You are on page 1of 17

AÇAO RESCISÓRIA

1. Instrumentos de controle/revisão da coisa julgada


Ação rescisória – principal forma de se impugnar a coisa julgada, no prazo de 02 anos.
Permite rever a coisa julgada por questões formais e materiais.
Querela nullitatis – é uma forma de revisar a coisa julgada que não tem prazo e que
serve para questões formais relativas à citação.
Erro material – permite a revisão da coisa julgada a qualquer tempo e de ofício (art.
463 do CPC).
Revisão de sentenças inconstitucionais (art. 475-L, § 1º e art. 741, pu, CPC) – são
defesas do executado utilizadas na execução ou cumprimento de sentença.

2. Conceito
Ação rescisória é a ação autônoma de impugnação pela qual se busca a rescisão de
decisão transitada em julgado e, se for o caso, um novo julgamento da causa.
A rescisória pode ter dois propósitos: rescisão (desfazimento da decisão judicial
transitada em julgado) e rejulgamento. O pedido de rescisão é sempre possível. O pedido de
rejulgamento nem sempre. Há casos de ação rescisória que não se pede o rejulgamento por
ser desnecessário.
O pedido de rescisão na rescisória dá ensejo ao chamado iudicium rescindens. O
pedido de rejulgamento dá origem ao iudicium rescissorium, que pode existir ou não na
rescisória.

