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Adeus...

" Cheiro de pólvora no ar. Uma sensação quente, queimando na pele e este gosto
metalizado na minha boca. Algo escorre pelos meus braços. Eu caiu lentamente de
joelhos e tudo começa a escurecer. Pisco lentamente e vejo ela chorando e gritando
vindo na minha direção. Tudo esta em câmera lenta como naqueles vídeos na internet
que uma bala atravessa uma melancia mas no caso a melancia sou eu. Ela chega ate
mim. Dou um sorriso e sinto um calor no meu peito. Não sei dizer se é por estar nos
braços dela ou pelo buraco no meu peito.
Dizem que quando estamos morrendo nossas vidas inteiras passam diante dos nossos
olhos mas dos meus passaram apenas os últimos minutos.
Tivemos uma briga feia. Mais uma no meio de varias rotineiras. Ela dizia que eu não a
amava e não ligava mais para ela e eu retrucava que ela era mandona e imatura.
Gritamos, ela atacou um copo na parede e ele se quebrou devagar, pedaço por pedaço,
se esfarelando como nosso amor. Dei um murro na porta e ela voou do batente mas não
pense que sou forte, a porta era de plástico.
Ela saiu correndo e desta vez foi para rua, dizia que iria para a casa dela, que queria ir
embora, embora de mim, embora de nós.
Senti um aperto no peito e fui atrás, era tarde e ela podia ser assaltada.
Logo que a vi, corri em sua direção quando um barulho estrondoso, rápido e repetitivo
tomou conta da rua. Uma viatura em alta velocidade vinha perseguindo um carro e
trocando tiros em nossa direção. Foi tudo muito rápido. Quadro por quadro. Gritei o
nome dela. Ela me olhou. Empurrei ela para o chão e de repente não escutava mais
nada. Estava um silencio perturbador, nada se movia. Parecia uma foto, um momento, o
último momento de um amor.
O silencio foi quebrado com o grito dela. Tudo ficou rápido novamente. Minhas pernas
não aguentam o peso do meu corpo e nem da minha consciência.
Sinto o calor no peito e não ligo se é por estar perto dela ou todo esse sangue que foge
de mim como ela fugiu. Agora ela ta aqui perto de mim, segurando minha cabeça e
chorando.
Como nunca percebi como era bom estar perto dela. Tive uma vida inteira e nunca quis
tanto dizer eu te amo como quero agora. Eu tento, me engasgo com o sangue. Tento
puxar o ar mas sei que cada vez que faco isso é um passo que dou para longe dela, para
sempre. Só que não posso partir sem dizer algo que teria evitado tudo isso. Respiro o
mais fundo que posso, mesmo engasgando um pouco consigo dizer...
- Eu...sinto...muito!

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