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27/09/2016

Uma das grandes questões


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: no que concerne à realidade é
VELHICE E que ela pode
experimentada de diversas
ser

ENVELHECIMENTO maneiras (Schütz, 1945).

Professora Ana Maria Justo


UFES
2016

Relação com o mundo Conhecimento intersubjetivo


• Aquilo que o ser humano comum toma por realidade natural não é o mundo Uma pequena parte de nosso conhecimento do mundo origina-se da
objetivo, tal qual o das ciências naturais modernas. experiência pessoal e direta.
• Os elementos do mundo não são para as pessoas como realidades físicas em • A maior parte do conhecimento vem da sociedade na qual estamos imersos e
si. nos é transmitida por amigos, familiares professores, ou pelas formas de
• A realidade para os indivíduos se constitui a partir das experiências comunicação social, como livros, revistas, televisão, entre outros.
significativas vividas no dia a dia, dentro de um determinado contexto • Moscovici (1984) dizia que não há indivíduo a não ser que este esteja inserido
histórico e social (Schütz, 2008). numa sociedade, e mais do que isso, pode-se dizer que em cada indivíduo
• A realidade que interessa à psicologia social trata-se, portanto, de uma habita uma sociedade.
realidade subjetiva e abrange os fenômenos que existem para o homem a • Sistema: eu – outro – mundo (Merleau-Ponty, 1945).
partir do momento que se tornam objetos para a sua consciência.
• Leitura ternária: ego-alter-objeto (Moscovici, 1984).

Teoria das Representações Sociais A difusão da noção de representações sociais

Elaborada por Serge Moscovici ao longo da Denise Jodelet realizou vários estudos sobre
década de 1950. “La Psycanalyse: Son image et representações sociais (RS), dois deles se destacaram: um
son public (Moscovici, 1961, 1976, 2012). sobre RS do corpo (1984) e outro sobre RS da loucura
Abordagem teórica voltada aos processos por (1989).
meio dos quais os indivíduos em interação
social absorvem as inovações e constroem Ela sucedeu Serge Moscovici na direção do Laboratório de
explicações acerca dos objetos sociais. Psicologia Social da École des Hautes Études en Sciences
Sociales, em Paris
As RS consistem num tipo de pensamento leigo
ou do senso comum e são formadas para tornar
familiar o incomum, permitindo que se dê Foi a grande difusora da teoria das representações sociais (TRS) tanto na
sentido aos fatos novos ou desconhecidos, Europa, como no Brasil, além de alguns países da América Latina (México,
tornando-os acessíveis. Venezuela e Argentina).

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Uma definição de representações sociais Teoria das Representações sociais


• Das Representações Coletivas às Representações
Sociais.
Jodelet definiu a representação social como uma forma de
conhecimento socialmente elaborada e partilhada, com um
• Pensamento leigo valorizado: deve ser um objeto
objetivo prático, que promove a construção de uma realidade de estudo da Ciência.
comum a um conjunto social.

• Ciência: objeto do senso comum – universos


consensual e reificado.

RS e
As dimensões da RS
Comunicação

As RS se referem a um fenômeno que é típico da sociedade


moderna. • Informação
A comunicação em massa possibilitou a difusão de diferentes • Atitude
formas de conhecimento, contribuindo para formar uma
sociedade pensante, capaz de articular diversos fragmentos de • Campo ou Imagem
conhecimentos (Moscovici, 1981, 2003).
As pessoas necessitam estar informadas sobre o que se passa no
cotidiano.

As Funções das RS Abordagem estrutural das RS


As RS são entendidas como:
(1) função de saber: permite que atores sociais adquiram
conhecimentos e os integrem a um quadro assimilável e - um sistema de interpretação da realidade
compreensível, coerentes com o funcionamento cognitivo e os - um guia para a ação
valores aos quais eles aderem;
Uma RS é organizada em torno de um duplo sistema:
(2) função indentitária: manter uma imagem positiva do grupo no
qual o sujeito está inserido; - o central: base comum social que define a
homogeneidade de um grupo
(3) função de orientação: uma espécie de guia para ação;
(4) função justificadora: permite que o indivíduo justifique as - o periférico: corresponde as diferenças relativas às
tomadas de posição e os comportamentos. experiências cotidianas

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RS e Velhice Martins, Camargo & Biasus (2009)


“Objeto de definições variadas, de debate social implicando valores • Objetivo: descrever RS de idoso e velhice e suas variações em fç do grupo
humanos e considerações materiais, a velhice apreende-se num etário.
espaço de interação e de relações grupais e ao mesmo tempo toca • Estudo transversal, de delineamento comparativo, entre três grupos: 23
algo de profundo no vivido de cada um.” (Jodelet, 2009, p. 80). adolescentes (13 a 25 anos), 21 adultos (26 a 45 anos) e 27 idosos (60 anos
ou mais). [Metade dos idosos moram com pessoas de outras idades, o que
não ocorre com os jovens e adultos. Todos os grupos relataram convívio
A velhice é um objeto social polissêmico justamente pela intergeracional (restrito à família)].
impossibilidade de tratá-la como um fenômeno homogêneo • Entrevista semi-dirigida: o que eles entendiam por velhice, o que pensavam
(Jodelet, 2009). sobre o idoso e que idade eles indicariam como ideal para considerar uma
pessoa como idosa, convívio com idosos.
• Análise: CHD – Alceste.
Envelhecimento = Velhice

Classe 3 – Experiência e preconceito


Indica o que adolescentes e adultos pensam do idoso

• Idoso é alguém que merece respeito e cuidados, pois já viveu muito.


