e le denom ina (no presente, embora o papa seja Paulo VI) o capita-
cla cooperativa. (p . 12-3) lismo como 11m sistema nefasto. Q uanto ao socialis mo, é o bjeto de
o utro procedimento discursivo que chama atenção. Ao criticá·lo , o
Aqui se observa O início de um fenô meno discursivo que é mar- emissor assume formas de defesa contra a possível negação do.scu
canle e m todo o texto: :l rede dos cód igos st:micos entrA e m ação discurso anterior. Faz ressalvas:
sempre que o conteudo é o das idéias defendidas e desaparece quan-
O socfaltsmo - e aqui se refere à c)."/X?rléllCÚl CO Plcrcta sal/létiCfl (além de reli·
do está em cena o discurso concorrente, o u o discurso com o qual o ~ ~I\'ar. exim.;·sc dI,: rt: $ponsahi1i(\ades. lmpcssoalJz~ndo ~ enu nciação) . .• aOSl!r
emissor tem dificu ldade de se comprometer, como veremos adiante. comra os erros do atpitalisnw... (i:. pol1l0 a favor. de tambtm f ant1l;lIpÍlalis-
O sujeito da e nunciação não abandona a cena nunca. Intercala laj ... também p ratico. os seus. VeftllllOS resumido mel/te.
seu próprio discurso amiúde com os que combate.
E, num parágr.tro só, sintetiza o que seria o socialismo. em ter·
Um (mlrofato Cf"" chamamOS Ole"çd o... (1'1. 13) mos herméticos e num nível de abstração incompatíveis com o estilo
da cartilha, concreto e coloquial. São trechos :
Ele é o maestro c dessa taref.l n:io abre mão. Apresenta, no meia,
classifica, determina o que é realidade e o que é uto pia e por fim con- Com u slsterll" o socialismo trad//z a primazia do sociai subre a pessoa ( ...)
Esta Ira"sjon"açt'Jo é Jeita utrOi>és da olfe1ltlfdo da liberdade fio povo... (p.
clui :
17)
Pora conclufr, pode·se afirmar qu .. a I/IslIo socialista era (c~d ultmpa5$ada)
deq//(!... (p. 14) É possível que tal discrepância seja uma estratégia de dificultar
o entendimento , o u fruto de disputas de sentido no âmbito interno
Já O capilalismo é inimigo tradicional . Contra e le há uma anna da equipe de elabor;u;ão d o texto, o u quem sabe as duas.
poderosa, os pré-construídos do discurso anterior do emissor, plenos A indeterminação gramatic:Ll ocorre e m o utros momentos do
de valor.aç.1o moral e polítiet: o d iscurso fundador, que cria a legitimida. textO relacio nados com O socialis mo , como em
de do arual. "Os capitalistaS~ rem sentido equivalente a ~os demôruos~,
não precisa ser explicado, Já está supoStamente dado na consciência ... pode·se afirmar qlle a visdo StH:lulista era ... (p . 14)
dos destinatários .
.. . surgiu, 110 visdo dus #;Ilpitalistas, Q cooperativismo oomo lima júmlllla ...
. .. Os co.pltalislO$ ermmdiom os cOU/X'ralil-'Q.S... ( p . 15)

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I ....~i(a Araüjt:>

tar para O risco de o cooperativismo apresentar sintomas do capita- O quadro da página 15 associa o capitalis mo a um saco com di-
lismo. Sua palavra é, no c ntanto, rdat'a da e explicada pelO sujeito da nheiro e às paJavr.tS "dominaçao" e "'exploração". O emissor está li ,
enunciação: firm e, protegendo o leitor:
SegU IU/O clf!~, () cooperatllll$ll/(J tem fml(l cQ/Ilradlçiio (... ) O que 's/o quer di· Sabemos que... Vejamos ....
zer? (p. 13)
O último parágrafo é exemplar das estratégias:
Q uem ganha direito a voz é Karl Marx, até agorol acima de qu:Ll-
Do /1O"to de vfsta dus (apitalisuu. fi t;uufWrati,rlslI/o mIo :;ig"ifica a supera·
quer detr.llação: o que se passou de errado não teria s ido por sua rdo desse sIstema. Elllretalllo (espere1o cooper.lli\ismo n:.u é assim ,:l,o mau).
culpa, mas por desvios de alguns seguidores. o cooperativismo twm organizado e cum a jmrticlpaft'Jo dos trabalhadores
tonla's" rmta II/(melm mai:;jusla d g vfwr"o (oplwllsmu. (p. 16)
Por oull'f) lado (conlrap(H:·se. pois). o grlwde est"dio:;o c penStU/or (valores
posillvo~) Karl Marx IJ(I/ dizer (aqui c agora. de {, atuaV () segui"t".
Esses concorrentes vão ser mencionados explicitame nte ainda
Mas O e missor ainda intervém nessa rala: e m ouu'as ocasiõcs . Uma delas, no comexto da explicação sobre a
" 3~ via". Servindo-se da autorid:lde discursiva do papa, afimla que
Marx quer d/amar a alellf(lo de quc o cuuperatilli:;mo W. é IJiállf!1 H. (condi·
çôa d e) eXISllr fmr grande ",u/irôo dOSlrolwlbadOrf!S eq ..e tQf/ruportlcfpem
e le denom ina (no presente, embora o papa seja Paulo VI) o capita-
cla cooperativa. (p . 12-3) lismo como 11m sistema nefasto. Q uanto ao socialis mo, é o bjeto de
o utro procedimento discursivo que chama atenção. Ao criticá·lo , o
Aqui se observa O início de um fenô meno discursivo que é mar- emissor assume formas de defesa contra a possível negação do.scu
canle e m todo o texto: :l rede dos cód igos st:micos entrA e m ação discurso anterior. Faz ressalvas:
sempre que o conteudo é o das idéias defendidas e desaparece quan-
O socfaltsmo - e aqui se refere à c)."/X?rléllCÚl CO Plcrcta sal/létiCfl (além de reli·
do está em cena o discurso concorrente, o u o discurso com o qual o ~ ~I\'ar. exim.;·sc dI,: rt: $ponsahi1i(\ades. lmpcssoalJz~ndo ~ enu nciação) . .• aOSl!r
emissor tem dificu ldade de se comprometer, como veremos adiante. comra os erros do atpitalisnw... (i:. pol1l0 a favor. de tambtm f ant1l;lIpÍlalis-
O sujeito da e nunciação não abandona a cena nunca. Intercala laj ... também p ratico. os seus. VeftllllOS resumido mel/te.
seu próprio discurso amiúde com os que combate.
E, num parágr.tro só, sintetiza o que seria o socialismo. em ter·
Um (mlrofato Cf"" chamamOS Ole"çd o... (1'1. 13) mos herméticos e num nível de abstração incompatíveis com o estilo
da cartilha, concreto e coloquial. São trechos :
Ele é o maestro c dessa taref.l n:io abre mão. Apresenta, no meia,
classifica, determina o que é realidade e o que é uto pia e por fim con- Com u slsterll" o socialismo trad//z a primazia do sociai subre a pessoa ( ...)
Esta Ira"sjon"açt'Jo é Jeita utrOi>és da olfe1ltlfdo da liberdade fio povo... (p.
clui :
17)
Pora conclufr, pode·se afirmar qu .. a I/IslIo socialista era (c~d ultmpa5$ada)
deq//(!... (p. 14) É possível que tal discrepância seja uma estratégia de dificultar
o entendimento , o u fruto de disputas de sentido no âmbito interno
Já O capilalismo é inimigo tradicional . Contra e le há uma anna da equipe de elabor;u;ão d o texto, o u quem sabe as duas.
poderosa, os pré-construídos do discurso anterior do emissor, plenos A indeterminação gramatic:Ll ocorre e m o utros momentos do
de valor.aç.1o moral e polítiet: o d iscurso fundador, que cria a legitimida. textO relacio nados com O socialis mo , como em
de do arual. "Os capitalistaS~ rem sentido equivalente a ~os demôruos~,
não precisa ser explicado, Já está supoStamente dado na consciência ... pode·se afirmar qlle a visdo StH:lulista era ... (p . 14)
dos destinatários .
.. . surgiu, 110 visdo dus #;Ilpitalistas, Q cooperativismo oomo lima júmlllla ...
. .. Os co.pltalislO$ ermmdiom os cOU/X'ralil-'Q.S... ( p . 15)

218
'"
o suje ilo d a e nunciação, essencialme nte elocutivo, nesses mo- d o inte nliscurso sobre O d iscurso é no ite m e m que se aborda a ques-
mentos apresenta o e nunciado d e forma delocmiva.65 tão do "capital iniciar, que na cooperativa nada mais é que o dinheiro
O utra ocasião ocorre no quadro comparAtivo entre as socieda- d o associado. Nesse pomo , o texto lama-se confuso, sem Huência, e o
des cooperativista e capitalis ta (p. 34), no qual a intervenção do desenho que ilustra a página é o mesmo símbolo do "capitaJ", o arqui-
emissor é contunde nte : :lté o ite m 10, as diferenças são as mes mas inimigo (p. 95) .
que lodos os manuais de cooper4uivis mo apontam. Daí em diante , Com os concorrentes expoStOS e d esqualificados, é ho ra de rea-
entra em cena o discurso o riginaJ dos e missores, em termos antagô- firmar sua condição d e s uperior. E o tex(Q joga duro . Traz a palavra
nicos e dicOlÓmicos. As d ife re nças, que eram de modos de funcion a- da Igreja e do papa:
mento (poder decisório, diStribuiç-J.o dos lucros, e[c.), passam a ser Ao Igreja cO/uidera o r:oopcrot(uis1llQ CO/110 Ilma 3" uPfiiu... (p. 16)
morais. O parad igma do cOOpcr.uivismo não é o conflitual, mas o
O papa Paulo VI. 110 SIlO elldcllca. ..... J)/(III(íI ,II!SSíl 'f/ladro. a dÚlllrina social
d os emissores é, quando se tmta da relação com os outros atOres so-
c:ristã se cQloca ... (p . 17).
ciais, excluídos os trabalhadores. O "velho" discurso "dominante
versus dominado" faz sua reentrada triunfal. São exemplos: A rocunllwdoção da Igrej a ell colltra-se 110 cll c{cllca "'ateret Mag/Slrtl. IlejoãQ
XXJI1. (p. Ia )
Os bel/s pf1rl ellCem aos ctKJpc rmlus(lrabalbadoYf!s x os bel/s pcYfel U:f1m (lOS
emprosar(oslp(lIrOOs. Fortalece a orgalltzuçiiu dus trabalhtulores x cuntrária Recorre à História. relatando a fundação da l a cooperativa, his-
,) orgat/tzaçrJo dus tmhttlhadures.
tória emblemática do espírito d e solidariedade (p . 8-9) . Associa o co-
Um concorrente difere nciado é o discurso do sisrema cooperati. operativismo ao sindicalismo, como organiz;lções de classe . embora
vism . Ocorre :lqui algo muito interessante : como a Igreja não produ· °
distintas. Este é , aliás, antigo discurso da Igreja sobre o cooperati-
ziu seu próprio siste ma, legalizado e com regras de funcionamento , é vismo, no con texto d os anos 60, quando sindicatos e cooperativas
obrigada a recorrer ao sistema COOper,uivisra institucionalizado, que é d e trabalhadon:s rurais foram fundados sob a o rientação catÓlica.67
tipicamente ,capitalis ta . O s is te ma é combatido no plano ideológico e E maneja o seu es paço, ao colocar aquele discu rso no àmbito da l-lis-
retórico, mas subme te·se :lO seu funcio namento. Quando é necessá· [ó ria. "Existe, é impona nre , mas é passado. O presente somos nós."
rio c.xpor suas regras, assume·se uma atitude implícita de "mal neces· Reco rre igualme me ao discurso da lei :
sário": dcsap:lrecc instamaneamente a rede si:mica constn.llo r::1 d e A lei brasileiro ( ...) ,lu que (p. 7);
sentidos c passa·se a ado tar o texto dos documentos do sis re ma, ain·
d a que de fo nu:l n:io lit'cr.lI , o u pelo menos não aspeada.66 Sempre dos técnicos e adminis tradores d e pro jetos, por intermédio d o
que usa as palavras '"empres:l" e "lucro", inevjtá"eis nesse CO ntext O , seu jargão, e.'CtemporÂneo no texto :
recorre às aspas, eximindo-sc de responsabilidades, ou a adjetiva- Um oulro campo de atl/ardo jd (mpJemClllodo Joi o (lo cr&Jitu agricula (p.
ções como "e mpresa difere nte'" e "empresa d e ajuda-mürua'". "Este 47);
não é O me u discurso" , parece dizer. Um OUtro sintoma dessa coação

.,
d os associados d as coope1.ltivas que estão tendo sucesso:
Hd idéias d e se criar... . . . A (/{St;ussãu m(lisJ~~/üellte é ... (p. 50)•
A de!oc\u;!io c a cJocuç:1o fazem parte da m cxJalizoçiiu du cmmdadu, que é "o
lIalor quc u emissor atribui aos csrados de colsO,f que descreve (>/1 alude /!til
SI!/./S /!II/mdrulos elo" (lOS /XIr/iclpallles desse esllld() de mls=". (I'lnto, 199·i:
97). A impcsSQ:di:r.a\;ão (: urn3 das esu-:uégias de modalizaÇ\o da mensagem. P:ara
maiores esclarecime ntos, podl:'~<: ..:onsultar o texto integr.tl. p. 97-138.
67 Por muito tempo o símbol o do coopcr.u ivlsmo foI ~prc:scntado aos c~ m po ne·
66 N ~" neio (IUI: ~J a uma eMratégla Intencio nal , as co ntrad içõc! dessa opção ~cs, nos rrdrulme nlos pro movi d os pe.b Igrej~ em Pe rnambuco. co mo scndo ,
pelo coopcralh';s mo almJ~ c~tio por e mergir na consciência dos e nvolvi dos. os dois pinlx:iros siio li COOperallVll e o slndlcalO, lrmiOs. cingld 05 e unidos
al~m do qu e se conh ece pouco sobre o sistema. pelo círculo, que representa Dt:us.

24' 241
o suje ilo d a e nunciação, essencialme nte elocutivo, nesses mo- d o inte nliscurso sobre O d iscurso é no ite m e m que se aborda a ques-
mentos apresenta o e nunciado d e forma delocmiva.65 tão do "capital iniciar, que na cooperativa nada mais é que o dinheiro
O utra ocasião ocorre no quadro comparAtivo entre as socieda- d o associado. Nesse pomo , o texto lama-se confuso, sem Huência, e o
des cooperativista e capitalis ta (p. 34), no qual a intervenção do desenho que ilustra a página é o mesmo símbolo do "capitaJ", o arqui-
emissor é contunde nte : :lté o ite m 10, as diferenças são as mes mas inimigo (p. 95) .
que lodos os manuais de cooper4uivis mo apontam. Daí em diante , Com os concorrentes expoStOS e d esqualificados, é ho ra de rea-
entra em cena o discurso o riginaJ dos e missores, em termos antagô- firmar sua condição d e s uperior. E o tex(Q joga duro . Traz a palavra
nicos e dicOlÓmicos. As d ife re nças, que eram de modos de funcion a- da Igreja e do papa:
mento (poder decisório, diStribuiç-J.o dos lucros, e[c.), passam a ser Ao Igreja cO/uidera o r:oopcrot(uis1llQ CO/110 Ilma 3" uPfiiu... (p. 16)
morais. O parad igma do cOOpcr.uivismo não é o conflitual, mas o
O papa Paulo VI. 110 SIlO elldcllca. ..... J)/(III(íI ,II!SSíl 'f/ladro. a dÚlllrina social
d os emissores é, quando se tmta da relação com os outros atOres so-
c:ristã se cQloca ... (p . 17).
ciais, excluídos os trabalhadores. O "velho" discurso "dominante
versus dominado" faz sua reentrada triunfal. São exemplos: A rocunllwdoção da Igrej a ell colltra-se 110 cll c{cllca "'ateret Mag/Slrtl. IlejoãQ
XXJI1. (p. Ia )
Os bel/s pf1rl ellCem aos ctKJpc rmlus(lrabalbadoYf!s x os bel/s pcYfel U:f1m (lOS
emprosar(oslp(lIrOOs. Fortalece a orgalltzuçiiu dus trabalhtulores x cuntrária Recorre à História. relatando a fundação da l a cooperativa, his-
,) orgat/tzaçrJo dus tmhttlhadures.
tória emblemática do espírito d e solidariedade (p . 8-9) . Associa o co-
Um concorrente difere nciado é o discurso do sisrema cooperati. operativismo ao sindicalismo, como organiz;lções de classe . embora
vism . Ocorre :lqui algo muito interessante : como a Igreja não produ· °
distintas. Este é , aliás, antigo discurso da Igreja sobre o cooperati-
ziu seu próprio siste ma, legalizado e com regras de funcionamento , é vismo, no con texto d os anos 60, quando sindicatos e cooperativas
obrigada a recorrer ao sistema COOper,uivisra institucionalizado, que é d e trabalhadon:s rurais foram fundados sob a o rientação catÓlica.67
tipicamente ,capitalis ta . O s is te ma é combatido no plano ideológico e E maneja o seu es paço, ao colocar aquele discu rso no àmbito da l-lis-
retórico, mas subme te·se :lO seu funcio namento. Quando é necessá· [ó ria. "Existe, é impona nre , mas é passado. O presente somos nós."
rio c.xpor suas regras, assume·se uma atitude implícita de "mal neces· Reco rre igualme me ao discurso da lei :
sário": dcsap:lrecc instamaneamente a rede si:mica constn.llo r::1 d e A lei brasileiro ( ...) ,lu que (p. 7);
sentidos c passa·se a ado tar o texto dos documentos do sis re ma, ain·
d a que de fo nu:l n:io lit'cr.lI , o u pelo menos não aspeada.66 Sempre dos técnicos e adminis tradores d e pro jetos, por intermédio d o
que usa as palavras '"empres:l" e "lucro", inevjtá"eis nesse CO ntext O , seu jargão, e.'CtemporÂneo no texto :
recorre às aspas, eximindo-sc de responsabilidades, ou a adjetiva- Um oulro campo de atl/ardo jd (mpJemClllodo Joi o (lo cr&Jitu agricula (p.
ções como "e mpresa difere nte'" e "empresa d e ajuda-mürua'". "Este 47);
não é O me u discurso" , parece dizer. Um OUtro sintoma dessa coação

.,
d os associados d as coope1.ltivas que estão tendo sucesso:
Hd idéias d e se criar... . . . A (/{St;ussãu m(lisJ~~/üellte é ... (p. 50)•
A de!oc\u;!io c a cJocuç:1o fazem parte da m cxJalizoçiiu du cmmdadu, que é "o
lIalor quc u emissor atribui aos csrados de colsO,f que descreve (>/1 alude /!til
SI!/./S /!II/mdrulos elo" (lOS /XIr/iclpallles desse esllld() de mls=". (I'lnto, 199·i:
97). A impcsSQ:di:r.a\;ão (: urn3 das esu-:uégias de modalizaÇ\o da mensagem. P:ara
maiores esclarecime ntos, podl:'~<: ..:onsultar o texto integr.tl. p. 97-138.
67 Por muito tempo o símbol o do coopcr.u ivlsmo foI ~prc:scntado aos c~ m po ne·
66 N ~" neio (IUI: ~J a uma eMratégla Intencio nal , as co ntrad içõc! dessa opção ~cs, nos rrdrulme nlos pro movi d os pe.b Igrej~ em Pe rnambuco. co mo scndo ,
pelo coopcralh';s mo almJ~ c~tio por e mergir na consciência dos e nvolvi dos. os dois pinlx:iros siio li COOperallVll e o slndlcalO, lrmiOs. cingld 05 e unidos
al~m do qu e se conh ece pouco sobre o sistema. pelo círculo, que representa Dt:us.

