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RESPONSABILIDADE CIVIL
PELO DANO AMBIENTAL
dia"? Quanto a essa constatação, não há longas digressões, pois o fenômeno vem
necessidade de perda de tempo com sendo bem documentado em toda parte
e é por todos reconhecido, mesmo por
fenômeno da "era tecnológica ou pós-
aqueles que se opõem a uma interven-
industrial" (Jorge Mosset Iturraspe, ção mais incisiva do Direito (rectius, do
Respollsabilidad por Danos: Respollsa- Estado) na matéria.
bilidad Colectiva, Santa Fé, Rubinzal- Nos vários países, sem exceção, vê-
Culzoni, 1992, p. 139). Entretanto, na sua
tríplice caracterização como fato natural (a
se claramente que os custos ambientais
degradação do meio ambiente), como preo- das variadas atividades humanas conti-
cupação científica e como manifestação nuam crescendo. 3 Não é de estranhar,
ético-filosófica (a natureza idealizada), o portanto, que, na medida em que se
ambientalismo não é cria do século XX, aproxima o terceiro milênio, a preocu-
dado este que, às vezes, não vem bem pação com o meio ambiente acabe por
expressado na doutrina jurídica. Nessa assumir extraordinária importância. 4
linha, é mesmo "errôneo crer-se que os
problemas do meio ambiente constituem Nesse campo, curiosa a trajetória do
uma nova preocupação" (E. Cerexhe, Direito e dos seus implementadores. Na
DiscOllrS, in Les Aspects Juridiques de evolução recente da civilização ociden-
L'Environnement - Actes du Colloque de tal, coube aos tribunais, tanto quanto ao
la Section belge de I'Institut International
de Droit d'expression française, Namur, legislador, assegurar a manutenção de
Presses Universitaires de Namur, 1975, p. um modelo de crescimento econômico
5), embora, inegavelmente, tenha, nos agressivo, caracterizado por uma total
últimos tempos, adquirido "novas dimen- ausência de maior zelo com o meio
sões, qualitativa e quantitativamente" (R. ambiente. Hoje, os mesmos juízes são
O. Dalcq, La responsabilité civile et penale conclamados, pelo legislador - inclusive
du pollueur, in Les Aspects Juridiques de
L'Environnement ... cit., p. 37-38), por isso
despertando, em reação, atenção mais mesma linha, Brooks também assinala que
cuidadosa do Direito. "o final do século XIX e o começo do
século XX estavam repletos de sérios
Os países que primeiro sediaram a
problemas de poluição" de origem indus-
Revolução Industrial deram ao século XIX
trial (Richard O. Brooks, Responses to
exemplos bem conhecidos de grave polui-
Robert L. Rabin, in Houston Law Review,
ção - consequência da crescente industri-
alização e urbanização -, sendo seus efei-
v. 24, 1987, p. 54).
tos perfeitamente identificados e lamenta- (2) Édis Milaré, Curadoria do Meio-Ambiente,
dos, embora não enfrentados numa pers- São Paulo, APMP, 1988, p. 17.
pectiva jurídica autonôma. Cabe recordar (3) A observação não é de agora. Já em 1972,
que, muito antes dessa época, a destruição a Declaração de Estocolmo, em seu preâm-
de florestas e a degradação do solo, pela bulo, assim se manifestava: "Vemos a
exploração agrícola, madereira e minerária, nossa volta evidência crescente da dano-
já punham em risco a existência de povos sidade produzida pelo homem em muitas
e civilizações (os Maias, p. ex., para regiões da Terra: níveis perigosos de
ficarmos apenas nas Américas). poluição na água, ar, solo e seres vivos;
Escrevendo na segunda metade do grandes e indesejáveis distúrbios do equi-
século XIX, Herbert Spencer, em obra líbrio ecológico da biosfera; irreparáveis
jurídica de caráter geral, denunciava certas destruição e perda de recursos; e graves
"viciações da pureza do ar, como a dos deficiências prejudiciais à saúde física,
odores mefíticos de certas indústrias, a dos mental e social do homem, particularmente
vapores perniciosos de vários produtos no meio ambiente construído, mais ainda
químicos e da fumarada que sai das cha- naquele em que vive e trabalha".
minés das fábricas" (Herbert Spencer, A (4) Fritjof Capra, The Web of Life: A New
Justiça, versão de Augusto Gil, Lisboa, Synthesis of Mind and Matter, London,
Livrarias Aillaud e Bertrand, p. 97). Na Flamingo, 1997, p. 3.
DOUTRINA 7
mental dentro do sistema de tutela qualquer opção viável que lhe seja
ambiental",22 observando-se, inclusive, superior. Resta-nos, pois, o inevitável
uma visível efervecênscia doutrinária em situações desse tipo: na falta de um
em relação ao tema. 23 Se o regime for melhor mecanismo, a solução é mesmo
rigoroso e implementável, não há razão procurar aperfeiçoar aqueles que temos.
para que deixe de integrar a pauta de Aqui, parafraseando Winston Churchill
uma boa política ambiental. A propósi- quando se referia à democracia,25 pode-
to, é exatamente nessa sua função que mos alegar que a responsabilidade civil
a responsabilidade civil é associada pelos é a pior resposta que o Direito Privado
economistas ambientais ao princípio pode dar às vítimas da degradação
polui dor-pagador, seja na sua pretensão ambiental, até considerarmos as alter-
reparadora, seja na sua missão incitadora nativas.
(= preventiva), estimulando os agentes
Não nos esqueçamos, por último, que
econômicos a buscarem formas menos
não basta superar os desafios de fundo
perigosas para o exercício de sua ativi-
da responsabilidade civil, sem fazermos
dadeY ajustes nos setores jurídicos encarrega-
Claro, como em tudo, há sempre uma dos de sua implementação judicial.
pequena minoria de saudosistas - sau- Mesmo que resolvêssemos todas as
dade que, frequentemente, tem sua le- dificuldades teóricas do instrumento,
gitimidade científica turbada pelo intui- expurgando o modelo clássico que
to disfarçado de negar justiça às vítimas herdamos de suas incompatibilidades
dos danos ambientais, favorecendo, com a sociedade complexa em que
assim, uma abonada clientela de degra- vivemos, ainda assim estaríamos à mercê
dadores. São os que preferem ver a dos óbices próprios da máquina judiciá-
responsabilidade civil distante da con- ria. Nunca será motivo de celebração
flituosidade ambiental, sob o argumento um processo que leve uma década para,
de que o perfil do instituto não lhe em definitivo, resolver uma demanda
permite adequadamente manusear esses ambiental coletiva26 ou que, mesmo
tipos de danos. Não sugerem, contudo, mais rápido, negue, pela via da legiti-
mação para agir, o acesso à necessária
(22) Gabriel A. Stiglitz, EI dano ai medio tutela judicial. Imprescindível, em mo-
ambiente en la Constitución nacional, in vimento sincronizado com a reforma da
Alberto Jesus Bueres e Aída Kemelmajer responsabilidade civil, adaptar o sistema
de Carlucci (directores) Responsabilidad processual aos novos tempos, idéias e
por Danos en el Tercer Milenio: Homenaje exigências. 27
ai Profesor Doctor Atilio Aníbal Alterini,
Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1997, p.
