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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Unidade II
MÓDULO 5 – PRINCÍPIO DA DESIGUALDADE COMPENSADORA

O Direito Internacional contemporâneo é construído a partir de uma desigualdade norte-sul e


contribuiu para reproduzir essa desigualdade. Ele conhece uma expansão importante e trata de domínios
que antes eram da competência exclusiva dos Estados. Esse processo de expansão é um processo gradual,
começado no fim do século XIX, mas que se acelera fortemente depois da Segunda Guerra Mundial.

Entre os domínios nos quais o crescimento do Direito Internacional é mais marcante, sobretudo após
os anos 1990, figuram o Direito Internacional Ambiental e o Direito Internacional Econômico. Três razões
contribuem para esse fenômeno de expansão: de um modo geral, o fim da bipolaridade política e militar, após a
queda do império soviético e a emergência de uma multipolaridade política mais ativa no plano internacional.

De forma mais específica, constata-se, no Direito Internacional Ambiental, o crescimento de um


movimento internacional de proteção da natureza e o fortalecimento das instâncias democráticas, com
a inclusão da proteção ambiental nas agendas políticas e jurídicas dos governos e dos cidadãos.

No tocante ao Direito Internacional Econômico, deve-se notar a intensificação das trocas comerciais e a
emergência, em nível governamental, de um consenso que a favor dessa liberalização, considerada como uma
forma de desenvolvimento econômico. O Direito Internacional Econômico visa, sobretudo, ao desenvolvimento
das nações. É em torno desse conceito de desenvolvimento que ele se constrói, mais especificamente com a
utilização de um conceito operacional mais detalhado: o de desenvolvimento sustentável.

É interessante notar que o conjunto de normas jurídicas para o desenvolvimento emanadas desde
a Segunda Guerra Mundial originam-se de dois conjuntos normativos distintos, o Direito Internacional
Econômico e o Direito Internacional Ambiental, que deveriam ser homogêneos, porque o Direito deveria
ser um só sistema, harmônico, como bem dispõe o artigo 31, 3, c, da Convenção de Viena.

No entanto, o Direito Internacional, ao contrário do Direito doméstico, não é um todo harmônico,


mas sim um conjunto de vários conjuntos herméticos de normas jurídicas, com lógicas próprias que
se acumulam ao longo do tempo, formando antagonismos cada vez mais acentuados, a coexistência
de várias entidades não articuladas, tribunais e órgãos de solução de controvérsias não hierarquizados,
característicos de um processo de mundialização econômica, política e jurídica.

São assuntos de interesse para a sustentabilidade: as linhas gerais formam a base do Direito
Internacional Econômico e o Direito Internacional Ambiental e a construção jurídica, a implementação
de normas e o controle das normas desses dois ramos distintos do Direito, em três importantes atores
internacionais: a Organização Mundial do Comércio, a Organização das Nações Unidas e as Organizações
Não Governamentais, com enfoque na desigualdade norte-sul.
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Unidade II

Conferência de Estocolmo

Declaração da Conferência de ONU no Ambiente Humano, Estocolmo, 5-16 de junho de 1972


(tradução livre)

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, reunida em Estocolmo de 5 a 16
de junho de 1972, e atenta à necessidade de um critério e de princípios comuns que ofereçam aos povos
do mundo inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano,

Proclama que:

1. O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual lhe dá
sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelectual, moral, social e
espiritualmente. Em larga e tortuosa evolução da raça humana neste planeta chegou-se a uma
etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder
de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo que o cerca. Os dois
aspectos do meio ambiente humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do
homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida.

2. A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano são questões fundamentais que afetam
o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos
povos de todo o mundo e um dever de todos os governos.

3. O homem deve fazer constante avaliação de sua experiência e continuar descobrindo, inventando,
criando e progredindo. Hoje em dia, a capacidade do homem de transformar o que o cerca,
utilizada com discernimento, pode levar a todos os povos os benefícios do desenvolvimento e
oferecer-lhes a oportunidade de enobrecer sua existência. Aplicado errônea e imprudentemente,
o mesmo poder pode causar danos incalculáveis ao ser humano e a seu meio ambiente. Em nosso
redor vemos multiplicar-se as provas do dano causado pelo homem em muitas regiões da Terra,
níveis perigosos de poluição da água, do ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de
equilíbrio ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos insubstituíveis e graves
deficiências, nocivas para a saúde física, mental e social do homem, no meio ambiente por ele
criado, especialmente naquele em que vive e trabalha.

4. Nos países em desenvolvimento, a maioria dos problemas ambientais estão motivados pelo
subdesenvolvimento. Milhões de pessoas seguem vivendo muito abaixo dos níveis mínimos
necessários para uma existência humana digna, privada de alimentação e vestuário, de habitação
e educação, de condições de saúde e de higiene adequadas. Assim, os países em desenvolvimento
devem dirigir seus esforços para o desenvolvimento, tendo presente suas prioridades e a necessidade
de salvaguardar e melhorar o meio ambiente. Com o mesmo fim, os países industrializados devem
esforçar-se para reduzir a distância que os separa dos países em desenvolvimento. Nos países
industrializados, os problemas ambientais estão, geralmente, relacionados com a industrialização
e o desenvolvimento tecnológico.

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

5. O crescimento natural da população coloca continuamente problemas relativos à preservação


do meio ambiente e devem-se adotar as normas e as medidas apropriadas para enfrentar esses
problemas. De todas as coisas do mundo, os seres humanos são a mais valiosa. Eles são os que
promovem o progresso social, criam riqueza social, desenvolvem a ciência e a tecnologia e, com
seu árduo trabalho, transformam continuamente o meio ambiente humano. Com o progresso
social e os avanços da produção, da ciência e da tecnologia, a capacidade do homem de melhorar
o meio ambiente aumenta a cada dia que passa.

