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Identidades e Políticas Coloniais:guaranis,índios infiés,portugueses e espanhóis no Rio da Prata

c.1750-1800 é um artigo da Doutora em História Elisa Fühauf Garcia e tem por objetivo
analisar as relações que existiam entre os moradores da região do Rio da Prata.
O governo espanhol na América separava os seus habitantes em duaS repúblicas diferentes:a
dos índios e a dos espanhóis.Os índios estavam em contato com a colônia mas eram retidos de
qualquer tipo de convivência com as demais partes dos indivíduos.
O Rio da Prata se situava em uma região de fronteira do Império Espanhol,esse local também
era habitado pelos índios não submetidos.Eles representavam uma dificuldade para o
crescimento da sociedade colonial.As missões vindas da Europa tinham a função de proteger
as terras espanholas da invasão de outros Estados e também dos índios infiéis.Se caso a
situação saísse fora do controle do governo colonial os guaranis aldeados deveriam entrar em
combate.Isso indica que eles tinham contato com as armas de fogo,porém elas não eram de
propriedade deles,pois os donos das missões controlavam os índios para que não entrassem
em guerra contra seus próprios colonizadores.
Elisa Frühauf trata claramente em seu artigo sobre essa classificação europeia dos nativos:

Tal classificação da população nativa foi desdobrada pela historiografia,com uma simplicidade
excessiva ao meu ver,em aliados definitivos das frentes em disputa:os missioneiros,pela sua
posição no Império Espanhol,estariam sempre associados aos castelhanos.Já os minuanos,por
sua vez,atuariam incondicionalmente ao lado dos portugueses( Garcia,Elisa
Frühauf,Identidades e Políticas Coloniais:guaranis,índios infiéis,portugueses e espanhóis no Rio
da Prata,c.1750-1800,p. 56)

O interior das missões eram formados por uma população muito diversificada,os minuanos por
exemplo,estavam em constante contato com os aldeados.Iam até la para buscar mantimentos
como a erva mate e o fumo e também para visitar seus familiares.Esses fatores levaram os
jesuítas a acreditarem que os guaranis não eram assim tão fiéis quando demonstravam ser.Os
minuanos também se aliavam aos missioneiros,coisa que deixava os jesuítas furiosos,pois eles
caracterizavam os infiéis como seres pagãos que praticavam cultos de feitiçaria.E que os
aldeados abandonavam o catolicismo para se juntar a eles.Os missioneiros tinham a visão que
a vida ao lado dos infiéis seria mais fácil,pois ali não eram castigados e tinham que trabalhar de
forma forçada.
Essa classificação europeia dos índios entre missioneiros e minuanos tornou-se um meio de
sobrevivência para eles e assim ganhavam vantagens.De forma que as disputas entre Espanha
e Portugal eram de total proveito para os minuanos,que prometiam que iriam se converter
aocatolicismo em troca de favores.A assinatura do Tratado de Madri aumentou as disputas
luso-castelhanas.Esse tratado transformou a distribuição do território e das populações da
região.Para impedir a passagem dos demarcadores os minuanos buscaram de aliar aos
missioneiros que prontamente aceitaram.Porém os aldeados não confiável totalmente na
lealdade dos infiéis e essa desconfiança não era sem fundamentos pois eles muitas vezes
faziam laços com os missioneiros por necessidade.Em 1761 o Tratado de Madrid foi anulado,e
os minuanos e missioneiros continuaram se relacionando em suas comunidades sem nenhum
ressentimento sobre o passado.
A crescente expansão espanhola estava ameaçando os minuanos,por isso eles se
apresentavam como aliados do expansionismo lusitano e assim buscavam um futuro melhor
ao lado português.Entretanto os lusos não acreditavam tanto na fidelidade dos não aldeados e
além de tudo uma aliança com eles ainda não era viável pois não valeria a pena a inimizade
com a Espanha.Os minuanos não desistiram e após alguns anos a aliança com o lado português
foi conquistada.Em contrapartida o vice rei do Rio da Prata por volta de 1850 tentou aldear os
infiéis mas não obteve sucesso.Devido a isso os espanhóis buscaram ajuda portuguesa para
combatê-los.Mas os lusitanos desconfiavam das reais intenções dos castelhanos,se os
minuanos fossem exterminados as fronteiras ficariam livres para as invasões.Paulo
Gama,governador do Rio Grande não aprovou o ataque aosíndios.Pode-se concluir que quem
levou a melhor na disputa de alianças com os portugueses não foram os espanhóis e sim os
minuanos.

