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A cirurgia da glândula tireóide, pela frequência com que é realizada, constitui o mais
importante capítulo da cirurgia endócrina.
Trata-se de um procedimento multidisciplinar, necessitando de uma completa
integração entre o cirurgião, anestesiologista, endocrinologista e patologista.
De todas as gls a mais operada é a tireoide. Trata-se de um procedimento
multidisciplinar (atentar-se para opinião de vários especialistas).
Cirurgia delicada pelo risco de estruturas importantes como o nervo laríngeo
recorrente.
1. Dados Históricos:
Século XVI: 1ª descrição anatômica da tireóide disponível na literatura;
Século XIX: Pela primeira vez foi descrito o aumento patológico da tireóide;
Kocher e Billroth: No final do século XIX Theodor Billroth e Emil Theodor Kocher
estabeleceram técnica segura e eficaz de cirurgia da tireóide para tratamento de
patologia benignas e malignas;
Prêmio Nobel de Medicina de 1909: Kocher. Pelo pioneirismo no desenvolvimento do
conhecimento sobre a fisiologia da tireóide.
O índice de mortalidade na cirurgia de tireoide era muito alto (período antes de
Kocher). No período pós-Kocher a mortalidade caiu nessa cirurgia.
2. Anatomia:
A tireóide é uma glândula ímpar e mediana, situada na região infra-hióidea, na face
anterior do pescoço. Possui forma de H, com 2 lobos laterais, unidos pelo istmo.
Cada lobo está dividido em pólo superior, corpo e pólo inferior. Peso total de 20 a 30
gramas.
Cerca de 40% das pessoas apresentam um lobo piramidal, geralmente ligado à porção
superior do istmo.
A Glândula possui uma cápsula lisa e aderente (cápsula própria). Fora dela , existe uma
pseudocápsula, conhecida como cápsula cirúrgica da tireóide.
Os ligamentos de Gruber (superior) e de Berry (lateral) fixam a tireóide na cartilagem
cricóide e aos anéis traqueais.
A vascularização se faz pelas artérias tireoidianas superior (ramo da carótida externa -
sangramento perigoso na cirurgia) e inferior (tronco tíreocervical, ramo da subclávia).
As veias são tireoidianas superior, média e inferior.
Há 2 nervos que, embora não inervando a tireóide, são importantes do ponto de vista
cirúrgico, pois podem ser lesados durante uma tireoidectomia (principalmente se ela
for total em casos de câncer de tireoide).
Nervo Laringeo superior: ramo do vago, inerva pelo seu ramo externo, o músculo
cricotireóideo, tensor das pregas vocais. Relacionado ao pedículo vascular superior. Há
risco de ser lesado quando a cirurgia ocorrer ao lado do pedículo vascular superior.
Nervo laringeo inferior: Também chamado de laringeo recorrente, relacionado com a
artéria tireoidiana inferior. É ramo vagal, tendo origem no mediastino.
Além do risco de lesão de nervos pode tbm fazer lesões nas paratireoides.
3. Doenças cirúrgicas da tireoide:
- Bócio difuso: Dç de Graves (hipertireoidismo), bócio endêmico (hipotireoidismo),
tireoidites (Hipertireoidismo; Hashimoto é a mais comum)
- Nódulos benignos: Adenoma tóxico, bócio multinodular tóxico, Bócio Multinodular
(Bócio colóide)
- Carcinomas: incidentaloma, carcinoma folicular, carcinoma papilífero (mais comum),
carcinoma medular, carcinoma anaplásico e linfoma.
Manifestações clínicas:
a. Hipotireoidismo: ↑TSH e ↓T3 e T4
Bócio difuso:
Bócio endêmico (hipotireoidismo):
Mais comum nas mulheres (2:1) - dçs de tireoide em geral são mais comuns em
mulheres.
Forma de transtorno (por deficiência de iodo) caracterizado pelo aumento na glândula
tireóide numa fração significantemente grande de um GRUPO POPULACIONAL. O bócio
endêmico é comum em áreas montanhosas do mundo, onde a dieta contém
quantidade insuficiente de iodo . A sintomatologia geral é discreta, pois a glândula não
apresenta modificação funcional relevante (os pacientes às vezes são eutireodianos).
Levotiroxina ou iodo radioativo são opções no tratamento de pequenos bócios. Os de
tamanho maior normalmente cirurgia.
Nota: A quantidade de Iodo no sal de cozinha será de 15 mg a 45 mg por quilo do
produto.