• Velho é aquele que se sente velho.
• O Idoso pode ter Espírito Jovem – depende da força de vontade individual.
• Experiência, Sabedoria – Amadurecimento advindo do envelhecimento.

Classe 4 – Aposentadoria Classe 2 – Sentir-se velho


Característica de idosos de ambos os sexos Idosos, homens e mulheres
• Velho é a pessoa que se entrega, espera a morte, velho é inativo, velho não
se cuida, velho é quem se vê velho.
• Necessidades básicas: alimentação e saúde
“No SESC não existem idosos!” “Os velhos são os outros”.
• Dinheiro
• Idoso X Velho X jovem: Os anos se passaram, mas eu me sinto jovem.
• Dificuldades financeiras, aposentadoria insuficiente.
• Manter-se ativo e manter cuidados.
Saúde e previdência não estão • Corpo X Mente
preparados para atender o idoso com
qualidade.

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Velhice

Classe 1 – Mudança na relação com a


família
Característica de Mulheres idosas

• Satisfação com relações de amizade e familiares – são centrais.


• A casa fica vazia (viuvez, saída dos filhos).
“A mulher é educada para ser dona de casa”.
• Nova fase: maior liberdade, aposentadoria (ganhos).
• Sofrimento: dependência, doenças... Ficar a mercê dos outros.
• ILPI – saída para quem não se preparou para a velhice.

Classe 1 – consequência do trabalho e da


Classe 2 – Fase difícil
ajuda divina
Predominam adolescentes e adultos.
• Comparação entre passado e • Perspectivas positivas
presente
• Eu não me sinto velho
• Criação dos filhos • Fase de transformações orgânicas e
• Não enquadramento nas vivências
• Dedicação ao trabalho negativas: problema, sofrimento, psicológicas
depressão. • Tempo de descanso
• Importância da religião
• Rejeição social: improdutividade e limitações
Predominam idosos físicas.

Classe 3 – Sentir-se velho Binômio: Themata


Compartilhada por todos os grupos Velhice boa X velhice ruim
Idoso jovem Idoso velho
• Negação da correspondência entre idade
Espírito Velhice
cronológica e velhice,
jovem
• Define-se o velho pelas coisas que ele não
faz. NÃO SE VÊ O ENVELHECIMENTO COMO PROCESSO.
• Negação da velhice e adesão à lógica da
“terceira idade”. RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL.

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Torres et al (2015) As fases da vida


• Adolescência: se inicia aos 13 anos
• Objetivo: Caracterizar RS e crenças normativas sobre o • Fase adulta: a partir dos 21
envelhecimento.
• Velhice: maior variação. Para os idosos, ao menos 2 anos +.
• 638 Participantes – pareados em adolescentes, adultos e idosos.
• Instrumento: Questionário semiestruturado – Percepção sobre
fases da vida; agrupamento de palavras de maior e menor relação Melhor fase da vida
com o termo indutor “Envelhecimento”; crenças normativas (o que 25% Infância
as pessoas da sua idade pensam). Tendência a indicar sua própria fase como
31% Adolescência a melhor, o que não ocorre com os idosos.
• Análise de dados: estatística, coocorrência de palavras, AFC.
37% Fase adulta
7% Velhice.

No núcleo central
estão os
elementos:
“sabedoria,
experiência e
aposentadoria”.

O que as pessoas da sua idade pensam sobre envelhecimento?

E os resultados das evocações da turma?

Análise processada com o Software IRAMUTEQ.


(www.iramuteq.org)

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Identidade do idoso Identidade


Jodelet (2009) ao tratar de imagens do envelhecimento, indica O sujeito constrói seu lugar, toma posições na sociedade a partir
que as pessoas velhas são vistas de forma muito negativa seja da apropriação da cultura. Ter identidade é reconhecer-se
pelas características psicológicas (depressão, perdas cognitivas), enquanto pessoa com um conjunto de características
físicas (doença, dor, fragilidade) ou sociais (improdutividade, relativamente integradas e estáveis.
isolamento).
RS negativa do grupo => representação negativa de si mesmo –
Os estudos atuais têm apresentado oposições estabelecidas por identidade???Não identificação???
jovens e idosos; chamando atenção que tais oposições podem
No estudo de Torres et al, (2015), 1/3 dos idosos não se
desencadear conflitos intergeracionais que se caracterizam como
percebem na fase da velhice, sendo que para estes a velhice deve
uma área fértil para as expressões de antipatia, discriminação,
começar em aproximadamente uma década depois da sua
segregação e exclusão (Jönson & Larsson, 2009).
idade atual. Estes resultados corroboram com outros estudos
realizados em 20 países diferentes.

