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AVANCOS METODOLOGICOS NA AVALIAGAO DE PASTAGENS CARLOS GUILHERME SILVEIRA PEDREIRA Departamento de Produgdo Animal USP - ESALQ Piracicaba, SP 13418-900 Introdugio estabelecimento da competitividade crescente dentro dos diversos setores da economia em anos recentes, fruto das medidas de estabilizagao originadas do Plano Real, tem incentivado e até mesmo forgado o aumento da eficiéncia dos processos produtivos ¢ da qualidade do produto nos mais variados setores de produgao. Isto faz com que os empreendimentos — inclusive os do setor primério, como a agricultura e a pecudria — ndo sé reconhegam, mas sintam a necessidade de se afastar da extensificagdo e do extrativismo, buscando a tecnificagdo e a intensificagdo como altemativa potencial para a reduco dos custos de produgo por unidade de produto gerado (Euclides & Euclides Filho, 1997). Nesse contexto surge a crescente importancia do conceito de escala de producdo, e & nitida a tendéncia para redugdo da margem de lucto (j4 pequena na atividade pecuétia) e aumento nos riscos, por ocasido da tomada de decisio. Dai a necessidade dessa tomada de decisio ser avaliada ¢ feita dentro de critérios téenicos provados, principalmente no caso do produtor profissionalizado dedicado & pecuéria empresatial ‘A demanda por tecnologia tende a aumentar nesse cendrio e, apesar da intensificagdo, o uso de pastagens como principal componente dos rebanhos de animais ruminantes deverd ter o seu lugar assegurado. Isso ocorre principalmente em fungdo da possibilidade de se reduzir (e manter reduzidos) 0s custos com a alimentagdo dos rebanhos que pode representar até 70% do custo total de produgao, em alguns casos. Ndo obstante, & necessério que ndo se perca de vista que a atividade s6 pode ser conduzida e avaliada dentro de um enfoque sistémico, pois uma visio compartimentalizada quase nunea traduz 0 cenério real e raramente da subsidio adequado a tirada de conclusdes (Fuclides & Euclides Filho, 1997) No contexto da produgdo animal baseada em pastagens, muito tem sido diseutido sobre 0 papel do animal no processo de avaliago © 0 consenso & que quanto mais cedo o animal for incorporado no proceso de avaliagao, melhor (Mochrie et al., 1981; Matches, 1992; Maraschin, 1994), A importincia de se incorporar o animal nos protocolos de avaliagdo é dbvia e deve ser a opgdo de preferéncia tio logo seja tecnicamente possivel e economicamente vidvel. Esse procedimento tem como premissa bésica permitir que os dados de experimentagdo. sejam representativos dos sistemas de produgdo e das situagdes &s quais se pretende aplicé-los. OPCOES EM PESQUISA COM PLANTAS FORRAGEIRAS E PASTAGENS ‘Antes de se optar pela experimentagdo para avaliar uma determinada tecnologia (¢.g., um novo cultivar, um novo manejo, uma nova estratégia de adubagao do pasto) € preciso que o pesquisador seja capaz de situar o cendrio com o qual se depara e, em iiltima andlise, avaliar as opgdes. Em alguns casos a experimentagdo ndo é necessariamente a melhor alternativa, mas se isso ndo for logo reconhecido, pode-se desperdigar tempo, esforgo, ¢ dinheiro, Dentro do contexto da pesquisa cientifica com pastagens e plantas forrageiras, a literatura identifica uma série de protocolos que incluem niveis sequencialmente Igicos do processo de avaliagdo de novos genstipos (espécies, cultivares, etc.) oriundos de melhoramento genético, desde coletas, introdugdes e sclegdes, alé os hibridos obtidos dos cruzamentos dirigidos e, numa perspectiva polémica, quigd as pastagens transgénicas de um futuro préximo. Independente da origem do material a ser avaliado, no raramente © pesquisador se apressa em identificar uma area experimental e, feita a andlise de terra, preparar 0 solo, casualizar 0s tratamentos (com ou sem blocos) e concluir o estabelecimento de suas parcelas ou pastos experimentais enquanto houver chuva e calor =xistem, no entanto, situagBes em que a experimentagdo pode nao ser a opgiio mais adequada, pelo menos num primeiro momento. Isso, potencialmente, possibilita o uso mais racional de recursos « infra-estrutura. Discutindo opgdes em pesquisa com pastagens e plantas forrageiras, Morley (1981) escreveu que programas de pesquisa que estudam processos basicos em agricultura, frequentemente levam a um melhor entendimento desses processos ¢ ao desenvolvimento de novas tecnologias (produtos ou métodos para obté-los) que, em ultima andlise, geram aumento da eficigncia e da produtividade dos sistemas primérios (entendida como quantidade de produto produzido por unidade de recurso despendido na produgdo). Alm da experimentagdo, outros procedimentos. estio disponiveis ao pesquisador que, embora comumente lance mao deles, raramente reconhece sua utilidade. Se o objetivo & a aquisigio de novos conhecimentos, desenvolvimento de produtos (incluindo material biolégico ou ndo), entdo a experimentacdo & necesséria. Se uma aplicagdo de tecnologia é o objeto de estudo, entéo pode haver outros procedimentos mais adequados, que se enquadram, segundo aquele autor, em cinco categorias. A primeira delas é o "sit-and-think" (sente € pense), que pode incluir busca na literatura, discusses com colegas, e visitas a fazendas. Enquanto que esse procedimento pode ter custo reduzido ¢ revelar-se extremamente itil, nas mos de um individuo procrastinador pode gerar longas demoras na geraco de resultados palpaveis. Nesse caso, 0 custo do procedimento pode se tomar alto, em fungdo de oportunidades potenciais que serdo perdidas no processo, Em favor desse procedimento, Morley (1981) argumentou que, & medida que 0 conhecimento se expande e que novas tecnologias oferecem oportunidades para aumento da eficiéneia produtiva dos sistemas primérios, a experimentagao pode nao ser necessariamente a escolha mais apropriada para avaliar essas tecnologias ou colocé-las em funcionamento, uma vez que & um procedimento lento, caro, ¢ inevitavelmente restrito no tempo © no espago. Nesse caso, os "estudos de caso", "levantamentos e censos", e, mais recentemente as técnicas de modelagem e simulago por computador (tanto de processos como de sistemas completos) podem oferecer economias substanciais, de tempo dinheiro, Em alguns casos, os "ensaios-piloto", usados nas fases iniciais de aplicagio de novas tecnologia, podem ser imprescindiveis, principalmente quando os custos de aplicagao sio altos. ‘Nesses casos, se a informagao coletada indicar que a relagdo custo:beneficio € baixa, a adogo da tecnologia em escala maior pode ser recomendada com o acompanhamento ¢ monitoramento dos resultados, mas sem maiores investigagdes. Morley (1981) exemplificou esse processo argumentando que a introdugdo do trevo subterréneo (Trifolium subterraneum L.) no sul da Australia nao esperou por pesquisas exaustivas, Do ponto de vista da investigagao, Morley (1981) propés uma série de opgdes, que seriam as de preferéncia de acordo com cada situagdo especifica. Os chamados estudos de caso seriam indicados onde se procura identificar situagdes existentes onde o problema sob estudo ja se manifesta € onde, muitas vezes, solugdes jd foram propostas ¢ esto sendo experimentadas com graus varidveis de sucesso, Se uma tecnologia de potencial valor ou uma similar a ela, jé estd sendo utilizada, mesmo ‘num néimero pequeno de sistemas de produgao (fazendas), é possivel ter uma idéia de sua utilidade de modo simples e barato, simplesmente estudando os resultados obtidos naqueles sistemas. Levantamentos feitos através de literatura so outra alternativa, geralmente usada num contexto de extensio, na qual o profissional se baseia para desenvolver recomendagdes. Raramente um componente dos programas institucionais de pesquisa, o levantamento pode ser interessante em situagdes como o planejamento de aplicagdes especificas de tecnologia para definir a regido de aplicagdo, o modo de aplicagdo, ¢ seu impacto socio-econdmico e biolgico. A compilagdo acorreta interpretago da informagdo gerada nos levantamentos & de fundamental importancia para que se possa desenvolver estratégias adequadas relativas & adogao da tecnologia em questdo. Uma técnica que vem ganhando importincia como recurso investigative na pesquisa com pastagens, é a