3. Pressupostos da ação rescisória


3.1. Decisão de mérito transitada em julgado – decisão rescindível
A regra geral é que decisão rescindível é a decisão de mérito final que tenha transitado
em julgado, ou seja, em regra, decisão rescindível é sentença ou acordão de mérito.
OBS 01: Admitem-se as chamadas decisões parciais: decisões que decidem parte do
processo, p ex, prescrição parcial, autocomposição parcial, decadência parcial. As decisões
parciais também podem ser objeto de ações rescisórias. Para a maioria da doutrina, as
decisões parciais são interlocutórias. Assim, as decisões interlocutórias de mérito e definitivas
podem ser objeto de ação rescisória.
OBS 02: É possível que a ação rescisória tenha por objeto um único capítulo da decisão
e não toda a decisão. Ex: rescisão do capítulo dos honorários.
Cuidado com a possibilidade de rescisória de um capítulo. Na rescisão de apenas um
capítulo, apenas as pessoas envolvidas neste capítulo precisarão ser citadas e não todas as
partes do processo. O réu é só a pessoa que se beneficiou do capítulo que se buscar rescindir.
OBS 03: Decisão em ADI, ADC e ADPF NÃO é rescindível, por expressa vedação legal.
OBS 04: Jurisdição voluntária – há grande polêmica quanto ao cabimento de ação
rescisória contra decisão proferida em jurisdição voluntária.
Para alguns autores, jurisdição voluntária não faz coisa julgada, não sendo, portanto
rescindível. Para quem defende que há coisa julgada, cabe rescisória. Prevalece o
entendimento de que não há coisa julgada em jurisdição voluntária, NÃO sendo cabível
rescisória nestes casos.
OBS 05: Juizados Especiais
A Lei 9099/95 proíbe ação rescisória de decisão de Juizado. Entretanto, esta previsão
está contida numa lei de 1995. Não existe proibição neste sentido na Lei dos Juizados Federais.
Diante do seu silêncio, aplica-se a Lei 9099/95 por analogia, sendo também vedada a ação
rescisória. Portanto, nos Juizados Especiais NÃO cabe rescisória.
ATENÇÃO: Uma decisão que pode ser objeto de querela nullitatis pode também ser
objeto de ação rescisória?
O STJ entendeu que não. Se a decisão pode ser impugnada por querela nullitatis, este
deve ser o meio utilizado. Existe certa divergência no STJ, pois a:
 Segunda Seção – admite que a inexistência de citação seja alegada em ação rescisória
ou em querela nullitatis.
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, V, C/C ART. 487, II, DO CPC. PRELIMINARES:
IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA, DECADÊNCIA, PREQUESTIONAMENTO, LITISCONSÓRCIO,
QUERELA NULLITATIS. CISÃO PARCIAL DE EMPRESA POSTERIORMENTE AO AJUIZAMENTO DA
AÇÃO. SOLIDARIEDADE PASSIVA QUANTO AOS DÉBITOS DA SOCIEDADE CINDIDA. OBRIGAÇÃO
DA RÉ DE COMUNICAR. IMPOSSIBILIDADE DE ALEGAR NULIDADE. AÇÃO RESCISÓRIA
IMPROCEDENTE. 3. Admite-se ação rescisória por violação de lei, mesmo que a decisão
rescindenda não tenha emitido juízo sobre o dispositivo supostamente violado. Na ação
rescisória dispensa-se o prequestionamento. Precedentes. 4. Nas ações rescisórias integrais
devem participar, em litisconsórcio unitário, todos os que foram parte no processo cuja
sentença é objeto de rescisão. 5. Por alegada inexistência de citação, é possível debater-se a
ausência de litisconsortes passivos necessários e a consequente anulação do feito
rescindendo, tanto em ação rescisória quanto por meio de querela nullitatis, pois neste caso
há concurso de ações. 6. Operada a cisão parcial, cria-se um vínculo de solidariedade passiva das sociedades beneficiárias
quanto aos débitos anteriores da sociedade cindida, atingindo todas as sociedades interessadas (§ 3º art. 42 CPC). 7. Ocorrida a
cisão parcial posteriormente ao ajuizamento da ação que pleiteava rescisão contratual e indenização, era obrigação da parte ré
comunicar ao Juízo o fato, portanto há impossibilidade de alegar a nulidade que deu causa (art. 243 do CPC). 8. Ação
rescisória improcedente. (AR 3234 / MG, SEGUNDA SEÇÃO, 27/11/2013)
 Primeira Seção – NÃO admite a propositura de ação rescisória no lugar de querela
nullitatis para atacar a inexistência ou invalidade de citação. A Primeira Seção (adota a
doutrina da PUC SP) entende que o vício de citação torna a relação jurídica processual
(sentença) inexistente. Ademais, não é possível substituir a ação rescisória por querela
por questão de competência, já que a competência para julgar a querela é do juízo de
1º grau, enquanto a competência para julgar a rescisória é de Tribunal.
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO VERIFICADA. AÇÃO RESCISÓRIA.
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. HIPÓTESE DE QUERELLA
NULITATIS. APRECIAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA FUNGIBILIDADE, DA INSTRUMENTALIDADE DAS
FORMAS, CELERIDADE E ECONOMIA PROCESSUAIS. 1. Ao extinguir a presente ação rescisória
sem resolução de mérito, o acórdão ora embargado fundou-se no não cabimento de ação
rescisória para declarar nulidade de julgado por ausência de citação, considerando que a
hipótese dos autos não se enquadra no rol taxativo do art. 485 do CPC. Decidiu-se, assim, que
a desconstituição do acórdão proferido nos autos do Recurso Especial n. 8.818/PE somente
poderia ser postulada pelo autor por meio de ação declaratória de inexistência de citação,
denominada querela nullitatis. 2. Verificada a omissão do julgado quanto à aplicação dos
princípios da instrumentalidade das formas, da celeridade e economias processuais. 3. Não
está autorizada a aplicação dos princípios que norteiam o sistema de nulidades no direito
brasileiro, em especial os da fungibilidade, da instrumentalidade das formas e do
aproveitamento racional dos atos processuais, para que a rescisória seja convertida em ação
declaratória de inexistência de citação, máxime quando inexiste competência originária do
Superior Tribunal de Justiça para apreciar aquela ação cognominada querela nullitatis. Isto
porque a Constituição Federal apenas autoriza o processamento da inicial diretamente perante
esta Corte Superior nas hipótese expressamente delineadas em seu art. 105, inciso I. 4. Por
outro lado, é assente a orientação do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que a
competência para apreciar e julgar a denominada querela nullitatis Insanabilis pertence ao
juízo de primeira instância, pois o que se postula não é a desconstituição da coisa julgada, mas
apenas o reconhecimento de inexistência da relação processual. Neste sentido, são os
seguintes julgados: AgRg no REsp 1199335 / RJ, Primeira Turma, rel. Benedito Gonçalves, Dje