318. 4. Necessidade de um regime especial
(23) Xavier Thunis, Le droit de la respollsa- para a responsabilidade civil pelo
bilité, instrument de protection de dano ambiental
I' environnement. Réflexions SUl' quelques
Tendances Récentes, in L 'Actualité du
Droit de L'Environnement: Actes du Analisada a questão da conveniência
Colloque des 17 et 18.11.1994, Bruxelles, ou não da incorporação da responsabi-
Bruylant, 1995, p. 262-263.
(24) Hélene Trudeau, La responsabilité (25) Discurso proferido no Lord Mayor's Day
statutaire du pollueur au Québec, in Ejan Luncheon, Londres, em 10.11.1942.
Mackaay e Hélene Trudeau, L'Envil'On-
nement - À Quel Prix?, Montréal, Éditions (26) Robert L. Rabin, art. cit., p. 38.
Thémis, 1995, p. 123. (27) Xavier Thunis, Le droit ... cit., p. 264.
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Claro que, aqui e ali, mais nesse ou falta ainda, por definição, qualquer
naquele modelo jurídico, eram lembra- dano",4o a evolução, cujas raízes são
das outras funções, secundárias ou au- anteriores ao Direito Ambiental, não foi
xiliares, como o estímulo à prevenção nada fácil. Olhando para esse quadro
de danos futuros e o envio de uma certa clássico, não é de admirar que a mais
mensagem expiatória. dura objeção à tutela civil do ambiente,
Na proteção do meio ambiente, o em particular à responsabilidade civil,
instituto vê suas finalidades básicas seja exatamente "sua escassa virtualidade
mantidas, mas certamente redesenhadas, preventiva".41
passando a prevenção (e, pelas mesmas Mesmo tendo entre seus pressupostos
razões, até o caráter expiatório) a um o dano causado, pode-se perfeitamente
posição de relevo, pari passlt com a falar num "efeito difuso de prevenção",
reparação. Percebe-se, então, que além até na responsabilidade civil objetiva,
de olhar para trás (juízo post factum), "uma vez que os sujeitos do ordenamen-
a responsabilidade civil agora tem o to tenderão, naturalmente, a evitar situa-
cuidado de não perder de vista o que ções em que se multipliquem as hipó-
vem pela frente. Vai, pois, além da teses de riscO".42 Fácil observar-se, aqui,
simples (!) reparação da danosidade um resultado preventivo indireto, pois a
passada (limpeza de sítios contamina- condenação do réu serve, além da com-
dos por substâncias tóxicas, p. ex.) para pensação da vítima, para encorajar outros
atacar, de uma só vez, também a dano- em situação a ele similar a tomar as
sidade potencial. Ou seja, trabalha já cautelas necessárias, evitando, dessa
não mais somente no domínio estreito maneira, futuros danos. 43 Se na ortodo-
do dano como fato pretérito, mas inclui xia da técnica reparatória ambiental o
a preocupação com custos sociais que lema é quem contamina paga (princípio
possam ocorrer no futuro. 37 poluidor-pagador), na prevenção - ob-
jetivo maior do Direito Ambiental e da
A doutrina, unanimemente, aponta a moderna responsabilidade civil - passa
prevenção como objetivo prioritário à a ser não contamine. 44
reparação, uma conquista da contempo-
rânea teoria da responsabilidade civil?
(40) António Menezes Cordeiro, Direito das
pois já não basta reparar, mas fazer Obrigações, 2 V., Lisboa, Associação
cessar a causa do mal: "um carrinho de Acadêmica da Faculdade de Direito de
dinheiro não substitui o sono recupera- Lisboa, 1990, p. 276-277.
dor, a saúde dos brônquios, ou a boa (41) Ramón Martin Mateo, Tratado de Dereeho
formação do feto".39 Como "a respon- Ambiental, v. I, Madrid, 1991, p. 172.
sabilidade civil visa, em essência, a (42) António Menezes Cordeiro, Ob. cit., p.
reparação dos danos" e "na prevenção 277 e 278.
(43) Robert E. Litan, Peter Swire and Clifford
Winston, The V.S. Liability System:
tro de Estudos Judiciários, Lisboa 1996,
baekgrO//lld and trends, in Robert E.
p. 399-398. Litan and Clifford Winston (editors),
(37) Bruce A. Larson, Environmental Poliey Liability: Perspeetives and Poliey, Wa-
baseei Oll striet liability: Implieations of shington, The Brookings Institution, 1988,
lIneertainty and bank/'llptey, in Land p. 3.
Economics, v. 72, n. I, febr. 1996, p. 33. (44) Atilio Aníbal Alterini e Roberto M. López
(38) Gabriel A. Stiglitz, El dano ... eit., p. 320. Cabana, Dano Eeologieo y Realidad
(3~) Paulo Affonso Leme Machado, Direito Eeollomiea, in Atilio A. AIterini e Roberto
Ambiental Brasileiro, São Paulo, Malhei- M. López Cabana, Temas de Responsa-
ros, 1995, p. 231-232. bilidad ... cit., p. 209.
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lumbradas outras soluções, além das três que mais eficientemente reduzem seus
que são bem conhecidas de todos: a) riscos ambientais, com isso diminuindo
converter os prejuízos em reparação, os acidentes e incidentes contra o meio
obrigando o degradador a arcar com ambiente.
seus custos; b) deixar o dano ali mesmo Finalmente, ao obrigar o poluidor a
onde se processou, respondendo a víti- incorporar nos seus custos o preço da
ma, e só ela, pelos seus custos; c) degradação que causa - operação que
repartir o dano entre vítima e autor. 49 O decorre da incorporação das externali-
Direito moderno optou pela primeira dades ambientais e da aplicação do
técnica, pois é a única que leva à princípio poluidor-pagador - a respon-
incorporação das externalidades ambien- sabilidade civil proporciona o clima
tais. Como muito bem nota Leme político-jurídico necessário à operacio-
Machado, a degradação ambiental "aca- nalização do princípio da precaução,
ba sendo uma apropriação pelo polui dor pois prevenir passa a ser menos custoso
dos direitos de outrem, pois na realidade que reparar.
a emissão poluente representa um con-
fisco do direito de alguém em respirar
ar puro, beber água saudável e viver 6. Bases principiológicas da respon-
com tranqüilidade".50 Não havendo a sabilidade civil ambiental: os prin-
internalização, o custo deixa de ser cípios da precaução, do poluidor-
comercial e se transforma em social, pagador, do usuário-pagador e da
tanto quanto evita refletir no preço final reparação integral
dos produtos e serviços fornecidos e
repercute sobre a comunidade ou sobre Uma das justificativas para a cons-
alguns de seus setores. 51 Ao permitir que tituição de um regime diferenciado (=
os degradadores deixem de pagar pelas fragmentado) para a responsabilidade
consequências de suas atividades, as civil pelo dano ambiental reside no fato
opções b) e c), em verdade, determinam de que a proteção do meio ambiente é
que a coletividade subsidie, com perda informada por uma série de princípios
de saúde e qualidade ambiental, as que a diferenciam na vala comum dos
atividades produtivas. 52 conflitos humanos.