6. Chegamos a um momento da história em que devemos orientar nossos atos em todo o mundo
com particular atenção às consequências que podem ter para o meio ambiente. Por ignorância
ou indiferença, podemos causar danos imensos e irreparáveis ao meio ambiente da Terra do qual
dependem nossa vida e nosso bem-estar. Ao contrário, com um conhecimento mais profundo e
uma ação mais prudente, podemos conseguir para nós mesmos e para nossa posteridade condições
melhores de vida, em um meio ambiente mais de acordo com as necessidades e aspirações do
homem. As perspectivas de elevar a qualidade do meio ambiente e de criar uma vida satisfatória
são grandes. É preciso entusiasmo, mas, por outro lado, serenidade de ânimo, trabalho duro e
sistemático. Para chegar à plenitude de sua liberdade dentro da natureza e, em harmonia com
ela, o homem deve aplicar seus conhecimentos para criar um meio ambiente melhor. A defesa e
o melhoramento do meio ambiente humano para as gerações presentes e futuras se converteram
na meta imperiosa da humanidade, que se deve perseguir, ao mesmo tempo em que se mantêm
as metas fundamentais já estabelecidas, da paz e do desenvolvimento econômico e social em todo
o mundo, e em conformidade com elas.

7. Para se chegar a essa meta será necessário que cidadãos e comunidades, empresas e instituições,
em todos os planos, aceitem as responsabilidades que possuem e que todos eles participem
equitativamente nesse esforço comum. Homens de toda condição e organizações de diferentes
tipos plasmarão o meio ambiente do futuro, integrando seus próprios valores e a soma de suas
atividades. As administrações locais e nacionais, e suas respectivas jurisdições são as responsáveis
pela maior parte do estabelecimento de normas e aplicações de medidas em grande escala sobre
o meio ambiente. Também se requer a cooperação internacional com o fim de conseguir recursos
que ajudem aos países em desenvolvimento a cumprir sua parte nessa esfera. Há um número
cada vez maior de problemas relativos ao meio ambiente que, por ser de alcance regional ou
mundial ou por repercutir no âmbito internacional comum, exigem uma ampla colaboração entre
as nações e a adoção de medidas para as organizações internacionais, no interesse de todos. A
Conferência encarece aos governos e aos povos que unam esforços para preservar e melhorar o
meio ambiente humano em benefício do homem e de sua posteridade.

II

PRINCÍPIOS

Expressa a convicção comum de que:

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Unidade II

Princípio 1

O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida


adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar
de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações
presentes e futuras. A este respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação
racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira são
condenadas e devem ser eliminadas.

Princípio 2

Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e especialmente amostras
representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados em benefício das gerações presentes e
futuras, mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento.

Princípio 3

Deve-se manter, e sempre que possível, restaurar ou melhorar a capacidade da terra em produzir
recursos vitais renováveis.

Princípios 4

O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio


da flora e da fauna silvestres e seu habitat, que se encontram atualmente, em grave perigo, devido a
uma combinação de fatores adversos. Consequentemente, ao planificar o desenvolvimento econômico
deve-se atribuir importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres.

Princípio 5

Os recursos não renováveis da Terra devem empregar-se de forma que se evite o perigo de seu futuro
esgotamento e se assegure que toda a humanidade compartilhe dos benefícios de sua utilização.

Princípio 6

Deve-se por fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais que liberam calor, em
quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não possa neutralizá-los, para que não se
causem danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os
países contra a poluição.

Princípio 7

Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos mares por
substâncias que possam por em perigo a saúde do homem, os recursos vivos e a vida marinha,
menosprezar as possibilidades de derramamento ou impedir outras utilizações legítimas do mar.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Princípio 8

O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao homem um ambiente de


vida e trabalho favorável e para criar na Terra as condições necessárias de melhoria da qualidade de vida.

Princípio 9

As deficiências do meio ambiente originárias das condições de subdesenvolvimento e os desastres


naturais colocam graves problemas. A melhor maneira de saná-los está no desenvolvimento
acelerado, mediante a transferência de quantidades consideráveis de assistência financeira e
tecnológica que complementem os esforços internos dos países em desenvolvimento e a ajuda
oportuna que possam requerer.

Princípio 10

Para os países em desenvolvimento, a estabilidade dos preços e a obtenção de ingressos adequados


dos produtos básicos e de matérias-primas são elementos essenciais para o ordenamento do meio
ambiente, já que há de se ter em conta os fatores econômicos e os processos ecológicos.

Princípio 11

As políticas ambientais de todos os Estados deveriam estar encaminhadas para aumentar o


potencial de crescimento atual ou futuro dos países em desenvolvimento e não deveriam restringir esse
potencial nem colocar obstáculos à conquista de melhores condições de vida para todos. Os Estados e as
organizações internacionais deveriam tomar disposições pertinentes, com vistas a chegar a um acordo,
para se poder enfrentar as consequências econômicas que poderiam resultar da aplicação de medidas
ambientais, nos planos nacional e internacional.

Princípio 12

Recursos deveriam ser destinados para a preservação e o melhoramento do meio ambiente, tendo
em conta as circunstâncias e as necessidades especiais dos países em desenvolvimento e gastos
que pudessem originar a inclusão de medidas de conservação do meio ambiente em seus planos de
desenvolvimento, bem como a necessidade de oferecer-lhes, quando solicitado, mais assistência técnica
e financeira internacional com esse fim.

Princípio 13

Com o fim de se conseguir um ordenamento mais racional dos recursos e melhorar as condições
ambientais, os Estados deveriam adotar um enfoque integrado e coordenado de planejamento de seu
desenvolvimento, de modo a que fique assegurada a compatibilidade entre o desenvolvimento e a
necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano em benefício de sua população.

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Princípio 14

O planejamento racional constitui um instrumento indispensável para conciliar às diferenças


que possam surgir entre as exigências do desenvolvimento e a necessidade de proteger e melhorar
o meio ambiente.

Princípio 15

Deve-se aplicar o planejamento aos assentamentos humanos e à urbanização com vistas a evitar
repercussões prejudiciais sobre o meio ambiente e a obter os máximos benefícios sociais, econômicos
e ambientais para todos. A esse respeito devem-se abandonar os projetos destinados à dominação
colonialista e racista.