24' 241
entre ourros. Mas, e m nenhum mamemo, abre mão d o se u pa-
pei de emissor onipresente e onisciente: relata, cncampa ou traduz,
mas nunca se ausen ta.
Na argumentação, utiliza extensa mente os concctivospois,por-
tanto e o verbo de ação concluindo. O efeito q ue busca produzir é o
da conclusào lógica, irrecusável (quando consiste, na maioria dos Ci-
SOS, na introduçáo do seu pontO de vista, por vezes desvinculado do
período anterior) . Usa OS verbos no geníndio, quando se refere à sua
própria ação o u ao cooperativismo desejado. Adjetiva aqu ilo que
deve ser ressaltado: forte dinamismo, muita esperança, profunda
discusscio. O sema "novo" acompanha a paJavra "cooperativismo"
sempre que ela é me ncio nada no âmbito do discurso do próprio
emissor. Quando no contexto concorn:nte, aparece vinculada aos
semas que ancoram O se ntido no discurso defendido , por meio dos
co nectivos se, só, afim de que ou c. O 110 entanto introduz as argu-
A L I CAO OOSPEIXES
mentações contrárias. São estrarégias lingüísticas de do mesticação
d o Outro.
Uma das estratégias mais m'U'C'd..Iltes de afinnaçâo da supremacia
discursiva do emissor é a ancoragem do seu discurso atual no anterior,
caracte rizado como de assessor sindical. Com isso, ele reivindica a
mesma legitimidade, reafir ma o compromisso do w novo" cooperativis-
mo com os prinápios antes defendidos, livrAndo-se da carga semânti-
ca política negativa de "cooperativismo" e prmegendo-se de eventuais
"derrapagens" dos sent idos. Faz isso ;uravés da rede sêmica, principaJ-
mc!nte, composta por palavras plenas, típicos pré-construídos. "Pe-
que nos", "comunidade", "aniculaçlio", "trabalhador" t: o utras sáo
toda... palavras cujo sentido fo i exaustivamente cons truído ao lo ngo de
anos a fi o de prática de intervenção social. Mas utiliz., outros expedien-
tes, como o desenho da página 19, rradicionalíssimo recurso visual
Mes mo com toda essa carga de recursos legitimató rios, emis- °
sor ainda se vale da (onna d elocuriva de impessoalizaçiio para atribuir
dos trabalhos de base da Igre ja com a po pulação rural , só equiparAdo
efeitos de fato incontestável às suas afumatiV'AS:
e m valo r pré-co nstruído ao d a página 66 do texto da CNB B (ambos
reproduzidos a seguir, e m tamanho reduzido) . Até mesmo o único l CQPlbecido o fato ... CP. ")
d esenho metafórico , com int'enç:ío de crítica política, típico da cena t IIotÓriU qlll!... (p . 4t1)
anterior, cumpre esse papel. Em tudo isso está presente a imagem do
leitor-modelo, que já te ria sido consumidor dos discursos anteriores E preocupa-se e m polemizar com os discursos de seus pró prios
o u , em Outros tenllOS, participante da cena fundadora . aliados, por divergê ncias internas:
Já ""'II!' CQOperat/~>a reg/Ollal mdo fi= mais diflcll. A/,uJa muls se (... ). A/é
mesmo nos assemblé/as. .. (p . ~)

'4l
entre ourros. Mas, e m nenhum mamemo, abre mão d o se u pa-
pei de emissor onipresente e onisciente: relata, cncampa ou traduz,
mas nunca se ausen ta.
Na argumentação, utiliza extensa mente os concctivospois,por-
tanto e o verbo de ação concluindo. O efeito q ue busca produzir é o
da conclusào lógica, irrecusável (quando consiste, na maioria dos Ci-
SOS, na introduçáo do seu pontO de vista, por vezes desvinculado do
período anterior) . Usa OS verbos no geníndio, quando se refere à sua
própria ação o u ao cooperativismo desejado. Adjetiva aqu ilo que
deve ser ressaltado: forte dinamismo, muita esperança, profunda
discusscio. O sema "novo" acompanha a paJavra "cooperativismo"
sempre que ela é me ncio nada no âmbito do discurso do próprio
emissor. Quando no contexto concorn:nte, aparece vinculada aos
semas que ancoram O se ntido no discurso defendido , por meio dos
co nectivos se, só, afim de que ou c. O 110 entanto introduz as argu-
A L I CAO OOSPEIXES
mentações contrárias. São estrarégias lingüísticas de do mesticação
d o Outro.
Uma das estratégias mais m'U'C'd..Iltes de afinnaçâo da supremacia
discursiva do emissor é a ancoragem do seu discurso atual no anterior,
caracte rizado como de assessor sindical. Com isso, ele reivindica a
mesma legitimidade, reafir ma o compromisso do w novo" cooperativis-
mo com os prinápios antes defendidos, livrAndo-se da carga semânti-
ca política negativa de "cooperativismo" e prmegendo-se de eventuais
"derrapagens" dos sent idos. Faz isso ;uravés da rede sêmica, principaJ-
mc!nte, composta por palavras plenas, típicos pré-construídos. "Pe-
que nos", "comunidade", "aniculaçlio", "trabalhador" t: o utras sáo
toda... palavras cujo sentido fo i exaustivamente cons truído ao lo ngo de
anos a fi o de prática de intervenção social. Mas utiliz., outros expedien-
tes, como o desenho da página 19, rradicionalíssimo recurso visual
Mes mo com toda essa carga de recursos legitimató rios, emis- °
sor ainda se vale da (onna d elocuriva de impessoalizaçiio para atribuir
dos trabalhos de base da Igre ja com a po pulação rural , só equiparAdo
efeitos de fato incontestável às suas afumatiV'AS:
e m valo r pré-co nstruído ao d a página 66 do texto da CNB B (ambos
reproduzidos a seguir, e m tamanho reduzido) . Até mesmo o único l CQPlbecido o fato ... CP. ")
d esenho metafórico , com int'enç:ío de crítica política, típico da cena t IIotÓriU qlll!... (p . 4t1)
anterior, cumpre esse papel. Em tudo isso está presente a imagem do
leitor-modelo, que já te ria sido consumidor dos discursos anteriores E preocupa-se e m polemizar com os discursos de seus pró prios
o u , em Outros tenllOS, participante da cena fundadora . aliados, por divergê ncias internas:
Já ""'II!' CQOperat/~>a reg/Ollal mdo fi= mais diflcll. A/,uJa muls se (... ). A/é
mesmo nos assemblé/as. .. (p . ~)

'4l
Enfim, temos um texto altamente polemista. A cartilha e m si Progn.ma - Narciso e.., /,,'a CUlllru si mesmu
pode ser vist'..l como um atO explíCitO d e concorrência discursiva. Os
e missores vêem-se co m pelidos a participar do nO\'O cen:írio, que in-
clui "obrigato riamente" O cooperativismo e o faze m d efende ndo Programa rambém comrasta com Cooperativismo. É o que eu
(discursiv-..lme nte) seu espaço discursivo antigo, baseado no qual chamaria de um discurso "narcísico", que só põe e m cena ele mes-
procura criar o arual. Tal situaçÃo evoca a afirmação de Bourdieu so- mo : ele ames, quando era oposição, ele d epois, como governo. E aí
bre a cons trução social d as ide ntidades: se dá uma conCOITi! ncia acirrada, um querendo se sobrepor ao o u-
tro. Um deles, o anterio r, d ete rmino u a fo rma "popular" d o impres-
A correlação qlle se pode obsl!nJUr 1111111 dado mome>do elltre as tomadas de
so, fOfalmenre fora d os padrões habituais o fi ciais, ide nrificada com
posição sobre N tC ou lU/lide problema pulitieu e as posições 110 espaço social
só $41 /XXle wmpree"I/er perjeit'ltIHmle $41 se IIOlar qlle as c/asrifieaçóef IItili=lI- OS "jOrnaizinhos" que os jovens po bres nos bairros o u nos s ítios pro-
das (... ) sãu produlo de lodas as lUlas allleriores (...). (1989: 1,6) duzem; o atual produziu OS desenhos esquemáticos que ilustram a
o rganização social d ese jada . O p rime iro implanto u o sloga"
Tcrf:l Promcdda -A Sl:gllnlllça ,Ia palavra autorizada Seca. lima df!cf.<ilo J>olítica

na contracapa, e o segundo completou COm um "cactos-cane-


Cooperativism o é esse ncialmente diferente do texto que lhe ta", que evoca o atO administrdtivo o u, quem sabe, o povo no rdesti-
serve d e co mmpo mo , o Terra Promelida. a voz aUTorizada da hierar- no no poder. O milirante convocou :
quia católica, que não p recisa disputar com ninguém a supremacia vm'J>tmbeiros, flum w a luta!
discursiva. O que e le critica são as estnlturas sociais econô micas e
agrárias in just'as, dadas como fatos abstr,uos e desvincu lados das ins- e o panido no governo estabeleceu as regras da o rganização co-
tituiçõçs e da prática discursiva institucional. As estratégias mais re- munitária. O amigo Eu n :ci to u a p :uavr.t d e o rdem:
correntcs no textO são, então, as de reafirmação da legitimação da A .mfilo fa;: a força!
CD, por me io d e evocações do seu discurso anterior c da \"Oz da hie-
rarquia . Nos d esenhos: o dos peixes, já citado, emblemático dos ape- e o Eu atual acrescento u :
Ias à o rgan a.ação dos fracos e pequenos (p. 66), o da capa e o d a ,A /lida0 faz m esmu a furça. ( p . 11)
p ágina 82 , já veiculados em o u tros impressos. No uso d o discurso
habitual daque la CD sobre os problem as agrícolas e agrários: A Term Se não há o utros atores o u discursos concorrentes, não é preci-
ê nossa Mãe . (p. 52) . No discul1>o sobre os sindicatos e a Reforma so ulilizac recursos enf.hicos d e argumcm:lção. Não há operadores
Agrária, também pró prio da cena fundad ora. Nos desenhos e cita- textuais, como advérbios o u adje tivos, :1 não ser em quatro ocasiões:
ções d e d . I-Ie lder e d o papa (p . 18 e 50) . O único momentO e m que o s.; emn a cooperação. .. (p. 3),
discurso da CNBB se de ixa permear ocorre no yerso da C"..lpa, que
... pa rticlpar al/vomeute das ali"idades... (p. , c i O)
tr.LZ est:unp:ldo um ma pa do Po lígono das Secas, representado com
todos os recu rsos do discurso técn ico. Talvez isso possa ser explica-
,
d o pela presença do ele me nto "técn ico " no se minário relatado, o u A responsabilidade. a captlc/dtltle ( .. ) sãu mullu Imparllmtes... (p. 7).
pelo desejo de aparentar cientificidade.
todas para reforçar atitudes incemivadas no recepto r.
Os COnectivos também pouco aparccc m. O e mbate entre as
duas faces do emissor prescind iu de instru mentos lingüísticos. O

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Enfim, temos um texto altamente polemista. A cartilha e m si Progn.ma - Narciso e.., /,,'a CUlllru si mesmu
pode ser vist'..l como um atO explíCitO d e concorrência discursiva. Os
e missores vêem-se co m pelidos a participar do nO\'O cen:írio, que in-
clui "obrigato riamente" O cooperativismo e o faze m d efende ndo Programa rambém comrasta com Cooperativismo. É o que eu
(discursiv-..lme nte) seu espaço discursivo antigo, baseado no qual chamaria de um discurso "narcísico", que só põe e m cena ele mes-
procura criar o arual. Tal situaçÃo evoca a afirmação de Bourdieu so- mo : ele ames, quando era oposição, ele d epois, como governo. E aí
bre a cons trução social d as ide ntidades: se dá uma conCOITi! ncia acirrada, um querendo se sobrepor ao o u-
tro. Um deles, o anterio r, d ete rmino u a fo rma "popular" d o impres-
A correlação qlle se pode obsl!nJUr 1111111 dado mome>do elltre as tomadas de
so, fOfalmenre fora d os padrões habituais o fi ciais, ide nrificada com
posição sobre N tC ou lU/lide problema pulitieu e as posições 110 espaço social
só $41 /XXle wmpree"I/er perjeit'ltIHmle $41 se IIOlar qlle as c/asrifieaçóef IItili=lI- OS "jOrnaizinhos" que os jovens po bres nos bairros o u nos s ítios pro-
das (... ) sãu produlo de lodas as lUlas allleriores (...). (1989: 1,6) duzem; o atual produziu OS desenhos esquemáticos que ilustram a
o rganização social d ese jada . O p rime iro implanto u o sloga"
Tcrf:l Promcdda -A Sl:gllnlllça ,Ia palavra autorizada Seca. lima df!cf.<ilo J>olítica

na contracapa, e o segundo completou COm um "cactos-cane-


Cooperativism o é esse ncialmente diferente do texto que lhe ta", que evoca o atO administrdtivo o u, quem sabe, o povo no rdesti-
serve d e co mmpo mo , o Terra Promelida. a voz aUTorizada da hierar- no no poder. O milirante convocou :
quia católica, que não p recisa disputar com ninguém a supremacia vm'J>tmbeiros, flum w a luta!
discursiva. O que e le critica são as estnlturas sociais econô micas e
agrárias in just'as, dadas como fatos abstr,uos e desvincu lados das ins- e o panido no governo estabeleceu as regras da o rganização co-
tituiçõçs e da prática discursiva institucional. As estratégias mais re- munitária. O amigo Eu n :ci to u a p :uavr.t d e o rdem:
correntcs no textO são, então, as de reafirmação da legitimação da A .mfilo fa;: a força!
CD, por me io d e evocações do seu discurso anterior c da \"Oz da hie-
rarquia . Nos d esenhos: o dos peixes, já citado, emblemático dos ape- e o Eu atual acrescento u :
Ias à o rgan a.ação dos fracos e pequenos (p. 66), o da capa e o d a ,A /lida0 faz m esmu a furça. ( p . 11)
p ágina 82 , já veiculados em o u tros impressos. No uso d o discurso
habitual daque la CD sobre os problem as agrícolas e agrários: A Term Se não há o utros atores o u discursos concorrentes, não é preci-
ê nossa Mãe . (p. 52) . No discul1>o sobre os sindicatos e a Reforma so ulilizac recursos enf.hicos d e argumcm:lção. Não há operadores
Agrária, também pró prio da cena fundad ora. Nos desenhos e cita- textuais, como advérbios o u adje tivos, :1 não ser em quatro ocasiões:
ções d e d . I-Ie lder e d o papa (p . 18 e 50) . O único momentO e m que o s.; emn a cooperação. .. (p. 3),
discurso da CNBB se de ixa permear ocorre no yerso da C"..lpa, que
... pa rticlpar al/vomeute das ali"idades... (p. , c i O)
tr.LZ est:unp:ldo um ma pa do Po lígono das Secas, representado com
todos os recu rsos do discurso técn ico. Talvez isso possa ser explica-
,
d o pela presença do ele me nto "técn ico " no se minário relatado, o u A responsabilidade. a captlc/dtltle ( .. ) sãu mullu Imparllmtes... (p. 7).
pelo desejo de aparentar cientificidade.
todas para reforçar atitudes incemivadas no recepto r.
Os COnectivos também pouco aparccc m. O e mbate entre as
duas faces do emissor prescind iu de instru mentos lingüísticos. O

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rIIHlta Maújo A IYCOnveruto do olho~

I'~rt: iros - Uma ação C/llre amtgos


"e", conectivo de coordenação, é o mais usado, Aparece um solitário
"e assim", induzindo a uma dedução lógica:
Precisamus 8arrllllir a pm1;ç;paçc'JU de tQdo$ l! amm, 10"'(lr par/e lIas decl-
Seu contrapontO, Pereiras, é um pouco mais pluralista do que
SÔCS", (p, I ) de. No entanto , tal afirm ação diz respeito à prime ira parte do texto,
em que falam explicitamente os emissores e o "e nunciador-mor" (as-
E O que Programa fez com os adversários, com os discunloS sessor dos emissores) . A segunda pane, em que falam os outros
concorrentes? Simplesmente ignorou-os. Criou o mundo ide"j d e enunciadores ( habitantes d e pereiras), aprcscnla um nh'el diferente
todo emissor, cerrado no circuito e missor-receptor, sem ruídos ne m e muitO rico de polifonia e argumentação polêmica.
riscos d e qualquer espécie, a não ser o da não-adesão ao seu progr:.l- Os emissores, os su jeitos da e nunciação e o enunciador-mor
ma. "Eu e você sozinhos no mundo, você só rem a mim para reco rrer, são hamlônicos entre si. Um legilim:1 o outro, num encadeamento
e u sou sua única saída ," Tal estrutura discursiV".l implica a imagem de lógico bem programado. Marx e a AssQCcnc são convocad os logo na
um recepto r isolado (imagem, aliás, que foi construída por oulros entrada : legitimam :1 visão de cooperação Que se quer passar. A voz
recursos) , sem ourras fomes de comunicação, sem leiluns, sem idéias da sabedoria indígena t3mbém participa do discurso, t razido pelo
próprias, à margem de uma vida social; siruação indese:jada que e le, enunciador-mor:
emissor, sabe e pretende transformar,
Um ;"di" {jUIJ eSllWU 110 debate pwllu a ptllavra pam tli;wr: "a lerra lUla é do
O desenho a seguir reproduzido, em taman ho reduzido, e.xem- homem. O humem t!tltl terra -, (p. 13)
plifica bem a face "governo~ da comunidade discursiva. No entanto .
o te."Cto denuncia a concorrência com a o utra face, uma vez que, após Não hã divergências, mas há dúvidas do enunciado r-mo r e há
deternlinar a composição do conselho comu nitário·pólo, afirma que relatos dos sujeilOS da e nunciação sobre os debates que antecede-
ele "dL-ve" receber apoio do govemo municipaJ (entre o utros). Um ram O livro , São essas dúvidas que põem em cena ourros discursos,
emissor sem ambigüidade afirmaria: "recebe apoio" , sob a fo ml:! de perguntas, quase sempre neutralizadas pela pergunta
subseqüe nte, ou pela segunda alternariV"d:
Co",,- r:L .. n CO"U"'''' ''R , n ~
Nc'Jo lutar por ser tluolO tle term ~ um atraso 011 é 11m desejo de ru;" fazc~ tia
/e~ra lima lIIert:(ul"rlu qIllJk"",r!: Pereiros IIdos(!rla ,.m w nho ( ...)! li se Perei-
ro$fo~a Imagem dofi'lltro? (p. 13)

Essa argumentação e conu-d-argumentação, a presentada como


se fosse um questionamento pessoal, pode ser uma polêmica contra
possíveis ou já sofridas críticas e dúvidas de o utros atores ou núcleos
discursivos. "Ou", "e sc ~, o verbo no futuro do pretérito (seria, esta-
ria) são rcrlll'SQS lingüísticos para f:v..er predominar sua posição. Quan-
do decide assumir claramente seu domínio, os tempos do verbo se
convertem ao presente: Pereiras faz, afirma, fa la, uive. Este é um
tipo de polêmica e orre discursos, não necessariamente entre forma-

o ", .... _ . ' h o c" . y .. r "';;rõ",_".. O.. .; r.,r • •, . ' " ....... o.JuÕ~
r _ pr._."" . ,,~u _ ~~ .. .. 0.1 . ", .. n. _ O~ o c.. _.. n r~ ~r'. de
~.~ r~ .. ~_ " ._G" d .. ""r"'.- ........... r .. ;;~_ 0.1 . . . . .. " . . . . . . . _
.. . "' .... "' O d~ .... ..... ' d .. o.J . . . . . . . . . . . . . . . "' ....... .. p .. , .. ...,..
.. .... õ .. õ . . . O. E ....... O.. .. , .. .. eo.J ...... O.

