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ANÁLISE E DIMENSIONAMENTO DA INFRAESTRUTURA EM CONCRETO

ARMADO PARA EDIFICAÇÕES POPULARES


Danilo Silva dos Santos(1); Lucas da Mata Rocha Menezes(2); Felipe Guimarães de Souza Melo(3); Rodolfo
Santos da Conceição(4); Euler Wagner Santos Freitas(5)
(1)
Estudante; Instituto Federal de Sergipe, danilo_silva@outlook.com; (2) Estudante; Instituto Federal de Sergipe,
lucas_menezes@gmail.com; (3) Estudante; Instituto Federal de Sergipe, felipeguimaraes.melo@outlook.com; (4) Professor; Instituto Federal de
Sergipe, rodolfo.conceicao@ifs.edu.br; (5) Professor; Instituto Federal de Sergipe, euler.wagner@ifs.edu.br

Resumo – Em nosso país diversas residências constituindo neste caso as fundações artificiais (Pianca,
populares são construídas sem os devidos cuidados 1977).
técnicos, sobretudo nos dimensionamentos estruturais Dentre as principias causas que podem levar uma
da superestrutura e da infraestrutura. Este fenômeno estrutura ao colapso, destaca-se o dimensionamento
pode levar a riscos de diferentes naturezas, até mesmo incorreto da estrutura da fundação (infraestrutura) da
o colapso generalizado da estrutura. Assim, este edificação. O risco se torna mais evidente quando se
trabalho tem como objetivo apresentar resultados percebe que no Brasil é cultural que a população construa
típicos para dimensionamento de estruturas de sua própria casa. Segundo a pesquisa “Como o brasileiro
fundação para edificações de até dois pavimentos. Os constrói” realizada no ano de 2015 pelo Conselho de
tipos de infraestrutura adotados para a pesquisa foram: Arquitetura e Urbanismo do Brasil, 54% dos entrevistados
bloco de fundação em concreto simples e sapata afirmaram já ter construído ou reformado a própria casa;
isolada em concreto armado. Os dimensionamentos sendo que apenas 14,6% afirmaram ter utilizado serviços
foram realizados utilizando software especializado para de arquiteto e/ou engenheiro para acompanhamento das
cálculo estrutural AltoQI Eberick v6. As características obras (CAU/BR, 2015).
do solo utilizadas para o dimensionamento das Foi então realizada na cidade de Aracaju/SE uma
fundações foram referentes ao solo normalmente pesquisa envolvendo trinta e nove participantes entre
encontrado na cidade de Aracaju/SE. Por fim, esses pedreiros, auxiliares de pedreiros, mestres de obras e
resultados foram devidamente catalogados e carpinteiros. Nessa pesquisa verificou-se que 60% dos
apresentados em gráficos e tabelas para uma profissionais que afirmaram já ter construído alguma
compreensão facilitada. edificação de até dois pavimentos em concreto armado
utilizaram conhecimentos estritamente empíricos. A
Palavras-Chave: fundações, geotecnia, maioria relata ter dimensionado os elementos estruturais,
engenharia civil, solos, Aracaju tais como vigas, lajes, pilares e fundações, com base na
própria experiência de obras anteriores.
INTRODUÇÃO Nesta mesma pesquisa verificou-se que 75,0% dos
O projeto e a execução de fundações requer entrevistados optam por fundação em sapatas ou blocos,
conhecimentos de geotecnia e cálculo estrutural 7,1% optam por alvenaria de pedra, 3,6% optam por
(análise estrutural e dimensionamento). Uma vez que alvenaria de pedra combinadas com sapatas, 3,6% por
os problemas de geotecnia apresentam um maior grau radier e 10,8% afirmaram que adotam outro tipo de
de incerteza que os de cálculo estrutural, nem sempre é fundação. Como pode ser visto predominam as fundações
fácil conciliar as respectivas precisões (apoios em sapatas e blocos, seguido da alvenaria de pedra.
indeslocáveis, por exemplo). Deve-se também evitar Os blocos são elementos de grande rigidez executados
generalizações, pois em fundações, na grande maioria com concreto simples ou ciclópico (sem armaduras),
dos casos, cada obra apresenta suas peculiaridades, que dimensionados de modo que as tensões de tração neles
devem ser avaliadas adequadamente (Velloso e Lopes, produzidas sejam absorvidas pelo próprio material que o
2010). constitui. As sapatas, ao contrário dos blocos, são
Em edificações populares, de modo geral, são elementos de fundação executados em concreto armado, de
utilizadas fundações rasas dada a baixa magnitude dos altura reduzida em relação às dimensões da base e que se
carregamentos gerados. As fundações rasas são as que caracterizam principalmente por trabalhar à flexão (Alonso,
se apoiam logo abaixo da infraestrutura e se 2010).
caracterizam pela transmissão da carga ao solo através As alvenarias de pedra, comumente chamadas de
das pressões distribuídas sob sua base. Neste grupo alicerces, são executadas diretamente sobre o solo em toda
incluem-se os blocos de fundação e as sapatas (Alonso, a extensão das paredes. Dada a heterogeneidade das seções
2010). transversais ao longo do comprimento, torna-se difícil, ou
Para melhor desempenho da fundação o solo deve até impossível, analisar seu comportamento estrutural.
apresentar boa resistência à compressão e ainda uma Geralmente considera-se como elemento rígido, porém
espessura de camada suficiente para distribuição dos havendo regiões no terreno com solos de resistência a
carregamentos. Terrenos com baixa resistência compressão distintas é provável que ocorram recalques
necessitam de preparo prévio a fim de se tornarem diferenciais.
aptos para suportar as cargas com segurança,
PROPEX – modelo de artigo para revista eletrônica