Princípio 16

Nas regiões onde exista o risco de que a taxa de crescimento demográfico ou as concentrações
excessivas de população prejudiquem o meio ambiente ou o desenvolvimento, ou onde a baixa densidade
da população possa impedir o melhoramento do meio ambiente humano e limitar o desenvolvimento,
deveriam ser aplicadas políticas demográficas que respeitassem os direitos humanos fundamentais e
contassem com a aprovação dos governos interessados.

Princípio 17

Deve-se confiar às instituições nacionais competentes a tarefa de planejar, administrar ou controlar


a utilização dos recursos ambientais dos Estados, com o fim de melhorar a qualidade do meio ambiente.

Princípio 18

Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social deve-se utilizar a ciência e
a tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que ameaçam o meio ambiente, para solucionar
os problemas ambientais e para o bem comum da humanidade.

Princípio 19

É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações


jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado,
para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos,
das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e
melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios
de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao
contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo,
a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos.

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Princípio 20

Devem-se fomentar em todos os países, especialmente nos países em desenvolvimento, a pesquisa e o


desenvolvimento científicos referentes aos problemas ambientais, tanto nacionais como multinacionais.
Nesse caso, o livre intercâmbio de informação científica atualizada e de experiência sobre a transferência
deve ser objeto de apoio e de assistência, a fim de facilitar a solução dos problemas ambientais. As
tecnologias ambientais devem ser postas à disposição dos países em desenvolvimento de forma a
favorecer sua ampla difusão, sem que constituam uma carga econômica para esses países.

Princípio 21

Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de Direito Internacional,
os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos em aplicação de sua própria
política ambiental e a obrigação de assegurar-se de que as atividades que se levem a cabo, dentro de
sua jurisdição, ou sob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros Estados ou de zonas
situadas fora de toda jurisdição nacional.

Princípio 22

Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o Direito Internacional no que se refere à
responsabilidade e à indenização às vítimas da poluição e de outros danos ambientais que as atividades
realizadas dentro da jurisdição ou sob o controle de tais Estados causem a zonas fora de sua jurisdição.

Princípio 23

Sem prejuízo dos critérios de consenso da comunidade internacional e das normas que deverão
ser definidas em nível nacional, em todos os casos será indispensável considerar os sistemas de valores
prevalecentes em cada país e a aplicabilidade de normas que, embora válidas para os países mais
avançados, possam ser inadequadas e de alto custo social para países em desenvolvimento.

Princípio 24

Todos os países, grandes e pequenos, devem ocupar-se com espírito e cooperação e em pé de


igualdade das questões internacionais relativas à proteção e ao melhoramento do meio ambiente. É
indispensável cooperar para controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os efeitos prejudiciais que
as atividades que se realizem em qualquer esfera possam ter para o meio ambiente, mediante acordos
multilaterais ou bilaterais, ou por outros meios apropriados, respeitados a soberania e os interesses de
todos os Estados.

Princípio 25

Os Estados devem assegurar-se de que as organizações internacionais realizem um trabalho


coordenado, eficaz e dinâmico na conservação e no melhoramento do meio ambiente.

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Unidade II

Princípio 26

É preciso livrar o homem e seu meio ambiente dos efeitos das armas nucleares e de todos os demais
meios de destruição em massa. Os Estados devem-se esforçar para chegar logo a um acordo – nos
órgãos internacionais pertinentes – sobre a eliminação e a destruição completa de tais armas.

MÓDULO 6 – ESTRUTURAÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL

A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as


necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras
gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e
propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.

Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento


de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento
econômico, que leva em conta o meio ambiente. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com
crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de
desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a
humanidade depende.

Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos
países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica, como o próprio
crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade,
com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. O
desenvolvimento econômico é vital para os países mais pobres, mas o caminho a seguir não pode ser o
mesmo adotado pelos países industrializados, mesmo porque não seria possível.

Caso as sociedades do Hemisfério Sul copiassem os padrões das sociedades do Norte,


a quantidade de combustíveis fósseis consumida atualmente aumentaria 10 vezes e a de
recursos minerais, 200 vezes. Ao invés de aumentar os níveis de consumo dos países em
desenvolvimento, é preciso reduzir os níveis observados nos países industrializados. Os
crescimentos econômico e populacional das últimas décadas têm sido marcados por disparidades.
Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles detêm
quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da
produção de madeira mundial.

As dimensões do desenvolvimento sustentável

As três dimensões ou pilares

De acordo com Buarque, as ações de desenvolvimento sustentável devem buscar atuar


simultaneamente nas três dimensões, econômica, social e ambiental.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Pilar econômico

De acordo com Elkington (2001, p. 77), na visão convencional, o pilar econômico se resume ao lucro
da empresa, portanto, para calculá-lo, os contadores utilizam apenas dados numéricos. A abordagem
que será feita desse pilar, entretanto, requer uma busca de sustentabilidade econômica da empresa a
longo prazo. É preciso entender como as empresas avaliam se suas atividades são economicamente
sustentáveis e isso passa necessariamente pela compreensão do significado de capital econômico.

Em uma visão simplista, ainda segundo o autor, o capital de uma empresa é a diferença entre seus
ativos e suas obrigações e pode ser encontrado de duas formas principais: capital físico e capital financeiro.
Ao avaliar esse pilar, levando-se em consideração o conceito de DS, será preciso incutir na ideia de capital
econômico, o capital humano e intelectual, conceitos que, conforme Elkington (2001), gradativamente
foram incorporados ao entendimento de capital econômico, sem mencionar os conceitos de capital natural
e social, que a longo prazo passam a ser fundamentais para a avaliação desse pilar.

O pilar social

Para muitos teóricos, as questões da desigualdade social, educação, entre outros não fazem parte do
conceito de sustentabilidade, assim como a questão econômica e ambiental. O que realmente é pensado
por esses autores, é que, se o sistema social não estiver equalizado, isto é, estiver progredindo como um
todo, a questão ambiental e também a economia não irão progredir de maneira desejada.