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rIIHlta Maújo A IYCOnveruto do olho~

I'~rt: iros - Uma ação C/llre amtgos


"e", conectivo de coordenação, é o mais usado, Aparece um solitário
"e assim", induzindo a uma dedução lógica:
Precisamus 8arrllllir a pm1;ç;paçc'JU de tQdo$ l! amm, 10"'(lr par/e lIas decl-
Seu contrapontO, Pereiras, é um pouco mais pluralista do que
SÔCS", (p, I ) de. No entanto , tal afirm ação diz respeito à prime ira parte do texto,
em que falam explicitamente os emissores e o "e nunciador-mor" (as-
E O que Programa fez com os adversários, com os discunloS sessor dos emissores) . A segunda pane, em que falam os outros
concorrentes? Simplesmente ignorou-os. Criou o mundo ide"j d e enunciadores ( habitantes d e pereiras), aprcscnla um nh'el diferente
todo emissor, cerrado no circuito e missor-receptor, sem ruídos ne m e muitO rico de polifonia e argumentação polêmica.
riscos d e qualquer espécie, a não ser o da não-adesão ao seu progr:.l- Os emissores, os su jeitos da e nunciação e o enunciador-mor
ma. "Eu e você sozinhos no mundo, você só rem a mim para reco rrer, são hamlônicos entre si. Um legilim:1 o outro, num encadeamento
e u sou sua única saída ," Tal estrutura discursiV".l implica a imagem de lógico bem programado. Marx e a AssQCcnc são convocad os logo na
um recepto r isolado (imagem, aliás, que foi construída por oulros entrada : legitimam :1 visão de cooperação Que se quer passar. A voz
recursos) , sem ourras fomes de comunicação, sem leiluns, sem idéias da sabedoria indígena t3mbém participa do discurso, t razido pelo
próprias, à margem de uma vida social; siruação indese:jada que e le, enunciador-mor:
emissor, sabe e pretende transformar,
Um ;"di" {jUIJ eSllWU 110 debate pwllu a ptllavra pam tli;wr: "a lerra lUla é do
O desenho a seguir reproduzido, em taman ho reduzido, e.xem- homem. O humem t!tltl terra -, (p. 13)
plifica bem a face "governo~ da comunidade discursiva. No entanto .
o te."Cto denuncia a concorrência com a o utra face, uma vez que, após Não hã divergências, mas há dúvidas do enunciado r-mo r e há
deternlinar a composição do conselho comu nitário·pólo, afirma que relatos dos sujeilOS da e nunciação sobre os debates que antecede-
ele "dL-ve" receber apoio do govemo municipaJ (entre o utros). Um ram O livro , São essas dúvidas que põem em cena ourros discursos,
emissor sem ambigüidade afirmaria: "recebe apoio" , sob a fo ml:! de perguntas, quase sempre neutralizadas pela pergunta
subseqüe nte, ou pela segunda alternariV"d:
Co",,- r:L .. n CO"U"'''' ''R , n ~
Nc'Jo lutar por ser tluolO tle term ~ um atraso 011 é 11m desejo de ru;" fazc~ tia
/e~ra lima lIIert:(ul"rlu qIllJk"",r!: Pereiros IIdos(!rla ,.m w nho ( ...)! li se Perei-
ro$fo~a Imagem dofi'lltro? (p. 13)

Essa argumentação e conu-d-argumentação, a presentada como


se fosse um questionamento pessoal, pode ser uma polêmica contra
possíveis ou já sofridas críticas e dúvidas de o utros atores ou núcleos
discursivos. "Ou", "e sc ~, o verbo no futuro do pretérito (seria, esta-
ria) são rcrlll'SQS lingüísticos para f:v..er predominar sua posição. Quan-
do decide assumir claramente seu domínio, os tempos do verbo se
convertem ao presente: Pereiras faz, afirma, fa la, uive. Este é um
tipo de polêmica e orre discursos, não necessariamente entre forma-

o ", .... _ . ' h o c" . y .. r "';;rõ",_".. O.. .; r.,r • •, . ' " ....... o.JuÕ~
r _ pr._."" . ,,~u _ ~~ .. .. 0.1 . ", .. n. _ O~ o c.. _.. n r~ ~r'. de
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.. .... õ .. õ . . . O. E ....... O.. .. , .. .. eo.J ...... O.

24'
1"<'$11" Armljo

ções discu rsivas, pois tais dúvidas parecem provir das mesmas m atri· o dos técnicos d o Proje to Nordeste :
zes q ue as do s ujeito d3 e n unciaç'do,68
Os léc;"iros disseram o Je8ulme; ~a «,""mil/ode que já foi b.mejlclada " do
O inte ressante de S!;; obSt:lV'M aqui é como d iscuniOS de n úcleos tem mais (I direilo aprojelO·, (p. 62)
tradic io nalme nte antagônicos con"hoenl de fo rma tão integrada. Cin·
gidos pelo e missor centraJ inequívoco - o governo do estado -. coab i· Do movi menlo s indical :
tam harmo niosamente o mesmo espaço discursivo a f.tl.a de uma o pres/deJlle da FF.TItG csquelllOu a cabeça 11m (/ia ed/~ ~Alllu"M ,uroque-
comunidad e d iscu rsiva com o a Assocene, na época com orientação na '0 ne"hum lmoolbodoraqfli ( .. ,)0 (p, 45)
linha da ed ucação popular versáo radic-.tl, te nde nte me nte gramsciana,
o dos políticos:
c um órgão de Estad o, q ue por m ais que quisesse ser popular e se
aproxi mar d as esque rdas, não chegaria a abrir seus discursos com E/c (o vereador) pelo metlvsjá d/UI! qlle, de agora em dlame, "dv jJt'd e mais
u ma ciração de Marx. Em todo caso, não são muitas as vozes admiti- para njllgfll!m (J()lar em "e"h"", pulirla.J, /XI"'/"/! /I('"hu", merece cutlfia" çfl.
(p.74)
das. O e feito é o d e um acordo d e cavalhe iros, o u uma "ação e ntre
amigos", amigos q ue nito abrem faci lmente seu círculo para terceiros. E o da coopcr-.ttiva, d os lati fundi ários, d o movime nto de agri-
A segu nda p:lne do livro instala uma alegre algaravia d e vozes, cultura alte rnativa, d os trabalh ad ores que não p:lnicipam da o rgani-
o rquestradas por um enunciado r sem ide ntificação, a não ser a de se zação ... O inte ressante é que não há muitos recursos de ê nfase. "Aí" e
constituir uma fa la "da base" d e Pereiros. Aí se alte rnam diversos dis- "então" são conectivos esperados num rda to c ro no ló gico e náo há
cursos, O da Ig reja, de fo rma explícira o u incorporada no d o e nuncia- opera.do res sign ificath·os. A im pressão q ue se te m é de que não há
d o r. A explícita é re latada: d isputas de sentid o . O e n u nciador é m uito seguro de si, não te m re·
Allles, a 8(1/1111 la reza r 11m lerço V II me.mw lima IIQ!'Ima. e camava aqueles h/-
ceio d e dar acesso a todos os a ntagonistas da cena social e não sente
" OS ti" /grej", em Lalfm - "Orapronabl.s" ( ... ) A 1lOV("/O de hoje lenta co"scloJ,, · necessidade d e d eSQuaJificá-los. Várias hipóteses poderiam se !; aq ui
tl;:ar. A " ovcna do ",,,talfala dos sem-terra. (p. 3 1) levantadas, d e sde uma utópica e id ealista vis.'io de "pureza ingê nua"
dos agricultores, a té a que relaciona a posiçio discu rsiva perifé rica
A forma incorporada aparece em frases como :
que os "falantes" d e Pe rei ros ocupam com a namreza pouco polê mi-
A Igreja sumw nós (p. 35) ca do texto, passando pela condição d e o ra.lidade de su a fa la. Te ndo
Cu",eç"",os, eJltlío. a llesrobrlrque o lra/xJlbtulor n/ml também tinha direi· a inte rpre tar o fe nô me no como decorrência d a si tuação e m que a
tus. E esU1 direito só poderia $Cr arranjado ntralJés da U/lido. Um s6 mio Jaz fal a fo i colhida: O d e poime nto (o i dad o a aJg ué m e m posiçio d e a lia-
nada. ( p. 3 1) do, que suposta me nte comp3niJharia dos mesmos pontos de vista,
( ...) Pode se amllldatur por qualquer partido, mas cotljllntllra sendo (I capl· não h avendo necessidad e d e argume ntação poU!mica.
tallsmo, cumu cf q"e l!Ui ","dor? (p. 73) Com o a tala popu lar não é 3<lu i objeto de esrudoe, no contexto
o dos técn icos da extensão o fi cial (EMATER): a nalisad o , ela com parece como um e n u nciador convocad o para legi-
timar o discu rso dos s u jeitos d a e nunciação, passo adiante , de ixando
Os tk"loos ch~aram aqui com 11m projeto (..) Depois vieram com uma hls· a averiguação dessas hi póteses para um trabalho poste r ior ,
lórla ql'C o dfl,helro acabou, (p , 6 1)

Noticias - O ",,,,,do (q"a~e) perfe/lu tllIS ONGs


68 Pode parecer amhígua II classHioção dessa V02 ora como enunciador, or~ como
sujeito da enunciação. ParcL't:-mc (IUC ela ocupa as d u:lS posições. É c:n u nct~dor
em relação:to livro como um lodo, >105 cmissorc~ õlMumidos e consldernndo-sc
sua posição 03 ce n:t $OC1:t1. É sujeitada cnunciaç:io "O L'Untc:xto interno do texto
o último núcleo a an"lisar - o d:LS ONGs - mOStra-se quase tão
que ele ~iml. Como o livro (: um3 mont3gem s<:qüenclaJ de panes, c""io ser fechad o e exclude nte quanto o lcxto d e Program a , Tanto Notícias
possível r:t.:t:c:t c:ua d iStif'lÇ'lo. q uanto His/ó rias crianl o mundo asséptiCO e protegido d a re lação

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1"<'$11" Armljo

ções discu rsivas, pois tais dúvidas parecem provir das mesmas m atri· o dos técnicos d o Proje to Nordeste :
zes q ue as do s ujeito d3 e n unciaç'do,68
Os léc;"iros disseram o Je8ulme; ~a «,""mil/ode que já foi b.mejlclada " do
O inte ressante de S!;; obSt:lV'M aqui é como d iscuniOS de n úcleos tem mais (I direilo aprojelO·, (p. 62)
tradic io nalme nte antagônicos con"hoenl de fo rma tão integrada. Cin·
gidos pelo e missor centraJ inequívoco - o governo do estado -. coab i· Do movi menlo s indical :
tam harmo niosamente o mesmo espaço discursivo a f.tl.a de uma o pres/deJlle da FF.TItG csquelllOu a cabeça 11m (/ia ed/~ ~Alllu"M ,uroque-
comunidad e d iscu rsiva com o a Assocene, na época com orientação na '0 ne"hum lmoolbodoraqfli ( .. ,)0 (p, 45)
linha da ed ucação popular versáo radic-.tl, te nde nte me nte gramsciana,
o dos políticos:
c um órgão de Estad o, q ue por m ais que quisesse ser popular e se
aproxi mar d as esque rdas, não chegaria a abrir seus discursos com E/c (o vereador) pelo metlvsjá d/UI! qlle, de agora em dlame, "dv jJt'd e mais
u ma ciração de Marx. Em todo caso, não são muitas as vozes admiti- para njllgfll!m (J()lar em "e"h"", pulirla.J, /XI"'/"/! /I('"hu", merece cutlfia" çfl.
(p.74)
das. O e feito é o d e um acordo d e cavalhe iros, o u uma "ação e ntre
amigos", amigos q ue nito abrem faci lmente seu círculo para terceiros. E o da coopcr-.ttiva, d os lati fundi ários, d o movime nto de agri-
A segu nda p:lne do livro instala uma alegre algaravia d e vozes, cultura alte rnativa, d os trabalh ad ores que não p:lnicipam da o rgani-
o rquestradas por um enunciado r sem ide ntificação, a não ser a de se zação ... O inte ressante é que não há muitos recursos de ê nfase. "Aí" e
constituir uma fa la "da base" d e Pereiros. Aí se alte rnam diversos dis- "então" são conectivos esperados num rda to c ro no ló gico e náo há
cursos, O da Ig reja, de fo rma explícira o u incorporada no d o e nuncia- opera.do res sign ificath·os. A im pressão q ue se te m é de que não há
d o r. A explícita é re latada: d isputas de sentid o . O e n u nciador é m uito seguro de si, não te m re·
Allles, a 8(1/1111 la reza r 11m lerço V II me.mw lima IIQ!'Ima. e camava aqueles h/-
ceio d e dar acesso a todos os a ntagonistas da cena social e não sente
" OS ti" /grej", em Lalfm - "Orapronabl.s" ( ... ) A 1lOV("/O de hoje lenta co"scloJ,, · necessidade d e d eSQuaJificá-los. Várias hipóteses poderiam se !; aq ui
tl;:ar. A " ovcna do ",,,talfala dos sem-terra. (p. 3 1) levantadas, d e sde uma utópica e id ealista vis.'io de "pureza ingê nua"
dos agricultores, a té a que relaciona a posiçio discu rsiva perifé rica
A forma incorporada aparece em frases como :
que os "falantes" d e Pe rei ros ocupam com a namreza pouco polê mi-
A Igreja sumw nós (p. 35) ca do texto, passando pela condição d e o ra.lidade de su a fa la. Te ndo
Cu",eç"",os, eJltlío. a llesrobrlrque o lra/xJlbtulor n/ml também tinha direi· a inte rpre tar o fe nô me no como decorrência d a si tuação e m que a
tus. E esU1 direito só poderia $Cr arranjado ntralJés da U/lido. Um s6 mio Jaz fal a fo i colhida: O d e poime nto (o i dad o a aJg ué m e m posiçio d e a lia-
nada. ( p. 3 1) do, que suposta me nte comp3niJharia dos mesmos pontos de vista,
( ...) Pode se amllldatur por qualquer partido, mas cotljllntllra sendo (I capl· não h avendo necessidad e d e argume ntação poU!mica.
tallsmo, cumu cf q"e l!Ui ","dor? (p. 73) Com o a tala popu lar não é 3<lu i objeto de esrudoe, no contexto
o dos técn icos da extensão o fi cial (EMATER): a nalisad o , ela com parece como um e n u nciador convocad o para legi-
timar o discu rso dos s u jeitos d a e nunciação, passo adiante , de ixando
Os tk"loos ch~aram aqui com 11m projeto (..) Depois vieram com uma hls· a averiguação dessas hi póteses para um trabalho poste r ior ,
lórla ql'C o dfl,helro acabou, (p , 6 1)

Noticias - O ",,,,,do (q"a~e) perfe/lu tllIS ONGs


68 Pode parecer amhígua II classHioção dessa V02 ora como enunciador, or~ como
sujeito da enunciação. ParcL't:-mc (IUC ela ocupa as d u:lS posições. É c:n u nct~dor
em relação:to livro como um lodo, >105 cmissorc~ õlMumidos e consldernndo-sc
sua posição 03 ce n:t $OC1:t1. É sujeitada cnunciaç:io "O L'Untc:xto interno do texto
o último núcleo a an"lisar - o d:LS ONGs - mOStra-se quase tão
que ele ~iml. Como o livro (: um3 mont3gem s<:qüenclaJ de panes, c""io ser fechad o e exclude nte quanto o lcxto d e Program a , Tanto Notícias
possível r:t.:t:c:t c:ua d iStif'lÇ'lo. q uanto His/ó rias crianl o mundo asséptiCO e protegido d a re lação

24' 24'
A reco" ......$do do olhar

exclusivista emissor-receptor, com pequenas diferenças. Notícias si- tecnologia é "adaptada" à comunidade, é porquc existe outra, d esa-
tua esse mundo numa realidade mais ampla, nacional, e numa pro- daptada (PATAC) .
blemática mais política que técnica: Uma hipótese seria a da falta de uma macrovisão social e políti-
Nu Brasil nào há incenUvu (lu pequeI/o ajJricl/ltor lC:lp~) .
ca, de uma percepção das inter-relações dos agentes sociais. A o utra,
um autoritarismo inerente às CD, que levaria à recusa pum e s imp les
Histórias faz uma análise local ista, na qual os problemas são de d e qualque r discordância ou dissidê ncia e à tendência a se proteger
o rdem climática: contra interferências externas. Arriscaria a afirmar, com base na aná-
o venlo derruba asJlores d" feljiio ... (p. 5 ) Use das condições de produção, que ambas estão prese ntes nas duas
comunidades discursivas.
ou tt:cnica: O recurso de argumentação d o Notícias é basicamente opor o
I/II/s Só sabium plama r murro abaixo, causando emsãu (1" 11:1) velho ao novo, o ruim ao bom, o problema à esperança de solução, o
fato dado versus o fato e m construção. Uti liza nesse esforço a rede
ou d e desorganização: sêm ica e o manejo dos ver bos (tempo e conjugação) . A 3 a pessoa,
Além disso, trabalhalXlm por si f.' Del/s por lodos. (p . 12) forma delocutiva de impessoalização, é usada para caracterizar o ce-
nário, associada ao presente do indicativo:
Há uma negação da fala do Outro , através da exclusão de seus
No Bra$fl "ào há .. A saúde do povo brasileiro ~'a i mal. . .. No tem/X) do plafl-
discursos. Histórias faz algumas exceções, para convocar três alia- tio falia $eml'l/le$. (cara)
d os, todos como disc urso semelhante ao seu - o PATAC e o SEDUP,
organizações na epoca mais legilimadas na arca da tecno logia alter- Constrói-se o sentido d e aJgo impessoal, fato inconteste, e não
nativa e o SACTES (Serviço Ale m ão d e Coopemção Técnica) , com a de opinião pessoaJ ou institucional. Já o gerúndio é aplicado à situa-
autoridade que os estrangeiros costumam ter. Recorre também aos ção relatada como pOSitiva, dando a idéia de dinamismo, a1go em an-
provérbios, citações da sabedoria popular: dame nto :
o seguro morreu de velhu I' u descullfiutlo af"da é vivo (p . 16). . .. estão u'Xanízafldo... estão truamdo .. . fll2e1ulu .

Uma andorinha s6 1/40 faz verão (r . 11). Po r o utro lado , não há conectivos nem opendores de ênfase; o
Um agricultor prelH!IIldo lIale por dois. (r . 16) disposi tivo é testemunhal, a fala d o povo é a comprovação máxima da
verdade. Também mio háexplicaçõcs, pois não temos um emissor pe_
Po d e-se compreender essa diferença: o PATAC tinha legitimida- dagógico e sim solidário, que se apresenta como fJ.cilitador ou canal
de de sobra, n:io precisando convocar ningué m para ratificar seu dis- amplificador da expressão popular.
cu rso. O emissor de Histórias, este se pretende pedagógico. Explica,
O único {Iebate que Se pode inferir nos dois textos, principal- traduz. Usa o parêntese :
m entc no Histórias , é com um hipotético discurso de receptores
• •• f.' as /JOÇorocas (barrocas) ficam ",afores. . .. É o que oS técl/icoschamam de
quc se o po riam às propostas veiculadas no texto , contra o qual am- faixa de retenção. (p . 20)
bos cu idam de se precaver, conotand o pos itivamc Olc a atitude con-
trária, d e aceitação. E põe O técnico no quadro negro, ensinando (p. 25) .
Há pelo menos duas hipó teses possíveis para esse fechame nto Os recursos de argumentação são diferentes d o PATAC. A rede
discursivo, que po d e ser difiol d e entender em organizações que tra- sêmic a forma o eixo argumentativo, com o trio de se mas "proble ma
zem e m seu s nomes, implicitamente, a existência d o Outro antagôni- ~ experiência - resultado". Adicionalmente, os desenhos compro-
co. É-se "alternativo" a alguma coisa o u a algué m (PTA); e , se a vam o texto e se c riam simulacros da fala d os agriculto res-mode los.

250 251
A reco" ......$do do olhar

exclusivista emissor-receptor, com pequenas diferenças. Notícias si- tecnologia é "adaptada" à comunidade, é porquc existe outra, d esa-
tua esse mundo numa realidade mais ampla, nacional, e numa pro- daptada (PATAC) .
blemática mais política que técnica: Uma hipótese seria a da falta de uma macrovisão social e políti-
Nu Brasil nào há incenUvu (lu pequeI/o ajJricl/ltor lC:lp~) .
ca, de uma percepção das inter-relações dos agentes sociais. A o utra,
um autoritarismo inerente às CD, que levaria à recusa pum e s imp les
Histórias faz uma análise local ista, na qual os problemas são de d e qualque r discordância ou dissidê ncia e à tendência a se proteger
o rdem climática: contra interferências externas. Arriscaria a afirmar, com base na aná-
o venlo derruba asJlores d" feljiio ... (p. 5 ) Use das condições de produção, que ambas estão prese ntes nas duas
comunidades discursivas.
ou tt:cnica: O recurso de argumentação d o Notícias é basicamente opor o
I/II/s Só sabium plama r murro abaixo, causando emsãu (1" 11:1) velho ao novo, o ruim ao bom, o problema à esperança de solução, o
fato dado versus o fato e m construção. Uti liza nesse esforço a rede
ou d e desorganização: sêm ica e o manejo dos ver bos (tempo e conjugação) . A 3 a pessoa,
Além disso, trabalhalXlm por si f.' Del/s por lodos. (p . 12) forma delocutiva de impessoalização, é usada para caracterizar o ce-
nário, associada ao presente do indicativo:
Há uma negação da fala do Outro , através da exclusão de seus
No Bra$fl "ào há .. A saúde do povo brasileiro ~'a i mal. . .. No tem/X) do plafl-
discursos. Histórias faz algumas exceções, para convocar três alia- tio falia $eml'l/le$. (cara)
d os, todos como disc urso semelhante ao seu - o PATAC e o SEDUP,
organizações na epoca mais legilimadas na arca da tecno logia alter- Constrói-se o sentido d e aJgo impessoal, fato inconteste, e não
nativa e o SACTES (Serviço Ale m ão d e Coopemção Técnica) , com a de opinião pessoaJ ou institucional. Já o gerúndio é aplicado à situa-
autoridade que os estrangeiros costumam ter. Recorre também aos ção relatada como pOSitiva, dando a idéia de dinamismo, a1go em an-
provérbios, citações da sabedoria popular: dame nto :
o seguro morreu de velhu I' u descullfiutlo af"da é vivo (p . 16). . .. estão u'Xanízafldo... estão truamdo .. . fll2e1ulu .