Doença de Basedow-Graves ou Bócio Difuso Tóxico (hipertireoidismo):
Conceito: Doença de Basedow-Graves ou Bócio Difuso Tóxico é uma doença
autoimune caracterizada pela estimulação das glândulas tireoides pelos próprios
anticorpos do organismo. O médico Robert Graves a descreveu em 1835 e o médico
alemão Karl Adolph von Basedow independentemente a descreveu em 1840. 1 A
doença de Basedow-Graves é a causa mais comum de hipertiroidismo. É 8 vezes mais
frequente na mulher que no homem.
Quadro clínico:
Patogenia: A causa é incerta, mas acreditam que anticorpos estimulam uma produção
de hormônios tireoidianos. É uma doença autoimune em que os anticorpos
(imunoglobulinas) se ligam aos receptores de membrana do TSH, ou seja, os anticorpos
induzem a ativação contínua de secreção dos hormônios pela glandula tireóidea , os
anticorpos fazem o papel do hormônio estimulante TSH. Os anticorpos que provocam
hipertireoidismo quase sempre são produzidos em consequência de autoimunidade
contra o tecido tireóideo.
Diagnóstico clínico: A DG apresenta-se com três manifestações principais:
hipertireoidismo com bócio difuso, oftalmopatia infiltrativa e dermopatia (mixedema
pré-tibial).
Diagnóstico laboratorial: TSH suprimido sempre; ↑ T3 e T4 ou ↑ T3 e T4 normal (T3
toxicose) ou TSH suprimido com T3 e T4 normais (hiper sub clínico). → Nas fases
iniciais de hipertireoidismo T4 livre pode estar normal e T3 aumentado porque no
início pode ocorrer alta conversão de T4 em T3; USG com doppler: fluxo aumentado;
Captação de iodo radioativo: aumentada (mostra que a glândula está aumentada);
Dosagem dos anticorpos - TRAb: específico para DG (TRAb - anticorpo especifico no
hipertireoidismo fecha o diagnóstico); e Anti-tireoglobulina e anti-peroxidase: títulos
são mais baixos que na TH.
Nota: se tiver nódulo na tireoide → não se suspeita de DG, mas sim que a alta
hormonal se dá por esse nódulo (graves é um bócio difuso).
Tratamento Clínico: Propiltiouracil (Tapazol muito utilizado porque tem uma
hepatotoxicidade menor do que o propiltiouracil) e metimazol → de 12 a 18 meses;
Propranolol (betabloqueador) – não deve ser usado isoladamente, pois são fármacos
mais assintomáticos (Usa beta-bloqueador - propranolol ou nadolol - para pacientes
que têm muita taquicardia - se for operar um doente com alta frequência cardíaca é
importante internar o doente e fazer medicamentos para reduzir a frequência cardíaca
como o propranolol); Iodo inorgânico – não deve ser prescrito se o paciente
necessitar de radioativo; Iodo radioativo I131 (indicado como terapia inicial quando:
recidiva ou efeitos adversos graves com DAT, mulheres que planejam engravidar,
pacientes com comorbidades que aumentam o risco cirúrgico, pct previamente
operados ou que realizaram irradiação externa da região cervical ------
contraindicações: gravidez, lactação, crise tireotóxica, coexistência ou suspeita de
câncer de tireoide, desejo de engravidar em menos de 6 meses).
As drogas anti-tireoideanas (DATs) são indicadas como terapia primária, nos seguintes
casos: Hipertireoidismo leve; Oftalmopatia de Graves ativa moderada a grave; Cirurgia
prévia ou irradiação cervical anterior; Pacientes idosos com comorbidades ou muito
descompensados; Antes de indicar cirurgia ou radioiodoterapia.
Tratamento cirúrgico: Tireoidectomia subtotal – deixando-se 3 a 4 gramas de tecido
tireoidiano de cada lado.
A cirurgia pode levar a um estado de hipotireoidismo precisando o paciente fazer
reposição hormonal.
Adenoma folicular x carcinoma folicular – as células das duas entidades são iguais na
microscopia. A diferença é que no carcinoma ocorre invasão da cápsula e/ou dos
vasos, o que não ocorre no benigno – no PAAF só ocorre punção de células e não da
cápsula, não permitindo assim a diferenciação !!!!!!!!!!!!!!!!
Drauzio – Se não vale a pena pedir ultrassom de tireoide para a população em geral, quais seriam pessoas que deveriam fazê-
lo?