John Elkington (2001) trata dessa questão como “em parte ela (capital social) considera o capital
humano, na forma de saúde, habilidades e educação, mas também deve abranger medidas mais amplas
de saúde da sociedade e do potencial de criação de riqueza”. Francis Fukuyama, autor do livro “Trust: the
social virtues and the criation of prosperity”, afirma que “o capital social é uma capacidade que surge da
prevalência da confiança em uma sociedade ou em partes dela” e “capacidade de as pessoas trabalharem
juntas, em grupos ou organizações para um objetivo comum”. Essa união da sociedade para tentar se
desenvolver pode ser benéfica para que o objetivo das ações seja atingido.

Ainda o autor menciona que se a sociedade trabalhar junta, em contato com as normas e as regras, a
obtenção do objetivo-resultados será atingida de maneira mais facilitada. A sustentabilidade a longo prazo
pode ser verificada pela entre os membros da organização com os seus consumidores. Essa relação de
transparência gera maiores resultados para a organização, pois com a consciência adquirida pela sociedade
atual faz com que a relação entre ambos seja estreita e aumente o anseio de as empresas participarem cada
vez mais de ações em prol social e aumentar a capacidade de disseminar a desigualdade social. O próximo
pilar a ser tratado será o ambiental, que se relaciona com a questão social e também com a econômica.

Pilar ambiental

Segundo Elkington (2001, p. 81), quando se pensa na pobreza, na escravidão e no trabalho infantil,
pode-se considerar que as iniciativas sociais tenham uma história mais ampla que as iniciativas
ambientais. No entanto, o autor afirma que apesar de uma série de interesses sobre a questão social e
auditoria na década de 1970, a agenda ambiental deve ganhar destaque na atualidade.
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Unidade II

Elkington (2001, p. 83) afirma que as empresas precisam saber avaliar se são ambientalmente
sustentáveis e, para isso, é preciso, antes de mais nada, compreender o significado da
expressão capital natural. O conceito de riqueza natural não é de fácil definição. Elkington
comenta essa dificuldade utilizando o exemplo de uma floresta. Na opinião do autor, não
basta contar o número de árvores para se avaliar seu capital natural, é preciso avaliar, entre
outros aspectos, a “riqueza natural que sustenta o ecossistema da floresta”, os benefícios por
ela gerados, a flora, a fauna e os produtos dela extraídos, que podem ser comercializados.
Elkington (2001, p. 83) defende a existência de duas formas principais de capital natural: O “capital
natural crítico”, que seria aquele fundamental para a perpetuidade do ecossistema e o capital
natural renovável ou substituível, sendo esse, no entendimento do autor, os recursos naturais
renováveis, recuperáveis ou substituíveis. Após a compreensão dos conceitos acima, ainda segundo
Elkington, as empresas precisam identificar quais as formas de capital natural impactadas pelas
suas operações, avaliar se elas são sustentáveis, se o nível de estresse causado é sustentável e,
finalmente, se o equilíbrio da natureza está sendo afetado de forma significativa. Em minha
opinião, aqui deveria ser colocado algo que “dissesse” ao leitor que a parte que fala dos pilares já
foi finalizada. O que você acha?

De acordo com Almeida (2002, p. 64), a maior dificuldade não está em elaborar o conceito de
desenvolvimento sustentável, mas sim em colocá-lo em prática. As empresas devem gerir o
desenvolvimento sempre considerando os aspectos ambientais, sociais e econômicos. Segundo o autor,
para que o conceito seja colocado em prática é necessário:

• Democracia e estabilidade política.

• Paz.

• Respeito à lei e à propriedade.

• Respeito aos instrumentos de mercado.

• Ausência de corrupção.

• Transparência e previsibilidade de governos.

Conceito legal de meio ambiente

Art. 3o, I, da Lei 6938/91 – É o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem química,
física e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

“O conceito de meio ambiente é unitário, na medida que é regido por inúmeros princípios, diretrizes e
objetivos que compõem a Política Nacional do Meio Ambiente. Entretanto, quando se fala em classificação
do meio ambiente, na verdade não se quer estabelecer divisões isolantes ou estanques do meio ambiente,
até porque, se assim fosse, estaríamos criando dificuldades para o tratamento da sua tutela.”

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

“Exatamente pelo motivo inverso, qual seja, de buscar uma maior identificação com a atividade
degradante e o bem imediatamente agredido, é que podemos dizer que o meio ambiente apresenta, pelo
menos, quatro significativos aspectos. São eles:

1) natural;

2) cultural;

3) artificial;

4) do trabalho.

Dessa forma, não estamos pretendendo fazer um esquartejamento do conceito de meio ambiente. Ao
contrário, apenas almejamos dizer que as agressões ao meio ambiente (rectius = bem; ambiental = proteção
da vida com saúde) podem se processar sob os diversos flancos que o meio ambiente admite existir. Nesse
diapasão, releva dizer que sempre o objeto maior tutelado é a vida saudável e, se é dessa forma, essa
classificação apenas identifica sob o aspecto do meio ambiente (natural, cultural, trabalho e artificial)
aqueles valores maiores que foram aviltados. Aliás, como já tivemos oportunidade de salientar, essa divisão
do meio ambiente não é de lege ferenda, vez que de lege lata está presente no Texto Constitucional.
Portanto, para fins didáticos e de compreensão, podemos dizer que o meio ambiente recebe uma tutela
imediata e outra mediata. Mediatamente, seria o próprio artigo 225, caput, que determina o conceito de
meio ambiente, bem ambiental, o direito ao meio ambiente, os titulares desse direito, a natureza jurídica
desse direito, princípios de sua política (PNMA junto com a Lei 6.938/81) etc. Assim, bastaria essa norma
para que já se efetivasse por completo o direito em tela. Todavia, o legislador constituinte não parou por
aí, já que procurou, por via destas divisões, que não são peremptórias ou estanques, alcançar a efetiva
salvaguarda desse direito, fazendo, pois, o que didaticamente denominamos de tutela imediata.”