Uma andorinha s6 1/40 faz verão (r . 11). Po r o utro lado , não há conectivos nem opendores de ênfase; o
Um agricultor prelH!IIldo lIale por dois. (r . 16) disposi tivo é testemunhal, a fala d o povo é a comprovação máxima da
verdade. Também mio háexplicaçõcs, pois não temos um emissor pe_
Po d e-se compreender essa diferença: o PATAC tinha legitimida- dagógico e sim solidário, que se apresenta como fJ.cilitador ou canal
de de sobra, n:io precisando convocar ningué m para ratificar seu dis- amplificador da expressão popular.
cu rso. O emissor de Histórias, este se pretende pedagógico. Explica,
O único {Iebate que Se pode inferir nos dois textos, principal- traduz. Usa o parêntese :
m entc no Histórias , é com um hipotético discurso de receptores
• •• f.' as /JOÇorocas (barrocas) ficam ",afores. . .. É o que oS técl/icoschamam de
quc se o po riam às propostas veiculadas no texto , contra o qual am- faixa de retenção. (p . 20)
bos cu idam de se precaver, conotand o pos itivamc Olc a atitude con-
trária, d e aceitação. E põe O técnico no quadro negro, ensinando (p. 25) .
Há pelo menos duas hipó teses possíveis para esse fechame nto Os recursos de argumentação são diferentes d o PATAC. A rede
discursivo, que po d e ser difiol d e entender em organizações que tra- sêmic a forma o eixo argumentativo, com o trio de se mas "proble ma
zem e m seu s nomes, implicitamente, a existência d o Outro antagôni- ~ experiência - resultado". Adicionalmente, os desenhos compro-
co. É-se "alternativo" a alguma coisa o u a algué m (PTA); e , se a vam o texto e se c riam simulacros da fala d os agriculto res-mode los.

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Utilizam-se com freqüênciaopcrddores de ênfase; já, muito , mes mo , com o são Vicente, PAPP. CÁRITAS elc. (p . 47) ; o espaço coletivo;
s6. Budega comunitária. Pela in cidência, o que predo mina é o se ntido
Uma co/sajá era certa ... (p. 14);
de espaço físico , equivalente a pO\'oado , sítio, assentamento e tc.
Terra Prometida é o ú n ico que não inclu iu a pala"VTõl "comuni-
/Imita erosda, milita fraca; esturem mesmo dando cerl() (p . 8); dade" na sua rede sêmica . Não o bstante, uma das proposições do Se-
cu s6 precl5o ... (p. 5) minário relatado é sobre a "formação comunitária", entendida como
um modo de viver as relações sociais (p . 74). São feitas várias men-
Os conectivos mais comuns sáo "foi aí que-, "e ntão " e "foi assim ções às CEBs e ralvez seja essa a explicação para a d iferença entre ele
que", que o bjetivam estabelecer o e lo e ntre a s ituação-problema e a e os o utros; a imenção de não confundir com o semido d as comuni-
solução e.ncontcada da adoç"io d as técn icas propoStas. dades eclesiais o fez dispensar a palavra.
Para Programa é espaço fisico, inclusive admitindo a existência
E - A CONSTRUÇÃO 0 0 CONCE ITO DE "COMUN IDADE" de comunidade de indillÍduos isolados e Pereiras trata "comunida-
de~ como equivale nte a "sítio", o u lugar em que vivem várias pessoas.
Embora os modos de construir o sentido do "ser comunidade" Para No tícias é espaço físico: A comunidade de Be/a Vis/a, mas
e do correlato "participação" possam ser entendidos no quadro am- é também atividade coletiva; roçado comunitário. Hisl6rias opera
plo da intertextualidade e das relaçücs po lêmicas ou concorre nciais com a mesma duplicidad e.
dos discursos, preferi abordá-IaS e m separado, por se referir ao in\f3- Temos e ntão um pré-construíd o , "a comun idade", conceito
riante referencial, o que lhe atribui uma especificidade (é falor de coe.r- que se a plica aos pobres , :lOS peque nos, aos excluídos. A cid ade não
çiosobre os demais) , sendo també m ele me nto a consid erar na cons- é comunidade e o bairro só se for periférico. As organizações não são
trução das imagens de e missor e receptor. Por o U[ro lado, permite "comunidades". O PATAC não o é , nem a prefeitura, ne m o IYfA .. O
identificar de modo mais d estacado a postura implíci ta dos núcleos pobre é um ser potencialmeme cole tivista? Ou essa é a representa-
quamo à ação comu nitária, dado que alimentou conside rações im- ção que o Centro faz d a Periferia? Os pobres que não se o rganizam
portames sobre a cen a social analisada . são desvios d a sociedade idealizada pelo Centro? Ou pode-se ser in-
Não creio que se possa falar num conceito único de comunida- divíduo sem ser individualista?
de e participação, mas numa tendência d o minante, da qu al a pri mei- A julgar pelos textos, a única saída para os pobres e peq ut:nos é
ra o bservação a fazer seria a d e fa lta de nitidez. Disputas de sentido? a união d os esforços. Todos os discursos conspiram para isso. Quem
Ve jamos. n:io se organizar não conseguirá e nfrentar as durezas d a vida, ve-
"Comunidade" é o valor máximo para todos os discu rsos, à exce- nham elas do sistema, da estru tura, da conjuntura ou da n atureza. A
ção de Terra Prometida, ao lado de "união" e "panicipação". Sendo organização é a arma dos fracos e d esvalidos. Mas, o rganizar-se para
subs tantivo, adquiriu valor adje tivo. Por ter se tomado um pré<ons- quê? Para implantar planos, p rogr.uuas, p rojelOs, tecnologias e mo-
truído, ningué m expUca O que é, mas pode-se inferir d os textOS que dos d e produzir e comercia lizar que rio melho r.u· a vida d e todos.
não se sabe muito bem. É espaço fisico delimitado, é o conjunto d e Ou e mão, como é O caso d e Terra Prometida , para ser capaz de criar
habitantes de um local, é um grupo de pessoas o rganizadas em torno a sociedade ideal visualizada pelo emi.ssor. Pereiras fica neste mes-
de algu m interesse o u é a sociedade e m geral? mo caso, principalmente se considerarmos a fa la dos enunciadores
Parol Cooperaliuismo, pode ser o espaço físico de limirado geo- como recurso de persuas:io.
graficamente ... associações ex;.Uell les lias comunidades c IIImliel- "Participar" to rna-se , e ntão, a senha necessária pua e ntrar no
pios (p . 43) j grupo de pessoas : as comunidades rurais e as mundo melhor que o e missor faz antever, construído de modo mui-
assodllçôes começaram a discutir (p . 43): projetos que e nvolvem tO semelhame e ntre os núcleos : pela rede sêmica j pelos dese nhos e
ações ioletivas; para articular as várias iniciativas comunitárias,

2S3
Utilizam-se com freqüênciaopcrddores de ênfase; já, muito , mes mo , com o são Vicente, PAPP. CÁRITAS elc. (p . 47) ; o espaço coletivo;
s6. Budega comunitária. Pela in cidência, o que predo mina é o se ntido
Uma co/sajá era certa ... (p. 14);
de espaço físico , equivalente a pO\'oado , sítio, assentamento e tc.
Terra Prometida é o ú n ico que não inclu iu a pala"VTõl "comuni-
/Imita erosda, milita fraca; esturem mesmo dando cerl() (p . 8); dade" na sua rede sêmica . Não o bstante, uma das proposições do Se-
cu s6 precl5o ... (p. 5) minário relatado é sobre a "formação comunitária", entendida como
um modo de viver as relações sociais (p . 74). São feitas várias men-
Os conectivos mais comuns sáo "foi aí que-, "e ntão " e "foi assim ções às CEBs e ralvez seja essa a explicação para a d iferença entre ele
que", que o bjetivam estabelecer o e lo e ntre a s ituação-problema e a e os o utros; a imenção de não confundir com o semido d as comuni-
solução e.ncontcada da adoç"io d as técn icas propoStas. dades eclesiais o fez dispensar a palavra.
Para Programa é espaço fisico, inclusive admitindo a existência
E - A CONSTRUÇÃO 0 0 CONCE ITO DE "COMUN IDADE" de comunidade de indillÍduos isolados e Pereiras trata "comunida-
de~ como equivale nte a "sítio", o u lugar em que vivem várias pessoas.
Embora os modos de construir o sentido do "ser comunidade" Para No tícias é espaço físico: A comunidade de Be/a Vis/a, mas
e do correlato "participação" possam ser entendidos no quadro am- é também atividade coletiva; roçado comunitário. Hisl6rias opera
plo da intertextualidade e das relaçücs po lêmicas ou concorre nciais com a mesma duplicidad e.
dos discursos, preferi abordá-IaS e m separado, por se referir ao in\f3- Temos e ntão um pré-construíd o , "a comun idade", conceito
riante referencial, o que lhe atribui uma especificidade (é falor de coe.r- que se a plica aos pobres , :lOS peque nos, aos excluídos. A cid ade não
çiosobre os demais) , sendo també m ele me nto a consid erar na cons- é comunidade e o bairro só se for periférico. As organizações não são
trução das imagens de e missor e receptor. Por o U[ro lado, permite "comunidades". O PATAC não o é , nem a prefeitura, ne m o IYfA .. O
identificar de modo mais d estacado a postura implíci ta dos núcleos pobre é um ser potencialmeme cole tivista? Ou essa é a representa-
quamo à ação comu nitária, dado que alimentou conside rações im- ção que o Centro faz d a Periferia? Os pobres que não se o rganizam
portames sobre a cen a social analisada . são desvios d a sociedade idealizada pelo Centro? Ou pode-se ser in-
Não creio que se possa falar num conceito único de comunida- divíduo sem ser individualista?
de e participação, mas numa tendência d o minante, da qu al a pri mei- A julgar pelos textos, a única saída para os pobres e peq ut:nos é
ra o bservação a fazer seria a d e fa lta de nitidez. Disputas de sentido? a união d os esforços. Todos os discursos conspiram para isso. Quem
Ve jamos. n:io se organizar não conseguirá e nfrentar as durezas d a vida, ve-
"Comunidade" é o valor máximo para todos os discu rsos, à exce- nham elas do sistema, da estru tura, da conjuntura ou da n atureza. A
ção de Terra Prometida, ao lado de "união" e "panicipação". Sendo organização é a arma dos fracos e d esvalidos. Mas, o rganizar-se para
subs tantivo, adquiriu valor adje tivo. Por ter se tomado um pré<ons- quê? Para implantar planos, p rogr.uuas, p rojelOs, tecnologias e mo-
truído, ningué m expUca O que é, mas pode-se inferir d os textOS que dos d e produzir e comercia lizar que rio melho r.u· a vida d e todos.
não se sabe muito bem. É espaço fisico delimitado, é o conjunto d e Ou e mão, como é O caso d e Terra Prometida , para ser capaz de criar
habitantes de um local, é um grupo de pessoas o rganizadas em torno a sociedade ideal visualizada pelo emi.ssor. Pereiras fica neste mes-
de algu m interesse o u é a sociedade e m geral? mo caso, principalmente se considerarmos a fa la dos enunciadores
Parol Cooperaliuismo, pode ser o espaço físico de limirado geo- como recurso de persuas:io.
graficamente ... associações ex;.Uell les lias comunidades c IIImliel- "Participar" to rna-se , e ntão, a senha necessária pua e ntrar no
pios (p . 43) j grupo de pessoas : as comunidades rurais e as mundo melhor que o e missor faz antever, construído de modo mui-
assodllçôes começaram a discutir (p . 43): projetos que e nvolvem tO semelhame e ntre os núcleos : pela rede sêmica j pelos dese nhos e
ações ioletivas; para articular as várias iniciativas comunitárias,

2S3
falOS ; pelos pré-construídos ; pelos rítulos de capa e/ou internos; pe- lhe altera a namreza. Faço aqui uma ressalva : se os textOS selecionad os
los provérbios e ditados populares; pela exalução dos "bons" e dos dos Outros núcleos fossem sobre cooperativismo, certamente tal matriz
t'.."(emplos de cooper:lÇ'Ão bem-sucedida; pela vinculação do indivi- estaria presente. O Estado, paniculanneme, investe na solução coopera-
dualismo e do isolamento com um cenário problemático. Enfim , mista e as ONGs aderem cada vez mais à ·'força irrecusávcl do fAto".
pelo própria ato de produzir e fazer circu lar u m impresso com tais O funcio nalismo é uma matriz vigorosa nesse universo. Deixa
e lementos e tais obje tivos. marcas e m todos os textOS (à exceção de Terra Prometida) , embora
A remissão às matrizes discursivas dos conceitos de cooperação de forma d iferenciada pe lo intenexlo e pelas condições d e produ-
e l"omunidade peml irirá entender melhor as representaçõcs de co- ção. Anteriormente , destaquei três autores importantes nessa ma-
munidade e de panic ipação que, como se verá, incorporam mais de triz: Parsons, Merton e Lerner. Os três fomlam o arcabouço no qual
uma matriz, confimlando-se o princípio da intertextualidade. se encaixa com perfe ição o texto do I~B . Com Parsons, Programa
A matriz cristã inspira fundamentalmente os textos da CPT, do acredita no papel do Estado como poder legítimo estimulador e co-
PATAC e da CNBB. Pr.uernidade e partilha de uma crença são os va- o rdenador da eStrutura integrador-A da socied:tdc. Com Menon, per-
Iares !r.isicos de Terra Prometida, mas estão muito presentes em Coo- cebe o desenvolvimento da comunidade como funçlo do equilíbrio
pcralivismo e em Noticias. Os valores preconizados são compartilha- social e conside ra o individuo isolado uma dis função do sistema.
dos pelos emissores com os receptores, fazê-lo é parte de sua fé e sua Com Lerner, entende a sociedade moderna como participante, dota-
doutrina. Mas nio se pode dizer que estejam ausentes de JJereiros, da de mecanismos de consenso e capaz de se ajustar às mudanças re-
que põe em ccna uma conccpçflO soLid:lrista de sociedade própria queridas pe los novos tempos. É também dele a idéia de que a
do humanis mo c ristão , além de ser seu objetivo panilharcom outros comunicação e a educação são instrumentos indispensáveis à forma-
a sua crença no valor de Pereiros como exem plo de comun idade or- ção de uma perso nalidade reativa aos estímulos externos. "Panici-
ganizada e solidária. par··, pótra esse núcleo discursivo, é a capacidade da população de
A matriz socialista deixa suas fones marcas em Cooperativismo, aderir aos p lanos que o Estado lhe oferece e isso deve ser feito prefe-
apesar de ser explicitamente recusada. São traços o moralismo dico- renciahnente através das lideranças e das formas associativas . A parti-
tôm ico que opõem o individualismo ao <.:oletivismo e a vinculação da dpaç:1o é local, diz respeiro aos microuniversos sociais.
org:mizaçãocom a atividade econômico-produtiva. Esta úhima pode Cooperativismo põe e m cena uma "anante da teoria da integra-
ser vista como u ma particularidade do textO analis ado, mas as condi- ção e do equilíbrio de Parsons, substituindo o Estado pelos "assesso-
ções de p rodução não deixam dúvidas Que ela cOrTCsponde às realida- res", A noção de DC está da mesma forma imbuída das teses de
des institucionais mai s fones e aruais. O socialismo cunhou t:tmbém Merto n , se considemrmos li relllçáoestrita do emissor com o destina-
as re presentações de outros textos: em Pereiras, ela é visível na ani- tário . As mesmas considerações feitas acima sobre 3S idéias de I..erner
c ul ação entre os âm biros produção-política-organização, instalada valem para esta Comunidade Discursiva. Mas a noção d e participa-
a partir mesmo das citações de abertura e na conotação moral do ção inclui a mac rovisão estrurural de seus efeitos, entendidos como
coletivismo e do individualismo. Em Histórias , a influencia é de "controle dos meios, fins e resultados de uma aç"io social'·.
origem (cena e d iscursos fundadores do PTA) , direcionando as o p- Notícias e Histórias tam bém acusam influências do pensamento
ções e a prática d iscursiva da o rganização. dos teó ricos funcionalistas , sendo que as teses parsonianas são ":Klapta-
O capitalismo faz sua apariçÃo apen.'lS no texto da CPT, na opção das" ou ,Nas com componentes "alternativos"; a sociedade dos peque-
pelo cooperativismo, ainda que tentando configurar uma terceira via . nos é altamente cooperat iva, mas necessita de estímu los, exemplos,
O pecu liar dessa formação é considerar a organização cooperativista apoios externos. ~ idéia do indivíduo isolado tem claramente uma
como recurso alternativo de concorrência no mercado c o fato d e conotaç:1o de disfunção social Em geral. a ele são ambuídas as mazelas
fd2ê- lo acompanhar dessa o u daquela argumentação ideológica não ou as dificuldades que a comunidade enfrenta. A estruturação dos tex-

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falOS ; pelos pré-construídos ; pelos rítulos de capa e/ou internos; pe- lhe altera a namreza. Faço aqui uma ressalva : se os textOS selecionad os
los provérbios e ditados populares; pela exalução dos "bons" e dos dos Outros núcleos fossem sobre cooperativismo, certamente tal matriz
t'.."(emplos de cooper:lÇ'Ão bem-sucedida; pela vinculação do indivi- estaria presente. O Estado, paniculanneme, investe na solução coopera-
dualismo e do isolamento com um cenário problemático. Enfim , mista e as ONGs aderem cada vez mais à ·'força irrecusávcl do fAto".
pelo própria ato de produzir e fazer circu lar u m impresso com tais O funcio nalismo é uma matriz vigorosa nesse universo. Deixa
e lementos e tais obje tivos. marcas e m todos os textOS (à exceção de Terra Prometida) , embora
A remissão às matrizes discursivas dos conceitos de cooperação de forma d iferenciada pe lo intenexlo e pelas condições d e produ-
e l"omunidade peml irirá entender melhor as representaçõcs de co- ção. Anteriormente , destaquei três autores importantes nessa ma-
munidade e de panic ipação que, como se verá, incorporam mais de triz: Parsons, Merton e Lerner. Os três fomlam o arcabouço no qual
uma matriz, confimlando-se o princípio da intertextualidade. se encaixa com perfe ição o texto do I~B . Com Parsons, Programa
A matriz cristã inspira fundamentalmente os textos da CPT, do acredita no papel do Estado como poder legítimo estimulador e co-
PATAC e da CNBB. Pr.uernidade e partilha de uma crença são os va- o rdenador da eStrutura integrador-A da socied:tdc. Com Menon, per-
Iares !r.isicos de Terra Prometida, mas estão muito presentes em Coo- cebe o desenvolvimento da comunidade como funçlo do equilíbrio
pcralivismo e em Noticias. Os valores preconizados são compartilha- social e conside ra o individuo isolado uma dis função do sistema.
dos pelos emissores com os receptores, fazê-lo é parte de sua fé e sua Com Lerner, entende a sociedade moderna como participante, dota-
doutrina. Mas nio se pode dizer que estejam ausentes de JJereiros, da de mecanismos de consenso e capaz de se ajustar às mudanças re-
que põe em ccna uma conccpçflO soLid:lrista de sociedade própria queridas pe los novos tempos. É também dele a idéia de que a
do humanis mo c ristão , além de ser seu objetivo panilharcom outros comunicação e a educação são instrumentos indispensáveis à forma-
a sua crença no valor de Pereiros como exem plo de comun idade or- ção de uma perso nalidade reativa aos estímulos externos. "Panici-
ganizada e solidária. par··, pótra esse núcleo discursivo, é a capacidade da população de
A matriz socialista deixa suas fones marcas em Cooperativismo, aderir aos p lanos que o Estado lhe oferece e isso deve ser feito prefe-
apesar de ser explicitamente recusada. São traços o moralismo dico- renciahnente através das lideranças e das formas associativas . A parti-
tôm ico que opõem o individualismo ao <.:oletivismo e a vinculação da dpaç:1o é local, diz respeiro aos microuniversos sociais.
org:mizaçãocom a atividade econômico-produtiva. Esta úhima pode Cooperativismo põe e m cena uma "anante da teoria da integra-
ser vista como u ma particularidade do textO analis ado, mas as condi- ção e do equilíbrio de Parsons, substituindo o Estado pelos "assesso-
ções de p rodução não deixam dúvidas Que ela cOrTCsponde às realida- res", A noção de DC está da mesma forma imbuída das teses de
des institucionais mai s fones e aruais. O socialismo cunhou t:tmbém Merto n , se considemrmos li relllçáoestrita do emissor com o destina-
as re presentações de outros textos: em Pereiras, ela é visível na ani- tário . As mesmas considerações feitas acima sobre 3S idéias de I..erner
c ul ação entre os âm biros produção-política-organização, instalada valem para esta Comunidade Discursiva. Mas a noção d e participa-
a partir mesmo das citações de abertura e na conotação moral do ção inclui a mac rovisão estrurural de seus efeitos, entendidos como
coletivismo e do individualismo. Em Histórias , a influencia é de "controle dos meios, fins e resultados de uma aç"io social'·.
origem (cena e d iscursos fundadores do PTA) , direcionando as o p- Notícias e Histórias tam bém acusam influências do pensamento
ções e a prática d iscursiva da o rganização. dos teó ricos funcionalistas , sendo que as teses parsonianas são ":Klapta-
O capitalismo faz sua apariçÃo apen.'lS no texto da CPT, na opção das" ou ,Nas com componentes "alternativos"; a sociedade dos peque-
pelo cooperativismo, ainda que tentando configurar uma terceira via . nos é altamente cooperat iva, mas necessita de estímu los, exemplos,
O pecu liar dessa formação é considerar a organização cooperativista apoios externos. ~ idéia do indivíduo isolado tem claramente uma
como recurso alternativo de concorrência no mercado c o fato d e conotaç:1o de disfunção social Em geral. a ele são ambuídas as mazelas
fd2ê- lo acompanhar dessa o u daquela argumentação ideológica não ou as dificuldades que a comunidade enfrenta. A estruturação dos tex-