Adicionalmente, de novo com os O primeiro deles, princípio da pre-
olhos postos no futuro, a responsabili- caução, já escrevemos em outro mo-
dade civil ambiental, como decorrência mento,53 responde a uma pergunta sim-
de suas outras funções acima mencio- ples mas chave para o sucesso ou o
nadas, estimula as atividade econômicas insucesso de uma ação judicial ou
política de proteção do meio ambiente:
(49) Carlos Maria Clerc, La responsabilidad
diante da incerteza científica quanto à
en el Derecho Ambiental, in Eduardo A. periculosidade ambiental de uma dada
Pigretti et alii, La Responsabilidad ... cit., atividade, quem tem o ônus de provar
p. 72. sua ofensividade ou inofensividade? O
(50) Paulo Affonso Leme Machado, Ob. cit., proponente ou o órgão público/vítima?
p. 231-232.
(51) Atilio Aníbal Alterini e Roberto M. López (53) Antônio Herman V. Benjamin, Objetivos
Cabana, DaFío Ecologico y Realidad ... do Direito Ambiental, in Lusíada - Re-
cit., p. 207. vista de Ciência e Cultura, série de direito,
(52) Thomas A. Campbell, The public trust número especial (Actas do I Congresso
doctrine, in Natural Resources Iournal, v. Internacional de Direito do Ambiente da
34, 1994, p. 75. Universidade Lusíada-Porto), 1996.
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significa que o polui dor deve assumir os com comerciantes que são forçados a
custos das medidas necessárias a garan- "pagar proteção" a sindicatos do crime
tir que o meio ambiente permaneça em com o propósito de evitar ataques en-
um estado aceitável, conforme determi- quanto conduzem sua atividade econô-
nado pelo Poder Público. 60 Em outras mica, legítima e legal. De modo asse-
palavras, o princípio determina que "os melhado, os não-usuários do recurso
custos da poluição não devem ser ex- comum são também obrigados a pagar
ternalizados", fazendo com que os pre- proteção ao Estado (via impostos) e a
ços de mercado "reproduzam a totalida- sujeitos intermediários (ONGs, p. ex.),
de dos custos dos danos ambientais tudo "para evitar perder o acesso ao
causados pela poluição - ou melhor, os recurso que originariamente era seu".63
custos da prevenção desses prejuízos. 61
Em derradeiro, na lista rápida dos
Por sua vez, o princípio usuário- princípios que influenciam o regime
pagador, partindo do princípio polui- jurídico da responsabilidade civil pelo
dor-pagador, estabelece que os preços dano ambiental, a Constituição Federal
devem refletir todos os custos sociais do consagra o princípio da reparabilidade
uso e esgotamento do recurso. 62 No integral do dano ambiental. 64 Por esse
sistema tradicional, a regra é aquele que princípio, são vedadas todas as formas
esgota um recurso comum não compen- e fórmulas, legais ou constitucionais, de
sar a coletividade que dele é titular; em exclusão, modificação ou limitação da
termos técnicos, temos aí um hipótese reparação ambiental, que deve ser sem-
de subsídio, que só pode ser evitada se pre integral, assegurnado proteção efe-
o usuário pagar pelo consumo do bem, tiva ao meio ambiente ecologicamente
que é de todos, incorporando, como se equilibrado.
dá com o princípio poluidor-pagador, tal
custo no preço final de seus produtos
e serviços. Ora, se o recurso é coletivo 7. O modelo tradicional de responsa-
e uns poucos o estão utilizando sem bilidade civil e os ajustes necessá-
qualquer compensação pelo seu esgota- rios para sua aplicação ao dano
mento ou uso, então a conta está sendo ambiental
coberta pelo público em geral. Pior,
preocupada com atuação irresponsável e No modelo clássico, a responsabili-
oportunista desses sujeitos, a coletivida- dade civil estava desenhada para situa-
de não só não é compensada pelo uso ções onde a equação conflitiva, tipica-
do bem, como ainda tem que suportar mente inter-subjetiva, operava no plano
as despesas com medidas destinadas a individual, um-contra-um ou Tício versus
protegê-lo. Aqui, perfeita a analogia Caio. 65 Sem uma cirurgia radical, paten-
te, então, que o dano ambiental, su-
ção Aplicável, São Paulo, Max Limonad,
1997, p. 121, grifo no original). (63) John A. Chiappinelli, art. cit., p. 586 e
(60) OECD, Guiding PrincipIes Coneming 587.
Intemational Economic Aspects of (64) Barreira Custódio, com a propriedade de
Ellvironmental Policies, in 11 LL.M 1172 sempre, também identifica na Constitui-
(1972). ção o princípio da reparação (Helita
(61) Mostafa K. Tolba et aUi, The World Barreira Custódio, Uma introdução ... cit.,
Environment 1972-1992, Two Decades of p. 78).
Challenge. London, Chapman & Hall, (65) Cf. Rodolfo de Camargo Mancuso, Açao
1992, p. 705. Civil Pública. 4." ed., São Paulo, Revista
(62) Mostafa K. Tolba et alU, Ob. cit., p. 706. dos Tribunais, 1996. p. 197.
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do-se o interesse de sujeitos intçrmediá- tais. Voltamos a esse ponto, porque aqui
rios; permissivo para o afastamento está o exato limite de qualquer sistema
integral da exigência de culpa;69 facili- reparatório, reconhecimento esse que,
tação da prova da causalidade (i~clusive forçosamente, leva a uma alteração das
com inversão do onus probandl); rede- prioridades do sistema jurídico, pulan-
finição do conceito de dano e instituição do, primeiro, da reparação para a pre-
de formas inovadoras para a sua liqui- venção e, segundo, da indenização para
dação; enxugamento das hipóteses de a restauração. Esses os termos do pacto
exclusão; modelagem peculiar para os pré-nupcial entre a responsabilidade civil
remédios reparatórios, enfatizando-se a e o sistema de comando-e-controle
reconstituição do bem lesado; um regi- ambiental: enquanto este continua a
me próprio para a prescrição e decadên- exercer sua função de estabelecer obri-
cia; seguro obrigatório ou mecanismo gações negativas e positivas (no
similar em algumas atividades perigo- licenciamento e no planejamento, p.
sas; facilitação do acesso à justiça para ex.), impondo a avaliação dos impactos
os prejudicados por danos ambientais; ambientais, determiando proibições ge-
instituição de fundos compensatórios de néricas (absolutas ou condicionais),
futuras vítimas; e multa civil, para estruturando padrões e instituindo pla-
nomear apenas alguns. nos de emergência,7° aquela, por seu
São ajustes que, se não exclusivos ao turno, mantém-se na retaguarda, como
campo ambiental, dele recebem um reserva legal pronta a atuar na hipótese
influxo carregado de urgência e com a de falha ou insuficiência da intervenção
marca da complexidade. Historicamen- estritamente pública.