22/03/2011; REsp 1015133/MT, Segunda Turma, Rel. Ministra Eliana Calmon, Rel. p/ Acórdão
Ministro Castro Meira, DJe 23/04/2010; Resp 710.599/SP, Primeira Turma, Rel. Ministra Denise
Arruda, DJ 14/02/2008. 5.Embargos de declaração acolhidos, sem efeitos infringentes. (EDcl na
AR 569 / PE, PRIMEIRA SEÇÃO, 22/06/2011)
OBS 06: Súmula 514 do STF: Admite-se ação rescisória contra sentença transitada em
julgado, ainda que contra ela não se tenham esgotado todos os recursos.
O que importa para a ação rescisória é que a decisão tenha transitado em julgado,
pouco importa se o trânsito ocorreu em razão do esgotamento dos recursos ou não. Pode ter
ocorrido o trânsito em julgado porque a parte não recorreu. Isto não tem relevância para a
ação rescisória. Não é pressuposto da rescisória o exaurimento dos recursos, mas sim o
trânsito em julgado.
OBS 07: Sentenças terminativas
Sentença terminativa é aquela em que o mérito não é examinado.
Cabe rescisória de sentença terminativa?
Visão tradicional – não cabe rescisória de sentença terminativa, porque só cabe
rescisória de sentença de mérito.
O STJ decidia neste sentido até 2012. O STJ, mudando sua orientação, aceitou
rescisória de decisão terminativa (sem análise de mérito) (Resp. 1.217.321), encampando
uma orientação doutrinária que admite a rescisória de sentença terminativa.
O novo CPC também admite rescisória de decisão terminativa.
Porem não é qualquer decisão terminativa que admite rescisória. Decisões
terminativas que permitem decisão são aquelas proferidas com base no art. 267, I, IV, V, VI e
VII do CPC, porque são os casos de extinção sem exame do mérito em razão de um defeito do
procedimento, e, com isto, impedem a repropositura da causa sem correção do defeito.
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232,
de 2005)
I - quando o juiz indeferir a petição inicial;
IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento
válido e regular do processo;
V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;
Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual;
Vll - pela convenção de arbitragem; (Redação dada pela Lei nº 9.307, de 23.9.1996)
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RESCISÓRIA PARA DISCUTIR VERBA
HONORÁRIA EXCESSIVA OU IRRISÓRIA FIXADA PELA SENTENÇA/ACÓRDÃO
RESCINDENDO. ART. 20, §3º E §4º, CPC. NÃO CABIMENTO (IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO
PEDIDO). AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO LITERAL A DISPOSIÇÃO DE LEI. ART. 485, V, CPC. 1. O
objeto do recurso especial é o cabimento da ação rescisória para discutir verba honorária excessiva
(discussão sobre a possibilidade jurídica do pedido da ação rescisória). Não está prequestionada a
tese de violação ao art. 20, §4º, do CPC, sob a ótica de que o quantum fixado a título de honorários
efetivamente extrapola o critério de equidade (o que se confunde com o mérito da rescisória). Nesse
ponto incide a Súmula n. 282/STF. 2. Quanto à alegação de ilegitimidade passiva. Se a coisa
julgada no processo a ser rescindido foi capaz de produzir efeitos na esfera patrimonial dos
advogados a título de fixação de honorários advocatícios, certamente a ação rescisória onde figurem
as mesmas partes também o será. 3. Há interesse de agir da Fazenda Nacional na rescisória, já que
a concordância na expedição de precatório no curso da execução pelo art. 730, do CPC, movida
contra si não implica em renúncia ou guarda qualquer relação com a rescisória que ajuizou
justamente para impedir o prosseguimento do feito executivo. 4. A redação do art. 485, caput, do
CPC, ao mencionar "sentença de mérito" o fez com impropriedade técnica, referindo-se, na
verdade, a "sentença definitiva", não excluindo os casos onde se extingue o processo sem
resolução de mérito. Conforme lição de Pontes de Miranda: "A despeito de no art. 485, do Código
de Processo Civil se falar de 'sentença de mérito', qualquer sentença que extinga o processo
sem julgamento do mérito (art. 267) e dê ensejo a algum dos pressupostos do art. 485, I-IX,
pode ser rescindida" ("Tratado da ação rescisória". Campinas: Bookseller, 1998, p. 171). 5. É
cabível ação rescisória exclusivamente para discutir verba honorária, pois: "A sentença pode
ser rescindida, ou dela só se pedir a rescisão, em determinado ponto ou em determinados
pontos. Por exemplo: somente no tocante à condenação às despesas" (cf. Giuseppe Chiovenda, La
Condanna nelle spese giudiziali, nº 400 e 404), (Pontes de Miranda, op. cit., p. 174). Precedentes
nesse sentido: REsp. n. 886.178/RS, Corte Especial AR. 977/RS, REsp. n. 894.750/PR.
Precedentes em sentido contrário: AR n. 3.542/MG, REsp. n. 489.073/SC. 6. A ação rescisória
fulcrada no art. 485, V, do CPC, é cabível somente para discutir violação a direito objetivo. Em
matéria de honorários, é possível somente discutir a violação ao art. 20 e §§3º e 4º, do CPC, como
regras que dizem respeito à disciplina geral dos honorários, v.g.: a inexistência de avaliação
segundo os critérios previstos nas alíneas "a", "b" e "c", do §3º, do art. 20, do CPC. Por outro lado,
se houve a avaliação segundo os critérios estabelecidos e a parte simplesmente discorda do
resultado dessa avaliação, incabível é a ação rescisória, pois implicaria em discussão de direito
subjetivo decorrente da má apreciação dos fatos ocorridos no processo pelo juiz e do juízo de
equidade daí originado. Nestes casos, o autor é carecedor da ação por impossibilidade jurídica do
pedido. 7. Não cabe ação rescisória para discutir a irrisoriedade ou a exorbitância de verba
honorária. Apesar de ser permitido o conhecimento de recurso especial para discutir o quantum
fixado a título de verba honorária quando exorbitante ou irrisório, na ação rescisória essa
excepcionalidade não é possível já que nem mesmo a injustiça manifesta pode ensejá-la se não
houver violação ao direito objetivo. Interpretação que prestigia o caráter excepcionalíssimo da ação
rescisória e os valores constitucionais a que visa proteger (efetividade da prestação jurisdicional,
segurança jurídica e estabilidade da coisa julgada - art. 5º, XXXVI, da CF/88). Precedentes nesse
sentido: AR n. 3.754-RS, REsp. n. 937.488/RS, REsp. n. 827.288-RO, Precedentes em sentido
contrário: REsp. n.º 802.548/CE, REsp. n. 845.910/RS, 8. No caso concreto a Fazenda Nacional
ajuizou ação rescisória para discutir a exorbitância de verba honorária, o que considero incabível
(pedido juridicamente impossível). Sendo assim, DIVIRJO DO RELATOR para CONHECER
PARCIALMENTE e, nessa parte, NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial.