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l""IUu ArUUjo A rt'ro,w'!f'sdo tio o/bar

tOS a paror dos exemplos de pessoas ou comunidades "emp:íticas" é tí- Dispositivos de enunciação - das diferenças
pica d a Teoria da Modernização. A participação é visra em ambos de às seOleUlanças
modo semelhante : localisc3, desconectado dos processos sociais mais
globais. IJartidpar significa aderir às p ropostas d as entidades d e asSt!s-
Mu ito ainda se poderia pesquisar nesses te.xtOS e aprofundar a
soria e apoio . Nessa perspectiva, as estratégias tende m a privilegiar
as lideranças o u as o rganizações informais da população. compreens.:lo dos seus disposili\'os de e nunciação. Creio , porém, que
o expostO já permite inferir o modo singular como cada Comunidade
Pereiros põe na boca de seus e nu nciadores convicções que IX>--
Discursiva se posiciona discursiV:lmenre no merc:\do simbólico e a par-
d em sugerir uma visáo func io nalis ta da sociedade_A população de Pc-
tir dai traçar algumas conclusões referentes às hipóteses de tr'dbalho.
reiros fo i organizada e monitorada por lo ngo tempo pelos núcleos da Tivemos seis textos cujos emissores pertenciam a três núcleos
Igreja e , como não podia deixar de ser, incorporou seu d iscurso e com discursivos: Igreja, Estado, ONGs. Sua anâlLse comparatiV'"d possibili-
ele suas matrizes. Educação e comun icação são furores necess:í.rios e to u conflnnar que não há do is dispositivos idênticos. Ainda quando
suficientes de desenvolvimento pessoaJ ecomunitário. o indivíduo iso- pertencem ao mesmo gênero, o u estão submetidos às mesmas forma-
lado ou individualista é fator de desequilibrio e de conflito na comuni- çôes discursivas, manejam essas coerções de forma distinta. Parece
dade, que é tendencialmente cooperativa_ De todos os textos é o claro, também, que náo se pode gcncraliz.'1r parol todo um núcleo as in-
menos funcionalism, além de que constrói a idéia de panicipação como ferências feitas a partir'de uma comunidade. As generali ....ações são te-
um processo de controle da população sobre sua pró pria reaJidade. merárias, nesse campo, elllbor:a se possa tentar algu mas. Antes. porém,
Temos , então. uma representação de ação e desenvolvimento convém fazer uma breve síntc..-se d e cada dispositivo de enunciação.
comunirários mui to parecida nas várias comunid ades discursivas. Cooperativismo implama o emissor que disputa ague rrida.
Exceruando-se o Regional NE da CNBB, todos trazem marcas que mente seu espaço no mercado simbólico . Joga "de peito aberto",
evocam o 1° período da construção desses conceitos no país, quan- identifica e nomeia os adversários, concede·lhes espaço, ma... exerce
do a ação comu nitária era vista como estratégia para favorecera pro- plenamente seu poder de em issor e sujeito da e nunciação. Submete
cesso de mel horia das condições de vida da população , t inha caráter o Outro às suas regras, interfere no seu discurso e procura desquali-
local e o bjet'ivdva-se despertar nas comunidades o d esejo de se orga- fica-lo o u neutralizá-lo . PolifôniCO, acusa no seu própriO d iscu rso
nizar e capacitá- Ias para (31. uma rede de entrelaçame ntOS de múltiplas fo rmações discursivas.
Mas trazem também marcas inequívocas da 33 fase , a inregracio- Estabelece alianças c evoca seu discurso já legi timado. Tamanho p lu-
nisra, que percebe a comunidade com um todo harmô nico, que sem- ralismo convive com um fechame nto nas re lações discursivas com o
p re busca o consenso em tom o de problemas e inreresses comuns. O destinatário. Não há diáJogo, espaÇOS de interlocução, a eles não
estímulo às técnicas de cooper.tção sáo bem características desse pe_ concede vez nem voz. Q uando necessário, f.t.la em no me deles. A re-
lação com o receplor assu me muilas forma... , mas todas em fl agrante
rícxlo , assim como o incenth-o às formas associativas de organização.
desequilíbrio. É uma relaç"Ão de professor·aluno. de quem sabe e
Da 2:1. fase é possível enconrrar sinais em Terra Prometida e em
pode produzir uma cartilha e Quem não sabe e precisa lê-Ia. Mas é
Cooperativismo. Neste, no que se refe re ao âmbito da análise social
também'd e "assessor" e Massessorado" , relação que na cena dixursi-
(mais macro) e no plano da retórica. No outro, estão implícitos em va fundado ra está muito vinculada a ensinar e aprender. É também a
toda linha de argumentação do texto, que insiste na fo rm:lção da do pastor que prescreve modos e regras de vida a suas ovelhas: viver
conscif:ncia dos receptores sobre sua condição no mundo e d a impor_ comu nitária e solida.ri:unente. É também a do profeta Que oferece a
rÂncia de suas atitudes no processo de transformação social. Pere;rQs seus seguidores a visito de um novo tempo, d esde que suas condi-
também tem essa preocupação, mas com uma visão mais localisla. ções sejam respeitadas.
Invertendo a relação, TerrrJ Prometida trata o destinatário
como interlocuto r, abre-lhe espaços, rorna-o cú mplice da constru-

'" '"
l""IUu ArUUjo A rt'ro,w'!f'sdo tio o/bar

tOS a paror dos exemplos de pessoas ou comunidades "emp:íticas" é tí- Dispositivos de enunciação - das diferenças
pica d a Teoria da Modernização. A participação é visra em ambos de às seOleUlanças
modo semelhante : localisc3, desconectado dos processos sociais mais
globais. IJartidpar significa aderir às p ropostas d as entidades d e asSt!s-
Mu ito ainda se poderia pesquisar nesses te.xtOS e aprofundar a
soria e apoio . Nessa perspectiva, as estratégias tende m a privilegiar
as lideranças o u as o rganizações informais da população. compreens.:lo dos seus disposili\'os de e nunciação. Creio , porém, que
o expostO já permite inferir o modo singular como cada Comunidade
Pereiros põe na boca de seus e nu nciadores convicções que IX>--
Discursiva se posiciona discursiV:lmenre no merc:\do simbólico e a par-
d em sugerir uma visáo func io nalis ta da sociedade_A população de Pc-
tir dai traçar algumas conclusões referentes às hipóteses de tr'dbalho.
reiros fo i organizada e monitorada por lo ngo tempo pelos núcleos da Tivemos seis textos cujos emissores pertenciam a três núcleos
Igreja e , como não podia deixar de ser, incorporou seu d iscurso e com discursivos: Igreja, Estado, ONGs. Sua anâlLse comparatiV'"d possibili-
ele suas matrizes. Educação e comun icação são furores necess:í.rios e to u conflnnar que não há do is dispositivos idênticos. Ainda quando
suficientes de desenvolvimento pessoaJ ecomunitário. o indivíduo iso- pertencem ao mesmo gênero, o u estão submetidos às mesmas forma-
lado ou individualista é fator de desequilibrio e de conflito na comuni- çôes discursivas, manejam essas coerções de forma distinta. Parece
dade, que é tendencialmente cooperativa_ De todos os textos é o claro, também, que náo se pode gcncraliz.'1r parol todo um núcleo as in-
menos funcionalism, além de que constrói a idéia de panicipação como ferências feitas a partir'de uma comunidade. As generali ....ações são te-
um processo de controle da população sobre sua pró pria reaJidade. merárias, nesse campo, elllbor:a se possa tentar algu mas. Antes. porém,
Temos , então. uma representação de ação e desenvolvimento convém fazer uma breve síntc..-se d e cada dispositivo de enunciação.
comunirários mui to parecida nas várias comunid ades discursivas. Cooperativismo implama o emissor que disputa ague rrida.
Exceruando-se o Regional NE da CNBB, todos trazem marcas que mente seu espaço no mercado simbólico . Joga "de peito aberto",
evocam o 1° período da construção desses conceitos no país, quan- identifica e nomeia os adversários, concede·lhes espaço, ma... exerce
do a ação comu nitária era vista como estratégia para favorecera pro- plenamente seu poder de em issor e sujeito da e nunciação. Submete
cesso de mel horia das condições de vida da população , t inha caráter o Outro às suas regras, interfere no seu discurso e procura desquali-
local e o bjet'ivdva-se despertar nas comunidades o d esejo de se orga- fica-lo o u neutralizá-lo . PolifôniCO, acusa no seu própriO d iscu rso
nizar e capacitá- Ias para (31. uma rede de entrelaçame ntOS de múltiplas fo rmações discursivas.
Mas trazem também marcas inequívocas da 33 fase , a inregracio- Estabelece alianças c evoca seu discurso já legi timado. Tamanho p lu-
nisra, que percebe a comunidade com um todo harmô nico, que sem- ralismo convive com um fechame nto nas re lações discursivas com o
p re busca o consenso em tom o de problemas e inreresses comuns. O destinatário. Não há diáJogo, espaÇOS de interlocução, a eles não
estímulo às técnicas de cooper.tção sáo bem características desse pe_ concede vez nem voz. Q uando necessário, f.t.la em no me deles. A re-
lação com o receplor assu me muilas forma... , mas todas em fl agrante
rícxlo , assim como o incenth-o às formas associativas de organização.
desequilíbrio. É uma relaç"Ão de professor·aluno. de quem sabe e
Da 2:1. fase é possível enconrrar sinais em Terra Prometida e em
pode produzir uma cartilha e Quem não sabe e precisa lê-Ia. Mas é
Cooperativismo. Neste, no que se refe re ao âmbito da análise social
também'd e "assessor" e Massessorado" , relação que na cena dixursi-
(mais macro) e no plano da retórica. No outro, estão implícitos em va fundado ra está muito vinculada a ensinar e aprender. É também a
toda linha de argumentação do texto, que insiste na fo rm:lção da do pastor que prescreve modos e regras de vida a suas ovelhas: viver
conscif:ncia dos receptores sobre sua condição no mundo e d a impor_ comu nitária e solida.ri:unente. É também a do profeta Que oferece a
rÂncia de suas atitudes no processo de transformação social. Pere;rQs seus seguidores a visito de um novo tempo, d esde que suas condi-
também tem essa preocupação, mas com uma visão mais localisla. ções sejam respeitadas.
Invertendo a relação, TerrrJ Prometida trata o destinatário
como interlocuto r, abre-lhe espaços, rorna-o cú mplice da constru-

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A nc",,,~ruJo do olbar

ção dos semidos e ignor.l a existência de ourros discursos. Sua pre- centro discursivo. Stam comenta o efeito que provoca O uso da fa la
sença é soberana no cenário sociodiscursivo_ Há duas imagens do popu lar num contextO onde se dividem os espaços. À fala do povo,
emissor que se alternam: a do pai , quando está em cena O sujeito da pouco fluida_na I" pessoa, incorreta e espontânea (crianças discursi-
e nunciação; a do profeta, quando é a vez dos e nunciadores. vas) , contrapõe-se a do emissor, segura, bem pensada, be m articu la-
Um núcleo, duas comun idades discursivas, d o is disposirivos da e na 3 3 pessoa (adultos discursivos). "O narrador torna-se a voz
distintos . Um fala da relação :LSsessor-assessorado, outro da relação do conhecimento ge ner:t1 iz:uHe , e nquanto os ' narrados' são a voz
pai-filho . Ambos são [grc ja, ambos preocu pam-se com :t questão so- da experiência que não discri mina. O narrador traduz as 'palavras
ciaL Mas um é a Igreja no mundo em movimento, disputando semi- al heias' para a linguagem impessoal da verdade objetiva . Os ' narra-
d os, e o utro a Igreja institucio nal , com seu lugar preest:lbc lecido, dos' fornecem provas para as generalizações do narrado r; na confu-
que opera com semidos estabi lizados. Um, no exercício contínuo da são de suas. palavras, este e ncontra a chave para o sentido profundo
busct da legitimidade. Outro, O discurso autorizado pel:l lei. do scu discurso" ( J992 : 64) .
Programa constrói um emissor às voh as com o dile ma de con- O rerceiro núcleo - ONGs - foi representado por duas comuni-
ciliar dois lugares discursivos. O id eal de ser mais um "companhei- dades discursiv-.tS que no cenário social a parecem como seme lhantes,
ro" se vê coagido pe las injunções da cena social e dos lugares mas cujos d iscursos evidenciam diferenças fundamentai s. Notícias
estratificados que o poder in stitucio nalizad o cria. Tão absorvido propõe uma ce na em que só há dois tipos d e atores, mas com papéis
está com seu problema de idcllIidade, que faz d es;tpare<.:er o e lllor- muito bem definidos: um emissor que oferece seus préstimos aos re-
no, os outros agentes, os outros discursos. Sem perceber, desloca a ceptores. Oferece espaços, acolhe a voz para amplificá-Ia, mas as rc-
linha de partilha da memória discursiva e dá acesso a vozes com- gras são claras: ele, emissor, escreve o roteiro e dirige a cena.
prometidas com o utros discursos (no caso específico da concepção H istórias tenta negar sua posiçáoce ntral e faJar de um OUlro lu-
de desenvolvimento de comu nidade) , que objetivamente e no nível gar. Tenta apllgar suas marcas. Apropria-se d e indícios culturais e do
do consciente não le riam po ntos e m comum com O seu . Na disputa modo de falar d o receptor. Usa essa estratégia na busca da eficácia
de se ntidos, prevalece a palavra autorizada legalmente e a re lação do seu discurso, no desejo de o bter adesão o u de difundir uma cren-
com o destinatário se dá nessa camisa-de-força, em que o sent ido ça . Procura evocar o imaginário dt: um vivido, um sabido. E nesse afã,
d ominante é de benemérilo!beneficiário. não se dá conta do quão está fortemente presente e do quanto e de
O dispositivo de Pereiros, texto produzido pelo mesmo núcleo como d esqualifica o sabe r do receptor.
que Programa, obriga a relativizar a constatação de que o lugar social Ambos ignoram o mundo c a sociedade e nvolvente e talvez essa
define o d iscu rso, mas conflrma que define aposição discursiva. O seja uma estratt:gi:t comum de concorrência discursiva, Já que ne-
emissor d e Pere;ros não tem dúvidas quantO à sua identidade : pelo n huma outra se faz explícita , Silenciam os opositores , ignoram os
contrário, afirma-a com decisão. E tão seguro estlÍ que desloca as li- d iscursos concorrentes. Só um estudo compamtivo penniliria :t.fir-
n has da memória antagônica c se permite alianças com comunidades mar se essa é uma caracterísrica comum às ONGs,69 uma vez que este
discursivas filiadas a fomlaçõcs o pos tas às suas, cedendo seu aval de t: um núcleo com o.1:rema diversidade institucional e sem unidade
p:t1avra autorizada ao discurso d os aliados. E também nisso é seguro discursiva. Por outro lado, o componente histórico que as faz se
e p reciso: terceiros não são admitidos nesse acordo. É o d iscurso dos constituírem em "alternativas" a modelos dominantes de interven-
aliados que abre espaço aos cnunciadores que corrobor.lm sua legi- ção pode estar condicionando seu modo de posicionar-se discursiva-
timidade. Dos receptores mantém uma d istãnda fria , são ouvintes
de um rclato. A frieza é , na verdade, o tom d esse texto, cleg:U\tt:, as-
69 Sintomaticamente, em OUlro C!;tuclo L'O mparativo d e: di.'lposi tivos de enunciõlção
SéPlko, mesmo abrindo espllço para a fala popular, mas uma fala (ml,jo. t 995) o fato se re petiu: o dis<:urso da ONG mostro\l'SC excludente. tal
submetida a regras, normatizada e precedida pela dos que ocupam o como O do Esooo. e:nquamo que: odo goycrno paraldodo PT :tprest:mou-se de:
modo muitO :;cmt:!h;;mte: ao de Cooperativismo.

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A nc",,,~ruJo do olbar

ção dos semidos e ignor.l a existência de ourros discursos. Sua pre- centro discursivo. Stam comenta o efeito que provoca O uso da fa la
sença é soberana no cenário sociodiscursivo_ Há duas imagens do popu lar num contextO onde se dividem os espaços. À fala do povo,
emissor que se alternam: a do pai , quando está em cena O sujeito da pouco fluida_na I" pessoa, incorreta e espontânea (crianças discursi-
e nunciação; a do profeta, quando é a vez dos e nunciadores. vas) , contrapõe-se a do emissor, segura, bem pensada, be m articu la-
Um núcleo, duas comun idades discursivas, d o is disposirivos da e na 3 3 pessoa (adultos discursivos). "O narrador torna-se a voz
distintos . Um fala da relação :LSsessor-assessorado, outro da relação do conhecimento ge ner:t1 iz:uHe , e nquanto os ' narrados' são a voz
pai-filho . Ambos são [grc ja, ambos preocu pam-se com :t questão so- da experiência que não discri mina. O narrador traduz as 'palavras
ciaL Mas um é a Igreja no mundo em movimento, disputando semi- al heias' para a linguagem impessoal da verdade objetiva . Os ' narra-
d os, e o utro a Igreja institucio nal , com seu lugar preest:lbc lecido, dos' fornecem provas para as generalizações do narrado r; na confu-
que opera com semidos estabi lizados. Um, no exercício contínuo da são de suas. palavras, este e ncontra a chave para o sentido profundo
busct da legitimidade. Outro, O discurso autorizado pel:l lei. do scu discurso" ( J992 : 64) .
Programa constrói um emissor às voh as com o dile ma de con- O rerceiro núcleo - ONGs - foi representado por duas comuni-
ciliar dois lugares discursivos. O id eal de ser mais um "companhei- dades discursiv-.tS que no cenário social a parecem como seme lhantes,
ro" se vê coagido pe las injunções da cena social e dos lugares mas cujos d iscursos evidenciam diferenças fundamentai s. Notícias
estratificados que o poder in stitucio nalizad o cria. Tão absorvido propõe uma ce na em que só há dois tipos d e atores, mas com papéis
está com seu problema de idcllIidade, que faz d es;tpare<.:er o e lllor- muito bem definidos: um emissor que oferece seus préstimos aos re-
no, os outros agentes, os outros discursos. Sem perceber, desloca a ceptores. Oferece espaços, acolhe a voz para amplificá-Ia, mas as rc-
linha de partilha da memória discursiva e dá acesso a vozes com- gras são claras: ele, emissor, escreve o roteiro e dirige a cena.
prometidas com o utros discursos (no caso específico da concepção H istórias tenta negar sua posiçáoce ntral e faJar de um OUlro lu-
de desenvolvimento de comu nidade) , que objetivamente e no nível gar. Tenta apllgar suas marcas. Apropria-se d e indícios culturais e do
do consciente não le riam po ntos e m comum com O seu . Na disputa modo de falar d o receptor. Usa essa estratégia na busca da eficácia
de se ntidos, prevalece a palavra autorizada legalmente e a re lação do seu discurso, no desejo de o bter adesão o u de difundir uma cren-
com o destinatário se dá nessa camisa-de-força, em que o sent ido ça . Procura evocar o imaginário dt: um vivido, um sabido. E nesse afã,
d ominante é de benemérilo!beneficiário. não se dá conta do quão está fortemente presente e do quanto e de
O dispositivo de Pereiros, texto produzido pelo mesmo núcleo como d esqualifica o sabe r do receptor.
que Programa, obriga a relativizar a constatação de que o lugar social Ambos ignoram o mundo c a sociedade e nvolvente e talvez essa
define o d iscu rso, mas conflrma que define aposição discursiva. O seja uma estratt:gi:t comum de concorrência discursiva, Já que ne-
emissor d e Pere;ros não tem dúvidas quantO à sua identidade : pelo n huma outra se faz explícita , Silenciam os opositores , ignoram os
contrário, afirma-a com decisão. E tão seguro estlÍ que desloca as li- d iscursos concorrentes. Só um estudo compamtivo penniliria :t.fir-
n has da memória antagônica c se permite alianças com comunidades mar se essa é uma caracterísrica comum às ONGs,69 uma vez que este
discursivas filiadas a fomlaçõcs o pos tas às suas, cedendo seu aval de t: um núcleo com o.1:rema diversidade institucional e sem unidade
p:t1avra autorizada ao discurso d os aliados. E também nisso é seguro discursiva. Por outro lado, o componente histórico que as faz se
e p reciso: terceiros não são admitidos nesse acordo. É o d iscurso dos constituírem em "alternativas" a modelos dominantes de interven-
aliados que abre espaço aos cnunciadores que corrobor.lm sua legi- ção pode estar condicionando seu modo de posicionar-se discursiva-
timidade. Dos receptores mantém uma d istãnda fria , são ouvintes
de um rclato. A frieza é , na verdade, o tom d esse texto, cleg:U\tt:, as-
69 Sintomaticamente, em OUlro C!;tuclo L'O mparativo d e: di.'lposi tivos de enunciõlção
SéPlko, mesmo abrindo espllço para a fala popular, mas uma fala (ml,jo. t 995) o fato se re petiu: o dis<:urso da ONG mostro\l'SC excludente. tal
submetida a regras, normatizada e precedida pela dos que ocupam o como O do Esooo. e:nquamo que: odo goycrno paraldodo PT :tprest:mou-se de:
modo muitO :;cmt:!h;;mte: ao de Cooperativismo.