O objetivo do projeto de pesquisa que deu origem Para dimensionamento da superestrutura e


a este trabalho foi desenvolver um documento infraestrutura foi idealizado um pórtico espacial padrão de
norteador com dimensionamentos típicos para os dois pavimentos. Foram analisadas nove estruturas
construtores de edificações populares. Considerando-se semelhantes geometricamente, variando-se apenas o
os resultados obtidos na pesquisa quanto aos tipos de comprimento dos vãos. Os vãos foram variados entre 2,0 m
fundação geralmente adotados, bem como o e 6,0 m, com intervalos de 0,5 m entre cada modelo. A
desempenho estrutural, neste trabalho apresentam-se figura 1 mostra a planta baixa dos modelos estruturais
apenas os resultados obtidos para estruturas de analisados. Através dos modelos utilizados foi possível
fundação em bloco de fundação e sapatas isoladas. verificar os carregamentos gerados nas fundações para
diferentes situações de cálculo.
MATERIAIS E MÉTODOS

Figura 1. Planta baixa dos nove pórticos analisados.

A estrutura apresentada foi dimensionada utilizando Considerou-se no dimensionamento das fundações


o software de cálculo estrutural AltoQI Eberick v6. Este um solo do tipo “areia pouco compacta”, pois segundo
software foi adquirido pelo Instituto Federal de Sergipe e engenheiros geotécnicos da cidade consultados e o Atlas
disponível para pesquisa para estudantes do curso de Digital sobre Recursos Hídricos do Estado de Sergipe
Engenharia Civil. (Sergipe, 2014), este é o predominante na cidade de
Foram adotadas três situações distintas de cálculo, Aracaju/SE. Segundo Alonso (2010), pode-se admitir
quanto a posição na edificação: Fundação de canto, como o número de golpes no Standard Penetration Test
Fundação intermediária e Fundação de extremidade. (SPT) valores entre 5 e 10, para o tipo de solo indicado.
Essas três situações foram escolhidas por serem as Assim, foi adotado o valor do NSPT igual a 9 e em
situações que apresentam notável diferença no seguida utilizada a fórmula de estimativa da tensão
carregamento, pois as cargas na fundação variam em admissível do solo dada por (Alonso, 2010):
função do comprimento dos vãos e das áreas de
influência associadas. A figura 2 apresenta a planta baixa s = NSPT/50 (Equação 1)
de um dos pórticos com a respectiva disposição das
fundações escolhidas para análise. Com isso obteve-se o valor de tensão admissível do
Fundação solo igual a 0,18 MPa, ou 1,8 kgf/cm². Embora este seja
de Canto o solo representante da maioria da capital sergipana, há
regiões na cidade que apresentam tipos de solos com
Fundação características de menor capacidade de suporte de carga.
Intermediária Para esses casos recomenda-se procedimentos de
reforços de solo, tais como o solo-cimento, que
possibilitam a aplicação segura dessa mesma solução de
Fundação de fundação.
Extremidade A área da base de um bloco de fundação ou de uma
sapata, quando sujeita apenas a uma carga vertical, é
Figura 2. Nomenclatura dos elementos de fundações calculada por:
adotados.
𝑃
𝐴= 𝐿𝑥𝐵= (Equação 2)
𝜎𝑠
No dimensionamento da superestrutura foram
analisados pilares com duas seções para toda a estrutura; onde L e B são, respectivamente, a maior e menor
Pilares de 20 cm x 20 cm e de 15 cm x 25 cm. Isso reflete dimensão em planta do elemento de fundação e P é a
diretamente no dimensionamento das fundações, uma vez carga do pilar.
que o software é configurado para fornecer resultados de Para sapatas, sempre que possível, os valores de L e
armadura de sapatas com balanços iguais, conforme B devem ser escolhidos de modo que os balanços em
recomendações da literatura (Alonso, 2010). Tem-se relação às faces do pilar sejam iguais nas duas direções,
assim dois tipos de fundações quanto aos pilares que nela assim, deve-se obedecer a relação:
descarregam: fundações com pilares de 20 cm x 20 cm e
fundações com pilares de 15 cm x 15 cm. Para facilitar a L–B=l–b (Equação 3)
apresentação dos resultados, as fundações com pilares de
20 cm x 20 cm foram nomeadas de “fundações onde l e b são, respectivamente, a maior e menor
quadradas”; e as sapatas com pilares de 15 cm x 25 cm dimensão da seção transversal do pilar.
de “fundações retangulares”. Quanto à altura dos blocos de fundação, para que