simulagdo e o uso de modelos computacionais no estudo de componentes e de sistemas completos de produgao animal em pastagens. Com os avangos tecnolégicos na area de informatica, 0 poder computacional dos computadores pessoais de hoje muitas ordens de magnitude superior a0 que era hé poucos anos. Com isso, tanto a concepeio de modelos (definidos no contexto de um sistema, como o conjunto de equagdes que regem e descrevem quantitativamente o funcionamento do sistema no tempo) como a simulagdo (definida como o processo de resolugdo dessas equagdes, dentro das regras estabelecidas pelo modelo, conforme 0 tempo varia, isto é, simulando ou imitando um sistema real através da quantificagiio do desempenho do sistema ficticio com 0 decorrer do tempo, pelo célculo dos valores das variveis-resposta, com o decorrer do tempo) vém ganhando importancia indo s6 no cendrio académico da pesquisa, como no potencial de uso como ferramenta de suporte a tomada de decisdo pelo produtor (Peart & Curry, 1999). Esse é 0 caso do modelo GRAZE (Loewer & Parsch, 1995; Loewer, 1998) ¢ do StockPol (Marshall et al, 1991; McCall & Thiter, 1993) desenvolvidos nos EUA e na Nova Zelandia, respectivamente, Peart & Curry (1998) ponderaram que muitos individuos ligados ao setor agropecudrio podem perguntar por que no hé mais produtores fazendo uso efetivo dessa tecnologia nas fazendas, sugerindo que, se isso no ocorre entdo o custo do desenvolvimento da tecnologia ndo se justifica. Esse raciocinio ignora, no antanto, 0 fato de que, historicamente, a maior parte da pesquisa agropecudria teve como objetivo (imediato ou nio) a elucidagdo de como um organismo em particular (planta ou animal) ou mesmo um sistema, respondem. a0 impacto de modificagdes em seu ambiente (i.e, tratamentos) e que, em iiltima andlise, os modelos foram desenvolvidos a partir dessas elucidagdes, A histéria da modelagem de sistemas "planta-animal” talvez no seja tdo longa quanto a de sistemas agricolas, pois no primeiro caso hé dois sistemas relativamente complexos a serem modelados. Componentes isolados parece ser mais facilmente estudados e avangos significativos vvém sendo aleangados. Dentre 0s modelos disponiveis esto o CNCPS (Cornell Net Carbohydrate and Protein System) que simula respostas produtivas de animais em fungio de caracteristicas qualitativas dos alimentos (Fox & Black, 1984; Fox et al., 1995) e o modelo de Unidades Fototérmicas, proposto por Villa Nova et al. (1983), que estima a produgao de biomassa das culturas através da aio combinada da temperatura e do fotoperiodo, Este iltimo mostrou-se adequado na previsio da produtividade de capim-clefante Pennisetum purpureum Schum.) (Villa Nova et al., 1999) © de gramineas Cynodon spp. (Medeiros et al, 2001). O uso da modelagem e da simulagio tanto na avaliagdo dos sistemas e seus componentes, como no auxilio a tomada de deciséo, apesar de util © barato, tem tido até o momento seu uso limitado a poucas situagdes onde hé bibliotecas de dados disponiveis para 0 seu emprego, o que acorre com maior frequéncia em sistemas de pastagens de clima temperado, mas somente em anos recentes comegou a surgir para pastagens ¢ sistemas de producdo tropicais. “A principal razdo para isso parece ser a escassez de estudos de enfoque reducionista, que gerem informagdes detalhadas a respeito da ecofisiologia dos componentes ¢ dos sistemas, conforme reivindicado por Carvalho (1997), que enfatizou a necessidade de estudos mais analiticos que elucidem os fatores que compdem as respostas de plantas ¢ animais nesses sistemas. Como parte do processo de decisio sobre a adogdo ou nao de uma nova tecnologia, o primeiro passo deve ser 0 desenvolvimento de "pacotes" que sirvam como proposta de utilizagdo para usudrios potenciais (Morley, 1981). Nesse caso, 0 uso de uma nova espécie ou cultivar forrageiro, por exemplo, pode requerer um "pacote" com orientagdes técnicas sobre como estabelecer, conduzir, © colher a forragem (com maquina ou com animal), priticas de adubagdo, etc. O proximo passo envolve a decisdo sobre a extensio em que a nova tecnologia deverd se adotada num primeiro instante. Ensaios-piloto em fazendas selecionadas podem trazer seguranca ao processo, mas postergar a adoga0 de uma tecnologia eficiente pode acabar saindo mais caro, Critéries envolvendo a escolha das propriedades a serem usadas nesses ensaios, incluem a representatividade das mesmas face os sistemas de produgao tipicos da regio em questo, de modo que a casualizagao pode ser danosa, se as propriedades e os proprietirios escolhidos nao reunirem as habilidades necessérias. A EXPERIMENTACAO NA AVALIACAO DE PASTAGENS E PLANTAS FORRAGEIRAS No contexto académico, a experimentagdo visa estabelecer o valor de um novo material forrageiro, seja ele oriundo de coleta, selecdo, e introdugo, ou de programas de methoramento genético onde a interferéncia humana direciona o aparecimento de genétipos, tradicionalmente via hibridizagdo. Mais recentemente, com o advento da biotecnologia e o aparecimento dos organismos transgénicos, novas oportunidades de obtencdo de cultivares com aptiddes especificas deverdo surgir. Entre espécies, as de leguminosas forrageiras tém sido geneticamente modificadas com maior sucesso e frequéncia. Isso se deve, principalmente, ao fato de que Agrobacterium nao infecta téo bem as gramfneas, além da dificuldade de se regenerar plantas inteiras de gramineas a partir de cultura de tecidos, este tiltimo um requisito fundamental do proceso de transformago de plantas (Bingham & Conger, 1995). Além de fomecer uma estimativa do valor forrageiro de novas espécies, variedades, cultivares, ecétipos etc., a experimentagdo também é usada para o estabelecimento de priticas de manejo que visem otimizar 0 uso do material em questdo, incluindo estratégias (frequéncia, intensidade, época, etc.) de desfolha e priticas de adubagio. A quantificagao de respostas através de medigdes quantitativas © qualitativas €, portanto, importante nao s6 no desenvolvimento de novos cultivares, mas também para otimizar seu uso como recurso produtivo, incluindo a elucidagdo de relagdes causa-cfeito nas diferentes escalas de observagao, desde a célula do tecido vegetal ou da flora ruminal até o sistema de producdo com seus componentes bidticos e abisticos. A questio da terminologia ‘A comunicagao clara e concisa é provavelmente o principal fundamento sobre o qual a ciéncia, a educacao, ea aplicagao bemrsucedida do conhecimento so construidas. Tanto no meio académico como na aplicagdo pritica, os iltimos 25 anos tém assistido a um crescimento notivel da forragicultura e da terminologia a ela associada, As definigdes associadas a essa terminologia, no entanto, sio frequentemente dibias ou obscuras. Termos regionais dentro de um idioma, e dificuldade de tradugao e versio de termos de um idioma para outro, do origem a uma proliferagao desordenada de palavras para tentar descrever um tinico conceito. O uso indiscriminado desse vocabulério impreciso tora a comunicagio inexata e a ciéncia praticada dificil de se interpretar. A medida que a forragicultura brasileira progride a passos largos, com o crescimento da massa critica de ciemtistas, pesquisadores ¢ técnicos qualificados, nossa geragdo de tecnologia tende, cada vez mais a extrapolar nossas fronteiras geograficas, Existe o estimulo erescente para que publiquemos em lingua inglesa, tanto em nossos periédicos domésticos como nos grandes periédicos estrangeiros das "escolas” norte-americana ¢ britinica. Pata isso, & necessdrio que saibamos nos expressar. ‘Nao obstante as poucas contribuigdes jé oferecidas (¢-g., Nascimento Jr., 1982; Rodrigues & Reis, 1997), a literatura cientifica nacional ndo possui, até hoje, um glossério na area de plantas forrageiras e pastagens, que tenha sido amplamente adotado e, 0 que é principal, desenvolvido em consondncia com a terminologia usada internacionalmente. Em outras palavras, comunicamo-nos mal conosco mesmos, ¢ talvez pior com nossos colegas estrangeiros. O que se segue & uma proposta deste autor para, ao menos, minimizar esse problema. Em 1989, o "American Forage and Grassland Council” votou pela formagao, ¢ implementou o "Forage and Grazing Terminology Committee”, cuja