te, o processo de "rigorização" (= adap- Antes de prosseguir, contudo, é
tação às novas necessidades) da respon- pertinente insistir sobre outro ponto
sabilidade civil, reação aos desafios acima já discutido: mesmo após tais
trazidos pela revolução industrial e tec- acertos de substância, o papel da res-
nológica, teve início muito antes da ponsabilidade civil será sempre comple-
crise ambiental. A objetivação da res- mentar (o que não quer dizer inferior)
ponsabilidade é um claro exemplo: ao esquema publicístico.?l De um lado,
avanço extraordinário (por isso ainda assim é em decorrência da priorização
considerada uma "deformação" jurídica que o Direito Ambiental confere à pre-
em certos países), mas que, confrontada venção. De outro, porque, no sistema
com a especificidade da danosidade privatístico de controle ambiental, o
ambiental, mostra-se insuficiente para agente retém o direito de conduzir a
garantir, sozinha, proteção apropriada atividade potencialmente poluidora, su-
ao meio ambiente. jeitando-se, entretanto, na hipótese de
Nenhuma dessas medidas, contudo, dano ocorrer, a reparar os danos cau-
supera o grande desafio que a natureza sados, individual ou coletivamente.
nos propõe: a irreversibilidade ou irre- Acrescente-se a esse quadro as conhe-
parabilidade de certos danos ambien- cidas dificuldades de acesso à justiça e
temos aí razões suficientes para não
(69) Ao contrário do que alguns ingenuamente esperarmos maiores benefícios sociais
imaginam, a transformação do regime da responsabilidade civil ambiental do
ortodoxo subjetivo em objetivo não dimi-
nuiu, como adiante veremos, as dificul-
dades procedimentais e de prova relativas (70) Peider Konz, art. cit..
à causalidade e ao próprio dano (John G. (71) Susan Rose-Ackerman, Oh. cit., p. 99-
Fleming, art. cit., p. 510). 101.
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que ela está habilitada a prover. De tudo Penal, alguns dos seus dispositivos
retiramos a seguinte síntese: a) a respon- propiciam uma certa proteção indireta
sabilidade civil, após acertos dogmáticos, do meio ambiente.
é um instrumento válido de proteção do O dano contra o meio ambiente é
meio ambiente; b) sua atuação nunca jogado na vala comum da responsabi-
será monopolizadora, mas condominal, lidade civil extracontratual, cujo cora-
incluída num bloco mais amplo de ção é o art. 159: "Aquele que, por ação
mecanismos de tutela ambiental; e, c) a ou omissão voluntária, negligência, ou
concretização de um bom sistema de imprudência, violar direito, ou causar
responsabilidade civil não ocorrerá só prejuízo a outrem, fica obrigado a re-
com incursões renovadoras no plano parar o dano".
substantivo ou, neste, apenas com a Além de fundar-se num sistema de
exclusção da exigência de culpa. O culpa, várias outras dificuldades de
processo civil, em última análise, guarda implementação são inerentes ao dispo-
no bolso a chave da porta dos fundos sitivo, quando da reparação do dano
do regime de reparação das vítimas de ambiental, como bem demonstra a
danos ambientais. magreza de precedentes judiciais ante-
riores à Lei n. 6.938/81. Como de
8. Evolução da responsabilidade civil maneira muito feliz acentua Édis Milaré,
pelo dano ambiental no Direito no sistema codificado, "a irresponsabi-
brasileiro: da irrelevância concre- lidade é a norma, a responsabilidade a
ta à constitucionalização explícita exceção".72
Em termos de sua eventual utilização
Quando nos debruçamos sobre a res- na proteção moderna do meio ambiente,
ponsabilidade civil pelo dano ambiental nem tudo é tão desanimador no regime
no Brasil, chama a atenção a velocidade de responsabilidade do Código Civil.
e profundidade das transformações sofri- Em verdade, se por um lado a exigibi-
das pelo instituto em pouco mais de sete lidade de comportamento culposo torna
anos, no período que vai de 24.07.1981 a responsabilização do degradador pra-
(Lei da Política Nacional do Meio ticamente impossível, por outro, a ado-
Ambiente) a 05.10.1988 (Constituição da ção do princípio da solidariedade entre
República Federativa do Brasil). Da os agentes causadores do dano - regra
absoluta ausência de previsão no Código esta que permanece eficaz, mesmo após
Civil, partiu-se para um sistema de tra- a promulgação da Lei n. 6.938/81 - em
tamento legal - direto, objetivo e com muito facilita a intervenção judicial cível
implementação judicial coletiva -, es- nesse campo.
quema esse que, logo em seguida, foi Também, aqui e ali, outras técnicas
elevado ao plano constitucional. de índole civilística, não obstante não
trazerem qualquer referência frontal ao
dano ambiental, funcionavam como li-
8.1 O Código Civil
nha auxiliar na tutela do meio ambiente,
em particular os direitos da personali-
O Código Civil brasileiro de 1916 dade e os direitos de vizinhança. Os
não cuida, específica e diretamente, do
meio ambiente, não havendo, em
consequência, regramento próprio e (72) Édis Milaré, Tutela jurídica do meio
diferenciado para o dano ambiental. ambiente, in Revista dos Tribunais, v.
Todavia, tal qual se dá com o Código 605, mar.l1986, p. 22.
DOUTRINA 23
litígios de vizinhança, não raro, trans- O art. 14, § 1.0, como se percebe, de
porta~am - .d~ forma pa~asi.tá~ia à. sua uma tacada só, rompeu duas pilastras de
descrIçãO tIpIcamente mdIvIdualIsta, sustentação do paradigma aquiliano-in-
própria do instituto - verdadeiros inte- dividualista: a) objetivou a responsabi-
resses ambientais de natureza coletiva. lidade civil;74 b) legitimou para a co-
Os tribunais, chamados a solucionar tais brança de eventual reparação o Minis-
problemas entre vizinhos, davam de tério Público, legitimação esta que, logo
frente com a danosidade ambiental, sendo em seguida, em 1985, pela Lei n. 7.347/
obrigados a sobre ela decidir. 85 (Lei da Ação Civil Pública)15 seria
ampliada,76 permitindo-se que a ação
8.2 A Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente: uma primeira abordagem (art. 18, I). E mais: "Nei casi di concorso
nello stesso evento di danno, ciascuno
Reagindo contra a comprovada insu- risponde nei limiti della propria respon-
ficiência da norma civil codificada, vi- sabilità individuale" (art. 18, 7).
sivelmente incapaz de, com um mínimo (74) E essa objetivação da responsabilidade
civil foi feita de maneira ampla e irrestrita,
de eficiência, responsabilizar o degrada- por assim dizer. Em outros ordenamentos,
dor ambiental, foi promulgada a Lei n. só é objetiva a responsabilidade quando
6.938/81 (Lei da Política Nacional do o dano ambiental for significativo e/ou a
Meio Ambiente) que, na trilha da sua ação que o causou esteja inserida numa
congênere norte-americana de 1970 atividade particularmente perigosa (o que
(NEPA - National Environmental Policy não seria o caso de alguém que põe
abaixo uma floresta, para citar uma das
Act), mas ampliando o campo de apli-
hipóteses cobertas pela Lei n. 6.938/81).
cação desta, instituiu, por dispositivo
Nessa linha, a Lei de Bases do
expresso, um novo regime para a res- Ambiente de Portugal (Lei n. 11/87, de 7
ponsabilidade civil pelo dano ambiental, de abril) dispõe que "Existe obrigação de
sob bases objetivas: Sem obstar a apli- indemnizar, independentemente de culpa,
cação das penalidades previstas neste sempre que o agente tenha causado danos
artigo, é o poluidor obrigado, indepen- significativos no ambiente em virtude de
dentemente da existência de culpa, a uma acção especialmente perigosa, muito
embora com respeito do normativo aplicá-
indenizar ou reparar os danos causados vel" (art. 41, n. 1). Trata-se de regulação
ao meio ambiente e a terceiros, afetados "não isenta de dificuldades, a começar pela
por sua atividade. O Ministério Público definição dos conceitos legais de danos
da União e dos Estados terá legitimi- significativos no ambiente e de acção
dade para propor ação de responsabi- especialmente perigosa" (Mário José de
lidade civil e criminal por danos cau- Araújo Torres, A protecção do ambiente
/lO ordenamento jurídico português, in
sados ao meio ambiente. 73 Textos: Ambiente e Consumo, v. II, Centro
de Estudos Judiciários, Lisboa 1996, p. 26,
grifo no original).