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seja dispensada a armação, deve-se considerar a relação Na figura 5 apresentam-se as dimensões


entre a pressão de contato e a resistência a tração do consideradas para os blocos de fundação em concreto
concreto, assim (Alonso, 2010): simples. O dimensionamento geométrico em planta dos
blocos e das sapatas dependem exclusivamente da
𝑡𝑔 𝛼 𝜎𝑠 resistência do solo e da carga proveniente do pilar, ou
= +1 (Equação 4)
𝛼 𝜎𝑡
seja, independe da resistência do concreto, por esta razão
os valores de L e B são idênticos para blocos e sapatas.
𝐿−𝑙
ℎ= 𝑡𝑔 𝛼 (Equação 5)
2

onde s é a tensão aplicada ao solo, t a tensão


admissível a tração do concreto e  é o ângulo de
inclinação do bloco (figura 3).

Figura 5. Dimensões geométricas dos blocos.


Figura 3. Determinação da altura de blocos de fundação
(Alonso, 2010).
A figura 6 apresenta as dimensões consideradas na
apresentação dos resultados para as sapatas.
Para as sapatas, utiliza-se o método das bielas para
determinação da altura útil d (figura 4), conforme
equações abaixo (Alonso, 2010).

Figura 4. Determinação da altura de sapatas (Alonso,


2010).

𝐿−𝑙
4 Figura 6. Dimensões geométricas das sapatas.
𝐵−𝑏
𝑑 ≥ 4 (Equação 6) A figura 7 apresenta os valores de altura para os
1,96 𝑃 blocos de fundação em função do comprimento dos vãos
1,44 √ dos pórticos.
{ 0,85 𝑓𝑐𝑘

Assim, a altura H da sapata será igual a soma da


altura útil d com o cobrimento da armadura. Para a
altura h1 recomenda-se valores maiores ou iguais a 20
cm.
Por fim, calcula-se a armadura de aço necessária As
nas direções do maior e do menor vão (caso de balanços
iguais) pelas equações 7 e 8.

𝑃 (𝐿 − 𝑙)
𝑇= (Equação 7)
8𝑑
1,61 𝑇
𝐴𝑠 = (Equação 8) Figura 7. Altura dos blocos de fundação.
𝑓𝑦𝑘
Percebe-se a clara influência da posição do bloco
onde fyk é a resistência característica a tração do aço. de fundação em relação à estrutura. Os blocos
intermediários são os mais carregados, seguidos dos
RESULTADOS E DISCUSSÕES blocos de extremidade e dos blocos de canto. Verifica-
se também que para maiores vãos, a altura dos blocos

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PROPEX – modelo de artigo para revista eletrônica

torna-se muito alta, elevando significativamente o sapatas adotadas.


volume de concreto necessário para execução.
A figura 8 apresenta a altura para as sapatas
quadradas em função do comprimento do vão. Nota-se a
grande diferença entre as alturas dos blocos e das
sapatas, sobretudo para maiores dimensões. Embora
para os blocos não haja necessidade de armadura, este
pode tornar-se mais oneroso pela diferença entre o
volume de concreto necessário, pela maior quantidade
de formas e ainda pela mão de obra.

Figura 10. Armaduras das sapatas quadradas - Concreto


C20.

Figura 8. Altura (H) das sapatas quadradas.

A figura 9 apresenta as dimensões em planta para


blocos e sapatas quadradas em função do comprimento
dos vãos dos pórticos. Figura 11. Armaduras das sapatas quadradas - concreto
C25.