missdo era desenvolver um conjunto de termos técnico-cientificos na area de pastagens e plantas forrageiras, que fosse aplicdvel tanto no contexto académico da redagao cientifica, como no seu uso em enisino e extensio, Esse glossirio, em lingua inglesa, seria adotado por autores ¢ editores de publicagdes técnico-cientificas, bem como por educadores ¢ técnicos na transferéncia de tecnologia em pastagens. Assim, um painel tr-nacional (EUA, Nova Zeléndia, e Austrélia) de cientistas foi formado com a misséo de estabelecer uma terminologia padrio e, talvez mais importante, a conceituagdo inequivoca dos termos propostos, timulando 6 uso de alguns novos, mtificando 0 conceito de outros consagrados, ¢ recomendando jjustificadamente 0 desuso de outros, geralmente dibios, ultrapassados, ou simplesmente incorretos. O resultado desse esforgo (The Forage and Grazing Terminology Committee, FGTC, 1992) foi uma adesdo maciga dos cientistas de lingua inglesa ao novo glossirio, que, além do esforgo conjunto, beneficiousse de trabalho anterior de Hodgson (1979). Embora alguns dos termos propostos no tenham tradugdo imediata ou fécil para a lingua portuguesa, muitos conceitos utilizados por cientistas brasileiros encontram correspondente em nosso idioma, Alguns dos mais importantes ¢ usados na literatura nacional em pastagens, traduzidos literalmente do glossério original (FGTC, 1992) so oferecidos a seguir. Em cada definigdo 0 termo original é citado em primeiro lugar em itélico seguido da melhor tradugo (em varios casos a traducao verbatim) para o Portugués entre parénteses. O formato foi alterado, com diversos termos omitidos do glossdrio original. Termos afins foram agrupados conforme o original, seguidos de comentarios deste autor quando julgado pertinente, Se um termo mencionado nos comentirios nao estiver previamente definido, ele o sera mais adiante Forage (forragem): partes comestiveis das plantas, exceto os grdos, que podem servir na alimentagdo dos animais em pastejo, ou colhidas e fornecidas. Herbage (sem tradugdo téenica adequada; em portugués, usada como sindnimo de forage): a biomassa de plantas herbiceas, exceto os grdos, geralmente acima do nivel do solo, mas incluindo raizes e tubérculos comest Sward (dossel ou relvado): populagio de plantas herbéceas, caracterizada por um hdbito de crescimento relativamente baixo, e uma cobertura do solo relativamente uniforme, incluindo tanto a parte aérea como érgios subterrneos. A principal diferenga é dos dois primeiros termos, onde se descreve quantitativamente uma massa sem. caracteristicas de forma ou estrutura, para o terceiro termo, que exprime a idéia da comunidade vegetal em trés dimensdes com arquitetura, altura, estrutura e densidade definidas © com propriedades de interceptagio de luz, angulos foliares etc., em sua conformacdo original, como se apresenta no campo. Este autor sugere que "dossel” ndo seja exclusivo de plantas de porte baixo, como quer a defini¢ao, pois isso poderia trazer alguma polémica. Uma pastagem de capim-elefante ou um canavial com 3 ou 4 m de altura, vistos do alto (¢.g., 100 m de altura) tém propriedades (cobertura do solo, superficie da vegetagdo) visualmente semehantes as de uma pastagem de capim Tifton 85 (Cynodon spp) de 10 ou 15 cm vista de um ou dois metros acima do solo. E apenas uma questio de escala. O termo "dossel” parece ser mais aplicado ao contexto florestal (cobertura do solo pelas copas das drvores). Grazing method (método de pastejo): procedimento ou técnica de manejo do pastejo, ideatizada para atingir objetivos especificos. Referente & estratégia de desfolha e cotheita pelos animais. Grazing system (sistema de pastejo): combinag&o integrada entre os componentes animal, planta, solo, ¢ fatotes ambientais, mais 0 método de pastejo, com o objetivo de se atingir metas especificas. Na literatura nacional é frequente 0 equivoco de autores que escrevem "sistema de pastejo", querendo dizer "método de pastejo". Também é comum 0 uso incorreto de "pastoreio” (que € o ato, geralmente humano, de conduzir 0 rebanho ao pasto) como sinénimo de "pastejo” (ato, do animal, de colher forragem com a boca) Pasture (pastagem): um tipo de unidade de manejo de pastejo, fechada e separada de outras areas por cerca ou outra barreira, ¢ destinada & produgdo de forragem para ser colhida principalmente por pasicjo. Paddock (piquete): tea de pastejo correspondente a uma sub-divisdo de uma unidade de manejo de pastejo (e.g., uma pastagem), fechada e separada de outras areas por cerca ou outra barreira, ‘Na literatura nacional, é comum o uso de "piquete" com o sentido de "pastagem’. Este autor sugere que "piquete” seja usado apenas como uma sub-unidade de "pastagem” (e.g., os "piquetes" de uma "pastagem" sob lotacdo rotacionada). Alguns termos regionais usados como sinénimo de "piquete” incluem "potreiro" (Rio Grande do Sul). Carrying capacity (capacidade de suporte): a maxima taxa de lotagdo que proporciona um determinado nivel de desempenho animal, dentro de um método de pastejo, e que pode ser aplicada por determinado periodo de tempo sem causar a deterioragdo do ecossistema. A capacidade de suporte € flutuante entre anos e dentro de anos, ¢ pode ser abordada e discutida dentro de estagdes ou de periodos do ano. A capacidade de suporte média de uma pastagem, geralmente se refere & média de varios anos, ao passo que a capacidade de suporte anual geralmente se refere a um ano especifico, Sendo um reflexo da produtividade do pasto, a capacidade de suporte é melhor apreciada em Fungo de niveis de adubagdo, principalmente a nitrogenada. Forage allowance (oferta de forragem): relagdo entre 0 peso (matéria seca) de forragem por unidade de area e 0 niimero de unidades animais (ou "unidades de consumo de forragem", definidas como "um animal com uma taxa de consumo de forragem de 8 kg MS/dia) em um ponto qualquer no tempo, Uma relagdo quantitativa e instanténea entre forragem e animal. O inverso de "pressdo de pastejo”, Grazing pressure (pressio de pastejo): relagio entre 0 niimero de unidades animais ou unidades de consumo de forragem ¢ 0 peso (MS) de forragem por unidade de area, em um ponto qualquer no tempo. Uma relagao animaHforragem. Deve ser preterido em favor de "oferta de forragem' Estes dois conceitos (OF e PP), sendo um o inverso do outro (ou seja, OF = 1/PP ou OF = PP”) envolvem um nimero de problemas, do ponto de vista de sua conceituagao ¢ interpretagdo por parte de cientistas e pesquisadores. Como consequéncia, essas dificuldades, inevitavelmente, acabam se transportando para técnicos e produtores. O primeiro problema diz respeito a expresso de "pressio de pastejo" usando a unidade "kg MS por kg PV". Ora, essa nao é a unidade de pressio de pastejo, mas sim de oferta de forragem. A isso estd associado 0 uso de "%", na expresso de PP (que na verdade é OF), 0 que complica ainda mais 0 entendimento do conceito. De acordo com a definigao, a relagio quantitativa ¢ pontual, ou seja, tem cardter instantineo. Assim, quando se diz, por exemplo, que a "pressio de pastejo" (querendo dizer na verdade "oferta de forragem'") foi de 6 % (6 kg MS por kg PV. por dia), estd implicita uma conceituagio equivocada, Dé-se a idéia, em primeiro lugar, de que a0 animal foi ofertada uma "ragao didria” de forragem durante o periodo de pastejo, que correspondia a uma proporedo constante do seu PV. Isso traz duas dificuldades. A primeira é a nogdo de que hé uma quantidade ofertada ao animal e que deverd desaparecer por consumo. Isso é palpavel ¢ compreensivel se o animal acaba de entrar em um piquete ¢ nele vai permanecer até que um critério qualquer determine o término do periodo de pastejo, ¢ a saida do animal. Mas mesmo assumindo que isso seja verdade, como certificar-se de que a cada um dos "n" dias de ocupagao, o animal consumira "1m" do total ofertado? Ocorre que, durante um periodo de ocupagdo de uma unidade de pastejo em desfolha intermitente, 0 consumo diario nao é constante, mas decresce conforme o periodo de pastejo progride (Blaser et al., 1986). Logo, qual o valor correto de OF durante o periodo de pastejo? No caso de lotagdo continua, esse problema desaparece, pois a relagdo quantitativa entre o que ¢ ofertado (0 que