Meio ambiente artificial

Por meio ambiente artificial entende-se aquele constituído pelo espaço urbano construído,
consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e dos equipamentos públicos
(espaço urbano aberto). Assim, vê-se que tal “tipo” de meio ambiente está intimamente ligado ao próprio
conceito de cidade, vez que o vocábulo “urbano”, do latim urbs, urbis significa cidade e, por extensão,
os habitantes da cidade. Destarte, há de se salientar que o termo urbano nessa sede não está posto
em contraste com o termo “campo” ou “rural”, já que qualifica algo que se refere a todos os espaços
habitáveis, “não se opondo a rural, conceito que nele se contém: possui, pois, uma natureza ligada ao
conceito de território”. No tocante ao meio ambiente artificial podemos dizer que, em se tratando das
normas constitucionais de sua proteção, recebeu tratamento destacado, não só no artigo 182 e segs. da
CF, não desvinculado sua interpretação do artigo 225 desse mesmo diploma, mas também no art. 21,
XX, no art. 5o, XXIII, entre outros.

Portanto, não podemos desvincular o meio ambiente artificial do conceito de direito à sadia qualidade
de vida, bem como aos valores de dignidade humana e da própria vida, conforme já fizemos questão
de explicar. Todavia, podemos dizer, para fins didáticos, que o meio ambiente artificial está mediata e
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Unidade II

imediatamente tutelado pela CF. Mediatamente, como vimos, a sua tutela expressa-se na proteção geral
do meio ambiente, quando refere-se ao direito à vida no art. 5o, caput, quando especifica no art. 225 que
não basta apenas o direito de viver, mas também o direito de viver com qualidade; no art. 1o, quando diz
respeito à dignidade humana como um dos fundamentos da República; no art. 6o, quando alude aos direitos
sociais, e no art. 24 quando estabelece a competência concorrente para legislar sobre meio ambiente,
visando dar uma maior proteção a esses valores, entre outros. Assim, nesse diapasão, de modo didático
em relação ao meio ambiente artificial, poderíamos dizer haver uma proteção mediata. Reservaríamos a
proteção constitucional imediata do meio ambiente artificial aos artigos 182, 21, XX e 5o, XXIII.

Ao cuidar da política urbana, a CF/88, invariavelmente, acabou por tutelar o meio ambiente artificial.
E o fez não só voltada para uma órbita nacional como também para uma órbita municipal. Partindo do
maior para o menor temos o art. 21, inciso XX:

“Compete a União: [...]

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e


transportes urbanos.”

Tal competência da União terá por fim delimitar as normas gerais e as diretrizes que deverão nortear
não só os parâmetros, mas principalmente os lindes constitucionais da política urbana que os estados e
os municípios deverão possuir. Nesse caso diz tratar-se de uma política urbana macrorregional.

Todavia, em sede municipal, temos o artigo 182, da CF, que acaba por trazer a própria função da
política urbana, como se vê:

“A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes
gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade
e garantir o bem-estar de seus habitantes.”

Percebe-se que o próprio Texto Constitucional alude à existência de uma lei fixadora de diretrizes
gerais e, ademais, desde já, estabelece o verdadeiro objetivo da política de desenvolvimento urbano, qual
seja, o desenvolvimento das funções sociais da cidade e o bem-estar dos seus habitantes.

Invoca-se, de plano, que em sendo a cidade entendida como o espaço territorial onde vivem os
seus habitantes, que inclusive o direito de propriedade deverá ser limitado, no exato sentido que deverá
atender às suas funções sociais, como bem esclarece o art. 5o, XXIII, da própria CF. Na verdade, o que
ocorre é que em sede de direito à vida, que é o sentido teológico dos valores ambientais, matriz e nuclear
de todos os demais direitos fundamentais do homem, não há que se opor outros direitos. Ao revés, todos
os demais direitos surgem da própria essência do estar vivo. Exatamente porque relacionado com o
objetivo maior – vida – a tutela do meio ambiente – onde se insere o artificial – há que estar acima de
quaisquer outras considerações a respeito de outras garantias constitucionais como: desenvolvimento,
crescimento econômico, direito de propriedade etc. Isso porque, pelo óbvio, aquela é a essência e
pressuposto de exercício de qualquer direito que possa existir e, nesse ponto, a tutela ambiental, por
possuir a função de instrumentalizar a preservação de tal direito, deve, inexoravelmente, sobrepor-se
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aos demais. Aduz-se, por exemplo, essa conclusão, quando de uma rápida leitura do artigo 170, que
coloca a proteção ao meio ambiente como princípio da ordem econômica, ou ainda, mais expressa e
diretamente, quando no artigo 5o, XXIII, atrelado à proteção do direito à vida estabelecido no caput,
determina que a propriedade deverá atender a sua função social.

Com relação ao artigo 182, podemos desde já destacar que não se trata simplesmente de uma regra de
desenvolvimento urbano, mas também de estabelecer uma política de desenvolvimento, ou seja, assume
fundamental importância na medida que deve estar em perfeita interação com o tratamento global
reservado ao meio ambiente e a defesa de sua qualidade. Destarte, significa ainda que o desenvolvimento
urbano deverá ser norteado por princípios e diretrizes que orientem a sua consecução, ou seja, por se
tratar de matéria afeta ao meio ambiente, são esses, e não outros princípios, que deverão nortear sua
implementação. Aliás, outro não é entendido quando de uma análise dissecada da norma in baila.

Dois são os objetivos da política de desenvolvimento urbano:

a) Pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade.

b) Garantia do bem-estar de seus habitantes.

a) Em se tratando de desenvolvimento, que há de ser pleno, das funções sociais da cidade devemos
nos reportar, inicialmente, ao art. 5o, caput, quando estabelece que todos possuem direito à vida,
segurança, liberdade, igualdade e prosperidade; e, posteriormente ao art. 6o, da CF, que estabelece
e garante a todos os direitos sociais à educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, previdência
social, maternidade, infância, assistência aos desempregados, entre outros; e por fim, ao art. 30,
VIII, que diz ser competência do município, no que couber, o adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano.

