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5832-1
Resumo. Os aços inoxidáveis são amplamente utilizados em implantes devido às excelentes propriedades
mecânicas, de resistência à corrosão e custo-benefício. No entanto, quando implantados, estão constantemente
sujeitos à ação dos fluidos corporais, os quais contêm altas concentrações de íons cloreto e proteínas. A
principal proteína presente nestes fluidos é a albumina. Esses fatores, aliados à temperatura do corpo humano,
favorecem a corrosão localizada, como a corrosão por pite, em frestas e corrosão sob tensão, podendo
ocasionar falhas, as quais muitas vezes levam o paciente a uma cirurgia de revisão. A albumina pode afetar o
comportamento eletroquímico dos metais, ora inibindo a dissolução do metal, devido à camada de proteína que
se adsorve na superfície do metal atuando de forma protetora, ora acelerando a dissolução deste, geralmente
pela formação de complexos com o metal, o que resulta no aumento da taxa de corrosão. Essas variações do
comportamento eletroquímico dependem do tipo de metal utilizado e da solução. Apesar de haver alguns
estudos sobre a influência de proteínas na resistência à corrosão dos implantes metálicos, não há concordância
quanto à influência da albumina na resistência à corrosão, e os resultados são controversos. O objetivo deste
estudo é investigar o efeito da albumina na resistência à corrosão do aço inoxidável NBR ISO 5832-1.
1. INTRODUÇÃO
2. MATERIAIS E MÉTODOS
CARACTERIZAÇÃO ELETROQUÍMICA.
Para os ensaios de polarização cíclica foram utilizadas as soluções conforme mostra a
Tabela 2. A albumina utilizada foi a albumina soro bovina (BSA).
As soluções de PBS com albumina foram preparadas com material esterilizado, ao qual
foi adicionado antibiótico/antimicótico da marca Gibco e, então, as soluções foram filtradas
através do sistema de filtragem Corning para garantir maior integridade/durabilidade da
solução. Os ensaios foram conduzidos a (37,0±0,5) °C.
O aço NBR ISO 5832-1 foi ensaiado com acabamento superficial conforme recebido, que
é o mesmo utilizado nos implantes.
O arranjo experimental adotado foi o de três eletrodos utilizando como eletrodo de
referência o eletrodo de prata/cloreto de prata e, como contra-eletrodo, um fio de platina
enrolado em formato espiral, com área exposta de pelo menos 5 cm². As células
eletroquímicas foram autoclavadas antes de serem usadas em cada ensaio eletroquímico.
Curvas de polarização potenciodinâmica cíclica foram obtidas após 72h de imersão nas
soluções de ensaio para avaliar a susceptibilidade à corrosão por pite. A varredura de potencial
foi realizada desde o potencial de corrosão na direção anódica, com uma velocidade de
varredura de 1 mV/s. O sentido de varredura era revertido quando a densidade de corrente
anódica atingia o valor de 10-³ A/cm² e o ensaio foi encerrado quando o potencial de corrosão,
medido no início do teste era atingido. Ao final dos ensaios de polarização, os corpos-de-
prova foram lavados com água deionizada, secos com jato de ar quente, e guardados em
dessecador para posterior observação por microscopia ótica e eletrônica de varredura a fim de
avaliar a superfície do material após os testes realizados.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
As Figuras 1(a) e 1(b) mostram a superfície do aço como recebido, sem ataque.
(a) (b)
Figura 1: Superfície do aço NBR ISO 5832-1 como recebido a) Microscopia ótica e b) MEV .
Nota-se a presença de alguns riscos no material como recebido, uma superfície não
homogênea e pontos mais escuros, os quais foram analisados por EDS a fim de determinar a
composição química dos mesmos.
