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do homem que opera com analogias geométricas.

Trata-se
de uma antologia dim nsional (Frankl, Jahrbuch für Psycho-
logie und Psychotherapie 1, 186, 1953), caracterizada por
duas leis. A primeira d stas leis representa-se como se segue:

IMAGO HOMINIS

1'11'11 111, 11 11 lnuuuun, 1111 l. t, lus U rpira Se tomamos uma e a mesma coisa numa dada dimensão
11 I1 I 11111 I I' til' I plurul 111, 11 11) poupnrarn e a projetamos em várias dimensões inferiores àquela que
ollll'O., N 1'011 lhe é própria, a coisa em questão representa-se de tal modo
n , Max Scheler ,
11111111111111, ('0111 I 11' Olllolorri
com a sua lillll'Opolo ti , I Isl"I'1I1I'1\111 Sl 'S c utor s diversos que as figuras obtidas se opõem umas à outras, Tomemos por
graus Ou camadas orn o orporal, o unlmi o spiritual. Exemplo, um copo, representado geometricamente sob a for-
Corre~p~nde a c~da q~al uma ciência: ao corporal, a biologia; ma de cilindro, em um espaço tridimensional. Proj t m -]0
ao amrmco, a psicologia, etc. Assim, à diversidade dos graus em seguida nos planos horizontal e longitudinal; t r mos:
ou camadas corresponde precisamente o pluralismo das ciên- num caso, um círculo; no outro, um r tân g1l I . bs J'V -lI ,
cias. Mas é de perguntar: onde fica a unidade do homem? entretanto, que as figuras obtidas só S( op em (\lIqllanl
Que é que fizeram do ser-homem, que o destroçaram, pon- se trata de um quadro f hado, li!) JlIISSO CJlli () ('OPO um
do-o como uma cerâmica de cacos e rachaduras, de "fissuras recinto abert .
qualitativas" (Regel) ? Como é sabido, definiu-se a arte A segunda da' 1 is JII '11 ,jolllld I (I]ll 1111 IIC qu dro

c~mo unidade na pluralídade. Pois eu gostaria de defi- seguinte:


1111' agora o homem como unidade apesar da pluralidade:


porque há uma unidade antropológica apesar das diferenças
ontológicas, apesar das diferenças entre as espécies de ser
diferençáveis. O sinete da existência humana é a coexistência
da unidade antropol6gica com as diferenças ontol6gicas, dos
m~dos de ser humanos unos com as espécies de ser diferençá-
veis, em au.e aquela toma parte. Em suma, a existência huma-
na é "unítas multíplex", para usarmos as palavras do Aquinate.
o
Esta unidade, porém, não a exprimem adequadamente, nem
o pluralísrno nem um monismo como o que encontramos na
"8 71 di ti de Spinoza ethica ordine geometríco demonstrata', . Como se vê pelo quadro acima, tomamos agora vanas
Nã b tant , seja-me permitido esboçar em seguida uma COIsas, em lugar de uma s6. Pro] tamo-las, não em várias,
imag hominis "ordíne geometrico demonstrata", uma imagem mas numa mesma e única dim nsão, que é também inferior