Tudo isso, ligado ao fato de que possui o município a competência suplementar residual (art. 30, I e
II) em face das matérias estabelecidas no artigo 24, I, V, VI, VII, VIII, XII, XV, nos faz notar que a função
social das cidades está ligada às normas citadas anteriormente e, portanto, ao próprio artigo 225, de
forma que o direito à vida com saúde, lazer, segurança, infância, a possibilidade de maternidade, direito
ao trabalho, direito à propriedade etc., devem ser condições sine qua non da própria existência da
cidade. O não atendimento desses valores implica em dizer que a cidade não cumpre o seu papel. Em
um sentido reverso, podemos ressaltar que, por se tratar de uma obrigação do Poder Público, a execução
desse programa de desenvolvimento urbano, como bem diz o artigo 182, é um direito da coletividade
municipal. O desatendimento desses preceitos implica em impor-se ao Poder Público a responsabilidade
que daí decorre. Apesar da inequívoca conclusão a que chegamos, isso não elide o dever também da
coletividade de preservar e defender o meio ambiente urbano, já que tal regra é orientada pelo artigo
225 e assume o caráter de norma geral.

b) Com relação à garantia do bem-estar dos seus habitantes, vale gizar que tal finalidade e objetivo da
política de desenvolvimento urbano assumem o papel de um plus em relação ao desenvolvimento
da função social das cidades. Isso porque não basta simplesmente que o Poder Público, na execução
da referida política, alcance os ideais elencados no parágrafo anterior, mas que, principalmente,
33
Unidade II

esses valores traduzam e alcancem em relação aos seus habitantes o patamar elevado de bem-
estar. Percebe-se que, com isso, não se cria um limite fixo de direito ao lazer, à saúde, à segurança,
etc.; justamente porque é tudo isso somado à sensação de bem-estar de seus habitantes. Não
procede qualquer crítica ao conceito jurídico indeterminado, justamente porque a sua função
é de buscar um plus na execução da política urbana. Ao não se criar um patamar mínimo de
garantia de valores sociais, está se exigindo, sempre, de forma permanente, a busca pelo Poder
Público desses valores sagrados à coletividade. Outra consideração não menos importante diz
respeito ao uso do termo habitante que agrega só aquele que é domiciliado ou residente na
cidade, mas a qualquer indivíduo que esteja naquele território.

O conceito de meio ambiente é, de certa forma, impreciso, visto que requer um conjunto de
elementos não se resumindo apenas ao aspecto da Ecologia (strictu sensu), mas envolvendo outros
como o ambiente do trabalho e o da cultura, daí a razão dessa classificação ser tão usada. Vale acentuar
também a crítica feita pelos doutrinadores acerca da palavra “meio ambiente”, pois seria a união de dois
termos com o mesmo significado “aquilo que nos circunda”. A maioria entende que é assim, pois sequer
causa uma ênfase diante desse pleonasmo proposital. A classificação fica assim:

*meio ambiente natural;

*meio ambiente artificial;

*meio ambiente cultural;

*meio ambiente do trabalho;

*meio ambiente genético ou patrimônio genético.

MÓDULO 7 – SAÚDE, VIDA, EDUCAÇÃO E COESÃO SOCIAL

Saúde

O progresso das ciências da saúde responde, em todos os países, pelo aumento da expectativa
de vida. Segundo a OMS, as taxas de mortalidade, mesmo nos países em desenvolvimento, vêm
declinando significativamente. Nesses países, a expectativa média de vida, que era de 62 anos
em 1990, alcançará em 2020 a faixa de quase 70 anos. Também para 2020 prevê-se que o Brasil
estará entre os 10 países com maior proporção de idosos. Mas há uma questão ética implícita
no delicado contexto da saúde pública. Não podemos analisá-la somente com dados e projeções
estatísticas. Enquanto uns chegam a uma velhice saudável, outros ainda morrem de fome ou de
doenças facilmente controláveis. Nos Estados Unidos, por exemplo, o país mais rico do mundo,
aproximadamente, 40 milhões de pessoas ainda não têm assistência médica. Estabelece-se uma
situação moralmente inaceitável.

34
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Vida

A Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1990, criou um novo método denominado de
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, o qual corresponde às análises das condições de vida de
uma população. Nesse contexto, um dos indicadores sociais que reflete boa condição de vida de uma
população está na expectativa de vida, que corresponde ao número médio de anos que a população de
um determinado país espera viver, mas também pode ser analisado em níveis mais particulares, como
de um município, por exemplo.

De acordo com a expectativa de vida de uma população pode-se saber a qualidade de vida das pessoas,
isso fica evidente porque uma sociedade que possui bons rendimentos, aquisição ao conhecimento,
saneamento ambiental, saúde de qualidade e habitação tende a ter uma expectativa de vida maior.

De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2009, a esperança
de vida ou expectativa de vida dos brasileiros é, em média, de 72,8 anos; essa média varia segundo o
sexo, a média de vida das mulheres é de 76,7 anos e de homens é 69,1. A expectativa de vida no Brasil
passa por um período de ascensão constante, no entanto, é superado em relação aos países centrais. O
Japão possui uma média de 82,5 anos; França, 81,5; Suíça, 81,5; Suécia, 81 anos. O Brasil é superado até
mesmo por países menos desenvolvidos economicamente como a Argentina, 75 anos.

A expectativa de vida pode variar de acordo com a classe social, ou seja, quanto melhor o rendimento
maior será a esperança de vida, enquanto que a classe de baixa renda detém taxas bem inferiores em
relação aos de alto poder aquisitivo.

Educação

Se tantas indagações ficam sem resposta quando tratamos do emprego, outras muitas também
persistem quando falamos da educação no Brasil. Não apenas a educação que oferecemos em nossos
bancos acadêmicos. Não apenas a educação formal, em todos os seus níveis, mas também aquela voltada
para o exercício da cidadania e que se adquire por meios amplos e difusos: na escola, no convívio social,
na família, no trabalho. A educação, para a universidade contemporânea, deixou de ser apenas uma
rotina interna. Tornou-se um alvo permanente a ser contemplado no espectro nacional de políticas
públicas – e para receber continuamente os frutos dos nossos estudos específicos e da nossa reflexão.

Aqui chegamos a outra prioridade social. A educação é o único valor que tem presença simultânea
entre os direitos e os deveres de cada indivíduo. Todos os homens merecem o benefício da instrução e,
uma vez instruídos, devem obediência às regras fulcrais da cidadania: a solidariedade, o respeito pelo
outro, a obrigação de ser útil.