Elisa Frühauf Garcia em seu artigo abordou muito bem essa relação entre os moradores da
região do Rio da Prata.É um texto bem articulado em seus argumentos e o perfil usado pela
historiadora condiz com o tema analizado.A relação entre os índios aldeados e infiéis com os
colonizadores era de total ligação com a colonização e os nativos souberam muito bem tirar
proveito das disputas luso-castelhanas.É um texto bem original e apreciativo e tem o mérito de
informar as interações que existiam entre os diversos agentes presentes nas localidades do Rio
da Prata.E quem faz a leitura facilmente é convencido de que a historiografia passou a ter
novas perspectivas em relação aos índios e que as severas classificações europeias dos nativos
nem sempre eram respeitadas por eles.
AD1 – História da América I

Rio de Janeiro 2013


GARCIA, Elisa Frühauf. Identidades e Políticas Coloniais: guaranis, índios infiéis,
portugueses e espanhóis no Rio da Prata, c. 1750 – 1800. Anos 90, Porto Alegre, v.18,
n.34, p.55 – 76, 2011.

Acordos e desacordos: relações entre índios, espanhóis e portugueses no Rio da Prata.


No artigo a autora Elisa Frühauf Garcia demonstra as formas de relação entre guaranis,
índios infiéis, espanhóis e portugueses na região do Rio da Prata. Ao

contrário do que a historiografia propõe demarcando as relações de forma esquemática,


como a autora diz no texto, guaranis sempre associados aos espanhóis e minuanos aos
portugueses, as relações entre tais grupos eram diversificadas. Segundo a autora, o
artigo tem como objetivo abordar as interações entre os agentes presentes no Rio da
Prata, observando o uso que estes faziam do território e seus espaços e das diretrizes
imperiais, mostrando como suas iniciativas e suas prioridades nem sempre estavam de
acordo com as classificações e divisões coloniais da população indígena. Para isso a
autora inicia o artigo explicando a forma como o governo espanhol da América
ancorava-se na política de separação da população em duas repúblicas: a dos índios e a
dos espanhóis. Os índios inseridos na forma de vida colonial viviam