o animal vé e sente, algo a que ele, consequentemente, responde) ¢ 0 total de PV na area é facilmente calculada para qualquer ponto no tempo, seguindo a defini¢do de OF. O uso de "%" na expressiio do valor de OF de traz ainda outro problema relative & ordem de grandeza do que & Iculado. Aparentemente, o valor de "kg MS" usado no calculo geralmente se refere ao que se permitido ao animal consumir, acima da altura ou da quantidade de forragem a ser deixada apos 0 Isso parece nao fazer sentido uma vez que 0 conceito de OF tem utilidade no estudo das ‘quantitativas da interface planta-animal ¢ sobre como isso afeta 0 consumo de forragem e, em lltima anise, 0 desempenho. Em outras palavras, a OF se presta prineipalmente ao objetivo de tentar explicar as respostas comportamentais ¢ yrodutivas de um animal, quando diante dele se apresenta uma entidade caracterizavel quantitativamente (a forragem e¢ sua massa), mas onde o animal evidentemente desconhece a real proporgdo que Ihe sera permitide consumir. Portanto o animal ndo responde a quantidade de forragem (kg MS/ha) acima do residuo, mas sim ao total de kg MS/ha que ele enxerga diante de si, pois simplesmente nao sabe qual sera o residuo. Seu comportamento ingestive ¢ desempenho didrios so o reflexo da quantidade total de forragem na pastagem a cada dia. Isso é mais facilmente compreendido em lotago continua, pois calculos instantineos de OF dio a nogao correta da relagio quantitativa predominante ao longo de dias, semanas, e até mesmo meses (dependendo do balango entre as variagdes na quantidade de forragem presente ¢ as variagdes no total de peso vivo animal em pastejo). Em lotacdo rotacionada onde a variago na massa de forragem ocorre de maneira mais intensa, surge a dificuldade de se decidir como calcular a OF. procedimento mais comum é 0 uso da massa de forragem no momento da entrada dos animais no piquete em conjunto com a premissa de que a cada um dos "n" dias de pastejo, "I/n" da massa sera consumido. Isso, jé foi visto, ndo é verdade, além do que a massa supostamente “racionada" durante "n" dias ndo & a massa de forragem total (que & a que deve ser usada no céleulo de OF por razdes jé apresentadas),, ‘mas sim a massa do horizonte consumido. E a resposta do animal nao é & forragem presente no horizonte consumido, mas sim 4 massa total ofertada. A colheita é feita A discrigdo do animal. Assim, parece fazer sentido 0 método de célculo de OF proposto por Sollenberger & Moore (1997), que obedece a defini¢ao de OF (relagao quantitativa instanténea entre massa de forragem e total de peso vivo animal) e integra as variagdes de massa de forragem ao longo do periodo de pastejo. Assim, autores propdem que uma massa de forragem média [(inicial + final)/2] seja usada como a ia de forragem presente durante 0 periodo de pastejo. Pode-se também usar 0 peso vivo total médio, pois este varia com magnitude bem menor que a massa de forragem, e, portanto tem um impacto bem menor sobre 0 cdlculo de OF. Esse procedimento ¢ ldgico, pois permite a comparagdo de OF entre métodos de pastejo (lotagao continua versus rotacionada) partindo de um procedimento de célculo andlogo e, em ambos os casos a definigao de OF & respeitada, Segundo Mott (1973) deve ser enfatizado que 0 conceito de pressdo de pastejo, e, consequentemente o de OF, é muito mais iitil na discussio de respostas de animais endo leva em consideragdo 0 que seria o equilibrio étimo para a planta, em termos de sua produtividade e persisténcia, Além disso, a manutengdo de um determinado nivel de OF pode implicar em amplas flutuagdes nas condigdes do dossel. E concebivel, no entanto, que se © manejo em fungdo de OF for a opgdo num ambiente de pesquisa, seja valioso quantificar as respostas morfologicas e fisiolégicas das plantas para que seja possivel aferir a validade do emprego dos niveis de OF em estudo, Stocking rate (taxa de lotagdo): relagdo entre o niimero de animais ou de unidades animais (UA) ¢ a area da unidade de manejo por eles ocupada, durante um periodo especifico de tempo (uma estagio de pastejo, um verdo, etc.) Stocking density (densidade de lotacdo): relagdo entre © niimero de animais ou de unidades animais (UA) ea Area da unidade de manejo por eles ocupada, medida num ponto especifico do tempo (portanto, uma medida instanténea). Também chamada de taxa de lotagdo instantinea. ‘A taxa de lotagdo € frequentemente expressa como "carga animal", um termo no recomendado. Também ocorre o uso de "lotago" como sindnimo de taxa de lotagio. Diz-se, por exemplo, que a "lotagdo" foi diminufda na seca, quando ocorreto & dizer que a "taxa de lotagdo" foi reduzida. "Lotagdo", como sera visto mais adiante, é 0 modo de ocupagao da unidade de manejo e a estratégia de colheita de forragem usando animais. A diferenga entre taxa de lotagdo e densidade de lotagdo esta na Jjanela de tempo usada para definir as duas grandezas. Considere-se, por exemplo, uma pastagem de 1 ha ocupada por quatro UA durante toda a estago de pastejo (por exemplo, 180 dias de vero). A taxa de lotagdo € 4 UAvha, Se essa pastagem for dividida em 4 piquetes de 0,25 ha e 0 lote de 4 UA permanecer 10 dias em cada um deles, voltando ao mesmo piquete apés 30 dias, a taxa de lotagdo durante os 180 dias de pastejo continua sendo 4 UAvha, mas a densidade de lotagdo, expressa pontualmente, é de 4 UA em 0,25 ha ou 16 UAvha. Forage mass (massa de forragem): quantidade - massa ou peso seco - total de forragem presente por unidade de area acima do nivel do solo (preferencialmente, mas nao obrigatoriamente). Medida de carater pontual, normalmente expressa em kg MS/ha, Forage accumulation (acimulo de forragem): aumento na massa de forragem de uma drea de pastagem durante um determinado periodo de tempo. Available forage (forragem disponivel): porgdo da massa de forragem, expressa como peso ou massa por unidade de area, que esti acessivel para 0 consumo dos animais, Este & um termo néo recomendado uma vez que "forragem" & uma entidade definida e a "porgdio da massa que est disponivel para consumo" € algo hipotético e sujeito & controvérsia da especulago, mesmo quando um residuo pés-pastejo ¢ usado como referéncia, Pode ocorrer, por exemplo, de parte da forragem abaixo do residuo ser consumida antes que a altura média do residuo seja atingida. Os termos "forragem disponivel” e "disponibilidade de forragem" sdo frequente e erroneamente usados como sinénimos de "massa de forragem". Também é comum 0 uso de "crescimento" como sinénimo de acimulo, "Acimulo" é 0 resultado liquido do balango entre crescimento (sintese de novos tecidos vegetais), que soma massa, € os processos que subtraem massa (senescéncia e morte de tecidos) da comunidade vegetal. Alguns autores, para maior clareza, usam 0 termo "acémulo liquido", embora, pela definigao, isso seja redundante, Continuous stocking (lotagdo continua): método de pastejo onde os animais tém acesso inrestrito a toda a area pastejada, sem sub-divisio em piquetes e alterincia de periodos de pastejo com periodos de descanso, Frequentemente (¢ erroneamente) expressa por "pastejo continuo”. Rotational stocking (lotago rotacionada): método de pastejo que utiliza subdivisio de uma area de pastagem em dois ou mais piquetes que sdo submetidos a periodos controlados de pastejo (ocupagao) © descanso, Também conhecido como "pastejo rotacionado”, este um termo nao recomendado, uma vez, que 0 que é "rotacionado" (movimento este que nem sempre € Sbvio) é a lotagdo (ocupagao) € nao 0 pastejo. Este é mais um ponto polémico da terminologia. A vasta maioria dos autores brasileiros faz uso intenso da expresso "pastejo continuo". Contra isso pode-se oferecer dois argumentos. Primeiro, animais nio pastejam continuamente, mas sim dividem 0 seu tempo entre o pastejo e outras atividades como caminhada, ruminagao, écio, etc. Segundo, plantas individuais ou pequenas areas dentro da pastagem, mesmo sob lotagdo continua, ndo so pastejadas continuamente, experimentando momentos de desfolha que se alternam com periodos de descanso. Neste caso trata-se de periodos de descanso incertos € nao controlados e que sio mais curtos quanto maior for a taxa de lotagao, embora possam ser de até algumas semanas, em pastos sob