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2. Conceito
Ação rescisória é a ação autônoma de impugnação pela qual se busca a rescisão de
decisão transitada em julgado e, se for o caso, um novo julgamento da causa.
A rescisória pode ter dois propósitos: rescisão (desfazimento da decisão judicial
transitada em julgado) e rejulgamento. O pedido de rescisão é sempre possível. O pedido de
rejulgamento nem sempre. Há casos de ação rescisória que não se pede o rejulgamento por
ser desnecessário.
O pedido de rescisão na rescisória dá ensejo ao chamado iudicium rescindens. O
pedido de rejulgamento dá origem ao iudicium rescissorium, que pode existir ou não na
rescisória.
OBS 08: Há precedentes admitindo ação rescisória de decisão que não conhece um
recurso. E a decisão que não conhece recurso não é decisão de mérito. Isto reforça a ideia da
desnecessidade da decisão mérito.
OBS 09: O TST, na OJ 41 da SBDI II, entende que a decisão citra petita é rescindível. A
decisão é citra petita quando não examina um fundamento ou um pedido. Só cabe rescisão da
decisão citra petita que não examina um fundamento. Se a decisão não examinou o pedido
não cabe rescisória, pois não havendo decisão não se pode falar em rescisória. Se o juiz não
examinou o pedido, a parte deve pedir novamente.
3.2. Legitimidade da rescisória
O art. 487 do CPC regula a legitimidade para a propositura da ação rescisória.
Art. 487. Tem legitimidade para propor a ação:
I - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou singular;
A parte do processo não é só a parte principal. Também foram partes no processo os
terceiros (assistente, denunciado a lide).
II - o terceiro juridicamente interessado;
Terceiro juridicamente interessado é quem não foi parte no processo originário, mas
sofreu impacto da decisão.
III - o Ministério Público:
a) se não foi ouvido no processo, em que Ihe era obrigatória a intervenção;
b) quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de fraudar a lei.
Se o MP não propuser a ação rescisória, ele intervirá obrigatoriamente. O MP deve
obrigatoriamente intervir na ação rescisória.
As duas hipóteses de cabimento da rescisória são exemplificativas. O MP pode propor
ação rescisória em outras situações além destas (Súmula 407 do TST: A legitimidade "ad
causam" do Ministério Público para propor ação rescisória, ainda que não tenha sido parte no
processo que deu origem à decisão rescindenda, não está limitada às alíneas "a" e "b" do
inciso III do art. 487 do CPC, uma vez que traduzem hipóteses meramente exemplificativas.)
A legitimidade do MP é como fiscal da lei, porque se o MP foi parte, ele teria
legitimidade de parte, pelo inciso I do art. 487.
Súmula 100, inciso VI do TST: Na hipótese de colusão das partes, o prazo decadencial
da ação rescisória somente começa a fluir para o Ministério Público, que não interveio no
processo principal, a partir do momento em que tem ciência da fraude.
No caso de colusão, o prazo para o MP ajuizar a rescisória conta-se de maneira
diferenciada.
O TST é o Tribunal que tem maior quantidade de decisões em rescisória, em razão das
peculiaridades do Direito do Trabalho. As Súmulas do TST são organizadas em incisos.
A súmula 406 do TST trata da legitimidade passiva para a rescisória: todos que podem
se prejudicar com a rescisão da sentença têm que ser réu da rescisória, que comporão um
litisconsórcio necessário.
Súmula 406 do TST:
Ação Rescisória - Litisconsórcio Necessário Passivo e Facultativo Ativo - Substituição pelo
Sindicato
I - O litisconsórcio, na ação rescisória, é necessário em relação ao pólo passivo da demanda,
porque supõe uma comunidade de direitos ou de obrigações que não admite solução díspar para
os litisconsortes, em face da indivisibilidade do objeto. Já em relação ao pólo ativo, o
litisconsórcio é facultativo, uma vez que a aglutinação de autores se faz por conveniência, e não
pela necessidade decorrente da natureza do litígio, pois não se pode condicionar o exercício do
direito individual de um dos litigantes no processo originário à anuência dos demais para
retomar a lide. (ex-OJ nº 82 - inserida em 13.03.02)
II - O Sindicato, substituto processual e autor da reclamação trabalhista, em cujos autos fora
proferida a decisão rescindenda, possui legitimidade para figurar como réu na ação rescisória,
sendo descabida a exigência de citação de todos os empregados substituídos, porquanto
inexistente litisconsórcio passivo necessário. (ex-OJ nº 110 - DJ 29.04.03)
A súmula consagra a possibilidade de o sindicato ser réu de ação rescisória quando a
sentença que se buscar rescindir foi proferida em ação ajuizada pelo sindicato. O substituto
processual será réu da ação rescisória. Isto é exemplo de ação coletiva passiva.
3.3. Prazo
A ação rescisória pode ser proposta no prazo decadencial de 02 anos contados do
trânsito em julgado da decisão.
Existe uma situação especial prevista no art. 8º, c, Lei 6739/79: prazo de 08 anos para
propositura de rescisória no caso de sentença que diga respeito à transferência de terra
pública rural.
Há discussão na contagem dos prazos quando há mais de uma coisa julgada formada
em um mesmo processo.
É possível recurso parcial, que se dirige contra apenas um capítulo da decisão.
Também é possível decisão parcial. Se é possível decisão e recurso parciais, pode acontecer de
mais de uma coisa julgada surgir em momentos diferentes em um só processo.