(73) Art. 14, § 1.0. Para se bem compreender
o avanço extraordinário desse dispositivo, (75) Que não cuida apenas de dano ambiental,
cf. a legislação italiana, Legge 8 luglio mas também de prejuízos sofridos pelo
1986, n. 349: "Qualunque fatto doloso o consumidor, patrimônio artístico, estético,
colposo in violazione di disposizioni di histórico, turístico e paisagístico, entre
legge o di provvedimenti adottati in base outros interesses supraindividuais.
a legge che comprometta I' ambiente, ad (76) Milaré, apesar de membro do Ministério
esso arrecando danno, alterandolo, Público, com toda razão já demonstrava,
deteriorando lo o distruggendolo in tutto o antes mesmo da promulgação da Lei n.
in pate, obbliga l'autore deI fatto aI 7.347/85, seu inconformismo com o
risarcimento nei confronti dello Stato" monopólio da ação civil pública pelo
24 REVISTA DE DIREITO AMBIENTAL - 9
no vácuo total ou parcial de lei federal,85 sitivo: "Sem prejuízo do disposto nesta
ou suplementar, neste caso sempre para Lei, o agente, independentemente da
ampliar as garantias ambientais que, existência de culpa, é obrigado a inde-
como piso, tenham sido estabelecidas nizar ou reparar os danos por ele cau-
pela norma federal de caráter geral,86 sados ao meio ambiente e a terceiros
V.g., com regras mais flexíveis de cau- afetados por seus atos" (art. 5.°).
salidade e de cálculo do dano ambiental. Trata-se, sem dúvida alguma, de
Algumas Constituições Estaduais tra- comando que, autonônoma e diretamen-
zem normas explícitas de responsabili- te, propunha-se a regrar a responsabi-
dade civil. No Estado de São Paulo, p. lidade civil pelo dano ambiental, repe-
ex., a norma estabelece que "As con- tindo, nesse ponto, o art. 14, § 1.0, da
dutas e atividades lesivas ao meio am- Lei n. 6.938/81, de longa e larga apli-
biente sujeitarão os infratores, pessoas cação na jurisdição cível. Mantido o
físicas ou jurídicas, a sanções penais e dispositivo, teríamos a estranha - para
administrativas, com aplicação de mul- dizer o mínimo - situação de confusão
tas diárias e progressiva no caso de absoluta entre a responsabilidade civil
continuidade da infração ou reincidên- e responsabilidade penal. Vale dizer, a
cia, incluídas a redução do nível de Lei n. 9.605/98 passaria a comandar não
atividade e a interdição, independente- mais eventual reparação no âmbito do
mente da obrigação dos infratores de processo penal (como é agora, após o
reparação aos danos causados".87 veto), mas responsabilização civil per
se, no seu juízo próprio, que é o cível.
8.4 A responsabilidade civil e a nova Lei O Presidente da República vetou o
dos Crimes contra o Meio Ambiente art. 5.°, sob o correto argumento de que
o art. 14, § 1.0, da Lei n. 6.938/81 (Lei
Como resultado de sugestão inicial da Política Nacional do Meio Ambien-
que fiz ao então Ministro da Justiça te), "já prevê a responsabilidade obje-
Nelson Jobim, uma Comissão de Juristas tiva por danos causados ao meio am-
elaborou e o Congresso Nacional apro- biente".
vou a Lei n. 9.605/98, a chamada Lei dos Realmente, totalmente descabida a
Crimes contra o Meio Ambiente. inclusão da responsabilidade civil per se
Na perspectiva do novo diploma, em texto normativo cuja ementa afirma
cabe averiguar a) a relação entre respon- dispor "sobre as sanções penais e admi-
sabilidade civil e responsabilidade penal nistrativas derivadas de condutas e ati-
e b) a previsão da multa civil. vidades lesivas ao meio ambiente" (gri-
fei), terminologia essa que desenha, ab
initio, seu caráter preponderantemente
8.4.1 O veto ao regramento autôno- sancionatório (penal e administrativo).
mo da responsabilidade civil O Direito brasileiro, como melhor
em lei de índole sancionatória analisaremos em outro ponto deste tra-
balho, faz uso de várias técnicas de
o texto legal, na forma em que saiu responsabilidade civil pelo dano am-
do Congresso, trazia o seguinte dispo- biental. Algumas são autônomas e ime-
diatas, como a do art. 14, § 1.0, da Lei
(85) Constituição Federal, art. 24, § 3. 0
•
n. 6.938/81. Nelas, o dever de reparar
(86) Constituição Federal, art. 24, § 2. 0
• é posto em prática por instrumento
(87) Art. 195, grifo nosso. processual próprio (= ação civil, pública
DOUTRINA 27
americano. Nessa linha, o Anteprojeto Não obstante essa crítica teórica que
de Código Am~iental, preparado sob a se pode fazer ao veto do art. 1.0,
presidência de Edis Milaré, no período
em que ainda estava à frente da Secre- civil do polui dor compreende, cumulativa
taria do Meio Ambiente dQ Estado de ou isoladamente:
São Paulo, já tratava, na parte em que I - recuperação do meio ambiente
me coube redigir, da multa civil, per- degradado, sempre que tecnicamente pos-
sível;
mitindo sua aplicação na jurisdição cível
em três hipóteses. Primeiro, quando a 11 - indenização dos danos, morais
e patrimoniais, individuais ou difusos,
recuperação ou indenização fossem in- causados.
suficientes para internalizar a totalidade Art. - O polui dor só não será res-
dos cu~tos sociais da degradação ou ponsabilizado quando provar que não
para desestimular futuras violações. Se- causou o dano ambiental.