Orlando Parise – Não vejo muito problema em pedir o ultrassom. O importante é saber gerenciar o resultado obtido e não se
afobar para pedir a punção, se a pessoa for jovem ou tiver documentado por outros ultrassons que os nódulos não aumentaram
de tamanho. Do ponto de vista prático, num caso ou outro, o médico percebe que o nódulo, mesmo não tendo crescido, tem
características de que no futuro pode transformar-se num câncer. Todavia, é importante destacar que, por serem eventos
individuais e raros, não justificam a adoção de uma política pública específica
Drauzio – Você poderia definir as palavras punção e tireoidectomia?
Orlando Parise – Tireoidectomia é a remoção terapêutica – parcial ou total – da tireoide e punção, o exame padrão que se realiza
para conhecer o tipo de células que constituem o nódulo. A punção pode indicar que se trata de um nódulo maligno e a indicação,
nesse caso, é cirúrgica; ou que é francamente benigno e a postura recomendada é observá-lo periodicamente pelo ultrassom. No
entanto, muitas vezes, o resultado que deveria dar tranquilidade para o paciente gera muita ansiedade e são tomadas atitudes
mais radicais e desnecessárias
Existe relação entre o aparecimento de nódulos na tireoide e eventos como obesidade, dieta ou estilo de vida?
Orlando Parise – Não existe. No entanto, hoje se observa que as pessoas andam mais ansiosas do que eram antigamente,
ansiedade que, de uma forma ou outra, interfere na conduta diante dos nódulos. Por exemplo, uma jovem de 25 anos vai ao
ginecologista que pede um ultrassom de tireoide e verifica a presença de um nódulo. Imediatamente, é indicada uma punção para
complementar o diagnóstico e acaba havendo a indicação exagerada de tireoidectomias
Por isso, é preciso eleger um critério de seleção. Nódulos muito pequenos não devem ser puncionados. Os maiores, a partir de
que tamanho a punção devem ser feita?
Orlando Parise – Geralmente, a partir de 1cm. Esse é um número mágico, pois outros fatores também devem ser considerados.
Nódulos malignos costumam ter consistência mais endurecida. Portanto, nódulo único de 0,9mm, mas de consistência endurecida,
surgimento rápido ou crescimento acelerado, merece sempre mais atenção do que a presença de vários nódulos, todos pequenos
e de palpação inocente
Orlando Parise – Comparado com os outros tipos de câncer, o de tireoide é indolente e, em pouquíssimos casos, representa
ameaça à vida. Até prova ao contrário, seu prognóstico costuma ser tranquilo, especialmente se o problema foi diagnosticado
numa pessoa jovem. As mais idosas, porém, requerem cuidados especiais, porque o câncer de tireoide é um pouco mais agressivo
biologicamente a partir da quinta ou sexta década de vida. Portanto, aos 50 anos, a punção do nódulo é sempre mais indicada do
que na juventude
Cintilografia da tireoide:
Nódulo hipocaptante → nódulos frios de tireoide
Nódulo hipercaptante → nódulos quentes de tireoide. Mais rara a incidência de
câncer.
A incidência de CA é maior no nódulo frio.
Classificação de CHAMMAS: A classificação proposta por Chammas et al. separa os
nódulos em cinco padrões, de acordo com os achados do Doppler colorido:
Para avaliar a tireoide na classificação de Chammas pedir: USG de tireoide com
doppler colorido!!!!!!!!
Vascularização central fala a favor de malignidade. (!!!!!!!!!!!!!!!)
Vascularização periférica fala a favor de benignidade. (!!!!!!!!!!!!)
Classificação CHAMMAS:
Padrão I → Nódulo sem vascularização detectável
Padrão II → Nódulo com vascularização apenas na periferia
Padrão III → Nódulo com vascularização central e periférica, com a periférica sendo
maior ou igual à central
Padrão IV → Nódulo com vascularização central e periférica, com predomínio da
central
Padrão V → Nódulo com vascularização exclusivamente central
Quanto maior for a vascularização central do nódulo, maior será a probabilidade de
malignidade, em se tratando de carcinomas diferenciados (papilífero e folicular). Isto é
incomum nos tumores anaplásicos e medulares.
Carcinoma de tireoide:
O mais comum é o carcinoma papilífero!!!!!!!!!!!!
Tireoidectomias:
5. Sinal de Chvostek e de Trousseau: (!!!!!!!!!!!!!!!!)
Sinal de Chvostek → Sinal Médico que consiste na presença de espasmos dos
músculos faciais, em resposta à percussão do nervo facial na região zigomática. É um
sinal de tetania observado na hipocalcemia.
Sinal de Trousseau → Consiste na presença de contração dos músculos do antebraço e
flexão do punho (sinal de mão de parteira), após aplicação do esfigmomanômetro de
pressão, marcando 20mm de Hg acima da PA sistólica, durante 3 minutos.