Estereótipos
Perdas Ganhos
Ao se sentir realizando atividades e construindo coisas novas, o
sujeito nega a velhice considerando a existência de um "espírito
jovem“ que permanece apesar das mudanças físicas.e Sabedoria. O
Experiência
As perdas “pesam” mais. conhecimento da vida é alcançado.
ANão
ideia de "espírito jovem" remete à afirmação
identificação com o grupo.
do preconceito pela
Não se tem mais tantas dúvidas.
sua negação: o velho de “espírito jovem“. Tranquilidade.

Stereos – Rígido
Túpos – Traço
Estereótipo: BASE COGNITIVA DO PRECONCEITO Estereótipos
Crenças compartilhadas sobre um grupo.
Conceito introduzido por
Lippmann (1922)
Generalizações que se fazem a respeito de atributos: traços da
personalidade ou comportamentos costumeitos -> Inferir.
Diante da complexidade do
mundo temos de reconstruir o
Tende-se a enfatizar o que há de similar entre pessoas não ambiente numa versão
necessariamente similares. simplificada.
« Estudantes de Psico são Problemáticos, Pesquisadores, Idealistas, Observadores, Humanos... »

«Eterno desfile de trages típicos »


Necessidade de simplificar, de « poupar energia ».

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Processos sociocognitivos Henri Tajfel e a Categorização Social

Percepção e Cognição Social Estereótipo


Processo de Categorização (Alport)
Processos
Fen.
cognitivos
sociais Busca por coerência
Alport (1954) The Nature of prejudice básicos
Preconceito

“lei do menor esforço”. Nós damos sentido ao mundo físico ao agrupar as coisas em categorias, baseando-
Discriminação nos em suas características físicas.

Analogamente, damos sentido ao muno social agrupando as pessoas de acordo com


suas características: gênero, nacionalidade, etnia, profissão, etc...

Viés do In-Group Estereótipos de idade – “idadismo”

Mais do que organizar a realidade social, as categorias favorecem uma


percepção enviezada.

o Paradigma do Grupo Mínimo: Grupos aleatórios – maximização das


diferenças.
o Meu grupo é valorizado em detrimento do outro = manutenção da autoestima.
o Homogeneização do outro grupo.
o Impacto no julgamento e nas atribuições – Manutenção autoestima.
Experimento de Tajfel, Billig, Bundy & Flament (1971).

Torres et al (2016)
Torres et al. (2016)
Hipóteses:
• Instrumentos: 12 fotografias PB e 70 Cartões com antônimos.
• Há diferenças nos estereótipos do idoso entre grupos etários
diferentes.
1 – Agrupar as fotografias, escolhendo qualquer critério.
• O efeito do favoritismo intergrupal ocorre no grupo de idosos.
• O efeito de homogeneidade do out-group ocorre em todos os grupos
com exceção dos idosos. 2 – Formar pilhas com os cartões: Categorias de idosos.

Participantes: 40 (oito grupos de 5 participantes).

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Tipologias
Resultados
• O critério utilizado pelos participantes para categorizar as fotos
baseou-se na semelhança física.
• Para os idosos, a idade foi o principal critério, seguido da etnia.
Culto
• Para os outros grupos etários, o principal critério foi o sexo,
seguido da idade como categoria primitiva utilizada. Positivo
Depressivo

Preocupação em não se mostrar preconceituoso (etnia). Ranzinza


Negativo

(Torres et al, 2016)

• Efeito da homogeneidade: Foi observada em todos os grupos,


menos nos adultos de meia idade.
• Efeito do favoritismo: foi negado, em parte, dado que os homens
idosos foram os que mais atribuíram características negativas.

Pertença social: envolve identificação e desejo de pertencer ao


grupo. Os idosos não se “sentem” idosos e por isso avaliam idosos
como outgroup.
Quando o pertencimento ao grupo oferece satisfação aos indivíduos, a
identidade social do grupo se consolida. Quando essa satisfação não
ocorre, ou seja, quando o grupo não usufrui de um status social positivo,
os membros tendem a abandoná-lo (Tajfel, 1982).

(Vieira & Lima, 2015)

Como reduzir o preconceito?


• Mudanças nas crenças que compõem o estereótipo

• Mudanças no comportamento

(Vieira & Lima, 2015)

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Redução do preconceito
Redução do Preconceito
1. Hipótese do contato
• 4. Oportunidade para contato interpessoal informal

2. Interdependência mútua – atividades de cooperação para


• 5. Múltiplos membros de cada grupo
suplantar dificuldades comuns.

• 6. Igualdade de status e normas sociais maiores que


3. Objetivo comum superior – metas atraentes para grupos promovam a igualdade.
conflitantes que não podem ser obtidas sem a colaboração
mútua. (Aronson, Wilson & Akert, 2015)

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