OBS 08: Há precedentes admitindo ação rescisória de decisão que não conhece um
recurso. E a decisão que não conhece recurso não é decisão de mérito. Isto reforça a ideia da
desnecessidade da decisão mérito.
OBS 09: O TST, na OJ 41 da SBDI II, entende que a decisão citra petita é rescindível. A
decisão é citra petita quando não examina um fundamento ou um pedido. Só cabe rescisão da
decisão citra petita que não examina um fundamento. Se a decisão não examinou o pedido
não cabe rescisória, pois não havendo decisão não se pode falar em rescisória. Se o juiz não
examinou o pedido, a parte deve pedir novamente.
3.2. Legitimidade da rescisória
O art. 487 do CPC regula a legitimidade para a propositura da ação rescisória.
Art. 487. Tem legitimidade para propor a ação:
I - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou singular;
A parte do processo não é só a parte principal. Também foram partes no processo os
terceiros (assistente, denunciado a lide).
II - o terceiro juridicamente interessado;
Terceiro juridicamente interessado é quem não foi parte no processo originário, mas
sofreu impacto da decisão.
III - o Ministério Público:
a) se não foi ouvido no processo, em que Ihe era obrigatória a intervenção;
b) quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de fraudar a lei.
Se o MP não propuser a ação rescisória, ele intervirá obrigatoriamente. O MP deve
obrigatoriamente intervir na ação rescisória.
As duas hipóteses de cabimento da rescisória são exemplificativas. O MP pode propor
ação rescisória em outras situações além destas (Súmula 407 do TST: A legitimidade "ad
causam" do Ministério Público para propor ação rescisória, ainda que não tenha sido parte no
processo que deu origem à decisão rescindenda, não está limitada às alíneas "a" e "b" do
inciso III do art. 487 do CPC, uma vez que traduzem hipóteses meramente exemplificativas.)
A legitimidade do MP é como fiscal da lei, porque se o MP foi parte, ele teria
legitimidade de parte, pelo inciso I do art. 487.
Súmula 100, inciso VI do TST: Na hipótese de colusão das partes, o prazo decadencial
da ação rescisória somente começa a fluir para o Ministério Público, que não interveio no
processo principal, a partir do momento em que tem ciência da fraude.
No caso de colusão, o prazo para o MP ajuizar a rescisória conta-se de maneira
diferenciada.
O TST é o Tribunal que tem maior quantidade de decisões em rescisória, em razão das
peculiaridades do Direito do Trabalho. As Súmulas do TST são organizadas em incisos.
A súmula 406 do TST trata da legitimidade passiva para a rescisória: todos que podem
se prejudicar com a rescisão da sentença têm que ser réu da rescisória, que comporão um
litisconsórcio necessário.
Súmula 406 do TST:
Ação Rescisória - Litisconsórcio Necessário Passivo e Facultativo Ativo - Substituição pelo
Sindicato
I - O litisconsórcio, na ação rescisória, é necessário em relação ao pólo passivo da demanda,
porque supõe uma comunidade de direitos ou de obrigações que não admite solução díspar para
os litisconsortes, em face da indivisibilidade do objeto. Já em relação ao pólo ativo, o
litisconsórcio é facultativo, uma vez que a aglutinação de autores se faz por conveniência, e não
pela necessidade decorrente da natureza do litígio, pois não se pode condicionar o exercício do
direito individual de um dos litigantes no processo originário à anuência dos demais para
retomar a lide. (ex-OJ nº 82 - inserida em 13.03.02)
II - O Sindicato, substituto processual e autor da reclamação trabalhista, em cujos autos fora
proferida a decisão rescindenda, possui legitimidade para figurar como réu na ação rescisória,
sendo descabida a exigência de citação de todos os empregados substituídos, porquanto
inexistente litisconsórcio passivo necessário. (ex-OJ nº 110 - DJ 29.04.03)
A súmula consagra a possibilidade de o sindicato ser réu de ação rescisória quando a
sentença que se buscar rescindir foi proferida em ação ajuizada pelo sindicato. O substituto
processual será réu da ação rescisória. Isto é exemplo de ação coletiva passiva.

3.3. Prazo
A ação rescisória pode ser proposta no prazo decadencial de 02 anos contados do
trânsito em julgado da decisão.
Existe uma situação especial prevista no art. 8º, c, Lei 6739/79: prazo de 08 anos para
propositura de rescisória no caso de sentença que diga respeito à transferência de terra
pública rural.
Há discussão na contagem dos prazos quando há mais de uma coisa julgada formada
em um mesmo processo.
É possível recurso parcial, que se dirige contra apenas um capítulo da decisão.
Também é possível decisão parcial. Se é possível decisão e recurso parciais, pode acontecer de
mais de uma coisa julgada surgir em momentos diferentes em um só processo.
Ex: sentença proferida em 2004 continha capítulos A e B. A parte apela só do capitulo
A, ocorrendo o trânsito em julgado do capítulo B em 2004. Em 2008, o Tribunal julgou o
capítulo A, que transitou em julgado. São coisas julgadas distintas produzidas em momentos
diversos e em instâncias diversas no mesmo processo.
Para cada coisa julgada corre um prazo de rescisória? Já em 2004 começaria a correr o
prazo da rescisória para o capítulo B e em 2008 correria o prazo do capitulo A? Haverá tantas
rescisórias quantas coisas julgadas existirem?
Ou o prazo da rescisória é único e deve-se contar da última decisão? Em 2008,
começaria o prazo da rescisória para os capítulos A e B?
Esta é uma discussão muito antiga. Na doutrina, prevalece o entendimento de que
para cada coisa julgada, há um prazo de rescisória. Se já tem coisa julgada, já cabe execução
definitiva e já cabe ação rescisória.
Este posicionamento foi encampado na Súmula 100 do TST.
Súmula 100, inciso II do TST:
Prazo de Decadência - Ação Rescisória Trabalhista
II - Havendo recurso parcial no processo principal, o trânsito em julgado dá-se em
momentos e em tribunais diferentes, contando-se o prazo decadencial para a ação rescisória
do trânsito em julgado de cada decisão, salvo se o recurso tratar de preliminar ou
prejudicial que possa tornar insubsistente a decisão recorrida, hipótese em que flui a
decadência a partir do trânsito em julgado da decisão que julgar o recurso parcial. (ex-
Súmula nº 100 - alterada pela Res. 109/2001, DJ 20.04.01)
Se o recurso tratar de preliminar que pode tornar insubsistente toda a decisão, o
recurso é total e não parcial.
No julgamento do Mensalão, o STF entendeu que era possível o fracionamento da
coisa julgada. Quando o recurso só impugnava uma parte da decisão, a outra já podia ser
executada imediatamente.
Em 2014, o STF, julgando o RE 666.589, disse expressamente que para cada coisa
julgada, há um prazo de rescisória.
Segundo a 1ª Turma do STF, o prazo decadencial da ação rescisória, nos casos
de existência de capítulos autônomos, deve ser contado do trânsito em julgado
de cada decisão (cada capítulo).
Os capítulos não impugnados transitam em julgado desde logo.
O prazo decadencial da ação rescisória, nos casos de existência de
capítulos autônomos, deve ser contado do trânsito em julgado de cada
decisão (cada capítulo).
Assim, o STF admite a coisa julgada progressiva, ou seja, aquela que vai
ocorrendo em momentos distintos porque a sentença foi fragmentada em
partes (capítulos) autônomas.
A coisa julgada progressiva é aquela que vai se formando ao longo do processo,
em razão de interposição de recursos parciais.
É como se a coisa julgada fosse sendo paulatinamente formada a medida que
os capítulos da sentença não são impugnados.
O STJ, contudo, entende que o prazo da ação rescisória tem que ser único, mesmo
que haja várias coisas julgadas.
Súmula 401 do STJ: O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for
cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial.
O entendimento da súmula é que somente quando o último pronunciamento judicial
transitar em julgado começa a contar o prazo para ação rescisória contra todas as coisas
julgadas.

