Professional Documents
Culture Documents
(Zygmut Bauman)
1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas/PPGICH pela
Universidade do Estado do Amazonas/UEA, graduada em Letras e Literatura Francesa pela Universidade
Federal do Amazonas/UFAM
1
1- Cultura, literatura e sociedade.
2 CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. 8º ed. São Paulo. T.A.Queiroz,
2000, p.9
2
Em nosso contexto atual e complexo (no sentido de estarmos no caminho
do rompimento de paradigmas simples e simplistas), onde os estudos culturais
estão cada vez mais inseridos no campo acadêmico, entende-se que é
necessário unir “texto e contexto”, para que se possa chegar a determinar
aspectos ricos numa obra literário-artística. E que o externo, ou seja, o social,
influi diretamente no interno, ou seja, na estrutura de como a obra foi concebida.
3
Sua principal vantagem é que, usando desta metodologia, torna-se possível
estabelecer uma ordem geral 3 , ou seja, um panorama histórico-social bem
organizado, que mostra com clareza onde e de que forma o objeto de estudo
está inserido na sociologia da literatura.
3 CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. 8º ed. São Paulo. T.A.Queiroz,
2000, p.18
4
estudo, tem como objeto de pesquisa a investigação hipotética das origens4,
tanto da literatura quanto de gêneros e temas específicos.
4 CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. 8º ed. São Paulo. T.A.Queiroz,
2000, p.21
5 CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. 8º ed. São Paulo. T.A.Queiroz,
2000, p.31
5
Em Ensaios sobre o conceito de cultura, Bauman propõe uma crítica do
conceito de cultura. O teórico realiza um detalhado percurso teórico sobre os
diferentes conceitos de cultura através das eras. Desde o período helênico até
o contexto pós-moderno que estamos inseridos. Bauman vê a cultura como
práxis, como um conjunto de fatores que englobam identidade, estrutura,
hierarquia e outros fatores.
6 BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de cultura. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro:
Zahar, 2012.
6
Em Modernidade líquida, Bauman voltará a falar sobre o conceito de
emancipação, como ele se encontra na modernidade. No presente trabalho,
desenvolverei como a emancipação está presente de maneiras diferentes, nas
duas obras selecionadas como objeto de estudo.
2. Do universo Kafkaniano
7
Anders cita E. mounnier em “Introduction aux existencialismes”, in Esprit, abril de 1946,p.526
ANDERS, Günther. Kafka: Pró e contra. São Paulo: Ed. Cosac Naify,2007
7
fato louco de que o mundo louco seja considerado normal. (ANDERS,
2007, p.26).
8
“fantástico puro” todoroviano, e este, passa a ser classificado entre suas
categorias vizinhas, o estranho ou o maravilhoso.
9
pela naturalidade com que os personagens reagem diante dos acontecimentos
anormais, como o que acontece em A Metamorfose, nosso próximo objeto de
estudo deste trabalho. Anders chama este princípio de “ princípio da explosão
negativa”8.
8 “consiste em não fazer soar sequer um pianíssimo onde cabe esperar um fortíssimo: o mundo
simplesmente conserva inalterada a intensidade do som. Com efeito, nada é mais assombroso do que a
fleuma e a inocência com que Kafka entra nas histórias mais incríveis” (ANDERS, 2007, P.20).
9 ANDERS, Günter. Kafka: Pró e Contra. Tradução e introdução de Modesto Carone. São Paulo:
Perspectiva, 2007
10
3. Recorrências Kafkanianas em Black Mirror
11
vilarejo próximo, onde houve indícios de um saque realizado por seres não-
humanos denominados de “baratas” (eis a primeira referência ao universo
kafkaniano retratado em A metamorfose).
12
marginalizados, pelo que foi ensinado à sociedade, já que os civis não
enxergavam monstros disformes, e sim, humanos.
13
esse narrador se comporta como uma câmera cinematográfica na
cabeça do protagonista [...] (CARONE, 2009, P.154).
arremessada pelo próprio pai “(...) algo passou raspando sua cabeça e rolou
até um pouco mais à frente: era uma maçã, logo seguida de outra. Temeroso,
Gregor deteve-se, considerando inútil continuar correndo, pois o pai havia
decidido bombardeá-lo (...)” (KAFKA, 2001, p. 52). A fruta penetra em seus
flancos, abandonado, rejeitado por todos, ferido e sem cuidados, Gregor acaba
morrendo. O que gera, de certa forma, um alívio para sua família.
10
BAKHTIN, M. A forma espacial do herói. In: ______ (Org.). Estética da criação verbal. Trad. Paulo
Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
14
Figura 3 Black Mirror, temporada 3, episódio 5,
Engenharia Reversa, 2016
Figura 2 Black Mirror, temporada 3, episódio 5,
Engenharia Reversa, 2016
15
Em seu capítulo intitulado “Emancipação”, Bauman reflete sobre o
conceito de liberdade. Segundo o filósofo, a libertação, ou emancipação, tem
um significado bastante literal:
16
estado eterno de não-pertencimento kafkaniano, de certa forma contribui para
que seus personagens busquem uma forma de libertar-se do universo em que
estão inseridos. A verdade é que as obras de Kafka seguem um padrão, como
cita Anders.
17
função que ele odiava, e só o fazia, para livrar a família de dívidas que o pai
anteriormente fizera.
Figura 5 Black Mirror, temporada 3, episódio 5, Figura 6 Black Mirror, temporada 3, episódio 5,
Engenharia Reversa, 2016 Engenharia Reversa, 2016
18
Fica entendido que Stripe resolve esquecer todo o horror e tormento que
passara. Neste caso, a liberdade evidentemente representava uma maldição,
pois, caso escolhesse a segunda opção, estaria condenado a viver com a culpa
e o tormento. A máscara simboliza uma prisão da realidade assombrosa que
vivia, mas também era um escudo contra a fragilidade do ser humano. Como
Bauman nos relembra Ricoeur, “O ser humano autônomo só pode ser frágil”.
Não é possível haver autonomia sem fragilidade [...] A “autonomia é uma
característica do ser frágil, vulnerável”.
Figura 7 Black Mirror, temporada 3, episódio 5, Engenharia Reversa, 2016 - comparação do que o personagem via
com suas percepções alteradas
19
REFERÊNCIAS
ANDERS, Günther. Kafka: Prós e contras. São Paulo: Ed. Cosac Naify, 2007.
BATTAILLE, Georges. A literatura e o mal. Trad. Suely Bastos. Porto Alegre:
L&PM, 1989.
BLACK MIRROR, Engenharia reversa (título original: Man against fire),
Direção: Jakob Verbruggen,Roteiro: Charlie Brooker, Inglaterra/Estados Unidos, 2016
20