'"
I" ..slt.. ...,...ijo

me nte, porque "alternativo" é um conceito que consid era o O utro e seu valor. Um d os impre~sos do corpus abre seu "Prólogo" com o
pela sua negação. De qualquer mo do, pode-se desde já afirmar que seguinte enunciado: "Esta ê apenas uma cartilha. Simples como :l
lal procedimentO não seria exclusividade desse núcleo, uma vez que Cooperação, que inspira De mocracia, Uberdade. Solidaried:ldc. Jus-
neste conjunto de textos só o da C PT mOStrou-se pluralista. tiça, Fraternidade , Ho nestidade, Igualdade, Mudanças, Cooper:IÇ'IO,
Q ue generalizações são possíveis a partir desse conjunto de sin- Autogestão ".70 Os agentes d os núcleos acreditam sincer.lme nte nis-
gu laridades? Em primeiro lugar, o modo d e propor a image m do d es- so, como acreditam que respeitam o S;lber popular e que estão possi-
tinalário. Os textOS analisados preenchem o lugar do interlocuto r - bilitando aos camponeses mais condições de eqüid ade social.
que eles pretendem que seja o do cidadiio - com a vítima, o excluíd o, A soma desses e le me ntos - imagens construídas de e missor e
po r vezes o individ ualista, o "peque no" pe rsonagem de um mundo à d estinatário, desequilíbrios na relação e idé ia que os e missores fa-
parte, mu ndo sobre o qual o emissor d e tém o conheci me nto. Parale- 7.em d e si mes mos como solidários , leva-me a acreditar na confirma-
lamen te a um grande e unísso no discurso social e político contra a ção da hipótese in ici:ll: conu-.triamente ao que se pensa e se afirma,
exclusão. constroem discursivamcnte uma "comunidade que ê por as re lações com os camponeses dos núcleos que interve m no me io
natureza excl udente e ho mogeneizante. que não incorpom a plurali- rur." são de d ominação, nâo de solidariedade. O "poder de faze r ver
dade social com suas diferença.s, dinamismos e jogos de interesses. e f:lZer crer" , poder dos discursos d e constituir uma realid:lde, ainda
Os pobres e peque nos têm a missão de construíre m um mundo só q ue não ab soluto po rque submetido às condições d t! recepção e
deles, ainda que o mundo ideal , o mundo "d eles". Tais imagens são consumo, funci o na como instrumento de do minação no COntexto
eUlocêntricas e são arbitrárias. Os e missores usam de sua posição de das práticas d e intervenção na sociedade camponesa.
ce ntro discursivo para pr<x:luzir uma his to ricid ad e diferente para os Outra hipótese parece·me que também pode ser confirmada, a
camponeses e pard e rigirem um con junto d e regr.IS de bem viver d e que os discu rsos relacionam-se de fo rma antagônica e competitiva,
adequadas a essa historicidade . não o bstante apenas um dos textos analisados fazê-lo explicitamente,
A o utra face da moeda: o emissor forte , presente. bom e solidá- Os demais asfixiam os concorrentes, recusam-lhe a presença, não acei-
rio , que se preocupa com o receptor fdgi l, com os excluido s. O doa- tam negociar sentidos. A compctil,'ão f:lZ-se pelo sile nciamento. Os
dor: de oportunidades, de conselhos, de voz, de conhecimentos. emissores não que rem os riscos de dividir com o utrOS O seu lugar pri-
Contra um receptor o b jeto, passivo, um emissor suje ito, ati\'o. vilegiado de arautos d a cidadania e d a sociedade igualitária.
A'i relaçõcs são muito desiguais e não pode ria ser de o utro Uma terce ira hipótese confirmou'se apenas em pane_ Eu havia
modo. O simples fiuo de estar na posição de produzir e fazt! r circular lev.tntado a possibilidade de os discu rsos trazerem as marcas do cená-
um Tex[O escrito t!ntre cam poneses instala o desequi líbrio . Em prin- rio de crise, trans ição e inde.finição instirucional. No entaOlO, apenas o
cípio, quem d etém a capacidade da escrita (e da escrita imprt!ssa) texto da CPT e associados retrata tal cenário , aliás com muita expressi-
está e m re laç;'i o de vantagem sobre quem não a possui , pois a escrita vidadc. Como afirmei antes, os emissores de Cooperativismo V'-IO ã
si ncroniza e perm ite captar e ruc;lr num só tempo-espaço os fluxos luta abenamente, mio rêm medo de se expor. Os o urros não d eixam
dispersos da experiência prática : permite o rdená-los e , assim fazen- perceber as marcas d a crise_Talvez se possa interpretar istO como jus-
do, imprimir seu princípio de o rdem aos fatos. tame nte um modo de reagir a um mo me ntO particularmente delica-
O gênero predo minante - a canilha - reafirn13 o desequilíbriO, do, exacerbando sua presen ça discursivd, que está cunhada por trdÇQS
é d efinidor de imagens; infantiliza o receptor e destaca a sapiência que os ajudaram a construir sua legitimidade e seu espaço no merca-
d o e missor. Cartilhas são produto d e um modo d e perceber a cena do simbólico. Esse silcnciam ento fJ.21cmb ....u-a prática dos índios shuar,
social, ao mesmo te mpo que a constroem o u a ratificam . No entanto, mencionada por Eduard o Galeano (O livro dos abraços) , que depois
é o gênero preferido pela maio ria d os núcleos que operam d Lscursi-
Vdmente nesse universo. que parecem convictos de sua necessidade 70 Cl)()/)eraçâu ~ ()rganlzação- os desafios do cooperativismo. de M. D. luccnll,
p ubliCiÇ:iO ..1:I OCERN.

260 261
I" ..slt.. ...,...ijo

me nte, porque "alternativo" é um conceito que consid era o O utro e seu valor. Um d os impre~sos do corpus abre seu "Prólogo" com o
pela sua negação. De qualquer mo do, pode-se desde já afirmar que seguinte enunciado: "Esta ê apenas uma cartilha. Simples como :l
lal procedimentO não seria exclusividade desse núcleo, uma vez que Cooperação, que inspira De mocracia, Uberdade. Solidaried:ldc. Jus-
neste conjunto de textos só o da C PT mOStrou-se pluralista. tiça, Fraternidade , Ho nestidade, Igualdade, Mudanças, Cooper:IÇ'IO,
Q ue generalizações são possíveis a partir desse conjunto de sin- Autogestão ".70 Os agentes d os núcleos acreditam sincer.lme nte nis-
gu laridades? Em primeiro lugar, o modo d e propor a image m do d es- so, como acreditam que respeitam o S;lber popular e que estão possi-
tinalário. Os textOS analisados preenchem o lugar do interlocuto r - bilitando aos camponeses mais condições de eqüid ade social.
que eles pretendem que seja o do cidadiio - com a vítima, o excluíd o, A soma desses e le me ntos - imagens construídas de e missor e
po r vezes o individ ualista, o "peque no" pe rsonagem de um mundo à d estinatário, desequilíbrios na relação e idé ia que os e missores fa-
parte, mu ndo sobre o qual o emissor d e tém o conheci me nto. Parale- 7.em d e si mes mos como solidários , leva-me a acreditar na confirma-
lamen te a um grande e unísso no discurso social e político contra a ção da hipótese in ici:ll: conu-.triamente ao que se pensa e se afirma,
exclusão. constroem discursivamcnte uma "comunidade que ê por as re lações com os camponeses dos núcleos que interve m no me io
natureza excl udente e ho mogeneizante. que não incorpom a plurali- rur." são de d ominação, nâo de solidariedade. O "poder de faze r ver
dade social com suas diferença.s, dinamismos e jogos de interesses. e f:lZer crer" , poder dos discursos d e constituir uma realid:lde, ainda
Os pobres e peque nos têm a missão de construíre m um mundo só q ue não ab soluto po rque submetido às condições d t! recepção e
deles, ainda que o mundo ideal , o mundo "d eles". Tais imagens são consumo, funci o na como instrumento de do minação no COntexto
eUlocêntricas e são arbitrárias. Os e missores usam de sua posição de das práticas d e intervenção na sociedade camponesa.
ce ntro discursivo para pr<x:luzir uma his to ricid ad e diferente para os Outra hipótese parece·me que também pode ser confirmada, a
camponeses e pard e rigirem um con junto d e regr.IS de bem viver d e que os discu rsos relacionam-se de fo rma antagônica e competitiva,
adequadas a essa historicidade . não o bstante apenas um dos textos analisados fazê-lo explicitamente,
A o utra face da moeda: o emissor forte , presente. bom e solidá- Os demais asfixiam os concorrentes, recusam-lhe a presença, não acei-
rio , que se preocupa com o receptor fdgi l, com os excluido s. O doa- tam negociar sentidos. A compctil,'ão f:lZ-se pelo sile nciamento. Os
dor: de oportunidades, de conselhos, de voz, de conhecimentos. emissores não que rem os riscos de dividir com o utrOS O seu lugar pri-
Contra um receptor o b jeto, passivo, um emissor suje ito, ati\'o. vilegiado de arautos d a cidadania e d a sociedade igualitária.
A'i relaçõcs são muito desiguais e não pode ria ser de o utro Uma terce ira hipótese confirmou'se apenas em pane_ Eu havia
modo. O simples fiuo de estar na posição de produzir e fazt! r circular lev.tntado a possibilidade de os discu rsos trazerem as marcas do cená-
um Tex[O escrito t!ntre cam poneses instala o desequi líbrio . Em prin- rio de crise, trans ição e inde.finição instirucional. No entaOlO, apenas o
cípio, quem d etém a capacidade da escrita (e da escrita imprt!ssa) texto da CPT e associados retrata tal cenário , aliás com muita expressi-
está e m re laç;'i o de vantagem sobre quem não a possui , pois a escrita vidadc. Como afirmei antes, os emissores de Cooperativismo V'-IO ã
si ncroniza e perm ite captar e ruc;lr num só tempo-espaço os fluxos luta abenamente, mio rêm medo de se expor. Os o urros não d eixam
dispersos da experiência prática : permite o rdená-los e , assim fazen- perceber as marcas d a crise_Talvez se possa interpretar istO como jus-
do, imprimir seu princípio de o rdem aos fatos. tame nte um modo de reagir a um mo me ntO particularmente delica-
O gênero predo minante - a canilha - reafirn13 o desequilíbriO, do, exacerbando sua presen ça discursivd, que está cunhada por trdÇQS
é d efinidor de imagens; infantiliza o receptor e destaca a sapiência que os ajudaram a construir sua legitimidade e seu espaço no merca-
d o e missor. Cartilhas são produto d e um modo d e perceber a cena do simbólico. Esse silcnciam ento fJ.21cmb ....u-a prática dos índios shuar,
social, ao mesmo te mpo que a constroem o u a ratificam . No entanto, mencionada por Eduard o Galeano (O livro dos abraços) , que depois
é o gênero preferido pela maio ria d os núcleos que operam d Lscursi-
Vdmente nesse universo. que parecem convictos de sua necessidade 70 Cl)()/)eraçâu ~ ()rganlzação- os desafios do cooperativismo. de M. D. luccnll,
p ubliCiÇ:iO ..1:I OCERN.

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de matar seus inimigos, cortar e encolher suas caIx."ÇlS au'! caberem na
palma da mão , ainda se preocupavam em COSturar suas bocas com um
fio indestrutível. Só então eram considerados inofensivos.
Se passarmos, porem, à coostruç.'io dos conceitos de "comunida-
de" e "panicipação", e n cio sim, constata-se um enu-elaÇ"J.menro de for- IV - FRONTEIRA
mações d iscursivas que pode ser sintom;! do cenário de indefini çio, ao
mesmo tempo em que o constituem . E .-alvez não. Talvcz o tema "co-
munidade" c seus c.:orrelatos "cooperação", "participação", "organiza- A propoSta de reconversiiú do o lh ar chega ao final. Ao lo ngo
ção" Coutros, acoplad05 ao qualificativo "popular", sejam daqueles que d os capítulos procurei argumenrar e demonstr"M que a Semiologia
desestabilizam e unificam os dispositivos de enunciaS""do. Nesse caso, dos Discursos Sociais oferece noV'".t5 e atraentes perspectivas para se
poder-se-ia pell.'urH:tr: por que desestabillz.am? Seria por d izerem res- repensar a prática d e comunica\-ão nos p rocessos inSTirucionais d e
peho justamente ao :l.' ipecto no quaJ os emissores mais se assemelham, intervenção, mais especificamente na realidade rural.
que é na construção da. imagem do destinatário dos seus d iscursos, ao J>ani de uma premissa, a de que os tradicionais modelos que d i-
mesmo tempo em que garanrem seu lugar na cena social? recio nam O agir comunicativo d as instituições - por mim d eno mina-
Ames de e ncerrar quero reafinnar um pontO que me parece d os de "olhar dom inante" - não dão conta dessa reaJid ade, nem
muito imponante. A idéia da artku laçfLo da sociedade pela coopera- conseguem produzir esn-.négias d e Intervenção consoantes com a
ção e solidariedade não resiste a uma análise d os discursos produzi- aná lise macrossocial que os agentes costumam f.l.Ze r. Pe lo contrário ,
dos pelos núcleos centrais dessa sociedad e. Não h:í solidariedade favorecem uma divage m acentuada e ntre concepção política e práti-
e ntre estes, pois é nítido o p rocesso de concorrê ncia. As alianças e ca sociodiscu rsiV"J.. Considerei também que aqueles modelos, apesar
parcerias são circunstanciais e seguem objetivos e razões iguais aos d e diferentes e m seus p ressupostos, companilham não SÓ um nú-
de qualque r o utra disputa. Não há solid:lriedade genuína do centro cleo comum - o esquema básico da Teoria da Informação - como um
para a periferia, prevaLecendo as est ratégias discursivas de reafinna- mesmo paradigma lingüíSTico, que rege a relação do s ujeito com a
~.1.o o u consolidação da cena social, que é fund:uneTl[almeme desi- língua, paradigma que é fator dete rminanre no direcionamento da
b'Ual. Há, sim , boas inrenções, dese jos de uma intervenção no sentido an:""tlise e das estratégias de ação na comunicação rural .
de colaborar com uma nova sociedade, mas que cedem diante d e uma Fonnulei, então, o que seria o "o lhar semio lógico "; selecionei
prálica social crismliz.tda e equivocada. as p ropostas teó ricas e metodológicas d a Semio logia que me parece-
Sem s ubestimar o utros fato res, de ordem est ruturotl e política, ram mais úteis par.I o avanço d o con hecimenro no campo da Comu-
diria - retomando O tcma do Capítulo I - que uma das fundamen'-.tis nicação para a intervenção Social - p rivilegiando a Comunic:lçáo
razões dessa discre pãn cia entre querer e fazer localiza-se na falra de Rural - e apresentei-as sob a fonna de postulados. Especial atenção
um modelo de comunicação compatível com a análise social e políti- foi dada à Análise dos Discursos, método se mio lógico cons ider:tdo
ca d as instituições e das comunidades discursivas. Também não se por mim mu ito inte ressante à compreensão do funcionamcnlo social.
pode esquecer a cJivagem que se manifesta e ntre as análises macro e No decorrer d o trabalho, foram-se evidenciando as diferenças entre
microssociais, percebendo antagonismos no plano macro e imagi- 05 do is modos d e perceber a realidade, principalmente quanto :LO
nando um modelo cooperativo e inlegrado no plano micro, c1iva- tipo de preocupação que eles põem e m cena e ao tipo de solução
gem que de ixa su as claras marcas nos discursos: antagonismos e que podem apontar.
concorrências com os o utros agenles pertencentes ao Cenlro e pre- Finalmente , procedi a um estudo comparativo d e discursos di-
gação da solidariedade para os agentes periféricos. Essas questões rigidos aos camponeses, com O duplo o bjetivo de verificar a o pe racio-
scr."io retomadas a seguir. nalidade dos conceitos, q uando a plicados a um material scmiótico

'"
de matar seus inimigos, cortar e encolher suas caIx."ÇlS au'! caberem na
palma da mão , ainda se preocupavam em COSturar suas bocas com um
fio indestrutível. Só então eram considerados inofensivos.
Se passarmos, porem, à coostruç.'io dos conceitos de "comunida-
de" e "panicipação", e n cio sim, constata-se um enu-elaÇ"J.menro de for- IV - FRONTEIRA
mações d iscursivas que pode ser sintom;! do cenário de indefini çio, ao
mesmo tempo em que o constituem . E .-alvez não. Talvcz o tema "co-
munidade" c seus c.:orrelatos "cooperação", "participação", "organiza- A propoSta de reconversiiú do o lh ar chega ao final. Ao lo ngo
ção" Coutros, acoplad05 ao qualificativo "popular", sejam daqueles que d os capítulos procurei argumenrar e demonstr"M que a Semiologia
desestabilizam e unificam os dispositivos de enunciaS""do. Nesse caso, dos Discursos Sociais oferece noV'".t5 e atraentes perspectivas para se
poder-se-ia pell.'urH:tr: por que desestabillz.am? Seria por d izerem res- repensar a prática d e comunica\-ão nos p rocessos inSTirucionais d e
peho justamente ao :l.' ipecto no quaJ os emissores mais se assemelham, intervenção, mais especificamente na realidade rural.
que é na construção da. imagem do destinatário dos seus d iscursos, ao J>ani de uma premissa, a de que os tradicionais modelos que d i-
mesmo tempo em que garanrem seu lugar na cena social? recio nam O agir comunicativo d as instituições - por mim d eno mina-
Ames de e ncerrar quero reafinnar um pontO que me parece d os de "olhar dom inante" - não dão conta dessa reaJid ade, nem
muito imponante. A idéia da artku laçfLo da sociedade pela coopera- conseguem produzir esn-.négias d e Intervenção consoantes com a
ção e solidariedade não resiste a uma análise d os discursos produzi- aná lise macrossocial que os agentes costumam f.l.Ze r. Pe lo contrário ,
dos pelos núcleos centrais dessa sociedad e. Não h:í solidariedade favorecem uma divage m acentuada e ntre concepção política e práti-
e ntre estes, pois é nítido o p rocesso de concorrê ncia. As alianças e ca sociodiscu rsiV"J.. Considerei também que aqueles modelos, apesar
parcerias são circunstanciais e seguem objetivos e razões iguais aos d e diferentes e m seus p ressupostos, companilham não SÓ um nú-
de qualque r o utra disputa. Não há solid:lriedade genuína do centro cleo comum - o esquema básico da Teoria da Informação - como um
para a periferia, prevaLecendo as est ratégias discursivas de reafinna- mesmo paradigma lingüíSTico, que rege a relação do s ujeito com a
~.1.o o u consolidação da cena social, que é fund:uneTl[almeme desi- língua, paradigma que é fator dete rminanre no direcionamento da
b'Ual. Há, sim , boas inrenções, dese jos de uma intervenção no sentido an:""tlise e das estratégias de ação na comunicação rural .
de colaborar com uma nova sociedade, mas que cedem diante d e uma Fonnulei, então, o que seria o "o lhar semio lógico "; selecionei
prálica social crismliz.tda e equivocada. as p ropostas teó ricas e metodológicas d a Semio logia que me parece-
Sem s ubestimar o utros fato res, de ordem est ruturotl e política, ram mais úteis par.I o avanço d o con hecimenro no campo da Comu-
diria - retomando O tcma do Capítulo I - que uma das fundamen'-.tis nicação para a intervenção Social - p rivilegiando a Comunic:lçáo
razões dessa discre pãn cia entre querer e fazer localiza-se na falra de Rural - e apresentei-as sob a fonna de postulados. Especial atenção
um modelo de comunicação compatível com a análise social e políti- foi dada à Análise dos Discursos, método se mio lógico cons ider:tdo
ca d as instituições e das comunidades discursivas. Também não se por mim mu ito inte ressante à compreensão do funcionamcnlo social.
pode esquecer a cJivagem que se manifesta e ntre as análises macro e No decorrer d o trabalho, foram-se evidenciando as diferenças entre
microssociais, percebendo antagonismos no plano macro e imagi- 05 do is modos d e perceber a realidade, principalmente quanto :LO
nando um modelo cooperativo e inlegrado no plano micro, c1iva- tipo de preocupação que eles põem e m cena e ao tipo de solução
gem que de ixa su as claras marcas nos discursos: antagonismos e que podem apontar.
concorrências com os o utros agenles pertencentes ao Cenlro e pre- Finalmente , procedi a um estudo comparativo d e discursos di-
gação da solidariedade para os agentes periféricos. Essas questões rigidos aos camponeses, com O duplo o bjetivo de verificar a o pe racio-
scr."io retomadas a seguir. nalidade dos conceitos, q uando a plicados a um material scmiótico

