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A desumanização do sexo 1
Não se pode falar de sexo sem falar de amor. Todavia,
quando falamos de amor, devemos lembrar-nos que este é um fenômeno especificamente humano. E devemos ver que 'isso seja preservado em sua humanidade, em vez de tratá-Io de forma reducionista. O que exatamente é o reducionismo? Eu o definiria como um procedimento pseudocientífico que toma os fenô- menos humanos e ou os reduz ou os deduz de fenômenos subumanos. O amor, por exemplo, passa a ser interpretado como a sublimação de impulsos e instintos sexuais que o homem tem como os outros animais. Tal interpretação ape- nas bloqueia a possibilidade de um entendimento adequado do fenômeno humano. O amor é na verdade um aspecto do fenômeno humano mais amplo que eu comecei a denominar autotranscendência
1. Versão revista e ampliada do texto" Love and Society", traduzido
para o Japonês e publicado no volume: PathoLogy of Modern Men, editado por Sadayo Ishikawa, Tokio, Seishin Shobo, 1974. 72 73 (Frankl, 1963). a homem não é, como as teorias predominan- de um processo de desenvolvimento, o produto de uma matu- tes da motivação gostariam que acreditássemos, um ser basi- ração progressiva (Frankl, 1955). Partamos da di~erença es- camente levado a gratificar suas necessidades e a satisfazer tabelecida por Sigmund Freud entre a meta dos Impulsos e seus impulsos e instintos e assim a manter ou restaurar a instintos e seu objeto: a meta da sexualidade é a redução das homeostase, isto é, o equilíbrio interno. Ao contrário, o tensões sexuais, enquanto o objeto do sexo é o parceiro(a) homem - por força da qualidade autotranscendente da reali- sexual. Do meu ponto de vista, isso acontece apenas na dade humana - basicamente procura expandir-se para fora sexualidade neurótica: só um neurótico está em primeiro de si, seja em direção a um sentido a realizar, seja em direção lugar preocupado em expelir seu esperma, servindo-se da a um outro ser humano a quem busca para um encontro de masturbação ou usando um(a) parceiro(a) como um outro amor. meio para o mesmo fim. Para a pessoa madura o(a) par- a encontro de amor impede definitivamente que se veja ceiro(a) não é um "objeto", de maneira alguma; ela vê no(a) ou se use o outro ser humano como um simples meio para um parceiro(a) outro sujeito, um outro ser humano, vendo-o em fim - um instrumento para reduzir a tensão criada pelos sua verdadeira humanidade; e, se ela realmente ama, vê no (a) impulsos e instintos libidinais ou agressivos. Isto equivaleria parceiro(a) sempre outra pessoa, o que significa que vê sem- a uma masturbação, e de fato é como muitos pacientes neuró- pre sua unicidade. Esta unicidade constitui a personalidade ticos sexuais falam do modo como tratam seus parceiros: de um ser humano, e é só o amor que dá a uma pessoa com freqüência dizem que "se masturbaram com seus/suas condição de poder conquistar outra dessa maneira. parceiros(as)". Uma atitude destas com um(a) parceiro(a) é a desejar a unicidade do ser amado compreensivelmente uma característica distorção neurótica da sexualidade hu- leva à união monogâmica. Ota) parceiro(a) não é intercam- mana. biável. Igualmente, se alguém não é capaz de amar, acaba por Para o ser humano sexo é mais do que mero sexo e é mais envolver-se na promiscuidade2• Ser promíscuo implica igno- que sexo na medida em que serve como expressão física de rar a unicidade do(a) parceiro(a) e isto por sua vez impede algo metassexual, ou seja, a expressão física do amor. So- uma relação de amor. Desde que só o relacionamento sexual mente na medida em que o sexo assume essa função, ele é que estiver embebido no amor pode ser realmente co~p~~- realmente uma experiência gratificante. Maslow (1964) tinha sador e satisfatório, a qualidade de vida sexual desse indiví- razão ao assinalar que" quem não ama não alcança o mesmo duo é pobre. Não é de admirar que ele procure compensa: a tipo de vibração sexual como quem está amando" (pág. 105). perda de qualidade pela quantidade. Isto, por- sua vez, .exIg: Conforme 20.000 leitores de uma revista americana de psico- uma crescente e intensificada estimulação, como a que e logia que responderam um questionário a respeito, o fator providenciada por alguns pela pornografia. mais influente na potência e orgasmo é o romantismo - o que Disso se torna claro porque