lotagdo continua e taxa de lotagdo muito baixa, No caso da lotagdo rotacionada, o periodo de auséncia de desfolha ¢ conhecido ¢ garantido para cada piquete. E evidente que o conjunto de termos apresentado acima nao é completo nem definitive. Trata- se, todavia, de um esforgo coletive levado a cabo por um painel de especialistas de renome internacional e elaborado segundo a natureza semantica e etimolégica dos termos, no contexto de sia aplicagao técnica e cientifica, Mais ainda, reflete uma tendéncia internacional que, apropriadamente traduzida, permite que a pesquisa brasileira seja reportada com exatidio nos veiculos de divulgagao nacionais ¢ internacionais, Parece sensato abragar a idéia ¢ adotar algo intemnacionalmente consagrado. © processo de avaliagio ‘A quantificagdo de respostas de plantas ¢ animais em sistemas de pastejo ¢ tarefa érdua € requer método para que as informagdes geradas sejam exatas, precisas, ¢ de utilidade, tanto a0 pesquisador que busca interpretar os resultados de sua pesquisa, como ao produtor que precisa tomar decises de manejo. No contexto da pesquisa, a quantificagdo de caracteristicas quantitativas qualitativas é vital em programas de melhoramento ¢ avaliagdo de cultivares, selegdes e introdugd ‘bem como no estabelecimento de priticas de manejo que otimizem o processo produtivo. Diversos enfoques experimentais ¢ diversas filosofias de avaliagdo de plantas forrageiras © ppastagens so reportadas na literatura. A pesquisa tem por objetivo identificar problemas € propor solugdes com base nos resultados da experimentagdo, Em alguns casos, uma solugdo potencial é a identificacao, e introdugdo de novas espécies e/ou cultivares, sejam eles oriundos de coleta, selegdo introdugdo, ou ainda de programas de melhoramento genético. A avaliagdo criteriosa desses novos materiais, assumida como obrigatéria ¢ indispensdvel, tem como objetivos principais (1) asscgurar a methoria e/ou a manutengao dos niveis de produtividade a longo prazo, (2) identificar as melhores, estratégias de utilizagdo e uso eficiente e racional da forragem produzida, (3) quantificar o grau de confiabilidade possivel de ser esperado do material avaliado © seu efetivo potencial para gerar melhorias no sistema de produgo animal. Assim, podem ser identificadas algumas variagdes filos6ficas no tocante aos procedimentos envolvidos na avaliagdo, embora os protocolos tenham sempre 0 mesmo objetivo final. Algumas perguntas importantes jrecisam, entdo, ser respondidas, como: Dentro de uma colegdo de gendtipos (sejam eles introdugdes, selegdes, ou hibridos oriundos de melhoramento genético) de um banco de germoplasma, como proceder para que seja possivel escolher 9s melhores materiais com potencial para langamento comercial como cultivares? Mais ainda, qual ou quais as estratégias mais adequadas de utilizagdo desses materiais? Quais as suas exigéncias em termos de nutrigdo mineral, agua, luz, temperatura? Quais os determinantes morfofisiologicos de sua rodutividade e persisténcia sob corte ou pastejo? ‘Numa situagdo ideal, hipotética, equipes multidisciplinares, compostas por melhoristas de plantas, especialistas nas dreas de agronomia, solos, climatologia, ¢ nutrigdo animal trabalhariam em programas de avaliago que se caracterizassem em esforgos coordenados. Nesse procedimento, 0 material a ser avaliado seria fornecido pelos melhoristas a equipe de avaliagao que se responsabilizaria pela avaliagao do material. Embora pouco comum no Brasil, intimeras Universidades no exterior possuem um especialista em melhoramento genético de plantas forrageiras que trabalha em intima cooperago com cientistas de outras reas na avaliago de novos materiais forrageiros. Nesses ambientes, no é raro que um processo se inicie com um nimero elevado (varias dezenas, as vezes centenas) de genétipos, dos quais se procura selecionar uns poucos (as vezes apenas um) para langamento comercial visando © seu uso em pastagens. Para tanto, ¢ importante quantificar 0 desempenho dos novos materiais em condigdes préximas ou iguais és que serdo enfrentadas quando da sua incorporagdo ao sistema de producdo, © que inclui grandes areas estabelecidas, frequentemente sendo colhidas por animais em pastejo. Nesse cenério, pode-se, inclusive, querer testar miltiplos niveis de adubagdo e/ou miitiplas estratégias de manejo do pastejo. Surge, entdo, o problema relativo & impossibilidade operacional e econémica de se levar tal proposta a efeito, pois € no minimo muito dificil avalar dezenas de gendtipos em ensaios de pastejo, onde as unidades experimentais tém milhares de metros quadrados de 4rea, necessérios para a manutengdo dos animais no experimento. Um experimento testando uma diizia de genstipos sob dois ou trés niveis de adubacao ¢ duas ou trés estratégias de manejo teria que ter dezenas de hectares. Além de um custo provavelmente proibitivo, a coleta de dados e 0 gerenciamento do experimento seriam um desafio mesmo aos pés-graduandos, estagiaios, ¢ técnicos mais eficientes e trabalhadores, A premissa basica de um protocolo ou esquema de avaliagdo passa a ser, entio, a de identificar, através de uma sequéncia racional de etapas ¢ usando metodologia mais barata que os grandes experimentos de pastejo, quais os materiais mas promissores, dentre os genétipos componentes do banco de germoplasma. Dessa forma, aqueles materiais com menos aptidio para a finalidade em questo, podem, de maneira répida ¢ mais barata, ser descartados cedo no processo. Com isso, é possivel racionalizar recursos em termos de insumos ¢ infra-estrutura, ¢ submeter aos caros e elaborados ensaios de pastejo apenas os materiais com as "melhores" caracteristicas, eliminando cedo no processo aqueles que por alguma razdo possuam caracteristicas "indesejéveis" Assim, os esquemas de avaliagdo consistem, normalmente, de sequéncias ldgicas de experimentos ou conjuntos de experimentos, onde, ao mesmo tempo em que se elimina os "piores" materiais, aplica-se 9 conhecimento sobre aqueles que vao se mostrando mais promissores a cada etapa concluida. Apesar de existirem variagdes, fruto das diferentes politicas institucionais ¢ filosofias de trabalho, os protocolos propostos ¢ utilizados pelos érgos de pesquisa ao redor do mundo compartilham desse mesmo objetivo, € sdo bem exemplificados pelo esquema proposto por Mott & Moore (1970) que sugeriram cinco etapas de avaliagdo (Figura 1). © protocolo proposto, hé mais de 30 anos usado na Universidade da Florida (EUA) inclui desde a simples caracterizago agrondmica ¢ quallitativa de um grande mimero de materiais, passando por etapas sucessivas cada vez mais caras e elaboradas, onde um mimero cada vez menor de genétipos permanece no proceso ¢ chegando ao final com uns poucos (as vezes um tinico ou mesmo nenhum) materiais aptos para obtengdo do registro de cultivar ¢ Jangamento comercial. Figura 1. Protocolo "Mott & Moore" (Protocolo Florida) de avaliago de forragens (Mott & Moore, 1970). Pardmetros Pardmetros Fase de Avaliagao Agronémicos Qualitativos 1 Introdugdes ¢ Resisténcia a pragas ¢ Composigao quimica, "Breeder's Lin doengas, produtividade, DIVMO, rel. haste: folha, relagao haste:folha, rebrota, —_caracteristicas anatmicas, florescimento, fenologiae _ FDN, FDA, compostos ontogenia, produgdo de toxicos sementes, tolerancia & seca e encharcamento u Ensaios de corte Respostas ao ambiente, Composigao quimica, em parcelas adubagao, desfolha, DIVMO, FDN, FDA crescimento estacional, produtividade m1 Respostas da Tolerancia 20 pastejo Composigdo quimica, planta ao animal (intensidade vs. frequéncia), DIVMO, FDN, FDA ("Mob-grazing") produtividade e persisténcia sob pastejo Vv Respostas do Produtividade e capacidade Digestibitidade in vivo de animal a forragem de suporte da pastagem. nutrientes , consumo pastejada voluntétio, conversiio (Grazing Trials alimentar, produgao por animal (GMD ou leite), composigao quimica DIVMO, compostos tixicos v Sistemas de produgdo _-Sequencia de pastejo, suplementagdo com feno, silagem, concentrados, Equilibrio entre exigéncias do animal (demanda) e disponibilidade de pasto e alimentos (oferta). Eficigneia (técnica e econémica), uso potencial, & aplicabilidade de tecnologias geradas Outros protocolos podem