'"
Itlcs't.. A""újo A r«a>U.WsAtl tio olha,.

concreto e de fAZer uma demonstração do potencial analítico da Se- que limite as conclusÕt!s à<Juclc tipo de supone. A produç;io do sen-
miologia dos Discursos Sociais. tido pelos discursos sofTe algumas injunções do meio ulilizado, m:lS
Este trabalho, como qualquer outro, tcm características próprias, não modifica a natureza das relações propostas. Um estudo d e re-
algumas funcionando como limitações e as quais eu gostaria de rea- cepção necessitaria talvez aprofundar mais esse ângu lo . De qU:llqllcr
finll ar, antes de passar às conclusões pro priamente dit:lS. modo, sugiro que as conclusões sejam generalizáveis a situações de
A primeim delas é a minha penença ao universo estudado e o comunicação equivalemes, deixando p:lra um trabalho posterior sua
amalgamento do objeto d e anáJise com o meu locus profissional , o confinnação em discursos produzidos em vídeo, rádio ou outro
que faz le mbrar a assertiva d e Lucien Sfez, de que " nem tudo é obser- meio a udiovisual.
váveJ, visível e legível, pois estamos e m parte aprisionados peJo que POr fim, desejo relcmbmJ" que os sentidos são produzidos
de nunciamos (1994: 06) . Os ho rizo nres d este estudo estão defini-
H
numa prática discursiva que põe e m cena inte rloculores, cad3 qual
d os por essa coMacterística, que não pode ser ignorada, emJxu-.1 não com seus próprios dispositivos de enunciação, que possue m uma
se constitua abso lutamente num problema . Pelo contrário . seu reco- histó ria de relações a nte rio res e que vivenciam uma situação s ingu-
nhedrncmo abriu espaços de liberd:tde analítica e colocou em cena lar de comunicação. Os sentidos propoStoS nos discursos analisados
conhecime ntos improváveis e m o utr.l posição. "falam" sobre seus emissores e suas estratégias, fundam entam-se na-
Merece ser lembrado o fat o de o trabalho lidar com um conhe- quela história das relações e são essenciais na compree nsão do fu ncio-
cimento em construção, algo sobre o qu al não há ainda um Sllhcr sis- name nto social São, porém, scm/dos propostos, que serão submetidos
te matizado. Decerto que a Semiologia nio nasceu o Olem , mas sua a um processo de "fotossín lesc" com as condições de rece pção e
aplicação ao campo da Comunicação pam a Intervenção SociaJte m consu mo discursivo.
caráter de novidadc. Por o utro lado , a Semiologia dos Discursos S0- Gostaria que esse lugar de síntese e estabilização remporária
ciais, na abordagem aqui adotada, ta mbém representa um esfo rço dos sentidos, hahitualmcme tratado como de conclusão, fosse en-
recenre no sentido de superar limitações teóricas e metodológicas tendido como uma fronteirn . Não uma fronteira que represente fe-
da p rática acadêm ico.. nesse campo. Como todo conhedmento novo, c hamento, fim d e linha, mas um lugar onde tudo começa, um lugar
em processo, precisa ser experi mentado, vivido, confrontado com a o nde os campos (territórios, c ulturas, mercados ...) se e ncontra m e
pr:Ílica social continuada, sobretud o porque põe em causa certezas, se hibridizam, formando novas configurações, produtos de embates
práticas e conceitos cristalizados e aceitos como narurais . e negociaçõcs incessanles. É este o {lestino quc dcsejaria para "A Re-
Uma limitante é o fato dt.! o cenário estudado estar em plena situa- conversão do O lhar", um destino dialógico, no sentido bakthiniano.
ção de crise e transição paradigmática. Esses momentoS caracteri-
zam-se por Sallos e convivências, rupturas e reatamentos, avanços e "Existem condições históricas para O surgimelllo de formas so-
recuos. Corre-se o risco continuo d a desarualização, do e nvelheci- ciais de comunicAç:lo que tornam possÍl'd a produç:lo da verdade. A
me nlO sübito de um3 constataçáo. Po r Outro 13do , um cená rio de c ri- ve rdade é um Jogo de lutas e m todo campo". Escolh i essa fr:lse de
se é material riquíssimo d e análise semiológic3, valendo a pcna Bourdieu ( 1990: 46) para iniciar a parte final desle trabalho , por e la
correr I'odos os riscos. Evitei ao m:íximo o perigo das classificações, expressar bem o que quero dizer.
das rolulagens, que estigmatizam e imobilizam o objeto, grupo social Condições históricas possibüitaram o surgime nto das políticas
o u prática ro tulada. Em alguns momentos, porém, foi necessário de comunicação que viabiljzam as estratégias institucio nais d e imer-
fazê-lo , para localizar com mais precisão um determinado procedi- venção na sociedade camponesa. Políticas de comu nicação são polí-
menLo . ticas sociais e é através daquelas que os agemes sociais proc uram
Quanto ao fatO de ser um estud o sobre discursos impressos e legitimar-se e às suas práTicas. A despeito do grande imaginário social
não sobre suportes discursivos que privilegiam a o ralidade, não creio sobre a aniculação pela solidariedade, o que está e m jogo é a disputa

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Itlcs't.. A""újo A r«a>U.WsAtl tio olha,.

concreto e de fAZer uma demonstração do potencial analítico da Se- que limite as conclusÕt!s à<Juclc tipo de supone. A produç;io do sen-
miologia dos Discursos Sociais. tido pelos discursos sofTe algumas injunções do meio ulilizado, m:lS
Este trabalho, como qualquer outro, tcm características próprias, não modifica a natureza das relações propostas. Um estudo d e re-
algumas funcionando como limitações e as quais eu gostaria de rea- cepção necessitaria talvez aprofundar mais esse ângu lo . De qU:llqllcr
finll ar, antes de passar às conclusões pro priamente dit:lS. modo, sugiro que as conclusões sejam generalizáveis a situações de
A primeim delas é a minha penença ao universo estudado e o comunicação equivalemes, deixando p:lra um trabalho posterior sua
amalgamento do objeto d e anáJise com o meu locus profissional , o confinnação em discursos produzidos em vídeo, rádio ou outro
que faz le mbrar a assertiva d e Lucien Sfez, de que " nem tudo é obser- meio a udiovisual.
váveJ, visível e legível, pois estamos e m parte aprisionados peJo que POr fim, desejo relcmbmJ" que os sentidos são produzidos
de nunciamos (1994: 06) . Os ho rizo nres d este estudo estão defini-
H
numa prática discursiva que põe e m cena inte rloculores, cad3 qual
d os por essa coMacterística, que não pode ser ignorada, emJxu-.1 não com seus próprios dispositivos de enunciação, que possue m uma
se constitua abso lutamente num problema . Pelo contrário . seu reco- histó ria de relações a nte rio res e que vivenciam uma situação s ingu-
nhedrncmo abriu espaços de liberd:tde analítica e colocou em cena lar de comunicação. Os sentidos propoStoS nos discursos analisados
conhecime ntos improváveis e m o utr.l posição. "falam" sobre seus emissores e suas estratégias, fundam entam-se na-
Merece ser lembrado o fat o de o trabalho lidar com um conhe- quela história das relações e são essenciais na compree nsão do fu ncio-
cimento em construção, algo sobre o qu al não há ainda um Sllhcr sis- name nto social São, porém, scm/dos propostos, que serão submetidos
te matizado. Decerto que a Semiologia nio nasceu o Olem , mas sua a um processo de "fotossín lesc" com as condições de rece pção e
aplicação ao campo da Comunicação pam a Intervenção SociaJte m consu mo discursivo.
caráter de novidadc. Por o utro lado , a Semiologia dos Discursos S0- Gostaria que esse lugar de síntese e estabilização remporária
ciais, na abordagem aqui adotada, ta mbém representa um esfo rço dos sentidos, hahitualmcme tratado como de conclusão, fosse en-
recenre no sentido de superar limitações teóricas e metodológicas tendido como uma fronteirn . Não uma fronteira que represente fe-
da p rática acadêm ico.. nesse campo. Como todo conhedmento novo, c hamento, fim d e linha, mas um lugar onde tudo começa, um lugar
em processo, precisa ser experi mentado, vivido, confrontado com a o nde os campos (territórios, c ulturas, mercados ...) se e ncontra m e
pr:Ílica social continuada, sobretud o porque põe em causa certezas, se hibridizam, formando novas configurações, produtos de embates
práticas e conceitos cristalizados e aceitos como narurais . e negociaçõcs incessanles. É este o {lestino quc dcsejaria para "A Re-
Uma limitante é o fato dt.! o cenário estudado estar em plena situa- conversão do O lhar", um destino dialógico, no sentido bakthiniano.
ção de crise e transição paradigmática. Esses momentoS caracteri-
zam-se por Sallos e convivências, rupturas e reatamentos, avanços e "Existem condições históricas para O surgimelllo de formas so-
recuos. Corre-se o risco continuo d a desarualização, do e nvelheci- ciais de comunicAç:lo que tornam possÍl'd a produç:lo da verdade. A
me nlO sübito de um3 constataçáo. Po r Outro 13do , um cená rio de c ri- ve rdade é um Jogo de lutas e m todo campo". Escolh i essa fr:lse de
se é material riquíssimo d e análise semiológic3, valendo a pcna Bourdieu ( 1990: 46) para iniciar a parte final desle trabalho , por e la
correr I'odos os riscos. Evitei ao m:íximo o perigo das classificações, expressar bem o que quero dizer.
das rolulagens, que estigmatizam e imobilizam o objeto, grupo social Condições históricas possibüitaram o surgime nto das políticas
o u prática ro tulada. Em alguns momentos, porém, foi necessário de comunicação que viabiljzam as estratégias institucio nais d e imer-
fazê-lo , para localizar com mais precisão um determinado procedi- venção na sociedade camponesa. Políticas de comu nicação são polí-
menLo . ticas sociais e é através daquelas que os agemes sociais proc uram
Quanto ao fatO de ser um estud o sobre discursos impressos e legitimar-se e às suas práTicas. A despeito do grande imaginário social
não sobre suportes discursivos que privilegiam a o ralidade, não creio sobre a aniculação pela solidariedade, o que está e m jogo é a disputa

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A recanr'<!rsdo dQ o fhar

pelo direito de faze r prevaJecer os modos próprios de agir sobre e Faço opção pela segunda possibilidade, embora não possa eli-
transfonnar a realidade. Em OUlras palavras , as po líticas e as pdticas minar a primeira: os agentes crêem-se sinceramente movid os pelo
de comunicação eSlão no cenrro das d isputas pelo sentido d ominan- desejo d e transfonnação e de solidariedade com os que estão e m
te. desvamagem social, alé m de que padecem d a ilusão de que os mod e-
Políticas de comunicação assumem concretude e visibilidade los c as práticas de comunicação d ecorrentes favorecem sua ação po-
nos disc ursos que lhes correspondem . Mas discursos não são apenas sitiv-d no mundo. Não se pode, mesmo, ignorar o pensamento atual
espe lhos, eles são instâncias de produção de uma realidade. Falar, expresso nos artigos em publicações especializadas, nos seminários
e nunciar, é cOruitituir a cena social. Então, conceitos, modelos, teorias, e Outros eventos coletÍ\'os, nos meios de comunicação massivos. Mas
o poder d e faze r ver por sua própria ótica, d e estabelece r qu al é e pode·se e deve-se ale rtar para a difere nça e ntre essas representações
como se apresenta a Ve rd ad e é o móvel de lutas políticas; autoridade e aquelas c-xpressas nos dispositivos de e nunciação d os discu rsos d i-
e legitimidade discursivas são armas nesse e mbate. "A questão políti- rigidos aos camponeses.
ca - como diz Foucauh - não é o e rro , a ilusão, a conscii:ncia aliena- A Semio logia dos Discursos Sociais, com seus recu rsos teóricos
da o u a ideolOgia; é a p rópria verdade" (1982: 14). e metodolÓgicos, pennite perceber este cenário , tanto quanto os mo-
Os modelos do m in antes na prática atual de comunicação rural delos dominantes o o bscurecem . Ela possibilita um conhecime nto so-
são fnJtos d essa luta incessante pe lo poder simbólico, o poder de fa- bre mecanismos do funcio namento social através da prática discursi-
zer ver e fazer c re r. Em dado momento his tÓrico, detenninad as for- V"".i , cumprindo assim uma função d e crítica política. É também um

ças sociais puderam sobrepor ao de o utras seu próprio modo d e processo de autoconhecimento, no sentido que desvela estratégias
perceber e agir sobre a realidade; soube ram e nraizá-lo tão solida- d e intervenção que não são visíveis com o utro instrumental teórico e
mente, que resistiu a modificações do enlorno sociaJ, a mudanças de que não estão claras para os pró prios agentes que as fonnu lam . As
paradigmas e m do mínios conexos, a I.ransfonn ações do referendal malhas "misteriosas" do intertexto, a infinitude da Semiose, as "malí-
teó rico de outras regiões da disciplina da Comunicação. Sáo mode- cias" do aparelho form al da enunciação, as regras "cruéis" do merca·
los q ue não permitem p e rceber esse processo de disputa pelo poder do simbólico (que, como lodo mercado , lo nge de pro mover a
s imbólico na socied ad e , ao mesmo tempo que reforçam as estrutu- eqüidade, acentua as desigualdades) , tudo isso e muito mais , o olhar
ras d e dominação e reproduzem o status quo, como c reio te r d e- semiológico ajuda a entender e a d issolver perplexidades, como a d o
monstrado. poeta Paulo I..e minsky: "Mandei a palavra rimar, ela não me obede-
Se práticas discursivas são a face visível das instituições, por meio ceu I FaJo u e m mar, em céu , e m rosa / Em grego, em silê ncio, em pro-
das quais elas age m sobre a realidade, ao concretizar suas políticas so- sa / Parecia fo ra de s i I Sílaba silenciosa".
ciais, e se políticas sociais traduzem concepções de mundo, sociedade Q uero retomar aqui as duas principais conclusões pennitidas
c rclaçCies sociais, então estamos diante de uma questão dilcmática, pela análise dos textos. A tentat iva de fechamento dos discu rsos par.!.
q ue admile pelo me nos duas interpretações. Uma, a de que as institui- as vozes dos o utros atores soci ais é uma delas. O sile n ciamento fo i o
ções não se dariam conta da discrepância e ntre su as reais concepções mecanismo concorrencial mais prese nte . Faz-se "ou vido d e merca-
e intenções e sua prática efetiva de intervenção social , direcionada pe_ do r" às demais vozes circu lantes. tenta-se construir uma cena o nde
los modelos dominantes de comunJcação. Neste caso, seriam "víti- só há um discurso válido, o do emissor. Embora se saiba q ue as ima·
mas" do efeito-teoria, q ue naturaliza os modelos e toma "inevitáveis" gens propostas pelo emissor exercem coerções sobre o sentido p ro-
as opçõcs discursivas. Outra, a de que os discu rsos espelhem com fi - duzido, tendo a cre r que tal procedimento acentuará a clivagem com
d elidade as realJdades instirucionais, que se caracterizariam pela con- os d is positivos de recepção dos campo neses, mais sensíveis à p lura-
corrência e pela tendência a reproouzir a cena social, no que loca à lidade ("o pluraJ necessário do historicamente coagido ", como diz
posição que nela ocupam .

266 261
A recanr'<!rsdo dQ o fhar

pelo direito de faze r prevaJecer os modos próprios de agir sobre e Faço opção pela segunda possibilidade, embora não possa eli-
transfonnar a realidade. Em OUlras palavras , as po líticas e as pdticas minar a primeira: os agentes crêem-se sinceramente movid os pelo
de comunicação eSlão no cenrro das d isputas pelo sentido d ominan- desejo d e transfonnação e de solidariedade com os que estão e m
te. desvamagem social, alé m de que padecem d a ilusão de que os mod e-
Políticas de comunicação assumem concretude e visibilidade los c as práticas de comunicação d ecorrentes favorecem sua ação po-
nos disc ursos que lhes correspondem . Mas discursos não são apenas sitiv-d no mundo. Não se pode, mesmo, ignorar o pensamento atual
espe lhos, eles são instâncias de produção de uma realidade. Falar, expresso nos artigos em publicações especializadas, nos seminários
e nunciar, é cOruitituir a cena social. Então, conceitos, modelos, teorias, e Outros eventos coletÍ\'os, nos meios de comunicação massivos. Mas
o poder d e faze r ver por sua própria ótica, d e estabelece r qu al é e pode·se e deve-se ale rtar para a difere nça e ntre essas representações
como se apresenta a Ve rd ad e é o móvel de lutas políticas; autoridade e aquelas c-xpressas nos dispositivos de e nunciação d os discu rsos d i-
e legitimidade discursivas são armas nesse e mbate. "A questão políti- rigidos aos camponeses.
ca - como diz Foucauh - não é o e rro , a ilusão, a conscii:ncia aliena- A Semio logia dos Discursos Sociais, com seus recu rsos teóricos
da o u a ideolOgia; é a p rópria verdade" (1982: 14). e metodolÓgicos, pennite perceber este cenário , tanto quanto os mo-
Os modelos do m in antes na prática atual de comunicação rural delos dominantes o o bscurecem . Ela possibilita um conhecime nto so-
são fnJtos d essa luta incessante pe lo poder simbólico, o poder de fa- bre mecanismos do funcio namento social através da prática discursi-
zer ver e fazer c re r. Em dado momento his tÓrico, detenninad as for- V"".i , cumprindo assim uma função d e crítica política. É também um

ças sociais puderam sobrepor ao de o utras seu próprio modo d e processo de autoconhecimento, no sentido que desvela estratégias
perceber e agir sobre a realidade; soube ram e nraizá-lo tão solida- d e intervenção que não são visíveis com o utro instrumental teórico e
mente, que resistiu a modificações do enlorno sociaJ, a mudanças de que não estão claras para os pró prios agentes que as fonnu lam . As
paradigmas e m do mínios conexos, a I.ransfonn ações do referendal malhas "misteriosas" do intertexto, a infinitude da Semiose, as "malí-
teó rico de outras regiões da disciplina da Comunicação. Sáo mode- cias" do aparelho form al da enunciação, as regras "cruéis" do merca·
los q ue não permitem p e rceber esse processo de disputa pelo poder do simbólico (que, como lodo mercado , lo nge de pro mover a
s imbólico na socied ad e , ao mesmo tempo que reforçam as estrutu- eqüidade, acentua as desigualdades) , tudo isso e muito mais , o olhar
ras d e dominação e reproduzem o status quo, como c reio te r d e- semiológico ajuda a entender e a d issolver perplexidades, como a d o
monstrado. poeta Paulo I..e minsky: "Mandei a palavra rimar, ela não me obede-
Se práticas discursivas são a face visível das instituições, por meio ceu I FaJo u e m mar, em céu , e m rosa / Em grego, em silê ncio, em pro-
das quais elas age m sobre a realidade, ao concretizar suas políticas so- sa / Parecia fo ra de s i I Sílaba silenciosa".
ciais, e se políticas sociais traduzem concepções de mundo, sociedade Q uero retomar aqui as duas principais conclusões pennitidas
c rclaçCies sociais, então estamos diante de uma questão dilcmática, pela análise dos textos. A tentat iva de fechamento dos discu rsos par.!.
q ue admile pelo me nos duas interpretações. Uma, a de que as institui- as vozes dos o utros atores soci ais é uma delas. O sile n ciamento fo i o
ções não se dariam conta da discrepância e ntre su as reais concepções mecanismo concorrencial mais prese nte . Faz-se "ou vido d e merca-
e intenções e sua prática efetiva de intervenção social , direcionada pe_ do r" às demais vozes circu lantes. tenta-se construir uma cena o nde
los modelos dominantes de comunJcação. Neste caso, seriam "víti- só há um discurso válido, o do emissor. Embora se saiba q ue as ima·
mas" do efeito-teoria, q ue naturaliza os modelos e toma "inevitáveis" gens propostas pelo emissor exercem coerções sobre o sentido p ro-
as opçõcs discursivas. Outra, a de que os discu rsos espelhem com fi - duzido, tendo a cre r que tal procedimento acentuará a clivagem com
d elidade as realJdades instirucionais, que se caracterizariam pela con- os d is positivos de recepção dos campo neses, mais sensíveis à p lura-
corrência e pela tendência a reproouzir a cena social, no que loca à lidade ("o pluraJ necessário do historicamente coagido ", como diz
posição que nela ocupam .