3.4. Existência de uma hipótese de rescindibilidade


A ação rescisória não é cabível sempre. A ação rescisória só cabe nas hipóteses típicas
previstas em lei. O autor da rescisória tem que encaixar a sua rescisória em uma das situações
típicas previstas em lei.
OBS 01: As hipóteses são taxativas.
OBS 02: Qualquer uma destas hipóteses é bastante para rescindir a decisão.
OBS 03: As hipóteses são causa de pedir remota (fato jurídico) da ação rescisória.
Como fato jurídico que é, tem que ser provado. O autor tem que dizer qual é a hipótese de
rescindibilidade que ele está alegando, sob pena de inépcia em razão de ausência da causa de
pedir. A causa de pedir próxima da ação rescisória é o direito de rescindir, é o direito
potestativo de rescindir a decisão.
As hipóteses de rescindibilidade estão previstas no art. 485 e 1030 do CPC, sendo que
o art. 1030 só cuida de rescisória de partilha.
A ação rescisória é uma ação típica: ação de fundamentação vinculada, que não cabe
para qualquer hipótese.
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
A sentença foi produto de uma atividade criminosa do juiz.
A ação rescisória pode ser proposta mesmo que não tenha havido sentença penal
condenatória do juiz, inclusive é possível apurar os ilícitos penais praticados pelo juiz no bojo
da ação rescisória. O Tribunal delega aos juízos de 1º grau a produção de prova.
Se já houver sentença penal absolutória por ausência de materialidade ou negativa de
autoria, não é possível ação rescisória.
II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
Incompetência absoluta ou impedimento autorizam o ajuizamento da rescisória.
Observe que suspeição e incompetência relativa não autorizam rescisória.
A rescisória sempre será proposta perante um Tribunal. E este será o Tribunal que
proferiu a decisão rescindenda. Ex: se a parte quer rescindir um acórdão do TJBA, a
competência da rescisória será o TJBA.
Se o autor interpuser rescisória contra acórdão de Tribunal ao fundamento de que este
Tribunal era absolutamente incompetente, a rescisória será julgada por este mesmo Tribunal.
Entretanto, neste caso, o autor só poderá fazer pedido rescindendo e não será possível o
pedido de rejulgamento.
Rescisória por incompetência absoluta não permite pedido de rejulgamento, quando o
autor fundamenta a pedido na incompetência absoluta do Tribunal.
O Tribunal irá rescindir a decisão e remeter os autos ao juízo competente.
III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre
as partes, a fim de fraudar a lei;
Sentença resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da vencida: sentença foi
produto de atividade dolosa de uma parte sobre a outra. Ex: uma parte induz a outra à revelia.
A rescisória, nesta hipótese, tem conteúdo ético.
O STJ entende que dolo é qualquer conduta contraria à boa-fé, ou seja, dá conteúdo
amplo ao dolo. A boa-fé objetiva impede comportamentos antiéticos. O abuso de direito não é
necessariamente doloso, mas também se encaixa no conceito de dolo (Editorial 103 no site do
Fredie).
Colusão: a sentença é resultado de um conluio de ambas as partes para fraudar a lei.
No caso de colusão, o MP pode propor a ação rescisória.
Súmula 403 do TST:
Ação Rescisória - Dolo da Parte
I - Não caracteriza dolo processual, previsto no art. 485, III, do CPC, o simples
fato de a parte vencedora haver silenciado a respeito de fatos contrários a ela,
porque o procedimento, por si só, não constitui ardil do qual resulte cerceamento de
defesa e, em consequência, desvie o juiz de uma sentença não condizente com a
verdade. (ex-OJ nº 125 - DJ 09.12.03)
O silêncio de uma das partes não pode ser considerado comportamento doloso que
justifique a rescisória.
II - Se a decisão rescindenda é homologatória de acordo, não há parte vencedora ou
vencida, razão pela qual não é possível a sua desconstituição calcada no inciso III do
art. 485 do CPC (dolo da parte vencedora em detrimento da vencida), pois constitui
fundamento de rescindibilidade que supõe solução jurisdicional para a lide. (ex-OJ nº
111 - DJ 29.04.03)
Se houve acordo, não se pode dizer que uma parte venceu a outra. E, portanto, não se
configura hipótese de rescisória.
PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC. INEXISTÊNCIA. AÇÃO POPULAR
ANULATÓRIA DE ACORDO HOMOLOGADO JUDICIALMENTE EM SEDE DE AÇÃO CIVIL
PÚBLICA COM A ANUÊNCIA DO PARQUET. COISA JULGADA MATERIAL. INOCORRÊNCIA.
CRIVO JURISDICIONAL ADSTRITO ÀS FORMALIDADES DA TRANSAÇÃO. CABIMENTO DA
AÇÃO ANULATÓRIA DO ART. 486, DO CPC. INOCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES TAXATIVAS DO
ART. 485, DO CPC. 2. A ação anulatória, prevista no art. 486, do CPC, tem por finalidade
desconstituir o ato processual, homologado judicialmente, enquanto que o alvo da ação
rescisória, do art. 485, do CPC, é a sentença transitada em julgado, que faz coisa julgada
material. O efeito pretendido pela primeira é a anulação do ato enquanto que na rescisória é a
prolação de nova sentença no judicium rescisorium. 3. A ação rescisória somente é cabível
quando houver sentença de mérito propriamente dita, que é aquela em que o magistrado põe fim ao
processo analisando os argumentos suscitados pelas partes litigantes e concluindo-a com um ato
de inteligência e soberania. 4. A sentença que homologa a transação fundamentando-se no
conteúdo da avença, é desconstituível por meio de ação rescisória fulcrada no art. 485, VIII,
do CPC. 5. Não obstante, em sendo a sentença meramente homologatória do acordo, adstrita
aos aspectos formais da transação, incabível a ação rescisória do art. 485, VIII, do CPC, posto
ausente requisito primordial da rescindibilidade do julgado. Nestes casos, a desconstituição da
transação, pelos defeitos dos atos jurídicos em geral, se faz por meio de ação anulatória,
fulcrada no art. 486, do CPC. 6. Acordo extrajudicial homologado por sentença, em sede de ação
civil pública, com a concordância expressa do órgão ministerial, e lesivo aos interesses da
administração pública, é passível de anulação, in abstracto, na forma do art. 486, do CPC, sob os
fundamentos que autorizam a ação popular. 7. In casu, a ação popular assume cunho declaratório
porquanto o ato lesivo o foi subjetivamente complexo, passando pelo crivo do Parquet e do juízo.
Propriedade da ação, in genere, porquanto a possibilidade jurídica do pedido não implica em
acolhimento do pleito meritório. 8. Recurso especial provido. (REsp 450431 / PR, Primeira Turma,
18/09/2003)
IV - ofender a coisa julgada;
Ex: coisa julgada 01 e coisa julgada 02. A coisa julgada 02 violou a coisa julgada 01. Ao
violar a coisa julgada 01, a coisa 02 pode ser objeto de rescisória.
Se houver conflito entre coisas julgadas, é possível rescindir a 2ª coisa julgada. Mas se
a parte não ajuíza a rescisória no prazo de dois anos, prevalecerá a 2ª coisa julgada.
Como uma decisão pode violar a coisa julgada?
A coisa julgada produz dois efeitos: efeito negativo e efeito positivo. A violação de
qualquer destes efeitos, é uma violação da coisa julgada. Ofensa à coisa julgada é ofensa a
qualquer dos efeitos da coisa julgada.
A. Efeito negativo – proíbe nova decisão sobre a questão. Ex: se existe decisão dizendo
que o réu é pai, não é possível nova decisão para decidir que o réu não é pai.
Se a rescisória for em razão de ofensa ao efeito negativa da sentença (sentença que
decidiu novamente o que não poderia ser decidido), esta rescisória não permite pedido de
rejulgamento. Se o autor pedisse para rejulgar, haveria nova ofensa à coisa julgada. Não cabe
pedido de rejulgamento por ofensa ao efeito negativo da coisa julgada.
B. Efeito positivo – impõe que se leve em consideração a coisa julgada como fundamento
de uma demanda. Ex: coisa julgada de que o réu é pai. Depois, o filho pede alimentos
com fundamento na coisa julgada da paternidade. Nesta ação de alimentos, o juiz tem
que levar a coisa julgada em consideração. Se o juiz na ação de alimentos negar os
alimentos ao argumento de que o autor não é filho do réu, haveria ofensa à coisa
julgada.
No caso de ofensa ao efeito positivo da coisa julgada, cabe pedido de rejulgamento. O
autor pedirá a rescisão para observar a coisa julgada anterior e conceder-lhe a alimentos.
V - violar literal disposição de lei;
Esta é a principal hipótese de ação rescisória.
Lei significa DIREITO. Não é lei em sentido estrito. Pode haver violação à CF/88, à
Súmula vinculante, ao RI, à Resolução do Banco Central.
Admite-se rescisória por violação à princípio, segundo a doutrina, apesar de princípio
ser uma norma aberta. Isto porque lei é usada no sentido de norma jurídica.
Uma decisão manifestadamente em desconformidade com o direito permite
rescisória.
No novo CPC, no lugar de “lei”, está a expressão “norma jurídica”.
Súmula 343 do STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação
controvertida nos tribunais.
Se ao tempo da decisão que se busca rescindir havia divergência sobre o assunto nos
Tribunais, não se pode dizer que a ofensa foi literal. A ofensa não pode ser considerada literal
se ao tempo da decisão havia divergência quanto à interpretação da lei.
O problema é que está súmula 343 tem sido relativizada. O próprio STF entendeu que
se a questão é de violação à CF e já há entendimento do STF a respeito, cabe rescisória para
fazer prevalecer o entendimento do STF, mesmo que há época da decisão houvesse
controvérsia. A existência de controvérsia à época sobre a interpretação da CF não impede a
rescisória se já houver entendimento do STF, porque se já houver posicionamento do STF, cabe
rescisória para fazer valer o pensamento do STF. A rescisória é um instrumento para fazer valer
o entendimento do STF.
O STJ adota o mesmo raciocínio: se já há interpretação da lei consolidada pelo STJ,
cabe rescisória para fazer valer o posicionamento do STJ, mesmo que à época havia
divergência. Ex: na época da decisão havia controvérsia nos Tribunais sobre a interpretação da