Observa-se nos gráficos das figuras 10 e 11 que a


área de aço necessária para as sapatas, embora não seja
linear, segue uma variação estável. Com os resultados
obtidos nas análises, verificou-se ainda que para sapatas
quadradas sujeitas a mesma situação de carregamentos, a
área de aço necessária para concreto da classe C20 é
maior ou igual para concreto da classe C25.
As figuras 12 a 14, mostram, respectivamente, os
valores das dimensões geométricas L, B e H, obtidas no
dimensionamento das sapatas retangulares (pilares de 15
Figura 9. Dimensões em planta para blocos e sapatas cm x 25 cm).
quadradas.

Nota-se que a variação das dimensões em planta


apresenta certa linearidade, o que possibilita a
estimativa das dimensões das sapatas e dos blocos em
função do comprimento do vão das vigas. Verifica-se
que os elementos (blocos ou sapatas) que suportam
pilares intermediários necessitam de maiores
dimensões em planta, seguido pelos que suportam
pilares de extremidade e de canto, resultado esperado
devido a área de influência associado a cada um dos
elementos.
Percebe-se também que com o aumento do Figura 12. Lado (L) das sapatas retangulares.
comprimento do vão, as dimensões da base tornam-se
significativas, desta maneira para grandes vãos
recomenda-se o uso de outra alternativa de fundação, a
exemplo da sapata corrida ou radier.
As figuras 10 e 11 apresentam, respectivamente,
para sapatas com concreto classe C20 e C25, as áreas
de aço em função do comprimento do vão, nas
direções dos lados maior (L) e menor (B) da sapata,
obtidas no dimensionamento para as três posições de

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concreto C20, a variação da área de aço necessária foi


pequena para vãos menores (até 3,0 m) e nulas para
demais vãos.

CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos no dimensionamento


de blocos e sapatas pode-se verificar que para variação
dos vãos da edificação que descarregam nas fundações há
uma variação significativa nas dimensões dos elementos,
portanto, deve-se avaliar cuidadosamente o carregamento
Figura 13. Lado (B) das sapatas retangulares. gerado.
Para as dimensões em planta de sapatas e blocos e
para altura dos blocos, em todos os casos analisados, a
variação dos valores foi linear em função do vão. Dessa
maneira pode-se prever as dimensões necessárias para
quaisquer vão, desde que obedecidas as restrições
impostas nos cálculos (posição da fundação, tipo de pilar
e resistência do solo). Quanto as armaduras das sapatas,
embora não seja linear, a variação apresenta uma
determinada tendência, assim pode-se também prever
valores em função do vão.
Verificou-se também que para grandes vãos as
dimensões geométricas dos elementos tornam-se muito
Figura 14. Altura (H) das sapatas retangulares. grandes, seja em planta, seja na altura. Dimensões altas
encarecem a execução através do maior consumo de
Nas figuras 13 e 14 são apresentadas as áreas de materiais (concreto, aço e formas), serviços diretos
aço nas direções L e B das sapatas retangulares. (execução dos elementos) e serviços indiretos (escavação
e aterro). Para maiores vãos, o uso de sapatas isoladas
torna-se inviável, dessa maneira recomenda-se outra
alternativa de fundação, a exemplo do radier.
Para aplicações dos resultados mostrados para
blocos e sapatas, recomenda-se que em regiões onde o
solo encontrado apresente características inferiores ao
tipo de solo utilizado, areia pouco compacta, sejam
realizadas técnicas de melhoramento do solo, ou utilizado
outro tipo de fundação.

REFERÊNCIAS

Figura 15. Área de aço no lado (L) das sapatas ALONSO, U. R. Exercícios de Fundações. 2. ed.
retangulares. São Paulo: Blucher, 2010.

CONSELHO DE ARQUITETURA E
URBANISMO DO BRASIL. Percepções da sociedade
sobre Arquitetura e Urbanismo
<http://www.caubr.gov.br/pesquisa2015/index.php/como
-o-brasileiro-constroi/> Data de acesso: 10/05/2016.

PIANCA, J. B. Manual do Construtor – Vol. 3.


13º ed. Porto Alegre: Globo, 1977.

VELLOSO, D. A; LOPES, F. R. Fundações:


Critérios de Projeto, Investigação do Subsolo,
Figura 16. Área de aço do lado (B) das sapatas Fundações Superficiais, Fundações Profundas. 1. Ed.
retangulares. São Paulo: Oficina de Textos, 2010.

Da mesma forma que nas sapatas quadradas, a área SERGIPE. Secretaria de Estado do Meio Ambiente
de aço necessária para as sapatas retangulares apresenta e dos Recursos Hídricos. Atlas Digital sobre Recursos
um determinado padrão em função da variação do Hídricos do Estado de Sergipe, 2016
comprimento do vão. Vale ressaltar também que para

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