Coesão social

O desenvolvimento econômico sustentável deixou se ser uma bandeira de ecologistas sonhadores


para ser um conceito importante nas comunidades. Ele pressupõe a preocupação não só com o presente,
mas com a qualidade de vida das gerações futuras, protegendo recursos vitais, incrementando fatores
35
Unidade II

de coesão social e equidade, garantindo um crescimento econômico amigo do meio ambiente. É o


desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.

A sustentabilidade assenta-se em três dimensões essenciais: o desenvolvimento econômico, a


coesão social e a proteção ambiental. A sustentabilidade econômica é um conjunto de medidas que visa
à gestão mais eficiente dos recursos naturais de forma a garantir sua exploração sem colocar em risco
o seu esgotamento. A sustentabilidade sociopolítica é a humanização da economia e, ao mesmo tempo,
do desenvolvimento do tecido social nos seus componentes humanos e culturais.

A sustentabilidade ambiental consiste na capacidade que o ambiente natural tem de manter as


condições de vida, levando em conta a habitabilidade, o meio ambiente e a sua função como fonte de
energias renováveis. Mesmo com os avanços obtidos na economia, o mundo atual ainda está enfrentando
grandes desafios: o meio ambiente continua deteriorando-se, os desastres naturais e os causados pelo
homem são mais frequentes, alguns recursos naturais se aproximam do esgotamento, o hiato entre ricos
e pobres, entre nações desenvolvidas e não desenvolvidas, continua crescendo.

Condições materiais de existência

Em 1859, apareceram dois livros que, até nossos dias, são referências para as discussões científicas,
da sociedade e da natureza: “Para a crítica da economia política” (em junho), de Karl Marx, e “A
origem das espécies” (24 de novembro), de Charles Darwin, autor nascido em 12 de fevereiro 1809.
O livro do alemão, que quase uma década depois teria continuidade com “O Capital”, não teve pronta
repercussão. Mas o do inglês foi um marco imediato nas ciências naturais e, comenta-se, teve sua
primeira edição esgotada em 24 horas. Gigantes do pensamento do século XIX, Marx e Darwin tinham
compromissos de classe diferenciados. O primeiro abraçou a causa socialista e a luta do proletariado. O
segundo, integrante da classe dominante inglesa, abastado, investidor em ferrovias, convivendo com
o clero e com a aristocracia, evitava os debates políticos públicos. Os dois respeitavam-se, contudo,
como cientistas que desejavam “sinceramente a ampliação do saber e, a longo prazo, é certo que isso
contribuirá para a felicidade da humanidade”, como escreveu Darwin na sua única carta conhecida
endereçada a Marx.

Marx escreveu para a crítica da economia política após 15 anos de investigação científica. Era
sua intenção elaborar uma grande obra econômica, que seria publicada em fascículos. O primeiro
seria essa obra. No entanto, em vez dos fascículos seguintes, publicou, em 1867, “O Capital”, em que
voltou a expor as teses fundamentais desse “fascículo”. No prefácio da obra de 1859, Marx expôs,
sucintamente, pela primeira vez, a sua teoria materialista da história, afirmando que “na produção
social da sua vida, os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua
vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das
suas forças produtivas materiais.

O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e
espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social
que determina a sua consciência. Em uma certa etapa do seu desenvolvimento, as forças produtivas
materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é
36
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até
aí movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, essas relações transformam-se em
grilhões das mesmas. Ocorre, então, uma época de revolução social. [...]

Uma formação social nunca decai antes de estarem desenvolvidas todas as forças produtivas para
as quais é suficientemente ampla e nunca surgem relações de produção novas e superiores antes de
as condições materiais de existência delas terem sido chocadas no seio da própria sociedade velha. Por
isso, a humanidade coloca sempre a si mesma apenas as tarefas que pode resolver, pois que, a uma
consideração mais rigorosa, verificar-se-á sempre que a própria tarefa só aparece onde já existem, ou
pelo menos estão no processo de formar-se, as condições materiais da sua resolução. Nas suas grandes
linhas, os modos de produção asiático, antigo, feudal e, modernamente, o burguês, podem ser designados
como épocas progressivas da formação econômica e social. As relações de produção burguesas são a
última forma antagônica do processo social da produção, antagônica não no sentido de antagonismo
individual, mas de um antagonismo que decorre das condições sociais da vida dos indivíduos; mas
as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as
condições materiais para a resolução desse antagonismo. Com essa formação social encerra-se, por
isso, a pré-história da sociedade humana”. Trata-se de uma visão nova, revolucionária, sobre a história,
que abrange as relações sociais e políticas e os modos de organização da vida econômica. É o método
dialético aplicado à história.

MÓDULO 8 – DIVERSIDADE CULTURAL E MEIO AMBIENTE

A maior parte das sociedades contemporâneas é multiétnica e multicultural. Isso significa que
se caracterizam por uma enorme variedade de identidades simbólicas e expressivas. Essa afirmação
também se aplica às novas nações latino-americanas que se formaram a partir da expansão comercial
europeia do século XVI, quando culturas milenares e radicalmente distintas foram protagonistas do que
se constituiu em uma das mais extraordinárias e trágicas experiências de encontro de civilizações da
história da humanidade.

Assim, os povos que vieram a formar o Novo Mundo se confrontaram com uma enorme diversidade
de referências para definir os seus modos de inserção em suas sociedades e os seus modelos de vida.
Hoje é perfeitamente visível o diversificado mosaico cultural que, nos últimos quinhentos anos, formou-
se nas Américas, resultante da grande variedade de experiências e de realizações humanas produzidas
por esses povos. Baseia-se na sua história, nas suas tradições e seus idiomas, na sua criatividade e
singularidade envolvendo por igual o que se costuma designar como cultura erudita e cultura popular.