lei. Passado um ano, a posição do STJ se firma num determinado sentido. Caberá ação
rescisória.
Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à
época e, posteriormente, esse entendimento foi alterado, não se pode dizer
que essa decisão impugnada tenha violado literal disposição de lei.
Desse modo, não cabe ação rescisória em face de acórdão que, à época de
sua prolação, estava em conformidade com a jurisprudência predominante
do STF.
STF. Plenário. RE 590809/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2014 (Info
764).
O caso concreto foi o seguinte (com adaptações):
Em 2007, o TRF4, interpretando determinado o artigo da CF/88, decidiu que o
contribuinte tinha direito de se creditar de IPI. Na época, esse tema era
controvertido, mas o entendimento do STF era de que existia direito ao
creditamento. Assim, o TRF4 adotou a posição do STF. Em 2009, o STF mudou seu
próprio entendimento e passou a proibir o creditamento de IPI. Logo, significa que
o Supremo disse que esse artigo da CF/88 não dá direito ao creditamento.
Desse modo, o acórdão proferido em 2007 pelo TRF4 está em confronto com a
interpretação dada atualmente pelo STF ao artigo da CF/88 que fala sobre o
creditamento.
Cabe ação rescisória nesse caso? Podemos dizer que o acórdão do TRF4
violou literal disposição de lei?
NÃO. Mesmo que a sentença transitada em julgado esteja em confronto
com o atual entendimento do STF, não caberá ação rescisória se, na época
em que foi prolatada, ela estava em conformidade com a jurisprudência
predominante do próprio STF.
Aplicou-se, no caso, a Súmula 343 do STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a
literal dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto
legal de interpretação controvertida nos tribunais.”
Aplica-se súmula 343 do STF quando a sentença transitada em julgado e que
está sendo atacada foi proferida na época com base no entendimento do
próprio STF. Nesse caso, não se deve relativizar o alcance do enunciado.
O Min. Marco Aurélio afirmou que, em regra, aplica-se a súmula 343-STF mesmo
em caso de violação à norma constitucional. No entanto, ele mencionou uma
exceção: se a sentença transitada em julgado baseou-se em uma lei e esta
foi, posteriormente, declarada inconstitucional pelo STF com eficácia erga
omnes e sem modulação de efeitos, nesse caso caberia ação rescisória,
afastando-se a súmula 343-STF. OBS: Existem julgados do STJ que admitem a
rescisória mesmo que a declaração de inconstitucionalidade tenha ocorrido por
meio do controle difuso, independentemente de Resolução do SF.
Rescisória por violação à lei pressupõe que a lei violada tenha sido enfrentada pela
decisão rescindenda? A rescisória exige prequestionamento?
Para o TST é necessário prequestionamento (Súmula 298 do TST).
Para STJ e STF – NÃO há necessidade de prequestionamento para a propositura de
rescisória baseada no inciso V do art. 485.
Súmula 410 do TST: A ação rescisória calcada em violação de lei não admite reexame
de fatos e provas do processo que originou a decisão rescindenda.
A rescisão com base no inciso V não admite reexame de fatos e provas. A análise é
puramente jurídica.
Com a súmula 410 (não reexame de provas e fatos) e Súmula 298 (que exige
prequestionamento), para o TST, a rescisória do inciso V ganha um tratamento semelhante aos
recursos extraordinários.
Súmula 408 do TST: Não padece de inépcia a petição inicial de ação rescisória apenas
porque omite a subsunção do fundamento de rescindibilidade no art. 485 do CPC ou o capitula
erroneamente em um de seus incisos. Contanto que não se afaste dos fatos e fundamentos
invocados como causa de pedir, ao Tribunal é lícito emprestar-lhes a adequada qualificação
jurídica ("iura novit curia"). No entanto, fundando-se a ação rescisória no art. 485, inc. V, do
CPC, é indispensável expressa indicação, na petição inicial da ação rescisória, do dispositivo
legal violado, por se tratar de causa de pedir da rescisória, não se aplicando, no caso, o
princípio "iura novit curia".
A rescisória por violação à lei exige o apontamento da lei violada, sob pena de ausência
de causa de pedir e inépcia da inicial. Não é possível rescisória ao fundamento de que o direito
brasileiro foi violado.
Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja
provada na própria ação rescisória;
É preciso que a prova falsa seja o fundamento da decisão. Porque, neste caso, uma vez
derrubada a prova, também cai a decisão.
Se houver outras provas que lastreiam a decisão, não caberá ação rescisória por prova
falsa.
Qualquer prova pode ser falsa, p ex, falsa perícia, falso testemunho, documento falso.
Pode ocorrer tanto falsidade material, quanto falsidade ideológica.
A falsidade pode ter sido apurada em processo criminal ou não. A falsidade pode ser
apurada no bojo da própria ação rescisória.
Esta é uma hipótese de rescisória para uma situação de injustiça. Busca-se reparar uma
situação de injustiça.
Vll - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que
não pôde fazer uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar pronunciamento favorável;
Ação rescisória por documento novo.
O documento novo já existia ao tempo da decisão que se busca rescindir e que só
apareceu após o trânsito em julgado.
3. O documento novo que enseja a propositura de ação rescisória, nos termos do art. 485, inc. IX,
do Código de Processo Civil, é aquele já existente à época do julgado rescindendo e ignorado
pela parte interessada ou de impossível obtenção quando da prolação da decisão
rescindenda. 4. A teor do que dispõe o enunciado sumular nº 83/STJ, não merece conhecimento o
recurso especial quando a orientação do Superior Tribunal de Justiça se firmou no mesmo sentido
da decisão impugnada. 5. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 377855 / CE, Terceira
Turma, 20/03/2014)
Não é qualquer documento. O documento deve ser capaz, por si só, de assegurar
pronunciamento favorável. O documento tem que ser prova bastante para só ele conseguir
reverter a decisão.
Existe uma tendência da jurisprudência de dar novo sentido ao termo “documento
novo”. Tem-se aceito como documento novo um documento formado/surgido após a coisa
julgada, que consiga por si só reverter a coisa julgada. Ex: exame de DNA.
O novo CPC não se refere a documento novo, mas à prova nova.
VER INFORMATIVO 522: Não é possível a rescisão de sentença com fundamento no
inciso VII do art. 485 do CPC na hipótese em que, além de não existir comprovação acerca dos
fatos que justifiquem a ausência de apresentação do documento em modo e tempo
oportunos, este se refira a fato que não tenha sido alegado pelas partes e analisado pelo juízo
no curso do processo em que se formara a coisa julgada.
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se
baseou a sentença;
A sentença tem que ter se baseado em confissão ou em desistência ou em transação
inválidos. A sentença se baseou num ato jurídico defeituoso. Não há problema na sentença,
mas sim no fato em que ela se baseou.
Onde se lê “desistência”, deve-se ler “renúncia”. Desistência é causa de extinção do
processo sem decisão de mérito.
É necessário ainda acrescentar um quarto ato que o CPC não fala, mas a doutrina
entende cabível: reconhecimento jurídico do pedido. A doutrina entende que cabe rescisória
em razão de confissão, renúncia (art. 269, V), transação (art. 269, VI) ou reconhecimento do
pedido (art. 269, II) inválidos.
Nos casos de renúncia, transação e reconhecimento do pedido, a sentença é
homologatória. O juiz homologa a transação, a renúncia e o reconhecimento.
Como compatibilizar este inciso VIII com o art. 486?
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente
homologatória, podem ser rescindidos (anulados – ação anulatória), como os atos jurídicos
em geral, nos termos da lei civil.
O que são atos judiciais do art. 486?
Os atos judiciais não são atos do juiz, mas sim atos das partes praticados no processo,
ou seja, atos processuais da parte que não depende de sentença (ex: confissão) ou em que a
sentença é meramente homologatória (ex: transação, renúncia, reconhecimento do pedido).
Onde o CPC diz “rescindidos”, deve-se ler “invalidados”. Os atos das partes são atos
jurídicos e, como tais, podem ser anulados. O art. 486 cuida da ação que tem por objeto
invalidar atos das partes. Para invalidar a confissão, ajuíza a ação anulatória do art. 486. Para
rescindir a sentença que se baseia em confissão invalida, ajuíza rescisória.
Como conciliar os artigos?
Se houver coisa julgada, é caso de ação rescisória. Não cabe anulatória se houver
coisa julgada. Se não houver coisa julgada ainda, cabe ação anulatória.
Art. 352. A confissão, quando emanar de erro, dolo ou coação, pode ser revogada (na verdade,
invalidada):
I - por ação anulatória, se pendente o processo em que foi feita ; - porque não há coisa julgada.
Não havendo coisa julgada, cabe ação anulatória para invalidar a confissão.
II - por ação rescisória, depois de transitada em julgado a sentença, da qual constituir o único
fundamento.
Parágrafo único. Cabe ao confitente o direito de propor a ação, nos casos de que trata este
artigo; mas, uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros.
O art. 352, embora se refira apenas à confissão, serve de base para compreendermos a
relação entre o art. 485 e 486.
IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;
§ 1o Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente
um fato efetivamente ocorrido.
É fundamental que não tenha havido controvérsia sobre o fato. Como ninguém
debateu o assunto, o juiz foi levado a erro. Se houve debate e o juiz resolveu o assunto, não
cabe rescisória.
No caso de revelia pode haver rescisória em razão de erro de fato, porque, tendo em
vista a revelia, não houve debate do fato, levando o juiz a erro.
Aqui, permite-se a correção de uma sentença injusta porque em desconformidade com
a verdade.