ser encontrados na literatura, como 0 proposto por Mochrie et al (1981), onde a introdugao do animal no esquema de avaliagao acontece mais cedo (na segunda de seis fases), embora os préptios autores reconhegam a dificuldade de se levar a cabo um proceso mais laborado de avaliagao, ¢ reconhegam que sua proposta raramente ser executada por completo, Jones & Walker (1983) compilaram a literatura pertinente e propuseram o esquema de cinco fases como 0 mais indicado para estreitar 0 nimero de genétipos para um a quatro, na fase final de avaliagdo © Cameron & Melvor (1980) detalharam 0 procedimento proposto pelo "Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization - CSIRO" na Australia, enfatizando que 0 uso pretendido para novo material deve ser determinante dos métodos utilizados na avaliagdo, Outras instituigdes, como 0 Centro Intemacional de Agricultura Tropical - CIAT (Toledo, 1993) ¢ a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecudria - Embrapa (Euclides & Euclides Filho, 1997) incluem avaliagdes em miltiplos ambientes através de redes de ensaios regionais. De maneira geral, um processo conduzido de maneira criteriosa pode levar 10-15 anos (no raramente mais do que isso) para identificar um material forrageiro com potencial para langamento como cultivar comercial (Jones & Walker, 1983). © que medir e como medir Respostas da pastagem Independentemente do objetivo global da avaliacao, algumas respostas séo imprescindiveis © sua quantificagdo, seja nos ensaios de corte ou nos de pastejo, deve ser feita de maneita criteriosa para que valores exatos possam ser auferidos. Do ponto de vista quantitativo, talvez a varidvekresposta mais importante a ser quantificada seja a massa de forragem (MF). Em experimentos de pastejo, Bums et al. (1989) afirmam que a MF & uma das quatro medigdes de importancia, junto com massa de folhas verdes, qualidade da dieta, ¢ densidade volumétrica ("bulk density") da forragem. De acordo com Frame (1981), em muitos experimentos envolvendo produgao animal em pastagens, a falta de medigdes de MF significa que informagdes importantes sobre os efeitos do manejo sobre o aciimulo, a taxa de actimulo ou o consumo, simplesmente ndo so gerados, 0 que compromete enormemente a interpretagdo dos resultad Expressa como peso ou massa total de forragem, preferencialmente - mas nfo necessariamente ~ medida ao nivel do solo (FGTC, 1992) e com base na matéria seca, normalmente a 65 °C até peso constante, a MF € 0 ponto de partida para o céleulo de outras respostas de interesse. Apesar de ser uma medida instantinea, pontual, a MF permite estimar respostas que integram perfodos de tempo, como o aciimulo de forragem (AF) durante um dado intervalo de tempo ou a taxa média diiria de actimulo de forragem, quando o AF é dividido pelo mimeto de dias de acimulo. Adicionalmente, a MF & necesséria para célculos de respostas importantes nos ensaios de pastejo, como a oferta de forragem (OF). Teoricamente, 0 método mais exato (i.e, que representa o valor real) de se quantificar a MF seria cortar toda a forragem de uma pastagem ao nivel do solo, secé-la e pesé-la (Burns et al., 1989). Evidentemente, embora isso se constitua numa opedo factivel em ensaios de corte em pequenas parcelas, quando animais fazem parte do contexto experimental e as dreas de pastagem sto bem maiores que uns poucos metros quadrados, aparece uma dificuldade fundamental que & a necessidade de se ter alimento disponivel de modo a garantir a continuidade do experimento. A alternativa, entio, passa a ser a amostragem, através da qual, a partir da quantificagdo da MF em uma pequena proporeao da pastagem, a MF de toda a dea & estimada, Virias sdo as opgdes para a amostragem de areas de pastagem. A mais comum é 0 uso de amostragem direta (também conhecida como amostragem destrutiva), cortando-se a forragem de uma area delimitada por moldura de madeira ou metilica. Cada area cortada representa uma fra¢o muito pequena da vegetagao ¢ isso pode induzir a erros na hora de se estimar a MF total da dea. Esses erros sio decorrentes tanto do acaso (originado da dispersdo dos valores pontuais de MF na superficie da vegeta¢do) como do viés (que pode estar associado ao observador, ao instrumento de medigao, & cireunstincia da medig&o, etc.). Em fungio disso, varias so as propostas de técnicos e pesquisadores como sendo "a melhor” ou a "mais correta” maneira de se amostrar uma drea de pastagem para estimar a MF, principalmente quando a amostragem é exclusivamente destrutiva (i.e., s6 amostragem direta & usada), Enquanto que alguns insistem na casualizagio das estagdes de amostragem, através de sorteio de suas coordenadas ainda no escritério, ou mesmo do arremesso de quadrados no pasto com os olhos vendados, outros argumentam que o mais correto seria a escolha de locais no pasto onde a MF seria representativa da média, Em ambos os casos os locais seriam, entdo, cortados ¢ as MFs individuais usadas no cilculo de um valor médio, que seria a estimativa da MF do pasto. F evidente que hi argumentos em favor de um método e do outro, © que, em dltima andlise esti associado com a heterogencidade da vegetagdo ¢ & dispersdo dos valores pontuais de MF na area a ser amostrada, conforme discutido por Guzman et al. (1992). A primeira abordagem parece ser mais apropriada nos casos onde a heterogeneidade espacial em termos de MF nao € tio grande, permitindo que se possa obter uma boa estimativa do valor de MF através da média de algumas poucas observagdes (lembrando que corte de amostras destréi o pasto e toma tempo, portanto quanto menos, melhor). ‘Numa drea onde a MF varia muito, pode-se sortear quatro ou cinco estagdes ainda no escritétio, e 56 no campo constatar que elas cortespondem a pontos de MF igual a zeto, por exemplo. Ou entio aparece o recurso de se descartar um local porque ele "evidentemente estava muito fora" do valor real. Alguns irdo perguntar que casualizago é essa, Nesses casos alguns argumentariam em favor da avaliago da rea previamente amostragem, seguida da escolha de umas poucas estagdes que representariam a média da MF do pasto. Enquanto que isso pode reduzit a dispersao dos valores de MF amostrados, é possivel que o efeito do observador seja introduzido nas medigdes na forma de viés. © tamanho, formato, e mimero das éteas a serem cortadas na amostragem, também tém sido objeto de debate. Do ponto de vista operacional, fica claro que amostras menores so cortadas mais rapidamente, sio mais facilmente processadas (caso se deseje a separagdo de seus componentes), © secam mais depressa do que grandes quantidades de forragem. Aqui também, no entanio, parece que a heterogencidade espacial da vegetagao id determinar o tamanho da area da amostta, que deverd ser representativa também da estrutura (densidade ¢ variagdes pontuais de MF) da drea total sendo amostrada, Em outras pakavras, todos os componentes estruturais e a variabilidade do pasto deveriam, idealmente, estar representados, na mesma proporgao, na rea da amostra, Uma altemativa que permite uma melhor representacdo espacial da drea amostrada exige que muitos valores de MF sejam medidos na drea avaliada. Isso s6 € possivel se cada "Ieitura" de MF puder ser feita de maneira répida (porque so muitas) © nao destrutiva (para que 0 efeito da amostragem nao interfira na resposta sendo medida). Assim, passa a ser importante identificar caracteristicas da vegetagdo que estejam altamente correlacionadas com MF e que possam ser medidas rapida e facilmente. A quantificagdo de MF passa a ser, entio, baseada em amostragens indiretas usando técnicas que devem ser calibradas contra valores reais de MF medidos por amostragem direta (destrutiva). esse caso, & importante que a calibragdo seja feita abrangendo a maior amplitude possivel de valores de MF para que, através de andlise de regressdo, seja possivel estabelecer a relagio funcional entre a leitura fornecida pelo método indireto ¢ a MF, 0 que envolve a avaliacdo dos parimetros da regressio como coeficiente de determinacdo ¢ erro padrio da regressio (raiz quadrada do quadrado médio do residuo). Normalmente a calibragao ¢ feita em um néimero pequeno de locais, onde primeiro se faz a leitura do método indireto