gundo, quando o dano ambiental, em- Art. - O juiz, além de condenar o
bora existente, oferecesse difícil quan- réu nos termos do artigo, poderá, cumu-
tificação. Finalmente, quando presente lativa ou isoladamente:
flagrante violação das normas ambien- I - proibir o recebimento de incen-
tais ou dos limites e padrões fixados na tivos tributários ou creditícios, assim como
licença. Sendo a ação civil pública a contratação com o Poder Público, mesmo
proposta por associação, o quantum da que por licitação, por prazo nunca supe-
rior a cinco anos;
multa civil haveria que para ela reverter,
11 - interditar a atividade, enquanto
sem prejuízo dos valores que lhe cou- não cessada a poluição ou não reparado
bessem no âmbito do ônus da sucum- o dano causado;
bência. 98 III - vedar a participação em cargo
de chefia ou direção àquele que seja
veis" (Alan Calnan, Ending the pUllitive diretamente responsável pelo dano am-
damage debate, in Depaul Law Review,
biental;
v. 45, 1995, p. 101). IV - proibir a comercialização inter-
A nomeclatura não é unânime no na e exportação de bens diretamente
com/llon lalV. Assim, no Direito australi- derivados da atividade causadora do dano
ano, prefere-se a expressão "exemplary ambiental;
damages" (Michael Tilbury & Harold V - impor multa civil no valor de
Luntz, Punitive damages in Australian ... , quando:
Law, in Loyola Los Angeles Intemational a) a recuperação ou a indenização
and Comparative Law Ioumal, v. 17, aplicáveis não forem suficientes para
1995, p. 773). internalizar a totalidade dos custos sociais
(~S) O texto integral do Título da Responsa- da degradação ou para desestimular futu-
bilidade Civil era o seguinte: ras violações;
"Art. - O polui dor, pessoa física ou b) o dano ambiental, embora exis-
jurídica, pública ou privada, ou ente tente, seja de difícil quantificação; ou,
despersonalizado, responde, independen- c) houver flagrante violação das
temente da existência de culpa e da normas ambientais ou dos limites e pa-
licitude de sua atividade, pelos danos drões fixados na licença.
causados ao meio ambiente e a terceiros. Parágrafo único - Na hipótese de
§ 10 A responsabilidade civil do ação civil pública proposta por associa-
polui dor se dá sem prejuízo da imposição ção, o juiz poderá condenar o réu em
de eventuais sanções penais, civis e ad- honorários advocatícios superiores a 20%
ministrativas. do valor do dano, revertendo a multa civil
§ 20 Além das despesas do Poder a seu favor.
Público e de terceiros com investigação Art. - A responsabilidade civil am-
e controle do dano, a responsabilidade biental é solidária, cabendo ação de re-
30 REVISTA DE DIREITO AMBIENTAL - 9
neração, Código Florestal, nuclear, agro- mães, derecho de vecinidad, dos espa-
tóxicos). 103 nhóis), tudo remontando ao conceito
Com a Lei n. 9.605/98, vimos, surge romano de inmissio.
uma outra técnica, só que dependente e Quando o assunto é meio ambiente,
mediata, conquanto realizada pela via a teoria dos direitos de vizinhança (ou
do processo penal. servidões legais) heroicamente resiste à
Aqueles cinco primeiros regimes extinção, ressurgindo aqui e ali, tanto
podem ser utilizados tanto individual- nos países de common law,106 como nos
mente por cada prejudicado, como, de civillaw. Antes mesmo do surgimen-
coletivamente, pelos legitimados a re- to do Direito Ambiental, como discipli-
presentar interesses ambientais em juízo, na autônoma, e da promulgação de leis
caso do Ministério Públicos e das as- de proteção do meio ambiente que o
sociações ambientais. Cabe sempre à precederam, substituamos o nome de
vítima a escolha do fundamento da vizinho pelo de poluidor (mais os pe-
responsabilidade civil do degradador. 104 quenos degradadores do que propria-
Já a responsabilização civil depen- mente os grandes) e, em vários casos
dente-mediata, posto que materializada julgados sob o regime dos direitos de
sob o manto ou influência da ação penal vizinhança, é a tutela ambiental que está
pública, é de índole estritamente publi- em jogo.
cística, renegando a intervenção priva- No Brasil, vimos, a matéria é regrada
da, seja da vítima individual, seja dos pelo Código Civil em dois dispositivos.
corpos representantivos da sociedade
Segundo o art. 554, O proprietário, ou
civil - as ONGs ou associações ambien-
inquilino, de um prédio tem o direito de
tais.
impedir que o mau uso da propriedade
vizinha possa prejudicar a segurança,
10. Direitos de vizinhança: um exem- o sossego e a saúde dos que o habitam.
plo de proteção indireta do meio Em complementação, o art. 555 dispõe
ambiente no sistema do Código que O proprietário tem o direito de
Civil exigir do dono do prédio vizinho a
demolição, ou reparação necessária,
Na maioria dos sistemas jurídicos, quando este ameace ruína, bem como
vamos encontrar nos problemas de vi- que preste caução pelo dano iminente.
zinhança a origem para a proteção, em
O acolhimento do dano ambiental
sede de Direito Privado, contra a polui-
ção, isto é, em favor do meio ambien- sob a rubrica dos direitos de vizinhança
te. IOS Aqui está um instituto jurídico sempre foi problemático, resultado das
cujas origens são mais ou menos co- deficiências intrínsecas do instituto, a
muns, tanto no common law (nuisance), começar pela própria caracterização do
como no civil law (droit de voisinage, que seja vizinho e terminando com o
dos franceses, Nachbarrecht, dos ale- fato de só resguardar propriedade outra
que não aquela do próprio degradador lO7 e
apenas sensibilizar-se com o caráter
(10:» Cf., na mesma linha, Nelson Nery Junior anormal da conduta e com o dano
e Rosa Maria B. B. de Andrade Nery,
Responsabilidade civil ... cit., p. 279.
(104) Michel Prieur, Ob. cit., p. 733. (106) Robert L. Rabin, art. cit., p. 27.
(105) Na França, cf. Michel Prieur, Ob. cit., p. (107) Paulo Affonso Leme Machado, Oh. cit.,
731. p. 229.
DOUTRINA 33
"estado de fato" .120 É assim nos vanos sempre cobertos pela cláusula constitu-
ordenamentos de civil e common law. 121 cional do direito adquirido, daí concluin-
No caso brasileiro, a doutrina, desde do que, "uma vez autorizada administra-
há muito, assentou que o fundamento do tivamente determinada atividade que se
mau uso ou uso nocivo da propriedade revelasse prejudicial ao meio ambiente,
não reside "na idéia de culpa, nem a nenhuma alteração ou limitação se lhe
poderia impor posteriormente".125
composição dos conflitos de vizinhança
depende da apuração desta". 122 Segundo O direito ao meio ambiente ecologi-
Pontes de Miranda, toda pretensão de camente equilibrado, agora previsto na
"indenização que nasce de ofensa a Constituição, tem aplicação imediata para
direito de vizinhança é independente de desconsituir situações de fato, pretéritas
culpa", operando "à semelhança da que mas com efeitos presentes, que tragam
há de receber o proprietário desapro- riscos para o ser humano e para o meio
priado".123 ambiente. Mais uma vez, cabe lembrar
que a dogmática moderna abomina a
idéia de um direito adquirido à poluição.
10.4 Pré-ocupação
que aqui plenamente justificado, pois gurada l53 é que o sistema jurídico
está em jogo o ius libertatis) , no Direito ambiental adota a modalidade mais ri-
Ambiental muda de beneficiário, auxi- gorosa de responsabilização civil, aque-
liando a vítima e não mais o seu algoz. la que, dispensa a prova de culpa.