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OrLandi (1993: ISS)} . Os núcleos institucionais estão a se compOrtar m ais ~ ti cas de relação entre a sociedad e camponesa e aqueles que
como t'Odo núcleo dominante, que só precisa do " um ~, o seu . nela desejam amar.
A o utr.t. conclus:'io ceft:re-se ao desequiLbrio enU"e OS núcleos A prime ira opção, própria do o lha r do minante , ajusta-se à con-
discursivos e os destin:u::í.rios de seus discursos. A re!:u.'áo que se imagi- cepção solidarista de socied ade e à prática de desenvolvimento e
na solidária é legitimador.1da CCt13 soci.al desigu.al e rcafuma a siruaç'iO ação comunicirios. Mas nega, o u me lho r, o bscurece a percepção da
d e exclus:'io. Os dispositi\'os de enunciaçáo contrariam as imençõcs. existênc ia d o m e rcado simbólico que, a seu despe ito , continua a fun-
Funda-se a comunidade dos excluídos, a....sim classificados, prudente- cionar. Em con.scqüência, produz modelos que leV"dm a uma prática
mente d e marcados num gueto. VaJoriza-se o J>L"<l.ue no , o coletivO, a "esquizofrênica ", no sentidO d e ( IU C os discursos (Iue fazem c irc ular
força dos fracos : e les implicam a existência daqueles que sabem e p0- entmm para valer na dispu ra dos sen tidos, m as negando-a sistemati-
d e m exercer :l mediação e ntre seu mundo c o ourro, o dos grandes, came nte: pelo c:ontrdrio, ostentam uma rctó rica e uma just ificativa
d os incluídos, d os cidad:'ios. pelo viés do solidarismo. Uma conseq üência perversa desta situação
Te mos, pois, discursos c uja característica principal é o efei- são os dispositivos de enunciação como os aqui analisados, cuja mar-
to-excJusão que produzem . No entanto, tais discursos funcio nam ca principal ~ a exclusão e a correspondente solidificação de uma re·
num contexto de políticas sociais, no qual predomina, no mome nto, lação de dominação entre núcleos cent.rais e perifé ricos. Sem uma
o model o da cidadania, que o pera a parti r do fundamento d a igual- consciê ncia clara do processo que vivenciam , as comunidadcs dis-
dade e da integração social. Trabalha, pois , com o pressuposto da so- c ursivas terminam por gerar textos que oste ntam marcas que, acredi-
ciedade harmônica, solid:íria e eqüitativa. Esta é uma contradição to, podem cOllStcrnar a s i mesmas,
que a :lnálise d os discursos pennitiu constatar e que me limitO a re- Metodo logicamente, os d o is modos de o lhar tam bém produ-
gistrar, uma vez que suas implicações escapam do âmbito deste t"l- ze m diferenças importantes. Os instrumentos para se operar com
balho. um processo que nunca fech a - o da produção de se ntido - são nc-
Quero a inda re tomar um ângulo importante na diferenciação cessariamente distintos dos requeridos po r um mode lo que cons ide-
dos dois modos d e perceber a prática comunjcativa, que é o do para- r.t que os emissores têm O controle sobre o sentido . Da mesma forma
digma lingüístiCO que info nna o o lhar d o m ina nte e o semiológico, dife re m as exigê ncias metodológicas para dar conm d a intcrsubjeti-
visto por mim com o decisorda possibilidade de avanço na produção vid:tde e da subjetividade ; d a diacronia e d a s incronia; do discurso e
d o conhecim c m o sobre a comunic tção rur.ll. Língua como espaço da mensagem ; da a tribui\":' io d e sentido e d a decodificação; do mer-
d e comunhão entre f.dantc:.-s versus língua como arena d e c mb:lles cado simbólico e d;l relação e missor-receptor; do sentido e do s igni-
SOCiais. Nessa pequena dist inção, d espcn:ebida à maioria d as pessoas, ficado.
pode estar o principio d e solução para os dile m as que atravessam as Não é possível avançAr numa árca do conhecim e nto sem pôr
estratégias de intervc nçlo social. A segunda opção, pró pria do o lha r em xeque a metodologia que corresponde ao saber que se d eseja uJ-
sem iológico, é compatível com o paradigma conflirual que os núcleos trApassar. A comunicação rurll necessita disso urge nte menre. A An:ili-
ainda d e monstra m ler, na sua a nálise macrossocial, e conduz ao mo- se de DiSf.-ursos é u ma vertente profícua e com muitas possibilidades,
delo pluralista de política social , que compreende a esfe ra pública como se pôde ver, e nela muito há ainda o que explorar. Mas mlo é a
como formada por uma pluralidade de ato res que transadonam , dis- única opção. O importante é que se abra essa região da comunicação
putando a hegem o nia sobre os sentidos c irculantes. Produziria, se para o utra." disciplinas e os m étod os corresponde ntes.
considerada, mode los d e uma prática discursiva aberta, p lural e in-
tersubjetiva, e nte ndida como negociação de sentidos entre interlo· Encerro aqui m e u traba lho . Re le ndo -o, si m o que algumas vezes
cutores. Não eliminaria as d esig ualdades, que estas dize m respeito pareci impiedosa. em relação aos age nres dos núcleos discursivos
também a outras esferas, não só :\ discursiva, mas criaria condições que compõem O universo estudado. Logo em segu ida , relembro: sou

lO. 269
OrLandi (1993: ISS)} . Os núcleos institucionais estão a se compOrtar m ais ~ ti cas de relação entre a sociedad e camponesa e aqueles que
como t'Odo núcleo dominante, que só precisa do " um ~, o seu . nela desejam amar.
A o utr.t. conclus:'io ceft:re-se ao desequiLbrio enU"e OS núcleos A prime ira opção, própria do o lha r do minante , ajusta-se à con-
discursivos e os destin:u::í.rios de seus discursos. A re!:u.'áo que se imagi- cepção solidarista de socied ade e à prática de desenvolvimento e
na solidária é legitimador.1da CCt13 soci.al desigu.al e rcafuma a siruaç'iO ação comunicirios. Mas nega, o u me lho r, o bscurece a percepção da
d e exclus:'io. Os dispositi\'os de enunciaçáo contrariam as imençõcs. existênc ia d o m e rcado simbólico que, a seu despe ito , continua a fun-
Funda-se a comunidade dos excluídos, a....sim classificados, prudente- cionar. Em con.scqüência, produz modelos que leV"dm a uma prática
mente d e marcados num gueto. VaJoriza-se o J>L"<l.ue no , o coletivO, a "esquizofrênica ", no sentidO d e ( IU C os discursos (Iue fazem c irc ular
força dos fracos : e les implicam a existência daqueles que sabem e p0- entmm para valer na dispu ra dos sen tidos, m as negando-a sistemati-
d e m exercer :l mediação e ntre seu mundo c o ourro, o dos grandes, came nte: pelo c:ontrdrio, ostentam uma rctó rica e uma just ificativa
d os incluídos, d os cidad:'ios. pelo viés do solidarismo. Uma conseq üência perversa desta situação
Te mos, pois, discursos c uja característica principal é o efei- são os dispositivos de enunciação como os aqui analisados, cuja mar-
to-excJusão que produzem . No entanto, tais discursos funcio nam ca principal ~ a exclusão e a correspondente solidificação de uma re·
num contexto de políticas sociais, no qual predomina, no mome nto, lação de dominação entre núcleos cent.rais e perifé ricos. Sem uma
o model o da cidadania, que o pera a parti r do fundamento d a igual- consciê ncia clara do processo que vivenciam , as comunidadcs dis-
dade e da integração social. Trabalha, pois , com o pressuposto da so- c ursivas terminam por gerar textos que oste ntam marcas que, acredi-
ciedade harmônica, solid:íria e eqüitativa. Esta é uma contradição to, podem cOllStcrnar a s i mesmas,
que a :lnálise d os discursos pennitiu constatar e que me limitO a re- Metodo logicamente, os d o is modos de o lhar tam bém produ-
gistrar, uma vez que suas implicações escapam do âmbito deste t"l- ze m diferenças importantes. Os instrumentos para se operar com
balho. um processo que nunca fech a - o da produção de se ntido - são nc-
Quero a inda re tomar um ângulo importante na diferenciação cessariamente distintos dos requeridos po r um mode lo que cons ide-
dos dois modos d e perceber a prática comunjcativa, que é o do para- r.t que os emissores têm O controle sobre o sentido . Da mesma forma
digma lingüístiCO que info nna o o lhar d o m ina nte e o semiológico, dife re m as exigê ncias metodológicas para dar conm d a intcrsubjeti-
visto por mim com o decisorda possibilidade de avanço na produção vid:tde e da subjetividade ; d a diacronia e d a s incronia; do discurso e
d o conhecim c m o sobre a comunic tção rur.ll. Língua como espaço da mensagem ; da a tribui\":' io d e sentido e d a decodificação; do mer-
d e comunhão entre f.dantc:.-s versus língua como arena d e c mb:lles cado simbólico e d;l relação e missor-receptor; do sentido e do s igni-
SOCiais. Nessa pequena dist inção, d espcn:ebida à maioria d as pessoas, ficado.
pode estar o principio d e solução para os dile m as que atravessam as Não é possível avançAr numa árca do conhecim e nto sem pôr
estratégias de intervc nçlo social. A segunda opção, pró pria do o lha r em xeque a metodologia que corresponde ao saber que se d eseja uJ-
sem iológico, é compatível com o paradigma conflirual que os núcleos trApassar. A comunicação rurll necessita disso urge nte menre. A An:ili-
ainda d e monstra m ler, na sua a nálise macrossocial, e conduz ao mo- se de DiSf.-ursos é u ma vertente profícua e com muitas possibilidades,
delo pluralista de política social , que compreende a esfe ra pública como se pôde ver, e nela muito há ainda o que explorar. Mas mlo é a
como formada por uma pluralidade de ato res que transadonam , dis- única opção. O importante é que se abra essa região da comunicação
putando a hegem o nia sobre os sentidos c irculantes. Produziria, se para o utra." disciplinas e os m étod os corresponde ntes.
considerada, mode los d e uma prática discursiva aberta, p lural e in-
tersubjetiva, e nte ndida como negociação de sentidos entre interlo· Encerro aqui m e u traba lho . Re le ndo -o, si m o que algumas vezes
cutores. Não eliminaria as d esig ualdades, que estas dize m respeito pareci impiedosa. em relação aos age nres dos núcleos discursivos
também a outras esferas, não só :\ discursiva, mas criaria condições que compõem O universo estudado. Logo em segu ida , relembro: sou

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pane disso tudo, nâo é "deles" que (ajo , é de mim mesma . ProUSt dis-
se, e m a lgum lugar, que "na reaJid;lde, todo leitor é , quando lê, O le i-
to r de si mesmo". Por outro lado, não desejei (azer uma cnt'ica a
comportamentos, atitudes o u ideologias dos agentes individuais ou
institucionais. Meu objetivo (oi identificar um " regime de produção ANEXO DO CAPÍTULO 1II
da verdade", que naturaliza modelos c práticas e estanca a produção
CO t1Jl1S de análise
d o conhecimento, c o fere cer e m troca os princ ípios d e um o utro'
modo de abeiramento da realidade - de um o utro regime de verda-
de. L. Ação cooperaJiuisJa de Pentamhllco. Jo rnal. OCEPE. Recife. 1995.
Em vários mome m os, pensei e m d esistir, mudar o rumo . " Para 2. A força que nasce de nós. UvreIO. URPlAN/PUC. São Paulo. 1982.
que fazer isto?". perguntava·me . TaJ ocorria sempre que me d e fro n- 3. A função adminismlciva da direção: aprende ndo a d ecidir. Livre·
tava com os indícios de crise, d e d esarticulação social, d e d esmobili-
to. BNB. Fo rtaleza. 1994.
4. Al:J.gamar: fi rmes na t c.: rr.t . Livrem. CRD. Goiânia . 1980.
zação da organização popular, d e capitulação política , cada vez mais
5. Almanaque d o Peque no ProdUlor. Liyrelo. Campina Grande (PB).
freqüentes no pais, Nessas horas, c u pensava nos "ensiname ntos d e PATAC. 1987·9 1.
0 0 11 Juan ", de Castaileda: "O lhe cada caminho com c uidado e aten· 6. A!m Serrmão: um passo para a libertaçio. Livreto. CenrraC/MST.
ção, Teste--o quantas vezes julgar necessárias , Então, faça a si mes mo Campina Grandc .1987.
uma pergu nta. Possui e ste caminho um coração ? Em caso afinn:llivo, 7. As 3 polític.lS. Uyrelo. PMD. Diadcma (S P) . S/d .
o caminho é bom. Caso contrário , esse caminho não possui im por- 8. Aumgestão. Fo lhe IO. OC 8 . Brasllia. (1991) .
tância a lgum a". O caminho te m coração. 9. AUlogestão: ao alcance d as cooperativas. ü vrc to . OCB. Brasilia.
1991.
Recife, Prlma veru l/e J9')5. LO. Banco d e seme m es . LivrelO. Emater. Recife. 1995 .
Niter6i, Prl",m~m d e 1999. 11. Banco d e semc m e.<i: nós podemos ter o nosso. Livrem. CAR. Sal·
vador. 1988.
12. Bate·papo sobre nossa produção. Folheto . Arquldloce se de Sio
Paulo. s/d .
13. CantO d as mulheres d o cam pO. Livrt::to. CDDJ-VAE P. João Pessoa.
s/d o
14. Cio da terra. li\'relQ. Cemrac. Campina Grande. 1990.
15. Como organizar os assentados rurai.s. Uvreto. MST. São Paulo.
1994.
16. Cont.tndo os d ez anos da APAED. Cordel . MDC. Feira d e Santana
(BA) . 1990.
17. Cooperação e ntre formigas : um exemplo a ser seguido. Uvrc to,
Cecoope. Recife . 198 1.
18. Cooperação e orgatttzação: desafios do cooperatilJismo . livro.
OCERt'l. Natal . 1994.
19. Coopcrari\':J.s e trabalho comunitário. Uvreto. FNT. OS;tsCO (SP).
1982.
20. Coope.ralivis mo: u ma alternativa para os peque nos. livreto.
CPT/Cáriras/CEFAS. Teresina. 1994 .

27.
pane disso tudo, nâo é "deles" que (ajo , é de mim mesma . ProUSt dis-
se, e m a lgum lugar, que "na reaJid;lde, todo leitor é , quando lê, O le i-
to r de si mesmo". Por outro lado, não desejei (azer uma cnt'ica a
comportamentos, atitudes o u ideologias dos agentes individuais ou
institucionais. Meu objetivo (oi identificar um " regime de produção ANEXO DO CAPÍTULO 1II
da verdade", que naturaliza modelos c práticas e estanca a produção
CO t1Jl1S de análise
d o conhecimento, c o fere cer e m troca os princ ípios d e um o utro'
modo de abeiramento da realidade - de um o utro regime de verda-
de. L. Ação cooperaJiuisJa de Pentamhllco. Jo rnal. OCEPE. Recife. 1995.
Em vários mome m os, pensei e m d esistir, mudar o rumo . " Para 2. A força que nasce de nós. UvreIO. URPlAN/PUC. São Paulo. 1982.
que fazer isto?". perguntava·me . TaJ ocorria sempre que me d e fro n- 3. A função adminismlciva da direção: aprende ndo a d ecidir. Livre·
tava com os indícios de crise, d e d esarticulação social, d e d esmobili-
to. BNB. Fo rtaleza. 1994.
4. Al:J.gamar: fi rmes na t c.: rr.t . Livrem. CRD. Goiânia . 1980.
zação da organização popular, d e capitulação política , cada vez mais
5. Almanaque d o Peque no ProdUlor. Liyrelo. Campina Grande (PB).
freqüentes no pais, Nessas horas, c u pensava nos "ensiname ntos d e PATAC. 1987·9 1.
0 0 11 Juan ", de Castaileda: "O lhe cada caminho com c uidado e aten· 6. A!m Serrmão: um passo para a libertaçio. Livreto. CenrraC/MST.
ção, Teste--o quantas vezes julgar necessárias , Então, faça a si mes mo Campina Grandc .1987.
uma pergu nta. Possui e ste caminho um coração ? Em caso afinn:llivo, 7. As 3 polític.lS. Uyrelo. PMD. Diadcma (S P) . S/d .
o caminho é bom. Caso contrário , esse caminho não possui im por- 8. Aumgestão. Fo lhe IO. OC 8 . Brasllia. (1991) .
tância a lgum a". O caminho te m coração. 9. AUlogestão: ao alcance d as cooperativas. ü vrc to . OCB. Brasilia.
1991.
Recife, Prlma veru l/e J9')5. LO. Banco d e seme m es . LivrelO. Emater. Recife. 1995 .
Niter6i, Prl",m~m d e 1999. 11. Banco d e semc m e.<i: nós podemos ter o nosso. Livrem. CAR. Sal·
vador. 1988.
12. Bate·papo sobre nossa produção. Folheto . Arquldloce se de Sio
Paulo. s/d .
13. CantO d as mulheres d o cam pO. Livrt::to. CDDJ-VAE P. João Pessoa.
s/d o
14. Cio da terra. li\'relQ. Cemrac. Campina Grande. 1990.
15. Como organizar os assentados rurai.s. Uvreto. MST. São Paulo.
1994.
16. Cont.tndo os d ez anos da APAED. Cordel . MDC. Feira d e Santana
(BA) . 1990.
17. Cooperação e ntre formigas : um exemplo a ser seguido. Uvrc to,
Cecoope. Recife . 198 1.
18. Cooperação e orgatttzação: desafios do cooperatilJismo . livro.
OCERt'l. Natal . 1994.
19. Coopcrari\':J.s e trabalho comunitário. Uvreto. FNT. OS;tsCO (SP).
1982.
20. Coope.ralivis mo: u ma alternativa para os peque nos. livreto.
CPT/Cáriras/CEFAS. Teresina. 1994 .

27.
I nellta Arauja

2 1. Coope ralivism o d e crédllO : essa idl:ia faz crescer. Fo lheto . Asso-


ce::ne::. Re::cifc . 1995.
22. Criação d e cabras. Livreto. Cecapas. Recife . 1988.
23. Da roça paf'<1 a c:;idade::. ü Vreto. CET. São Paulo . 198 1.
24 . De compadre :l compadre : depoime nto d e:: um coope ralivado .
Livreto. Assocen e . Recife . 1977.
BIBLIOGRAFIA
25 . Fo nn acoop-NE . Módulos l , 2, 3. Uvreto. Assoccn cjCoonap . Reci-
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I nellta Arauja

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