e depois o corte da forragem (método direto). Nesses locais, portanto, faz-se a dupla amostragem. Feita a calibragao, um grande nimero de amostragens indiretas pode ser feito na drea, incorporando assim bastante da variabilidade espacial da vegetacao, Além disso, pode-se calibrar © método indireto em algumas ocasides durante o periodo experimental para que se possa identificar agrupamentos de dados de calibrago por tratamentos, épocas do ano, etc., além de enriquecer 0 banco de dados e fortalecer a regressio. Dentre as medigdes indiretas usadas na estimativa de MF em uma érea de pastagem esto: 1. Avaliagdo visual: pode ser feita de diversas maneiras e & muito sujeita ao efeito do observador. Exige treinamento prévio para que seja exata e precisa. Uma variagdo que pode reduzir a subjetividade ao se tentar atribuir um valor absoluto de MF a um ponto da pastagem foi proposta por Haydock & Shaw (1975) ¢ descrita como 0 "Comparative Yield Method", Nesse procedimento, farese a selego de pontos abrangendo a amplitude de MF da pastagem que so classificados com notas (Cinco pontos, classificados de | a 5, por exemplo) conforme a MF. Esses locais, apés receberem suas notas So cortados ¢ a MF de cada um deles & posteriormente medida apés secagem da forragem em estufa. Apds 0 corte 0 observador estabelece um caminhamento onde periodicamente ele para e da ‘uma nota a um grande mimero de estagdes, de acordo com o critério estabelecido. Com a calibragaio que dé a correspondéncia entre "nota" e MF, o observador calcula a nota média de todas as estagdes avaliadas visualmente ¢ entra com esse valor na equagao de regresso, chegando assim ao valor médio de MF para a pastagem. Aqui a variagio de observador para observador pode ser muito grandee observadores pouco ou mal treinados tendem a fazer observagdes pouco exatas € pouco precisas (Frame, 1981). Isto, de acordo com Mannetje (2000), pode fazer com que a técnica de avaliagio visual possa ter seu uso restrito a aplicagdes priticas em propriedades, sendo de valor limitado em situagbes de pesquisa. 2. Altura do dossel: Procedimento andlogo A avaliagdo visual. Calibra-se a altura como indicador de MF e mede-se a altura da forragem com uma régua em um grande nimero de estagdes (Figura 2). A altura média é usada na equagio de calibrago para estimar a MF da area. Figura 2. Medigdo de altura do dossel com régua e transparéncia, Esse método tem a vantagem de ser simples e de ndo requerer equipamento sofisticado (apenas uma régua graduada). Todavia, o uso da altura (bem como dos outros métodos indiretos) para estimar MF esté, em geral, associado com baixa preciso e baixa exatido por medigdo, pois apenas uma aproximagdo & conseguida em relagdo a0 valor real de MF. A variag3o pontual da altura do dossel é muito alta e parece ser vantajoso tentar integrar a altura de pequenas areas do que medir um niimero excessivamente grande de estagdes. Isso pode ser feito usando-se uma transparéncia (filme de acetato) que, colocada sobre a vegetacao nio a comprime e permite integrar uma area de cerca de 600 em’. A altura média da transparéncia pode ser medida muito mais rapida e facilmente do que a de um imero suficiente de pontos para se chegar a uma mesma altura média do dossel naquela pequena drea (Figura 2). Hé ainda o problema relativo & densidade da vegetacdo, que no & constante ao longo dos estratos, Assim, a relago entre altura e MF no € constante dentro da amplitude normalmente observada em comunidades de plantas forrageiras (ie. se a altura, por exemplo, dobra de 5 para 10 em, a MF provavelmente nao dobra de 2500 para 5000 kg MS ha”), principalmente as gramineas tropicais (Tabela 1), Em geral, a densidade varia menos em dosséis de leguminosas do que de gramineas € varia mais dentro de dosséis de gramineas de clima temperado do que nos de gramineas de clima tropical (Stobbs, 1975; Moore et al, 1987; Sollenberger & Bums, 2001). ‘Tabela 1. Densidade volumétrica ("bulk density") de dosséis de uma graminea [Hemarthria altissima (Poir.) Stapf & C.E, Hubb,] e de uma leguminosa (eschynomene americana 1.) de clima tropical. Estrato do dossel H.altissima ‘A americana == gMSnrem"™ -- Superior ("topo' 3,7 Inferior ("base") 92 18 ‘Adaptado de Moore etal. (1987) © uso da altura do dossel como medida indireta 6, portanto, melhor relacionado com a massa de forragem se a densidade do dossel for uniforme e constante ao longo de todo o perfil. Como isso & improvavel, mesmo nos dosséis mais homogéneos, a MF ser, ndo raramente, superestimada quanto mais alto for o dosscl, porque as maiores densidades sio frequentemente encontradas nos estratos inferiores, proximo a base da vegetacdo, 3. Prato ou disco medidor: consiste de uma haste (geralmente metilica) graduada, na qual "corre" um disco ou prato, geralmente de aluminio ou galvanizado que, colocado ou solto de uma determinada altura sobre a vegetagio, registra uma altura de repouso. (Figura 3). Esta técnica (Santillan et al., 1979) € atraente, pois ¢ baseada no principio segundo o qual as leituras do instrumento sio influenciadas por (ou seja, respondem a) combinagdes de altura e densidade da cobertura vegetal, ie., ‘tem a vantagem de combinar duas caracteristicas do dossel (altura e densidade) que, em conjunto, esto mais fortemente associadas com MF do que a altura sozinha (Mannetje, 2000). Figura 3. Medigio com o prato ascendente ("rising plate meter"). O modelo da figura é comercial, mas hé os de fabricagio artesanal. © procedimento ideal & fazer a calibrago do prato ou disco em locais selecionados para abranger a amplitude da MF e, de preferéncia, varias veres ao longo do experimento. Ao final de uma ou de varias estagdes de pastejo, de posse da biblioteca de calibragao pode-se, através de manipulagao estatistica ("PROC REG" ¢ "PROC SORT") (SAS Institute, Inc., 1989) selecionar calibragdes especificas para cada tratamento (ou fator de tratamento), para cada estagdo, ete. A calibracao & especifica para cada técnica, o que quer dizer que uma amplitude de alturas usada para calibrar a régua provavelmente nao seré a melhor amplitude para a calibrago do prato, uma vez que o prato deve ser calibrado com amplitudes de MF. Em outras palavras, pontos de alturas contrastantes medidas com régua podem fomecer a mesma leitura do prato, se as densidades forem diferentes. E frequentemente so, mesmo em pastagens monoespecificas. Além disso, o disco ou prato medidor & provavelmente uma técnica indireta mais eficiente para medir a MF de dosséis de porte médio a baixo, de espécies folhosas ¢ de colmos macios. Em dosséis com colmos muito grandes ¢ rigidos a leitura pode ndo levar em conta a densidade, mas responder apenas & atura, resultando em correlagdes fracas entre altura do prato © MF. O tamanho ¢ o peso do disco podem variar e, embora no haja grande efeito de peso (em discos de mesma area) nem de drea (em discos de mesmo peso por unidade de drea) na qualidade da calibrago e das estimativas de MF (Bransby et al., 1977), valores extremos podem ser prejudiciais uma vez que discos excessivamente leves iro responder apenas a altura e discos excessivamente pesados provavelmente responderio pobremente 4 densidade e altura, simplesmente esmagando a vegetagdo, Da mesma forma, discos excessivamente grandes sero dificeis de transportar ¢ discos excessivamente pequenos ndo serdo capazes de integrar a MF de uma érea suficientemente grande, gerando erros elevados por leitura. Os tamanhos mais comuns variam de 0,2 a 1 mt (Frame, 1981). A técnica do disco ou prato medidor ndo é indicada para dossé vegetagio esti "acamada" (Mamnetje, 2000; Oliveira et al., 2001) e, apesar de ser menos suscetivel ao efeito de observador (viés) do que a avaliagio visual, é sempre melhor que o mesmo observador faga as leituras no experiment todo ou, pelo menos na mesma repetico (Aiken & Bransby, 1992). Altemativamente, pode-se treinar os observadores para que padronizem 0 procedimento de leitura. Outros métodos indiretos incluem 0 uso da capacitincia medida por uma sonda eletténica ("pasture probe"). Alguns modelos comerciais esto disponiveis no mercado e, apesar de pouco utilizada no Brasil, a técnica é conhecida ¢ usada em outros paises hd pelo menos 40 anos (Mannetje, 2000). A quantificagdo de MF é baseada no fato de que a capacitincia do ar é baixa, enquanto que a da forragem ¢ alta, Similarmente aos outros métodos indiretos, a sonda eletrOnica deve ser calibrada antes do uso para que se possa, entdo fazer vérias leituras de maneira répida e eficiente (Figura 4) abrangendo a variabilidade espacial da pastagem. Uma das desvantagens da téenica é que a capacitincia da MF depende da espécie ¢ da concentrago de gua da massa (Mannetje, 2000), 0 que toma necessério fazer muitas calibragdes envolvendo espécies, estidios de maturidade dentro de espécies, e horas do dia (Bums et al., 1981). Nao obstante, Vickery et al, (1980), Vickery (1981), © Vickery & Nicol (1982; citados por Mannetje, 2000) argumentaram que as sondas modemmas de um ‘inico sensor responde érea superficial da MF e & menos sensivel 4 concentragdo de égua na forragem. Experiéncias iniciais com pastagens tropicais ¢ 0 uso da capacitincia para quantificagdo de sua MF foram frustrantes (Jones et al., 1977) justamente devido a esse problema, A escolha do método indireto deve levar em conta a preciso e exatidio desejadas na estimagdo da MF, a qualidade da mio de obra e a necessidade de treinamento do(s) operador(es), ¢ a disponibilidade de recursos para aquisigo do equipamento. Enquanto que a avaliagdo visual ¢ a de altura tém custo reduzido, a aquisigao de um "rising plate meter” ou de um "electronic capacitance pasture probe", poder custar algumas centenas de délares. Se, por um lado, os métodos indiretos podem proporcionar ganhos em agilidade na amostragem e cobertura apreciivel da variabilidade local em pastos pastejados (notadamente mais heterogéneos do que pastos onde a forragem & colhida mecanicamente), 0 uso inadvertido das técnicas ou dos equipamentos podem anular esses ganhos. E importante que se faca calibragSes fortes (com muitos pontos) para que as medigdes indiretas tenham significado. Ha casos (e.g., Sanderson et al., 2001) em que a capacitincia ¢ a altura so altamente inexatos como preditores de MF, © mesmo o aumento da quantidade de leituras indiretas aumentatia apenas a preciso. Isso ocotre porque 0 e1to padrdo da predigo (EPP) inclui o erro associado ao corte dos locais de calibragdo (amostragem dupla) ¢ o erro na leitura usando 0 método indireto, ¢ ambos Figura 4, Medigio por capacitincia com a sonda eletrénica ("Pasture probe”) podem ser reduzidos aumentando-se 0 niimero de observacdes (Fulkerson & Slack, 1993). Sanderson et al. (2001) explicaram que dentre as razées para as correlagdes pobres (baixos coeficientes de determinagdo ¢ altos erros-padrdo de regressio) entre as amostragens diretas e indiretas, estio a irregularidade do solo (protuberdncias ¢ buracos), pisoteio © acamamento da vegetacdo, composi¢zo botinica (Karl & Nicholson, 1992), e efeitos de observador (Aiken & Bransby, 1992), e tudo isso aumenta a variabilidade tanto na medigao direta (destrutiva) como na indireta (ndo-destrutiva). Além disso, algumas sondas eletrOnicas s6 so capazes de quantificar a capacitincia (e, consequentemente a MF) num volume de espaco cilindrico de 100 mm de diémetro (com o centro correspondendo 20 cixo da haste sensora) por 400 mm de altura, o que significa que, se a haste esti com a ponta encostada no solo, a MF presente acima de 40 cm de altura nao serd registrada, Sanderson et al. (2001) enfatizaram a necessidade de boas calibragdes para os métodos da altura, do prato, ¢ da capacitineia para que 0s valores de EPP fiquem abaixo de 10%, 0 que consideram necessério para que 0 investimento nesse tipo de tecnologia seja viével por parte do produtor. De posse de valores de MF do pasto em pontos especificos de estago de pastejo, pode-se facilmente calcular © acimulo (aumento da MF durante um periodo de rebrota, por exemplo) de forragem para estagdes do ano, periodos de pastejo, ou todo o ano. Por exemplo, o acimulo de forragem (AF) durante um periodo de descanso de um determinado piquete sob desfolha intermitente (lotagdo rotacionada, por exemplo) & dado por: AF = ME pré-pastejo gion - MF ps-pastejo ion.) Em casos onde o método de pastejo é a lotagdo continua € nao ha periodos de descanso do pasto ¢ de rebrota das plantas, claros, controlados, ¢ definidos (embora plantas individuais experimentem periodos de descanso irregulares € no controlados), faz-se necessério langar mio de artificios que permitam medir o actmulo de forragem em areas protegidas do pastejo (e.g., usando gaiolas de exclusdo). Neste procedimento ndo ha ciclo de pastejo, mas sim, ciclo de amostragem. Por exemplo, mum ciclo de amostragem de 21 dias para medi¢o de acimulo numa pastagem sob lotacdo continua, identificam-se no dia "zero" do ciclo de amostragem, trés pontos onde a MF é a média do pasto e excluzse esses locais com gaiolas. No dia "21" mede-se a MF média do pasto (ie., area pastejada, fora das gaiolas) ¢ a MF das éreas excluidas. Dai AF = MF gaiolas is 2s ~ MF pasto sis sero AS gaiolas so, entdo, rotacionadas ¢ ancoradas em novos pontos onde a MF & representativa da MF da unidade experimental, e 2 MF do pasto (fora das gaiolas) € novamente quantificada. Decorrides mais 21 dias, pode-se calcular mais um AF, como sendo: AF = MF gaiolas as 4s ~ MF pasto as Logo, a cada data de amostragem mede-se a MF inicial para o préximo ciclo de acimulo ¢ a MF final do ciclo de actimulo que acaba de terminar. Esta técnica consiste de um artificio e isso deve set levado em conta na interpretagao das informagdes geradas. Alguns autores argumentam que dentro da gaiola, 0 acimulo (e os processos dos quais ele € resultante) néo € 0 mesmo que fora da gaiola, onde as plantas ndo estio excluidas do pastejo, o que & verdadeiro, Ocorre que, em situagdes onde nao € possivel cortar grandes proporgdes de area da unidade experimental durante a amostragem (e isso ocorre frequentemente), 0 uso de gaiolas € de grande utilidade (Pedreira et al., 1999). Dependendo da condigdo da vegetagdo no momento da exclusdo, 0 actimulo medidos dentro das gaiolas pode ser maior ou menor que na area ndo excluida. Acimulos superestimados dentro de gaiolas de exclusio foram reportados por Cowlishaw (1951) e Heady (1957). Em ambos os casos, os autores listaram aspectos relacionados com a modificagdo do ambiente dentro da gaiola (maior umidade, menor movimentagdo de ar e menores perdas de Agua por transpirago) como explicagdo para 0 fenémeno. Além disso, em dosséis sob lotago continua onde o indice de dea foliar (LAF) é baixo no momento da exchusdo, 0 AF pode ser superestimado, pois durante 0 periodo de exclusio o IAF médio é maior mais favordvel a taxas de crescimento altas e taxas de senescéncia relativamente baixas. Se, por outro lado, 0 IAF inicial, no momento da exclusio, é alto, 0 AF pode ser subestimado em fungdo de taxas excessivamente altas de seneseéncia que se estabelecem cedo apés a colocagdo das gaiolas, reduzindo © aumento liquido da MF dentro delas. Além dessas respostas agronémicas de producdo, ¢ comum também que se queira um estimativa das caracteristicas qualitativas (valor nutritivo) da forragem em um experimento de pastejo. Amostras do tipo "hand-plucked" (simulando o pastejo dos animais) podem ser obtidas em um piquete prestes a ser pastejado, cortando-se a forragem na altura pés-pastejo pretendida. O procedimento & um pouco mais complicado, todavia, em lotago continua, pois o "horizonte pastejado" nfo é facilmente identificdvel, 0 que requer a observacao do habito de pastejo para que a simulagdo seja representativa, Nesse sentido, o uso de animais fistulados no es6fago permite a coleta de boas amostras da forragem pastejada (Euclides et al., 1992), embora Jones & Lascano (1992) tenham alertado para o fato de que 0 uso pontual de animais fistulados pode fornecer estimativas inexatas do valor nutritivo da dieta selecionada por animais "residentes" (que estio petmanentemente no experimento). E também importante ressaltar que coreto processamento da amostra "pés-amostragem" (e.g. secagem, moagem, € armazenamento corretos) ¢ bons procedimentos analiticos no laboratério, nao irdo compensar uma possivel md amostragem no campo (eg., obten¢do de uma amostra nio-

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