afastados em um determinado território, para que não tivessem contato com os demais
segmentos da população, segundoa autora “a experiência missioneira dos jesuítas no
Paraguai teria sido um exemplo do sucesso do principio de separação.”. Na região do
Rio da Prata, nas fronteiras do Império espanhol habitavam também os índios
considerados infiéis, aqueles não submetidos, que atrapalhavam os interesses
expansionistas da sociedade colonial. A região era disputada pelos estados europeus,
especialmente por portugueses. As missões tinham caráter também estratégico no
sentido da defesa territorial contra as pretensões expansionistas dos estados
concorrentes e dos ataques dos índios infiéis. A divisão entre os índios em duas
categorias, amigos e inimigos, os amigos serviam como defesa dos interesses dos
monarcas. Segundo a autora, a historiografia
demonstra tal classificação de forma simplificada onde missioneiros estariam sempre
relacionados aos castelhanos e os minuanos aos portugueses. As relações entre os índios
refletiriam o clima de disputa apresentado entre os europeus, que tinham seus interesses
representados naquele espaço de diferenças. As divisões étnicas remontavam aspectos
políticos e relacionais, muito mais que aspectos de identidade de cada grupo. E tais
estereótipos beneficiavam de alguma forma aos índios, que, por exemplo, se valiam da
fama de belicosos para manter afastados os inimigos da expansão da sociedade colonial,
além disso, índios inimigos alternavam paz e conflito mostrando que mais que
identidade definidas suas relações tinha a ver com jogos de interesses e relações de
força entre os agentes. Generalizando, a autora demonstra que os trabalhos continuam
priorizando a existência dedeterminados elementos das identidades indígenas em
detrimento de um enfoque histórico. O artigo aponta ainda que a existência de uma
população heterogênea no interior das missões era elemento chave para a manutenção
dos índios da campanha. A presença de infiéis nos pueblos a fim de visitar seus
parentes, fazia com que os jesuítas tivessem desconfiança sobre a lealdade dos índios
reduzidos. Os portugueses, devido utilizarem alianças com os infiéis, também tinham
dúvida sobre confiar ou não neles. Os missionários por sua vez também freqüentavam o
grupo dos infiéis, de forma temporária ou definitiva. Os jesuítas caracterizavam os
infiéis como um reduto de apóstatas, onde espanhóis e índios praticavam todo tipo de
feitiçaria, muitos membros da sociedade colonial, utilizavam desse recurso, de juntar-se
aos infiéis, como algo que podia ser empregado em várias circunstâncias. As
classificações coloniais não representavam as práticas coloniais no cotidiano, e também
não podem ser consideradas como apenas formalidade, pois também tinha impacto na
realidade social. No conjunto de estratégias dos indígenas, a habilidade de manejar as
classificações de acordo com a situação, tinha destaque. A população nativa acabava por
dominar o cenário de disputa e inserir-se no conflito conforme a necessidade. Segundo a
autora “a referencia a conjunturas históricas especificas é fundamental para perceber as
ações dos índios e as representações que construíam de si mesmos e dos demais agentes
com os quais interagiam.”
A situação vigente já sofria influencia pelas rivalidades entre portugueses e espanhóis
quando foi potencializada pela assinatura do Tratado de Madri, que mudaria a
distribuição territorial e populacional da região da Prata. Durante os conflitos da guerra
guaranítica, a estratégia dos minuanos de manipulação dessas categorias foi
evidenciada. Os missioneiros procuravam aos minuanos em busca de aliança como
forma de impedir as comissões demarcadoras. Apesar da aliança, a situação não era
fácil, pois missioneiros não confiavam em minuanos. Um exemplo disso é citado no
texto, como no caso do cacique Moreira que jura fidelidade aos missionários como
aliado, solicitando presentes. Moreira, junto seus índios fizeram frente aos exercito
português, o que gerou desconfiança por parte dos missionários. A capacidade utilizada
pelo cacique, de utilizar a situação de conflito em favor de seus interesses através da
manipulação das categorias é segundo a autora, notável assim como em outros
exemplos citados. Devido a circunstâncias locais e conjunturas imperiais o Tratado de
Madri foi anulado em 1761. Os missioneiros e os minuanos continuaram mantendo
relações na década seguinte, a exemplo da aliança entre o Cacique minuano Bartolomeu
e os portugueses, contra os missioneiros espanhóis, Dom Bartolomeu e mais cinco
caciques pedindo passagem para os domínios portugueses. “Ao manejarem tais
rivalidades, os minuanos não se colocavam em uma posição subalterna em relação aos
portugueses: pelo contrário, apresentavam-se enquanto aliados úteis aos seus projetos
expansionistas.”. Segundo a autora, muitos autores demonstram que os índios das várias
regiões da América reformulavam sua percepção histórica apartir de questões colocadas
no presente, quando utilizavam o passado para repensar sua condição e planejar o
futuro, a possibilidade da construção de um futuro na medida em que buscavam uma
saída da situação em que se encontravam. Para a autora a inconstância dos minuanos
apontada por diversos agentes coloniais, nada mais era que reflexo de suas escolhas e
oportunidades em momentos específicos. As políticas lusitanas também eram passíveis
de mudanças e nem sempre estavam favoráveis aos índios.
O cenário em 1780 era diferente e os minuanos apesar de serem considerados aliados
úteis não eram imprescindíveis e foram preteridos em nome de uma manutenção nas
relações com os espanhóis. As disposições para negociação poderiam ser alternadas
com políticas mais agressivas dependendo dos funcionários reais, das ações dos índios e
das possibilidades castelhanas de dominar uma região. Os infiéis não desistiram e anos
depois conseguiram o acordo com os portugueses. Na virada do século XVIII e XIX, os
portugueses se inclinavam novamente a favor dos infiéis. No ano de 1800 o vice-rei do
Rio da Prata, elaborou um plano de fundação de povoados na campanha de Montevidéu,
procurando guardar as fronteiras. Avilés, não obteve muito sucesso em seu plano. Após
terem recebido de forma positiva, os índios reclinaram da idéia e não aceitaram as
propostas, aprontando assim uma guerra contra os cristãos. Durante os conflitos de
forma concomitante os índios infiéis buscavam refugio nas terras do Rio Grande,
causando a ira dos administradores de Montevidéu e dificultando a perseguição das
tropas espanholas. Com oacirramento da situação os espanhóis buscaram aliança com os
portugueses, a fim de unir forças para ir contra os infiéis. Acirrando ainda mais a
proposta espanhola em 1805, quando o comandante das tropas espanholas procurou
diretamente o governador do Rio Grande, para destruir os infiéis. A posição portuguesa
não foi homogênea, e as desconfianças surgiram dessa vez contra as reais intenções
espanholas, pensando assim que tudo não se passava de subterfúgio para a entrada dos
espanhóis nos domínios do Rei Fidelíssimo, para recuperação de território perdido
durante as missões. Além de que não era considerada uma boa tática para o Império
Português a destruição dos infiéis. As diferentes situações mencionadas demonstram
como as categorias que designavam os diferentes grupos dessa região eram construções
históricas e mutáveis segundo a necessidade ou circunstância política e/ ou social ou os
interesses coletivos ou pessoais dos indivíduos. Os resultados obtidos nunca eram
definitivos, pois dependiam de possibilidades e limites estabelecidos através das
situações.
O que se pode notar é a contradição entre as reais relações e interesses, por trás das
divisões e classificações demarcadas na sociedade e sustentadas pela historiografia. Ao
contrário do que é imaginada, a interação entre os grupos era muito mais efetiva do que
é pregado por alguns trabalhos e acima de tudo, difere em relações do que é
estabelecido. E que os índios não eram vítimas e que sabiam não só manipular e se
beneficiar destas classificações como sabiam à hora de chamar pra si as identidades
advindas destas classificações.