Assim é por força do princípio da Também pelas mesmas razões, o
precaução, motor que também, disse- Direito Ambiental nacional não aceita
mos, está por trás da alteração de pa- as excludentes do fato de terceiro, de
radigma reparatório. culpa concorrente da vítima (que vítima,
quando o meio ambiente tem como
14.3 O risco integral titular a coletividade?) e do caso fortuito
ou força maior, como estudaremos mais
abaixo. Se o evento ocorreu no curso
o Direito Ambiental brasileiro abriga ou em razão de atividade potencialmen-
a responsabilidade civil do degradador
te degradadora, incumbe ao responsável
na sua forma objetiva, baseada na teoria por ela reparar eventuais danos causa-
do risco integral, 151 doutrina essa que dos, ressalvada sempre a hipótese de
encontra seu fundamento "na idéia de ação regressiva.
que a pessoa que cria o risco deve
reparar os danos advindos de seu em-
preendimento. Basta, portanto, a prova 14.4 Responsabilidade objetiva e no-
da ação ou omissão do réu, do dano e ções vizinhas
da relação de causalidade".152
Espelhando-se no tratamento dado
o conceito mesmo de responsabilida-
de civil objetiva é mal trabalhado, nem
aos acidentes do trabalho e levando em
sempre claramente separado de noções
conta o perfil constitucional do bem afins, como a presunção de culpá ou a
jurídico tutelado - o meio ambiente, presunção de responsabilidade. 154 Pior,
direito de todos, inclusive das gerações na responsabilização pelo dano ambien-
futuras, de fruição comum do povo, taI, apesar da letra expressa da lei esta-
essencial à' sadia qualidade de vida e, belecer a reparação independentemente
por isso mesmo, de preservação asse- da existência de culpa, observa-se, aqui
e ali, tanto na doutrina especializada,
como na jurisprudência brasileira, men-
(151) No mesmo sentido, cf. Jorge Alex Nunes
Athias, Responsabilidade civil e meio-
ção desnecessária (ou simplesmente
ambiente - breve panorama do direito equivocada) à culpa ou a aspectos que
brasileiro, in Antonio Herman V. Ben- com ela têm estreita relação.
jamin, Dano Ambiental ... cit., p. 245;
Sergio Cavalieri Filho, Programa de
(153)
Responsabilidade Civil, São Paulo, Essa a letra expressa do art. 225, caput,
Malheiros, 1997, p. 142. da CF. O direito ao meio ambiente
(152) Carlos Roberto Gonçalves, Responsabili- ecologicamente equilibrado, como direito
dade Civil, São Paulo, Saraiva, 1994, p. primário ou fundamental, traz consigo
73. Segundo Athias, "da mesma forma uma série de direitos "decorrentes", "au-
que a apropriação do bônus decorrente xiliares" ou "secundários", desdobramen-
da atividade potencialmente causadora de tos orientados à realização do interesse
dano ambiental é feita por quem põe em maior e que vêm normalmente associa-
jogo a atividade, também o ônus que dela dos à idéia de preservação e conservação
venha a decorrer deve ser por ela arcado, da natureza.
(154)
sob modalidade do risco integral" (Jorge Xavier Thunis, La protection ... cit., p.
Alex Nunes Athias, art. cit., p. 246). 94.
42 REVISTA DE DIREITO AMBIENTAL - 9
Inserido em tal estreito e rígido quadro quando se pretenda esse efeito evitar, é
principiológico, o fator de atribuição da de mister agregar a expressão "indepen-
responsabilidade civil só pode ser - se dentemente da existência de culpa".
se quer efetivamente cumprir o manda- Diversamente, a expressão reparação é
mento do enunciado maior do captlt do a utilizada, comumente, ao se fazer
art. 225 - o objetivo. Aliás, parâmetro referência àquilo que se chama (imper-
esse já previsto no ordenamento jurídico feitamente) de responsabilidade civil
brasileiro à época da elaboração da objetiva.
Constituição (Lei n. 6.938/81). Em sÍn- Rigorosamente falando, quem usa
tese, o caráter objetivo é decorrência "reparação" em vez de "responsabilida-
lógica e necessária do sistema constitu- de" já aí expressou a dispensabilidade
cional brasileiro, pela valorização que de culpa, pois, em boa técnica, a obri-
deu ao meio ambiente (e ao dano gação de reparar afirma-se sem compor-
ambiental). Só a imputação objetiva tamento culposo, não havendo razão
viabiliza o comando da Constituição. para acrescentar, pleonasticamente, "in-
Em adição, ajunte-se que, estando o dependentemente da existência de cu l-
princípio poluidor-pagador albergado pa".160 Na ausência de culpa, como
pelo art. 225, § 3.°, da CF e sendo muito bem alerta Aguiar Dias, "já não
estrutural tanto quanto natural a tal é de responsabilidade civil que se trata,
princípio a filiação a um regime obje- se bem que haja conveniência em con-
tivo de responsabilização civil, sob pena servar o nomen Juris, imposto pela
de inviabilzar-se a própria internalização semântica: o problema transbordou des-
efetiva das externalidades ambientais ses limites. Trata-se, com efeito, de
(seu maior objetivo), desnecessário seria reparação do dano".161
ao legislador constitucional dizer mais Veja-se que o art. 37, § 6.°, da CF
do que efetivamente disse. permite a responsabilização da Admi-
Como lembram, cobertos de razão, nistração Pública "pelos danos que seus
Fiorillo & Abelha, com o princípio agentes, nessa qualidade, causarem a
polui dor-pagador, na forma prevista na terceiros", não fazendo qualquer refe-
Constituição Federal, advêm várias rência ao regime de responsabilidade
implicações lógicas e necessárias: "a) civil. Nem por isso, a doutrina e a
responsabilidade civil objetiva; b) prio- jurisprudência negam a existência, aí, de
ridade da reparação específica do dano responsabilidade sem culpa.
ambiental e c) solidariedade para supor-
tar os danos causados ao meio ambien- (160)
Pelo seu pioneirismo e justificável receio
te".159 de provocar dúvidas de interpretação,
compreende-se que, nesse ponto, a Lei
Finalmente, o argumento dogmático: n. 6.938/81 não tenha seguido a melhor
o art. 21 usa a expressão "responsabi- técnica, já que fala em "indenizar ou
lidade civil" enquanto que o art. 225 faz reparar", ajuntando a expressão "inde-
menção à reparação, dois termos que, pendentemente da existência de culpa"
embora confundidos até na melhor (art. 14, § 1.0). Duas imprecisões num só
doutrina, não são de forma alguma texto. A um, reparação é gênero que
inclui a indenização como uma de suas
fungíveis. Responsabilidade conduz, espécies; a dois, porque, já dissemos,
naturalmente, à idéia de culpa. Logo, reparação é dever que se liga à imputação
objetiva.
(161)
(159) Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Mar- José de Aguiar Dias, Da Responsabilida-
celo Abelha Rodrigues, Manual ... cit., de Civil, v. I, 9: ed., Rio de Janeiro,
p. 121. Forense, 1994, p. 12.
44 REVISTA DE DIREITO AMBIENTAL - 9
(170) David Rosenberg, The causal cOllllecfioll (171) Nelson Nery Junior e Rosa Maria B. B.
in mass exposure cases: a 'public law' de Andrade Nery, Responsabilidade civil
vision of lhe forf sysfem, in Land Use & ... cif., p. 281, 285 e 286.