Características do processo da ação rescisória


Necessidade de o autor fazer um depósito de 5% do valor da causa para propor a
rescisória, além do valor das custas. O depósito serve para, se o autor vier a perder a
rescisória, por unanimidade, o valor depositado reverter ao réu. Caso contrário, ao autor
voltará o valor.
NÃO precisam fazer o depósito: entes públicos, MP, beneficiário da justiça gratuita,
CEF (nas rescisórias envolvendo FGTS).
O ajuizamento da rescisória não impede a execução da decisão rescindenda.
Exatamente por isto, admite-se pedido de suspensão da execução da decisão rescindenda,
em tutela antecipada (art. 489 do CPC).
Art. 489. O ajuizamento da ação rescisória não impede o cumprimento da sentença ou acórdão
rescindendo, ressalvada a concessão, caso imprescindíveis e sob os pressupostos previstos
em lei, de medidas de natureza cautelar ou antecipatória de tutela.(Redação dada pela Lei nº
11.280, de 2006)
O prazo de defesa na ação rescisória será definido pelo relator, conforme as
peculiaridades do caso, que pode ser entre 15 e 30 dias. Se o Poder Público for réu, o prazo
será quadruplicado, ou seja, entre 60 e 120 dias.
A revelia na ação rescisória não gera presunção de veracidade dos fatos afirmados,
porque seria uma presunção contra a coisa julgada.
Admite-se reconvenção em ação rescisória. A reconvenção tem que ser também uma
ação rescisória da mesma sentença, p ex, rescisória de outro capítulo da sentença.
Se o Tribunal julgar procedente a ação rescisória, por maioria, caberão embargos
infringentes.
Cabe ação rescisória de rescisória. Se o julgamento da ação rescisória se enquadrar em
uma das hipóteses do art. 485, caberá rescisória.
Se o Tribunal rescinde a coisa julgada, ele quebra uma situação de estabilidade que
havia sido firmada pela coisa julgada. Isto fez com que a doutrina começasse a defender a
possibilidade de o Tribunal modular os efeitos da decisão na rescisória, como forma de
proteger a confiança legítima e a segurança jurídica. Ex: rescindir sem eficácia retroativa. Ex:
rescisória de decisão que fixou verba alimentar.

RECLAMAÇÃO
1. Conceito
A reclamação é uma ação autônoma de impugnação. Pela reclamação se instaura um
processo para impugnar uma decisão. A reclamação serve para impugnar uma decisão.
A reclamação é uma ação de competência originaria dos Tribunais. Na CF, há previsão
expressa da reclamação para o STF e o STJ. A constituição dos estados pode prever reclamação
para o TJ.
O TSE e o TST preveem a reclamação para eles em seu RI. A previsão de reclamação
para o TSE e para o TST está prevista em seus RI. O STF, já reconheceu que a previsão de
reclamação no RI do TST é inconstitucional, porque é necessário lei.
No novo CPC, há previsão de que cabe reclamação perante qualquer Tribunal,
acabando com esta discussão.

2. Procedimento
O procedimento da reclamação está regulado na Lei 8038/90. O procedimento da
reclamação é semelhante ao do MS: é necessário prova pré-constituída para a propositura, é
possível liminar, há intervenção obrigatória do MP, a autoridade que praticou o ato reclamado
terá que prestar informações.
A Lei 8038 não dispõe da necessidade de contraditório para aquele que se beneficia do
ato reclamado. Quando se impugna uma decisão, é claro que alguém se beneficiou com esta
decisão. Ora, em razão do contraditório, o beneficiário da decisão tem que ser ouvido, tem
que ser réu da reclamação. Isto porque a reclamação visa a desconstituir a decisão.
O RI do STF prevê a possibilidade de julgamento da reclamação pelo relator de forma
monocrática, quando a reclamação estiver em conformidade com a jurisprudência do STF.
NÃO cabem embargos infringentes no âmbito da reclamação (Súmula 369 do STF: Não
há embargos infringentes no processo de reclamação).
NÃO cabe reclamação se a decisão já tiver transitado em julgado. Vale dizer, a
reclamação não pode servir como rescisória, já que não há prazo para ajuizar a reclamação. A
reclamação não tem prazo, mas não pode ser ajuizada contra decisão transitada em julgado.
(Súmula 734 do STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato
judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal).
O STF decidiu que o MP estadual pode propor reclamação perante o STF. Havia um
entendimento consolidada de que só o PGR poderia funcionar perante o STF, então só o PGR
poderia propor reclamação perante o STF. O STF entendeu que o MP estadual pode propor
reclamação perante o STF, caso em que o PGR funciona como custos legis (Reclamação 7358 –
Editorial 119 do site do Didier).

3. Hipóteses de cabimento da reclamação


A reclamação é uma ação típica: a reclamação só cabe nas hipóteses previamente
previstas em lei, ou seja, ação de fundamentação típica ou vinculada (neste sentido, parece
com a rescisória).
São apenas duas hipóteses de cabimento:
A. Reclamação por usurpação de competência
Um órgão julgador usurpou a competência de um Tribunal. Ao haver a usurpação da
competência do Tribunal, caberá a reclamação para o Tribunal.
Ex: Autor interpõe um Recurso Especial junto ao TJBA, que não remete o recurso para
o STJ. A não remessa dos autos ao STJ é uma usurpação de competência.
Ex: É possível que na rescisória se peça ao Tribunal a suspensão da execução da
decisão rescindenda. Se o juiz suspender a execução da decisão, o juiz está usurpando a
competência do Tribunal.
Ex: Compete ao STF julgar uma causa quando o Tribunal for impedido ou suspeito. Se o
Tribunal impedido não remeter a causa ao STF, estará usurpando a competência do STF.
A reclamação por usurpação de competência é difícil de ocorrer.
B. Reclamação por desrespeito à autoridade da decisão do Tribunal.
A parte irá reclamar perante o Tribunal porque algum órgão desrespeitou a decisão do
Tribunal, pedindo que o Tribunal a reveja.
Ex: STF reconhece que uma lei é inconstitucional em ADI. Se um juiz aplicar esta lei
declarada inconstitucional, caberá reclamação ao STF para fazer valer sua decisão em ADI.
Ex: Reclamação contra ato que desrespeita Súmula vinculante. Este ato que
desrespeita súmula vinculante pode ser um ato administrativo. E, sendo ato administrativo, a
reclamação contra ele tem uma peculiaridade. A reclamação contra ato administrativo que
desrespeitou súmula vinculante só pode ser ajuizada se houver esgotamento da instancia
administrativa. É preciso recurso na via administrativa antes do ajuizamento da reclamação.
O STJ passou a admitir reclamação contra decisão de Turma Recursal dos Juizados
Especiais Estaduais que contraria entendimento sumulado ou firmado em recursos repetitivos
do STJ, tendo por objeto apenas questão de direito material, conforme previsão do RI.
Entretanto, na prática, o STJ admite reclamação mesmo que não se trate apenas de questão
de direito material. Não cabe reclamação contra acórdão de Turma do Juizado Especial
Federal, porque a Lei 10259 prevê o incidente de uniformização de jurisprudência.
Cabe reclamação para fazer prevalecer precedente do STF firmado em controle difuso?
Contra a decisão que desrespeita a um precedente firmado em RE pode ser objeto de
reclamação?
Ex: no julgamento de RE o STF entendeu que RI não pode prever reclamação,
declarando a inconstitucionalidade da reclamação prevista no TST.
O STF acabou não enfrentando este tema, em razão de perda superveniente do objeto.
Na opinião de Didier cabe reclamação.
O STF entende que a decisão proferida em RE com repercussão geral vincula os órgãos
do Poder Judiciário. Entretanto, se houver descumprimento da decisão por um juiz de 1º grau,
o TJ/TRF local deve proceder à adequação, não cabendo reclamação ao STF. O STF entende
que não cabe reclamação per saltum.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL. ART.