O panorama social e político contemporâneo das Américas estão dominados por demandas de
reconhecimento público de múltiplas expressões simbólicas, frequentemente traduzidas na afirmação de novos
e velhos direitos de cidadania, cuja natureza varia do reconhecimento das raízes étnicas, religiosas e culturais
de grupos específicos – como os indígenas ou os descendentes de imigrantes – até a valorização dos legados
materiais e imateriais deixados como herança identitária dos grupos formadores das sociedades nacionais.
Expressão da construção social de sentido dos modelos de vida que os povos adotam em sua trajetória,
a cultura realiza-se por um movimento permanente de mutação. Por isso, se a diversidade cultural é um
componente fundamental da história da maior parte dos latino-americanos, submetendo-os a uma intensa
37
Unidade II

troca de perspectivas de vida, ela também envolve um processo constante de construção e reconstrução
das suas identidades. Isso significa que o fenômeno da cultura não existe fora dos contextos em que
se produzem as identidades que são o seu substrato mais profundo, é uma referência às condições de
possibilidade do próprio modo como o autorreconhecimento e a criatividade dos povos forjam modelos
alternativos de vida. No entanto, devido a uma série de fatores como a mundialização da cultura, a
discussão passou por dois desdobramentos contraditórios. Por uma parte, é como se o mundo tivesse
ingressado em um processo de ampla atenuação das diferenças culturais, como se os povos estivessem
sendo confrontados.

Esse fato levou alguns autores a considerarem que o fenômeno da variação entre as culturas estivesse
se suavizando por um processo que tenderia a tornar mais pálidas as diferenças entre os povos. É como
se os povos entrassem em um processo de relativa homogeneização cultural, como se o que contasse
agora fosse a tendência de reconhecer exclusivamente os valores da própria cultura que, ao mesmo
tempo, estimula o ressurgimento de formas novas de etnocentrismo.

O desenvolvimento sustentável e os problemas ambientais

Em qualquer sociedade, a garantia de um desenvolvimento sustentável deve levar à definição de uma


estratégia a qual poderá ter como base a orientação: Os recursos mundiais devem ser geridos com o
objetivo de ir ao encontro das necessidades de gerações atuais sem pôr em risco as de gerações futuras.

Os fatores limitativos do desenvolvimento sustentável são, por um lado, a taxa de crescimento da


população humana, gerando problemas de alimentação e água. No âmbito das pescas verificam-se
limitações em nível da capacidade de renovação das espécies. A falta de água poderá condicionar o
desenvolvimento no futuro, sendo a dessalinização da água do mar uma opção, provavelmente cara
para o terceiro mundo. A utilização de recursos energéticos tem aumentado mundialmente devido ao
incremento da industrialização. Alguns países industrializados implementaram políticas conducentes
ao uso racional da energia, mas com crescentes consumos. Países em desenvolvimento devem tomar
medidas mais rigorosas para maior poupança. Por outro lado, devem ser desenvolvidos esforços para
minimizar os efeitos nocivos ao ambiente, devendo ser incentivada a florestação. Tem-se verificado
uma redução significativa da área total florestal com crescente utilização das florestas tropicais além de
danos ambientais ocorridos em florestas do Hemisfério Norte.

A deflorestação gera a extinção de espécies vegetais e animais. Cerca de 140 a 150 espécies
desaparecem diariamente cujas consequências ecológicas são desconhecidas, bem como as respectivas
potencialidades de utilização. O meio ambiente não é um bem corpóreo, na verdade, a água, o solo, o
ar, a fauna, a flora, os ecossistemas e os monumentos de valor histórico-cultural, são em sua maioria os
elementos corpóreos que compõem o meio ambiente.

Segundo Álvaro Luiz Valery Mirra, o meio ambiente “para o nosso direito, é um conjunto de relações
e interações que condiciona a vida em todas as suas formas. É, pois, essencialmente incorpóreo e
imaterial”. Referidos bens ambientais, possuem conceitos e regimes jurídicos próprios, e normalmente
são regidos por uma legislação particular, contudo, quando se pretende resguardar referidos bens, o
objetivo é proteger o meio ambiente como um todo e não o elemento em si.
38
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Tais elementos corpóreos e incorpóreos são vistos e considerados não de forma individual, mas como
integrantes de uma cadeia, de forma a manter o equilíbrio ambiental, assim, quando da ocorrência de um
dano, esse poderá atingir mais de um bem ambiental. O bem difuso, por possuir natureza transindividual,
não possui titulares determinados, porém estão ligados por circunstâncias de fato.

Assim, podemos concluir que o meio ambiente não constitui bem público, pois todos são titulares
de referido direito, o qual se reporta a toda a uma coletividade de pessoas indeterminadas. “Quando o
texto constitucional aí se refere a patrimônio público, significa o conjunto de bens de propriedade
estatal, os bens públicos, nos quais não está inserido o meio ambiente. Esse tem titularidade difusa,
não estatal”.

Conforme nos instrui o ilustre jurista Celso Antonio Pacheco Fiorillo: “O bem ambiental é, portanto,
um bem que tem como característica constitucional mais relevante ser essencial à sadia qualidade de
vida, sendo ontologicamente de uso comum do povo, podendo ser desfrutado por toda e qualquer
pessoa dentro dos limites constitucionais”. Cabe asseverar, ainda, que embora o artigo 20, incisos III, IV,
V e VI; e artigo 26, incisos I, II, e III, da Constituição Federal disponha pertencer à União ou aos Estados,
determinados bens ambientais tais como: lagos, rios, ilhas fluviais, mar territorial, entre outros, a verdade
é que com o advento da Lei Federal 8.078, de 1990, referidos bens, que antes possuíam natureza pública,
passaram a ter natureza difusa. Diante de tais alterações, passou a caber aos entes federados a função
de gestores de determinados bens ambientais, os quais pertencem ao povo.

Assim, por força do art. 23, estão todos os entes federados autorizados a atuar em defesa do meio
ambiente, independentemente da titularidade do bem ambiental lesado. Mais do que da União, dos
Estados e dos Municípios, os bens ambientais são de natureza difusa commune omnium, ou seja, busca-
se, assim, tutelar o patrimônio comum de todos e não o patrimônio de determinada pessoa jurídica de
direito público.

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Unidade II

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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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