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11111111 qlll\ Ih s 'própria. O resultado obtido apr s nta-se
di ,\1 ulOdo 'lu as figuras respectivas, em vez de se oporem oposição. Mas, porque pertence à essência do homem o ser
1·1111 1I1\111l , são suscetíveis de vários sentidos. No exemplo
ele, em todo caso, aberto, o s r "aberto ao mundo" (Scheler,
111·111111, l mamos um cilindro, um cone e uma esfera num Gehlen e Portmann), - s r hom m significa, já de si, ser
(I pu tridimensional, e projetamo-los no plano horizontal, para além de si m smo. A ss n ia da existência humana,
r sultando, como se vê, em qualquer dos três casos, um diria eu, radica na sua aut trans nd ncía. Ser homem sig-
~r.ulo. Convenhamos em que se trata das sombras que o nifica, de per si s mpr , d/ri ír-s ordenar-se a algo ou
llindro, o cone e a esfera projetam; e, realmente, as sombras a alguém: entregar-s o h m m n um obra a que se dedica,
O ruscetíveís de vários sentidos (equívocas), pois eu não a um homem qu ama, ou a IIS, qu m serve. Esta auto-
posso concluir, partindo das três sombras certamente iguais, transcendência qu br s 'lu dros d todas as imagens do
se o que as projeta é um cilindro, um cone ou uma esfera. homem. que, no s ntid d I um m nadologismo (Frankl,
Como aplicar ao homem tudo isto? É que também o Der Neroenarzt 31, 385, 1960), representem o homem como
horn 'm, t mado na dimensão do especificamente humano e um ser que não atinge o sentido e os valores, para além de
projnl/ld(l 1I0S plnllos d hiologia da psí 010 ia, se repre- si mesmo, orientando-se, assim, para o mundo, interessando-
011111 d, 1/11 IIl1ldo !filO 1111 ngllrus ohttclns s opõ fi umas à -se exclusivamente por si mesmo, como se lhe importasse a
!liI"l\. <;11111 "~fI 10, 11 I'lOlé'~'1 (I 110 1'1 n bi 16gi o t m por conservação ou a restabelecimento da homeostase. O mona-
li' I!lIudo f"1I 1111'1111 1•• 1lf11 ( I" 110 passo qu a projeção no dologis~o ignora que, como demonstraram von Bertalanfey,
,,1111111 " (·(11I'11' "O I( 111 1'"1 l'I'Sltlll\d f nômenos psíquicos. Coldsteín, Allport e Charlotte Bühler, o princípio da ho-
M •.• III~ dll 111111110 I /I d IIlI'IISlc nnl, oposição não ·se faz meóstase não vale geralmente na biologia, e muito menos na
à unídad tio hnm 111: (II~-S 1110 pou 'o ~n a oposição entre psicologia. Mas, à luz da ontologia dimensional, o caráter
o círculo e o r tângul s faz n r alid d , s ndo, como são, fechado do sistema de reflexos fisiológicos e de reações psi-
cológicas não está em contradição nenhuma com a hum -
as projeções de um mesmo único cilindro. Contudo, não
percamos de vista uma coisa: a unidade dos modos de ser nidade do homem. Pode-se dizer que tal contra 1iç I(t
humanos, que liga a pluralidade das espécies de ser dífe- tão longe de se verificar como a qu S iJllII~IJln, • I. t r
rençáveis a que ela se refere; portanto, a ligação dos entre o caráter fechado do cilindro do plnuo 10111' IlId 11111 ou
opostos como o soma e a psyche, a coincidentia oppositorum do horizontal e o carát r nb rio qlll le 111 de pl I ,
no sentido de Nicolau Cusano, debalde a procuraremos nos Parece-n s a rn j ru t1l1l1l1lc 1·1110 11111 o 11, ulll(lo

planos em que projetamos o homem. Encontrá-la-emos antes obtidos nas dírn ns s I"r I 01'1, \'0111 Ilu 1111 I 111 11 1111 Itll
e unicamente .na dimensão imediatamente mais elevada, na validade que dant s, d ntro d(, u I 1111 11 " .' 10 upl (' I-

dimensão do especificamente humano. -se na mesma medida a ri nl "d, I" 'I" I I 1\ \111 t II 1'/\

Não é que deste modo pretendamos resolver o problema como a reflexologia de P wl w, o lIe I 1 111 1110 t WIllS n,
psicofísico. Mas pode ser que a ontología dimensional pro- a psicanálise de Freud 'I ps ('0101' I 1111 du II ti Adl r.
jete sobre o problema certa luz, mostrando-nos por que é Freud era suficientem nt ~( 1\ li I P 1111 11)( r d streiteza
que é insolúvel. Coisa análoga se passa com o problema do dimensional da sua t orí . Aliá" () di I( ( Ias palavras que
livr -arbítrio. Com efeito, sucede no caso do homem exata- escreveu a Ludwig Binswang r: ", mprl tn( (1 tiv no rés-do-
]TI nte o mesmo que no caso do recinto aberto, ao ser pro- chão e na cripta do edifício". A t ntnllvn do rcducionismo
j tado nos planos longitudinal e horizontal de um quadro na forma de psícologísmo - eu diria m sm de patologismo
fu ihado. O homem é representado no plano biológico como - Freud só cedeu no momento em qu h gou à seguinte
11m stst ma fechado de reflexos fisiológicos, e no plano psí-
conclusão: "Para a religião já encontr i um cômodo na minha
'016 ri • orno um sistema fechado de reações psicológicas. modesta casinha, desde que trop i com a categoria de
Mais uma v z, portanto, a projeção tem por resultado uma "neurose da humanidade" (l.c.). Aqui é que Freud se en-
ganou.