Environmental Law Review, 1985, p. 382. (172) Jorge Alex Nunes Athias, art. cit., p. 244.
46 REVISTA DE DIREITO AMBIENTAL - 9
ras maneiras. Primeiro, com as presun- flexibiliza o rigor das teorias da causa-
ções de causalidade, 173 principalmente lidade adequada e da causalidade ime-
levando em conta que, como regra, diata (esta, segundo a doutrina nacional,
estamos "na presença de uma atividade adotada pelo Código Civil brasileiro),
perigosa", onde, com maior razão, pre- aproximando-se do critério da equiva-
sume-se iuris tantum o nexo. 174 Segun- lência das condições. Mesmo aqui,
do, com a inversão mais ampla do ônus considerando-se a complexidade do
da prova, uma vez verificada a multi- fenômeno degradado r, "a dificuldade
plicidade de potenciais fontes degrada- surgirá, desde logo, na caracterização do
doras e a situação de fragilidade das facto como condição sine qua non do
vítimas. Terceiro, com a previsão de dano ambiental verificado". 176
sistemas inovadores de causalidade, No que se refere à causalidade al-
como o da a responsabilidade civil
ternativa, o Direito Ambiental também
alternativa ou baseada em "parcela de
reformula inteiramente o sistema da
mercado" (market share liability).
responsabilidade civil, preconizando a
Com a clareza de sempre, José Afonso necessidade inafastável de não deixar a
da Silva leciona que "Nem sempre é vítima e o meio ambiente sem a devida
fácil determinar ou identificar o respon- reparação. No tema da causalidade al-
sável. Sendo apenas um foco emissor, ternativa, a doutrina clássica já aceitava
a identificação é simples. Se houver que, havendo a participação de vários
multiplicidade de focos, já é mais difí- sujeitos "em um ato em cuja execução
cil, mas é precisamente por isso que se um dos participantes causa um dano",
justifica a regra da atenuação do relevo "todos respondem".177 É a hipótese de
do nexo causal, bastando que a ativi- Distritos Industriais, onde todas as
dade do agente seja potencialmente empresas que lá operam, embora inde-
degradante para sua implicação nas pendentes entre si, participam, até pela
malhas da responsabilidade. Disso de- proximidade física, de uma atividade
corre outro princípio, qual seja o de que industrial comum.
à responsabilidade por dano ambiental
se aplicam as regras da solidariedade
entre os responsáveis, podendo a repa- 16. O dano ambiental
ração ser exigida de todos e de qualquer
um dos responsáveis".175 A reparação, salienta Villaça de
Em complementação a esses esque- Azevedo, só é devida quando existe "o
mas apontados, o Direito Ambiental dano e nem todo dano se indeniza". In
Logo, é de mister caracterizar, na pers-
pectiva da proteção do meio ambiente,
(173) Presunções essas que existem, p. ex., na
França em matéria de dano nuclear (Gilles
o que venha a ser dano. Na teoria
Martin, Responsabilité Civi/e ef Protection clássica da responsabilidade civil, o
... cit., p. 400) e na Alemanha, especi- prejuízo, por ser considerado o mais
ficamente para o dano ambiental; cf., simples dos pressupostos do dever de
também, Ricardo Lorenzetti, La protec-
ción jurídica ... cit., p. 4.
(174) Héctor Alegria, Economía, medio am- (176) Manuel Tomé Soares Gomes, A respon-
biente y mundo financeiro, in Alberto sabilidade civil ... cit., p. 408.
Jesus Bueres e Afda Kemelmajer de (177) Orlando Gomes, Ob. cit., p. 337.
Carlucci (directores), Ob. cit., p. 325. (178) Álvaro Villaça de Azevedo, Teoria Geral
(175) José Afonso da Silva, Ob. cit., p. 217, das Obrigações, 5." ed., São Paulo,
grifo no original. Revista dos Tribunais, 1994, p. 256.
DOUTRINA 47
lógicos (também conhecidos por am- seqüentemente, alguém que emite po-
bientais stricto sensu, ecológicos puros luentes em região fortemente industrial
ou contra a natureza), podendo ser e poluída, ou explora madeira em flo-
assim classificados: resta já desbastada, ou aterra mangue já
descaracterizado, causa dano ambiental
e por ele deve responder, só que agora
D
A a.1 patrimonial (ou material) de forma solidária com os que o ante-
a) pessoal cederam.
{
o a.2 moral (ou imaterial)
17. Conclusões
A
M
B A danosidade ambiental nos furta a
I paz de espírito como condôminos-pla-
E b) ecológic020' netários. Transporta-nos, de imediato, à
N dimensão das imagens catastróficas, de
T prejuízos de grande magnitude, às vezes
A
por agregação e efeito cumulativo, que
L
afetam a generalidade da coletividade.
A todos impõe sacrifícios incalculáveis
Sendo tão vasto, dinâmico e flexível, e de longa gestação. Tem origem incer-
o conceito de dano ambiental abrange, ta, vindo não se sabe de onde, sendo
inclusive, o agravamento de situações mesmo cria a qual se nega, impreteri-
anteriores de danosidade. A preexistência velmente, paternidade ou maternidade.
de degradação ambiental não exclui o Compreensível que evoque no ser
dever de reparar o dano causado. Não humano uma apreensão sem limite, o
é só o meio ambiente intocável que tem medo que é normal quando estamos
sobre si a mão protetora do Direito. Se diante do desconhecido universo dos
assim fosse, somente Robson Crusué riscos que nos cercam. Como cidadãos
seria destinatário da norma ambiental. O comuns (= profanos), nada vemos, nada
meio ambiente já transformado pela ouvimos, nada conhecemos, não pode-
intervenção humana (e qual não foi mos sequer apontar ou descrever a
ainda, mesmo nos recantos mais remo- fisionomia básica daquilo que nos ame-
tos do mundo?), mesmo que grave a dronta. Por mais que queiramos parecer
degradação, é passível de salvaguarda, bem informados ou atentos, somos nor-
pois o que a lei pretende com sua malmente apanhados desprevenidos, in-
intervenção contra o degradador, qual- capazes de receber sinais que nos alertem
quer que ele seja, é recumperar o meio
sobre sua proximidade, dando-nos quiça
ambiente lesado. Diante da flexibilidade a oportunidade de impedir que plante nos
conceitual demonstrada pelo legislador,
nossos corpos e no meio ambiente as
o "espectro legal é virtualmente ilimi-
sementes de males futuros e irreversíveis,
tado, protegendo o meio-ambiente de
só tardiamente revelados.
lesões materiais e imateriais". 2112 Con-
Um fantasma que não sabemos como
combater. São riscos anônimos, por vezes
(201) Também chamado de dano ecológico causados por indivíduos anônimos, ten-
puro, dano ecológico per se ou dano do também vítimas anônimas. Essa a
contra a natureza. regra do dano ambiental, embora nem
(202) Adalberto Pasqualotto, art. cit., p. 453. sempre seja assim, pois há uma multi tu de
52 REVISTA DE DIREITO AMBIENTAL - 9