O ponto escuro em formato circular mostrado na Figura 2 (a) foi analisado por EDS e
mostrou pico intenso de Al, além dos elementos Ca, Mn, Fe e Cr, indicando tratar-se de uma
inclusão mista de alumina e óxido de cálcio. A inclusão em formato poligonal, Figura 2 (b),
por análise de EDS mostrou pico de Si, indicando que se trata de um precipitado de sílica,
com espectro bem diferente do correspondente à matriz do aço estudado, Figura 2 (c).
(a)
(b)
(c)
Figura 2: EDS de (a) inclusão com formato circular, (b) inclusão com formato poligonal e
(c) matriz do aço como recebido.
CITOTOXICIDADE IN VITRO.
A Figura 3 mostra a curva de viabilidade celular obtida pelo ensaio de citotoxicidade in
vitro para o aço NBR ISO 5832-1, e comportamento similar ao do controle negativo,
mostrando que o material não apresenta citotoxicidade.
CARACTERIZAÇÃO ELETROQUÍMICA
A Figura 4 mostra as curvas de polarização cíclica, obtidas potenciodinamicamente para
as diversas concentrações de albumina.
Figura 4. Curvas de polarização cíclica do aço NBR ISO 5832-1 nas soluções de ensaio
testadas em pH 7.
Nota-se que as curvas referentes à solução PBS e solução PBS com 10 g/L albumina
mostram comportamento muito similar, com densidades de corrente no potencial de corrosão
muito baixas, indicativas de comportamento passivo nas soluções testadas, e potenciais de
elevação de corrente próximos a 1,1 VAg/AgCl. Densidades de corrente ainda mais baixas e
potenciais de elevação de corrente ainda mais altos foram associados à curva para a solução
PBS com 10 mg/L de albumina. Esta praticamente não mostra histerese na curva reversa,
indicando ausência de corrosão por pite. As menores densidades de corrente observadas para a
solução com 10 mg/L de albumina sugerem que nesta concentração a albumina pode estar
atuando como inibidor de corrosão, provavelmente por mecanismo de adsorção, o que afetaria
tanto as reações anódicas quanto as catódicas, conforme fica indicado na Figura 4.
A Figura 5 compara o efeito do pH na solução com albumina na concentração de 10 g/L.
O aço testado encontra-se passivo em todas as soluções mostradas nesta figura, mas a maior
resistência foi associada ao meio com pH 3. Uma explicação possível é o caráter mais
oxidante desta última solução, favorecendo a formação do filme passivo.
Figura 5. Curvas de polarização cíclica do aço NBR ISO 5832-1 para solução PBS com
10g/L de albumina e pH 3 e pH 5.
4. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos até o momento permitem concluir que o aço ISO NBR 5832-1 na
condição como recebido, a qual corresponde à utilizada nos implantes, apresenta superfície
não homogênea, riscos superficiais e presença de precipitados e inclusões que são prejudiciais
à resistência à corrosão localizada do material. O aço usado encontra-se passivo nas soluções
de ensaio utilizadas até o momento. A albumina em concentrações de 10 mg/L aparentemente
atua como inibidor de corrosão, mas há necessidade de estudos adicionais para comprovação
desta atuação.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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Abstract. Stainless Steels are used as implants due to their superior mechanical properties, corrosion resistance
and comparatively low cost. However, when in use as implants they are constantly in contact with body fluids
that contain high concentration of chloride ions and proteins. The most important protein present in body fluids
is albumin. These factors favor localized corrosion, such as pitting, crevice and stress corrosion cracking,
leading to premature fails and to a new revision surgery. Albumin might affect the electrochemical behavior of
metals, either inhibiting metal dissolution, due to protein adsorption on the surface acting as a protective layer
or promoting metal dissolution, generally by formation of metal complexes, and consequently increasing the
corrosion rate. Such behaviour can vary according to metal or solution tested. Despite the research studies on
the influence of proteins on the corrosion resistance of metallic implants, there is no general agreement
concerning the influence of albumin on the corrosion resistance of NBR ISO 5832-1. The aim of the present
study is to investigate the effect of albumin on the corrosion resistance of the NBR ISO 5832-1 stainless steel.