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1 IS sua xpressão "modesta (<) casinha" é uma prcs- que saber também o que está fazendo; e isto significa que
SIlO pro framática, um lema. Seja como for, cumpre s I re r tem de se aperceber das font s de erro que a investigação
qu , quando se fala de dimensões inferiores ou sup ri r s, perlustra.
nuo se prejudica uma hierarquia nem se menciona < índa , Assim chegaríam s no p nt ('I qu se aplica ao homem
implicitamente um juízo de valor. No sentido da ontología a segunda lei da nt 10 i dím nsi nal: se eu, em vez de
dimensional, o que se quer dizer, ao falar de uma dimen ão projetar figuras tridím nsí nais num plano de duas dimen-
superior é que se está lidando com uma dimensão mais com- sões, projeto figuras m • d r ost i wski ou Bernardette
preensiva, que inclui e abarca uma dimensão inferior. A di- Soubirous no plan psiquiátrt O. l r mim, enquanto psi-
mensão inferior é portanto "elevada" (<) "') à dimensão supe- quiatra, Dostoi wski I1t pussn d \IJn pílétíco como qual-
rior, exatamente no sentido plúrimo que Regel confere a este quer outro B rnard tt 11 O m uma histérica com alu-
termo. E é assim que o homem, uma vez tornado homem, cinações visionárias. O que são para além disso não se reflete
continua a ser de algum modo animal e planta. Isto em nada no plano psiquiátrico. Com efeito, tanto a criação artística
se distingtl do qu ocorr no caso do avião' qu, m qual- de um como a entrevista religiosa da outra ficam fora do
<l\l/Ir hlp/II( NO, Il(l() perd n 'UI It ídud ti s ti slo ar no plano psiquiátrico. Mas dentro do plano psiquiátrico tudo
ih ro, ('011101111\11IIoI1l6v,.(,li; Idou!( Jll ntu, só pl'ova o seu permanece equívoco enquanto não transparecer esse algo que
snr d, , o !fllllllllo d,'('ol ( s( (J( Vil li spaço. Embora possa estar por trás ou acima do plano mencionado; e isto, à
.1111 IId ('III! ,I qU( 11111 I -('ltll'OI od mprovar logo desde semelhança do que acontecia com a sombra, que era equí-
) m )/1111110 \lrI '1'11 o '1\1>1'li, SI o avi, o, m smo antes de ter voca enquanto eu não podia assegurar se se tratava do ci-
voado cf tívam 'lll " ('lIpll1: d (111. -10. om isto queria lindro, do cubo ou da esfera.
aludir a Portmann, qu pô I v rifi ar qu a humanidade do Toda patologia precisa da diagnose, de uma dia-gnose,
homem até na anatomia se pode rastrear. Com efeito, o pró- de um olhar através de, o olhar para o logos que está por
prio corpo do homem está já marcado pelo seu espírito. detrás do pathos, para o sentido que a afecção t m. Toda
A ciência, porém, não só tem o direito, mas inclusive síntomatología precisa ainda da díagnose, do lhr r par uma
o dever de pôr entre parênteses a multidimensionalidade da etíología, e, precisamente na m díd m '111 \ li I rln
realidade, de fechar o diafragma da objetiva com que con- multidimensional, é a sint matolo j quívo
templa a realidade, de filtrar uma determinada frequência
do espectro da realidade. A projeção é, portanto, mais que
legítima: é obrigatória. O cientista tem que continuar a fin-
gir que opera com uma realidade unídímensíonal. Mas tem

( ") A palavra niedrig, que figura na frase de Freud citada pelo


Autor, e que nessa frase traduzimos por "modesta", é a mesma que,
linhas abaixo, aparece traduzida por interior. (N. T . )
("") O termo alemão que traduzimos por "elevada" é arufgehoben,
particípio do verbo aufheben, que significa, por exemplo, levantar uma
coisa do chão para pô-Ia mais acima, mas engloba ainda o sentido de
tirar, eliminar t tollere, em latim). Para compreender bem o Autor
importa lembrar O papel do termo na linguagem de Hegel. Este, como
se sabe, toma o conceito (universal concreto) como unidade superior
na qual a tese e antítese são conservadas e superadas, sem se excluí-
rem: o processo da realidade, que se identifica com o do pensamento,
evolve nesses três momentos - tese, antítese, síntese. A passagem dos
dois primeiros momentos, contrapostos, para a síntese, exprime-a Hegcl
precisamente com a palavra aujheben. (N. T.)

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