não devemos justificar e é uma coisa que só acontece quando há amor. glorificar tipos de fenômenos de massa como a promiscui- Contudo, não é de todo exato afirmar que só para os dade e a pornografia nem considerá-Ias manifestação de pro- humanos o sexo é mais que mero sexo. Conforme Irenaeus gresso. Elas são regressivas, são sintomas de retardamento Eibl-Eibesfeldt (1970) evidenciou, em alguns vertebrados o na maturação sexual do indivíduo. comportamento sexual serve também para a coesão do Mas não nos esqueçamos que o mito de que o sexo grupo, e isto é particularmente o caso de primatas que vivem buscado como fonte de prazer seja indício de progresso é em grupos. Assim, para certos macacos às vezes o contato promovido por pessoas que sabem que isto é um bom negó- sexual serve exclusivamente a um fim social. Para os huma- nos, declara Eibl-Eibesfeldt, não há dúvida que as relações sexuais se prestam não apenas paraa propagação da espécie, 2. Como a masturbação significa a busca do prazer pela redução da mas também para a relação monogâmica entre os parceiros. tensão como objetivo, do mesmo modo a promiscuidade significa usufruir do Sendo o amor um fenômeno humano em sua real natu- parceiro como um objeto. Em nenhum dos dois casos o potencial humano do reza, o sexo começa a ser humano somente como o resultado sexo é realizado. 74 75 cio. O que me intriga é o fato de a geração jovem não só velmente ela se tomará impotente; quanto mais a paciente c.omprar o ,mito m~s também ser cega com relação à hipocri- estiver preocupada em demonstrar para si mesma que é SIa que esta por tras. Em uma época em que a hipocrisia em capaz de experimentar o orgasmo, tanto mais ela será atin- ~atéri~ .sexual é vista com maus olhos, é estranho que a gida pela frigidez. A maior parte dos casos de neurose sexual hipocrisia daqueles que proclamam uma tal liberdade sem que encontrei em décadas de prática psiquiátrica pode re- censura permanece despercebida. Será tão difícil de perceber montar a este estado de coisas. que seu objetivo real é a liberdade sem limites de ganhar Como já escrevi antes (Frankl, 1952, 1955; veja também dinheiro? "Intenção Paradoxal e Derreflexão" neste livro), os neuróti- Não pode haver negócio florescente sem que haja uma cos sexuais usualmente atribuem ao desempenho sexual o substancial demanda a ser suprida por ele. Em nossa cultura que poderia ser chamado de demanda de qualidade. Conse- atual nós testemunhamos aquilo que alguém chamaria de qüentemente, as tentativas de cura desses casos devem partir inflação de sexo. Isto só é compreensível dentre do amplo da remoção de tal qualidade. Desenvolvi uma técnica pela contexto de vácuo existencial e do fato de o homem, não mais qual muitos tratamentos foram positivos, e publiquei isso dirigido pelos impulsos e instintos com relação ao que deve pela primeira vez em Inglês em International Journal of fazer, nem pelas tradições ou valores com relação ao que Sexology (Frankl, 1952). O que eu gostaria de sublinhar é o deveria fazer, agora não sabe nem mesmo o que gostaria de fato que cultura presente, pelas motivações acima aponta- fazer. das, idolatra o sucesso sexual e amplia a demanda de quali- No vácuo existencial resultante dessa situação, a libido dade já sentida pelo neurótico, contribuindo assim para o sexual é hipertrofiada, e é esta hipertrofia que produz a crescimento de sua neurose. inflação de sexo. Como outro tipo de inflação - a inflação Também a pílula, ao permitir à parceira que seja mais monetária, por exemplo, - ela é associada à desvalorização: livre e mais espontânea em suas demandas, encoraja o par- o sexo é desvalorizado na medida em que é desumanizado. ceiro a experimentar relações sexuais na medida das expecta- Então, observamos uma tendência para viver a vida sexual tivas femininas. Autores americanos lamentam o movimento não integrada na vida pessoal, mas apenas como uma busca de liberação feminina por ter libertado a mulher de velhos de prazer. Tal despersonalização do sexo é um sintoma de tabus e inibições a ponto de jovens estudantes buscarem a frustração existencial: a frustração da busca de sentido pelo satisfação sexual- solicitando a ajuda de seus colegas rapa- homem. zes. O resultado é uma série de novos problemas' variada- Isso para as causas. Mas o que dizer com relação aos mente chamados "impotência colegial", ou "a nova impo- efeitos? Quanto mais for frustrada a busca de sentido tanto tência" (Ginsberg e outros, 1972) 3. ~ais o indivíduo irá devotar-se àquilo que a Declaração Ame- Observamos algo análogo no nível infra-humano. Exis- ncana de Independência denominou a "busca da felicidade". tem espécies de peixes cujas fêmeas habitualmente nadam de Quando esta busca teve origem numa procura frustrada de maneira sedutora diante dos machos que procuram fecundá- sentido, ela está destinada a terminar na embriaguez e na Ias. Konrad Lorenz teve êxito no treinamento de uma fêmea droga. Em última análise trata-se de uma autofalência, pois a induzindo-a a comportar-se de maneira oposta - ela procu- felicidade pode originar-se apenas como resultado de um viver não fechado em si mesmo, da autotranscendência, da 3.•. As mulheres aprenderam tudo sobre o orgasmo", fala NYLES A. dedicação a uma causa pela qual lutar ou a uma pessoa a FREEDMAN diretor do Sexual Health Centers of New England, Inc. "É quem amar. uma ênfase destrutiva no desempenho sexual que pode criar ansiedade e Em contexto algum isso é mais evidente que na felici- medo. Está crescendo a impotência sexual, devida em parte por aquilo que dade sexual. Quanto mais fizermos dela um objetivo, tanto os homens pensam que as mulheres esperam deles." E DENA K. WHrT • BOOK do American Institute of Family Relations endereça suas qu ixn: mais ela será inalcançável. Quanto mais um paciente estiver contra as demandas excessivas das mulheres. (Newsweek, 16d jnn 'li\! 11' preocupado com sua potência masculina, tanto mais prova- 1978). 76 77 rava o macho de modo agressivo. Qual a reação deste? Exa- tamente a que esperaríamos de um colegial: uma incapaci- dade absoluta de realizar o ato sexual! Com relação à pílula, até agora discutimos apenas um efeito colateral, um efeito negativo. Olhando por um ângulo positivo, devemos reconhecer que ela prestou um serviço inestimável. Se é verdade que é o amor que faz com que o sexo seja humano, é a pílula que liberta o sexo da conexão automática com a procriação e permite que ele seja e perma- neça pura expressão do amor. O sexo, como também já o dissemos, não deve jamais ser tido como um mero instru- mento a serviço do princípio do prazer. Porém, como vemos agora, não deve estar simplesmente a serviço de outro fim enquanto este for ditado pelo instinto de procriação. A pílula libertou o sexo de tal tirania e assim tornou possível a realiza- Sintoma ou terapia? ção de seu potencial real. Os tabus sexuais victorianos e as inibições estão em Um psiquiatra vê declínio e a liberdade no campo sexual se faz presente. O que a literatura moderna 1 não devemos esquecer é que esta liberdade ameaça degene- rar em licenciosidade e arbitrariedade se não for vivida em termos de responsabilidade.
REFERÊNCIAS Quando fui convidado a falar para este congresso, de
começo fiquei hesitante. São tantos os representantes da Irenaeus Eibl-Eibesfeldt, Frankfurt er AlIgemeine Zeitung (Fe- literatura moderna que se intrometem no campo da psiquia- bruary 28, 1970). tria - certo, mais exatamente de um tipo de psiquiatria Frankl, Viktor E., "The Pleasure Principie and Sexual Neurosis". obsoleta - que eu senti receio de começar a ser um psiquia- " The International Journal of Sexolagy"; 5, 1952, 128. tra a intrometer-se no campo da literatura moderna. E o que é The Doctor and the SouLNew York, Knopf, 1955. Man's Searcli for Meaning. New York, Washington Square mais importante, isso não sem perguntar-me se a psiquiatria Press, 1963. tem qualquer coisa para dizer sobre a literatura moderna. George L. Ginsberg, William A. Frosch and Theodor Shapiro, "The Também não é verdade que a psiquiatria tenha as respostas. New Impotence". Areh. Gen. Psyehiat .. 26, 1972,218. Ainda hoje nós psiquiatras não sabemos, por exemplo, qual é Abraham H. Maslow, Religions, Value s, and Peak-Experiences. a causa real da esquizofrenia. Ainda menos sabemos como Columbus, Ohio State University Press, 1964. curá-Ia. Como com freqüência digo, nós não somos nem oniscientes nem onipotentes; o único atributo divino que podem atribuir-nos é a onipresença - os senhores encontram-nos em qualquer painel ou simpósio, até em seu congresso ...
1. Palavras pronunciadas como convidado de honra do Congresso do
lnternational P.E.N., no Hilton Hotel de Viena, dia 18de novembro de 1975. 79 78