Ex: sentença proferida em 2004 continha capítulos A e B. A parte apela só do capitulo
A, ocorrendo o trânsito em julgado do capítulo B em 2004. Em 2008, o Tribunal julgou o
capítulo A, que transitou em julgado. São coisas julgadas distintas produzidas em momentos
diversos e em instâncias diversas no mesmo processo.
Para cada coisa julgada corre um prazo de rescisória? Já em 2004 começaria a correr o
prazo da rescisória para o capítulo B e em 2008 correria o prazo do capitulo A? Haverá tantas
rescisórias quantas coisas julgadas existirem?
Ou o prazo da rescisória é único e deve-se contar da última decisão? Em 2008,
começaria o prazo da rescisória para os capítulos A e B?
Esta é uma discussão muito antiga. Na doutrina, prevalece o entendimento de que
para cada coisa julgada, há um prazo de rescisória. Se já tem coisa julgada, já cabe execução
definitiva e já cabe ação rescisória.
Este posicionamento foi encampado na Súmula 100 do TST.
Súmula 100, inciso II do TST:
Prazo de Decadência - Ação Rescisória Trabalhista
II - Havendo recurso parcial no processo principal, o trânsito em julgado dá-se em
momentos e em tribunais diferentes, contando-se o prazo decadencial para a ação rescisória
do trânsito em julgado de cada decisão, salvo se o recurso tratar de preliminar ou
prejudicial que possa tornar insubsistente a decisão recorrida, hipótese em que flui a
decadência a partir do trânsito em julgado da decisão que julgar o recurso parcial. (ex-
Súmula nº 100 - alterada pela Res. 109/2001, DJ 20.04.01)
Se o recurso tratar de preliminar que pode tornar insubsistente toda a decisão, o
recurso é total e não parcial.
No julgamento do Mensalão, o STF entendeu que era possível o fracionamento da
coisa julgada. Quando o recurso só impugnava uma parte da decisão, a outra já podia ser
executada imediatamente.
Em 2014, o STF, julgando o RE 666.589, disse expressamente que para cada coisa
julgada, há um prazo de rescisória.
Segundo a 1ª Turma do STF, o prazo decadencial da ação rescisória, nos casos
de existência de capítulos autônomos, deve ser contado do trânsito em julgado
de cada decisão (cada capítulo).
Os capítulos não impugnados transitam em julgado desde logo.
O prazo decadencial da ação rescisória, nos casos de existência de
capítulos autônomos, deve ser contado do trânsito em julgado de cada
decisão (cada capítulo).
Assim, o STF admite a coisa julgada progressiva, ou seja, aquela que vai
ocorrendo em momentos distintos porque a sentença foi fragmentada em
partes (capítulos) autônomas.
A coisa julgada progressiva é aquela que vai se formando ao longo do processo,
em razão de interposição de recursos parciais.
É como se a coisa julgada fosse sendo paulatinamente formada a medida que
os capítulos da sentença não são impugnados.
O STJ, contudo, entende que o prazo da ação rescisória tem que ser único, mesmo
que haja várias coisas julgadas.
Súmula 401 do STJ: O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for
cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial.
O entendimento da súmula é que somente quando o último pronunciamento judicial
transitar em julgado começa a contar o prazo para ação rescisória contra todas as coisas
julgadas.
RECLAMAÇÃO
1. Conceito
A reclamação é uma ação autônoma de impugnação. Pela reclamação se instaura um
processo para impugnar uma decisão. A reclamação serve para impugnar uma decisão.
A reclamação é uma ação de competência originaria dos Tribunais. Na CF, há previsão
expressa da reclamação para o STF e o STJ. A constituição dos estados pode prever reclamação
para o TJ.
O TSE e o TST preveem a reclamação para eles em seu RI. A previsão de reclamação
para o TSE e para o TST está prevista em seus RI. O STF, já reconheceu que a previsão de
reclamação no RI do TST é inconstitucional, porque é necessário lei.
No novo CPC, há previsão de que cabe reclamação perante qualquer Tribunal,
acabando com esta discussão.
2. Procedimento
O procedimento da reclamação está regulado na Lei 8038/90. O procedimento da
reclamação é semelhante ao do MS: é necessário prova pré-constituída para a propositura, é
possível liminar, há intervenção obrigatória do MP, a autoridade que praticou o ato reclamado
terá que prestar informações.
A Lei 8038 não dispõe da necessidade de contraditório para aquele que se beneficia do
ato reclamado. Quando se impugna uma decisão, é claro que alguém se beneficiou com esta
decisão. Ora, em razão do contraditório, o beneficiário da decisão tem que ser ouvido, tem
que ser réu da reclamação. Isto porque a reclamação visa a desconstituir a decisão.
O RI do STF prevê a possibilidade de julgamento da reclamação pelo relator de forma
monocrática, quando a reclamação estiver em conformidade com a jurisprudência do STF.
NÃO cabem embargos infringentes no âmbito da reclamação (Súmula 369 do STF: Não
há embargos infringentes no processo de reclamação).
NÃO cabe reclamação se a decisão já tiver transitado em julgado. Vale dizer, a
reclamação não pode servir como rescisória, já que não há prazo para ajuizar a reclamação. A
reclamação não tem prazo, mas não pode ser ajuizada contra decisão transitada em julgado.
(Súmula 734 do STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato
judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal).
O STF decidiu que o MP estadual pode propor reclamação perante o STF. Havia um
entendimento consolidada de que só o PGR poderia funcionar perante o STF, então só o PGR
poderia propor reclamação perante o STF. O STF entendeu que o MP estadual pode propor
reclamação perante o STF, caso em que o PGR funciona como custos legis (Reclamação 7358 –
Editorial 119 do site do Didier).