105, I, F, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DECISÃO RECLAMADA ORIUNDA DA TURMA
RECURSAL FEDERAL. ILEGITIMIDADE ATIVA. RECLAMANTE QUE NÃO FIGUROU NA
RELAÇÃO PROCESSUAL EM QUE FOI PROFERIDA A DECISÃO TIDA POR
DESCUMPRIDA. AFRONTA À AUTORIDADE DE DECISÃO PROFERIDA EM OUTRO
PROCESSO. AUSÊNCIA DE EFEITO VINCULANTE. ALEGADA OFENSA À
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. NÃO CABIMENTO. PRECEDENTES. SUCEDÂNEO
RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. É firme o
entendimento jurisprudencial no âmbito do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que é
inadmissível o uso da reclamação prevista no art. 105, I, "f", da Constituição Federal, quando
o reclamante não figurou na relação processual em que foi proferida a decisão judicial
oriunda desta Corte e tida como descumprida, na medida que sua vinculação é adstrita
às partes que dele efetivamente participaram. Precedentes. 2. "A reclamação para o
Superior Tribunal de Justiça é destinada à 'preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões' (CF, art. 105, I, f) e a dirimir divergência entre acórdão prolatado
por turma recursal estadual e a jurisprudência deste Tribunal consolidada em súmula ou
em julgamento de recurso repetitivo (Resolução nº 12, de 2009, art. 1º - STJ); não serve
para impugnar julgado de Turma Recursal Federal que alegadamente discrepe da
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, porquanto há meio próprio para esse efeito (art.
14 da Lei nº 10.259, de 2001). Agravo regimental desprovido" (AgRg na Rcl 14.100/RS, Rel.
Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/06/2014, DJe 17/06/2014). 3.
Agravo regimental não provido. (AgRg na Rcl 19600 / SC, 1ª Seção, 24/09/2014)

PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NA


RECLAMAÇÃO. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE. DECISÃO RECORRIDA PROFERIDA POR TURMA RECURSAL DO
JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. REGIME PRÓPRIO DE SOLUÇÃO DE
DIVERGÊNCIA (ARTS. 18 E 19 DA LEI 12.153/2009). DESCABIMENTO DA RECLAMAÇÃO
PREVISTA NA RESOLUÇÃO 12/2009 DO STJ. SUCEDÂNEO RECURSAL.
IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. 1. Tendo em vista
o escopo de reforma do julgado, aplica-se o princípio da fungibilidade recursal, para conhecer
da manifestação da parte como Agravo Regimental. 2. A Primeira Seção desta Corte firmou o
entendimento de que: i) a reclamação disciplinada pela Resolução 12/2009 não é cabível
contra decisões proferidas no âmbito do Juizado Estadual da Fazenda Pública, tendo em
vista que o art. 18 da Lei n. 12.153/2009 previu o cabimento de pedido de uniformização de
interpretação de lei em relação às questões de direito material; e ii) não há falar na
possibilidade de receber a insurgência reclamatória como sucedâneo recursal, tampouco como
Incidente de Uniformização de Interpretação de Lei, haja vista o rito específico desse último e o
fato de não haver dúvida objetiva sobre o instrumento de impugnação cabível na espécie,
configurando-se erro grosseiro o manejo da reclamatória. Precedentes: AgRg na Rcl
15.676/AP, Primeira Seção. 3. Agravo regimental não provido. (RCD no AgRg na Rcl 9614 /
SP, 1ª Seção, 27/08/2014)
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO
EMBARGADO. JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. APLICAÇÃO ÀS CONTROVÉRSIAS
SUBMETIDAS AOS JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS. RECLAMAÇÃO PARA O SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. CABIMENTO EXCEPCIONAL ENQUANTO NÃO CRIADO, POR LEI FEDERAL, O ÓRGÃO
UNIFORMIZADOR. 1. No julgamento do recurso extraordinário interposto pela embargante, o Plenário
desta Suprema Corte apreciou satisfatoriamente os pontos por ela questionados, tendo concluído: que
constitui questão infraconstitucional a discriminação dos pulsos telefônicos excedentes nas contas
telefônicas; que compete à Justiça Estadual a sua apreciação; e que é possível o julgamento da referida
matéria no âmbito dos juizados em virtude da ausência de complexidade probatória. Não há, assim,
qualquer omissão a ser sanada. 2. Quanto ao pedido de aplicação da jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, observe-se que aquela egrégia Corte foi incumbida pela Carta Magna da missão de uniformizar
a interpretação da legislação infraconstitucional, embora seja inadmissível a interposição de recurso
especial contra as decisões proferidas pelas turmas recursais dos juizados especiais. 3. No âmbito federal,
a Lei 10.259/2001 criou a Turma de Uniformização da Jurisprudência, que pode ser acionada quando a
decisão da turma recursal contrariar a jurisprudência do STJ. É possível, ainda, a provocação dessa Corte
Superior após o julgamento da matéria pela citada Turma de Uniformização. 4. Inexistência de órgão
uniformizador no âmbito dos juizados estaduais, circunstância que inviabiliza a aplicação da jurisprudência
do STJ. Risco de manutenção de decisões divergentes quanto à interpretação da legislação federal,
gerando insegurança jurídica e uma prestação jurisdicional incompleta, em decorrência da inexistência de
outro meio eficaz para resolvê-la. 5. Embargos declaratórios acolhidos apenas para declarar o cabimento,
em caráter excepcional, da reclamação prevista no art. 105, I, f, da Constituição Federal, para fazer
prevalecer, até a criação da turma de uniformização dos juizados especiais estaduais, a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça na interpretação da legislação infraconstitucional. (RE 571572 ED / BA –
BAHIA, Tribunal Pleno)

You might also like