Resenha do texto: Garcia, Elisa Frühauf. “Identidades e Políticas Coloniais: guaranis,


índios infiéis, portugueses e espanhóis no Rio da Prata, c.1750-1800” . Anos 90, Porto
Alegre, v. 18, n. 34, dez. 2011, p. 55-76.

O governo espanhol na América separava os seus habitantes em duas repúblicas


diferentes:a dos índios e a dos espanhóis.Os índios estavam em contato com a colônia
mas eram retidos de qualquer tipo de CONTATO com as demais partes dos indivíduos.
O Rio da Prata se situava em uma região de fronteira do Império Espanhol,esse local
também era habitado pelos índios não submetidos.Eles representavam uma dificuldade
para o crescimento da sociedade colonial.As missões vindas da Europa tinham a função
de proteger as terras espanholas da invasão de outros Estados e também dos índios
infiéis.Se caso a situação saísse fora do controle do governo colonial os guaranis
aldeados deveriam entrar em combate.Isso indica que eles tinham contato com as armas
de fogo,porém elas não eram de propriedade deles,pois os donos das missões
controlavam os índios para que não entrassem em guerra contra seus próprios
colonizadores.
Elisa Frühauf trata claramente em seu artigo sobre essa classificação europeia dos
nativos

Tal classificação da população nativa foi desdobrada pela historiografia,com uma


simplicidade excessiva ao meu ver,em aliados definitivos das frentes em disputa:os
missioneiros,pela sua posição no Império Espanhol,estariam sempreassociados aos
castelhanos.Já os minuanos,por sua vez,atuariam incondicionalmente ao lado dos
portugueses( Garcia,Elisa Frühauf,Identidades e Políticas Coloniais:guaranis,índios
infiéis,portugueses e espanhóis no Rio da Prata,c.1750-1800,p. 56)

O interior das missões eram formados por uma população muito diversificada,os
minuanos por exemplo,estavam em constante contato com os aldeados.Iam até la para
buscar mantimentos como a erva mate e o fumo e também para visitar seus
familiares.Esses fatores levaram os jesuítas a acreditarem que os guaranis não eram
assim tão fiéis quando demonstravam ser.Os minuanos também se aliavam aos
missioneiros,coisa que deixava os jesuítas furiosos,pois eles caracterizavam os infiéis
como seres pagãos que praticavam cultos de feitiçaria.E que os aldeados abandonavam
o catolicismo para se juntar a eles.Os missioneiros tinham a visão que a vida ao lado dos
infiéis seria mais fácil,pois ali não eram castigados e tinham que trabalhar de forma
forçada.
Essa classificação europeia dos índios entre missioneiros e minuanos tornou-se um meio
de sobrevivência para eles e assim ganhavam vantagens.De forma que as disputas entre
Espanha e Portugal eram de total proveito para os minuanos,que prometiam que iriam
se converter ao catolicismo em troca de favores.

A assinatura do Tratado de Madri aumentou as disputas luso-castelhanas.Esse tratado


transformou a distribuição doterritório e das populações da região.Para impedir a
passagem dos demarcadores os minuanos buscaram de aliar aos missioneiros que
prontamente aceitaram.Porém os aldeados não confiável totalmente na lealdade dos
infiéis e essa desconfiança não era sem fundamentos pois eles muitas vezes faziam laços
com os missioneiros por necessidade.Em 1761 o Tratado de Madrid foi anulado,e os
minuanos e missioneiros continuaram se relacionando em suas comunidades sem
nenhum ressentimento sobre o passado.
A crescente expansão espanhola estava ameaçando os minuanos,por isso eles se
apresentavam como aliados do expansionismo lusitano e assim buscavam um futuro
melhor ao lado português.Entretanto os lusos não acreditavam tanto na fidelidade dos
não aldeados e além de tudo uma aliança com eles ainda não era viável pois não valeria
a pena a inimizade com a Espanha.Os minuanos não desistiram e após alguns anos a
aliança com o lado português foi conquistada.Em contrapartida o vice rei do Rio da
Prata por volta de 1850 tentou aldear os infiés mas não obteve sucesso.Devido a isso os
espanhóis buscaram ajuda portuguesa para combatê-los.Mas os lusitanos desconfiavam
das reais intenções dos castelhanos,se os minuanos fossem exterminados as fronteiras
ficariam livres para as invasões.Paulo Gama,governador do Rio Grande não aprovou o
ataque aos índios.Pode-se concluir que quem levou a melhor na disputa de alianças com
os portugueses não foram os espanhóis e sim os minuanos.

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